A Libertação 146

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A Libertação 146 Boletim Fraternidade Espírita Cristã

Lisboa - Portugal

Ano XXXV| Nº 146 | 1 de abril de 2020 - trimestral | PVP 5€| distribuição gratuita aos sócios


índice 04

SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS - I

colaboradores

Pertencendo à categoria das sociedades científicas, a Sociedade Parisiense não tinha como função a divulgação. O seu programa era instruir. Os seus estudos eram mais de carácter teórico ou filosófico do que experimental...

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OS DRUIDAS E O ESPIRITISMO Carmo Almeida

A doutrina aqui apresentada superficialmente, é apenas uma das muitas que através das Eras foram levantando a ponta do véu, até que a Humanidade estivesse pronta para a grande Revelação que a Doutrina Espírita trouxe...

Claúdia Lucas

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SOU MÉDIUM PSICÓGRAFO - IV Allan Kardec designou como médiuns polígrafos, aqueles médiuns psicógrafos mecânicos, raros, que são capazes de executar a caligrafia que o Espírito tinha em vida...

Isabel Costa Isabel Piscarreta

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AMAI OS VOSSO INIMIGOS Todas as situações que nos poem à prova, bem como todos aqueles que delas são protagonistas,(...) são oportunidades de aprendermos o Amor de que Jesus nos falou - oportunidades de crescimento moral...

Francisco Ribeiro

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CHICO XAVIER REVISITADO

Paulo Henriques

Uma dívida paga pelo Alto

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo...

Paula A. Graça

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editorial

Por | Carmo Almeida

Os cantos do rouxinol e do melro, o qual escolhe sempre o lugar mais alto para preencher o ar com os seus trinados, chegam até mim com uma clareza surpreendente. Sem os ruídos dos carros cujos motores atroam os ares, sem os roncos de motorizadas que agridem o aparelho auditivo, nem vozes de pessoas, que falam alto, tão desnecessariamente alto, o som do comboio que passa distante chega até mim, fazendo-me sorrir. As aves acostumadas ao solo, caminham sobre ele com mais confiança e os pequenos felinos que vivem nas ruas, atravessam-nas com calma, parecendo dizer: não preciso fugir de ninguém. Há silêncio. E o silêncio cura. Curam as árvores, com a diminuição dos tóxicos gazes cuja menor produção deixou o azul do céu um pouco menos baço. Curam os movimentos solidários dos voluntários que se apresentam, vencendo os seus receios, pelo bem comum daqueles que nem essa hipótese têm. Curam os pensamentos, daqueles que se unem em oração, pelo fortalecimento de todos, pela reunião dos corações sob o mesmo estandarte da união, do respeito e da raciocinada fé. Curam as mensagens de apoio e gratidão pelos que permanecem estendendo as suas mãos socorredoras. E curam essas mãos, esses olhos, o discernimento de quem prossegue na luta pela manutenção da vida física. Curam, como as palavras de esperança. E eu penso na minha alma que atravessou e sobreviveu a duas guerras mundiais no século vinte. Que antes disso viveu e presenciou outras igualmente terríveis guerras, tanta destruição! Que superou anos de pestes, febres, de escravidão e de tortura. Que sabe o que é a fome, a sede e o frio, a dor física, a dor do abandono e da perda e que, ainda assim, permanece viva. É por isso que, de coração reverente e agradecido, penso no quanto aprenderemos com mais esta lição de vida. E vejo a decisão divina de nos socorrer, proporcionando a uns o termo das lutas e o regresso à casa espiritual, a outros a redenção, por terem de acompanhá-los até fechar-lhes os olhos materiais, servindo-os. Para muitos, a aprendizagem do viver com simplicidade e do valorizar a possibilidade de poder caminhar livremente, respirar a plenos pulmões, de olhar e ver o horizonte muito mais vasto do que aquele que se vê pela abertura de uma só janela, ampliando os valores do ser interior que se sepulta sob os mantos da ilusão. Compreendo o sofrimento e as dificuldades de muitos. Mas não consigo deixar de exultar quando sei que este “varrer” divino de vidas, que continuarão a viver, dará lugar ao renascimento na Terra, dos seres superiores que em vinte e cinco anos estarão ditando as regras evangélicas do bem proceder, iluminando o nosso mundo com a luz do seu saber e do seu amor! É por isso que, a par com tantas informações de desditas, eu me sinto feliz por estar reencarnada nesta fase de lutas e aprendizagens rigorosas porque eu sei que, enquanto aqui tememos o possível contágio de um vírus, no Espaço finalizam-se processos reencarnatórios de grande significado. E, embora eu não os identifique, eu sei que eles estão por aí. E se a minha vida servir para que outra vida possa voltar e melhorar este mundo sofrido pelas ações depredadoras que temos cometido ao longo dos milénios, terá valido a pena passar por este processo que para sempre bendirei. Porquê temer se o aviso da felicidade próxima ecoa por toda a parte? Porquê reclamar, se participámos na elaboração dessas guerras, dessas pragas, dessa destruição e é agora chegado o tempo de deixarmos de ser devedores da vida e passarmos a um nível de vivência em que o nosso mais importante objetivo será aprender, aprender, aprender? Escuto, na minha alma, uma oração, proferida em permanência a várias vozes. Embala-me essa melodia, emociona-me, faz-me sentir minúscula e reconhecer o quanto tenho sido ingrata e desperdiçado os bens da vida… Abraço-me à natureza, espelho divino que não merece ser contaminado, para encontrar o sentido de viver com simplicidade, com confiança, com entrega total, sem receio, deixando pelos ares o meu novo canto. E as minhas lágrimas são o orvalho de uma alma que se rende e agradece, à espera das tuas ordens, Senhor, do teu querer!

