TEVO e o ataque na ponte
Enfrentando o bullying
Edleia Lopes
TEVO e o ataque na ponte
Enfrentando o bullying 1ª edição
Curitiba/PR 2021
Edleia Lopes
Tevo e o ataque na ponte Enfrentando o bullying Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Revisão: Josiane Zanon Moreschi Ilustrações: Arthur Aiolfi Guimarães Capa e diagramação: Josiane Zanon Moreschi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sueli Costa CRB-8/5213 Lopes, Edleia Tevo e o ataque na ponte: enfrentando bullying / Edleia Lopes; Arthur Aiolfi Guimarães. – Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2021. 104 p. ISBN 978-65-87285-28-3
1. Literatura infantil 2. Literatura infantil cristã religiosa I. Guimarães, Arthur Aiolfi II. Título.
3. Crianças – Vida
Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil cristã 248.22
CDD-248.82
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Editora Evangélica Esperança
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Sumário
Dedicatória.............................................................................7 Agradecimento........................................................................9 1. Gente boa..............................................................................11 2. Gente perigosa.......................................................................17 3. Aprendiz de terrorista............................................................23 4. Bullying.................................................................................27 5. O amigo de ouro....................................................................33 6. Leitura, a maior das aventuras!..............................................47 7. Sonhos..................................................................................61 8. A perseguição........................................................................71 9. O ataque................................................................................81 10. A virada..............................................................................89
Dedicatória
Ao meu filho Estêvão, com todo amor que é capaz de caber no coração de uma mãe! Que você voe cada vez mais alto! Que sonhe cada dia sonhos mais coloridos! Que encare cada desafio com mais coragem! E que continue enchendo sua mente com o extraordinário mundo das letras!
Agradecimento
Obrigada, Deus, pelo privilégio de escrever! Obrigada também por me dar uma família! Pessoas queridas que me incentivam a colocar no papel não somente histórias de vida, mas também sonhos e imaginações.
Gente boa
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Amigos! Que coisa legal! Como é bom tê-los!!! Eles enchem nossa vida de alegria, de festa, de novidades. Alguns são animados, falantes, elétricos, não conseguem parar um só minuto. Outros, bem calados, sossegados, tranquilos. Tem aqueles corajosos, que encaram qualquer parada, enquanto há outros que morrem de medo de tudo. Tem os amigos tímidos, que ficam vermelhos por qualquer motivo, e aqueles que não têm vergonha de absolutamente nada, que a gente chamaria de “caras de pau”. Tem aqueles que nos contam histórias compridas, cheias de mil detalhes, que parecem não acabar nunca mais, dá até preguiça na gente. E tem aqueles que nos contam tudo pela metade, e se a gente quiser tem que ficar adivinhando o que de fato querem nos dizer. Tem os que estão sempre precisando de ajuda, e os que estão sempre prontos a ajudar. Os que levantam nossa moral, e os que só sabem pegar no nosso pé. Tem os amigos chorões, os que emburram à toa. Tem os que falam bem baixinho, e aqueles que só se expressam aos berros. Existem aqueles que querem atenção o tempo todo e não largam da gente um só instante, e tem até aqueles amigos que de repente somem, desaparecem sem dar uma notícia sequer. Enfim, eles são muito diferentes e especiais, e acabam nos completando e trazendo para nossos dias muita novidade, alegria e animação. Na maioria das vezes, são os amigos que nos colocam por dentro das coisas interessantes que estão acontecendo. Normalmente eles contam o que está se passando na escola, na vizinhança e com o restante da turma. E quer saber? É muito bom ficar batendo
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papo e falando de coisas que só nossos amigos são capazes de entender perfeitamente. Em algumas situações, e dependendo do quanto a gente é amigo daquela pessoa, não é preciso usar uma palavra sequer para nos comunicarmos, basta um olhar ou um sorriso e a gente já sabe direitinho o que a pessoa quer nos dizer. É certo que às vezes alguns amigos nos aborrecem, nos deixam chateados por causa de pequenas bobagens. Outros não nos compreendem como gostaríamos, mas no final a gente sempre tem a certeza de que é melhor ter um amigo que pega no nosso pé, a não ter amigo algum. Isso sim é triste. Leleca, uma garotinha de bem com a vida, sempre teve muita sorte com amigos, nunca lhe faltou alguém para jogar bola, brincar de esconde-esconde, contar histórias, nadar em dias de sol, tomar banho de chuva, fazer algumas peraltices e mais um monte de coisas bacanas que os amigos normalmente fazem juntos. E, claro, nunca lhe faltou também amigos para fazer o que eles mais gostam: conversar, conversar muito, contar segredos que só eles podem saber, e rir bastante, muito mesmo, rir de tudo, até daquilo que ninguém acha a menor graça, rir até quase fazer xixi nas calças... Sim, ela sempre teve um montão de amigos. Leleca tinha um amigo, aliás, um de seus melhores amiguinhos. Um menininho muito especial, o qual ela admirava muito! Ela o considerava o garoto mais esperto e inteligente da turma. Na verdade, é justamente algo que aconteceu na vida desse menino, o Tevo, que eu gostaria de contar para você.
