A Libertação 142 Boletim Fraternidade Espírita Cristã
Lisboa - Portugal
Ano XXXIV| N 142 | 1 de abril de 2019 - trimestral | PVP 5€| distribuição gratuita aos sócios
índice
colaboradores
04 MOVIMENTO ESPÍRITA NA EUROPA E NO BRASIL O Movimento Espírita vive um momento especial na Europa, com países a criarem uma estrutura para fortalecer a divulgação da Doutrina...
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Carmo Almeida
OS MESSIAS DO ESPIRITISMO Há que distinguir os Espíritos simplesmente missionários, dos messias propriamente ditos, porque “para uns, a missão ainda é uma prova, porque podem falir, enquanto para os outros é um atributo de sua superioridade...
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Isabel Piscarreta
CONVERSAS COM JESUS
CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE
Observamos as várias descobertas, somos testemunhas dos vários avanços e somos levados a buscar a luz viva, a luz da razão que fortalece a nossa fé e que nos indica o caminho seguro da felicidade...
Francisco Ribeiro
Marta Jorge
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CHICO REVISITADO
SEGUIR ADIANTE, FAZENDO O BEM! Seguir adiante ou parar na beira da estrada, fazermos algo por nós mesmos ou resvalarmos no queixume e na inércia. São opções que tomamos nas nossas vidas, cada uma delas com resultados muito significativos e muito próprios...
Liliana Henriques
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Paulo Henriques
SOU MÉDIUM PNEUMATÓGRAFO... Este fenómeno não é espontâneo, ocorre por evocação dos Espíritos e para que sejam os Bons a comunicarem-se são requeridas as condições essenciais que caracterizam as reuniões sérias...
Nuno Sequeira
15 MEDIUNIDADE NA HISTÓRIA (...) fenómenos mais intensos começaram a acontecer: batidas fortes, móveis a serem arrastados, perturbando o lar pacato da tia que, acreditando que o menino Home tinha levado o diabo para a sua casa o pôs na rua...
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Sílvia Almeida
Paula A. Graça
editorial
Por | Carmo Almeida
É nos momentos de aflição, que não são apenas aqueles que estão relacionados com a doença, a perda ou a morte, que a alma toma maior consciência de si mesma, das suas fragilidades e da premência do pedido de ajuda sincero e confiante na resposta positiva de Deus. São os compromissos esquecidos ou não devidamente respeitados, e que arrastam a alma para a tristeza de não ter sido capaz de corresponder às expectativas – às dos outros mas sobretudo às suas próprias. São as angústias dos caminhos diários, fáceis na aparência e que se tornam num instante tortuosos, inquietantes. As frustrações assoberbantes que advêm após as realizações que se iniciam na perspetiva de serem importantes e se revelam afinal de nula utilidade, só descoberta no termo de trabalhos às vezes extenuantes. O desmoronar das ilusões, aceites ao longo de uma vida, com a revelação de uma situação a desnudar-se, dando uma perspetiva totalmente oposta à que se considerava ser a verdadeira. Dias e dias de reflexões necessárias e que o pensamento não consegue coordenar com perfeição, pelo choque emocional e físico em que tomba, gerando amargura. Deus, que conhece bem os dramas e as dificuldades de todos os Seus filhos, leva sempre em consideração a pequena verdade que cada um de nós representa. Nos instantes em que se sente que apenas Ele está do nosso lado, apenas Ele nos pode valer, a rede de comunicação espiritual que liga todos os seres recebe o nosso pedido de ajuda e de imediato coordena os trabalhadores atenciosos que colaboram no cumprimento da vontade divina na assistência ao aflito, para que nos socorram e amparem. Desanuviam-se os caminhos adensados pelo medo ou pela preocupação; desintegram-se as construções dos pensamentos de ansiedade e o sentimento de abandono é substituído por um doce envolvimento que nos vai repetindo que não se está só. Renovam-se as forças físicas, a vontade de viver é recuperada e a comprovação de que muitas apostas afinal de nada serviram é transformada em ensinamentos, substituindo os desencantos por lições de vida que nos amadurecem e educam o caráter. Orar é bom! É o alimento que dinamiza as forças da alma; a fonte onde se dissipa a sensação de vazio e voltamos a ser plenos. E o sentimento de gratidão, que se instala e ilumina o ser, fica mais forte pela constatação de que a ajuda não faltou e nos alcançou no lugar onde pensávamos que ninguém sabia de nós.
