Índice
03 Editorial
Quando se lança uma publicação que deverá surgir com regularidade, com o objetivo de informar divulgando conhecimento, deseja-se que seja útil e importante para quem a lê, que desperte interesse e se torne num foco de atenção.
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165 anos da publicação da Revista Espírita
Prestamos, igualmente, homenagem à iniciativa da Federação Espírita Brasileira que, em 2004, assinalando o bicentenário do nascimento de Allan Kardec, traduziu para português todos os números da Revue Spirite, desde janeiro de 1858 a dezembro de 1869, ano da desencarnação do Codificador Graças a essa tradução e respetiva publicação esta obra pôde ser acessível e conhecida por todos os espíritas e não só, a todos os que se interessam por estudar e conhecer mais profundamente o Espiritismo. É uma obra essencial.
Poesia espírita 22
Crede nos Espíritos do Senhor
Por Carmo Almeida
Quando se lança uma publicação que deverá surgir com regularidade, com o objetivo de informar divulgando conhecimento, deseja-se que seja útil e importante para quem a lê, que desperte interesse e se torne num foco de atenção
Mas enquanto promotor da ideia e seu primeiro colaborador e editor, nem Allan Kardec teria ideia clara da dimensão que a Revista Espírita iria alcançar.
Quem quer que já tenha tido a experiência de organizar e editar uma publicação, seja um jornal, um boletim ou uma revista, sabe de quanto investimento pessoal isso exige sobretudo quando é feita sem o suporte de uma editora oficial, de uma empresa com vários recursos, humanos e de equipamentos próprios. Compilar um trabalho destes, desde a escrita dos artigos, a sua revisão, a montagem e paginação, a ilustração quando é o caso, é trabalho para uma equipa.
Pensar que o Professor Rivail a isto se dedicou praticamente sozinho e com uma periodicidade tão próxima, tendo em conta as suas outras múltiplas ocupações, deixa-nos de coração rendido ao seu esforço.
O seu sentido de responsabilidade é notável e inspirador
A entrega ao projeto que sabia não ser só seu, mas que dele dependia inteiramente, fê-lo impregnar com a sua força e lealdade, as páginas da Revista Espírita, revista que comemora em 2023 o seu centésimo sexagésimo quinto ano de início de publicação
Lê-la é ter a possibilidade de penetrar naquele tempo repleto ovidade, de uma boa-nova que alegra e fortalece, porque é essar a um tempo muito feliz para a humanidade, o tempo que a promessa de Jesus se cumpriu com o advento do itismo rtigos de reflexão, as cartas, as comunicações dos Espíritos colaboraram e aqueles cujas experiências se constituem s para todos nós, permanecem tão atuais hoje que inuam a ser uma fonte de conhecimento, uma fonte onde é pensável voltar para nela anular a nossa sede de ecimento e de paz.
rido Professor Rival, amigo Allan Kardec, espírito sábio e , onde quer que esteja, que o nosso agradecimento o nce e que o seu exemplo nos inspire a continuar sempre e sempre, com Jesus!
Introdução 1
"A rapidez com que se propagaram, em todas as partes do mundo, os estranhos fenômenos das manifestações espíritas é uma prova evidente do interesse que despertam A princípio simples objeto de curiosidade, não tardaram a chamar a atenção de homens sérios que neles vislumbraram, desde o início, a influência inevitável que viriam a ter sobre o estado moral da sociedade. As novas ideias que surgem desses fenômenos popularizam-se cada dia mais, e nada lhes pode deter o progresso, pela simples razão de que estão ao alcance de todos, ou de quase todos, e nenhum poder humano lhes impedirá que se manifestem. Se os abafam aqui, reaparecem em cem outros pontos
inconveniente qualquer, seriam constrangidos, pela própria força dos fatos, a sofrer-lhes as consequências, como só acontece às indústrias novas que, em sua origem, ferem interesses particulares, logo absorvidos, pois não poderia ser de outro modo. O que já não se fez e disse contra o magnetismo! Entretanto, todos os raios lançados contra ele, todas as armas com que foi ferido, mesmo o ridículo, esboroaram-se ante a realidade e apenas serviram para colocá-lo ainda mais em evidência É que o magnetismo é uma força natural e, perante as forças da Natureza, o homem é um pigmeu, semelhante a cachorrinhos que ladram inutilmente contra tudo que os possa amedrontar
Dá-se com as manifestações espíritas a mesma coisa que se dá com o sonambulismo: se não se produzirem à luz do dia e publicamente, ninguém impedirá que ocorram na intimidade, pois cada família pode descobrir um médium entre seus membros, das crianças aos velhos, assim como pode encontrar um sonâmbulo. Quem, pois, poderá impedir que a primeira pessoa que encontremos seja médium e sonâmbula? Sem dúvida, os que o combatem não refletiram nisto. Insistimos: quando uma força está na Natureza, podese detê-la por um instante, porém, jamais aniquilá-la!