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Parte I

Por |Cláudia Lucas

Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Em 18 de Abril de 1857 iniciara-se um novo período para a Humanidade com a publicação d’O Livro dos Espíritos. Menos de um ano depois, em 1 de Janeiro de 1858, Allan Kardec criava a Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, que passaria e ser publicada mensalmente, durante mais de 11 anos. E, poucos meses depois, a 1 de Abril de 1858, nascia o primeiro Centro Espírita do mundo – a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas - que teve um importante papel no avanço da Doutrina Espírita. Havia seis meses que se faziam reuniões de estudo (com cerca de 8 a 10 pessoas) na casa de Kardec, na Rua dos Mártires nº 8. Mas o crescente número de estudiosos que ali se juntavam (por vezes, cerca de 30 pessoas) e a consequente falta de espaço da sala onde se reuniam, fez com que alguns dos assistentes levantassem a ideia de se fundar uma sociedade espírita, num local mais espaçoso e adequado. Para cobrir as primeiras despesas, todos pagariam quotas. Kardec afirmava ser necessário a quotização dos associados, uma vez que, “Uma entidade espírita deve prover às suas necessidades, dividindo entre todos as despesas, jamais lançando-as aos ombros de um só. Isto é justo, e não existe nesse critério exploração (...).”(1)

Tratadas as autorizações legais para constituir a Sociedade, no dia 13 de Abril de 1858 foi permitida a reunião dos espíritas numa sociedade legalmente constituída, com regulamento e direção e tendo como presidente Allan Kardec. A Sociedade Parisiense criou, portanto, um regulamento próprio, que servia também para facilitar a formação de outras Sociedades e manter a unidade de princípios e de ação, o que foi muito útil, tanto na França, como noutros países. O Regulamento refere que o objetivo da Sociedade é: “o estudo de todos os fenómenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas.”(2) O objetivo da Sociedade, então, não era apenas a pesquisa dos princípios da ciência espírita, mas também o estudo das suas consequências morais, porque são essas que têm maior utilidade para o progresso do espírito. Pertencendo à categoria das sociedades científicas, a Sociedade Parisiense não tinha como função a divulgação. O seu programa era instruir. Os seus estudos eram mais de carácter teórico ou filosófico do que experimental. Quando havia experiências, estas jamais visavam excitar a curiosidade; tinham apenas como objetivo a observação, o estudo e a confirma-

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Kardec Hoje

Durante um ano, a Sociedade realizou as suas sessões, às terças-feiras, na galeria de Valois nº 35 (Palais-Royal). Em 1 de Abril de 1859, alugaram um salão na galeria Montpensier nº 12 (no mesmo Palais-Royal), e ali se reuniam às sextas-feiras, pelas oito horas da noite. Todos os anos, durante o Verão, a Sociedade tinha algum tempo de férias, suspendendo as sessões, normalmente durante o mês de agosto. No seu longo discurso de encerramento do ano social de 1858-1859, Kardec comunicava a decisão de demitir-se de qualquer tipo de função na Sociedade: “Trouxe para minhas funções, que posso dizer laboriosas, toda a exatidão e todo o devotamento de que era capaz; do ponto de vista administrativo, esforcei-me por manter, nas sessões, uma ordem rigorosa, e dar-lhes um caráter de gravidade, sem o qual o prestígio de assembleia séria teria logo desaparecido. (...) Agora que a minha tarefa terminou, (...) não ambiciono senão um título, o de simples membro titular, com o qual sempre me sentirei feliz e honrado.”(4) Isto porque ele tinha outros trabalhos relacionados com o Espiritismo que exigiam laboriosos estudos, que lhe absorviam muito tempo e que iriam durar pelo menos uns dez anos. Contudo, nenhum membro aceitou as suas razões e reelegeram-no presidente, por unanimidade. Esse testemunho de apreço e confiança por parte dos membros da Sociedade, fê-lo desistir da demissão. Por volta de 1859/60 surgiu uma crise na Sociedade, que Kardec relembrou mais tarde dizendo o seguinte: “A Sociedade, (...), teve suas vicissitudes; tinha em seu seio elementos de dissolução, provenientes da época em que recrutava muito facilmente, e sua

ção dos princípios admitidos. A nível da administração da Sociedade, ela era dirigida por: - direção, composta por: Presidente (Allan Kardec), Vice-Presidente, 1 Secretário principal, 2 Secretários adjuntos e 1 Tesoureiro; podendo ainda ter um ou mais Presidentes honorários; O Sr. Jobard, foi o primeiro a ocupar o lugar de presidente honorário, fervoroso adepto do Espiritismo, diretor do Museu Real da Indústria, na capital belga, oficial da Legião de Honra, membro da Academia de Dijon e da Sociedade de Incentivo de Paris. - comissão, composta pelos: membros da direção e cinco outros sócios titulares (que tivessem prestado serviços importantes ao Espiritismo), reunia-se sempre antes das sessões, tendo a seu cargo tratar de todas as questões administrativas e de fiscalização das contas, tomar todas as medidas necessárias à ordem e “examinar os trabalhos e assuntos de estudo, propostos pelos diversos sócios, formulá-los ela própria, a seu turno, e determinar a ordem das sessões, de acordo com o Presidente.”(3) Os membros da comissão e da direção eram eleitos por um ano, podendo ser reeleitos indefinidamente. Só o Presidente era eleito por 3 anos. As decisões eram tomadas por maioria absoluta de votos dos membros. -5-


