Se eu começasse o ministério novamente - Instruções atemporais e sabedoria que transforma a vida

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1ª edição Tradução: Josiane Zanon Moreschi

Curitiba/PR 2019


John M. Drescher Se eu começasse o ministério novamente Instruções atemporais e sabedoria que transforma a vida

Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Tradução: Josiane Zanon Moreschi Guia de estudo devocional: Desenvolvido pela equipe SARA (Servindo de Apoio, Refrigério e Amizade) Capa: Neriel Lopez Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Drescher, John M. Se eu começasse o ministério novamente : instruções atemporais e sabedoria que transforma a vida / John M. Drescher; tradução Josiane Zanon Moreschi. - Curitiba, PR : Editora Esperança, 2019. 160 p. Inclui: Guia de Estudo Devocional ISBN 978-85-7839-294-9 1. Igreja - Liderança 2. Ministério pastoral 3. Pastor - Vida ministerial I. Moreschi, Josiane Zanon II. Título CDD--253

Índices para catálogo sistemático: 1. Ministério pastoral

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Salvo indicação, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia na versão Nova Almeida Atualizada © Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

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Para a glĂłria de Deus e para o encorajamento de todos aqueles homens e mulheres, chamados por Deus, nos muitos ministĂŠrios da Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.



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Sumário

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Apresentação.......................................................................................................9

Prefácio para a nova edição brasileira.......................................................11

Prefácio.............................................................................................................13 1 Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual...............................................................................17

2 Eu procuraria dedicar muito mais tempo ao estudo e à pregação das Escrituras.....................................................................33 3 Eu procuraria tornar meu ministério mais centrado em Cristo..........................................................................................................41

4 Eu tentaria me lembrar de que não é minha eloquência, mas a capacitação do Espírito Santo que cumprirá o propósito de Cristo no ministério......................................................51 5 Eu procuraria ter em mente que, apesar de todas as suas falhas, a igreja é o corpo de Cristo fazendo a obra de Deus no mundo.......................................................................61 6 Eu me esforçaria para orientar e equipar cada membro para o trabalho de ministrar..................................................................69


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Se eu começasse o ministério novamente

7 Eu procuraria e incentivaria centros criativos.................................77 8 Eu colocaria a ênfase principal na oração.........................................83

9 Eu procuraria sempre me lembrar de que meu chamado não é controlar a fé das pessoas, mas amá-las no Reino de Deus..............................................................93

10 Eu procuraria estar sempre ciente de que Deus está trabalhando geralmente em pessoas, lugares e programas nos quais menos espero que ele esteja agindo.............................103 11 Eu procuraria sempre me lembrar de que ministro apenas a partir do exemplo e que os frutos são produzidos apenas a partir de um novo crescimento...............111 12 Eu seria fortemente atraído pela plantação de igrejas, e não por congregações já estabelecidas.......................................119

13 Eu procuraria ser mais disciplinado na prática do contato pessoal por meio da visitação ao rebanho.............125 14 Eu tomaria cuidado com certas armadilhas no ministério...............................................................................................135

Sabedoria adicional para qualquer época..........................................143

Bibliografia..............................................................................................153


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Apresentação

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esde que iniciei o ministério SARA (Servindo de Apoio, Refrigério e Amizade) em 2013, tenho usado este livro principalmente na mentoria. O meu objetivo é sempre levar o pastor a pensar ou repensar seu ministério com base nos princípios Bíblico apresentados por Jesus. Eu creio que, quando nossa primeira preocupação no ministério for nosso relacionamento com Deus e dedicarmos tempo para desenvolver esse relacionamento e conhecer sua vontade e propósito em nossa vida, todas as demais áreas irão bem. Ao investir tempo para Deus estarei bem comigo mesmo, minhas emoções ficarão equilibradas, minha família irá bem e logo passarei a viver uma vida de contentamento. Este é o grande segredo da vida.