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Eles estudavam na mesma escola. Geralmente é na escola que estão nossos melhores amigos, não é verdade?! Acho que o fato de nos encontrarmos com eles todos os dias, sermos quase sempre da mesma idade, termos as mesmas obrigações, os mesmos professores, as mesmas tarefas de casa, enfim, os mesmos problemas... torna quase inevitável uma aproximação cada vez maior. É muito engraçado como tudo acontece, a gente chega no primeiro dia de aula, às vezes sem conhecer grande parte dos colegas (quando mudamos de escola pode acontecer de não conhecermos um só dos colegas da sala), e tudo parece tão novo e estranho, que muitas vezes chegamos a nos sentir assustados e inseguros. Cada um olha para o outro de uma maneira meio desconfiada... meio sem graça... E aí, não sei por que, a gente se sente meio sem jeito e fica com vergonha até de falar, andar pela sala, ou fazer alguma pergunta. Acho que aquela porção de rostos diferentes acaba nos assustando. Se você já mudou de escola alguma vez, deve estar entendendo direitinho o que estou dizendo. E deve concordar que não é uma tarefa muito fácil encarar o primeiro dia de aula em um lugar onde não conhecemos absolutamente ninguém. Mas basta passar uma semana de aula e tudo parece diferente. Aqueles rostos estranhos já não nos assustam mais. Pouco a pouco tudo vai se tornando familiar e nos sentimos cada vez mais à vontade no meio dos colegas. Quase como um milagre, um mês depois e a gente já se sente totalmente “em casa”. Andamos pela sala de um lado para o outro sem problema algum; conversamos com um e outro; rimos das
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histórias; perguntamos e respondemos perguntas com muita naturalidade. É tanta intimidade que os professores mal conseguem fazer a turma parar de falar, pois para os alunos tudo parece muito engraçado e divertido! Quando passa o primeiro semestre a gente acha que não vai suportar a saudade dos colegas durante o período de férias, principalmente porque alguns deles já se tornaram tão íntimos e especiais para nós, que basta um final de semana sem vê-los e já sentimos a maior falta. Acredito que é também por isso que a escola é um lugar especial! Lugar de muitos amigos! E como eu já disse, onde há amigos, há gargalhadas, festa, alegria, segredinhos bem guardados e histórias que não acabam mais.
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Gente perigosa
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Leleca amava a escola, amava também a maioria dos amigos que tinha por lá, aprendia um montão de coisas legais com eles (especialmente com Tevo, aquele seu coleguinha bastante inteligente, de quem ela tanto gostava), porém, como nem tudo é perfeito, por todas as escolas que passou, sempre havia um grupinho (que bom que é sempre minoria) que não era muito legal com ela e com grande parte dos colegas. Era um grupinho que em vez de se entrosar com a turma, de participar das brincadeiras, de fazer coisas legais juntos, gostava mesmo era de ficar pegando no pé de todo mundo, principalmente de alguns alunos de quem eles não gostavam, por acharem que eram diferentes dos outros ou por pura implicância mesmo. Eles pegavam no pé de quase todo mundo, falavam mal de um porque achavam que ele era alto demais, de outro porque achavam que era baixinho; riam do que eles diziam que era mais gordinho que a maioria, e criticavam sem dó o que consideravam magricelo. Não sobrava ninguém, o que usava óculos não tinha perdão, o que gaguejava quando ficava nervoso era ridicularizado. Se o colega tinha a pele mais escura, podia esperar os maus-tratos, mas se a pessoa tivesse a pele muito clara, ai, ai, ai... coitadinho... podia ficar preparado, que não faltariam gozações. Tudo era motivo para tirarem sarro: uma cicatriz, uma pinta, uma verruga, o cabelo encaracolado ou arrepiado, ou liso demais. Olhos grandes ou puxados; dentes desalinhados, ou dentes faltando; lábios grossos ou afilados; nariz largo ou arrebitado; nada escapava. Pobre de quem tinha sardas nas bochechas (o que considero um verdadeiro charme), estes viviam ouvindo comentários sem graça.
