Libertação 143

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A Libertação 143 Boletim Fraternidade Espírita Cristã

Lisboa - Portugal

Ano XXXIV| N 143 | 1 de julho de 2019 - trimestral | PVP 5€| distribuição gratuita aos sócios


índice

colaboradores 04

O ESPÍRITO DE VERDADE (...) O “Espírito de Verdade” é alguém de relevância ao longo de todo o trabalho da Codificação, mesmo antes da publicação de “O Livro dos Espíritos” em 1857...

Carmo Almeida

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Claúdia Lucas

OS GRITOS DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU O massacre desumano, verificado ao romper do dia 24 de agosto de 1572, ficaria célebre na história mundial pelos piores motivos...

11 CARIDADE MATERIAL E CARIDADE MORAL

Isabel Costa Isabel Piscarreta

A Caridade reveste-se de mil e uma facetas, do aspeto material ao moral. Para praticá-la, basta pura e simplesmente querer...

13 SOU MÉDIUM PSICÓGRAFO... PARTE I

De todos os meios de comunicação mediúnica, a psicografia ou escrita manual é a mais simples, cómoda e, sobretudo, mais completa, porque permite que se estabeleçam relações continuas e regulares com os Espíritos...

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Francisco Ribeiro Paulo Henriques

SOLIDÃO APARENTE

Ninguém está sozinho, ou abandonado, por isso, aproveitemos as oportunidades de estarmos “sozinhos” como oportunidades de crescimento pessoal...

Paula A. Graça Sílvia Almeida

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editorial

Por | Carmo Almeida

Ser com Jesus, caminhar com o Mestre, exige de nós autenticidade e profunda honestidade moral, de pensamento e de vontade. Seguir Jesus leva-nos a conhecê-Lo, um trabalho nunca terminado mas sempre a ser melhorado. Não é saber os Seus ensinamentos, é experimentar colocá-los em cada particularidade da vida, experimentar, fazer tentativas sinceras até acertar no procedimento correto, aquele que reflete a ação do Mestre, integralmente. Só aí teremos compreendido as lições que Ele nos legou e, compreendendo, estaremos prontos para agir, tal como Ele fez. Só sendo autêntico neste lento processo de crescimento interior, nos sentiremos bem connosco mesmos. Podemos iludir os outros, temporariamente, mas a nós próprios nunca. Sabendo que iremos errar algumas vezes até alcançarmos o objetivo maior das nossas vidas, podemos manter a autenticidade dos nossos atos, permanecendo sempre dispostos e diligentes, sem ilusões acerca das próprias fragilidades mas conscientes do poder de mudar e recomeçar de firma honesta e coerente, renovando ideias e conceitos para que cada palavra, cada testemunho tragam Jesus para mais perto da humanidade, todos os dias e através de nós, aqueles que queremos mostrar ao mundo como é Jesus.

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O Espírito

de Verdade

Em princípio, a primeira vez que o iniciante nos Estudos Espíritas entra em contacto com o nome Espírito de Verdade é nos “Prolegómenos” de “O Livro dos Espíritos”, quando este, juntamente com outros Espíritos, assina aquele texto. Avançando nos estudos, voltamos a encontrar referência a esta entidade em “O Livro dos Médiuns”, parte I, capítulo IV – Dos Sistemas, item 48, mas aqui é apenas isso, uma referência. Só com a obra “O Evangelho segundo o Espiritismo” é que começamos a receber os primeiros dados para entender melhor quem é esta entidade. Nesta obra vamos encontrar sete comunicações assinadas por ele, sendo que a primeira é o prefácio da própria obra. Mais adiante, todo o Capítulo VI – O Cristo Consolador, é-lhe dedicado e vai conter mais cinco comunicações suas. A última comunicação que ele assina nesta obra encontra-se no capítulo XX – Os trabalhadores da última hora, item 5 – Os Obreiros do Senhor. Existe ainda uma última referência no capítulo XXIII – Estranha Moral. Vamos encontrar mais duas referências em “A Géne-

Por |Francisco Ribeiro

se” e sete menções ao longo dos doze anos de “Revista Espírita”. Por fim, em “Obras Póstumas”, que são textos de Allan Kardec publicados depois do seu desencarne, encontramos um diálogo entre o Codificador e o Espírito de Verdade e duas mensagens mediúnicas que lhe fazem referência. Por este breve levantamento, e ainda sem nos debruçarmos sobre o conteúdo das mensagens ou das referências que lhe são feitas, torna-se fácil concluir que o Espírito de Verdade é alguém de relevância ao longo de todo o trabalho da Codificação. Ao longo de toda a Codificação, mesmo antes da publicação de “O Livro dos Espíritos” em 1857, o Espírito de Verdade vai assumir diversos papéis, todos profundamente ligados ao desenvolvimento da Doutrina Espírita:

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Kardec Hoje

A qualificação de Espírito da Verdade, não pertence senão a um e pode ser considerada como nome próprio; ela é especificada no Evangelho. De resto, esse Espírito se comunica raramente, e somente em circunstâncias especiais…”.

