Índice
03
Editorial
De todas as Sociedades criadas na Terra, destaca-se a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, pela grandeza de que se reveste Os seus objetivos, a estrutura orgânica desenhada para que a divulgação do conhecimento Espírita fosse levada a cabo com segurança, refletem a lucidez com que Allan Kardec observava a importância do movimento que nascia, para colaborar na mudança das mentalidades, no progresso da humanidade terrena
04 165 anos da Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas
O objetivo da Sociedade Parisiense foi claramente definido no seu Regulamento: era exclusivamente o estudo Estudo do quê? “De todos os fenómenos relativos às manifestações espíritas” e as suas consequências nas diversas ciências que buscam compreender as leis que regem as diversas dimensões da vida e do Homem
Poesia espírita 18
As vozes do céu
De todas as Sociedades criadas na Terra, destaca-se a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, pela grandeza de que se reveste. Os seus objetivos, a estrutura orgânica desenhada para que a divulgação do conhecimento Espírita fosse levada a cabo com segurança, refletem a lucidez com que Allan Kardec observava a importância do movimento que nascia, para colaborar na mudança das mentalidades, no progresso da humanidade terrena.
Cento e sessenta e cinco anos depois, ao relermos os estatutos, as normas por que se regia, compreendemos que, se no mundo material a SPEE não sobreviveu, íntegra, no mundo espiritual há de manter-se pela perfeição das linhas condutoras que orientam o ser no rumo do conhecimento de si mesmo, da compreensão da sua imortalidade, e da relação que se estabelece entre Causa e Efeito, a fim de que a justiça divina a tudo e a todos alcance, com equidade
Na ausência do idealizador da SPEE, na ausência de um líder na verdadeira aceção do termo, a pequenez humana de alguns dos seus seguidores, causaram a mais temida das situações das grandes obras: a cisão.
O grupo de colaboradores que se mantinha unido à volta da figura respeitável de Kardec, após o seu desencarne, desmembrou-se porque as conceções individuais assomaram e passaram a impor-se aos demais.
De alguma forma esta situação remete-nos para os tempos do Cristianismo Primitivo quando, após a partida de Jesus, o projeto do Mestre foi sendo progressivamente adulterado pelas interpretações pessoais daqueles que não podiam ainda entendê-Lo
No entanto, dezanove séculos após, eis que Ele ressurge nos ensinamentos do Consolador Prometido – a Doutrina Espírita, de novo garantindo à humanidade que não está só, entregue às suas fracas forças, que a justiça se processa sem falhas e que a felicidade nos está garantida
Por isso, é lícito esperarmos que, também ao Espiritismo, será dada a oportunidade de recuperar a pureza original dos projetos de Allan Kardec Afinal, como colaborador direto do Messias, desde “antes”, este Espírito amante da organização e da ordem, tudo fez na sua vida de Professor Rivail, para testemunhar o respeito e o amor incondicional aos outros, tal como a importância de saber aceitar os contratempos, numa resignação ativa que o fez sempre procurar rumos novos, até ao último suspiro – literalmente!
Uma nova Sociedade Espírita vai surgindo, na medida em que cada Espírita se liberta da sombra da ignorância e da estreita visão que ainda detemos sobre o que é a vida e a imortalidade.
Que sempre viva a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sempre com Kardec e com Jesus!