Kardec Hoje existência foi mesmo um instante comprometida. Naquele momento, coloquei em dúvida sua utilidade real, não como simples reunião, mas como sociedade constituída. Fatigado com esses desacordos, estava resolvido a retirar-me (...). Disso fui dissuadido por numerosas comunicações espontâneas (...).”(5) Uma dessas comunicações dos espíritos superiores estava assim concebida: “A Sociedade formada por nós com o teu concurso é necessária; queremos que ela subsista e subsistirá, apesar da má vontade de alguns, como o reconhecerás mais tarde. Quando um mal existe, não se cura sem crise (...). Nossa Sociedade, dizemos, é necessária; quando o deixar de ser sob a sua forma atual, ela se transformará como todas as coisas. Quanto a ti, não podes, não deves te retirar (...).”(6) Para que os objetivos fossem cumpridos e para evitar essas crises, a Sociedade passou apenas a aceitar pessoas que concordassem com as suas regras, que tivessem um verdadeiro interesse em estudar de forma séria a Doutrina Espírita e que sobre ela já possuissem noções básicas. Segundo o Regulamento, da Sociedade faziam parte: - os associados livres – depois de serem admitidos podiam assistir e participar nos trabalhos, sessões e reuniões, só não podendo ter voto deliberativo e pagando uma quota anual; - os sócios titulares – que tinham que ser, pelo menos durante seis meses, associados livres, tinham voto deliberativo, pagavam quota anual e tinham que participar em, pelo menos, metade das sessões dando “provas notórias de seus conhecimentos e de suas convicções em matéria de Espiritismo, de sua adesão aos princípios da Sociedade e do desejo de proceder, (...), de acordo com os princípios da caridade e da moral espírita.”(7) - os sócios correspondentes – eram aqueles que não residiam em Paris mas trocavam correspondência útil com a Sociedade; - sócios honorários – aqueles que residindo na França ou no estrangeiro, prestassem notável contributo à Sociedade, sendo submetidos anualmente a reeleição. As quotas pagas anualmente serviam unicamente para fazer face às despesas que a Sociedade tinha. Além disso, eram nomeados, de seis em seis meses, comissários, escolhidos entre sócios titulares e associados livres, para zelarem pela ordem e bom funcionamento das sessões e para controlarem o direito de entrada de todas as pessoas. Naquela época, muitos adeptos do Espiritismo en-

contravam-se entre as pessoas esclarecidas, entre os homens de saber e de raciocínio, homens superiores em todos os sentidos. A Sociedade de Paris compunha-se de pessoas sérias e dignas: magistrados, médicos, engenheiros, cientistas, literatos, artistas, funcionários civis, oficiais do Exército e da Marinha, negociantes, simples operários e alguns membros da nobreza. O “presidente espiritual” era o Espírito S. Luís, que foi, em França, o rei Luís IX. Os sábios conselhos desse Espírito preservaram a Sociedade de vários perigos, sendo também comum S. Luís fornecer explicações solicitadas pelo Codificador acerca de vários assuntos. Em 1860 ficou estabelecido que todas as comunicações dos Espíritos seriam submetidas a uma análise, a um exame crítico da comissão e do Presidente, a fim de que os espíritos esclarecessem os pontos menos claros. O Espírito de S. Luís concordou com essa medida por ser útil para desmascarar espíritos mistificadores. Só que ela desagradou a alguns médiuns que se consideravam infalíveis intérpretes de espíritos Superiores. E esses, contrariados e inconformados, acabaram por deixar a Sociedade.(8) Quanto às sessões, o regulamento também era claro: realizavam-se uma vez por semana e nunca eram


públicas, podendo ser gerais ou particulares. As sessões particulares eram para os membros da Sociedade; nelas eram tratados os assuntos que mais concentração e tranquilidade exigiam. As sessões gerais admitiam ouvintes estranhos (de forma temporária) que não podiam nelas participar. Cada ouvinte estranho só era autorizado depois de ser apresentado ao Presidente por um sócio, que se tornava seu fiador para garantir que não provocaria qualquer tipo de perturbação à sessão. Com vista à ordem e à harmonia, a Sociedade poderia excluir qualquer um dos seus sócios (se no espaço de um ano acumulasse três chamadas à ordem) ou ouvinte que constituisse causa de perturbação, depois de o avisar e de ouvir as suas explicações. Era, portanto, exigido um ambiente de recolhimento e silêncio, por ser condição necessária aos trabalhos e por respeito aos Espíritos. “O silêncio e o recolhimento são condições essenciais para todas as comunicações sérias. Nunca obtereis preencham essas condições os que somente pela curiosidade sejam conduzidos às vossas reuniões.” - São Luís (Espírito) (9) As sessões eram iniciadas com uma evocação geral aos Bons Espíritos e só o Presidente podia colocar as perguntas que lhes eram dirigidas.