Se tudo estiver bem comigo, o crescimento da igreja passará a ser uma consequência natural do meu relacionamento com Deus. Então poderei dizer que fui escolhido pelo Senhor, entre milhões pessoas, para ser seu parceiro no ministério. Logo o crescimento não será minha responsabilidade, e sim fruto da atuação dele em minha vida e por meio de mim. Desenvolvendo intimidade com ele descubro o que ele está fazendo e simplesmente sigo como seu coadjuvante. Então a vida fica mais fácil e o ministério se torna prazeroso. Também tenho feito uso deste livro quando falo sobre revitalização de igrejas porque para revitalizarmos uma igreja precisamos,


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Se eu começasse o ministério novamente

primeiro, revitalizar a liderança. Não há como revitalizar uma igreja a menos que o pastor esteja revitalizado. Então, se faz necessário começar olhando para os princípios apresentados pelo autor e colocar em prática em nossa vida. Nós, pastores, gostamos de pegar tudo que ouvimos e lemos e transformar em ferramenta ministerial. Mas este livro nos desafia a praticar primeiro e ver o resultado desses princípios em nossa vida para depois convidar outros a fazerem o mesmo. Descobriu a razão pela qual eu tenho usado este livro em todas as áreas do ministério SARA? Este pequeno livro é grande demais. Seu conteúdo, uma vez praticado, transforma a vida daqueles que levam o ministério a sério. Então, servir a Cristo como parceiro dele se torna um grande privilégio.

Convido você não somente ler este livro capítulo por capítulo, mas ler um capítulo e não ir para o outro antes de praticar o que o autor sugere pelo menos por um mês antes de seguir em frente. Somente depois de estar seguro que o princípio apresentado se tornou hábito em sua vida, dê sequência na leitura e assim sucessivamente. Deus abençoe sua vida e ministério José Carlos Pezini


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Prefácio para a u nova edição brasileira

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izer que John M. Drescher, meu pai, amava seu trabalho, é relegá-lo injustamente a apenas uma parte de quem ele era. Ser pastor era mais do que um trabalho para ele – era o centro de sua vida. Ele era apaixonado por Jesus e pelo povo de Deus, a quem se sentia privilegiado em servir. Em seu primeiro pastorado, que começou enquanto ainda estava no seminário, ele fez de tudo, desde apresentar bebês até cavar um túmulo com as próprias mãos antes de oficiar o funeral.

Ele amava pregar e praticava com alegria tudo o que falava naqueles muitos sermões, como passar horas em silêncio com Deus diariamente, ler, escrever diários e orações e ouvir as histórias que viriam a ilustrar seus sermões e livros. Lembro-me dele voltando para casa depois de servir à igreja, nos Estados Unidos e às vezes em outros países, com um sorriso no rosto, dizendo que havia tido a chance de pregar até 40 sermões em uma semana de reuniões. Papai cresceu em uma época em que apenas os homens eram considerados para o pastorado e orava diariamente para que seus filhos se tornassem pastores como ele, pois não conhecia alegria maior. Em 1974, a Igreja Menonita pediu que ele fizesse um estudo


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Se eu começasse o ministério novamente

das Escrituras, quando perguntas começaram a ser levantadas por mulheres que também se sentiam chamadas para o ministério. Eu mesma estava começando a me sentir chamada para a vocação na qual testemunhei papai tendo tanta satisfação. Seu estudo e oração não revelaram restrições sobre quem Deus poderia chamar para o pastorado, e assim ele começou a orar por suas filhas e por todas as filhas da igreja.

Devo a alegria de ter me tornado pastora, antes de tudo, a meu pai e a todos os que oraram por mim nessa vocação maravilhosa, que também se tornou mais do que um trabalho para mim. Oro para que o legado de meu pai, de encontrar alegria primeiro em Cristo e na igreja, seguindo de perto e em conjunto com seu amor por sua família, continue a se espalhar pelo mundo através de todos os que lerem essas palavras e que vivem seu próprio chamado para o ministério. Sandra Drescher-Lehman