O Espírito de Verdade – O Guia Espiritual A 25 de Março de 1856, em casa do Senhor Baudin, Kardec tem um diálogo com um Espírito que, de forma insistente, na véspera havia provocado diversos ruídos na sua casa. Através desse diálogo, o Senhor Rivail fica a saber que essa entidade estava desagradada com algo que ele estava a escrever, algo com que ele próprio também não estava satisfeito. Essa mesma entidade disponibiliza-se para estar à sua disposição todos os meses durante 15 minutos para esclarecimento de dúvidas. Estará, contudo, sempre à sua disposição para o assistir pelo pensamento. Quando o Sr. Rivail lhe pergunta qual o seu nome, ele simplesmente responde: “Para ti, me chamarei A Verdade.” E quando o Sr Rivail insiste quanto à sua identidade, perguntando se na Terra ele animou alguma personalidade conhecida, o espírito lhe responde: “Eu te disse que, para ti, era a Verdade; esse para ti queria dizer discrição: disso não saberás mais”,

deixando, dessa forma, bem claro que de momento esse conhecimento não lhe seria dado.(1) Em comunicações posteriores a identidade vai-se revelando! O Espírito de Verdade – O Arauto No prefácio de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Allan Kardec coloca uma mensagem assinada pelo Espírito de Verdade, indicando que ela resume “a um tempo o verdadeiro caráter do Espiritismo e a finalidade desta obra”(2). Essa breve comunicação, informa que um grande movimento de Espíritos Superiores se dirige para a Terra, sob as ordens diretas de Deus, para dar cumprimento à Promessa que Jesus fez aos seus discípulos de enviar um “consolador” que viria ensinar todas as coisas.

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(...) um grande movimento de Espíritos Superiores se dirige para a Terra, sob as ordens diretas de Deus, para dar cumprimento à Promessa que Jesus fez aos seus discípulos de enviar um “consolador” que viria ensinar todas as coisas. O Espírito de Verdade – O Orientador da Codificação Numa comunicação recebida por Allan Kardec a 14 de Setembro de 1863, encontramos o seguinte: “Nossa ação, sobretudo a do Espírito de Verdade, é constante ao teu redor, e tal que não podes recusá-la”(3), pequeno trecho deixa entrever que O Espírito de Verdade ocupa uma posição de destaque entre todos os Espíritos que trabalhavam no projecto da Codificação Espírita. O Espírito de Verdade – O Consolador Prometido Este é talvez o papel mais importante que o Espírito de Verdade assume, porque se estende muito para além dos limites temporais desse trabalho inicial, prolongando-se para o futuro da Humanidade. Referira Jesus: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Espírito de Verdade (…) que (…) vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.” (S. JOÃO, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26) Este carácter de Consolador, que é equivalente ao próprio Espírito de Verdade, está bem na forma como se dirige à Humanidade inteira, nas cinco comunicações que Allan Kardec inclui no capítulo VI – O Consolador Prometido, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Venho, como outrora, aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas.”“Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, (…) mas, que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.” “Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há-de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los.

Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados.”(4) O Espírito de Verdade é então aquele amigo que nunca nos falta. O irmão mais velho em quem podemos depositar toda a nossa confiança e todas as nossas esperanças. Então, quem será afinal o Espírito de Verdade? Umas vezes identificado como o próprio Jesus, outras como a plêiade de Espíritos que, sob a sua coordenação, trabalharam na Codificação, o certo é que ao escutá-lo podemos sem receio assumir que é o próprio Mestre que nos fala, como fica claro em mensagens publicadas por Kardec em diferentes números da Revista Espírita: “Não podeis imaginar quanto me sinto orgulhoso de distribuir a cada um de vós os elogios e o encorajamento que o Espírito da Verdade, nosso bem amado mestre, ordenou-me conferisse às vossas piedosas coortes.”- Erasto.(5) “Cada um procurará, pela melhoria de sua conduta adquirir esse direito que o Espírito da Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido.” – Hahnemann.(6) “Há várias moradas na casa de meu Pai, eu lhes disse há dezoito séculos. Estas palavras o Espiritismo veio fazer compreendê-las. E vós, meus bem-amados, trabalhadores que suportais o ardor do dia, (…) agradecei a Deus que vos dá os meios de quitar as dívidas do passado; orai, não dos lábios, mas do vosso coração melhorado, para vir tomar, na casa de meu Pai a melhor morada…” – O Espírito de Verdade.(7) “A qualificação de Espírito da Verdade, não pertence senão a um e pode ser considerada como nome próprio; ela é especificada no Evangelho. De resto, esse Espírito se comunica raramente, e somente em circunstâncias especiais…”.(8) “Ora, como é o Espírito da Verdade que preside ao grande movimento de regeneração, a promessa de seu advento se encontra do mesmo modo realizada, porque, por consequência, ele é que é o verdadeiro Consolador.”(9) Referências bibliográficas: 1 e 3 - Allan Kardec, Obras Póstumas, Parte 2ª, Cap. 3, FEB, Brasília. 2 - Allan Kardec, O Evangelho segundo Espiritismo, Introdução. 1996, 112ª ed., Rio de Janeiro: FEB. 4 - Allan Kardec, O Evangelho segundo Espiritismo, Cap. VI. 1996, 112ª ed., Rio de Janeiro: FEB. 5 – “Epístola de Erasto aos Espíritas Lioneses”, in Revista Espírita, Outubro de 1861. 6 – “Um caso de Possessão – Senhorita Julie”, in Revista Espírita, Janeiro de 1864. 7 - “O Espírito da Verdade”, in Revista Espírita, 1864, 8 - “Qualificação de Santo aplicada a certos espíritos”, in Revista Espírita, 1866. 9 – “Caracteres da Revelação Espírita”, in Revista Espírita, de 1867.


