A Libertação 149 Boletim Fraternidade Espírita Cristã
Lisboa - Portugal
Ano XXXVI| Nº 149 | 1 de janeiro de 2021 - trimestral | PVP 5€| distribuição gratuita aos sócios
índice 04 PORQUE SE AFIRMA QUE O ESPIRITISMO É UMA REVELAÇÃO
colaboradores
“O Espiritismo, surgido numa época de maturidade intelectual, tinha que se revestir de outro carater, pois o homem já não aceita nada passivamente ou cegamente”....
07 ALLAN KARDEC, REVISTA ESPÍRITA, JANEIRO DE 1858 - “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”
Carmo Almeida
Claúdia Lucas
“O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser reivindicado inteiramente pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas. Algumas vezes, estas últimas são sublimes”...
11 Francisco Ribeiro
SOU MÉDIUM INSPIRADO - II Isabel Piscarreta
“O médium inspirado, caso pretenda obter a inspiração dos Bons Espíritos, necessitará de criar uma sintonia mental de padrão moral elevado, conseguida através da prática regular da oração”...
12 VERDADEIRA PUREZA. MÃOS NÃO LAVADAS
Liliana Henriques
Paulo Henriques
“Não basta que se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a pureza do coração”...
14 A PRECE DO ARREPENDIMENTO
“A lição sobre a importância da prece, do arrependimento para o Espírito...”
Paula A. Graça Sílvia Almeida
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editorial
Por | Carmo Almeida
Depois dos aplausos, dos desenhos do arco-íris nas janelas, das mensagens solidárias e reconfortantes, os testemunhos de amizade esmorecem e parecem dissipar-se como fumo, deixando uns e outros entregues a si próprios. O choque inicial perante a gravidade de mais uma epidemia, desencadeou um frenesim que se mascarou de verdadeiro interesse e profunda amizade entre grupos formados à pressa, com recurso às tecnologias atuais, e à volta de interesses e afetos comuns. O isolamento, a rotina nova e constrangedora, limitando movimentos e intenções, começou a remover as capas do disfarce e estamos, talvez pela primeira vez desde há muito, a vermo-nos como realmente somos, a revelarmo-nos naquilo que verdadeiramente nos caracteriza. Famílias questionam-se sobre a força dos laços que as unem. Amigos esquecem-se de amigos cujos rostos, agora que a distância não permite contemplá-los, não despertam saudades. Afazeres, atividades, compromissos, agora suspensos, trazem um sentimento de alívio. Quem somos nós, de verdade? De que realmente gostamos? Por que sinceramente nos interessamos? Este é um tempo de descoberta, de olhar nos próprios olhos e perguntar a si mesmo: “Quem sou eu? O que quero para mim e ainda não tive coragem de assumir? Entre aquilo que faço e o que gostaria de estar a fazer, onde está a minha verdade?”. Tantas outras questões, de tantos outros modos de sentir, parecem eclodir do cansaço, como se a fadiga da nova maneira de viver se tornasse um berço para o verdadeiro amor. Porque todos conhecemos o valor do verdadeiro amor. E todos queremos senti-lo. Mas os disfarces têm impedido que ele se revele porque, para que isso aconteça, a sinceridade tem de viver na nossa razão, na nossa consciência, a fim de clarear todos os atos, todas as palavras, todos os pensamentos. “Reconcilia-te com o teu adversário enquanto estás a caminho…”, o adversário da nossa paz, aquele a quem temos de perdoar para prosseguirmos com verdade e grandeza de alma: nós! Ser verdadeiro para corrigir o que está mal em si. Ser verdadeiro para conseguir amar, para alcançar o que a nossa ambição espiritual nos fez pedir a Deus. Impedidos de saturar os nossos dias de ações voltadas apenas para o exterior, deparamo-nos a sós, cada um consigo. Estes são dias preciosos. Dediquemos tempo a gostar de nós. Abracemo-nos, às nossas mágoas, aos nossos sonhos. Reconciliemo-nos, interiormente, e quando a tempestade passar, amadurecidos e serenos, seguiremos com a firmeza daqueles que superaram a sua natureza inferior e seguem, seguros de si mesmos.