1 6 5 A N O S D
SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS
Por Liliana HenriquesNo dia 1 de abril de 2023 assinala-se os 165 anos da fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas Esta foi fundada a 1 de abril de 1858, por um grupo de estudiosos do Espiritismo. A necessidade de sua fundação nasceu da evolução natural de um grupo que se reunia em casa de Allan Kardec para estudar com ele os fenómenos espíritas. Esse grupo foi crescendo em número e a casa de Kardec foi-se tornando pequena, até que alguém sugeriu a fundação de uma Sociedade, onde se reunisse maiores condições para as reuniões regulares. Allan Kardec foi eleito o seu Presidente, para continuar a fazer o que fazia antes: direcionar os estudos e as sessões espíritas de uma forma metódica e uniforme
Sociedade tem por objeto o estudo de os os fenómenos relativos às manifesões espíritas e suas aplicações às ncias morais, físicas, históricas e psicológicas São defesas nela as questões políticas, de controvérsia religiosa e de economia social.” [1]
O objetivo da Sociedade Parisiense foi claramente definido no seu Regulamento: era exclusivamente o estudo. Estudo do quê? “De todos os fenómenos relativos às manifestações espíritas” e as suas consequências nas diversas ciências que buscam compreender as leis que regem as diversas dimensões da vida e do Homem. Contudo, nunca tal estudo poderia entrar em discussões e controvérsias religiosas, políticas ou outras. Trocas de opiniões, análises onde se colocariam em causa o valor dos diversos dogmas religiosos ou de correntes políticas, nunca foram permitidas, porque tal seria fazer do Espiritismo um instrumento de controvérsia, de constrangimento, de divisão Kardec nunca permitiu que tal assunto se insinuasse nos estudos, mesmo que de forma subtil.
É possível que a sua experiência de polémicas e tensões religiosas, vivida durante a sua infância e juventude no Instituto de Yverdum, o tornasse particularmente sensível a essas controvérsias, mas, sobretudo, o tornasse lúcido no que diz respeito às suas consequências nefastas e pouco úteis ao progresso e ao conheci
conhecimento e, também, apto a compreender a verdadeira natureza e utilidade do Espiritismo.
A Sociedade Parisiense compunha-se de “advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc, tudo entremeado de um certo número de senhoras ” [2]
Havia um rigor muito grande relativamente aos critérios de admissão de sócios
“A Sociedade não admitirá senão as pessoas que simpatizem com seus princípios e com o objetivo de seus trabalhos, as que já se achem iniciadas nos princípios fundamentais da ciência espírita, ou que estejam animadas do desejo de nesta se instruírem. Em consequência, exclui todo aquele que possa trazer elementos de perturbação às suas reuniões, seja por espírito de hostilidade e de oposição sistemática, seja por qualquer outra causa, e fazer, assim, que se perca o tempo em discussões inúteis
A todos os seus associados corre o dever de recíproca benevolência e bom proceder, cumprindo-lhes, em todas as circunstâncias, colocar o bem geral acima das questões pessoais e de amor-próprio ” [3]
Existiu uma rubrica na Revista Espírita, editada desde agosto de 1859 até fevereiro de 1861, intitulada “Boletim –da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas".
Essa rubrica objetivava publicar regularmente o relato das sessões da Sociedade. Era uma espécie de síntese da ata de cada sessão, permitindo aos sócios que não residiam em Paris e aos membros correspondentes acompanhar os trabalhos da Sociedade.
Se lermos os vários artigos do “Boletim”, encontramos o mesmo rigor na organização e na dinâmica das sessões, nas reflexões que os membros iam fazendo após determinadas circunstâncias ocorridas em algumas sessões
A experiência de Kardec ao longo dos anos, no estudo e no movimento espírita, mais reforçou a sua convicção da necessidade de tal rigor Era o que aconselhava aos diversos grupos e sociedades particulares e era, também, na verdade, o teor dos conselhos dos Mentores Espirituais da Sociedade
Os critérios de exigência à admissão de novos membros prendiam-se diretamente com o objetivo da Sociedade e com o carater sério que se pretendia vincular-lhe, atraindo apenas as pessoas sérias; prendiam-se com a intenção de atrair a proteção e a assistência dos Espíritos Superiores, através das condições espirituais criadas pela uniformidade de pensamentos e sentimentos.
I) a da Curiosidade, despertada pe tensidade de fenómenos de efeitos f ocorridos inicialmente;
II) a do Raciocínio e da Filosofia;
III) a da Aplicação e das Consequências
Kardec considerava, nessa altura, que estavam em plena segunda fase. A fase da Curiosidade já tinha passado, a fase da Aplicação e Consequências viria no futuro, mas aquela era a fase do Raciocínio e da Filosofia.
