Boletim da Fraternidade Espírita Cristã
Lisboa - Portugal A divulgar a Doutrina Espírita desde 1928
“Todos os homens são médiuns, todos têm um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo.” Channing (L.M., 2ª Parte, Cap. XXXIl)
Família - A Importância do Amor A Minha Fé Torna-me Uma Pessoa Resiliente Seminário UERL - “Família: um Projecto Divino”
Ano XXVIII - Nº 113 - Trimestral - Janeiro/ Fevereiro / Março 2012
Horário 2011 | 2012 Fraternidade Espírita Cristã 2ª Segunda Momentos de Reflexão - 19.00h EEM - Estudo e Educação da Mediunidade Ano 3 - das 20.15 às 21.45 h ESDE - Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita Programa II - das 19.45 às 20.45 | Programa III - das 21.00 às 22.00 h | Programa I - das 21.00 às 22.00h EIMECK - Estudo e Interp. da Mensagem dos Espíritos Codificada por Kardec | Ano III - das 19.45 às 20.45h
3ª Terça Integração no Centro Espírita | Com inscrição prévia Recepção e Integração - 17.00 às 19.00 h Reunião Mediúnica - 20.15h às 22h | Privada
4ª Quarta Momentos de Reflexão - 19.30 h Estudo Doutrinário - Palestra Espírita - 20.30 às 21.30h Assistência Espiritual/ Passe - 21.30h
5ª Quinta Assistência Espiritual /Passe - 17.30 h às 19.30h Atendimento Fraterno - 18.00h às 19.30h Kardec Iniciação, Estudo da Doutrina Espírita - 19.30 às 20.30h Reunião Mediúnica - 20.45h às 21.45h | Privada
6ª Sexta
Momentos de Reflexão - 19.30h Pronto Socorro Espiritual - 20.00 às 20.20h Casa do Caminho, Sessão Evangélica - 20.30 às 21.30 h
Sábado Estudo Básico das Obras de André Luiz - 16.30h às 17.45h Estudos Espíritas DIJ: Aulas, Expressão Plástica, Educação pela Arte, Iniciação Musical - 15.00 às 18.30 h Coro Espírita - 19.00h às 20.00h Assistência Espiritual/Passe - 15.30 às 16.30 h | Recepção Individual - 16.00h às 17.00 h
Informações Os Cursos de segunda feira e sábado requerem inscrição prévia. A palestra de 4ª feira e a Sessão Evangélica Casa do Caminho são de frequência livre Horário da Recepção 2ª- F.- das 18.30 às 21.15 horas; 3ª-F.- das 16.30 às 19.30 horas; 4ª-F.- das 18.30 às 21.30 horas; 5ª-F.-das 15.30 às 21.00 horas; 6ª-F.- das 18.30 às 21.30 horas; Sáb.- das 14.30 às 18.30 horas Horário do Espaço Multicultural 2ª- F.- das 18.30 às 21.15 horas; 3ª-F.- das 16.30 às 19.30 horas; 4ª-F.- das 18.30 às 20.00 horas; 6ª-F.- das 18.30 às 19.00 horas; Sáb.- das 14.30 às 18.00 horas Tel.: Geral 21 882 10 43 - Grav./Fax 21 887 37 94 - Fax 21 882 10 44 S.O.S Espiritual 21 888 13 48 Http://www.fec.pt - E-mail: correio@fec.p 2 A Libertação
Quando tudo começa, a vontade de estar presente, de idealizar e depois materializar o sonho, encadeando ações até à concretização dos projectos, a constatação de que se foi capaz, se conseguiu, com apoio dos outros ou simplesmente por esforço individual, torna-se o combustível que alimenta a vida e a torna formosa. Quando tudo nos é pedido e nos negamos a nós mesmos para termos espaço para obedecer e ir ao encontro do que nos solicitam, sentimos que, a cada pedido, superamos as nossas necessidades por um objectivo pelo qual vale a pena esquecermos os gostos pessoais e os desejos particulares. Quando, com a ajuda do tempo, no curriculum de vida se acumulam linhas e parágrafos descritivos das experiências vividas, surgem os momentos de análise e consequente constatação da presença de vazios, torna-se urgente preenchê-los. Quando damos por nós a observar o céu e a desejar encontrar, em algum ponto luminoso, um brilho que nos seja familiar, um aceno de amigo, um afago, ouvimos vozes que nos concitam a seguir um pouco mais, animando-nos com um “quem sabe, talvez em breve…” E a vida prossegue, conduzindo-nos no aprendizado através da repetição, uma e oura vez até tudo estar consolidado, até tudo ser perfeito, até podermos partir em busca de outros caminhos, da elaboração de outros sonhos. Carmo Almeida