Seu curso apenas poderá ser desviado. Ora, a força que se revela no fenômeno das manifestações,
for a sua causa, está na Natureza, da mesma forma que o magnetismo, e não poderá ser exterminada, como a força elétrica também não o será. O que importa é que seja observada e estudada em todas as suas fases, a fim de se deduzirem as leis que a regem. Se for um erro, uma ilusão, o tempo fará justiça; se, porém, for verdadeira, a verdade é como o vapor: quanto mais se o comprime, tanto maior será a sua força de expansão.
Causa justa admiração que, enquanto na América, somente os Estados Unidos possuem dezassete jornais consagrados a esse assunto, sem contar um sem-número de escritos não periódicos, a França, o país da Europa onde tais ideias mais rapidamente se aclimataram, não possui nenhum. Não se pode contestar a utilidade de um órgão especial, que ponha o público a par do progresso desta nova Ciência e o previna contra os excessos da credulidade, bem como do ceticismo.
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É essa lacuna que nos propomos preencher com a publicação desta Revista, visando a oferecer um meio de comunicação a todos quantos se interessam por estas questões, ligando, através de um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob o seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade evangélica para com todos
coleta de multiplip p que não faltaria matéria; mas os fatos, por si mesmos, tornam-se monótonos pela repetição e, sobretudo, pela similitude O que é necessário ao homem racional é algo que lhe fale à inteligência. Poucos anos se passaram desde o surgimento dos primeiros fenômenos, e já estamos longe da época das mesas girantes e falantes, que foram suas manifestações iniciais. Hoje, é uma ciência que revela todo um mundo de mistérios, tornando patentes as verdades eternas que apenas pelo nosso espírito eram pressentidas; é uma doutrina sublime, que mostra ao homem o caminho do dever, abrindo o mais vasto campo até então jamais apresentado à observação filosófica. Nossa obra seria, pois, incompleta e estéril se nos mantivéssemos nos estreitos limites de uma revista anedótica, cujo interesse rapidamente se esgotasse.
Talvez nos contestem a qualificação de ciência, que damos ao Espiritismo. Certamente não teria ele, em nenhum caso, as características de uma ciência exata, e é precisamente aí que reside o erro dos que o pretendem julgar e experimentar como uma análise química ou um problema matemático; já é bastante que seja uma ciência filosófica.
Toda ciência deve basear-se em fatos, mas os
os fatos, por si sós, não constituem a ciência; ela nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. Chegou o Espiritismo ao estado de ciência? Se por isto se entende uma ciência acabada, seria sem dúvida prematuro responder afirmativamente; entretanto, as observações já são hoje bastante numerosas para nos permitirem deduzir, pelo menos, os princípios gerais, onde começa a ciência.
O exame raciocinado dos fatos e das consequências que deles decorrem é, pois, um complemento sem o qual nossa publicação seria de medíocre utilidade, não oferecendo senão um interesse muito secundário para quem quer que reflita e queira inteirar-se daquilo que vê Todavia, como nosso fim é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem dirigidas e tentaremos, tanto quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos adquiridos, dirimir as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros. Nossa Revista será, assim, uma tribuna livre, em que a discussão jamais se afastará das normas da mais estrita conveniência. Numa palavra: discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências de linguagem nunca foram boas razões aos olhos de pessoas sensatas; é a arma dos que não possuem algo melhor, voltando-se contra aqueles que dela se servem.
a os fenômenos de que nos ocupamos se tenham produzido, nos últimos tempos, de maneira mais geral, tudo prova que têm ocorrido desde as eras mais recuadas Não há fenômenos naturais nas invenções que acompanham o progresso do espírito humano; desde que estejam na ordem das coisas, sua causa é tão velha quanto o mundo e os seus efeitos devem ter-se produzido em todas as épocas. O que testemunhamos, hoje, portanto, não é uma descoberta moderna: é o despertar da d d d b d d l
A consequência capital que ressalta desses fenômenos é a comunicação que os homens podem estabelecer com os seres do mundo incorpóreo e, dentro de certos limites, o conhecimento que podem adquirir sobre o seu estado futuro. O fato das comunicações com o mundo invisível encontra-se, em termos inequívocos, nos livros bíblicos; mas, de um lado, para certos céticos, a Bíblia não tem autoridade suficiente; por outro lado, para os crentes, são fatos sobrenaturais, suscitados por um favor especial da d d h para todo o idade dessas ontrássemos ferentes.