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Porque se afirma que o Espiritismo é uma revelação Por |Liliana Henriques
Antes de tudo importa compreender o significado da palavra “revelação”. Revelar, do latim revelare, significa literalmente sair de sob o véu, ou seja, dar a conhecer algo secreto ou desconhecido. De uma forma genérica, a palavra emprega-se quando alguma coisa ou alguma ideia, antes ignorada, passa a ser divulgada e conhecida. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar algo é tornar conhecido um facto. Se é falso, já não é facto e, por consequência, não existe revelação. Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer as leis da Natureza (leis essas que não conhecíamos e que vamos conhecendo pouco a pouco) são revelações. Seguindo o mesmo raciocínio, podemos inferir que existem vários tipos de reveladores: os cientistas, os investigadores que trabalham dedicadamente para compreender e demonstrar essas leis; os homens de génio que intuitivamente as alcançam são reveladores. Se existem revelações de natureza científica, também existem revelações de natureza moral. Estas são extremamente importantes, na medida em que
oferecem à Humanidade os elementos ou as verdades essenciais para o progresso moral. As verdades morais, ao longo do tempo, têm vindo por intermédio da filosofia e da religião e os seus reveladores têm sido os filósofos e os designados profetas, ou seja, aqueles cujos ensinamentos atravessaram os séculos. Todos eles – homens de génio, cientistas, filósofos, profetas - ensinaram aos homens algo de novo, tanto de natureza física, como de natureza filosófica e, por isso, o que ensinaram são revelações. Outro ponto importante a ter em conta no âmbito das revelações é a sua utilidade. É verdade que os homens progridem por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas entregues às suas próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. Por solicitude Divina, todos os povos, em diversos momentos da sua história, tiveram os seus reveladores, no campo da ciência e da moral, para dar-lhes impulso e tirá-los da estagnação, para ativarem o progresso nalgum sentido. São Espíritos mais adiantados, missionários de
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Kardec Hoje
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As verdades morais, ao longo do tempo, têm vindo por intermédio da filosofia e da religião e os seus reveladores têm sido os filósofos e os designados profetas, ou seja, aqueles cujos ensinamentos atravessaram os séculos.
Deus, que encarnam com a missão de ensinar algo que a generalidade dos homens ignora e ignoraria ainda durante muito tempo, a fim de lhes dar algum ponto de apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente. No sentido especial da fé religiosa, a revelação refere-se mais particularmente aos conteúdos espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos. Todas as religiões tiveram os seus reveladores que, apesar de estarem longe de conhecer toda a verdade e de alguns erros de suas doutrinas, não deixaram de semear os germens do progresso, com uma linguagem apropriada ao tempo em que viveram e à característica dos povos onde estavam inseridos. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda a revelação eivada ou sujeita a modificações não pode emanar de Deus. Moisés e Jesus foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso reside a prova da sua missão divina. Moisés, paralelamente às suas leis civis e transitórias, revelou, antes de tudo, a existência de um Deus
único, a uma Humanidade politeísta na sua generalidade e, depois, o Decálogo (Dez Mandamentos, Lei do Sinai), como sendo os primeiros rudimentos e noções de leis morais ou divinas. Lançou as bases da verdadeira fé e da Justiça. É a 1ª revelação. Se Moisés estabeleceu a fé num Deus único, Jesus revelou os verdadeiros atributos da Divindade, a imortalidade da alma e a vida futura. É a 2ª revelação. Tomando da antiga Lei apenas o que é eterno e divino e rejeitando tudo o que era puramente humano e transitório, o Cristo trouxe-nos o Evangelho. O Evangelho é um desenvolvimento da Lei antiga, ou seja, das leis morais ou divinas que devem reger as relações entre os homens e a pedra angular da sua doutrina assenta numa nova conceção de Deus. Ao Deus Todo Poderoso, por vezes parcial e cruel, de Moisés, Jesus revelou a existência de um Deus Pai, soberanamente Justo e Bom, cheio de misericórdia. No caráter que ele atribui à Divindade, ele funda a Lei de Amor ao próximo como base do progresso, já que a vida futura, as penas e recompensas que
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Kardec Hoje
aguardam o homem é outro aspeto importante da sua revelação. O Espiritismo é uma revelação, embora do ponto de vista religioso assuma um caráter diferente das duas revelações anteriores. As revelações anteriores caracterizaram–se pelo ensinamento direto dos reveladores, foram personalizadas, pois a imaturidade espiritual dos homens assim o exigia. O Espiritismo, surgido numa época de maturidade intelectual, tinha que se revestir de outro caráter, pois o homem já não aceita nada passiva ou cegamente, nem os Espíritos ou Deus o subtraem do esforço que lhe cabe e que ele já é capaz de fazer por si mesmo. Então, a 3ª revelação tem duplo caráter: ela é ao mesmo tempo divina e científica. É divina, na sua origem, na medida em que foi providencial e é o produto dos ensinamentos dos Espíritos, dados em diversos pontos no mundo. É científica, na medida em que não foi ditada completa nem imposta à crença cega; ela foi deduzida pelo trabalho do homem: da observação dos factos, do livre exame, do raciocínio, da comparação, das ilações e aplicações que ele próprio construiu. É, por isso, de natureza coletiva e tem caráter progressivo, como qualquer outra ciência. Mas, o que é que o Espiritismo nos revelou? A existência de um mundo invisível que nos cerca e povoa o espaço; as leis que o regem; a sua relação com o mundo visível; a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por consequência, o destino do homem depois da morte. Ou seja, provou materialmente a existência e a individualidade da alma, a sua situação particular após a morte como consequência direta do seu estado de perfeição ou imperfeição e das suas ações na vida terrena; a pluralidade das existências como outra lei da natureza; a existência do perispírito e as suas propriedades. Demonstrou a possibilidade de comunicar com os Espíritos e estudou as leis que regem esse mecanismo, de forma a exercê-lo com segurança; estudou as propriedades dos fluidos espirituais e a sua ação sobre a matéria. Diz-se, portanto, que o Espiritismo é uma revelação porque ele dá-nos o conhecimento das leis do princípio espiritual, que é uma das forças da natureza a reagir continuamente sobre o princípio material e vice-versa.
