O Grito do Sertão Nordestino

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Edição Comemorativa JUVEP - 30 anos

O grito do

Sertão Nordestino Beat Roggensinger, Org.



O grito

do

Sertão Nordestino Beat Roggensinger, Org.

Edição Comemorativa JUVEP - 30 anos



O grito

do

Sertão Nordestino Beat Roggensinger, Org. 1ª edição

Edição Comemorativa JUVEP - 30 anos

Curitiba 2012


Beat Roggensinger, Org.

O grito do Sertão Nordestino Edição comemorativa JUVEP 30 anos Coordenação editorial: Walter Feckinghaus Revisão: Josiane Zanon Moreschi Capa: Sandro Bier Ilustrações: Josiane Zanon Moreschi Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi Edição: Sandro Bier Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

O grito do sertão nordestino / Beat Roggensinger, Org . - 1. ed. - - Curitiba, PR : Editora Esperança, 2012. ISBN 978-85-7839-072-3 1. JUVEP - Juventude Evangélica Pessoense - História 2. Missionários Região Nordeste - História I. Roggensinger, Beat. 12-01357

CDD-280.409 Índices para catálogo sistemático:

1. JUVEP - Juventude Evangélica Pessoense : História

280.409

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores. Editora Evangélica Esperança Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) 3256-3662 comercial@esperanca-editora.com.br - www.editoraesperanca.com.br


A missão da JUVEP

Nossa equipe Somos uma equipe multicultural de 64 missionários, voluntários e funcionários oriundos de diversas denominações evangélicas que receberam a direção do Senhor para estarem trabalhando sob o auspício da mesma missão. Contando com a família nuclear somamos quase 120 pessoas (2011). Somos comprometidos com a Palavra de Deus, com a prática da oração e buscamos a graça divina para vivermos em santidade e na dependência do Espírito Santo para termos um ministério frutífero e aprovado por Deus.

Nossa missão Nossa missão é contribuir com a evangelização e discipulado de pessoas do Sertão Nordestino e de outros povos menos alcançados, através da mobilização e capacitação de cristãos, e em cooperação com a igreja local e outras instituições evangélicas, no envio e apoio aos missionários, em fidelidade à Palavra de Deus.


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Desafios missionários I Temos como principal desafio mobilizar esforços para o plantio de igrejas entre sertanejos urbanos e rurais, comunidades quilombolas, ciganas e indígenas da região Nordeste. Estamos orando por igrejas parceiras que enviem casais missionários para o plantio de igrejas nessas populações pouco alcançadas.

Desafios missionários II Desejamos duplicar o plantio de igrejas no Sertão urbano (municípios com menos de 3% de cristãos) através de Projetos Missionários de Férias realizados a cada janeiro e julho. Para isso precisamos dobrar o número de voluntários. A estratégia é termos 100 igrejas parceiras comprometidas no envio de pelo menos um voluntário a cada semestre.

Desafios missionários III A zona rural sertaneja espera que a Igreja de Cristo chegue em seus mais de 10 mil povoados sem Evangelho. Desejamos plantar quatro novas igrejas rurais por ano. O Projeto Radical Sertão trabalha com esse foco e, para termos a cada ano uma nova turma com pelo menos 25 voluntários, incluindo quatro casais, precisamos de 50 igrejas parceiras comprometidas com esses alvos.

Desafios missionários IV Em alguns campos desejamos implantar projetos sociais para beneficiar crianças e adolescentes, melhoria de renda familiar e ações para o bem do meio ambiente. Tais necessidades são extremas entre sertanejos rurais, comunidades quilombolas, indígenas e ciganas.

Desafios missionários V Temos dois seminários no Sertão Nordestino, devidamente contextualizados, e desejamos abrir outros em localidades estratégicas. Precisamos de obreiros experientes para atuar na coordenação e ensino dessas escolas. Em João Pessoa funcionam o


A missão da JUVEP

nosso Seminário Teológico com mais de 130 alunos e a Escola de Missões Transculturais. Ambas necessitam de obreiros chamados para trabalhar na área de mentoria, ensino e recrutamento.