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Os que vestiam roupas que eles consideravam mais surradas ou velhas eram motivo de crítica; os que se vestiam melhor também não escapavam das gracinhas (sem graça) deles. Coitado de quem não tirava boas notas, eram tachados com os mais horríveis apelidos; e os alunos que se destacavam também sofriam críticas e perseguições. Enfim, era um horror, não sobrava ninguém. Tudo e todos eram motivo de chacota, de pegarem no pé, de provocarem até o limite, enfim, de encherem a paciência. Até os pais e irmãos dos colegas eram motivos para eles fazerem piadas e críticas. Para alguns eles diziam: — Como seu pai é velho! Para outros: — Como sua mãe é gorda! E para alguns ainda falavam: — Como seu irmão é feio, coitado! Dá até dó! E para completar, tinha aqueles que chegavam ao absurdo de pegar no pé até da casa em que alguns moravam. Diziam que ela era horrorosa, pequena, velha e desconfortável. Outros falavam do bairro em que alguns meninos viviam, que não era um bairro famoso, bonito, elegante ou bem localizado. E havia aqueles que tinham a capacidade de perseguir os colegas pelo fato de terem nascido em uma determinada cidade. Ficavam rindo, caçoando e dizendo que a cidade do menino era desconhecida, minúscula, pobre e que lá provavelmente só havia gente ignorante.
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“Que povo difícil!”, Leleca ficava pensando e se perguntando por que eles agiam assim. O que ganhavam com aquilo? Como conseguiam sentir prazer em humilhar, criticar e ridicularizar alguém? Você já passou por isso alguma vez? Um colega de sala ou uma turminha já criticou você a ponto de fazer com que se sentisse a pior pessoa do mundo? É horrível, não é? Dá vontade de chorar, ou de brigar, ou de fazer qualquer coisa pra ficar livre da situação. Leleca, que sempre foi baixinha, nunca teve muita grana e não tinha os dentes bem alinhados já passou por várias situações assim. Porém, ela ficava muito, muito chateada mesmo quando começavam criticar o nome dela. Incrível como tem gente que gosta de dar apelidos para todo mundo! E eram mil apelidos que ela recebia: Leleca moleca, Leleca panqueca, Leleca peteca, Leleca lambreca, Leleca sapeca, Leleca caneca, Leleca meleca, Leleca cueca (que judiação!); mas o pior de todos, o que a deixava realmente irada, era quando eles a chamavam de Leleca perereca. Que raiva! Logo um anfíbio que ela achava asqueroso e feio! Puxa vida! Seus pais haviam escolhido seu nome com carinho e amor (talvez o gosto deles não fosse dos melhores, mas a intenção era), e agora aparecia aquele bando de gente maldosa colocando mil apelidos... não, ela não se conformava! Ela pensava: “Por que ninguém me chama de Leleca boneca?! Por que não arranjam nada de bom para rimar com meu nome?” Como doía ouvir todas aquelas provocações. Doía tanto que parecia fazer uma ferida lá no fundo do seu pequeno coração.
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Não sei se alguém já fez piadas ou gracinhas com seu nome ou com seu sobrenome. Se você já passou por isso ou por alguma situação parecida, aposto que está entendendo Leleca direitinho. Não há graça alguma no sofrimento. Por isso Leleca não conseguia ver sentido no ato de desprezar, humilhar, maltratar, discriminar ou ter qualquer atitude que pudesse causar alguma dor em alguém. Ela não conseguia entender como algumas crianças podiam se divertir provocando a dor, e às vezes até o choro do outro. Esse tipo de atitude além de cruel é também perigosa, e pode causar males enormes com consequências que podem durar uma vida inteira.