De facto, a Doutrina Espírita estava a ser construída passo a passo, com a contribuição de todos e de um trabalho muito intenso, regular e regulador da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. A Sociedade tinha esse papel e não podia perder tempo com questões continuamente trazidas pela ignorância dos assistentes Segundo Allan Kardec, a iniciação aos princípios doutrinários deveria ser feita através da leitura de O Livro dos Espíritos, a partir de 1861 também com a leitura de O Livro dos Médiuns, e pela participação em reuniões regulares dos pequenos grupos particulares. Os critérios exigidos dariam mais liberdade e produtividade aos estudos empreendidos pela Sociedade de Paris.
No item V da “Conclusão” de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec divide a evolução do Espiritismo em 3 fases:
Estrutura das Sessões
A Sociedade reunia-se todas as sextas-feiras, às vinte horas. Habitualmente, alternava entre sessão particular e ssão geral.
As sessões particulares eram reservadas apenas aos sócios e eram nelas que se tratavam, também, de todas as questões de ordem administrativa. Também era nas sessões particulares que se desenvolviam os assuntos de estudo que reclamassem mais tranquilidade e concentração Nas sessões gerais, a Sociedade permitia a presença de um número limitado de pessoas estranhas à mesma, denominadas de ouvintes; estes poderiam assistir, mas sem participar nas discussões. A inscrição era feita com antecedência e tinham de ser previamente apresentados “ ao Presidente, por um sócio, que se tornaria fiador de seu cuidado em não causar perturbação, nem interrupção.” [4] Também não eram admitidos como ouvintes, se não pessoas que aspirassem a tornarem-se sócios da Sociedade ou que simpatizassem com os seus trabalhos e que já estivessem sufici-
entemente iniciadas na ciência espírita, para compreendê-los [5]
Sendo o “Boletim” um resumo da ata de cada sessão, não vem relatado que as sessões iniciavam e encerravam com uma prece, porque isso não se escreve nas atas, mas por toda a obra de Kardec, nomeadamente a coletânea de preces como modelos orientadores para uma sessão espírita, integrada no final do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, e até por outros artigos da Revista Espírita em que Kardec explicita essa situação de um modo claro, percebemos que era assim que se passava.
Em todas as sessões, no início, fazia-se a leitura da ata da reunião anterior e só depois prosseguia-se na ordem de trabalhos planeada.
Também não eram admitidos como ouvintes, se não pessoas que aspirassem a tornarem-se sócios da Sociedade ou que simpatizassem com os seus trabalhos e que já estivessem suficientemente iniciadas na ciência espírita, para compreendê-los.
ALLAN KARDEC, “REGULAMENTOS DA SPEE”, ART. 22, O LIVRO DOS MÉDIUNS, CAP. XXX.
Sessões Particulares
Estas dividiam-se em 3 partes, as quais Kardec começou por denominar do seguinte modo:
1) Assuntos administrativos;
2) Comunicações;
3) Estudos.
A primeira parte dizia respeito à resolução de assuntos de natureza logística, tais como exames de várias questões relativas a assuntos administrativos e financeiros da Sociedade; balanço e aprovação semestral de contas; decisões que tinham de ser tomadas para o bom funcionamento das sessões e da própria Sociedade, como, por exemplo, propostas específicas, aprovação de procedimentos, alteração do Regulamento, designação de funções a determinados membros; nesta parte, analisavam e decidiam sobre a admissão de novos membros, quer como sócios livres, titulares, ou mesmo correspondentes. Estes pedidos eram comunicados e dados a conhecer em sessão geral, mas a decisão era adiada para sessões posteriores, de caráter particular
Esta primeira parte correspondia ao que podemos denominar hoje de uma mistura de reunião de Direção de qualquer Sociedade Espírita com uma Assembleia Geral, pelo que podemos imaginar a capacidade de trabalho e de concentração mental de todos os membros, bem como as horas de trabalho que deveriam durar as sessões de sexta-feira. as
Havia sessões em que os assuntos eram mais ou menos rápidos, mas havia outras com um elevado número de assuntos a resolver, prolongando-se esta parte um pouco mais, encurtando a duração das partes seguintes Após esta parte concluída, seguiam-se as duas seguintes, que caracterizaremos na descrição das sessões gerais.