Editorial A Família Ideal - A Importância do Amor A Minha Fé Torna-me Uma Pessoa Resiliente Espíritas de Ontem - Indulgência/ tolerância Entrevista - Marcial Barros Histórias do Rolinha - A Ceifa do Grão BD - Nosso Lar Notícias
“No Espiritismo o amor não é instinto (necessidade orgânica) nem desejo ou simples necessidade sexual (sensorialidade) mas a aspiração suprema de beleza e espiritualidade nas perspectivas da transcendência. A superação de objectivo e subjectivo se resolve na globalidade do Amor.” (1)
Por isso o Apóstolo João, no seu Evangelho, define o Ser Supremo na conhecida frase: “Deus é Amor”. As definições da Filosofia como Amor da Sabedoria (Pitágoras) e Sabedoria do Amor (Platão) revelam a intuição, já na Antiguidade, dessa total globalidade do Amor que o Espiritismo viria explicar mais tarde. O desenvolvimento dessa globalidade processase na família, onde a afectividade desabrocha para a posterior floração do Amor no processo existencial. A Educação Familiar é a origem do afecto puro de que decorre todo o processo educacional do homem. É no seio da família e com o apoio desta, mesmo a mais humilde ou problemática, que se criam os sentimentos de solidariedade e amor nas gerações futuras. Diz-nos J. Herculano Pires que, “cabe aos espíritas implantar na Terra uma nova Educação, com base nos dados da pesquisa espírita e segundo o esquema da Pedagogia 4 A Libertação
Espírita. Essa Pedagogia, iniciada por Hubert (que não é espírita) fundamenta-se nos princípios doutrinários do Espiritismo e destina-se a preparar as novas gerações para a Era Cósmica que se aproxima.” (1) A educação familiar deve basear-se na afectividade, nas relações de amor e compreensão entre pais e filhos. Diz-nos ainda o mesmo autor que a “educação com violência é domesticação. O mundo da criança não é o mesmo do adulto e este tem de descer a esse mundo, voltar à sua própria infância para não esmagar a infância dos filhos. As pesquisas entre os povos selvagens mostraram que a essência da educação é o amor. Sem amor não se educa, deforma-se. Nos povos selvagens a educação não foi deformada pela ideia do pecado, pelo mito da queda do homem, que envolvera o mundo de violências redentoras capazes de aterrorizar um brutamontes, quanto mais uma criança.” Kardec ensina que “a criança, embora tenha o seu passado em geral lamentável, nasce vestida com a roupagem da inocência para tocar o coração dos pais e despertar-lhes o amor e a ternura, de que ela necessita para o desenvolvimento das suas potencialidades humanas. Se fazemos o contrário, despertamos na criança o seu passado de erros e depois a condenamos por seus
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instintos. Essa tese kardeciana é hoje dominante nos meios pedagógicos.” (1) Segundo a Doutrina, o amor verdadeiro, espontâneo e puro, isento de interesses secundários, fará da família a fonte de amor que elevará a Terra na Escala dos Mundos. O sangue, por si só, não cria distinções na espécie humana. O único valor verdadeiro do homem, e por isso imperecível, pertence à sua natureza intrínseca, à sua subjectividade existencial. A força da união, que mantém a estabilidade da família e a projecta no futuro, é a afectividade, o que vale dizer: o Amor. A família não se constitui ao acaso. Todo o encontro de criaturas no seio de uma família decorre de compromissos de reajuste e reequilíbrio de situações anteriores. Por isso, as chamadas famílias consanguíneas se desfazem facilmente com a morte, mas para renascerem mais tarde em novas situações reparadoras.