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Prefácio

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or vários anos, pastores mais jovens, em particular, bem como aqueles que estavam sendo treinados para pastorear, me incentivaram a escrever Se eu começasse o ministério novamente. Sem dúvida, esse título específico foi sugerido por causa dos meus dois livros anteriores: Se eu começasse minha família novamente e Se começássemos nosso casamento novamente. O que se segue também surgiu da minha própria busca e necessidade. Aqui estão anotações sobre o que me parece importante ao refletir sobre onde colocaria a ênfase se estivesse iniciando o ministério novamente. Também aborda o que eu gostaria que alguém tivesse compartilhado comigo quando comecei meu ministério. Talvez isso tenha sido compartilhado em maior extensão do que eu percebo agora. Muitas coisas não são registradas até que realmente se chegue a situações relevantes.

Servi como pastor em três congregações, como bispo ou supervisor de congregações em três conferências diferentes e como professor de seminário por uma década. Também servi como editor de uma revista semanal denominacional por aproximadamente 12 anos. Além disso, tive o privilégio de falar em centenas de congregações e grupos de ministros que cruzavam fronteiras denominacionais – católicas e protestantes – e nesses contatos os


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Se eu começasse o ministério novamente

ministros faziam a pergunta: “O que você faria se estivesse começando novamente?”

Por experiência, sei que há pontos baixos no ministério. Depois de vários anos, um ministro talvez experimente uma queda que pode testar seu chamado e seu compromisso. A empolgação de entrar no ministério pode se dissipar porque não vimos o grande crescimento que esperávamos ou não alcançamos nossos objetivos. Na meia-idade, quando a família começa a crescer e outras responsabilidades pesam muito, o ministro tende a desanimar ou pensar em empregos mais interessantes. A meia-idade é uma crise na qual procuramos novamente nossa identidade e nos questionamos a respeito do restante da vida. É um ótimo momento para um curso de reciclagem e um retorno aos princípios básicos. William Nelson em Ministry Formation for Effective Leadership (Formação do ministério para uma liderança eficaz) nos leva de volta a alguns desses princípios. Qual foi o ímpeto que motivou seu chamado cristão? Qual é o objetivo que atualmente guia sua formação ministerial? É uma dedicação ao estudo da Bíblia, da história da igreja ou da teologia cristã, a fim de se tornar um professor mais eficaz? É uma paixão por reformar a estrutura que controla nossa sociedade, a fim de tornar possível a todas as pessoas tornarem-se verdadeiramente humanas? É um desejo de edificar o corpo de Cristo como uma comunidade reconciliadora de fé com o objetivo de evangelizar o mundo? A capacidade crítica da autoanálise o ajudará a articular as metas que estabelecerá no caminho de se tornar um líder pastoral eficaz.1

As oportunidades e a alegria que o ministério cristão me deu foram além de todas as minhas expectativas. Sim, como em todo 1

William Nelson. Ministry Formation for Effective Leadership. (Abingdon, 1988): p. 23.


Prefácio

trabalho houve tempos difíceis. Mas o ministério cristão, para mim, foi acompanhado de desafios e foi muito gratificante. Nenhum outro chamado toca em todos os níveis da existência, do nascimento à morte. Nenhum outro trabalho sente as dores mais profundas e as maiores alegrias da vida. Nenhum outro serviço compartilha mais plenamente os fracassos e sucessos das pessoas.

Apesar de todas as fraquezas e fracassos da igreja, ela ainda é o único grupo no mundo que demonstra mais amor, sacrifício e carinho. E mesmo aqueles que não reconhecem Cristo colhem as bênçãos e benefícios do espírito e impacto semelhantes a Cristo.

Assim, como alguém que entrou na quinta década do ministério, compartilho algumas coisas que provaram ser uma grande bênção, algumas áreas que eu fortaleceria e alguns ministérios que faria de maneira diferente cada vez que recomeçasse.

O que eu compartilho não é proposto como a resposta completa para cada ministro. Cada um deve procurar e encontrar o que Deus está dizendo, onde está e para o que foi confiado o seu chamado. Uma pessoa não pode fazer tudo, então cada um deve, sob a orientação de Deus, ser e fazer aquilo a que Deus chamou e encontrar as áreas de força e fraqueza, buscando a bênção de Deus em ambas.