Os Gritos da Noitede São

Bartolomeu

Por |Cláudia Lucas A história da humanidade está repleta de acontecimentos trágicos e profundamente infelizes provocados pela crueldade, egoísmo e desrespeito dos próprios homens. Um desses episódios terríveis passou-se na França do século XVI e ficou conhecido como o massacre da noite de São Bartolomeu, porque ocorreu no dia de São Bartolomeu. A noite de São Bartolomeu foi um episódio da história da França na repressão ao protestantismo através do massacre planeado de milhares de protestantes tidos como “hereges” pelos católicos. Números precisos para as vítimas nunca foram compilados e até mesmo nos escritos de historiadores modernos há uma escala considerável de diferença que tem variado de 2.000 a 70.000 vítimas. O massacre dos protestantes foi engendrado pelos reis franceses, ou mais propriamente, pelo rei Carlos IX e pela sua mãe a rainha Catarina de Médicis,

que eram católicos. Catarina detinha então imenso poder em suas mãos, pois o soberano, Carlos IX, era ainda muito jovem (com apenas 22 anos), além de ser descrito como alguém fraco, enfermiço, incapaz de se impôr à rainha-mãe, embora algumas vezes colérico e dissimulado. Na realidade tratou-se de um conluio político-partidário mascarado de fé religiosa. E porquê mascarado? Porque os motivos não eram verdadeiramente religiosos, não se tratava de convicções religiosas. Simplesmente, a rainha Catarina estava muito mais interessada nas suas conveniências pessoais ou dinásticas, do que nas da própria Igreja, os seus motivos eram políticos. Ambiciosa e cruel, a mãe do rei francês, que não olhava a meios para atingir os fins, convenceu o filho a mandar eliminar o almirante Gaspard de Coligny e os seus apoiantes, a pretexto de deter um possível ataque

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Esse triste e trágico massacre marcaria até aos nossos dias aquela nação e todos os seus intervenientes, permanecendo ódios e perseguições que só o tempo e a ação do amor e da tolerância poderão dissipar.

dos protestantes, uma vez que Coligny era o líder dos protestantes parisienses. O almirante, cujos feitos náuticos ficaram célebres, era conde de Coligny, barão de Beaupont e Beauvoir, Montjuif, Roissiat, Chevignat e outros lugares e, além disso, era um influente estadista francês cuja influência junto do rei não foi vista com bons olhos pela rainha controladora, nem pela Casa de Guise - poderosa família ducal católica francesa com muita influência ao longo do século XVI. Mas para levar a cabo os seus intentos, a rainha precisava do indispensável apoio do poder espiritual, que legitimaria o massacre, com a desculpa de estar a combater os “hereges” protestantes. E a Igreja sob a responsabilidade do papa Gregório XIII acabaria por anuír. O duque Henrique I de Guise, príncipe da Lorena, aliara-se às tropas do Rei a fim de dirigir o movimen-

to, em conluio macabro de ideias, crueldades e ambições. Um facto curioso é que o rei Carlos IX só sobreviveu 2 anos após o massacre, falecendo com apenas 24 anos. As últimas palavras do rei, atormentado pela recordação da Noite de São Bartolomeu, terão sido: “Quanto sangue! Quantos crimes! Que Deus me perdoe o mal que fiz!” (1) O massacre desumano, verificado ao romper do dia 24 de agosto de 1572, ficaria célebre na história mundial pelos piores motivos. Embora tenha começado na cidade de Paris, acabaria por durar vários meses espalhando-se a outras cidades francesas (tais como, Toulouse, Bordéus, Lyon, Bourges, Ruão, e Orleães). E não apenas os desgraçados luteranos e calvinistas foram vítimas, também alguns católicos foram

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a t s i v e r

revista em

assassinados como se fossem protestantes, porque os seus assassinos ou aqueles que os denunciaram se aproveitaram do momento para desforras e vinganças pessoais. Quase totalmente indefensos, os protestantes pouco puderam reagir, atacados que foram de surpresa. “Os seus lares violados por tropas prévia e ardilosamente incitadas; suas esposas e filhas ultrajadas antes de sucumbirem sob os punhais e cutelos assassinos; suas crianças trucidadas ao estrepitar de gargalhadas que o álcool e o cheiro acre do sangue humano excitavam até os excessos de uma semiloucura; suas propriedades arrasadas pelo incêndio ou depredadas pela picareta dos fanáticos adeptos da Rainha, do Príncipe ou da Igreja; seus corpos arrastados pelas ruas em desordem de pandemónio e atirados ao Sena, ainda quentes e arquejantes; seus

