Manual das Redes para Pastores e Líderes

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Manual das redes para pastores e líderes



Marcos Mendes Leandro Silva

Manual das redes para pastores e líderes 1ª edição

Curitiba/PR 2021


Marcos Mendes e Leandro Silva

Manual das Redes para Pastores e Líderes Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Revisão: Josiane Zanon Moreschi Capa: Endrik Silva Ilustrações: Marcos Mendes Diagramação: Lucas Andreas Schulze Entidade promotora: Missão ALEF Parceria estratégica: Missão Aliança, Tearfund e Editora Esperança

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sueli Costa CRB-8/5213

Mendes, Marcos Manual das redes para pastores e líderes / [texto e ilustração] Marcos Mendes, Leandro Silva. – Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2021. 48 p. ISBN 978-65-87285-48-1 1. Missão 2. Redes ministeriais I. Silva, Leandro II. Título.

3. Pastores

4. Liderança cristã CDD-254.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Missão : Igreja 254.1

Salvo indicação, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia na versão Nova Almeida Atualizada © Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores.

Editora Evangélica Esperança

Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 comercial@editoraesperanca.com.br www.editoraesperanca.com.br


Sumário Pelo movimento do Evangelho: desenvolvendo redes locais de missão integral �����������������������������������������������������������������7

Introdução ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 17 1. Por que plantar redes? �������������������������������������������������������������������������� 21 2. Princípios fundamentais ���������������������������������������������������������������������� 25 3. Objetivos ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 27 4. Processo de plantação das redes ������������������������������������������������������ 29 5. Como funciona a Rede? ������������������������������������������������������������������������� 41



Pelo movimento do Evangelho: desenvolvendo redes locais de missão integral Leandro Silva1 ministério missional, a princípio, exige a compreensão de que não fomos chamados para “simplesmente formar nossa própria tribo”2, uma vez que alcançar a cidade por meio da proclamação e demonstração do Evangelho implica um trabalho dirigido pelo Espírito Santo. Ele envolve a diversidade existente no cerne do povo de Deus, ainda que muitos desses segmentos pensem de forma diversa às nossas perspectivas teológicas e práticas eclesiásticas. Entretanto, essas múltiplas identidades não podem constituir um empecilho ao objetivo da missão. Ao contrário, ela deve estimular a formação de redes ministeriais que funcionem como agentes agregadores de ideias, vocações e projetos que tenham por alvo a transformação e o desenvolvimento das comunidades urbanas, a assistência aos grupos em estado de vulnerabilidade, bem como o enfrentamento à desigualdade, à injustiça e à opressão.

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Presidente da Missão ALEF. Um dos autores de “A Igreja e sua Missão Transformadora” (Ultimato); coautor e coorganizador dos livros “Igreja em Movimento, Comunidades em Transformação” (Garimpo Editorial), “Redescobrindo o Evangelho” (Garimpo Editorial), “Venha o Teu Reino: uma igreja para hoje” (Ultimato) e “Revitalizando a Igreja e sua Liderança” (Editora Esperança). Graduado nacional em liderança avançada pelo Haggai Institute. Integra a iniciativa global “Indivíduos Inspirados”. Leandro e sua esposa, Adryelle, são missionários da Action Internacional Ministries, servindo no Nordeste Brasileiro. KELLER, 2014, p. 296.


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Unidade e missão integral Em nosso trabalho com a Missão ALEF em Natal identificamos dois dentre os principais motivos3 para que dezenas de igrejas em uma mesma área geográfica não tenham maior impacto nas estruturas da cidade: uma visão missiológica reduzida e a ausência de unidade. É necessário repensar a eficácia de nossos modelos missionais. As comunidades estão cheias de igrejas centradas apenas no esforço evangelístico, entendido como “salvar almas para o céu”, sem lembrar do quão radical foi a encarnação de Jesus, que em seu ministério ia por toda a parte “pregando, ensinando e fazendo o bem” (Mt 9.35-37; At 10.38). Urge empreendermos esforços no sentido de ampliar nossa compreensão da missão, que não deve fundar-se unicamente na premissa de “ganhar almas”, mas em levar o Evangelho todo para a pessoa toda e para todas as áreas da vida, discipulando e servindo às comunidades nas quais atuamos. A unidade que se expressa na cooperação missional do povo de Deus foi o tema da oração do Senhor Jesus. — Não peço somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por meio da palavra que eles falarem, a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes transmiti a glória que me deste, para que sejam um, como nós o somos...4

3 4

Para maiores informações sobre este tema leia o artigo que escrevi para o livro Igreja em Movimento, Comunidades em Transformação” (São Paulo: Garimpo Editorial, 2016). Jo 17.20-22 (grifo nosso).


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Quantas igrejas há na sua cidade? Apenas uma! Espalhada em diferentes denominações e comunidades, porém com uma única missão! Jesus orou por todos aqueles que creriam nele, a fim de que pudessem expressar de forma concreta a unidade perfeita que é vista na Trindade e, assim, glorificassem a Deus com um testemunho relevante no mundo.