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Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha prรณpria vida espiritual



Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

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epois, Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis, e vieram para junto dele. Então designou doze, aos quais chamou de apóstolos, para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de expulsar demônios. (Mc 3.13-15)

Essa experiência de estar “com Cristo” e praticar sua presença para o desenvolvimento da minha vida interior não foi enfatizada o suficiente durante todo o meu treinamento teológico. Somente um ou dois professores me deixaram com a impressão de que tinham uma vida devocional profunda, uma intimidade com Cristo que me deixou sentindo que vinham da presença do Senhor ou que tinham uma vida de oração tão vibrante e vital que era levada para a sala de aula. Entrei no ministério com um claro sentimento de chamado e entusiasmo por estar no ministério de Cristo e da Igreja. No entanto, levei algum tempo para aprender que os frutos são produzidos apenas com novo crescimento e que a Palavra que devo transmitir deve primeiro tornar-se carne em mim. Ficou claro que Deus precisava produzir sua obra através de mim.

Não demorei muito tempo no pastorado para perceber que precisava cultivar minha própria vida espiritual. Eu precisava alimentar minha própria alma e conhecer o poder que vem de estar na presença de Cristo em sua Palavra, em solidão, meditação, jejum e orações, se eu quisesse fazer uma obra espiritual e eterna e satisfazer a profunda fome e clamor de pessoas que eu encontrava todos os dias.

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Se eu começasse o ministério novamente

James N. McCutcheon salienta que um vislumbre da vida privada de Jesus

fornece pelo menos três impressões da prática habitual de nosso Senhor, que imediatamente falam à vida devocional do ministro. Ele escolhia um momento e um lugar no qual provavelmente não seria perturbado. Não permitia que nem mesmo os mais próximos atrapalhassem seu tempo em oração. Ainda assim, sua vida devocional sempre era ameaçada e invadida pelas necessidades ao seu redor.2

À medida que aprofundamos nosso relacionamento com Deus, nosso relacionamento com os outros também será aprofundado.

David J. Bosch resume a comparação de Lesslie Newbigin entre o “Modelo do Peregrino” e o “Modelo de Jonas” de vida espiritual. O peregrino sentiu que precisava fugir da “cidade perversa”. Jonas teve que entrar na cidade, com todo o seu pecado e corrupção. Bosch conclui: Os dois são absolutamente indivisíveis. O envolvimento neste mundo deve levar a um aprofundamento de nosso relacionamento e dependência de Deus, e o aprofundamento desse relacionamento deve levar a um envolvimento crescente no mundo.3

Em um sentido real, precisamos ser chamados, separados do mundo, antes de podermos ser enviados ao mundo.

Um jovem pastor me escreveu, dizendo que havia ficado perturbado e me havia repreendido publicamente alguns anos antes em uma conferência de ministros porque eu enfatizara demais o cultivo e a disciplina da vida interior. Ele sentia que deveríamos nos ocupar no trabalho da igreja. 2 3

James N. McCutcheon. The Pastoral Ministry. (Abingdon, 1978): p. 12. David J. Bosch. A Spirituality of the Road (Herald Press, 1979): p. 13.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

Não me lembro do incidente. Ele confessou que agora, depois de alguns anos no ministério, percebeu seu vazio interior e como é essencial chegar à fonte da força espiritual. Ao cultivar sua própria vida espiritual, todo um mundo e uma obra espirituais começaram a se desdobrar diante dele. Embora habilidades verbais, boa aptidão para gerenciamento e um agradável estilo de pregação e visitação possam carregar um ministro por um tempo, em breve sua integridade moral estará em jogo se estiver falando ou procurando ministrar além da sua profundidade ou do seu compromisso espiritual.