A partir de 20 de Abril de 1860, a Sociedade ficou definitivamente instalada em sede própria, na Rua e Passagem Sainte-Anne, nº 59, graças a um donativo. Como a contribuição dos sócios não chegava para pagar sequer metade do arrendamento da nova sede, o remanescente era coberto pelo donativo. Kardec dedicava inteiramente a sua vida à Doutrina e com o seu trabalho o Espiritismo progredia rapidamente. O número de visitantes, franceses e estrangeiros, que iam a casa do Mestre, era crescente. Como a sede da Sociedade era o local indicado para tratar dos assuntos que diziam respeito ao Espiritismo, pensou-se que era preferível ali receber todos esses visitantes. Tornava-se então necessário que Allan Kardec morasse muito perto da Sociedade, para não perder o tempo que era tão precioso e necessário para desenvolver o seu trabalho em benefício da Doutrina Espírita. Este problema foi colocado aos membros da Sociedade Parisiense e ficou decidido que a partir de 15 de julho de 1860 Allan Kardec passaria a morar nas instalações da sede, embora pudesse continuar a utilizar a sua própria casa, onde até tinha melhores condições. Na mesma data, também foi transferido, para a sede da Sociedade de Paris, o escritório da Revista Espírita. Kardec diz mesmo: “Assim, sem o Espiritismo eu estaria tranquilamente em minha casa, na Avenida Ségur, e não aqui, obrigado a trabalhar de manhã à noite e, muitas vezes, pela madrugada dentro, sem mesmo poder repousar, o que às vezes me é bastante necessário, porque sabeis que sou sozinho para satisfazer a uma tarefa cuja extensão dificilmente têm ideia, e que aumenta paulatinamente com o desenvolvimento da Doutrina.”(10) Referências bibliográficas:

1 - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Allan Kardec, vol. III, Rio de Janeiro, 1982, 40. 2 e 3 - Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro, 1944, 524 e 527. 4 - Allan Kardec, Revista Espírita - Julho de 1859, 159. 5 e 6 - Allan Kardec, Revista Espírita - Junho de 1862, 228. 7 - Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro, 1944, 525 8 - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Allan Kardec, vol. III, Rio de Janeiro, 1982, 40. 9 - Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro, 1944, 557. 10 - Allan Kardec, Revista Espírita - Junho de 1862, 237-238. Free fotos www.pexels.com

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a t s i v e r

revista em

“Os Druidas e o Espiritismo” Revista Espírita 1858

Por | Francisco Ribeiro Da mesma forma que as tradições Judaico-Cristãs fazem parte do historial coletivo da Europa, também as tradições Celtas têm um papel inegável na nossa história, língua e cultura. A origem histórica dos Druidas perde-se na noite dos tempos. Os primeiros registos históricos detalhados desta classe vão ser encontrados na obra “Commentarii de Bello Gallico”(1) por Júlio César. Mas quando Júlio César chega à Gália, já os druidas eram antigos, embora sem grandes registos históricos. A ausência de registos sobre os mesmos prende-se com dois pontos. O primeiro é o facto de os Druidas manterem uma tradição oral, transmitida de mestre para discípulo, afastada de qualquer registo escrito. O outro facto é que a religião dos celtas tinha as suas manifestações exteriores focadas na natureza. Prestavam culto junto a certas árvores, cascatas, riachos, estruturas rochosas, etc. A sociedade Gaulesa estava organizada em tribos mais ou menos vastas, compostas por homens e

mulheres livres, que seguiam as orientações dos Druidas. Tanto quanto se sabe os Gauleses não tinham escravos, pois um dos cânones da sua religião era que nunca algum homem podia ser dono de outro homem. De forma geral cada tribo era liderada por um conselho de anciães. Nalguns casos existia um líder, ou chefe, cujo poder não era absoluto, mas sim determinado pelas leis dos anciães. Enquanto nação, a Gália estava politicamente faccionada. A união dos Gauleses sob um único líder só acontecia em circunstâncias extremas, e mesmo quando acontecia, as linhas que dividiam as várias fações nunca se esbatiam. Foi precisamente esta desunião que permitiu a César a conquista da Gália, pois do ponto de vista militar as duas potências estavam equilibradas. Do ponto de vista religioso, muito pouco sobreviveu à invasão romana. Em primeiro porque os romanos querendo controlar verdadeiramente aquela região, trataram de romanizar os Gauleses sobreviventes o

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A doutrina aqui apresentada superficialmente, é apenas uma das muitas que através das Eras foram levantando a ponta do véu, até que a Humanidade estivesse pronta para a grande Revelação que a Doutrina Espírita trouxe(...)