“O segredo do êxito no desenvolvimento familiar depende da capacidade de amar e compreender dos seus membros. “ Na proporção em que o homem toma consciência desse aspecto do problema, as dificuldades familiares tornam-se mais suportáveis. No seu íntimo as almas se depuram e se preparam para reencontros mais felizes no futuro. Mas erram os que pretendem manter à força a unidade familiar, sob a pressão de ameaças divinas ou leis humanas injustas. Os reajustes só se efectivam em condições propícias e por livre decisão dos implicados. Sem o respeito pela liberdade de opção, os sacrifícios forçados geram novos desequilíbrios. O segredo do êxito no desenvolvimento familiar depende da capacidade de amar e compreender dos seus membros. Cada membro da família tem de compreender as
condições temperamentais dos outros e sentir que pode amá-los apesar dos seus erros e imperfeições. Nesse caso a família perdura e atinge os seus objectivos. Se colocarmos o amor ao próximo acima das condenações impiedosas, compreendendo que cada qual sente de uma maneira muito própria e individual, única, de acordo com a sua condição evolutiva, passando pelas provas de que necessita, poderemos transformar situações desastrosas em oportunidades de orientação. “Educar é um acto de amor”: pensamento de todos os grandes pedagogos e educadores da Grécia antiga e do mundo moderno, a partir de Rousseau.
Em conclusão: (2) 1) A família é o núcleo básico da sociedade onde reencarnam os espíritos, a fim de continuarem o seu processo de evolução. É nela que se vão encontrar as antigas amizades e inimizades, para o crescimento espiritual indispensável; 2) A implantação na sociedade da família como instituição foi um marco na evolução, ao representar a possibilidade de se fixarem os laços afectivos e de se aprender sobre o amor. 3) Ao reencarnar, cada espírito tem um determinado papel a desempenhar na família, que não só é importante para si, mas também para o grupo. E, no decorrer do desempenho desse papel de extrema responsabilidade, vai ter oportunidade de assimilar as Leis de Deus. Saber conviver com os outros membros da família é uma arte e uma actividade que faz crescer e evoluir quem se sai bem. 4) Ao constituir-se uma família - que geralmente se inicia pela convivência a dois, A Libertação 5
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costumam criar-se expectativas quanto ao desempenho do outro parceiro, esperando dele atitudes que nem sempre se concretizam, o que vai desgastando a relação. É preciso aprender a ceder para conquistar, a dar para receber, a amar para ser amado, a compreender as diferenças produzidas pelas sucessivas reencarnações, e a não querer moldar o outro ao seu próprio gosto. Viver a dois, é desejar a felicidade do outro, além da sua própria. 5) Para o homem, e devido ao facto de ser criado como uma individualidade, o viver em família é uma aprendizagem, cujas lições básicas passam pela renúncia, pela paciência, pela compreensão, pelo respeito, pela ponderação e por perceber que tem à sua frente uma grande oportunidade para evoluir com o grupo familiar. A família ajuda ao encaminhamento do espírito que anda perdido, sem horizontes, e que precisa de ser orientado e acolhido. É com a educação na infância, que este irá receber o apoio para os seus projectos de renovação. Caberá aos pais o papel de encaminhar e orientar os filhos, no sentido de conseguirem reequilibrar as atitudes viciosas do passado, tendo em vista a sua harmonia no futuro. 6) Os membros de uma família são espíritos que renascem juntos por afinidade e/ou por contingências expiatórias. Quando são espíritos que têm afinidade, a harmonia reina no lar; quando são espíritos que estão comprometidos com o seu próprio passado, aparecem as desavenças; no entanto, é no seio da família que vão ter oportunidade de crescer e de aprender o que não sabem. 7) Não é apenas a religião que deve educar o espírito para a compreensão das Leis de Deus. A família dita ideal não deve abdicar do seu papel de dar as primeiras noções sobre o amor e o equilíbrio, sobre a paz e a harmonia universais. A escola não substitui a família, e os pais não devem transferir o seu dever de educar e de ensinar os espíritos postos por Deus à sua guarda. 8) Deve-se considerar como verdadeira família 6 A Libertação
a universal, pois somos todos filhos de Deus, criaturas de um mesmo princípio gerador e sustentador. Nascidos para o amor, unimo-nos em grupos que, de encarnação em encarnação, ampliam os seus laços de fraternidade, construindo a verdadeira família espiritual. A evolução também se processa em grupo. 9) A família é a instituição onde se depuram os conflitos do passado. É o ponto de chegada e de partida para todos aqueles que querem evoluir.