Características de um movimento

Como destacado por Timothy Keller, um grupo de igrejas atuando juntas em uma dinâmica de movimento:

... gera suas próprias conversões, ideias, líderes e recursos internos para concretizar sua visão de ser igreja para sua cidade e cultura... quanto mais líderes se unirem e mais recursos e ideias forem aliados e implementados, mais o movimento dinâmico se fortalece e aumenta.5

A tabela abaixo resume a abordagem de Keller sobre quatro características importantes de uma rede ou movimento que por sua vez produzem suas respectivas dinâmicas:6

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KELLER, 2014, p. 398. KELLER apud SILVA, 2016, p. 53-54.


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Característica dos movimentos e redes locais

Dinâmicas por elas produzidas

Visão cativante, acompanhada de um forte conjunto de valores ou crenças com os quais o movimento está comprometido.

As crenças e a visão geram unidade.

Flexibilidade generosa para com pessoas e instituições que não fazem parte do seu rol de membros.

A ênfase na unidade gera cooperação, de modo que haja disposição em transpor as linhas denominacionais para alcançar objetivos comuns.

Cultura de compromisso sacrificial, na qual a visão é colocada acima de interesses e conforto.

A devoção ao Reino de Deus acima do eu ou do grupo possibilita o sacrifício.

Produção espontânea de novas ideias e líderes e crescimento “a partir de dentro”. Um lema corrente para os plantadores de igrejas e que se aplica também aqui é que “os recursos estão na colheita”.

Espontaneidade sem autoritarismo permite crescimento.


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Esse movimento integrativo promovido pelas redes ministeriais proporciona crescente conhecimento dos problemas que afligem a localidade através do estudo, da pesquisa e da experiência das instituições participantes. Isso gera uma saudável comunhão na busca por soluções que melhorem cada vez mais a qualidade de vida das pessoas e, acima de tudo, glorifiquem o nome do Senhor. Não se pode negar que esse movimento entre igrejas tem elevado potencial envisionador dos membros dessas mesmas igrejas, fomentando um ambiente estimulante ao pleno desenvolvimento de suas vocações e ministérios e promovendo ações desenvolvidas com os recursos locais.

O clima está favorável!

Alguns anos atrás visitei Jardim Gramacho, uma comunidade de Duque de Caxias/RJ que abrigou por 32 anos o maior lixão da América Latina.7 Pastoras e pastores de diversas igrejas locais, em um total de 44 líderes, atenderam ao convite para juntos refletirmos sobre a missão transformadora da igreja. Conversamos sobre a formação de um movimento local de cooperação entre igrejas, organizações missionais e líderes locais para o alcance e transformação da realidade do bairro. O encontro ocorreu no prédio da Assembleia de Deus local. Sempre que ministro, buscando ajudar líderes em comunidade empobrecidas a começar seu próprio movimento local, cito a passagem de 1 Coríntios 3.6-9 para destacar que, assim como uma lavoura, um movimento de caráter missional é resultado da combinação de dois conjuntos de fatores8: uma lavoura cresce 7 8

MARTÍN, 2020, sp. Devo esta ilustração à abordagem da “metáfora da lavoura”, que Tim Keller desenvolve com base em 1 Coríntios 3.6-9 (KELLER, 2014).


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pelo trabalho diligente dos seus lavradores e pelas condições do solo e do clima. O primeiro deles está relacionado à nossa dedicação e empenho para a formação de redes de trabalho autossustentáveis. O segundo — as condições — pertence, porém, totalmente a Deus. Somente ele pode abrir o solo (os corações) e o clima (a cultura local) ao avanço do Evangelho integral. Encerramos a manhã com uma mesa de conversa na qual pensamos juntos sobre a formação de uma rede de trabalho missionário na comunidade. Naquela ocasião, uma líder atuante na localidade há vários anos disse: “Foi mencionado que apenas Deus pode abrir o clima e aqui O CLIMA ESTÁ FAVORÁVEL! Em qualquer beco ou viela onde chegamos os fuzis se abaixam, as cabeças se abaixam e nós podemos entrar para cumprir a missão. Poderá chegar o dia em que clima esteja desfavorável e ainda assim deveremos ir, mas iremos para morrer. Devemos agir imediatamente, pois o clima está favorável!” Deixei Jardim Gramacho ao final da manhã com estas palavras ecoando em minha mente, que foi tomada pela lembrança de diversas outras comunidades empobrecidas nas quais também temos servido o corpo de Cristo, e de como temos testemunhado Deus agir nestas realidades diferentes — de áreas do sertão nordestino até bairros de grandes cidades. Ao longo dos últimos anos, nossa equipe da Missão ALEF tem visto o nascimento de diversos movimentos de mobilização e cooperação em torno da missão integral de Deus em bairros e comunidades empobrecidas, por meio das nossas redes de pastores e líderes. O resultado concreto desses esforços locais é que líderes têm sido equipados e encorajados nas próprias localidades em que atuam e igrejas têm sido revitalizadas. Também muitas iniciativas de desenvolvimento comunitário altamente contextualizadas e centradas no Evangelho têm surgido a partir