Desafios missionários VI Recebemos vocacionados oriundos de regiões e igrejas carentes que necessitam de bolsas de estudo. Temos alunos no Seminário Teológico, nos Seminários Sertanejos e na Escola de Missões Transculturais que dependem dessa cobertura, inclusive alunos do Convênio Internacional para Capacitação Ministerial que mantemos com o Instituto Bíblico de Guiné Bissau. Desejamos ter um grupo de doadores que somem um lastro de 60 Bolsas de Estudo, sendo 20 bolsas para preparo teológico, 30 para preparo ministerial de sertanejos e 10 para o preparo de novos missionários transculturais.

Desafios missionários VII Também somos desafiados a trabalhar na capacitação de liderança e plantio de igrejas em algumas nações menos evangelizadas. Já atuamos no Peru, atualmente estamos presentes no Timor Leste e nos preparamos para entrar, nos próximos anos, em uma nação sul-americana, africana e em mais um país asiático.

Para ajudar no preparo de obreiros para o Sertão Disporemos, a partir de 2013, de um curso modular de Plantio de igrejas e Cultura Sertaneja, para missionários que necessitam de uma preparo cultural para melhor trabalhar no Sertão, com 15 dias de duração. Um breve, mas profundo, mergulho cultural para entender melhor o contexto e cultura sertaneja e, assim, estar bem preparado para evangelizar, discipular e plantar igrejas no Sertão Nordestino. Além disso, temos, há mais de 20 anos, nossas escolas teológicas e de preparo missionário em João Pessoa e no Sertão da Paraíba, que oferecem cursos teológicos e de missiologia de alto nível com custos acessíveis para a capacitação adequada de quem tem um chamado nas áreas ministeriais, seja pastoral, seja missionária, para dentro ou fora do Brasil. Acesse nossas informações e venha preparar-se conosco.

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Nossa busca Estamos em oração na busca de parceiros para, juntos, atendermos aos clamores do mundo sem Cristo e da Igreja em algumas regiões do Nordeste e do mundo. Apresentamos os desafios missionários, acima, e cremos que Deus tem igrejas e irmãos na fé que podem nos ajudar a encará-los e vencê-los na força do Senhor e para a sua glória. Você e a sua igreja podem ser nossos parceiros.

Nossos canais de comunicação: www.juvep.com.br juvep@juvep.com.br Tel. 55 (83) 3248-2095 Skype: missao.juvep

Canal Especial Fale com a Diretoria da JUVEP: Sérgio Ribeiro sergiojuvep@gmail.com Tel. (83) 8766-3949 Skype: sergio_juvep


Sumário

Prefácio..........................................................................................11 A história contada........................................................................13 — por Sérgio Luis Ribeiro, JUVEP Homenagem à JUVEP..................................................................29 — por Barbara Helen Burns, JUVEP A construção de um olhar evangelístico sobre o Sertão Nordestino....................................................................................33 — por Luis André Bruneto, SEPAL Cosmovisão religiosa sertaneja — análise e conceitos ........41 — por Cesário de Paula Conserva Junior, JUVEP Educação teológica no contexto sertanejo..............................55 — por Sueli Silva, JUVEP Costumes e hábitos sertanejos em conflito com a ética cristã......................................................................................63 — por Pedro Luis Silva, JUVEP


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A carência do sertanejo...............................................................71 — por Marciano Teixeira, Operação Resgate A Missão Zero/IECLB e a Missão Integral no Sertão Nordestino....................................................................................75 — por Juliano Müller Peter, Missão Zero Os desafios do Sertão rural — Reflexões missiológicas................................................................................83 — por Thomaz Litz, JUVEP Os obstáculos de uma eclesiologia tradicional no contexto sertanejo........................................................................97 — por Equipe do ProSERTÃO Igrejas nas casas.........................................................................109 — por Rubens Muzio, SEPAL/Brasil21 A contribuição de igrejas fortes para a evangelização do Sertão......................................................................................115 — por Roberto Amorim, ICE Goiânia Pró-Sertão (o deserto florescerá)..............................................119 — por Equipe do ProSERTÃO Conheça melhor o ministério Pró-Sertão..............................125