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Movimento Espírita na
Europa e no Brasil
Por |Nuno Sequeira
Allan Kardec, após ter elaborado as Obras Espíritas, passou os últimos anos da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos amigos e simpatizantes, e também a defendê-lo dos opositores através da Revista Espírita. Estima-se que no ano da sua morte, em 1869, a Revista já contava com cerca de oito milhões de seguidores. (1) Se nesse século XIX existiam tantos seguidores da obra do Codificador, por que razão o Espiritismo não criou raízes profundas na Europa, nomeadamente em França? Conseguimos perceber, através da Revista Espírita, que Kardec estava muito empenhado na propagação do Espiritismo na Europa, mas de facto, com o passar do tempo, acabou por não ser na Europa que ele veio a florescer! Recordemos então a Revolução Francesa de 1789, quando a França se libertou da Casa dos Bourbons, e os grandes filósofos da libertação proclamaram os Direitos do Homem e do Cidadão (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). Foi em 1793, logo após a morte do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta, que a França viveu a Era do Terror liderada pelo jacobino Maximilien Robespierre que fez uso da guilhotina, chegando a matar mais de mil pessoas por dia. Muitos desses Espíritos saíram desesperados dos corpos e ficaram na
psicosfera da França em busca de vingança. (2) Allan Kardec reencarnaria pouco depois, em 3 de Outubro de 1804, contando com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo. Mais nenhum país, naquele momento histórico, reunia as condições culturais, filosóficas e científicas da França. Mas é importante realçar que, se a França reunia as condições necessárias ao momento, o Brasil preparava-se já para a segunda fase. Na verdade nada fugiu aos projetos iniciais… Tudo estava programado há muito tempo! Como nos conta o Espírito Humberto de Campos, na obra “Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho”, muitos séculos antes teria tido lugar, nas imediações da Terra, um diálogo decisivo entre Jesus, o Governador Espiritual do planeta, e o seu sociólogo, o Espírito conhecido como Helil na versão grega, ou, Hilel na versão hebraica. Nesse diálogo, Jesus manifestava a sua desolação pela incompreensão a que o Seu Evangelho era votado. Então, Helil, humildemente sugeriu: “— Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes
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Kardec Hoje
Foi em 1793, logo após a morte do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta, que a França viveu a Era do Terror liderada pelo jacobino Maximilien Robespierre que fez uso da guilhotina, chegando a matar mais de mil pessoas por dia.
ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.”(3) Ter-se-ão dirigido então para os territórios americanos do sul, na região onde se observa no firmamento o símbolo da cruz – a constelação do cruzeiro, e aí definiu Jesus que proliferaria a semente do Seu Evangelho, tão distorcido e mal tratado nos territórios Europeus. E foi assim que, algum tempo depois, o próprio Helil nasceria na Terra, em 1394, como filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre - o heróico Infante de Sagres que desencadeou todo o processo dos Descobrimentos, do qual viria a resultar entre outras coisas a “descoberta” e colonização do Brasil. É assim que a alma francesa havia de contribuir com o tesouro cultural para os primórdios da “fé raciocinada”, contudo, seria num continente jovem, em formação, com uma grande mistura de raças e caracteres, que a Doutrina se iria disseminar, especialmente, tendo em conta a falta de carmas coletivos naquela nacionalidade. São Luís, guia espiritual da França, sabendo que a mensagem de libertação havia de ser levada para a Terra do Cruzeiro, solicitou a Ismael, guia
espiritual do Brasil, que muitos daqueles Espíritos atribulados da Revolução reencarnassem no Novo Continente, a fim de que não impedissem com a sua presença o processo da paz na Europa. Simultaneamente, beneficiariam de uma psicosfera mais saudável, podendo trabalhar as suas mágoas e extingui-las além de contribuirem para a aceitação do Espiritismo naquele local, devido à sua identificação cultural com a linguagem eminentemente racional e lógica utilizada pelo Codificador. (4) Foi assim que cerca de dois milhões de franceses reencarnaram no Brasil. A par destes, muitos companheiros de Allan Kardec nas lides espíritas, nomeadamente médiuns que cooperaram na edificação do Espiritismo, retornaram ao corpo, na pátria brasileira, para darem continuidade ao programa estabelecido. (5) Foram esses Espíritos que reencarnaram em grande número no Brasil, muitos deles espíritas pela 2ª vez, e mesmo outros que conheceram a Doutrina antes do retorno ao corpo, que promo-
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veram a sua divulgação e a criação do Movimento Espírita Brasileiro. Segundo a Federação Espírita Brasileira, o Espiritismo chegou ao Brasil em 1865, portanto ainda durante a Codificação em França, através do Grupo Familiar do Espiritismo por Teles de Menezes, que registou a primeira sessão espírita nesse país (6). O Espiritismo como corpo de doutrina só chegou oficialmente por volta de 1860 com os primeiros exemplares de O Livro dos Espíritos a serem traduzidos para português. Entre os anos 1869 e 1887 foram formados vários grupos, centros e associações espíritas no Brasil. Existiram muitas personalidades importantes da sociedade brasileira que aderiram ao Espiritismo tais como Augusto Elias da Silva e Bezerra de Menezes, este último, discípulo de Ismael, que trazia como missão, criar o grande núcleo de atividades que representaria a Doutrina Espírita no Brasil. Tiveram, contudo, imensas dificuldades na divulgação da Doutrina, fruto de perseguições da igreja católica e da nobreza. Em 1884 Augusto Elias da Silva, Manuel Fernandes Figueira, Pinheiro Guedes e outros companheiros do ideal espiritualista fundaram a Federação Espírita Brasileira (FEB) que se tornou na mais importante e influente organização representativa do Espiritismo no Brasil e a nível global. (7) Então, o que aconteceu ao Movimento Espírita Europeu, nomeadamente em França, o berço da Obra? Não podemos esquecer que nos últimos 100 anos a França esteve envolvida em três grandes guerras que causaram sofrimentos e provas terríveis. Assim, fazendo uma analogia com o percurso do Mestre Jesus, da mesma forma que a semente do cristianismo foi plantada numa região que hoje detém uma minoria de cristãos, a semente do Espiritismo também foi plantada num país que hoje detém uma percentagem mínima de espíritas. O Movimento Espírita vive um momento especial na Europa, com países a criarem uma estrutura para fortalecer a divulgação da Doutrina, tais como a Bielorrússia, Polónia, e Dinamarca, e mais ativamente a Bélgica, a França, a Suíça, o Reino Unido, a Espanha e, claro, Portugal. O Movimento Espírita Português existe desde a segunda metade do século XIX, e terá surgido através de reuniões familiares de experiências mediúnicas, e de livros e revistas adquiridos por
O Movimento Espírita vive um momento especial na Europa, com países a criarem uma estrutura e organização para fortalecer a divulgação da Doutrina.