A vida eterna

Em João 15, Jesus nos diz duas vezes que, a menos que permaneçamos nele e ele permaneça em nós, nada conseguiremos de valor espiritual ou eterno (vs. 4-7). Nada? A carne ainda sente que pode, através de treinamento, educação, dons, trabalho duro e outras qualidades pessoais, fazer um trabalho espiritual. Jesus diz que não podemos. A menos que nos comprometamos a nos abrir diariamente às Escrituras, à meditação e à oração, em pouco tempo estaremos buscando nossa própria identidade espiritual. Teremos menos fé e confiança e um discernimento decrescente da realidade espiritual. Sem permanecer diariamente em Cristo, ficamos sujeitos à influência prejudicial do que é secular e material, e dedicaremos nosso tempo a coisas secundárias – aos equipamentos da instituição, ao escritório da igreja e à administração da comunidade, fazendo as coisas que podem ser explicadas em termos naturais. Até que acreditemos, de todo o coração, no que Jesus disse: “... porque sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15.5), continuaremos a

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funcionar no nível natural, obtendo apenas o que alguém natural, inteligente e educado pode produzir. Participaremos de seminário após seminário para aprimorar nossas habilidades, mas passaremos pouco tempo em solidão e oração para que Deus molde nossas vontades.

O tempo a sós com Deus aguça o foco de nossas prioridades e nos abre para receber a presença e o poder de Deus. A intimidade de nossas vidas com Cristo é a medida de nosso poder espiritual para Deus. G. Byron Deshler, em For Preachers Only (Somente para pregadores), escreve: Foi no encerramento de um culto de domingo pela manhã no meu primeiro pastorado que um jovem leigo me disse: “Byron, você deve ter passado algum tempo com Deus nessa semana”. Seu comentário me abalou: naquela semana eu havia passado muito mais tempo em oração e meditação do que o normal. Não me ocorreu que as pessoas pudessem detectar se eu havia passado algum tempo com Deus. Se havia algo na minha pregação que indicava que o sermão havia sido preparado em comunhão com Deus, então a falta disso também diria algo sobre minha vida de oração.4

Aquietem-se e saibam, diz a Escritura (Sl 46.10) – e há um conhecimento de Deus e da sua obra que só vem em comunhão com ele até que se sinta o próprio sopro de Deus em nossas vidas e em nosso trabalho. O que eu digo não é meramente uma técnica ou dever religioso. Deve ser comunhão com Cristo. Deus é quem trabalha para aquele que nele espera (Is 64.4).

Prioridades pessoais

Para me disciplinar, achei que seria uma grande ajuda me comprometer com certas prioridades claras. 4

G. Byron Deshler. For Preachers Only. (Zondervan, 1973): sem numeração de página.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

Prioridade 1: Eu me comprometi a ler a Palavra de Deus todos os dias antes de qualquer outra coisa. Antes de comer alimento para o corpo, é agradável alimentar-me da alma e satisfazer a fome de Deus e da vontade de Deus. Essa prioridade me levou a levantar cedo e a dividir o Novo Testamento em trinta partes, para que possa ser lido dentro de um mês. Faço isso a cada dois meses e no mês entre eles leio uma porção considerável do Antigo Testamento. Preciso dessa disciplina e ela se tornou uma parte necessária da vida, como comer todos os dias os alimentos para o corpo. Prioridade 2: Eu me comprometi a conversar com Deus todos os dias antes de falar com qualquer outra pessoa. Além de ser um momento de louvor e ação de graças, no qual procuro meditar sobre o caráter de Deus e seus dons, acho que uma lista de oração é útil para mim. Algumas orações, petições ou pessoas da lista de oração são de longo prazo e outras de curto prazo. Há aqueles por quem eu orei todos os dias por muitos anos. Há outros listados para orações específicas e por períodos mais curtos.

Algumas pessoas levantaram a questão: O que acontece se, por algum motivo, eu precisar atender a uma ligação telefônica ou falar com alguém antes da minha leitura matinal e do tempo de oração? Minha resposta é que isso, de maneira alguma, quebra meu compromisso. Assumimos o compromisso de estar no trabalho todos os dias em um determinado horário. Quando surge uma emergência, não dizemos: “O compromisso está quebrado, então acho que não é necessário que eu volte a chegar no trabalho sempre pontualmente”. Da mesma maneira, nem uma emergência ou interrupção, que aconteceu muito raramente ao longo dos anos, me levou a desistir desse compromisso de ler as Escrituras e orar. Intimamente ligado a essas primeiras prioridades está o registro no diário. O diário, embora não seja necessariamente um exercício

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de todos os dias, tem sido vital, pois expresso meus pensamentos meditativos, minhas orações e desejos por escrito.