cadáveres profanados, mutilados entre alaridos de blasfémias e insultos soezes, pelos soldados endoidecidos de maldade e pelos próprios oficiais da nobreza (…) — e todo esse implacável destroçamento humano pretensiosamente realizado à sombra da cruz do imaculado Cordeiro de Deus; tais violências, inconcebíveis ao raciocínio do homem moderno, haviam feito correr o sangue humano pelos declives da velha cidade do grande rei São Luís, dela fazendo vasta necrópole que para sempre a estigmatizaria! (…) E a desordem por toda parte, (…) num sopro de tragédia inesquecível e indescritível! (…) Grandes e generosos franceses de alta linhagem moral e social sucumbiram nesse dia inolvidável.”(2) Entre eles também uma honrada família cuja história é tratada na obra espírita Nas Voragens do Pecado. Pois bem, “a defesa da religião e da fé era a desculpa apresentada para o desumano extermínio cujas consequências ainda hoje não se detiveram na perseguição consciencial aos seus propulsores e executores, por intermédio da reencarnação, muito embora quatro longos séculos se sucedessem nas voragens do tempo!” (3) Esse triste e trágico massacre marcaria até aos nossos dias aquela nação e todos os seus intervenientes, permanecendo ódios e perseguições que só o tempo e a ação do amor e da tolerância poderão dissipar. Na Revista Espírita de Setembro de 1858 Allan Kardec publica um artigo intitulado Os Gritos da Noite de São Bartolomeu. Nesse artigo, apresenta uma passagem retirada de uma coletânea escrita pelo marquês Christophe Juvénal des Ursins, tenente-general do governo de Paris, lá pelos fins do ano de 1572, sobre um fenómeno relacionado com a noite de S. Bartolomeu. Nessa coletânea, o marquês descreve um episódio por ele vivenciado: “No dia 31 de agosto de 1572, oito dias após o massacre de São Bartolomeu, eu havia ceado no Louvre (…). Assentamo-nos sob uma pequena latada, às margens do rio Sena, para aspirar o ar fresco; de repente, ouvimos no ar um barulho horrível, de vozes tumultuosas e de gemidos misturados a gritos de raiva e de furor; ficamos imóveis, tomados de pavor, olhando-nos de instante em instante, mas sem coragem de falar. Creio que esse barulho tenha durado cerca de meia hora.” “Nessa mesma noite, duas horas após se haver deitado, Carlos IX saltou de sua cama, fez se levantarem os que estavam em seu quarto e ordenou verificassem o que por ali se passava, pois ouvia no ar um grande barulho de vozes a gemer, em tudo semelhante ao que percebera na noite do massacre; que


Pode-se daqui supor que alguns espíritos atingidos pelo massacre da Noite de São Bartolomeu tivessem permanecido no mesmo local em que perderam a vida, na mesma aflição que experimentaram aquando do seu desencarne, alguns até supondo-se ainda vivos.

todos esses gritos eram tão impressionantes, tão marcantes e de tal forma articulados que Carlos IX (…) enviou um destacamento de seus guardas; que os guardas informaram que Paris estava tranquila e que o barulho que se ouvia permanecia no ar.” Depois de apresentar a descrição feita no séc. XVI pelo marquês, Kardec faz apenas um pequeno comentário, não apresentando mais desenvolvimentos. N’O Livro dos Médiuns, Allan Kardec aborda o tema da Pneumatofonia que nos ajuda a compreender este fenómeno. Sabemos que os Espíritos podem produzir ruídos e pancadas, podendo igualmente fazer com que se ouçam gritos de toda espécie e sons vocais que imitam a voz humana, tanto ao nosso lado, como no ar. A este fenómeno dá-se o nome de pneumatofonia. Os sons pneumatofónicos produzem-se de duas maneiras distintas: às vezes, é uma voz interior que repercute no nosso foro íntimo, nada tendo, porém, de material as palavras, conquanto sejam claramente perceptíveis; outras vezes, são exteriores e nitidamente articuladas, como se proviessem de uma pessoa que nos estives-

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se ao lado. De um modo, ou de outro, o fenómeno da pneumatofonia é quase sempre espontâneo e só muito raramente pode ser provocado.(4) A própria história do Cristianismo está repleta de episódios em que este fenómeno ocorreu. Tanto relacionados com Jesus como, posteriormente, nas Casas do Caminho, por exemplo em Éfeso quando “Multiplicando as curas maravilhosas, Paulo, um dia, tendo imposto as mãos sobre alguns doentes, foi rodeado por claridade indefinível do mundo espiritual. As vozes santificadas, que se manifestavam em Jerusalém e Antioquia, falaram na praça pública. Esse facto teve enorme repercussão e deu maior autoridade aos argumentos do Apóstolo, em contradita aos judeus.”(5) O fenómeno de Paris trata-se assim de um fenómeno explicável e não um milagre inexplicável. “Pelo que sabemos da natureza dos Espíritos, podemos supor que, dentre eles, alguns, de ordem inferior, se iludem e julgam falar como quando vivos”.(6) Pode-se daqui supor que alguns espíritos atingidos pelo massacre da Noite de São Bartolomeu tivessem permanecido no mesmo local em que perderam a vida, na mesma aflição que experimentaram aquando do seu desencarne, alguns até supondo-se ainda vivos. Isso nada tem de estranho. Mas qual a razão para que essa gritaria se tivesse ouvido na cidade por momentos? Sabemos que estamos continuamente rodeados de espíritos e isso não faz com que os consigamos ouvir. Deus terá permitido a ocorrência desse fenómeno naquela circunstância pela sua utilidade, pois que Deus nada permite sem utilidade para o progresso geral. Possivelmente, a utilidade do fenómeno estaria em demonstrar que algo mais há para além da vida terrena e simultaneamente em fazer refletir e em apelar à consciência daqueles que tinham sido os mandatários, os executores e os apoiantes do massacre, assim como toda a população em geral. Além disso, Kardec refere que “Interrogados sobre a causa dessa manifestação, vários Espíritos responderam que era uma punição de Deus, o que é fácil de compreender.” (7) Referências Bibliográficas: 1 - Folha da Manhã, quarta-feira, 16 de setembro de 1925. http://almanaque.folha.uol.com.br/ilustrada_16set1925.htm [consultado em 10 de Janeiro de 2017] 2 e 3 - Yvonne A. Pereira/Charles (Espírito), Nas Voragens do Pecado, 1960, 4ª, Brasília: FEB. 4 e 6 – Cf. Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, itens 150-1. Brasília: FEB. 5 - Francisco C. Xavier/Emmanuel (Espírito), Paulo e Estêvão, 1942, Brasília: FEB. 7 - Allan Kardec, Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos, Setembro de 1858, Brasília: FEB. Imagens. Wikipedia, the free encyclopedia