“Viver a dois, é desejar a felicidade do outro, além da sua própria.” A reencarnação e a imortalidade da alma ampliam os laços de família ao libertarem o espírito das relações que aprisionam. Sempre com o intuito de fazer o espírito aproximar-se do verdadeiro amor, os papéis vão-se alternando em cada nova encarnação. A morte do corpo não desfaz os verdadeiros laços de amor entre os espíritos e a reencarnação através de pais e mães diferentes contribui para o alargamento do amor ao próximo. 10) Quanto à família espiritual, esta não se resume, necessariamente, aos habitantes de um único planeta. O universo é plenamente habitado e os espíritos reencarnam em diferentes mundos, tendo em vista o seu aperfeiçoamento intelectual e moral. Os mundos formam grandes famílias que, por sua vez, compõem a imensa família de Deus, a família ideal. Amândio e Patrícia; Lisboa, 07.05.2011 (1) PIRES, J. Herculano, “Curso Dinâmico de Espiritismo”. São Paulo: O Clarim, 1979, pp. 30-9. (2) Conclusões efectuadas com base no texto de Adenáuer Novaes, publicado na “Revista Espírita, Verdade e Luz”, n.º 17, Ano 4.
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Cátia Alexandra Caeiro Segundo Anaut (1) a resiliência é “a arte de se adaptar às situações adversas (condições biológicas e sociopsicológicas) desenvolvendo capacidades ligadas aos recursos internos (intrapsíquicas) e externos (ambiente social e afectivo), que permitem aliar uma construção psíquica adequada à inserção social.” Deste modo, ser resiliente é agir, no presente, motivado por um projecto de vida e não pelas perdas e danos resultantes dos traumas, problemas e dificuldades do passado. A resiliência é um termo surgido do latim resilientia, tendo origem no âmbito da física de materiais para designar a resistência do material a choques elevados e a capacidade de uma estrutura para absorver a energia cinética do meio sem se modificar. Posteriormente, este conceito foi adoptado pelas ciências humanas, nomeadamente pela Psicologia. De acordo com Werner, citado por Anaut (1), a resiliência é o resultado do equilíbrio evolutivo do sujeito face ao confronto de situações nefastas ou stressantes, com as próprias características internas (temperamento, capacidades cognitivas, auto-estima) e externas (fontes não oficiais de apoio, tais como a família alargada, os recursos comunitários) do indivíduo. Rutter, citado por Anaut (1), distingue três características principais das pessoas que desenvolvem um comportamento resiliente face a condições psicossociais desfavoráveis: a) a consciência da sua auto-
estima (ou auto-valorização), remetendo esta para as características pelas quais o sujeito se pode definir e ter noção do seu valor; b) a consciência da sua eficácia, referente à crença ou à confiança na sua capacidade de realizar uma acção, i.e., um indivíduo resiliente tem a tendência para ver sobretudo os aspectos positivos das provocações que surgem na vida e tem confiança na sua capacidade de resolver a maior parte dos problemas da sua existência; c) um repertório de formas de resolução de problemas sociais, onde o indivíduo tem a capacidade de encontrar apoio em experiências pessoais, familiares ou extra-familiares. Neste sentido, as pessoas com características resilientes, ao enfrentarem com sucesso uma situação traumática, não experienciam sintomas disfuncionais, conseguindo assim manter um equilíbrio estável sem que isso afecte o seu rendimento e a sua vida diária (2). Os principais campos onde a resiliência pode emergir são dificuldades na infância, (e.g. lares desajustados, violência, abusos, negligência, separação dos pais), obstáculos diários (e.g. discussões no emprego, discussões com o cônjuge ou com os filhos) e situações extremas como a morte de familiares, divórcios ou perda de emprego. No entanto, perante as dificuldades o Homem tem ao seu dispor um recurso valiosíssimo que lhe permite enfrentar todas as dificuldades com coragem. Esse recurso é a Fé. Segundo Emmanuel (3) “ ter fé é guardar 07 A Libertação
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no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade (….) traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração”.