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O Espiritismo, surgido numa época de maturidade intelectual, tinha que se revestir de outro caráter, pois o homem já não aceita nada passivamente ou cegamente...
O Espiritismo não inventou o princípio espiritual, nem o descobriu. Sendo uma das forças da natureza, ele sempre existiu e este já fora mencionado por diversos missionários, nomeadamente Jesus. Mas a sua existência era intuída de forma vaga. Por alguns era negado, e os seus efeitos eram inexplicados ou mal interpretados. O Espiritismo foi o primeiro a provar a sua existência. Estudou-o, analisou-o e tornou evidente a sua ação. Ao elemento material, estudado pela Ciência, juntou ele o elemento espiritual, explicando, de modo racional e sólido, uma multidão de fenómenos. É a 3ª revelação. Articulando com a questão da utilidade das revelações, é inegável a profundidade das consequências de tal conhecimento, quer a nível individual, quer coletivo. É inegável o seu efeito moralizador no sentido profundo da palavra, ou seja, o seu poder de transformar o homem. Porque este passa a saber de onde vem e para onde vai, porque está na Terra e porque sofre temporariamente; passa a ter a certeza de que nada se perde, nem afetos nem esforço no bem; explica todas as aparentes anomalias da vida humana, reconhecendo e compreendendo mais profundamente a Justiça e a Bondade de Deus em tudo.
Por |Sílvia Almeida
revista
O
Livro
em
revista
dos
Espíritos
Revista Espírita -Janeiro 1858
Artigos como este mostram-nos como em Doutrina Espírita, mesmo quando achamos que já muito foi dito sobre um assunto, pelo menos outro tanto ainda ficou por dizer. Neste caso, Kardec não poderia deixar de encontrar na publicação do primeiro número da Revista Espírita uma oportunidade privilegiada de divulgação da obra que fora editada havia apenas alguns meses. Com isso, dava continuidade a um processo de divulgação que fora recomendado pelos Espíritos responsáveis pela Codificação, como veremos adiante. Logo no título O Livro dos Espíritos, ele cria uma nota, remetendo para os locais onde a obra pode ser adquirida, ou seja, na livraria e sede da editora Dentu (que funcionava na Galeria d’ Órleans, nº 13, no Palais-Royal) ou na redação da própria Revista Espírita. (1). Retomando o anúncio em apreciação, Allan Kardec publicita que O Livro dos Espíritos, contendo os princípios da Doutrina Espírita fora “ESCRITO DE ACORDO COM O DITADO E PUBLICADO POR ORDEM DOS ESPÍRITOS SUPERIORES.” Efetivamente, ele seguia a indicação dos Espíritos Superiores que, aliás, tinham assinado um ditado espontâneo, em 11 de setembro de 1856, indicando: “Compreendeste bem o objetivo do teu trabalho. O plano está bem concebido. Estamos satisfeitos contigo. Continua; mas, lembra-te, sobretudo quando a
obra se achar concluída, de que te recomendamos que a mandes imprimir e propagar. É de utilidade geral. Estamos satisfeitos e nunca te abandonaremos. Crê em Deus e avante.” Muitos Espíritos (2). Continua Kardec neste anúncio: “Esta obra, como o indica seu título, não é uma doutrina pessoal: é o resultado do ensino direto dos próprios Espíritos sobre os mistérios do mundo onde estaremos um dia, e sobre todas as questões que interessam à Humanidade; eles nos dão, de algum modo, o código da vida, ao nos traçarem a rota da felicidade futura.” Trata-se de uma revelação notável só por estas premissas. Refere a seguir Kardec que aquele livro não resulta das próprias ideias e que, em muitos pontos importantes, tinha até uma maneira de ver muito diferente. Desse modo, não teria qualquer problema em elogiar um trabalho que não lhe pertencia, preferindo, ainda assim, dar voz aos que eram inteiramente desinteressados na questão, como o autor de um artigo que havia sido publicado no jornal Courrier de Paris, de 11 de julho de 1857: “O Editor Dentu acaba de publicar uma obra deveras notável; diríamos mesmo bastante curiosa, mas há coisas que repelem toda qualificação banal. O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos persuadidos de que um
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marcador assinalará essa página. (…) Não conhecemos absolutamente o autor, mas confessamos abertamente que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Aquele que escreveu a introdução que inicia O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres. (…) O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser reivindicado inteiramente pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas. Algumas vezes, estas últimas são sublimes, e isto não nos surpreende; mas, não foi preciso um grande mérito a quem as soube provocar? Desafiamos a rir os mais incrédulos quando lerem este livro, no silêncio e na solidão. Todos honrarão o homem que lhe escreveu o prefácio.” Recordemos então o que coloca Kardec na referida introdução, para tantos elogios merecer do Sr. Du Chalard. Para já, essa “Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, como a classifica Kardec, é quase um tratado resumido. Ocupa cerca de 50 páginas, o que, mais do que ser um prefácio convencional, daria por si só para uma brochura. Nele, Kardec apresenta o Espiritismo, fixa o sentido de palavras centrais na obra, narra a história do nascimento do livro e da evolução dos fenómenos que lhe deram origem, analisa as várias partes envolvidas, resume a Doutrina, tece considerações e responde às principais objeções. Senão, vejamos o que em síntese consta de cada item: I – Justificação do nome da Doutrina de que se ocupa a obra; II – Análise linguística da palavra “alma”, fixando o sentido que lhe é atribuído na obra, a fim de evitar enganos; III - Retrospetiva da série progressiva de fenómenos que deu origem à Doutrina Espírita; IV – Análise das várias indagações que surgiram mediante os fenómenos e suas derivações e exposição da evolução dos mecanismos de comunicação;