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da cooperação entre lideranças de dezenas de denominações. Atualmente essas redes já estão presentes em Natal (no bairro de Felipe Camarão e suas adjacências e na zona norte da cidade), Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco), Capão Redondo (São Paulo), Morro do Meio (Joinville – Santa Catarina), Teixeira de Freitas (Bahia), João Pessoa, Santa Rita e em diversas cidades do sertão, na Paraíba. Temos podido compartilhar essa visão e cooperar com o desenvolvimento de movimentos locais em diversos outros locais, como Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí e na Bolívia. Nas palavras de Addison: Movimentos são grupos informais de pessoas e organizações que buscam uma causa comum. São pessoas que buscam mudança [...] Começam com homens e mulheres que encontram a Deus e se entregam amorosamente ao seu chamado [...] São caracterizados pelo descontentamento, visão e ação. Se o vácuo criado pelo descontentamento é preenchido com a visão de um futuro diferente e ações para trazer mudança, então um movimento nasce.9

Não se deve esperar que haja um grande grupo de líderes ou igrejas envolvidos para começar um esforço de unidade. Se há em seu bairro um pequeno grupo de homens e mulheres de algumas poucas igrejas locais seriamente comprometidos com Deus, sua Palavra e a missão, reunidos em oração, reflexão e ação, e decididos a mobilizar outros em torno de uma visão dinâmica para a cidade ou bairro, uma rede pode nascer nesse lugar agora mesmo. Este manual é um recurso prático que visa prover apoio efetivo a pastores e líderes de igrejas e organizações que desejam atuar na formação de um movimento em sua comunidade ou 9

ADDISON apud VIRGÍNIO, 2016, p. 55.


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cidade. As redes são um espaço para a unidade do corpo local de Cristo em torno de uma visão bíblica a fim de promover transformação social com base em igrejas saudáveis e onde são encontrados encorajamento e ferramentas para colocá-la em prática imediatamente. Estamos comprometidos em cooperar de forma efetiva com esforços locais para a plantação de novas redes missionais em comunidades brasileiras. Esse apoio se dará através de uma série de passos ao longo dos próximos anos: 1. Identificando comunidades empobrecidas em áreas prioritárias do Brasil; 2. Identificando, onde for possível, parceiros para a mobilização do corpo local de Cristo naquelas comunidades; 3. Reunindo pastores e líderes destas igrejas locais para encorajá-los, apoiá-los, equipá-los e conectá-los para o ministério integral; 4. Desenvolvendo uma visão de unidade prática e parceria entre igrejas locais para servir e alcançar sua comunidade pelo Evangelho integral; 5. Fomentando a formação de novos líderes, disponibilizando recursos, treinamento e ferramentas. Estude este livro com outros líderes de igrejas em sua comunidade. Acesse os canais da Missão ALEF para obter apoio adicional e específico para o seu contexto. Reflitam juntos em perguntas-chave como: Quantas igrejas locais e organizações cristãs estão presentes neste bairro? Em que partes da localidade elas atuam? Quais são os principais desafios e potencialidades deste bairro? O que precisa e o que não precisa ser transformado? Quais os recursos locais que Deus tem nos conferido e que podem ser aplicados em ministérios de transformação em nossa área? Com essas informações em mente, começa o trabalho de


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construir relacionamentos com outros líderes e refletir juntos sobre uma caminhada prática de serviço em unidade. Que a leitura deste manual o encoraje e o oriente na tomada dos seus próximos passos na direção da formação de uma rede missional local! E que ao longo dos anos, através da unidade do corpo de Cristo, você possa se alegrar enquanto testemunha em sua comunidade sobre a ação poderosa do Deus que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! (Ef 3.20s).

BIBLIOGRAFIA

ADDISON, Steve. Movimentos que mudam o mundo: cinco chaves para divulgar o evangelho. (Curitiba: Editora Esperança, 2011.)

KELLER, Timothy. Igreja centrada: desenvolvendo em sua cidade um ministério equilibrado e centrado no evangelho. (São Paulo: Vida Nova, 2014.)

MARTÍN, Maria. “A 30 quilômetros de Ipanema, a vida passa com menos de três reais por dia”, in: El País, 13 de dezembro de 2017. Disponível em https://cutt.ly/wn4ce0p (acesso em 07/06/2021).

SILVA, Leandro Virgínio da. “Movimento: igrejas saudáveis servindo juntas na missão integral de Deus”, in: SILVA, Leandro; MENDES, Marcos; OLIVEIRA, Valtenci e DINIZ, Renildo (orgs.). Igreja em movimento, comunidades em transformação. (São Paulo: Garimpo Editorial, 2016.)



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