Conversas com

Por | Isabel Costa

Jesus

A caridade material e a caridade moral

1. Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. - Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

O Apóstolo Paulo, na 1° Epístola aos Coríntios, referia-se à caridade, dizendo: ”Ainda que eu fale as línguas dos homens e até mesmo as línguas dos anjos, se não tiver caridade, sou como um metal que soa e um sino que tine; e ainda que tivesse o dom da profecia, e penetrasse todos os mistérios, e tivesse uma perfeita ciência de todas as coisas; e se tivesse toda a fé possível, capaz de transportar montanhas, se não tiver caridade nada serei. E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada servirá. A Caridade é paciente; é doce; é benigna; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se vangloria e não se irrita com nada; não suspeita mal; não se alegra com a injustiça e sim com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Agora estas três virtudes; a fé, a esperança e a caridade permanecem, mas entre elas, a mais excelente é a caridade.”

Se alguma dúvida houvesse, o Apóstolo Paulo esclarece-nos completamente: A Caridade é a Virtude das Virtudes, pois ela engloba todas as outras e está ao alcance de qualquer um, do inculto ao sábio, do rico ao pobre, do crente ao não crente, qualquer um a pode desenvolver e praticar. Universalidade e intemporalidade, são duas palavras que encontro para definir os ensinamentos de Jesus, e, nomeadamente, a virtude sobre a qual refletimos hoje - a Caridade. Ensinamento que não escolhe raças, nem classes, nem crenças, mas que está ao alcance de qualquer um que se disponha a vivenciar esse Amor que Jesus veio ensinar-nos há mais de dois mil anos e que todos os dias nos recorda: O Amar o próximo como a si mesmo, o fazer aos outros como gostaríamos que nos fizessem. Como o mundo seria um lugar mais tranquilo se os homens compreendessem a verdadeira dimensão desta simples frase, e conseguissem abarcar a extensão do Amor a que Jesus nos convida! Quanta dor e sofrimento seriam poupados! A Caridade reveste-se de mil e uma facetas, do as-

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Para praticá-la, basta pura e simplesmente querer. Basta pura e simplesmente importarmo-nos com o “próximo” e estarmos atentos às suas múltiplas necessidades.

peto material ao moral. Para praticá-la, basta pura e simplesmente querer. Basta pura e simplesmente importarmo-nos com o “próximo” e estarmos atentos às suas múltiplas necessidades. A caridade material, também chamada de beneficência, é exercida sempre que contribuímos, dentro das nossas possibilidades, para ajudar a suprimir as necessidades materiais dos mais carenciados e dos que passam por situações de vida difíceis. É sempre possível partilhar o nosso supérfluo ou mesmo, eventualmente, aquilo de que nos faz falta, para ajudar alguém. Decerto, que nos vamos sentir gratos por podermos ajudar a fazer a diferença na vida daquela ou daquelas pessoas. Foi muito, foi pouco? Não importa! Foi o que pudemos dar - de coração, com alegria e espírito solidário. O importante é que tenhamos a preocupação que o nosso gesto não humilhe quem o receba. Como dizia o Apóstolo Paulo: “A Caridade é doce.” E é isso mesmo que temos de procurar ser. Temos de dar sem ferir, sem menosprezar ninguém. Tantas vezes damos...; mas, ao mesmo tempo escapa-nos uma palavra ou outra num tom menos simpático, num gesto ou num olhar mais atravessado... enfim, pormenores que descurámos e que ensombraram o nosso gesto. Por momentos, esquecemos de nos colocar no lugar do próximo até ao fim... é a nossa falta de vigilância, mesmo quando estamos a fazer o bem! Quanto à caridade moral pode parecer mais fácil de praticar porque não implica a dádiva material, mas,