V – Análise do papel dos médiuns nas comunicações; VI – Resumo dos pontos principais da Doutrina transmitida pelos Espíritos, a fim de responder a certas objeções; VII – Considerações sobre a oposição das corporações científicas e sobre a autoridade dos sábios na interpretação dos fenómenos espíritas; VIII – Considerações sobre a seriedade e perseverança como condições indispensáveis ao estudo da Doutrina Espírita; IX – Análise crítica da escrita obtida através dos médiuns e da possibilidade de resultar de uma fraude; X – Análise de algumas objeções resultantes da linguagem usada pelos Espíritos e da possibilidade de apenas os maus se manifestarem; XI – Análise dos comentários dos opositores referentes à identidade dos Espíritos que se comunicam; XII – Ainda a identidade dos Espíritos e como comprová-la; XIII – Análise da divergência que se nota na linguagem dos Espíritos; XIV – Passagem rápida pela objeção relativa às falhas ortográficas que certos Espíritos cometem; XV – Análise do facto de terem perdido a razão alguns dos que se entregaram a estes estudos, acompanhada de uma dissertação sobre as causas das perturbações mentais; XVI – Exame de duas objeções, que admitem a realidade de todos os fenómenos materiais e morais, mas excluem a intervenção dos Espíritos. Uma justificando-os com o magnetismo e sonambulismo, a outra com a possibilidade do médium extrair todas as manifestações do meio ambiente, refletindo ideias, pensamentos e conhecimentos; XVII – Considerações sobre o ceticismo, no tocante à Doutrina Espírita.
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O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser reivindicado inteiramente pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas. Algumas vezes, estas últimas são sublimes...
Voltemos ao texto publicado pelo Courrier de Paris: “A vinte léguas de Paris, à noite sob as grandes árvores, quando não tínhamos em torno de nós senão choupanas esparsas, pensávamos naturalmente em qualquer coisa, menos na Bolsa, no macadame dos bulevares ou nas corridas de Longchamp. Diversas vezes nos interrogamos, e isto muito tempo antes de ter ouvido falar em médiuns, o que haveria de passar no que se convencionou chamar o Alto. Outrora chegamos mesmo a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a cuidadosamente para nós, e ficamos muito felizes de reencontrá-la quase por inteiro no livro do Sr. Allan Kardec.” Ocorre-me dizer que, efetivamente, o grupo que pertencia à equipa do Codificador era imenso, uns reencarnaram, outros ficaram no Espaço. Uns foram colaboradores diretos, outros, totalmente identificados com a Doutrina, mesmo antes dela ser codificada na Terra, conheciam-na por intuição. O autor deste artigo parece ser uma dessas pessoas notáveis, que chega aos postulados espíritas, apenas por reflexão própria, por sintonia com esse pensamento e sem com ele contactar na Terra. Caso muito idêntico, que quase não pode deixar de ser lembrado é o de Victor Hugo (1802-1885), que viveu afastado de Paris, longo tempo exilado, mas que em Jersey, a ilha situada no Canal da Mancha, recebeu, através de uma amiga sua, a escritora (e que pouco depois, como Espírito, colaborará na obra O Evangelho segundo o Espiritismo) Delphine de Girardin, as novidades de Paris sobre o movimento das mesas que falavam. Victor Hugo referirá, ainda antes da Codificação, que há 25 anos se ocupava de conceber todo um sistema a que chegou apenas pela meditação, mas que a “mesa” ampliou com reflexões profundas. Allan Kardec, em agosto de 1863 na Revista Espírita, conside-
rá-lo-á um precursor do Espiritismo, publicando uma carta que Hugo enviara ao poeta e escritor Alphonse de Lamartine por ocasião da morte da esposa (3). Como vemos, havia muitos espíritos reencarnados sintonizados com o trabalho que vinha sendo realizado por Kardec. E mesmo sem terem contacto direto com essa elaboração, acabaram sendo, nos papéis que eram chamados a desempenhar, nas posições que ocupavam, divulgadores importantes da mensagem espírita, de modo a que ela tivesse chegado a ganhar, desde logo, repercussões históricas… é disso que dão nota as duas cartas que Kardec publica no anúncio dO Livro dos Espíritos, segundo ele, porque representam de certo modo as muitas que recebeu. Duas cartas remetidas por duas pessoas de estratos sociais bastante diversos e por isso representativas de grupos com diferente formação, notabilidade social e até preparação intelectual, mostrando