Prioridade 3: Eu me comprometi a jejuar pelo menos uma refeição por semana e periodicamente por períodos mais longos. Jesus disse “quando orarem”(Mt 6.5) e “quando, pois, você der esmola” (v. 2), presumindo que seus seguidores orariam e dariam esmola. Ele não modifica para “se vocês jejuarem”. Ele diz “quando vocês jejuarem” (v. 16), presumindo que seus seguidores jejuariam. John Wesley não consagrava um ministro que não jejuasse pelo menos dois dias por semana, e dizia que todos os metodistas jejuavam toda semana. Todo período de renovação espiritual envolve também uma renovação na prática do jejum. O jejum com fins espirituais me dá um maior senso de dependência de Deus por toda a vida e ministério, uma maior sensibilidade ao Espírito Santo e à Palavra e uma maior consciência da presença e da bênção de Deus em toda a vida. É também uma grande ajuda para lidar com as tentações da carne e do espírito. Dallas Willard escreve em The Spirit of the Disciplines:

Essa disciplina nos ensina bastante sobre nós mesmos muito rapidamente. Certamente será humilhante para nós, pois nos revela quanto de nossa paz depende do prazer de comer. Pode também nos lembrar de como estamos usando o prazer da comida para aliviar os desconfortos causados em nossos corpos por uma vida e atitudes imprudentes e sem fé – falta de autoestima, trabalho sem sentido, existência sem propósito ou falta de descanso ou exercício. Se não servir para mais nada, certamente demonstrará o quão poderoso e inteligente nosso corpo é para conseguir vencer nossas resoluções mais fortes.5

Prioridade 4: Procuro ler um capítulo de um bom livro todos os dias, além da leitura habitual ou necessária para a preparação de 5

Dallas Willard. The Spirit of the Disciplines. (Harper & Row, 1988): p. 166.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

sermões e outros trabalhos da igreja. Procuro ler livros que variam entre os mais antigos clássicos e os mais recentes. Eu raramente leio um best-seller no primeiro ano, mas, se um livro é um best-seller por dois ou três anos, provavelmente vale o meu tempo. Thomas R. Swears diz:

Fazer escolhas sábias sobre o que você lê é um ato responsável. Um conselho útil para essa tomada de decisão é manter um programa de leitura equilibrado. Esse equilíbrio ajuda a impedir que o pastor se concentre demais em ilustrações de aconselhamento, ensino ou pregação. As imagens que orientam o pensamento e a fala de um pastor devem ter diversidade suficiente para capacitá-lo a responder adequadamente a uma ampla variedade de necessidades humanas.6

Sim, se eu começasse o ministério novamente, começaria aqui – o aprofundamento de minha própria vida espiritual por meio das disciplinas espirituais descritas acima como prioridades. Eu gostaria que alguém tivesse sugerido essa abordagem no início do ministério.

“Quem os outros dizem que é o Filho do Homem?” (Mt 16.13)

Leslie Weatherhead, da Inglaterra, estava programado para falar a um grupo de ministros de Manhattan. Seu navio atrasou por causa da neblina e os ministros esperaram por várias horas. Quando o Dr. Weatherhead chegou, ele disse: “Vocês esperaram por muito tempo e eu percorri um longo caminho para fazer uma pergunta simples: ‘Vocês conhecem Jesus Cristo?’” 6

Thomas R. Swears. The Approaching Sabbath. (Abingdon, 1991): p. 86.