Prefácio

Este livro tem vários objetivos: 1. Homenagem à JUVEP, que tem servido ao Senhor há mais de 30 anos no Sertão Nordestino. Deus tem usado Sérgio Ribeiro não apenas para levar o Evangelho a pequenas cidades e interior do Nordeste, mas também, para abrir os olhos da igreja brasileira quanto à sua responsabilidade na evangelização dessa vasta área no Nordeste do Brasil. Essa região, em total contradição com o restante do país, conta com menos de um 1% de cristãos evangélicos declarados. Nossos parabéns à JUVEP por tantos anos e tanta mobilização. A JUVEP tem sido, e ainda é, uma grande bênção para a igreja brasileira. 2. Esclarecer e informar o povo evangélico sobre a carência do Sertão. Nosso campo missionário está diante de nós. Precisamos abrir nossos olhos e reconhecer que, para cumprir a Grande Comissão, precisamos ir além de enviar missionários para o continente africano. Missões acontecem simultaneamente em Jerusalém, Judeia, Samaria e África. Não podemos nos esquecer da nossa Judeia. Aqui encontramos uma região não alcançada quase igual à janela 10/40.


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3. Incentivar e mobilizar as igrejas Deus tem abençoado a igreja brasileira de forma única. Vemos um crescimento significativo, notamos jovens maduros capacitados e aptos para fazer missões. A igreja brasileira está repleta de potenciais missionários. Em alguns lugares a igreja está sendo agraciada com diversos recursos financeiros. É necessário definir prioridades. A exemplo disso, há igrejas que enviam seus melhores membros e obreiros para o Nordeste a fim de ensinar e capacitar igrejas menores. Já outras dedicam parte de suas férias a projetos missionários. É hora de, juntos, unirmos forças para abençoar a igreja nordestina, sustentar missionários e manter projetos. 4. Desafiar pastores e líderes Sonhamos em ver pastores e líderes de outras regiões do Brasil dedicando suas aptidões à zona árida do Nordeste. Investindo no pastoreio de pastores, formação de liderança, evangelismo, etc. Muitos pastores no interior do Nordeste têm apenas preparo precário, muitos são leigos, mas fiéis na obra. Eles precisam do apoio de outros. Quero agradecer a todos os que colaboraram com um artigo para este livro. Oramos que ele seja um ponto de partida para a chuva de bênçãos no Sertão, uma terra seca com muitos corações sedentos. Oramos para que a igreja brasileira desperte e seja ricamente abençoada por ter investido em missões no Sertão Nordestino. Mais uma vez, nossos parabéns à JUVEP, e toda honra e toda glória sejam dadas ao nosso Deus! Beat Roggensinger, ProSERTÃO


A história contada por Sérgio Luis Ribeiro, JUVEP

A pré-história Ao cair da tarde da terça-feira de Carnaval, último dia do retiro espiritual, um grupo de irmãos distanciou-se para orar debaixo de uma frondosa mangueira, naquela linda campina, um extenso e macio gramado a perder de vista. Em meio a fervorosas orações, minha mãe, Dona Maria Ferraz foi tomada pelo Espírito Santo e transmitiu a mensagem do Senhor, virando-se para meu pai, Valdir Ribeiro, cristão fervoroso que gostava muito de orar: “Meu servo, cuide deste menino, pois vou usá-lo em minha obra, tenho um grande plano para a sua vida”. Virando-se para o filho, completou a mensagem do céu: “Meu servo, busca a minha presença e santifica a vida, pois te usarei para levar minha Palavra aos sertões e a outros lugares carentes”. Meus pais e eu, com 14 anos na época, choramos na presença do Senhor, quebrantados e rendidos. Foi ali, à sombra da mangueira, que nasci de novo e fui chamado para a obra, embora só me desse conta disso anos mais tarde. Minha mãe, desde então, assumiu minha “maternidade” espiritual, e me apoiou por toda a vida, orando, contribuindo e participando da obra que Deus confiara às minhas mãos. E o fez até seu último suspiro, quando foi levada para a glória no dia primeiro de setembro de 2009.


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Dois anos depois do meu chamado, em 1976, eu era o presidente da mocidade da Igreja Ev. Congregacional de João Pessoa e chamei o vice-presidente, Eduardo Gomes, para um dia de jejum e oração, pois pesava em meu coração um forte sentimento em favor da juventude evangélica de minha cidade. Enquanto orávamos, nasceu o desejo de realizar um congresso de despertamento espiritual para os jovens de todas as igrejas e imaginei que o nome do evento seria “Congresso da Juventude Evangélica Pessoense”.