que o Espiritismo chega a todos e por todos pode ser compreendido. Deixamos aqui um extrato de cada uma, para que se possa fazer uma ideia do seu conteúdo: “Senhor, Submetestes minha paciência a uma grande prova pela demora na publicação de O Livro dos Espíritos, há tanto tempo anunciado; felizmente, não perdi por esperar, porquanto ele ultrapassa todas as ideias que eu havia feito, de acordo com o prospeto. Impossível descrever o efeito que em mim produziu: assemelho-me a um homem que saiu da obscuridade; parece que uma porta, fechada até hoje, acaba de ser subitamente aberta; minhas ideias se ampliaram em algumas horas! Oh! Como a Humanidade e todas as suas preocupações miseráveis se me parecem mesquinhas e pueris, ao lado desse futuro (…). Quem quer que leia esse livro meditando, como eu, encontrará tesouros inesgotáveis
de consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência. Em minha vida sofri perdas que me afetaram vivamente; hoje, não me causam nenhum pesar e toda minha preocupação é empregar utilmente o tempo e minhas faculdades para acelerar meu progresso, porque, para mim, agora, o bem tem uma finalidade (…). D..., capitão reformado.” “Senhor, Não sei como vos exprimir todo o meu reconhecimento pela publicação de O Livro dos Espíritos, que sinto depois de o ler. Como é consolador para nossa pobre Humanidade o que nos fizestes saber! De minha parte confesso-vos que estou mais forte e mais corajoso para suportar as penas e os aborrecimentos ligados à minha pobre existência. Compartilho, com vários de meus amigos, das convicções que hauri na leitura de vossa obra: todos estão muito felizes; agora compreendem as desigualdades das posições sociais e já não murmuram contra a Providência; a certeza de um futuro mais feliz, caso se comportem bem, os consola e encoraja. Gostaria de vos ser útil, senhor; sou um simples filho do povo que obteve certa posição com o seu trabalho, mas a quem falta instrução por ter sido obrigado a trabalhar desde menino; (…) Sou, senhor, se ouso vos chamar de confrade, vosso todo devotado, C...” Estes são apenas dois dos incontáveis testemunhos que Kardec tinha recebido e foi recebendo ao longo do tempo sobre este marco na história da Humanidade. Um trabalho que Kardec julgava ser único, mas que acaba sendo apenas o princípio de outros desenvolvimentos, tal como fora previsto pelos Espíritos e como ele mesmo vem a reconhecer: “(…) Por muito importante que seja esse primeiro trabalho, ele não é, de certo modo, mais do que uma introdução. Assumirá proporções que longe estás agora de suspeitar. Tu mesmo compreenderás que certas partes só muito mais tarde e gradualmente poderão ser dadas a lume, à medida que as novas ideias se desenvolverem e enraizarem.” (4) Para finalizar, voltamos ainda às palavras de Du Chalard, o redator do Courrier de Paris, no artigo que começámos por analisar, e a elas nada mais acrescentaremos: “A todos os deserdados da Terra, a todos os que ca-
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Quem quer que leia esse livro meditando, como eu, encontrará tesouros inesgotáveis de consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência...
minham e caem, regando com suas lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede O Livro dos Espíritos; isso vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelos caminhos só encontram os aplausos da multidão ou os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o; ele vos tornará melhores. (…) Sois homem de estudo e possuís a boa-fé, que não pede senão para se instruir? Lede o Livro Primeiro sobre a Doutrina Espírita. Estais colocado na classe dos que só se ocupam consigo mesmos e que, como se diz, fazem os seus pequenos negócios muito tranquilamente, nada vendo além dos próprios interesses? Lede as Leis Morais. A desgraça vos persegue com furor, e a dúvida vos envolve, por vezes, com o seu abraço gelado? Estudai o Livro Terceiro: Esperanças e Consolações. Todos vós que abrigais nobres pensamentos no coração e que acreditais no bem, lede o livro do começo ao fim.” Referências Bibliográficas: 1 - A livraria Dentu, a mesma onde, pela primeira vez, Camille Flammarion, o grande astrónomo e diretor do observatório Juvisy, viu, provavelmente na montra, onde deveria estar em destaque, O Livro dos Espíritos, e ficou fascinado. Dirigiu-se à viúva Dentu, comentou a extraordinária obra, tendo esta referido que se ele desejasse poderia cumprimentar o seu autor, pois ele ali se encontrava. Era dia 18 de Abril de 1857, o dia do lançamento, quando Flammarion apertou pela primeira vez a mão de Allan Kardec, reatando uma amizade firmada no Plano Espiritual.“ Ver “Um Dia Memorável Para o Espiritismo com Divaldo Pereira Franco”, em https://www. youtube.com/watch?v=-urDZd6YgTU [consultado em janeiro de 2019] 2 – Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos” (Mensagem de 11 de setembro de 1856), in Obras Póstumas. 3 – Cf. Alexandra Balsas e Isabel Antunes, “Victor Hugo, um colaborador inesperado”, in A Libertação, nº 140. FEC. Jan./Mar. 2019. 4 - Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos” (Mensagem de 17 de junho de 1856), in Obras Póstumas.