Sessões Gerais
Após a leitura da ata e da comunicação de algum pedido de admissão, passava-se diretamente para as partes que vamos caracterizar a seguir e que eram comuns às sessões particulares. Nas sessões gerais, Kardec fazia, de vez em quando, uma introdução de algumas noções teóricas ou do objetivo das sessões, para conveniente integração dos assistentes estranhos à Sociedade (ouvintes)
1) Comunicações (também denominado “Comunicações Diversas”; em 1861 “Relatórios Diversos”)
Esta parte era uma espécie de introdução à terceira parte. Era uma fase de partilha e de relatos, de análise conjunta dos temas que eram o objeto de estudo da Sociedade Dialogava-se, sempre de forma ordeira, em torno de:
- Relatos de qualquer sócio presente, sobre experiências espíritas (manifestações mediúnicas) testemunhadas ou reali-
zadas pelos próprios e respetivos resultados;
- Leitura de comunicações espirituais espontâneas ou das evocações realizadas, obtidas na Sociedade, e também obtidas em contexto particular fora da Sociedade;
- Leitura de cartas dos sócios correspondentes, com relatos de determinados factos ou experiências mediúnicas, bem como comunicações espirituais obtidas; estas cartas continham, muitas vezes, perguntas específicas ou pedidos de opinião à Sociedade sobre os factos relatados Outras vezes, as cartas continham simplesmente reflexões sobre certos princípios doutrinários, feitas pelos seus autores ou notícias do movimento espírita noutros lugares;
- Leitura de determinadas notícias publicadas em jornais;
- Análise e discussão conjunta sobre todos os conteúdos partilhados;
- Resposta às cartas, quando necessário (decisão conjunta da resposta);
- Observações microscópicas e analíticas da matéria inerente ao fenómeno de escrita direta;
- Partilha ou leitura de determinadas ofertas dirigidas à Sociedade (presencialmente ou por correspondência), tais como poemas, canções, etc
em que Kardec ia selecionando e publicando o que considerasse útil e instrutivo para todos; desenhava-se, igualmente, os planos de estudo a desenvolver na terceira parte da sessão, em sessões futuras.
1) Estudos (em 1861 denominado “Trabalhos da Sessão”)
Após a fase anterior, de natureza mais intelectual, seguia-se a fase do intercâmbio mediúnico, para aprofundar o estudo, iniciado na fase anterior. Seguiam-se, então, as evocações espirituais, as perguntas específicas aos Mentores espirituais e as comunicações espirituais espontâneas
O diálogo com os Espíritos, através das evocações, tinha como objetivo perceber em que situação se encontravam no plano espiritual Podiam ser Espíritos que se tinham destacado na Terra, ou Espíritos anónimos. Estas evocações podiam vir na sequência de pedidos de algum sócio familiar presente ou endereçados por carta, de relatos ou de notícias discutidas nas sessões anteriores e que se considerava pertinente aprofundar o estudo através da evocação
Da partilha e do estudo conjunto realizado nesta fase da sessão, partiam muitos artigos para a Revista Espírita, na medida
As evocações tinham sempre um objetivo instrutivo e, por isso, não se realizavam todas as evocações pedidas pelos sócios, mas apenas aquelas que o Comité da Sociedade considerasse útil, com vista em aprofundar o estudo sobre algum tópico específico. Por isso, com vista ao aprofundamento do estudo e respeitando a
ão de cada Espírito e até a sua vontade, o mesmo Espírito podia ser evocado em várias sessões.