A existência no mundo corpóreo, está atestada e demonstrada não mais como um fato excecional, mas como um princípio geral, em Santo Agostinho, São Jerônimo, São João Crisóstomo, São Gregório Nazianzeno e tantos outros Pais da Igreja. Essa crença forma, além disso, a base de todos os sistemas religiosos. Admitiram-na os mais sábios filósofos da Antiguidade: Platão, Zoroastro, Confúcio, Apuleio, Pitágoras, Apolônio de Tiana e tantos outros. Nós a encontramos nos mistérios e nos oráculos, entre os gregos, os egípcios, os hindus, os caldeus, os romanos, os persas, os chineses Vemo-la sobreviver a todas as vicissitudes dos povos, a todas as perseguições e desafiar todas as revoluções físicas e morais da Humanidade Mais tarde a encontramos entre os adivinhos e feiticeiros da Idade Média, nos Willis e nas Walkírias dos escandinavos, nos Elfos dos teutões, nos Leschios e nos Domeschnios Doughi dos eslavos, nos Ourisks e nos Brownies da Escócia, nos Poulpicans e nos Tensarpoulicts dos bretões, nos Cemis dos caraíbas, numa palavra, em toda a falange de ninfas, de gênios bons e maus, nos silfos, gnomos, fadas e duendes, com os quais todas as nações povoaram o espaço Encontramos a prática das evocações entre os povos da Sibéria, no Kamchatka, na Islândia, entre os indígenas da América do Norte e os aborígenes do México e do Peru, na Polinésia e até entre os estúpidos selvagens da Nova Holanda.
essa crença e a desfiguram segundo os tempos e os lugares, não se pode discordar de que ela parte de um mesmo princípio, mais ou menos deturpado. Ora, uma doutrina não se torna universal, não sobrevive a milhares de gerações, não se implanta de um pólo a outro, entre os povos mais diversificados, pertencentes a todos os graus da escala social, se não estiver fundada em algo de positivo. O que será esse algo? É o que nos demonstram as recentes manifestações. Procurar as relações que possam existir entre tais manifestações e todas essas crenças, é buscar a verdade. A história da Doutrina Espírita, de certo modo, é a história do espírito humano; teremos que estudá-la em todas as fontes, que nos fornecerão uma mina inesgotável de observações tão instrutivas quão interessantes, sobre fatos geralmente pouco conhecidos Essa parte nos dará oportunidade de explicar a origem de uma porção de lendas e de crenças populares, delas destacando o que toca a verdade, a alegoria e a superstição No que concerne às manifestações atuais, daremos explicação de todos os fenômenos patentes que testemunharmos ou que chegarem ao nosso conhecimento, quan nos parecerem merecer a atenção de noss leitores.
De igual modo o faremos em relação aos efeitos espontâneos que por vezes se produzem entre pessoas alheias às práticas espíritas e que revelam, seja a ação de um poder oculto, seja a emancipação da alma; tais são as visões, as aparições, a dupla vista, os pressentimentos, os avisos íntimos, as vozes secretas, etc. À narração dos fatos acrescentaremos a explicação, tal como ressalta do conjunto dos princípios A respeito faremos notar que esses princípios decorrem do próprio ensinamento dado pelos Espíritos, fazendo sempre abstração de nossas próprias ideias Não será, pois, uma teoria pessoal que exporemos, mas a que nos tiver sido comunicada e da qual não seremos senão meros intérpretes.
Um grande espaço será igualmente reservado às comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, sempre que tiverem um fim útil, assim como às evocações de personagens antigas ou modernas, conhecidas ou obscuras, sem negligenciar as evocações íntimas que, muitas vezes, não são menos instrutivas; numa palavra: abarcaremos todas as fases das manifestações materiais e inteligentes do mundo incorpóreo.