O início da história Anos se passaram e, em 1981, conheci Marcos Tavares, líder da juventude batista, que falou do seu desejo de organizar um grupo de evangelização com jovens de todas as igrejas. Já sabendo da resposta, perguntei qual seria o nome do grupo. “Grupo de Evangelismo da Juventude Evangélica Pessoense”, respondeu Marcos. Então compartilhei minha experiência de 1976 e ambos, junto com João Barbosa da Silva, líder da Federação de Mocidade Presbiteriana, marcamos uma reunião para quinze dias depois, e combinamos de orar e jejuar até lá para buscar a direção do Senhor em toda essa história. Naquela tarde de sábado nos reunimos e entendemos que Deus nos estava dirigindo para organizarmos um trabalho interdenominacional com a juventude da cidade, visando o despertamento espiritual, a evangelização e o fomento da unidade do Corpo de Cristo. Decidimos colocar os planos em um documento dirigido à Associação de Pastores e oraramos: “Senhor, reconheceremos na resposta dos pastores a tua vontade, se eles nos apoiarem, faremos a obra; se não, entenderemos que não é tua vontade, apenas sonhamos em fazer algo que tu não queres”. Em um sábado à tarde a diretoria da Associação de Pastores se reuniu e analisou o documento enquanto aguardávamos em um terraço ao lado, em oração e grande expectativa. Após uma hora — que pareceu muito mais —, com um sorriso no rosto, o Pastor Natanael Alves, presidente da Associação, deu a resposta: “A diretoria, unanimemente, apoia. Podem começar as atividades da Juventude Evangélica Pessoense. Nomeamos o Pastor José Alves da Silva para ser seu conselheiro”.


A história contada

Assim nasceu a JUVEP. Nós três saímos cheios de alegria e com a firme convicção de que estávamos lançando as bases de uma obra que Deus nos chamara a realizar.

As primeiras atividades Os sete primeiros anos de trabalho foram marcados por intensa mobilização dos jovens da cidade em campanhas evangelísticas com formatos inovadores e em inéditas programações de despertamento espiritual.

Encontrão Jovem Anualmente realizava-se uma programação de dois dias chamada “Encontrão Jovem”, com cultos inspirativos e de despertamento e inúmeros seminários com temas desafiadores e de interesse da juventude. Nomes como Alexandre Ximenes, Gilvan Rodrigues e Russell Shedd eram preletores. Conjuntos musicais e cantores de renome eram convidados (naquela época a música não era “gospel” e o meio musical evangélico brasileiro era incomparavelmente mais simples e infinitamente menos comercial, mas já começava a dar sinais nessa direção).

Evangelização e consagração entre os jovens Periodicamente a JUVEP realizava os chamados Plantões Evangelísticos, quando as mocidades locais se revezavam em uma programação evangelística ininterrupta das 9h até as 18h, na principal praça do centro da cidade. Os jovens tomavam conta do espaçoso logradouro e ninguém circulava por lá sem receber um folheto e uma palavra de salvação. Os jovens pregavam, cantavam, encenavam, evangelizavam, se consagravam e se emocionavam na presença do Senhor. A praça pública se transformava em um Vau de Jaboque, jovens se quebrantavam diante de Deus, marcados por sua bênção, e consagravam suas vidas ao Senhor. O slogan nasceu fácil, JUVEP – Vidas Jovens Levando a Mensagem de Cristo. A cada dois meses eram realizadas as Operações CEU (Campanha Evangelística Urbana) e as Operações Invasão. As Operações CEU mobilizavam a juventude para evangelizar o bairro por um dia todo,

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de casa em casa (naquele tempo as portas das casas de nossa cidade eram abertas e recebiam alegremente nossos jovens), encerrando com uma grande concentração noturna. As Operações Invasão direcionavam-se às pequenas cidades do interior em apoio às igrejas locais. Eram momentos de inesquecíveis experiências! Muitos jovens ganharam suas primeiras almas para Cristo nessas programações. Quebrantamento e consagração marcavam tais atividades.