Algo a destacar e que foi um exemplo dado pela Sociedade Parisiense, desde a sua formação, era o modo como essas evocações eram realizadas, sendo esse um dos pontos diferenciais entre uma comunicação mediúnica obtida num contexto espírita esclarecido ou num outro contexto qualquer, onde a orientação espírita não está presente. Para começar, a Sociedade não evocava nenhum Espírito específico sem a permissão dos Mentores espirituais. Somente após a confirmação destes de que o Espírito podia ser evocado, se realizava a evocação Porque nem sempre o Espírito tinha condições de responder, podia estar em profunda perturbação espiritual ou mesmo reencarnado, sendo aconselhado a não realizar a evocação ou adiá-la para outro momento mais oportuno. Tal expressava não só um espírito de humildade e de responsabilidade, como evitava cair-se em mistificações No entanto, estas também ocorriam, de vez em quando, com a permissão dos Mentores Espirituais, como forma de treino do discernimento de todos os membros da Sociedade O exame critico que todos exercitavam acabava por detetar essa tentativa, pelo que, depois, tudo era confirmado e esclarecido pelos Mentores Espirituais
As evocações eram realizadas, sempre, com um profundo respeito e um sentimento de caridade pelo Espírito evocado e após concluídos os diálogos, orava-se por esses mesmos Espíritos. Nesta fase da sessão, havia, também, um momento em que se dirigiam perguntas específicas e previamente preparadas aos Mentores espirituais, sobre determinados temas, fenómenos e problemas morais Eram através destas questões preparadas que se aprofundava o esclarecimento sobre determinadas evocações ou assuntos discutidos em sessões anteriores
No final da sessão, obtinham-se, por m da psicografia, comunicações esp tâneas e simultâneas, por intermédio médiuns presentes O número de comunicações simultâneas foi aumen do com o decorrer do tempo, iniciando três, para passar a ser cinco em cada sessão Em 1862, Kardec chega mesmo a relatar num artigo da Revista Espírita que, com o aumento do número de médiuns na Sociedade, chegavam a ter catorze comunicações numa sessão[6] (não clarificando se eram simultâneas)
Todas as comunicações espirituais obtidas eram cuidadosamente examinadas, na sessão seguinte, em conjunto. Até mesmo as respostas dos Espíritos protetores às perguntas feitas. Aprofundavam-se as discussões, sempre com o objetivo de compreender profundamente cada tópico, cada princípio da Doutrina Espírita, progressivamente construída.
Detalhes a realçar
Observamos que as sessões de estudo da Sociedade Parisiense assemelhavam-se a um centro de recolha e análise de amostras vindas dos mais diversos lugares (de França ou de outros países). Este detalhe evidencia o ambiente de múltiplas experimentações mediúnicas que se vivia na época, fruto do crescente número de médiuns que por todo o lado e em todas as classes sociais se manifestavam. Todos os fenómenos e comunicações espirituais, partilhadas espontaneamente por particulares ou por grupos espíritas que se reuniam regularmente, eram detalhadamente analisados, discutidos e, conforme a utilidade, devidamente catalogados e arquivados.
Deste modo, cumpriam-se 2 critérios essenciais para a construção da Doutrina Espírita:
1) O critério da universalidade do ensino
“Em caso de divergência, o melhor critério é a conformidade dos ensinos por diferentes Espíritos e transmitidos por médiuns completamente estranhos entre si. Quando o mesmo princípio for proclamado ou condenado pela maioria, é preciso Se há um meio de te é pela concordâncomunicações, auxios à disposição para u a inferioridade dos
O critério da racionalidade, ou seja, o cernimento, sempre presente e nunca cartado
“(…) tomamos toda a opinião emitida por um Espírito como uma opinião pessoal; que não a aceitamos senão após havê-la submetido ao controle da lógica e dos meios da investigação que a própria ciência espírita nos fornece (…) “ [8]
“( ) Julgamos, comparamos, tiramos consequências de nossas observações e os seus próprios erros (dos Espíritos) constituem ensinamentos para nós, pois não renuncia-mos ao nosso discernimento.” [9]
Ao critério de discernimento associou-se um outro fator importante, que foi o de ser um discernimento coletivo e não individual, como um meio eficaz de aferir com segurança as comunicações espirituais e as próprias reflexões em torno destas.