Jesus disse há 2000 anos que “se tivésseis a Fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível” (4). As montanhas que a fé desloca são as dificuldades que surgem na vida do Homem. Segundo Joanna de Ângelis (5), a fé é a “força que se irradia como energia operante e, por isso, consegue remover as montanhas das dificuldades, aplainar as arestas dos conflitos, minar as resistências que se opõem à marcha do progresso”. Diznos ainda que a fé é a “canalização de todas as possibilidades psíquicas alterando a acção das forças habituais. Quando se apresenta, estimula à acção e vibra interiormente, gerando energias que vitalizam toda a maquinaria pela qual se movimenta”. A Fé é como uma flor que precisa do sol e do alimento para poder crescer e esse alimento é fornecido pelo conhecimento da Doutrina Espírita que permite desenvolver uma Fé raciocinada. Em todos os tempos têm surgido na Terra homens que deram o seu testemunho de Fé. Um desses homens foi o apóstolo Paulo de Tarso que, ao encontrar-se com Jesus na estrada de Damasco, se A Libertação 08
transforma intimamente, dedicando o resto dos seus dias a divulgar a palavra do Mestre Jesus a todos aqueles com quem se cruzava. Mesmo quando lhe faltavam as forças, Paulo de Tarso nunca fraquejou nem desistiu, caminhou sempre mais e mais, pois a sua fé o sustentava e lhe revigorava as forças para prosseguir sempre mais adiante. Por isso, é que a nossa Fé nos torna resilientes, ou seja, resistentes às dificuldades que surgem na nossa vida, porque a Fé dá-nos a força e a coragem que precisamos para enfrentar todas as adversidades, com um sorriso no rosto. A Fé é a bússola que nos orienta nos caminhos tortuosos da nossa vida e que nos conduz a Jesus.
(1) ANAUT, M. “A resiliência: ultrapassar os traumatismos”. Lisboa: Climepsi, 2005. (2) RUDNOCKI, T. (2007). Resiliência e o trabalho do psicólogo hospitalar: considerações iniciais. “Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar”, 10 (2), 2007, pp. 83-92. (3)XAVIER,F.C.(Emmanuel),“O Consolador”. Brasília: FEB, 1999, p. 200. (4) KARDEC, A., “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,Brasília: FEB, 2004, p. 299. (5) FRANCO, D. P. (Joanna de Ângelis), “Elucidações Psicológicas à Luz do Espiritismo”. Salvador-Bahia: LEAL, 2003, pp. 143-5.
É a Verdade o grande ideal da humanidade e o pensamento vem, evoluindo, através dos tempos, a procurá-la. Mas a Verdade absoluta, a Verdade sem sombra, ainda é inacessível à nossa mente. Nem todos os espíritos se podem asilar sob o palio de uma mesma religião. E, se existe esta vasta floração de capacidades intelectuais e morais, variando de indivíduo para indivíduo, não é que a natureza seja caprichosa, criando tão diversas modalidades de inteligências; isto vem apenas demonstrar que o espírito nasce “simples e ignorante”, para alcançar depois a perfeição, pelo seu próprio esforço, com a colaboração do tempo. É esta uma ascensão que não se faz no exíguo tempo de uma encarnação planetária, mas em tantas quantas necessárias para a criatura emplumar as duas asas da alma, o saber e a virtude, no expressivo dizer de Bezerra de Menezes. Ora, desabrochando o nosso espírito para a vida consciente, em épocas diversas, porque a Divindade não cessa de criar, e tudo é ascensão e harmonia na obra universal; bebendo, ao demais, a educação em variadas fontes de ensinamentos – impossível seria encontrarmos a humanidade de hoje vibrando ao influxo de uma mesma ideia religiosa. Será isso para daqui a muitos séculos. Por agora, contentemo-nos com a diversidade de crenças, representativas de vários estados de cultura das almas, porém não perdendo de vista a tolerância e o carinho para com todas elas e, assim, estaremos fazendo obra de aproximação. Já disse alguém que o homem pensa como
quer, como pode ou como lhe deixam. Abrace o credo religioso que quiser; não importa. O essencial é que esse credo tenha a força de impulsioná-lo a acções generosas, porque a salvação não está no seio deste ou daquele grémio, senão na prática da caridade. Não era outra a doutrina de Jesus, cristalizada na parábola do bom samaritano. Motivo não haveria, pois, de hostilizar alguém pelo facto de possuir religião diferente da que professássemos. Fora isso voltarmos à intolerância religiosa do passado que ensanguentou tantas páginas da história.