no entanto, é aquela que exige mais de nós. Requer que nos doemos, deixando de lado o nosso egoísmo, o nosso orgulho, que abandonemos as nossas zonas de conforto. É com a prática da caridade moral que nos confrontamos tantas vezes com os vícios da nossa alma. São convites que fazemos a nós mesmos para ir apagando esses resquícios dos nossos passados que precisam de ser sublimados. Diz-nos o Evangelho que caridade moral é também tolerarmo-nos uns aos outros! Realmente se olharmos à nossa volta, todos os dias temos notícias de conflitos aqui e ali, por causa de quê? Da intolerância dos homens. Há sempre alguém que quer fazer prevalecer a sua opinião em detrimento da de outrem... Perto de nós, no dia a dia, a intolerância prevalece também: no trânsito, na fila do transporte, na repartição, no supermercado, no emprego... até mesmo em família. Estas são situações em que somos postos à prova, até onde já somos capazes de compreender a tal caridade moral que nos diz que tantas vezes há grande mérito em saber calar na hora certa, para evitar confrontos maiores; em saber fazer-se surdo, quando algumas palavras de menosprezo são ditas para nos atingirem; em saber fazer-se cego perante sorrisos desdenhosos; enfim, em saber lidar com as situações de forma a evitar a intolerância que não conduz a parte alguma. Habituemo-nos a pensar sempre antes de agir, mais ainda se essas ações puderem implicar reações menos dignas. Podemos praticar a caridade por pensamentos, orando por aqueles que necessitam. A nossa prece é energia, energia essa que os bons Espíritos saberão canalizar para os destinos certos e da maneira certa. Podemos praticar a caridade por palavras, ao darmos bons conselhos, ao tentarmos transmitir àquele que está aflito, o consolo, o alento e a esperança; ao mostrarmos a nossa disponibilidade para os ouvirmos, para compreendermos as suas necessidades e para os ajudarmos a encontrar as soluções para os seus problemas. É um sorriso que deixamos aqui, é um abraço que distribuímos ali, é um pouco do nosso tempo, do nosso saber que damos para ajudar quem precisa, quem está ao nosso lado e a única coisa que nos pede é um pouco de atenção! Mas, em qualquer circunstância, é sempre muito importante que a nossa retórica corresponda à nossa prática, para que verdadeiramente as pessoas possam acreditar em nós e nos tenham como fiáveis.

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Sou

Por |Isabel Piscarreta

médium

psicógrafo… parte I

Se porventura verificar ocorrer-lhe com alguma regularidade uma das três situações: sentir uma impulsão automática sobre a sua mão que o impele, à revelia da sua vontade, a escrever riscos insignificantes, caracteres nítidos ou até mesmo mensagens, sem que tenha a menor consciência do que escreve; ou, receber uma sequência de ideias no seu pensamento que parecem ser-lhe ditadas por outra inteligência, em torno de um determinado tema não preconcebido, que excede, por vezes, o âmbito dos seus conhecimentos e que pode transcrever voluntariamente; ou se, durante a receção desse ditado mental, suceder-lhe sentir uma impulsão automática sobre a sua mão para o transcrever involuntariamente, mas com uma total consciência do que escreve à medida que as palavras se formam no seu pensamento… Caso reconheça ser um intermediário numa destas três variedades de escrita manual, pode, por conseguinte, afirmar-se que é um médium escrevente ou psicógrafo; ou seja, possui a faculdade de escrever sob a influência dos Espíritos. De todos os meios de comunicação mediúnica, a psicografia ou escrita manual é a mais simples, cómoda e, sobretudo, mais completa, porque permite que se estabeleçam relações tão continuas e regulares com os Espíritos como as que existem entre nós; o que permite apreciar-lhes melhor a sua natureza e o grau de inferioridade ou de aperfeiçoamento. E como se caracterizam e diferenciam as três variedades de médiuns escreventes ou psicógrafos? Médium Mecânico Quando o Espírito comunicante exerce uma impul-

são automática sobre a mão do médium, impelindo-o a escrever o seu pensamento, involuntariamente, num estado de total inconsciência sobre o que escreve - estado este que torna esta faculdade preciosa, por excluir qualquer dúvida a respeito da independência do pensamento do médium. Médium Intuitivo Quando o Espírito comunicante atua sobre a alma do médium, com a qual se identifica, transmitindo-lhe previamente o seu pensamento sobre um determinado tema que o médium transcreve voluntariamente com perfeita consciência. Mas, sendo assim, dir-se-á, nada prova que seja um Espírito estranho quem escreve e não o próprio médium. Efetivamente, a distinção torna-se, por vezes, difícil de fazer. Um pensamento sugerido torna-se identificável por não ser preconcebido ou muitas vezes diferir da ideia prévia do médium e exceder, até, o limite dos seus conhecimentos. Médium Semimecânico Quando o Espírito comunicante exerce uma impulsão automática sobre a mão do médium, impelindo-o a transcrever o seu pensamento, involuntariamente; porém, neste caso, o médium tem uma total consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam no seu pensamento. Estes médiuns são os mais numerosos. (1) Se é médium psicógrafo, procure o esclarecimento e o auxílio num Centro Espírita. (Continua) Referências Bibliográficas Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. XIV, item 178, 179, 180, 181.