portugueses em França.(8) Portugal é, sem dúvida, o país da Europa com mais Centros Espíritas. O Brasil está hoje a ter um papel central na expansão da Doutrina Espírita no mundo, nomeadamente na Europa onde se estima que cerca de 90% dos grupos espíritas são criados por brasileiros. O Brasil, com o seu coração gigante tem criado as condições necessárias à divulgação da Doutrina Espírita, contudo, estamos todos ligados. A França foi fundamental para compilar os fundamentos básicos da Doutrina Espírita. Antes, já Portugal havia sido chamado para descobrir o Brasil e este, agora, para preservar e divulgar o Consolador… Mas o processo ainda não acabou. Diz-nos Emmanuel na obra “A Caminho da Luz” que “Espíritos abnegados e esclarecidos falam-nos de uma nova reunião da comunidade das potências angélicas do sistema solar, da qual é Jesus um dos membros divinos. Reunir-se-á, de novo, a sociedade celeste, pela terceira vez, na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada missão de abraçar e redimir a nossa Humanidade, decidindo novamente sobre os destinos do nosso mundo”(9). Aguardemos… Referências bibliográficas: 1 – Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec [consultado em julho de 2017] 2 – Cf. Divaldo Pereira Franco, Aprendendo com Divaldo, SEJA, 2002, 69-74. 3 – F. C. Xavier (Humberto de Campos), “O coração do mundo”, in Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, FEB, 1938. 4 e 5 - Divaldo Pereira Franco (Victor Hugo) Árdua Ascensão, Leal. 6 - Tiago Cordeiro, Allan Kardec e o espiritismo, uma religião bem brasileira, em https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/allan-kardec-e-o-espiritismo-uma-religiao-bem-brasileira/ [consultado em julho de 2017] 7 – www.fepnet.org.br 8 - Maria Veleda, “Os precursores”, in Fraternidade, nº 179, maio de 1978, 129-133. 9 – F. C. Xavier (Emmanuel), A Caminho da Luz, FEB, 22ª ed., 1996, 210.
Os Messiasdo Espiritismo Por | Sílvia Almeida
Na Revista Espírita de fevereiro de 1868 foram publicadas, sob o título geral “Instruções dos Espíritos”, um conjunto de comunicações mediúnicas, que embora recebidas em vários pontos do globo são, sob diversos aspetos, convergentes. Kardec organizou-as, atribuindo-lhes determinados subtítulos, dos quais tomaremos apenas dois para o desenvolvimento deste artigo: “Os Messias do Espiritismo” e “Os Espíritos Marcados” – compreendendo, ao todo, sete mensagens assinadas por diferentes entidades espirituais (1). O primeiro pormenor que importa destacar é que estas mensagens, à exceção de uma que data de 1866, foram recebidas entre 1861 e 1862 (são portanto bastante antigas relativamente à data da publicação). O segundo pormenor a tomar nota é que, a primeira mensagem publicada sob o título “Os messias do Espiritismo”, assinada pelo Espírito São José, termina com o apelo para que o seu conteúdo seja conservado em segredo até nova ordem. Esta recomendação pode ajudar a explicar por que razão esperou Kardec seis/sete anos para publicar estas mensagens, quando a Revista Espírita saía mensalmente desde 1 de Janeiro de 1858. E digo ajudar a explicar porque, na verdade, não o explica totalmente, como veremos de seguida. Muitas informações provenientes dos Espíritos, sem qualquer tipo de recomendação relativamente à sua divulgação, foram reservadas por Kardec até que a universalidade do ensinamento mostrasse a sua credibilidade. De resto, a universalidade é a base da formulação de todos os princípios da Doutrina, como ele mesmo refere na Introdução dO
Evangelho segundo o Espiritismo, fazendo referência ao “Controlo Universal do Ensinamento dos Espíritos.” (2) A seguir ao filtro da razão - defende ele - o primeiro a que deve ser submetido, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos e que leva a rejeitar liminarmente aquilo que contrarie o bom senso, por mais respeitável que seja o nome que assine a mensagem, a única garantia é a “concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.” Diz Kardec que, “a experiência prova que, quando um novo princípio deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao fundo.” Seguindo este método, continua, e “recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece.(…) É assim que, estudando atentamente as comunicações recebidas de diversos lugares, (…) reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que há uma tendência para entrar numa nova via, e que chegou o momento de se dar um passo à frente. (…) É esse o movimento geral que observamos e estudamos, com a assistência dos nossos guias espirituais, e que nos ajuda a avaliar a oportunidade de fazermos uma coisa ou de nos abstermos.” (3) Chegados a 1868, eis então que são divulgadas as revelações que haviam sido feitas pelos Espíritos anos antes, sendo que, o próprio Kardec explica, em
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Além dos Messias principais, Espíritos de elite surgirão em todas as partes (…) agirão de comum acordo sob o impulso do pensamento superior...