Uma juventude fervorosa, unida e sedenta de Deus Pela primeira vez, jovens de denominações diferentes saíam juntos para proclamar o Evangelho e descobriam que o que possuíam em comum era muito mais precioso do que as diferenças periféricas, impostas pelas diferentes posições denominacionais. Jovens tradicionais e pentecostais, imersionistas e aspercionistas, lado a lado, evangelizavam e ganhavam vidas para Cristo. Algo novo estava acontecendo em nossa cidade! João Pessoa abrigava de 70 a 80 igrejas, históricas e pentecostais, às quais a JUVEP tinha acesso, além das Assembleias de Deus, cuja postura na época era de completo isolamento. Quase não havia na cidade mocidade local com mais de 50 jovens e as atividades evangelísticas e de edificação que a JUVEP realizava influenciava todas. Uma das experiências mais marcantes eram as vigílias de oração que reuniam mais de 350 jovens. Das 9 da noite às 5 da manhã, essas programações eram marcadas pela oração, comunhão e consagração de muitos jovens ao trabalho de Deus e a uma vida mais dedicada à Palavra, à oração e à evangelização. Fervor e contrição marcavam os períodos de oração; alegria e entusiasmo permeavam os intervalos de comunhão. Assim, as madrugadas eram palco de visitações de Deus sobre a juventude evangélica pessoense. Os líderes de jovens se reuniam periodicamente com a liderança da JUVEP para agendar novas atividades e definir intercâmbios entre as mocidades. Pela primeira vez, jovens de diferentes denominações promoviam programações conjuntas e as mocidades visitavam-se, umas às outras, em larga escala. Durante anos a JUVEP manteve em seu escritório, no centro da cidade, um culto matutino duas vezes por semana, e toda sexta-feira à noite reunia jovens para louvor, reflexão bíblica e, principalmente, orar por missões, focando os sertões e cidades do interior paraibano.


A história contada

Essa dinâmica influenciava várias mocidades locais e aos poucos os jovens das igrejas faziam programações semelhantes às da JUVEP, multiplicando-se naturalmente e alcançando mais jovens e localidades. À medida que isso acontecia, a JUVEP diversificava suas atividades em uma dinâmica natural, não programada, sempre buscando em oração a vontade e a direção do Senhor.

Como surgiu o Projeto Missionário Deus levou a liderança da JUVEP a perceber a grande necessidade de pregar o Evangelho no interior da Paraíba, onde a presença da igreja era mínima. Em julho de 1982 foi realizado, após um tempo de oração, o primeiro Projeto Missionário de férias, que aconteceu na cidade de Jacaraú, a 80 km de João Pessoa. Dessa experiência “laboratorial” nasceu o programa de Projetos Missionários dirigidos às cidades menos evangelizadas do Sertão, com o objetivo de plantar igrejas inicialmente nas cidades sem nenhuma igreja evangélica. Em uma época em que não se falava em pesquisas religiosas a JUVEP realizou sua primeira pesquisa e verificou os baixíssimos percentuais de evangélicos na população nordestina. Aprofundou a pesquisa na Paraíba e identificou 24 municípios com presença evangélica abaixo de 1% e outros 24 sem um cristão sequer. Ao identificá-los no mapa, ficou claro que a maioria deles concentrava-se no Sertão. O Senhor, que dirigiu a JUVEP a fazer tais pesquisas, falou ao coração da diretoria: “Este é o campo em que os usarei para anunciar minha Palavra, plantar igrejas e expandir o meu Reino”. Esta inequívoca palavra do Senhor encheu os corações daqueles jovens de convicção, entusiasmo e amor pelo Sertão Nordestino. Nada impediria que começassem a plantar igrejas nos sertões, pois estavam certos de que as dificuldades seriam superadas e as oposições vencidas, pois o Senhor dos Exércitos estava à frente e essa batalha era dele.

Paixão na alma, amor no coração, Evangelho na mão Sem dinheiro, sem estrutura, sem experiência, mas com profunda paixão pelas almas, amor por Jesus Cristo e munidos de um Evangelho simples e autêntico, os jovens líderes da JUVEP mobilizaram outros jovens e algumas igrejas para o trabalho pioneiro e inédito. Cidades

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como Diamante, São Mamede, Imaculada, Olho D’água e outras começaram a ser desbravadas e as primeiras igrejas começaram a surgir e motivar ainda mais que novos Projetos Missionários fossem realizados a cada janeiro e julho. As primeiras parcerias foram com as denominações Congregacional, Batista, Missão Pentecostal (atual ACEV) e Presbiteriana.