“Há, porém, um ponto ainda mais importante, sem o qual tal ensino só teria produzido alguns frutos, ou nenhum. Sabemos que os espíritos estão longe de possuir a soberana ciência e que se podem enganar; que, muitas vezes, emitem as próprias ideias, justas ou falsas; que os Espíritos superiores querem que o nosso julgamento se aperfeiçoe em discernir o verdadeiro do falso, o que é racional daquilo que é ilógico. Eis por que jamais aceitamos, seja o que for, de olhos fechados.
Logo, não poderia haver ensino proveitoso sem discussão.”[10]
“( ) Ao deixar de ser individual para se tornar coletiva, a opinião adquire um maior grau de autenticidade, já que não pode ser considerada como resultado de uma influência pessoal ou local ” [11]
“(…) Como se sabe, o isolamento favorece a fascinação, ao passo que as reuniões encontram controle na pluralidade das opiniões ” [12]
Desenvolveu-se, naturalmente, uma permuta de observações entre a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e os vários Centros ou grupos particulares, quer através de correspondência quer através das publicações Como esclareceu o Espírito Erasto: “é necessário que a luz irradie do centro para periferia e desta para o centro, a fim de que todos aproveitem e beneficiem dos trabalhos de cada um ”[13]
O envio das informações foi, desde o início, totalmente espontâneo, fruto da confiança que os diversos grupos tinham no trabalho realizado pela Sociedade Parisiense. No entanto, Allan Kardec sempre clarificou que o vínculo entre a Sociedade e os diversos Centros ou grupos particulares não era de filiação ou de sujeição e sim de “relações morais, científicas e de mútua benevolência”.
[8]
“Há, porém, um ponto ainda mais importante, sem o qual tal ensino só teria produzido alguns frutos, ou nenhum. Sabemos que os espíritos estão longe de possuir a soberana ciência e que se podem enganar; que, muitas vezes, emitem as próprias ideias, justas ou falsas; que os Espíritos superiores querem que o nosso julgamento se aperfeiçoe em discernir o verdadeiro do falso, o que é racional daquilo que é ilógico. Eis por que jamais aceitamos, seja o que for, de olhos fechados. Logo, não poderia haver ensino proveitoso sem discussão.”
ALLAN KARDEC, “SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS” IN REVISTA ESPÍRITA, 1862, JUNHO
Quando esta dinâmica passou a ser fluida e bastante intensa, quando os pequenos grupos ou sociedades se multiplicaram, com um trabalho sério e regular, Kardec começou a propor, por intermédio da Revista Espírita, algumas questões para serem comentadas ou desenvolvidas pelos Espíritos, através dos médiuns desses mesmos grupos ou sociedades. Os grupos que aceitassem aderir, enviariam à Sociedade de Paris as comunicações espirituais obtidas, para serem submetidas ao exame racional da mesma.
O aumento crescente de comunicações espontâneas, obtidas quer na Sociedade Parisiense quer nas diversas sociedades espíritas, bem como o seu conteúdo, cada vez mais profundo do ponto de vista moral e doutrinário, repercutiu-se nos artigos da Revista Espírita. Reconhecendo o seu valor instrutivo e moral, Kardec ia publicando-as, para que todos tomassem conhecimento delas. Foi assim que em dezembro de 1859 surgiu uma nova rubrica na Revista Espírita, para publicação de algumas dessas mensagens A primeira denominação dessa rubrica foi “Comunicações Espontâneas”, evoluindo para outras denominações, ao longo dos anos (“Ditados Espontâneos”, “Ensinos Espontâneos dos Espíritos”, “Dissertações Espíritas”, etc).