nota, que estas são apenas algumas de um conjunto muito mais vasto de comunicações, concordantes entre si, recebidas em diversos centros espíritas de França e do estrangeiro. Dado que em todos os lugares se sentiu a necessidade de não as divulgar anteriormente, se agora são publicadas é que “é chegado o momento de levar o facto ao conhecimento de todos, e porque é útil para os Espíritas saber em que sentido se pronunciam os Espíritos em maioria.” No mês seguinte, respondendo a algumas questões enviadas pelos leitores, relativamente a estas mesmas comunicações, esclarecerá que então lhe pareceu o tempo certo de esclarecer alguns enganos que começavam a generalizar-se e que decorriam de detalhes particulares de certas comunicações ou de interpretações demasiado literais, sendo indispensável “dar a conhecer o verdadeiro sentido com que esta revelação era entendida pela maioria dos Espíritos, retificando, assim, pelo ensinamento geral, o que o ensinamento isolado podia ter de parcialmente defeituoso.” (4)
Chegamos, assim, às duas primeiras lições a tirar. A primeira tem a ver com o uso da razão - a utilização dos recursos do intelecto que Deus nos deu, para lidarmos com todas as situações da vida, nomeadamente no que respeita às comunicações espíritas (relativamente às quais tendemos, por vezes, a deixarmo-nos guiar pela emoção ou por um sentimento místico). A segunda lição diz respeito à prudência a ter relativamente a tudo o que provém do Mundo Espiritual, quer se trate de uma comunicação recebida num grupo mais ou menos familiar, quer se trate de uma publicação que chegue do exterior. Na verdade, sob a alçada da Doutrina Espírita surgem hoje não só uma vastidão de produções literárias de conteúdo duvidoso, como um conjunto de teorias que de algum modo se desviam da essência doutrinária, sob pretexto de a atualizarem ou renovarem os seus conteúdos (5). Aquilo que cabe aos espíritas fazer fica bem enunciado em tudo aquilo que já foi dito: utilizar a razão e o bom senso, comparar com os princípios doutrinários e, caso não viole nenhum destes parâmetros, aceitar com reserva até confirmação universal. Ter fé não é, pois, aceitar sem questionar tudo o
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a t s i v e r
revista em
que provem do Mundo Espiritual, é saber que nunca estamos desamparados, mas que Deus conta que utilizemos os recursos que nos deu para nos podermos defender quando temos o poder de o fazer nas nossas mãos – e é esse o caso! (6) Quanto ao conteúdo destas comunicações propriamente dito, é profundo e muito interessante. Transcreveremos apenas alguns excertos para ficarmos a conhecer alguns pontos centrais: “Foi-vos dito que um dia todas as religiões se confundirão numa mesma crença; ora, eis como isto ocorrerá. Deus dará um corpo a alguns Espíritos superiores, e eles pregarão o Evangelho puro. Um novo Cristo virá; ele porá fim a todos os abusos que duram há muito tempo, e reunirá os homens sob uma mesma bandeira. (…)” (São José, Sétif, Argélia, 1861) “De tempos em tempos, assim, vêem-se elevar-se, acima do comum dos homens, seres que, como faróis, os guiam no caminho do progresso, e lhes fazem transpor, em alguns anos, as etapas de vários séculos. O papel de alguns está limitado a um país ou a uma raça; (…) mas há outros cuja missão é agir sobre a