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À primeira vista, essa pode parecer uma pergunta estranha para ser feita a um grupo de ministros. No entanto, é aqui que devemos começar se formos ministrar sobre Cristo. É isso que nosso povo está esperando para saber. E aqueles a quem ministramos são capazes de sentir se conhecemos Jesus pessoalmente e se viemos da presença dele. A primeira das sete declarações aos pastores no livro de Jeremias é a queixa: Os sacerdotes não perguntaram: “Onde está o Senhor?” E os que tratavam da lei não me conheceram... (Jr 2.8). O resultado é que o povo cometeu dois males: abandonaram a mim [o Senhor], a fonte da água viva, e cavaram cisternas, cisternas rachadas, que não retêm as águas (Jr 2.13).

As coisas mais importantes primeiro

Antes de dar uma missão, deve haver o companheirismo.

Devemos aprender a conhecer Cristo antes que possamos pregar sobre Cristo. Devemos conversar antes que possamos transmitir.

Devemos ser ministrados antes que possamos ministrar.

Devemos ser disciplinados antes que possamos disciplinar.

Devemos amar nosso Senhor antes que possamos trabalhar para o Senhor. Devemos adorar a Cristo antes de adotar sua doutrina.

Devemos ver a glória de Deus antes que possamos falar sobre a glória de Deus.

Devemos esperar pela visão antes que possamos compartilhar a visão. Devemos nos demorar antes que possamos ensinar.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

Devemos louvar antes que possamos fazer trabalho espiritual.

Devemos buscar Cristo antes que possamos compartilhar Cristo.

Devemos permanecer em Cristo antes que possamos produzir frutos permanentes.

Devemos praticar estar na presença de Cristo antes de podermos pregar sua pessoa. Devemos meditar antes que possamos mediar.

O segredo do trabalho eficaz é buscar Cristo em secreto.

Então ouviremos seu sussurro acima das palavras do mundo. Então ouviremos seu chamado acima dos gritos da multidão.

Então sentiremos seu toque acima do toque da desaprovação.

Então conheceremos o amor de Deus acima do amor a nós mesmos e às coisas. Então conheceremos o poder de Deus acima do poder do maligno.

Então ouviremos a mensagem de Deus acima dos murmúrios da mensagem do mundo.

Então veremos o senhorio de Cristo acima de nossa própria posição, prestígio ou prazer.

Então viveremos uma vida que não pode ser descrita em termos naturais.

A disciplina da renovação

Finalmente, nas palavras de Suzanne Johnson:

A questão a ser colocada em qualquer prática de disciplina espiritual é a questão da adequação. As disciplinas espirituais validam a vida cristã quando invocam compaixão em nós, sensibilizam-nos para o que Deus

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está fazendo no mundo, motivam-nos a acolher o estrangeiro, inspiram em nós uma afeição sincera por Deus e pelo próximo, criam em nós a capacidade de nos entregarmos e nos levam ao autêntico amor próprio. Se uma disciplina espiritual não nos abrir para as qualidades de caráter, provavelmente estamos praticando uma espiritualidade falsa.7

Estou certo de que muitas frustrações que os pastores sentem vêm da falta de disciplina. Não apenas a vida devocional regular e o estudo sério da Bíblia podem facilmente ser deixados de lado, mas os dias podem ser desperdiçados enquanto nos ocupamos com coisas insignificantes e pequenas. Sem um padrão e uma disciplina de meditação e oração, estudo, preparação para sermões, visitação e relaxamento, o ministro realizará pouco e se tornará superficial e lento.

Eu lembraria a mim mesmo continuamente de que, quando as Escrituras falam sobre o chamado do ministro, comparam sua disciplina ao treinamento implacável de um atleta (1Tm 4.6-10), o comprometimento inabalável de um soldado (2Tm 2.1-7), e o servo fiel que não se envergonha de Cristo (2Co 2.14-19). “Deus tem favoritos?”, perguntou um ministro frustrado a um bispo idoso. “Não!”, respondeu o bispo, “Mas ele tem amigos íntimos”.