O ideal a colimar, é o amor do próximo; é “o meu reino não é deste mundo”. Da abnegação dos seus adeptos depende em parte máxima a vitalidade de uma doutrina. Menos distanciada da verdade suprema estará sem dúvida, a religião que, a par da caridade, melhormente souber inspirar os seus crentes no exercício da indulgência e da tolerância para com os adeptos de outros credos. In Luz e Caridade, órgão do Centro Espírita de Braga, Fevereiro de 1922 A Libertação 9
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- Levanta-te filho, que são horas de partirmos – dizia a mãe Rosa. Eram onze horas na noite, o Rolinha tinha nove anos e era o seu primeiro dia de trabalho a sério. Estava de férias da escola, tinha feito o exame da terceira classe e passara para a quarta. Estava ansioso e entusiasmadíssimo. Ia trabalhar aos quartéis todos os dias, até acabar a colheita do grão, e ganharia tanto como uma mulher, se saísse bem dos três regos. Um quartel era um quarto do dia, seis horas de trabalho que começavam à meia noite e acabavam às seis da manhã, quando o patrão era bom, caso contrário seria até um pouco mais tarde. Nem sempre se podia trabalhar e ganhar os “vinte e cinco tostões”, também conhecidos pelos “dois mil e quinhentos réis”, já que havia noites falsas, isto é, chegava-se ao grão e não se podia colher por não haver “maresia”, a humidade noturna, e as vagens rebentarem por estarem ressequidas, espalhando a semente pelo chão. Aquela era uma noite boa pois a palha estava húmida e as sementes não cairiam. - Pergunte ao seu filho se quer só dois regos e ganha menos ou se quer a “jorna” completa e atreve-se com os três, disse o “manejeiro” à mãe do Rolinha. Ao ouvir a pergunta, este respondeu, de imediato, que queria fazer os “três regos”. Equipado a rigor com “canudos” de cana, enfiados nos dedos da mão esquerda, para protegê-los da lâmina afiada da foice, bainhas das calças metidas nos canos das botas altas e cardadas, para evitar as carraças e as picadelas nas pernas, e a foice na mão direita, ei-lo pronto para começar. As mulheres com quem ia ceifar eram simpáticas e amigas da mãe, conheciam-no desde pequeno mas não podiam perdoar que o “puto aprendiz” quisesse ganhar tanto como elas, por isso, ele que se preparasse que a ousadia ia sair-lhe cara.