Sou médium
inspirado… parte II
Por |Isabel Piscarreta
Existem tantas categorias de inspirações e, por conseguinte, de médiuns inspirados, quantas as faculdades que existem no cérebro humano para assimilar conhecimentos diferentes.¹ Se pertence a uma dessas categorias e gostaria de obter boas ideias ou soluções provenientes dos Bons Espíritos, é importante ficar a conhecer qual a única estratégia eficaz para o efeito: O médium inspirado, caso pretenda obter a inspiração dos Bons Espíritos, necessitará de criar uma sintonia mental de padrão moral elevado, conseguida através da prática regular da oração para que as boas ideias possam ocorrer-lhe espontaneamente ao pensamento, de dia ou de noite, em vigília ou durante o sono, mediante a vontade de Deus. (1) Independentemente das melhores condições de recetividade que o médium inspirado apresente, será de toda a prudência não abdicar de examinar o teor das inspirações oriundas dos Espíritos, à luz da razão própria ou em caso de dúvida, da de outrem também. (2) Os Espíritos que inspiram os médiuns podem ou não ser sérios; podem ser interesseiros ou verdadeiramente guiados pela afeição com que aconselham espontaneamente.
Quando o homem de boa vontade, além de se ocupar dos mínimos detalhes da sua existência, trata de realizar trabalhos mais especializados, de provas decisivas que deve suportar ou de obras destinadas à instrução e à elevação gerais, a inspiração dos Espíritos não se traduz apenas por conselhos, mas também pela condução do homem ao estudo de certos assuntos que cooperam para a realização dessas obras. (3) Os Espíritos que auxiliam os médiuns por meio da inspiração não pretendem tornar inútil o seu trabalho humano; respeitam sempre a parte reservada ao indivíduo por ser nobre e santa, pois só o trabalho pode proporcionar o desenvolvimento das faculdades que Deus depositou em gérmen em sua alma. (4) Se é médium inspirado, procure o esclarecimento e o auxílio num Centro Espírita. Referências Bibliográficas: 1 e 4 - Allan Kardec, “Os inspirados”, in Revista Espírita, Fevereiro de 1868. 2 - Cf. Allan Kardec, “Ideias preconcebidas”, Revista Espírita, Maio de 1865. 3 - Cf. - Allan Kardec, “A mediunidade e a inspiração”, Revista Espírita, Fevereiro de 1869. Photo by Marcelo Chagas from Pexels
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Conversas com
Jesus
Verdadeira pureza Mãos não lavadas Por |Cláudia Lucas
8. Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem suas refeições?” (…) Depois, tendo chamado o povo, disse: “Escutai e compreendei bem isto: Não é o que entra pela boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula.
Nesta passagem do Evangelho de Mateus, como em outras, Jesus faz referência a um outro profeta hebreu, Isaías, reforçando e confirmando o que Isaías havia dito. Isso mostra-nos que Velho e Novo Testamento estão interligados e interdependentes. Os profetas que precederam Jesus e Lhe prepararam o caminho, já haviam ensinado muitos dos Seus ensinamentos. Mas Jesus, na sua qualidade de Espírito Puro vem, não só reafirmar essas lições, mas também ampliá-las e, sobretudo, exemplificá-las constantemente. Muitos consideram Isaías como o maior profeta da história, após Moisés. Para os estudiosos do Velho Testamento, o Profeta Isaías representa um Novo Testamento dentro do Velho Testamento, a Boa Nova dentro do Velho Testamento. Jesus, várias vezes, faz referência aos ensinamentos de Isaías, recordando como eles estavam atuais após sete séculos e validando essa Boa Nova que integrou o Velho Testamento e que continuava por ser compreendida e
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cumprida pelos hebreus. E essa mensagem era tão importante que Jesus a recorda e reforça inúmeras vezes, como faz nesta passagem: “bem profetizou de vós Isaías, quando disse: Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração”. Os judeus em geral, e os escribas e os fariseus em particular, davam grande importância à lavagem das mãos, não só quando faziam as refeições, mas também, antes das refeições. Não se tratava de uma lavagem comum das mãos, por razões de higiene meramente, mas sim de um ritual cerimonial. “Os fariseus e todos os judeus não comiam sem lavar as mãos até aos cotovelos.” (Mr 7:2-5; Mt 15:2) A mensagem de Isaías era para que os judeus se purificassem, se lavassem das impurezas morais; mas essa era uma tarefa muito árdua, porque é aquela que tem de ser realizada vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, dentro de cada um e que ninguém pode realizar por nós. É um combate interno, o bom