A Doutrina Espírita nos oferece, enfim, a única solução possível e racional de uma multidão de fenômenos morais e antropológicos, dos quais somos testemunhas diariamente e para os quais se procuraria, inutilmente, a explicação em todas as doutrinas conhecidas
Nesta categoria classificaremos, por exemplo, a simultaneidade de pensamentos, a anomalia de certos caracteres, as simpatias e antipatias, os conhecimentos intuitivos, as aptidões, as propensões, os destinos que parecem marcados pela fatalidade e, num quadro mais geral, o caráter distintivo dos povos, seu progresso ou sua degenerescência, etc. À citação dos fatos acrescentaremos a pesquisa das causas que os poderiam ter produzido Da apreciação desses fatos ressaltarão, naturalmente, ensinamentos úteis quanto à linha de conduta mais conforme à sã moral Em suas instruções, os Espíritos Superiores têm sempre por objetivo despertar nos homens o amor do bem, através dos preceitos evangélicos; por isso mesmo eles nos traçam o pensamento que deve presidir à redação dessa coletânea. Nota: Por mais abundantes sejam nossas observações pessoais e as fontes onde as recolhemos, não dissimulamos as dificuldades da tarefa, nem a nossa insuficiência. Para suplementá-la, contamos com o concurso benevolente de todos quantos se interessam por essas questões; seremos, pois, bastante reconhecidos pelas comunicações que houverem por bem transmitir-nos acerca dos diversos assuntos de nossos estudos; a esse respeito chamamos a atenção para os seguintes pontos, sobre os quais poderão fornecer documentos:
ifestações materiais ou inteligentes obtidas nas reuniões às quais assistirem;
2.º Fatos de lucidez sonambúlica e de êxtase;
3.º Fatos de segunda vista, previsões, pressentimentos, etc;
4.º Fatos relativos ao poder oculto, atribuídos com ou sem razão a certos indivíduos;
5.º Lendas e crenças populares;
6.º Fatos de visões e aparições;
7 º Fenômenos psicológicos particulares, que por vezes ocorrem no instante da morte;
8.º Problemas morais e psicológicos a resolver;
9 º Fatos morais, atos notáveis de devotamento e abnegação, dos quais possa ser útil propagar o exemplo;
10.º Indicação de obras antigas ou modernas, francesas ou estrangeiras, onde se encontrem fatos relativos à manifestação de inteligências ocultas, com a designação e, se possível, a citação das passagens. Do mesmo modo, no que diz respeito à opinião emitida sobre a existência dos Espíritos e suas relações com os homens, por autores antigos ou modernos, cujo nome e saber possam lhes dar autoridade.
Não daremos a conhecer o nome das pessoas que nos enviarem as comunicações, a não ser que, para isto, sejamos formalmente autorizados."
Na edição deste número do Boletim, dedicada por inteiro à celebração dos 165 anos da publicação da Revista Espírita, iniciámos com a “Introdução” que Allan Kardec integrou no primeiro número da Revue Spirite, publicado no dia 1 de janeiro de 1858. Nem sempre se costuma ler as introduções de uma obra, mas é um erro, pois elas costumam clarificar aspetos essenciais e, no caso de Kardec, que nada do que escrevia era supérfluo, as introduções revestem um carater rico e interessante. Assim, desenvolveremos algumas ideias sobre a importância desta magnífica obra a partir de alguns aspetos destacados na sua “Introdução”, relevando, com justiça, esta parte da publicação, geralmente esquecida Prestamos, igualmente, homenagem à iniciativa da Federação Espírita Brasileira que, em 2004, assinalando o bicentenário do nascimento de Allan Kardec, traduziu para português todos os números da Revue Spirite, desde janeiro de 1858 a dezembro de 1869, ano da desencarnação do Codificador. Graças a essa tradução e respetiva publicação esta obra pôde ser acessível e conhecida por todos os espíritas e não só, a todos os que se interessam por estudar e conhecer mais profundamente o Espiritismo É uma obra essencial Através dela mergulhamos na psicosfera do Espiritismo nascente, dos estudos efetuados, de algumas polémicas vividas, do desenvolvimento do movimento espírita, do trabalho desenvolvido pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, bem como da colaboração dos sócios correspondentes, dos grupos particulares e de outras Sociedades Espíritas
A finalidade da publicação deste periódico foi clarificada por Allan Kardec no seu texto de Introdução, com que abrimos esta edição:
1 Preencher uma lacuna existente na França e na Europa - ausência de jornais, nessa época, sobre o tema espíritaoferecendo assim “um meio de comunicação a todos quantos se interessam por estas questões (…)”;
2. Colocar o público a par do progresso da nova ciência, simultaneamente prevenindo-o “contra os excessos da credulidade, bem como do ceticismo.”, ou seja, informar o público sobre o progresso das investigações e informações espíritas, de forma lúcida e racional, promovendo um esclarecimento e uma reflexão profunda sobre esses temas, indo além da superficialidade do fenómeno.