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Solidão Aparente Por |Francisco Ribeiro “Ninguém está sozinho” é um jargão comummente usado, especialmente no meio espírita. Normalmente usado em situações em que alguém com quem conversamos se sente mais só. Mas poucas vezes paramos para pensar nas implicações de semelhante verdade. Estar “sozinho” pode ter efeitos benéficos e até propiciar situações que não acontecem quando estamos rodeados de pessoas, tal como nos conta Ramiro Gama no livro “Lindos Casos de Chico Xavier.” “Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier e o Chico. Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras, desapareciam como por encanto. Perácio e senhora, contudo, precisavam transferir-se para Belo Horizonte por impositivos da vida familiar. O grupo ficou limitado a três companheiros. D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa pas-

sou a contar apenas com os dois irmãos. José, no entanto, era seleiro(1) e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe vendia couros, credor esse que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento. Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a frequência ao grupo, pelo menos, por alguns meses. Vendo-se sozinho, o Médium também quis ausentar-se. Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe e disse: - Você não pode afastar-se. Prossigamos em serviço. - Continuar como? Não temos frequentadores... - E nós? - disse o espírito amigo. - Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros. E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimento e consolo. Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho. Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto. Em seguida, abria o “Evangelho Segundo o Espiritismo” ao acaso e lia essa ou aquela instrução, comentando-a em voz alta. Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez. Via e ouvia dezenas de almas desencar-

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nadas e sofredoras que iam até ao grupo, à procura de paz e refazimento. Escutava-lhes as perguntas e dava-lhes respostas sob a inspiração direta de Emmanuel. Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho... E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextas-feiras.”(2) Esta história lembra-me uma outra que me foi contada há alguns anos por Maria Euny(3) no 1º “Curso de Capacitação do Trabalhador Espírita” em Leiria. Nessa oportunidade falava Maria Euny sobre a importância do “Estudo do Evangelho no Lar” e relatou o caso de um companheiro de trabalho que fazia o estudo em casa a sós, pois ninguém da família o acompanhava. Passado algum tempo, tal como Chico Xavier, desistiu da “reunião”, mas não sendo médium ostensivo, não teve a visita pronta do mentor espiritual para o alertar que eles, Espíritos, também precisam das reuniões dos reencarnados. Acontece porém que este irmão integrava uma equipa de trabalhos mediúnicos e na reunião seguinte manifestou-se um Espírito muito aborrecido. Explicou-lhe que ele, o reencarnado, era o líder, o cacique(4), de uma tribo de índios da Amazónia e tinha reencarnado espírita para ajudar os seus irmãos de tribo a aprender sobre Doutrina Espírita e que as aulas de estudo eram, entre outros momentos, o seu “Estudo do Evangelho no Lar”. E por isso é que o Espírito estava aborrecido, pois a interrupção daquele momento em que o irmão reencarnado estava a “sós”, era na verdade uma das aulas daquele grupo. O nosso irmão retomou então os momentos de estudo, desta vez, consciente de que estava a falar para um grupo amplo, falava durante quase uma hora, explorando o Evangelho em diversos ângulos e procurando explicar as passagens de forma simples e clara. Para quem o visse da rua, era um coitado que falava sozinho, mas ele sabia que a sua solidão era só aparente. Assim se dá connosco nas nossas vidas. Em todos os momentos, a nossa solidão é apenas aparente. Afastados do mundo ou sozinhos no meio da multidão, estamos constantemente rodeados de Espíritos. Uns acompanham-nos procurando auxiliar-nos nos nossos labores diários, outros vêem-nos como alunos mais velhos na escola da evolução espiritual e procuram aprender com os nossos exemplos, outros ainda têm objetivos menos saudáveis em relação a nós por

diversos motivos e outros, ainda, seguem-nos apenas porque, por algum motivo, se interessaram por nós. Se perante os nossos Mentores estamos na posição de auxiliados e cooperadores, perante todos os demais estamos, nas felizes palavras de Emmanuel, “sentados na cadeira do exemplo”. Analisando em particular os dois casos que apresentamos, verificamos que no caso do Chico Xavier a ausência de estímulos “materiais” permitiu ao médium uma maior sintonia com o Plano Espiritual, o que propiciou o desenvolvimento da sua vidência para níveis que talvez não fossem alcançáveis sem essas circunstâncias. O mesmo se pode dar connosco. O facto de estarmos materialmente sozinhos pode levar ao desenvolvimento de faculdades ou capacidades cognitivas que não se desenvolveriam num ambiente de estímulos constantes. Não significa que devamos procurar a vida de eremita como fizemos no nosso Passado, pois é somente em sociedade que a fibra do Espírito é posta à prova e se tempera, libertando-se da inferioridade que ainda possui. Significa que tudo na vida tem o seu fim útil, e se a vida social é importante, são igualmente importantes os momentos em que nos encontramos a sós connosco e podemos refletir e pensar sem “distrações”. Já o segundo caso remete-nos para o quanto podemos ser úteis em todos os momentos, mesmo naqueles em que aparentemente ninguém nos escuta. Sentados constantemente na cadeira do exemplo, importa lembrarmo-nos que nos encontramos na posição dos servos a quem o Senhor entrega as moedas para as investirem. Desejamos fazer algo de útil com os recursos que o Senhor nos ofereceu e contribuir para a evolução e esclarecimento dos nossos irmãos, ou somos como o servo medroso que temendo o peso da responsabilidade enterra a moeda na terra para que ela não se perca? Ninguém está sozinho, ou abandonado, por isso, aproveitemos as oportunidades de estarmos “sozinhos” como oportunidades de crescimento pessoal e de auxílio àqueles que não são vistos com os olhos da carne, confiantes no sempre presente amparo de Deus. Referências: 1 – Fabricante ou vendedor de selas, selins e arreios. 2 – Ramiro Gama, Lindos Casos de Chico Xavier, item 29, pág. 52. 3 - Maria Euny Herrera Masotti, trabalhadora do movimento espírita brasileiro, ligada à Federação Espírita Brasileira, e à época responsável pelo departamento de “Assistência Espiritual” da FEB. 4 - “Cacique é um termo usado para designar o índio que é responsável por uma tribo indígena. O cacique é uma espécie de “chefe” político da tribo, responsável por organizar e cuidar de questões referentes aos índios, como o modo de vida, os rituais e até mesmo punições.” In https://www.significados.com.br/cacique/ [consultado em 8 de Junho de 2019]