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Cada trabalhadora colhia o grão de três regos, juntava as plantas em molhos, depositava-os ao lado do rego esquerdo e avançava o mais depressa que pudesse para que não se atrasasse das outras. Estavam habituadas, ceifavam muito e valiam o dinheiro que ganhavam, pois se assim não fosse os patrões não as queriam nos seus trabalhos. A princípio o Rolinha sentiu-se ludibriado, incapaz e com vontade de desistir. Nunca soube como aconteceu, mas quando menos esperava, viu as mulheres a afastarem-se cada vez mais e ele só ceifava picos, picos e mais picos, grão nem vê-lo. O trabalho não rendia e ele cheio de raiva, ceifava, ceifava e só via picos, cada vez mais altos. Como a planta do grão pouco mais tem que uns vinte centímetros de altura, para o ceifar é preciso andar curvado. É cortado rasteiro e vai tudo junto para a eira, pasto, picos e grão, onde só após a debulha com o trilho, a semente é separada. Apesar da manhã estar fria, o Rolinha transpirava, transpirava e ceifava sempre, tentando chegar próximo da sua companheira de rego – a mãe Rosa. De repente, tudo se iluminou. Sentiu-se leve, a voar por cima dos regos. Ceifou, ceifou e achou-se ao lado da mãe. Tinha conseguido mostrar que era um bom ceifeiro, merecia o ordenado de todas as mulheres do “rancho”, e o patrão podia contar com ele. Quando chegou a casa disse à Rosa: ò mãe, não precisava de me ceifar dois regos, bastava um e eu já me safava com aqueles picos todos. A Rosa puxou-o, deu-lhe um beijo, e disse-lhe: - Deixa lá filho, quando a mãe for velhinha, terás oportunidade de a ajudar. 9/5/2011 – dia do aniversário do Rolinha. Homenagem à mãe que já partiu há vinte e sete anos. Jota Tê
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Nosso Lar
Autor Espiritual: André Luiz I Psicografado por: Francisco Cândido Xavier I Adaptado e ilustrado por: Paulo Henriques I Com a autorização da Federação Espírita Brasileira
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CONSELHO DELIBERATIVO DA UERL
O Conselho Deliberativo da UERL – União Espírita da Região de Lisboa – irá decorrer no dia 15 de janeiro, pelas 15 horas, no Centro Espírita Eduardo Matos, contando com a presença dos Dirigentes que pertencem à Região de Lisboa.
ESTUDO DOUTRINÁRIO NA FEC
Eterna”, “…são as grandes chagas morais dos tumultuados dias da atualidade. (…) Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em longo trânsito pelas faixas das fixações tormentosas do passado donde vimos para as sintonias superiores que buscamos. Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem de obsessões, na Terra. (…) Lamentavelmente, esse grande flagelo espiritual que se abate sobre os homens e não apenas sobre eles (…) não tem merecido dos cientistas nem dos religiosos do passado como do presente o cuidado, o estudo, o tratamento que merece.” Venha assistir às nossas Palestras Públicas e aprenda um pouco mais sobre este tema! Invista no seu conhecimento! Relembramos que poderá assistir às palestras através da internet. Basta aceder a www.fec.pt.
SEMINÁRIO DA UERL
Será sempre um dos objetivos do nosso Centro Espírita divulgar os princípios básicos da Doutrina Espírita, informando e esclarecendo um número cada vez maior de pessoas. Por isso, para além das aulas de Estudos Espíritas, orientadas e dinamizadas por diversos monitores, ainda realizamos, desde há muito tempo, um Estudo Doutrinário sob a forma de palestra. Este ano, teremos como base de estudo algumas das muitas obras ditadas pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Continuaremos, como sempre, a beneficiar do trabalho mediúnico de Divaldo Pereira Franco aprofundando, simultaneamente, toda a temática relacionada com os problemas obsessivos que, tal como Manoel Philomeno de Miranda afirma, no livro “Sementes da Vida 16 A Libertação
Promover e estimular nas Instituições o interesse pelo Estudo da Doutrina Espírita é um dos muitos objetivos da União Espírita da Região de Lisboa. Por isso, os elementos que constituem esta União, realizarão mais um seminário, desta vez subordinado ao tema “A Família”. Irá decorrer no dia 18 de março, no Auditório Metropolitano de Lisboa. Para obter mais informações acerca deste assunto consulte http://www.uerl.org
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Internacional CONGRESSO ESPÍRITA NACIONAL ESPANHOL A Federação Espírita Espanhola promoveu nos dias 4, 5 e 6 de dezembro, mais um congresso espírita de âmbito nacional. O tema central foi “Mas Allá de la Vida”, uma homenagem aos 150 anos de “O Livro dos Médiuns”. O evento realizou-se no Hotel Diamante Beach, em Cale, na província de Alicante, e contou com conferências, seminários e mesas-redondas.Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira, Miguel Vera e Lola García estiveram entre os convidados. O FILME DOS ESPÍRITOS O filme dos Espiritos é uma homenagem a “O Livro dos Espíritos” e tem no elenco Nelson Xavier, Etty Fraser, Ênio Gonçalves, Ana Rosa e outros atores. Conta a história de um homem que, após perder a esposa, pensa no suicídio, mas no seu caminho cruza-se com “O Livro dos Espíritos”.