Humanidade inteira, e que não aparecem senão nas épocas mais raras que marcam a era das transformações gerais. Jesus Cristo foi um desses enviados excecionais; do mesmo modo tereis para os tempos chegados, um Espírito superior que dirigirá o movimento do conjunto, e dará uma coesão poderosa às forças esparsas do Espiritismo.” (Baluze, Paris, 1862) “Eis uma pergunta que se repete por toda parte: O Messias anunciado é a mesma pessoa do Cristo? (…) Se o Messias, do qual falam essas comunicações, não for a personalidade de Jesus, é o mesmo pensamento. (…) Mas não creiais que esse Messias esteja só;
haverá vários deles que abraçarão, pela posição que cada um ocupará no mundo, as grandes partes da ordem social: a política, a religião, a legislação, a fim de fazê-las concordar com o mesmo objetivo. Além dos Messias principais, Espíritos de elite surgirão em todas as partes (…) agirão de comum acordo sob o impulso do pensamento superior.” (Lacordaire, Paris, 1862) “Há muitos Espíritos superiores que concorrem poderosamente à obra regeneradora, mas nem todos são messias. (…) Os Messias, seres superiores chegados ao mais alto grau da hierarquia celeste, depois de terem chegado a uma perfeição que os torna, doravante, infalíveis e acima das fraquezas humanas, mesmo na encarnação. (…) Verdadeiros representantes da Divindade, da qual têm o pensamento…” (Êxtase sonambúlico, Paris 1866) “Venho, meus amigos confirmar a esperança dos altos destinos que esperam o Espiritismo. Esse glorioso futuro que vos anunciamos será realizado pela vinda de um Espírito superior que resumirá, na essência de sua perfeição, todas as doutrinas antigas e novas e que, pela autoridade de sua palavra, unirá os homens às crenças novas.” (São Luís, Paris, 1862) Estas revelações surpreendentes, mais ainda na altura em que foram publicadas, começam hoje a encontrar correspondência nos relatos que os benfeitores da Humanidade vão enviando para a Terra através dos médiuns. Sabemos que muitos Espíritos, alguns descomprometidos com os carmas da Terra, para aqui poderem mais livremente desempenhar as missões de que estão incumbidos, vêm às dezenas, talvez mais, diariamente, como estrelas cadentes, ingressar em reencarnações terrenas (7). Vêm, como referem estas mensagens, secundar o trabalho dos messias, em áreas mais particulares, enquanto o seu trabalho será mais geral. Como refere Kardec, nas explicações que acrescenta na Revista de Março de 1868, há que distinguir os espíritos simplesmente missionários, dos messias propriamente ditos, porque “para uns, a missão ainda é uma prova, porque podem falir, enquanto para os outros é um atributo de sua superioridade. Tais serão os messias do Espiritismo”. Qual o modo como se desenvolverá a sua missão? Não o sabemos! Sabemos que terá longo alcance e que envolverá a generalização das ideias espíritas que, na verdade, não pertencem ao Espiritismo, mas antes são universais. Kardec assegura que tudo acontecerá sem prodígios especiais, de modo muito natural, “quadro
acrescenta, relativamente ao séc. XX: “que poderá ser chamado o século dos messias” (9). Ter-se-á enganado neste ponto?... O Espiritismo prepararia o terreno… (10) estará ele já devidamente adubado? Parece que não! Mas a quem compete fazê-lo? Aos que vêm antes, remover as pedras e preparar o solo. A todos nós!