mais rapidamente possível. E em segundo, devido à ausência de registos escritos. À medida que os Gauleses mais velhos iam morrendo, também com eles morriam a crença e as tradições. Mas nem tudo se perdeu… Na edição de Abril de 1858 da Revista Espírita, Allan Kardec vai publicar um artigo dedicado à religião Druídica que tem por base um outro artigo que ele retira da revista Magasin Pittoresque de 1857. Este artigo utiliza um texto de autor desconhecido, mas cuja autenticidade Kardec assevera ser indiscutível. Vai ser com base nesse texto original que Allan Kardec vai fazer um estudo comparativo entre as crenças dos Druidas e os ensinamentos da Doutrina Espírita. Esse artigo começa por nos dizer que os Druidas não se extinguiram com a Guerra das Gálias, mas que passaram à obscuridade como sociedade secreta. Mais tarde convertem-se ao Cristianismo, mas não de forma completa. De forma a manter as aparências

de bons crentes, dedicam-se de forma exterior à poesia, mantendo assim vivas as tradições e crenças. Só no século XVI ou XVII é que são confiados ao registo escrito as partes mais essenciais das tradições. É com base nesses registos que o artigo em causa vai ser depois desenvolvido, apresentando de forma resumida os pilares da Religião Gaulesa e da sua Cosmologia. De todos os pontos apresentados, trazemos apenas alguns apontamentos, pois muito se poderia dizer sobre cada um deles. “Deus e o Universo I – Há três unidades primitivas e, de cada uma delas, não poderia existir senão uma: um Deus, uma verdade e um ponto de liberdade, isto é, o ponto onde se encontra o equilíbrio de toda oposição. (…) VII – Três coisas que Deus não pode deixar de conceder: o que há de mais vantajoso, o que há de mais necessário e o que há de mais belo para cada coisa. (…)


XI – Três causas originais dos seres vivos: o amor divino, de acordo com a suprema inteligência; a sabedoria suprema, pelo conhecimento perfeito de todos os meios; e o poder divino, de acordo com a vontade, o amor e a sabedoria de Deus.(2) Logo aqui podemos ver um ponto de toque entre as duas doutrinas: A unicidade de Deus, a sua Perfeição, Omnipotência e Infinito Amor. “Os Três Círculos XII – Há três círculos de existência: o círculo da região vazia (ceugant) onde, exceto Deus, não há nada vivo, nem morto e nenhum ser que Deus não possa atravessar; o círculo da migração (abred) onde todo ser animado procede da morte e o homem o atravessou; e o círculo da felicidade (gwynfid) onde todo ser animado procede da vida e o homem o atravessará no céu.” XIII – Três estados sucessivos dos seres animados: o estado de descida no abismo (annoufn), o estado de liberdade na Humanidade e o estado de felicidade no céu. XIV – Três fases necessárias de toda existência em relação à vida: o começo em annoufn, a transmigração em abred e a plenitude em gwynfid; e sem essas três coisas nada pode existir, exceto Deus.”(3) Temos então explicado, de forma simplificada, o que os espíritos nos vieram ensinar. Deus cria as almas simples e ignorantes a partir do annoufn. Estas passam pelas múltiplas existências de evolução espiritual pelo círculo abred até chegarem à perfeição em gwynfid. Aqui se encontram refletidos três dos pilares básicos da Doutrina Espírita: a existência de Deus enquanto criador incriado do Universo, perfeito em todos os seus atributos; a existência de espíritos enquanto seres inteligentes da criação, criados simples, ignorantes e perfectíveis; a multiplicidade das reencarnações enquanto mecanismo de aprimoramento espiritual. De notar que na cosmologia Celta, ao contrário de muitas outras que lhe foram contemporâneas ou

posteriores, não existe lugar reservado à punição, como o Tártaro grego ou o Hell viking. Para os celtas o castigo surgia nas transmigrações materiais como consequência direta dos seus atos, mantendo sempre os homens a liberdade de procederem como quiserem, e colherem as respetivas consequências. Como consequência direta desta necessidade de múltiplas existências para se atingir a felicidade imorredoura, os celtas não temiam a morte, mas sim acolhiam-na com alegria, pois representava para eles a oportunidade de recomeço e libertação de uma vida que nem sempre era a mais agradável. Esta consciência tinha ainda outro efeito peculiar sobre a vida dos Celtas. Como os seus líderes sabiam que a distância que os separava dessa felicidade a que almejavam dependia da forma como exerciam a sua autoridade, em proveito próprio ou do bem geral, havia uma tendência natural para que se esforçassem por serem bons líderes a fim de mais rapidamente chegarem ao círculo de gwynfid. Todos estes pontos, quase que perdidos, vêm dar uma nova amplitude à expressão “Universalidade dos Ensinamentos dos Espíritos”. Quando este princípio foi enunciado pela primeira vez referia-se ao facto de os Espíritos ensinarem as mesmas coisas através de inúmeros médiuns, que não se conheciam entre si e geograficamente distantes. Artigos de reflexão como o que Allan Kardec publicou em Abril de 1858 vêm provar que essa universalidade se estende além do aspeto espacial, incluindo também a universalidade temporal dos ensinamentos dos Espíritos. Desde sempre Jesus tem enviado os Seus Emissários à Terra para nos orientar e guiar até à felicidade que nos aguarda a todos. Nem sempre os homens compreenderam ou aceitaram esses emissários, mas a sua vinda nunca cessou. A doutrina aqui apresentada superficialmente, é apenas uma das muitas que através das Eras foram levantando a ponta do véu, até que a Humanidade estivesse pronta para a grande Revelação que a Doutrina Espírita trouxe e que, nas palavras do orientador espiritual da Codificação – o Espírito de Verdade, “são chegados os tempos em que todas as coisas hão-de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.”(4) Referências Bibliográficas: 1 - https://en.wikipedia.org/wiki/Druid consultado a 19 de Dezembro de 2017 2 e 3 - KARDEC, Allan, “Os Druidas e o Espiritismo”, in Revista Espírita 1858, Abril 1858. 4 - KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Prefácio. Photos from pixabay