Aprendiz de terrorista
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É, para Leleca a ideia de causar sofrimento em alguém não era algo divertido, ela achava isso muito, muito grave mesmo. Na verdade, ela até achava que isso se parecia muito mais com uma espécie de doença, ou um começo de doença, do que com uma simples diversão. Por isso Leleca preferia ficar longe de gente que aprovava esse tipo de “brincadeiras” de péssimo gosto. Outra razão que fazia com que ela não desejasse ter intimidade com esses colegas era simples: ela considerava o comportamento deles muito perigoso. Isso porque Leleca achava que a maioria das pessoas que fazia ou faz coisas graves contra seus semelhantes começa com pequenas maldades, que ao longo da vida vão crescendo, crescendo e crescendo até se tornarem realmente grandes e graves. Ela pensava: “Um terrorista não nasce terrorista, ele vai sendo formado ao longo dos anos, se acostumando com a ideia de fazer maldade, de causar sofrimento e dor às pessoas sem achar que isso é horrível e ruim.” Curiosa como era, Leleca pensava, pensava muito sobre tudo isso. Na verdade, ela achava que quem praticava esse tipo de maldade podia ser comparado a um aprendiz de terrorista. Nós sabemos que terroristas são pessoas que não se preocupam com as consequências de seus atos, pessoas que acham que seu jeito de pensar e de enxergar o mundo é mais importante que tudo e todos. Enfim, são indivíduos inconsequentes, que não se importam com o outro. Seu grande objetivo é impor sua vontade, ainda que seja através do medo, da ameaça ou do terror.
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A ideia de comparar um terrorista com alguém que pratica maldades pode chocar e até parecer forte ou exagerada, mas se formos bem sinceros é mais ou menos assim que as coisas acontecem. Por isso Leleca via aqueles que tinham esse tipo de comportamento, ou seja, pessoas que praticavam atos de maldade, como alguém muito, muito perigoso mesmo. Ela chegou a essa conclusão depois de presenciar vários atos de crueldade entre colegas e amigos. Ela, que era uma garotinha muito esperta, pensava e ficava horas matutando com seus botões, falando consigo mesma: — Um violento ladrão de bancos certamente não é um homem bonzinho e muito honesto, que acordou em um belo dia e decidiu que daquele momento em diante se tornaria um ladrão, disposto até mesmo a matar ou morrer para conseguir tirar das pessoas o que deseja e que não lhe pertence. Não, isso não começa assim. Ele certamente foi se acostumando ao longo da vida a tirar pequenas coisas dos outros, coisas simples, insignificantes como: uma borracha, um lápis diferente, um chocolate, um doce, um brinquedo, uma figurinha para terminar de completar o álbum... e assim por diante. Tudo isso são coisas pequenas, sim, mas que, no fundo, perdê-las causa dor e prejuízo a alguém. Leleca achava que era exatamente assim que tudo começava. E isso ia crescendo... crescendo... Depois, com o tempo, se tornava tão grande que a pessoa começava a tirar coisas maiores e mais significantes. Ou seja, ele ia se acostumando pouco a pouco com a ideia de tirar coisas das pessoas para satisfazer seus desejos, e tudo isso ia se tornando “normal” na vida dele.
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Haviam ensinado para Leleca (e ela parece ter aprendido direitinho) que é muito perigoso permitirmos que pequenos hábitos de maldade comecem a fazer parte do nosso dia a dia, pois há sempre o risco de nos acostumarmos com eles rapidamente. É exatamente aí que mora o perigo, pois essas atitudes começam a crescer e a tomar espaço em nossas vidas, até se tornarem maiores que nós mesmos. Isso pode ser comparado a um filhotinho de serpente, que a princípio parece inofensivo e até engraçadinho, mas depois de crescido se torna perigosíssimo, completamente fora de nosso controle, espalhando veneno e causando males às pessoas. Por isso precisamos ter muita cautela com aquilo que dizemos ser apenas uma brincadeirinha, pois na verdade podemos estar fazendo um grande mal para outras pessoas e para nós mesmos.
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