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Carta Aberta aos Profissionais do ACeS Espinho/Gaia
Tendo em conta o momento atual e as circunstâncias porque passamos, com inúmeras exigências, parece que começamos a perder um pouco o controlo da situação e já não sabemos para onde nos havemos de virar... Consideramos como factos:
- Estamos, ainda, em contexto pandémico;
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- Atravessamos uma nova fase em que se impõe a inoculação vacinal em massa;
- Somos profissionais de saúde, trabalhando em Cuidados de Saúde Primários, na linha da frente;
- Temos direitos que consideramos consagrados, mas também temos deveres que temos que assumir;
- Trabalhamos em serviços públicos sujeitos a regras, obrigações e cadeias hierárquicas que devemos respeitar;
- Somos pessoas livres, pensantes, responsáveis pelo que podemos/devemos exigir intervenção, necessariamente de forma construtiva, acatando no final as orientações das maiorias e as decisões superiores, ainda que possamos utilizar meios de contestação suportados em procedimentos regulamentares, legalmente disponíveis.
Então quando nos pedem ou parecem pedir:
- Processo de contratualização com exigida recuperação de atividades penalizadas em 2020 e com metas mais exigentes;
- Compromissos mais abrangentes da carteira de serviços, acessibilidades muito mais acrescidas e respostas mais céleres às diferentes necessidades sentidas;
- Participação ativa em serviços complementares, de variada índole, em várias frentes, consumindo imensos recursos humanos e temporais...
...questionamos, como podemos dar vazão a tudo isto, garantir serviços adequados e respostas requeridas, contemplando utentes/doentes nas várias frentes e responsáveis que ora nos confrontam com objetivos não alcançados e objetivos a alcançar, ora com dispersão de múltiplas atividades, a que urge corresponder, numa catadupa de informações e requisições diárias, por vezes aparentemente contraditórias e, quantas vezes, em cima da hora, para ontem...
Parece que (ou já) estamos cansados, sentimos que somos poucos nas unidades, já desfalcadas pela dispersão de recursos, confrontamo-nos no dia-a-dia com os utentes cada vez mais exigentes, implicativos e irritados, porque não satisfeitas as suas expetativas de resposta às solicitações e que se arrastam há muito tempo, percecionamos que as coisas não se mostram com fim à vista, desassossegamos porque vemos colocadas em causa tempos de descanso que ansiamos e consideramos merecer e precisar...também nós ficamos com “os cabelos em pé”!
Sérgio Vieira Coordenador da USF Além D’Ouro
Sejamos os tais profissionais competentes, sérios, responsáveis, colaborativos, serenos e:
- Apelemos à transparência de informações; - Consideremos ser informados e envolvidos no (s) processo (s);
- Requeremos que as mensagens sejam transmitidas com o máximo de previsibilidade e o mais atempadamente possível.
Assim:
- Definam-se com rigor as respostas de facto necessárias evitando-se dispersão de recursos, sempre escassos, com rentabilização máxima dos mesmos; - Quantos centros de vacinação no âmbito do ACeS Espinho/Gaia? Evitemse multiplicidade de centros que só destroem qualquer capacidade humana de resposta;
- A vacinação vai envolver população cada vez mais nova e com mais capacidade de mobilização e perante alternativa de escolha do centro em que queira ou possa ser vacinado;
- Definam-se as capacidades de recursos humanos disponíveis, dos diferentes setores, de cada unidade funcional, envolvendo todas e todos os elegíveis, sem utilização de demagogas ou esfarrapadas desculpas ou critérios de exclusão;
- Afira-se a carga de esforço que cada unidade funcional deve prestar sendo que a mesma deve ser taxativamente equitativa;
- Construam-se escalas envolvendo esses recursos identificados, comprometendo as equipas (as unidades), sendo que as mesmas (escalas) devem contemplar um longo espaço temporal (identificados os centros de vacinação e os recursos necessários); - Definam-se, superiormente, os recursos mínimos a disponibilizar e garantir em cada unidade e em cada momento, nomeadamente para gestão de ausências programadas, como folgas e férias;
- Divulgue-se, com clareza, os diversos indicadores e propostas de trabalho por todos para transparência do processo e admissão de possíveis contraditórios, propostas de melhoria ou até válidas contestações;
- Assuma-se toda a envolvência do que nos é pedido, a cada um, a cada equipa, a cada setor profissional, e façamos, em cada momento e em cada ato, o melhor que podemos e sabemos e depois logo se verá o resultado final;
- Priorizemos o que é fundamental e que nos é solicitado como tal, aplicando o máximo de nós, mas não deixemos, por desleixo, preguiça ou caturrice, de investir no resto cientes de que não poderemos fazer tudo, mas o que fizermos poderemos fazer bem.
USF Além D’Ouro, 11 de abril de 2021