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Suzanne Johnson. The Christian Spiritual Formation in the Church and Classroom. (Abingdon, 1991): p. 69.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

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“Deus não tem favoritos, mas tem amigos íntimos” – Talvez essa frase resuma bem a proposta do capítulo. Estabelecer um padrão e disciplina de meditação e oração, estudo e outras disciplinas requer a disposição de um atleta, a dedicação de um soldado e o desprendimento de um servo. Como tem sido sua rotina de meditação, oração, estudo, jejum e a prática de tantas outras disciplinas espirituais? Será que conhecemos Cristo? Essa foi a pergunta feita pelo Dr. Weatherhead em uma conferência para Ministros nos EUA, mas é uma pergunta atualizadíssima. Como você a responderia?

A experiência do pastor John Drescher com um ou dois professores que davam sinais de uma vida devocional profunda foi alarmante. Ele disse: Não tenho essa referência do seminário; não tenho essa referência entre pastores (os que conheci); talvez tenha um ou dois nomes entre os crentes; concluo que é uma triste constatação. E você? Tem a mesma experiência do pastor John Drescher?

Podemos tirar três impressões sobre a prática espiritual de Jesus: a) Ele escolhia um momento e um lugar onde possivelmente não fosse interrompido; b) Ele não permitia que mesmo os que estavam mais próximos dele o importunassem no momento de oração; c) Sua vida devocional estava sempre ameaçada e invadida pelas necessidades que o cercavam. Contudo, a vida de Jesus com o Pai nunca foi interrompida. E a sua vida com o Pai, como anda?

O aprofundamento do relacionamento com Deus resulta no aprofundamento de nossa relação com os outros. São apresentados a nós dois modelos:

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1. Modelo do Peregrino (sentiu a necessidade de fugir da cidade pecaminosa); 2. o Modelo de Jonas (teve que entrar na cidade, com todo o pecado e corrupção que havia nela).

David Bosch afirma: “Os dois modelos são absolutamente indivisíveis. O envolvimento neste mundo deve levar a um aprofundamento de nosso relacionamento e dependência de Deus, e o aprofundamento desse relacionamento deve levar a um envolvimento crescente com o mundo”. Como você relaciona esses dois modelos à sua vida?

Jesus afirma em João 15.5: “... sem mim vocês não podem fazer nada”. É mesmo? Tudo o que você fez durante o ministério foi junto com Jesus ou você observa que deu alguns passos sem ele? Qual é a proposta do autor na análise desse texto? Sobre o estabelecimento de prioridades pessoais o autor nos aponta alguns caminhos bem interessantes: 1. Ler a Palavra diariamente antes de qualquer coisa: ele lê o NT em 30 dias (quase 9 capítulos por dia) e uma porção do AT no mês seguinte;

2. Falar com Deus a cada manhã, antes de falar com qualquer outra pessoa: ação de graças, louvor e lista de orações. Uso também do diário para registro das reflexões, ideias e aspirações;

3. Jejuar pelo menos uma refeição por semana: John Wesley não consagrava um ministro que não jejuasse pelo menos duas vezes por semana. Vejo que nossos padrões para um ministro hoje são outros. A piedade não é um critério analisado pelos concílios que conheço. A oratória, conhecimento teológico, habilidade de fala, esses são critérios de nosso tempo, infelizmente; 4. Todos dias exercitar a leitura de um capítulo de algum livro valioso.


Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo de minha própria vida espiritual

Quais são as suas prioridades estabelecidas?

Oração

Bom Deus, meu desejo é ser um amigo íntimo teu, mas sei perfeitamente que há uma distância entre o simples querer e o realizar. Sei também que o caminho que tenho a percorrer passa pela disciplina pessoal de desenvolver um relacionamento profundo contigo. Sei que preciso tomar decisões e desejo tomá-las neste instante, e a primeira delas é estabelecer que o Senhor é o que tenho de mais precioso. Portanto, prometo que as minhas primeiras horas do dia serão dedicadas ao Senhor. Sei que preciso assumir outros compromissos, mas que cada compromisso assumido não seja idealizado ou planejado por mim, mas fruto do relacionamento que a partir de hoje terei. Em nome de Cristo, Amém.

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