Em conclusão
Os Espíritos superiores denominaram a Sociedade de Paris de Sociedade Iniciadora. De facto, ela foi a primeira a ser regularizada e legalmente constituída. Fundou-se com o único objetivo de estudar e aprofundar a ciência espírita. Por sua posição (iniciadora e central) e pela natureza dos seus trabalhos, abriu caminho e deu o exemplo às sociedades que vieram a seguir, exercendo uma influência moral bastante acentuada nas relações que estabeleceu com estas, apesar das restrições que colocava ao número de membros
No entanto, Kardec sempre sublinhou que essa influência moral, baseada no exemplo, era o limite da natureza das relações, não havendo nenhuma hierarquia entre as sociedades. Ainda acrescentou que todas as sociedades, para durarem em boas condições espirituais, dever-se-iam regular pela própria Doutrina Espírita, sistematizada, na época, nos livros O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.
“( ) a Sociedade de Paris não se vangloria de estar, mais que as outras, ao abrigo das vicissitudes. Se, por assim dizer, as tivesse em suas mãos e se, por uma causa qualquer deixasse de existir, a falta de um ponto de apoio resultaria em perturbação. Os grupos ou sociedades devem buscar um ponto de apoio mais sólido que uma instituição huma-
na, frágil por natureza; devem haurir sua vitalidade nos princípios da doutrina, que são os mesmos para todas e que a todas sobrevivem, estejam ou não esses princípios representados por uma sociedade constituída ”[14]
As sessões da Sociedade Parisiense não eram um espetáculo de exibição de Espíritos, eram um estudo regular, ordenado, metódico, com regras rigorosas
Os sócios eram pessoas, de um modo geral, esclarecidas, - embora houvesse elementos de todas as classes sociais – mas fosse qual fosse o nível académico, tinham em comum o serem pessoas estudiosas, sérias, concentradas, que nunca desprezaram a observação, o trabalho, o raciocínio, o exame e a discussão conjunta.
Os sócios da Sociedade Parisiense foram além do abc dos efeitos materiais dos fenómenos mediúnicos; viram algo mais a aprender e ousaram penetrar nessa jornada de estudo e de compreensão, tentando encontrar as leis, até então desconhecidas, mas que deveriam existir Apesar da simplicidade dos trabalhos, a Sociedade de Paris contribuiu para sair-se do atalho frívolo da curiosidade e adentrar-se no caminho sério da demonstração. Não perderam tempo a reproduzir os factos já conhecidos, mas, fixaram-se, de preferência, nas comunicações inteligentes, “fontes da filosofia espírita, cujo campo é ilimitado e bem mais amplo do que as manifestações puramente materiais (…)”[16]; porque só as comunicações inteligentes têm um alcance moral e filosófico, porque só elas tendem para o objetivo essencial e definitivo do Espiritismo.
Com esse esforço conjunto, obtiveram uma compreensão progressiva dos fenómenos espíritas, sem caírem nos erros que outros caíam em decorrência da ignorância e da arrogância. Baseando-se nos factos, souberam colocar-se no ponto de vista dos Espíritos, desenvolveram o discernimento e a habilidade de comunicar com eles, independentemente da sua condição evolutiva e, com seriedade, perseverança, vontade firme e uma boa dose de sacrifício (especialmente Kardec, pelos seus múltiplos trabalhos; os próprios trabalhos da Sociedade exigiam-lhe muito tempo na preparação, coordenação e redação final), souberam cooperar com a Espiritualidade superior, trazendo à Terra a Doutrina Espírita, deixando orientações seguras para o bom uso da mediunidade e para a prevenção de todos os escolhos possíveis no exercício da mesma, inaugurando uma nova Era no rumo evolutivo da Humanidade, pela compreensão e fidelidade à verdadeira finalidade do Espiritismo.
“O objetivo da Sociedade não consiste apenas na pesquisa dos princípios da ciência espírita; vai mais longe: estuda também as suas consequências morais, pois é principalmente nelas que encontra a sua verdadeira utilidade ( ) A finalidade do Espiritismo é tornar melhores os que o compreendem.
Bibliografia:
Allan Kardec (1972), O Livro dos Espíritos, S
Paulo: LAKE
Allan Kardec (2013), O Livro dos Médiuns, RJ: Feb.