Os primeiros milagres do poder de Deus Experiências marcantes da graça e poder de Deus edificavam e encorajavam os jovens. A ação sobrenatural de Deus era testemunho de sua bênção, que legitimava a iniciativa junto aos pastores e líderes que ouviam atentos os testemunhos dos jovens ao regressarem das viagens missionárias, à época com duração de 17 dias. Assim estava sendo construída a credibilidade da JUVEP, respaldada pela seriedade com a Palavra, organização em suas atividades e respeito com a igreja local. Após os Projetos Missionários, a JUVEP visitava as igrejas de João Pessoa para testemunhar as experiências vividas, e assim era prestado um relatório do trabalho realizado no Sertão. Afinal, muitas igrejas participavam dos Projetos com alegria, através de ofertas em víveres e em dinheiro para a feira e envio de voluntários. O primeiro Projeto Missionário no Sertão foi em janeiro de 1983 na cidade de Diamante, que não possuía nenhuma igreja evangélica e nenhum cristão residente. Era uma cidade muito idólatra, todo dia 20 muitas mulheres vestiam-se de preto — eram as “viúvas” do “Meu Padim Pade Ciço”. Os corações de seus moradores eram duros como o diamante. Estava no auge de uma das maiores secas do século passado e não chovia no município há mais de 1 ano, de acordo com seus moradores. Os adultos economizavam água em favor de suas crianças, tomando banho dia sim, dia não. Pela primeira vez os líderes da JUVEP viram a terra rachada com seus próprios olhos. Havia tristeza e fome, angústia e dor, a falta de água minava a esperança no coração do povo. Foi neste lugar que aconteceu o primeiro milagre dos Projetos Missionários. No primeiro dia que a equipe saiu em duplas para evangelizar, ouvia de todos o mesmo clamor: “Nós precisamos da Palavra de


A história contada

Deus, mas também de água; orem para ver se o Deus de vocês envia chuva para nós!” O clamor moveu nossos corações e no dia seguinte consagramos a manhã em jejum e oração, clamando a Deus por chuva. Lembro-me, enquanto orávamos, que o sol “entrava fervendo” pela janela. Foi memorável quando, no meio da manhã, o Senhor falou aos nossos corações em uma mensagem profética: “Meus servos, estou ouvindo o vosso clamor, atenderei e derramarei nesta terra chuva abundante; creiam e esperem”. À tarde, ao sairmos para evangelizar, falávamos às pessoas: “Fiquem tranquilos, ouçam a Palavra de Salvação que lhes trouxemos, pois Deus nos falou que vai chover nesses dias, e muito!”. As pessoas, perplexas, nunca tinham ouvido alguém falar assim, e queriam acreditar nas nossas palavras, porém lhes era difícil. Dois dias depois, de madrugada, o Senhor mandou uma chuva tão forte que “despregava até lagartixa de coqueiro”, na linguagem simples da época. Aleluia! Nossa equipe acordou eufórica e todos foram para a sala de oração agradecer a Deus pela manifestação de sua fidelidade e graça. A cidade mudou! Era tudo alegria, as crianças brincavam na lama das ruas, os adultos celebravam e pelas bodegas diziam: “A gente já sabe, quando bater a seca, é só chamar os crentes”. Glória a Deus! Dali por diante choveu muito todas as madrugadas, a ponto de encher muitos açudes. É, do primeiro milagre a gente não esquece. Essa experiência sobrenatural foi recebida como uma chancela divina para o trabalho que se iniciava, visando o plantio de igrejas no Sertão. Naquele ano e no seguinte, toda programação que a JUVEP fazia, em qualquer cidade, em qualquer época do ano, chovia. Parecia que era uma marca. Então, os amigos brincavam chamando a JUVEP de Chuvep.

Os primeiros obreiros Com o crescimento do trabalho, havia a necessidade de uma pessoa em tempo integral atendendo no escritório e tomando algumas providências. Niltes Guedes assumiu, pela fé, tal responsabilidade. Embora pouco conhecida da diretoria, a empatia surgida forjou

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Homenagem a JUVEP que tem servindo o Senhor há mais que 30 anos no Sertão Nordestino. Deus tem usado Sérgio Ribeiro não apenas para levar o evangelho para pequenas cidades e interiores do Nordeste, como também, para abrir os olhos da igreja brasileira quanto a sua responsabilidade na evangelização desta vasta área no Nordeste do Brasil. Essa região em total contradição com o restante do país conta com menos de um 1% de cristãos evangélicos declarados. Nossos parabéns a JUVEP por tantos anos e tanta mobilização. A JUVEP tem sido e ainda é uma grande benção para a igreja brasileira.


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