DIA DOS PAIS EM JANEIRO Dia 21 de Janeiro próximo tem lugar, na FEC, mais um Dia dos Pais - uma tarde de Sábado em que os pais são convidados a estarem presentes e participarem nas aulas de Evangelização dos filhos. CAMPANHA PLANTE UMA SEMENTE… Continua, em plena concretização, a Campanha “Plante uma Semente de Luz” 2011-12. Enquanto esperamos que floresçam as sementes de Amores-Perfeitos plantadas por pais e crianças em Outubro, a turma de Expressão Plástica vai contribuindo, com o seu trabalho, no âmbito do tema deste ano lectivo “Buscai e Achareis”, para animar o painel do corredor do nosso Centro.
ACONTECE NO JAPÃO
O 7º festival de cinema do Brasil, que aconteceu no Japão, teve entre os escolhidos para exibição o filme “Nosso Lar”,do diretor Wagner de Assis. O festival, que começou dia 16 de outubro e vai até 12 de novembro, tem lugar nas cidades japonesas de Tóquio, Osaka, Quito e Hamamatsu .
A PÁSCOA NO DIJ Para o dia 31 de Março, último Sábado de aulas antes da Páscoa, o DIJ está a organizar uma actividade especial para assinalar essa época do ano. Como tem acontecido nos últimos anos, contamos poder beneficiar da presença dos pais, junto das suas crianças e jovens, participando também nesta actividade concebida a pensar em todos. A Libertação 17
Livros
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CONFLITOS EXISTENCIAIS Autor: DIVALDO P. FRANCO Espírito: JOANNA DE ÂNGELIS Conflitos Existenciais, é uma apresentação dos vários comportamentos perturbadores para o indivíduo humano, focados à luz da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria, porém, sob o prisma da Doutrina Espírita.
ATITUDES RENOVADAS Autor: DIVALDO P. FRANCO Espírito: JOANNA DE ÂNGELIS Mais uma grande obra de Joanna de Ângelis, que nos convida a uma profunda reflexão sobre a necessidade de modificarmos o nosso comportamento para melhor. A obra compõem-se de trinta temas relacionados com conflitos humanos de variada natureza, todos analisados à luz da Doutrina Espírita, com um objectivo definido: contribuir para a aquisição da harmonia, pela mudança positiva do comportamento, levando o homem a aperfeiçoar-se moral e espiritualmente.
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TRANSIÇÃO PLANETÁRIA Autor: DIVALDO P FRANCO Espírito: MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA Estamos no limiar da grande transição, em que o nosso planeta passará da condição de Mundo de Expiação e Provas para Mundo de Regeneração. As tragédias naturais, como o tsunami do oceano Índico, fazem parte desse processo. Nesta extraordinária obra, os leitores conhecerão os mecanismos e as razões de ordem superior da transição planetária, em favor das mudanças urgentes e necessárias que promovam o respeito às leis, à ética e à Natureza, transformando o homem num ser integral, consciente dos seus deveres para com Deus, para consigo próprio e para com o próximo.
GRILHÕES PARTIDOS Autor: DIVALDO P. FRANCO Espírito: MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA Esta história narra o drama da família Santamaria, do Rio de Janeiro, onde a jovem Ester é vitimada por uma obsessão que a leva a ser internada como louca, até que os seus pais são encaminhados para reuniões espíritas.
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Nº 113 Ano XXVIII Janeiro/ Fevereiro / Março Trimestral / 2 0 1 2 Direcção Director Maria Emília Barros Director Adjunto Carmo Almeida Redacção Carmo Almeida Cátia Alexandra Caeiro Joaquim Tempero Marcial Barros Maria Emília Barros Paula Alcobia Graça Paulo Henriques Sílvia Almeida Realização Imagem Gráfica Sara Barros Montagem Zaida Adão
Revisão Carmo Almeida Mira Benedito