Allan Kardec (2004), Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Ano II, 1859, RJ: Feb
Allan Kardec (2004), Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Ano III, 1860, RJ: Feb
Allan Kardec (2004), Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Ano IV, 1861, RJ: Feb.
Allan Kardec (2004), Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Ano V, 1862, RJ: Feb
Allan Kardec (2004), Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Ano V, 1863, RJ: Feb
Fotografias:
As imagens selecionadas para ilustrar o texto foram partilhadas pelo Acervo Histórico de imagens de Kardec disponibilizado em www ideak com br
(…)”[16]
As Vozes do Céu
Vozes do céu que suspiram na brisa, Murmuram no ar e percutem nas ondas;
E da floresta que os montes divisa
Os seus suspiros ecoam nas sondas.
Vozes do céu se agitam na folhagem
Nos verdes prados, dos bosques nos cantos, Junto da fonte em que é mais pura a aragem Canta o poeta seus versos em pranto.
Vozes do céu cantam nos arvoredos, No loiro trigo, nos jardins em flores, No azul que às nuvens repete segredos, E no arco-íris de esplêndidas cores.
Vozes do céu, em silêncio elas choram;
Vos recolhei, falam ao coração;
São os Espíritos bons que então oram E ao Criador enfim vos levarão.
2 ª Feira | Estudos Espíritas (presencial)
.ESDE III - das 19h30 às 21h
.Mediunidade: Teoria e Prática - das 19h30 às 21h
(Videoconferência para quem reside fora da área metropolitana de Lisboa)
3.ª Feira - Integração no Centro Espírita
Atendimento individual com marcação prévia através do número 218 821 043 - das 17h às 19h
.Receção - 16h30 às 19h
4.ª Feira - Estudo Doutrinário "Doutrina Espírita Hoje"
.Momento de Palestra das 20h às 21h
.Assistência Espiritual após a palestra (exclusivo para quem assiste ao trabalho)
Receção - 19h às 21h
5.ª Feira - Assistência Espiritual
.Receção - 16h às 19h
Assistência Espiritual - Passe - 16h30 às 19h
Estudos Espíritas - KIniciação - Iniciação ao estudo da Doutrina Espírita - das 20h às 21h (presencial)
Sábado - Estudos Espíritas para crianças e jovens - dos 3 aos 21 anos de idade (presencial)
.Assistência Espiritual (Passe) - das 15h às 15h30
Integração no Centro Espírita - 15h às 15h45
Atividade de harmonização - das 15h45 às 16h45
.Aula de Evangelização - Maternal e Jardim (3 aos 6 anos) – das 15h45 às 16h45
Curso para Pais - Mediunidade: Teoria e Prática - das 15h45 às 16h45 (dirigido preferencialmente aos Pais que inscreveram os seus educandos no DIJ)
.Lanche - 16h45 às 17h
Aulas de Evangelização - 17h às 17h50
1 º Ciclo Infância (7 e 8 anos), 2 º Ciclo de Infância (9 a 11 anos), 3 º Ciclo de Infância (12 a 14 anos), Juventude (15 a 21 anos) (Videoconferência para quem reside fora da área metropolitana de Lisboa)
A LIBERTAÇÃO
BOLETIM COMEMORATIVO DOS 165 ANOS DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS
N.º 158 - Ano XXXVIII
abril/maio/junho 2023
Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã
Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão
Rua do Vale Formoso de Cima, n º 97 A 1950-266 Lisboa, Portugal
N º de Contribuinte 501 091 670
N º de Registo na ERC 109883
N º de Depósito Legal 10 284/85
ISBN 0871 - 4274
Periodicidade Trimestral
Tiragem 500 exemplares
DIREÇÃO
Diretor - Maria Emília Barros
COLABORADORES
Ana Alexandra Henriques
Carmo Almeida
Liliana Henriques
REALIZAÇÃO
Paginação e Design Gráfico - Paula Alcobia
Graça