3 Ligar “através de um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob o seu verdadeiro ponto de vista moral (…)”, ou seja, promover a união e a coesão do movimento espírita, não só pelo esclarecimento, como pelos laços morais, forjados por um reforço constante do carater moral de que o verdadeiro Espiritismo se reveste
Era necessário mais do que isso e é nesse ponto que Kardec se diferencia das restantes experimentações, estudos e publicações da sua época Era necessário algo que falasse à inteligência do homem moderno e esclarecido; algo que espelhasse o exame racional e as deduções lógicas que se alcançam através da observação dos factos; algo que espelhasse o carater filosófico da nova ciência, ainda em crescimento, mas com os princípios gerais já estabelecidos (contidos em O Livros dos Espíritos, desde abril de 1857).
A Revista Espírita, publicada pela iniciativa e o esforço de Kardec, não pretendia, simplesmente, enumerar e repetir factos Tal acabaria por ser monótono e pouco interessante, repetin-do o que alguns jornais americanos já faziam, não cumprindo, segundo o Codificador, a
Desse modo, como anunciou Kardec, o conteúdo da Revista Espírita teria a descrição de “todas as observações que nos forem dirigidas e tentaremos, tanto quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos adquiridos, dirimir as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros.” À narração dos factos, seria fornecida a explicação, de acordo com os princípios da Doutrina Espírita Princípios esses decorrentes dos ensinamentos dos Espíritos. “Não será, pois, uma teoria pessoal que exporemos, mas a que nos tiver sido comunicada e da qual não seremos senão meros intérpretes ” Esta ressalva de Kardec revela bem a sua prudência, o seu cuidado em não fazer do Espiritismo uma doutrina à sua medida e de acordo com as suas opiniões pessoais, adulterando os ensinamentos dos Espíritos Superiores. No entanto, tal não se confunde com uma cegueira irracional, relativamente aos ensinamentos dados
da restante obra da codificação espírita, identifica facilmente o carater racional, pouco crédulo e exigente de Allan Kardec. A própria Doutrina Espírita foi edificada nesse espírito. E a Revista Espírita espelhou, igualmente, a aplicação dos princípios da racionalidade e da universalidade aplicados na análise das comunicações espirituais pelos elementos da Sociedade Espírita de Paris, da qual Kardec era o seu presidente.
Perante a finalidade da Revista Espírita, definida claramente por Kardec, seriam publicadas as comunicações espirituais que se considerasse ter um fim útil (obtidas tanto pela psicofonia como pela psicografia, ditadas pelos Espíritos superiores ou comuns, conhecidos ou desconhecidos, obtidas tanto na Sociedade de Paris como noutras sociedades ou grupos particulares); seriam publicadas as evocações que pudessem ser instrutivas a todos E da apreciação de todos esses fatos ressaltariam, “naturalmente, ensinamentos úteis quanto à linha de conduta mais conforme à sã moral.”
A Revista tinha o subtítulo de Jornal de Estudos Psicológicos, porque todos os temas espíritas são inerentes ao estudo da natureza dos Espíritos e estudar os Espíritos é estudar o próprio homem, na
discussão jamais se afastará das normas da mais estrita conveniência. (…) discutiremos, mas não disputaremos.” E, de facto, assim foi Encontramos na Revista Espírita o esclarecimento do Codificador não só aos companheiros de ideal, como aos opositores do Espiritismo, respondendo, por esse meio, à imensa correspondência que lhe chegava diariamente; respostas consideradas úteis para todos, sempre escritas com clareza e dentro dos limites da conveniência e da educação A ética de Kardec é muito evidente na Revista e na sua “Introdução”, nomeadamente no detalhe de ele ter respeitado sempre a vontade dos seus correspondentes em manter ou não o anonimato
A partir de uma certa altura, o volume de trabalho de Kardec era tão grande, que lhe era impossível responder individualmente a todas as cartas, cujo número diário crescia exponencialmente e, nesse âmbito, a Revista Espírita foi um veículo muito importante para essas respostas, sobretudo às questões mais difíceis, cuja clarificação era considerada pelo Codificador, como já referido, de utilidade geral.