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notícias

23º CONCESP - A Paz começa em mim No dia 26 de Maio passado, a FEC esteve em Águeda, na Pousada Quinta do Louredo, para participar em mais um Encontro Nacional das Crianças Espíritas. Os nossos meninos apresentaram a pequena dramatização “A árvore pequenina”, uma história escrita pela turma do 2º Ciclo da Infância. ESTUDOS DE VERÃO FEC Este ano a FEC, nos Estudos de Verão, está a realizar um workshop intitulado “Renovar a Vida - Vantagens do tempo; segundo Emmanuel e André Luiz”. Como funciona? As cinco “oficinas de renovação” são semanais, proporcionando uma descoberta de si, em relação com o tempo atual, enquanto espírito imortal... A quem se destina? “A todos os que desejam valorizar a vida e aproveitar as vantagens do tempo.” - Emmanuel Metas: • Reconhecimento de problemas e respetivos recursos de superação; • Capacidade de efetuar melhores escolhas, levando menos tempo a decidir entre o certo e o errado; • Conhecimento do “essencial”, segundo Emmanuel e André Luiz, para ter bons hábitos espirituais; • Início do processo de construção espiritual, de vibração positiva e de bem-estar, para deixar a “melhor pegada” nesta reencarnação. À 2ª feira, de 17 de junho a 15 de julho.

DIA DA CRIANÇA NA FEC No dia 1 de Junho passado, as crianças e jovens comemoraram o Dia da Criança, que coincidiu com o último dia de atividades deste ano letivo. Foi preparado um lanche, confecionado pelas várias turmas, que incluiu salame de chocolate, espetadinhas diversas e salada de frutas, entre outras iguarias. No final, os pais foram também convidados e terminamos em festa mais esta etapa de trabalho.

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ESTUDO DOUTRINÁRIO – “A minha paixão por…” A partir de dia 30 de junho e até ao final de julho inicia-se um Ciclo de Palestras com o título “A minha paixão por…”, durante o qual cada expositor apresentará um tema que ele mesmo escolher, de acordo com as suas preferências e interesses, naturalmente analisado à luz da Doutrina Espírita.

REINÍCIO DAS ATIVIDADES – Ano letivo 2019/20 Palestras de Estudo Doutrinário - 8 de setembro. Aulas de Estudos Espíritas para os adultos - 9 de setembro. Integração no Centro Espírita - 10 de setembro. Aulas DIJ – crianças e jovens – 14 de setembro. ANIVERSÁRIO - 91 ANOS FEC A FEC vai comemorar o seu 91º aniversário no dia 28 de Setembro de 2019, com a realização de um colóquio com o tema “Espiritualidade do Futuro” .

Por |Paulo Henriques

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Por |Paula Alcobia Graรงa

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horário Fraternidade Espírita Cristã

2ª Feira Os Estudos regulares reiniciam a 9 de setembro Workshop “Renovar a Vida - Vantagens do Tempo - Segundo André Luiz e Emmanuel” (de 17 de junho a 15 de julho) 3ª Feira Encerra de 23 de julho a 3 de setembro Integração no Centro Espírita 17h00 - 19h00 (Atendimento individual com inscrição prévia) 5ª Feira Encerra durante o mês de agosto A receção abre às 16h30 Abertura e Assistência Espiritual (Passe)- às 17h30 Momento de reflexão e Assistência Espiritual (Passe) - às 18h45 Momento de reflexão e Assistência Espiritual (Passe) - às 19h30 K Iniciação (Iniciação ao Estudo da Doutrina Espírita) - 19h30 - 20h30

A Libertação Nº 143 Ano XXXIV julho/agosto/setembro 2 0 1 9 Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão Rua do Vale Formoso de Cima, nº 97A 1950-266 Lisboa, Portugal Nº de Contribuinte 501091670 Nº de Registo na ERC 109883 Nº de Depósito Legal 10.284/85 ISBN 0871-4274 Direção Diretor - Maria Emília Barros Colaboradores Carmo Almeida Cláudia Lucas Francisco Ribeiro Isabel Piscarreta Isabel Costa Paula Alcobia Graça Paulo Henriques Sílvia Almeida

Sábado Reinicia a 14 de setembro Aulas de Evangelização Infantojuvenil e Atividades Complementares Estudo Básico das Obras de André Luiz

Periodicidade Trimestral Tiragem 500 exemplares

Domingo Encerra de 28 de julho a 1 de setembro Palestra de Estudo Doutrinário e Assistência Espiritual (Passe) - 17h00 - 18h30 Atendimento Fraterno -18h00 - 18h30 (Palestra com transmissão vídeo on-line em direto em http://www.fec.pt)

Realização Design Gráfico - Sara Barros Zaida Adão

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