Sou

Por |Isabel Piscarreta

médium

psicógrafo… parte IV

A escrita de uma psicografia mecânica é geralmente nome de Fénelon e disser trivialidades e puerilidalegível, mas, por vezes, com certos médiuns é difícil des, claramente não pode ser ele. Porém, se somenque outra pessoa, a não ser o próprio, a decifre. te disser coisas dignas do caráter de Fénelon e que Quando uma palavra ou uma frase é quase ilegível, este não se furtaria a subscrever, existe a prova mamesmo para o médium, pode pedir-se ao Espírito terial ou, pelo menos, toda a probabilidade moral de que a reescreva, com o que, em geral, ele concorda, que seja de facto ele. Nesse caso, sobretudo, é que a de boa vontade. Quanto ao médium, este poderá identidade real se torna uma questão acessória, pormelhorar o seu desempenho, através de exercícios que se o Espírito só diz coisas aproveitáveis, pouco frequentes e demorados, realizados com uma von- importa o nome sob o qual as diga. Objetar-se-á que tade firme e rogando com fervor ao Espírito para o Espírito que tome um nome suposto, ainda que só que torne a sua caligrafia mais legível. para o bem, não deixa de cometer uma fraude: não Um fenómeno muito comum nos médiuns escre- pode, portanto, ser um Espírito bom. Aqui, existem ventes ou psicógrafos é a mudança da caligrafia delicadezas de matizes a considerar. conforme os Espíritos que se comunicam. E o que À medida que os Espíritos se purificam e elevam há de mais notável é que certa caligrafia reproduz- na hierarquia, os caracteres distintivos das suas -se com determinado Espírito, sendo às vezes idên- personalidades apagam-se, de certo modo, na unitica à que este tinha em vida. Esta mudança de ca- formidade da perfeição; ainda que não deixem de ligrafia só sucede com alguns médiuns mecânicos conservar a sua individualidade. Por conseguinou semimecânicos, porque só nestes casos é que o te, sempre que um Espírito Superior se comunica movimento da mão é involuntário, dirigido unica- espontaneamente sob o nome de uma personamente pelo Espírito. O mesmo já não sucede com os gem conhecida, nada prova que seja exatamente médiuns puramente intuitivos. Neste caso, o Espíri- o Espírito dessa personagem; porém, se ele nada to apenas atua sobre o pensamento, sendo a mão diz que desminta o caráter desta última, presumedirigida pela vontade do médium. -se ser o próprio, ou um Espírito do mesmo grau Allan Kardec designou como médiuns polígrafos, de elevação, ou talvez até um enviado seu. Em reaqueles médiuns psicógrafos mecânicos, raros, que sumo, a questão do nome é secundária, podendo são capazes de executar a caligrafia que o Espírito considerar-se como simples indício da categoria tinha em vida. Quer esta semelhança da caligrafia, que o Espírito ocupa na escala espírita, uma vez quer a perfeita identificação da sua assinatura, po- que, os melhores Espíritos podem substituir-se mudem ser consideradas provas da identidade do Espí- tuamente, sem maiores consequências morais (1). rito comunicante. No entanto, é importante realçar Se é médium psicógrafo, procure o esclarecimento e que a questão da identidade dos Espíritos é uma o auxílio num Centro Espírita. (Continua) das maiores dificuldades do Espiritismo prático e que, na maioria dos casos, a identidade absoluta Referências Bibliográficas 1 - Cf. Allan Kardec; O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. XVI, item 191 não passa de uma questão secundária e sem impor- – 1º; Cap. XVII, itens 213, 219; Cap. XXIV, itens 255, 256, 260. tância real. Free fotos www.pexels.com Se, por exemplo, um Espírito se apresenta com o - 11 -


Conversas com

Jesus

Amaios

vossos inimigos Por |Isabel Costa Neste item temos a visão do Amor, dos pontos de vista do incrédulo e daquele que crê. Para aquele que não é crente, que tem uma visão materialista da vida, amar os inimigos e perdoar-lhes é uma situação completamente absurda! Tudo começa porque ele não vê no outro um irmão, alguém que está ao seu lado, no mesmo processo evolutivo. Como será assim possível pensar em perdoá-lo ou, ainda mais, em amá-lo?! “Fez-me mal, ofendeu-me, roubou-me... tenho é que ajustar contas, tenho é que responder na mesma moeda e vingar-me”; este será o seu primeiro pensamento. É imperioso pedir contas, é imperioso mostrar que não é fraco, que não se rebaixa. E se não consegue, o rancor, o desprezo e tantas vezes a inveja, passarão a fazer parte dos seus sentimentos para com esses “inimigos”. Mas que vantagens temos em ter inimigos, em colecionar desafetos? Acrescenta alguma coisa à nossa estatura moral, ao nosso bem-estar? Muito pelo contrário, priva-nos da paz interior, do bem-estar moral, e tantas e tantas vezes desenvolve sentimentos de culpa, quando os supostos “inimigos” não nos brindam com o mesmo desafeto. O ódio e todas as suas variantes, desprezo, inveja, vingança, não são mais do que a ausência do Amor!