A Revista foi, também, um veículo de referência e publicitação a bibliografia variada, de obras que Kardec considerava úteis e adequadas ao estudo do tema espírita, escritas por outros autores, bem omo das novas obras espíritas que ele róprio ia publicando
A Revista tinha o subtítulo de Jornal de Estudos Psicológicos, porque todos os temas espíritas são inerentes ao estudo da natureza dos Espíritos e estudar os Espíritos é estudar o próprio homem, na sua essência psicológica, profunda e imortal.
Todo o movimento espírita ficava informado das novas publicações ou das novas edições de Kardec e estas esgotavam-se rapidamente. A Revista Espírita foi fundada em janeiro 1858. Oito meses antes, Allan Kardec tinha publicado O Livro dos Espíritos. As investigações e os estudos estavam longe de acabar, pelo contrário, estavam no início e em abril de 1858 foi fundada a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, com o objetivo de reunir melhores condições para esses estu-dos, realizados coletivamente e de um modo mais consciente e responsável (por esse coletivo, pois Kardec teve essa atitude desde o início dos seus estudos).
A partir daí os estudos desenvolveram-se mais amplamente, pela reunião de esforços desse grupo de pessoas esclarecidas que formavam a Sociedade de
de Paris, pela análise racional e controlo coletivo das comunicações espirituais, pela multiplicação de médiuns, desenvolvendo-se, de um modo seguro, a prática e a investigação espírita.
A Doutrina Espírita desenvolvia-se e os adeptos aumentavam em número. Por toda a França e fora dela multiplicavam-se os grupos e as sociedades legalmente formadas, que se reuniam para estudar O Livro dos Espíritos e para comunicar com o plano espiritual, agora, com finalidade instrutiva.
A publicação da Revista Espírita incentivou esse movimento de estudo e de partilha entre todos, acabando por contribuir para a continuidade do desenvolvimento da Doutrina Espírita e do próprio Movimento Espírita.
Kardec iniciou o estudo do Espiritismo, como todos os outros, observando primeiro o fenómeno físico, mas rapidamente avançou para o estudo das comunicações inteligentes, pois interessava-o muito mais compreender as leis que permitiam o fenómeno e refletir sobre o seu alcance filosófico e moral Foi com esse objetivo que foi formada a Sociedade de Paris, dando o exemplo a todos os grupos. A Revista Espírita foi partilhando a metodologia e os resultados desses estudos. Encontramos, por exemplo, em todos os números da revista, entre agosto de 1859 e fevereiro de 1861, uma rubrica com o título de “Boletim”, que mais não era do que um resumo das atas das sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o que permitia (permitindo-nos, igualmente, a nós, hoje) que os restantes grupos, assinantes da revista, acompanhassem os trabalhos e as reflexões da Sociedade de Paris. E esse exemplo deu frutos O exemplo da Sociedade de Paris era ventilado ao movimento espírita, por intermédio da Revista e, por intermédio da mesma, os estudos aprofundaram de intensidade, pois todos se uniram no mesmo objetivo. A correspondência entre os grupos e a Sociedade de Paris era transformada em artigos pela pena de Kardec, que partilhava igualmente, desse modo, com todos, as informações e descrições dos estudos efetuados por outros grupos, quer no que refere a experiências mediúnicas específicas, planeadas ou obtidas espontaneamente, quer no que refere a comuni-
cações espirituais obtidas. Claro que essa correspondência era transformada em artigos, após a análise e reflexão conjunta dos elementos que formavam a Sociedade Parisiense. A partilha era importante para o controle e este para o desenvolvimento seguro da Doutrina, como explica com clareza o Espírito Erasto, numa epístola dirigida aos espíritas de Lyon, embora ditada na Sociedade de Paris: “(…) é necessário que a luz se irradie do centro para a periferia e desta para o centro, a fim de que todos aproveitem e se beneficiem dos trabalhos de cada um. Aliás, é incontestável que, submetendo ao crivo da razão e da lógica todos os dados e todas as comunicações dos Espíritos, será fácil repelir o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado, um grupo enganado; todavia, o controle severo dos outros grupos, a ciência adquirida e a autoridade moral dos chefes de grupos, bem assim as comunicações dos principais médiuns, que recebem um cunho de lógica e de autenticidade de nossos melhores Espíritos, rapidamente farão justiça aos ditados falsificados e astuciosos, emanados de uma turba de Espíritos enganadores, imperfeitos ou maus. ”
No final da sua “Introdução”, citado no início deste artigo, Kardec apela para o “ concurso benevolente de todos ( )”, valorizando todas as comunicações espirituais que os grupos quisessem partilhar com a Sociedade de Paris, pois essas comunicações seriam úteis ao estudo do Espiritismo