combate, que é de responsabilidade individual. Combatermos os nossos defeitos e vícios permanece como o grande desafio da Humanidade. A mensagem dos profetas, na qualidade de emissários divinos, orientados por Jesus, estava repleta de apelos a essa transformação moral; mas sendo tão difícil de concretizar e havendo pouca vontade para tal, os judeus foram desprezando os verdadeiros mandamentos de Deus, para se aferrarem à prática dos regulamentos que eles próprios foram instituindo, em sua substituição. Era e é muito mais fácil praticar atos exteriores, do que nos reformarmos moralmente; mais fácil lavar as mãos do que limpar o coração e purificar a alma. O zelo religioso dos fariseus limitava-se apenas a observar, estritamente, certo número de normas exteriores e tradições. E, sob uma capa de aparência religiosa (que pode enganar os homens, mas não a Deus), eles continuavam a seguir as suas inclinações negativas, aparentando serem puros sem o serem. Muitas vezes, à semelhança dos antigos judeus, os cristãos consideram mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores do que pela prática da moral cristã. De que serve lavar as mãos, rezar o terço, ajoelhar-se durante uma oração ou perante um altar, ou inclusivamente participar nas atividades do Centro Espírita, se na prática continuamos a cometer “iniquidades”, se na nossa vivência nos permitimos levantar calúnias, causar danos a outrem, sem esforço de mudança. Serão as práticas exteriores, os rituais, que nos vão colocar num patamar de maturidade espiritual? Serão essas práticas que nos farão homens de bem? Que nos ensinarão a melhor conviver com os outros e a melhor corrigir os defeitos da nossa alma? Não, nada disso nos acrescentará valor, porque ao desencarnarmos o nosso Espírito terá a mesma lista de defeitos a emendar em si mesmo; os mesmos problemas que ficaram por solucionar; os mesmos pesos de consciência, que não só não foram lavados por esses rituais e costumes, como também foram agravados pela nossa persistência na hipocrisia. O importante para a vida espiritualizada não é aquilo que se come, a forma como se lavam as mãos, ou a realização de qualquer outro preceito exterior, porém, aquilo que se pensa, a forma como expressamos os sentimentos, os atos que nos caracterizam o comportamento. É por isso que, no Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos, no comentário a esta mensagem, que: “Não basta que se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a pureza do coração.” Photo by Sharefaith from Pexels
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Prece do
Arrependimento
Por |Francisco Ribeiro
Enquanto estudiosos do Espiritismo é comum encontrarmos nas obras espíritas relatos comoventes do arrependimento de Espíritos entregues a práticas menos dignas. Algumas vezes esses relatos são acompanhados das breves orações que esses Espíritos fazem quando tocados pelo Amor Divino. Mas nem sempre nos lembramos que o que é válido para os Espíritos desencarnados, é igualmente válido para os reencarnados. Entre os “criminosos” do plano espiritual e os do plano material pouca diferença há, com a exceção de que não vemos os primeiros e vemos os segundos. E essa exceção, que é apenas uma pequena transição entre o estado de existência, para as nossas mentes, faz muita diferença. Não é raro concedermos aos “criminosos” desencarnados uma tolerância e uma compreensão que não concedemos aos “criminosos” reencarnados. Essa discrepância de sentimentos é bem retratada num pequeno texto que o irmão Ramiro Gama nos traz na obra Lindos Casos de Chico Xavier. Conta-nos ele a seguinte passagem: “Nossa Irmã Maria José acercou-se do Chico na ocasião em que lhe contávamos os benefícios usufruídos pelos penitenciários do Distrito Federal com as visitas que lhes vêm fazendo, aos domingos, pela manhã, alguns diretores da Federação Espírita Brasileira. A conversão de muitos Irmãos detentos à nossa Doutrina tem sido permanente, segura e confortadora. No final, quase sempre, cabe a um dos presos, em meio do pranto e do arrependimento, orar, agrade-
cendo a Deus as graças recebidas. E nossa irmã atenta aos nossos comentários, indaga do querido médium: - Se a prece representa um estado de alma pura, como poderá tê-lo o criminoso? Vale alguma coisa, aos olhos de Deus, a oração dos delinquentes? E o prestativo servidor, em dia com os assuntos santos do Senhor, ajudado pelos seus esclarecidos mentores espirituais justifica: - A prece de um criminoso, por ser a de um irmão faltoso, vale muito quando feita com arrependimento sincero. Numa prisão acham-se encarnados e desencarnados, algozes e vítimas, ligados pelos laços do Amor de Deus. E, quando, dentre eles, um se mostra arrependido do mal que fez e, ajoelhando a alma, ora ao Pai, na linguagem do coração, na sinceridade e na humildade, com vontade de ressarcir suas faltas, uma surpresa aponta no íntimo dos outros colegas e todos acabam envolvidos na Resposta do Criador, que é sempre algo de incentivo de Seu Amor e de Suas Bênçãos! Via de regra, depois de uma Prece assim feita entre almas dormidas, fechadas, endurecidas no crime, algumas acordam para a realidade do Roteiro Cristão, sentindo os remorsos primeiros, dando os primeiros passos em prol de sua redenção.”(1) A lição sobre a importância da prece, do arrependimento para o Espírito, reencarnado ou desencarnado, não é nova. Durante o episódio da crucificação, o Evangelho de Lucas narra um momento precioso. Relata-nos o texto evangélico: “Um dos criminosos que ali estavam dependurados lançava-lhe insultos: “Não