Aquele que crê, e no nosso caso como espíritas, acreditamos no Amor; acreditamos na mensagem de Amor que Jesus nos veio deixar há mais de dois mil anos. Sabemos quanto é importante aprendermos a interiorizar e a vivenciar essa mensagem, esse código moral que o Mestre exemplificou e nos deixou para que nos soubéssemos conduzir neste mundo de Provas e Expiações em que habitamos. Como espíritas, sabemos, portanto, que ao habitarmos num mundo desta categoria, ainda estamos sujeitos a muitas situações de provas e expiações. Mas também sabemos que grande parte dos nossos infortúnios, dos nossos sofrimentos, das nossas expiações, se devem ao facto de em algum ponto dos nossos percursos não termos sabido experimentar esse Amor nas nossas vidas! Vivemos num mundo de energias e sabemos que tipo de energias os sentimentos negativos geram. Ora, ao estarmos a vibrar nessas faixas negativas, estamos como que a tecer à nossa volta uma teia escura. É uma teia psíquica da qual a criatura não se consegue desenvencilhar e que só atrairá para si espíritos infelizes que vibram na mesma faixa; espíritos que identificam as nossas fraquezas morais, que se vão afinizando connosco e causando ainda mais problemas.

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Todas as situações que nos poem à prova, bem como todos aqueles que delas são protagonistas,(...) são oportunidades de aprendermos o Amor de que Jesus nos falou - oportunidades de crescimento moral.

O facto de odiarmos alguém não nos melhora, não resolve os problemas que esse alguém nos criou, não nos acrescenta nada! Muito pelo contrário, perturba-nos mais, demonstrando o nosso atraso e a nossa fragilidade. Então, a solução é trabalharmos de tal maneira essas energias de ódio, de desejo de vingança, que consigamos convertê-las em energias de Paz, de Amor e de Fraternidade. Todos temos necessidade de vivenciar a Felicidade, a Alegria, e se o não fazemos é por culpa própria. Jamais somos responsáveis por ações que não nos pesem na economia espiritual.

Então é tempo de colocarmos o Amor nas nossas vidas, aproveitar a bênção de conhecer a Doutrina Espírita, e passar do conhecimento à ação, à vivência dessa mensagem que Jesus nos deixou. “Diziam os antigos, amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu porém vos digo, amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Quando Jesus nos diz: “...Eu porém vos digo...”, é o Jesus Reformador, o Jesus transformador de consciências, que vem estabelecer uma nova ordem de coisas. É também Jesus que nos diz: “Antes de oferecerdes a vossa oferenda no templo, correi a reconciliar-vos com o vosso inimigo”, ou ainda “ não vos assemelheis a sepulcros caiados por fora, e cheios de podridão por dentro”. O Mestre deixou-nos todas as indicações, todo um código de conduta moral, para que nos fossemos libertando do “homem velho” que cada um de nós carrega, e fossemos trabalhando os nossos sentimentos, de forma a fazer nascer um homem novo. Hoje, com a preciosa ajuda da Doutrina Espírita, compreendemos que não há acasos; compreendemos a lei das afinidades e a lei de causa e efeito, a lei da multiplicidade das existências. Enfim, estamos na posse dos recursos que nos permitem compreender melhor os ensinamentos cristãos. Todas as situações que nos poem à prova, bem como todos aqueles que delas são protagonistas, não devem constituir para nós motivo de inconformação, de ódio ou de desejo de vingança. Devem ser encaradas como oportunidades de testar a nossa paciência, a nossa resignação, a nossa indulgência e o nosso perdão. São oportunidades de aprendermos o Amor de que Jesus nos falou - oportunidades de crescimento moral. Como espíritas, temos maior responsabilidade, porque já nos foi dado o conhecimento, e a quem muito foi dado, muito será pedido. Lembremo-nos de que tantas e tantas vezes repetimos nas nossas orações: “perdoai-nos Senhor, como nós perdoamos a quem nos haja ofendido”. Como podemos pedir perdão ao Pai, se ainda abrigarmos sentimentos negativos? Se ainda temos ou fazemos inimigos. Quanto mais alto nos formos elevando moralmente, menos nos magoarão os atos infelizes dos nossos semelhantes e mais seremos capazes de os envolver com o nosso Amor. Lembremo-nos de que quando o Amor não age, não se movimenta, estagna, provocando a enfermidade no corpo e na mente, causando o desequilíbrio espiritual. Photos from Pexels

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Uma dívida paga pelo Alto

Absorvidos pelas nossas rotinas do dia-a-dia, muitas vezes nos cansamos para podermos usufruir da companhia do irmão dinheiro. Esta é uma reação natural ao facto de vivermos uma vida material em que tudo, desde as coisas mais elementares às mais complexas, exige dinheiro, e muitas vezes em quantias avultadas. Nalguns casos, no nosso frenesim acabamos por nos esquecer da imortal mensagem de Jesus contida na narrativa de Mateus. Inserida no poema das Bem-Aventuranças, a mensagem de Jesus alerta-nos para não darmos uma importância desmesurada e imerecida ao dinheiro e aos bens materiais que ele permite adquirir, dizendo-nos: “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celes-

tial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? (...) Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (...) Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”(1)