tilha seria útil à continuidade do undamento da Doutrina, pela aplicaque permitia do critério da salidade do ensino, mas também seria útil aos próprios grupos e médiuns, pois, desse modo, submetendo-se ao exame e controlo racional de todos, ficavam salvaguardados contra os engodos e as ilusões das mistificações e da fascinação Na própria “Introdução”, Kardec elucida sobre os temas pertinentes dessas informações e documentos que os grupos pudessem partilhar. Ao longo dos anos de publicação da Revista, os temas continuaram a ser dados por Kardec, para recolha de comunicações espirituais obtidas em diversos grupos, sobre esses mesmos temas, para posterior análise, racional e criteriosa, da Sociedade de Paris. Todos colaboravam com uma Doutrina que se ampliava, sob a coordenação da Sociedade Parisiense. Tal colaboração, de um lado e coordenação, do outro, deveria motivar, com certeza, a todos. Sem dúvida, fortaleceu os laços de união, sobretudo de união moral entre os grupos e a Sociedade de Paris, com repercussão benéfica para a continuação do desenvolvimento da Doutrina Espírita. A Revista Espírita foi o veículo dessa união, contribuindo, desse modo para a coesão do movimento espírita, por constituir-se, simultaneamente, veículo de uma orientação comum a todos para o mesmo objetivo moral e prática adequada do Espiritismo
Os Espíritos Superiores aprovaram e incentivaram (talvez até tivessem inspirado) a publicação da Revista Espírita, dando alguns conselhos sobre o seu conteúdo: “De começo deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos ulteriores, será poderoso auxiliar ” Encontramos nesta comunicação espiritual a previsão da enorme contribuição e importância que a Revista Espírita teria para os trabalhos posteriores que haveriam de se concretizar. Efetivamente, por tudo o que foi referido, a Revista foi-se tornando ensaio para a publicação de outras obras que foram ao prelo mais tarde, nomeadamente, O Livro dos Médiuns.
"De começo deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos ulteriores, será poderoso auxiliar.”
Encontramos diversas rubricas, na Revista Espírita, que se repetiam em cada edição embora com conteúdo diferente: “Conversas Familiares de Além Túmulo”, que partilhava as conversas obtidas com diversos Espíritos, muitos deles conhecidos do público; “Dissertações Espíritas”, que eram comunicações espirituais espontâneas obtidas na Sociedade de Paris, bem como nos diversos grupos, sobre diferentes temas; publicações de poemas, obtidos mediunicamente; reflexões e instruções de Kardec, sobre diversos temas; publicações de cartas com descrições variadas, com partilha de opiniões, de dúvidas ou mesmo do oposições e as respetivas respostas elucidativas de Kardec; publicações de notícias e artigos publicados em jornais relacionadas com o Espiritismo e reflexão
informações referentes a bibliografia diversa, recente e antiga, muitas vezes sugerida pelos próprios adeptos; “Boletim”, que partilha-va o trabalho da Sociedade de Paris; notícias, dificuldades e progressos do movimento espírita, bem como disserta-ções de Kardec sobre o movimento e o trabalho espírita É muito interessante verificar que, sobretudo nos dois ou três primeiros anos, havia maior quantidade de artigos relacionados com o fenómeno espírita, sempre com a indispensável explicação dos mesmos. Tal refletia o ambiente da época e, com certeza, o objetivo de atrair a atenção Mas à medida que os anos avançam, o número desse tipo de artigos, numa mesma edição, vai diminuindo e aumentando o número de “Dissertações Espíritas”
diversos grupos espíritas, já que essas comunicações espirituais publicadas, provindas de diversos grupos, eram cada vez mais numerosas e de maior qualidade, espiritualmente falando. A Revista Espírita constitui, por si, um importante arquivo da história do movimento espírita Muitos dos seus artigos referem visitas que Kardec fez a diversos grupos, em diferentes anos, descrevendo as suas constituições, as características principais, os seus trabalhos e a sua evolução ao longo do tempo. Por tudo o que foi dito, ler a Revista Espírita, é conhecer melhor não só a Doutrina Espírita, como também a psicosfera do Espiritismo nascente, conhecer a sua história, as suas dificuldades e o valor de seus pioneiros. É conhecer melhor a personalidade de Kardec e o seu pensamento, o seu valor intelectual e moral, compreendendo, simultaneamente, o carater e a finalidade da Doutrina Espírita. Ao longo dos onze anos e três meses de dedicação à Revista Espírita, Kardec nunca desviou o seu conteúdo da utilidade moral que deveria presidir nele, tal como as comunicações dos Espíritos Superiores, cuja finalidade consistiu sempre e exclusivamente, em despertar no homem o amor do Bem.