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és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” Mas o outro criminoso repreendeu-o, dizendo: “Não temes a Deus, nem estando sob a mesma sentença? Nós somos punidos com justiça, porque estamos a receber o que os nossos atos merecem. Mas este homem não cometeu mal algum”. Então disse a Jesus: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Jesus lhe respondeu: “Eu te garanto: Hoje estarás comigo no paraíso”. (Lucas 23:39-43) O criminoso condenado à sentença brutal, ciente da justiça da sua punição, arrepende-se no momento extremo e, tomado de arrependimento, pede ao Mestre que interceda por ele junto do Pai. A sua postura é suficiente para que o doce Rabi da Galileia lhe conceda a paz que o infrator arrependido busca. Mas tal como Jesus também disse, muito do que Ele ensinou seria esquecido e seria necessário que viesse o “Consolador” recordar tudo o que fora ensinado (2). A Doutrina dos Espíritos cumpre hoje esse papel, também neste ponto particular. Tal como a passagem da vida de Chico Xavier nos demonstra, mesmo entre os maiores delinquentes há espaço para a semente de Luz germinar e frutificar. E esses momentos, em se tratando dos criminosos reencarnados, são de suma importância. O criminoso reencarnado que se arrepende e suplica o perdão do Pai, está também a suplicar o perdão das suas vítimas. Demonstra, naquele ato de humildade perante a justiça, dos homens e de Deus, o reconhecimento das suas faltas, arrepende-se de as ter cometido e das
consequências que daí advieram. Para a “vítima” desencarnada que lhe acompanha a punição, esse momento é também de libertação, tal como Chico nos ensina. Permite que algoz e vítima iniciem o caminho que os libertará das amarras que os prendem ao sofrimento e caminhem, juntos, para a felicidade. Quantos de nós, no rescaldo de decisões ou comportamentos desastrosos, não ajoelhamos a nossa alma e pedimos perdão ao Pai pelo erro cometido? Quantos não o fazemos com a pequenina esperança de que a nossa prece chegue aos ouvidos do Senhor e Ele derrame sobre nós o bálsamo que alivia as nossas dores? Se nessas alturas temos a esperança de que a nossa prece seja escutada, apesar das impurezas do nosso coração, concedamos aos nossos irmãos, ainda presos ao pântano das paixões inferiores, a mesma esperança, levando a todos, desencarnados e reencarnados, a certeza da existência de um Pai Amoroso, que ama todos os Seus filhos, incondicionalmente, e que está sempre pronto para receber de braços abertos o filho que deseje regressar ao seu regaço. Bibliografia 1 - GAMA, Ramiro, Lindos Casos de Chico Xavier, item 167 “A Prece do Criminoso”, página 208. 2 – Cf. Evangelho Segundo João, 14:15-20. Photos from Pexels
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notícias
34º ANIVERSÁRIO DIJ - FEC Comemorámos, no passado mês de Novembro, mais um aniversário da Direção para a Infância e Juventude, o 34º. Neste dia, como tem sido habitual nos últimos anos, convidámos os pais para assistirem e participarem nas aulas dos filhos. Apesar dos nossos encontros serem agora virtuais, manteve-se o entusiasmo de sempre, traduzido em momentos de muita diversão e companheirismo!
Por |Paulo Henriques
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Por |Paula Alcobia Graรงa
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2ª Feira - Estudos Espíritas ESDE II – 19h30 - 20h30 (por videoconferência) ESTUDO OBRAS DE ANDRÉ LUIZ – Ano VI – 19h30 – 20h45 (por videoconferência) EIMECK – 19h30 - 20h45 (presencial) 3ª Feira - Integração no Centro Espírita - 17h00 - 19h00 - Atendimento individual com marcação prévia exclusivamente pelo número 917600135 (A receção abre às 16h30) ESDE III – 19h30 (por videoconferência) 4ª Feira ESDE I – 19h30 – 20h30 (por videoconferência) 5ª Feira Assistência Espiritual (Passe) 16h30 - 19h00 (presencial) (Receção - 16h00 - 19h00) KIniciação - 19h30-20h30 (por videoconferência) Sábado Aulas DIJ (por videoconferência) Jardim; 2º C. Infância; 1º C. Juventude 15h00 - 15h50 1º C. Infância; 3º C. Infância; 2º C. Juventude – 16h00 – 16h50 Maternal – 17h00-17h50 Estudo das Obras de André Luiz – Ano X – 17h00 – 18h30
A Libertação Nº 149 Ano XXXVI janeiro/fevereiro/março 2021 Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão Rua do Vale Formoso de Cima, nº 97A 1950-266 Lisboa, Portugal Nº de Contribuinte 501091670 Nº de Registo na ERC 109883 Nº de Depósito Legal 10.284/85 ISBN 0871- 4274 Direção Diretor - Maria Emília Barros Colaboradores Carmo Almeida Francisco Ribeiro Isabel Piscarreta Cláudia Lucas Paula Alcobia Graça Paulo Henriques Sílvia Almeida
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