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Por |Francisco Ribeiro

Se nos debruçarmos sobre a nossa consciência, iremos verificar que muitas são as vezes em que o Céu vem em nosso socorro sem que sequer nos apercebamos. Mas temos também diversos exemplos em que esta ajuda Celeste se manifesta de forma mais expressiva àquele que sabe trabalhar e servir, confiando que Deus o auxiliará naquilo que vai além das suas capacidades. Tal a história que Ramiro Gama nos conta sobre Chico Xavier: “José, o irmão de Chico, que fora por muito tempo seu orientador e dirigia as sessões do “LUIZ GONZAGA”, adoece gravemente, e, sob a surpresa de seus caros entes familiares, desencarna, deixando ao irmão o encargo de lhe amparar a família. Dias depois, o Chico verifica que o José lhe deixara também uma

dívida, pois esquecera-se de pagar a conta da luz, na importância de onze cruzeiros. Isto era muito para o pobre Médium, pois no fim de cada mês nada lhe sobrava do ordenado. Pensativo, sentou-se à soleira da porta de sua casinha rústica e abençoada. Emmanuel lhe diz: - Não se apoquente, confie e espere. Horas depois, alguém lhe bate à porta. Vai ver. Era um senhor da roça. - O senhor é o seu Chico Xavier? - Sim. Às suas ordens, meu irmão. - Soube que seu irmão José morreu. E vim aqui pagar-lhe uma bainha de faca que ele me fez há tempos. E aqui está a importância combinada. Chico agradeceu-lhe. E ficando só, abriu o envelope. Dentro estavam onze cruzeiros... para pagar a luz. Sorriu, descansado, livre de um peso. E concluiu para nós: - “Que bela lição ganhei”. E nós: - Também para os que sabem olhar para os lírios dos campos, que não temem o amanhã, porque sabem que ele pertence a Deus.” (2) Esta história é parecida com uma outra que se passou com o médico Adolfo Bezerra de Menezes. Quando ainda era estudante, Bezerra de Menezes dava explicações para aumentar um pouco os parcos rendimentos de que podia dispor. Certa vez, surgiu-lhe uma conta de uma importância avultada, que ele não teria como pagar. Enquanto procurava pensar numa solução para a sua dívida, bate-lhe à porta um jovem que queria explicações e paga-as adiantadas. Vendo o dinheiro que lhe fora entregue, era exatamente a quantia de que precisava. Quanto ao jovem, nunca mais apareceu nem deu sinais de vida. Certamente que, todos nós, num momento ou noutro, nos pudemos identificar com estas histórias. E se pensarmos bem, iremos verificar que há muitas outras situações, menos ostensivas, em que o Carinho e o Cuidado Divino se manifestam em nosso redor. É claro que estas histórias, bem como a promessa de Jesus, não são um convite à inação e à preguiça. Aos que se permitem enveredar por esse caminho tortuoso, reserva o Senhor da Vida o mesmo destino que ao servo que, temendo, escondeu o dinheiro num buraco para que não se perdesse. Estas histórias, e tantas outras que conhecemos ou que se passaram connosco, são um convite a darmos o nosso melhor em todas as tarefas e responsabilidades que temos e a confiar em Deus, nosso Pai, pois podemos estar certos de que, em tudo o que for além das nossas reais capacidades, de uma forma ou de outra, o Senhor nos ajudará. Referências: 1 - Mateus 6:26-34 2 - GAMA, Ramiro, “Uma Dívida Paga pelo Alto”, in Lindos Casos de Chico Xavier. Photo by Ben White on Unsplash

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notícias NOTA: O evento calendarizado estará dependente da evolução epidemiológica do nosso país. Será confirmado oportunamente através dos vários canais de comunicação da FEC.

Mantenha-se atento!

PSICOLOGIA DA GRATIDÃO - CURSO DE VERÃO 2020 Informamos que, este ano, está prevista a realização de mais um Curso de Verão, a decorrer durante o mês de julho. Renovamos o convite a todos os interessados! Não deixe de fazer a sua inscrição! Programa De 15 de junho a 13 de julho Sessão 1 - O mito de Perseu (Apresentação) - 15 junho Sessão 2 - A bênção da gratidão - 22 junho Sessão 3 - O significado da gratidão - 29 junho Sessão 4 - Vida e gratidão - 6 julho Sessão 5 - Consciência da gratidão - 13 julho

DIJ - APRESENTAÇÃO TEATRAL No passado dia 29 de fevereiro teve lugar, na FEC, uma apresentação teatral preparada pelas crianças e jovens da Direção para a Infância e Juventude, nas atividades complementares às aulas de evangelização espírita. Contando com representação, canto e dança, esta apresentação foi recebida com emoção e entusiasmo por parte dos frequentadores e pais. Baseou-se na reprodução de uma peça da autoria de Carmo Almeida, redigida em 1990 e na altura apresentada pelos jovens da FEC, hoje pais e Monitores, em teatro de fantoches.

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Por |Paulo Henriques

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Por |Paula Alcobia Graรงa

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A Libertação Nº 146 Ano XXXV abril/maio/junho 2020 Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão Rua do Vale Formoso de Cima, nº 97A 1950-266 Lisboa, Portugal Nº de Contribuinte 501091670 Nº de Registo na ERC 109883 Nº de Depósito Legal 10.284/85 ISBN 0871-4274 Direção Diretor - Maria Emília Barros Colaboradores Carmo Almeida Cláudia Lucas Francisco Ribeiro Isabel Costa Isabel Piscarreta Paula Alcobia Graça Paulo Henriques Sílvia Almeida Periodicidade Trimestral Tiragem 500 exemplares Realização Design Gráfico - Sara Barros Zaida Adão

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