Os variados temas e formatos dos artigos da Revista, seguiram não só os conselhos
acervo de conhecimentos e capacidade intelectual Se os estudos espíritas foram fruto de uma obra coletiva, a publicação da Revista Espírita - bem como das restantes obras da codificação espírita - foi fruto de um enorme esforço individual, de uma personalidade estóica, laboriosa e perseverante. Tal é evidente nas suas palavras, integradas numa Nota em Obras Póstumas: “Apressei-me a redigir o primeiro número e filo circular a 1.º de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa ”
O peso e a magnitude da tarefa foi uma das portas estreitas de Allan Kardec, para benefício dos espíritas do futuro Para benefício da Humanidade Não hesitemos
Crede nos Espíritos do Senhor
Poesias Espíritas
editai em nós; somos centelha, aio brilhante do seio de Deus, bre uma alma nova se assemelha rnura do céu aos prantos seus.
reditai em nós: chama ligeira errante Espírito pelos jazigos afastar o obstáculo, a barreira re nós foram assim postos, amigos. ditai em nós; trevas, mentiras persadas, que é do céu que vimos Ternos, alegres repor-vos nas liras Dos sonhos bons o dulçor que sentimos.
Acreditai em nós; nós que erramos no esp Para guiar-vos ao Bem. Crede em nós Que vos amamos... E cada hora ou pass Caros irmãos, nos conduz a vós.
2 ª Feira | Estudos Espíritas (presencial)
.ESDE III - das 19h30 às 21h
.Mediunidade: Teoria e Prática - das 19h30 às 21h
(Videoconferência para quem reside fora da área metropolitana de Lisboa)
3.ª Feira - Integração no Centro Espírita
Atendimento individual com marcação prévia através do número 218 821 043 - das 17h às 19h
.Receção - 16h30 às 19h
4.ª Feira - Estudo Doutrinário "Doutrina Espírita Hoje"
.Momento de Palestra das 20h às 21h
.Assistência Espiritual após a palestra (exclusivo para quem assiste ao trabalho) Receção - 19h às 21h
5.ª Feira - Assistência Espiritual
.Receção - 16h às 19h
Assistência Espiritual - Passe - 16h30 às 19h
Estudos Espíritas - KIniciação - Iniciação ao estudo da Doutrina Espírita - das 20h às 21h (presencial)
Sábado - Estudos Espíritas para crianças e jovens - dos 3 aos 21 anos de idade (presencial)
.Assistência Espiritual (Passe) - das 15h às 15h30
Integração no Centro Espírita - 15h às 15h45 Atividade de harmonização - das 15h45 às 16h45
.Aula de Evangelização - Maternal e Jardim (3 aos 6 anos) – das 15h45 às 16h45
Curso para Pais - Mediunidade: Teoria e Prática - das 15h45 às 16h45 (dirigido preferencialmente aos Pais que inscreveram os seus educandos no DIJ)
.Lanche - 16h45 às 17h
Aulas de Evangelização - 17h às 17h50
1 º Ciclo Infância (7 e 8 anos), 2 º Ciclo de Infância (9 a 11 anos), 3 º Ciclo de Infância (12 a 14 anos), Juventude (15 a 21 anos) (Videoconferência para quem reside fora da área metropolitana de Lisboa)
A LIBERTAÇÃO
BOLETIM COMEMORATIVO DOS 165 ANOS DA 1.ª PUBLICAÇÃO DA REVISTA ESPÍRITA N.º 157 - Ano XXXVIII janeiro/fevereiro/março 2023
Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão Rua do Vale Formoso de Cima, n º 97 A 1950-266 Lisboa, Portugal
N º de Contribuinte 501 091 670 N º de Registo na ERC 109883 N º de Depósito Legal 10 284/85 ISBN 0871 - 4274
Periodicidade Trimestral Tiragem 500 exemplares
DIREÇÃO
Diretor - Maria Emília Barros
COLABORADORES
Ana Alexandra Henriques Carmo Almeida Liliana Henriques
REALIZAÇÃO
Paginação e Design Gráfico - Paula Alcobia Graça