“
...utilizar a razão e o bom senso, comparar com os princípios doutrinários e, caso não viole nenhum destes parâmetros, aceitar com reserva até confirmação universal. um pouco prosaico (que) talvez faça caírem algumas ilusões; mas é assim que as coisas se passarão, muito naturalmente”. Estarão já por aí reencarnados alguns desses messias, sem que saibamos? Serão muitos ou poucos (8)? De acordo com estas previsões haverá vários, o que, segundo Kardec, não é de estranhar dada a dimensão da tarefa que é de “regeneração da Humanidade inteira”. Quanto a estarem já por cá não o sabemos nem temos como saber. Uma coisa sabemos, a sua ação não passará despercebida, depois de concluída a sua missão. Se um deles terá supremacia? Se é Jesus que regressa ou outro da mesma craveira evolutiva? “É ainda o que pouco importa, o que até seria perigoso saber antecipadamente.” O que importa é o pensamento que eles vêm trazer à Humanidade e tornar geral – o pensamento divino. O mesmo pensamento que o Espiritismo nos oferece, mas mais aprofundado. O que espera Deus de nós? O que espera de nós essa vasta equipa da qual Jesus faz parte, coordenada para servir a vontade e o pensamento divino, para trabalhar em proveito da Humanidade? Kardec acreditava que era “sobretudo o século vinte que (veria) florescerem os grandes apóstolos do Espiritismo”. E é verdade que muitos nele laboraram: Bezerra de Menezes, Francisco Cândido Xavier com Emmanuel, Divaldo Franco e Joanna de Ângelis, só para citar alguns dos mais sonantes. Mas o Codificador
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Referências bibliográficas: 1 - Allan Kardec, “Instruções dos Espíritos”, in Revista Espírita, fev. 1868. 2 e 3 - Ver Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, Ponto 2. 4 - Allan Kardec, “Comentários sobre os messias do Espiritismo”, in Revista Espírita, março 1868. 5 - Esta é, inclusivamente uma situação que causa alguma preocupação aos espíritos benfeitores, encarregues de auxiliarem os trabalhos espíritas na Terra, como vemos repetidamente referido, por exemplo na obra “Perturbações Espirituais”, na qual o Espírito Manoel Philomeno de Miranda nos alerta para a proliferação de teorias esdrúxulas, supostamente de origem mediúnica, mas que têm muitas vezes na base interesses específicos dos médiuns ou dos grupos em que estes se inserem, interesses esses que são potenciados pelos Espíritos da sombra, empenhados em destruir a Doutrina Espírita, dando-lhe má reputação através destes e de outros processos. Ver Divaldo Franco (Manoel Philomeno de Miranda), Perturbações Espirituais, Salvador 2015. 6 - Lembro-me, por exemplo, de uma entrevista para o Portal Ser, dada recentemente por Divaldo Franco, na qual ele relata o episódio em que recebia uma mensagem da sua mãe. Uma mensagem de 33 páginas, psicografada por Chico Xavier. Acontece que, entre várias referências que atestavam a identidade do Espírito comunicante, uma havia que Divaldo desconhecia totalmente. Tratava-se da referência a uma amiga de determinada cidade de quem ninguém próximo de Divaldo alguma vez ouvira falar. O seu primeiro pensamento foi: “Chico não se engana!... Mas eu nunca ouvi falar desta pessoa… preciso tirar isto a limpo!”. Então procurou confirmar junto de conhecidos da cidade que era referida a existência dessa pessoa e ninguém conseguiu descobrir nada. Só ao fim de três meses, nos registos de óbito foi possível por fim desvendar o mistério, porque eles procuravam nos arquivos errados. Com as reorganizações administrativas do território, a referida cidade tinha passado a pertencer a uma outra Prefeitura, o que não se verificava na época em que essa senhora vivera: mistério resolvido. Mas é curioso constatar que Divaldo não descansou enquanto não pôde confirmar a informação, mesmo vindo por meio de Chico. Cá estão as recomendações de Kardec colocadas em prática. A responsabilidade e o esclarecimento, não nos tornam mais crédulos, tornam-nos mais cautelosos e mais preparados para usar o livre arbítrio. Ver http:// www.portalser.org/podser/podser-029-divaldo-pereira-franco/ 7 - Divaldo Franco, Transição Planetária, Salvador 2010. 8 e 9 - “Quantos serão esses messias? Uns dizem três, outros mais, outros menos, o que prova que a coisa está nos segredos de Deus.” Allan Kardec, “Comentários sobre os messias…”. 10 - “Sendo o Espiritismo o principal elemento regenerador, importava que o instrumento estivesse pronto, quando vierem os que dele devem servir-se. É o trabalho que se realiza neste momento e que os precede de pouco. Mas antes, é preciso que a grade tenha passado pelo chão, para o purgar das ervas parasitas, que abafariam o bom grão.” Idem.
Conversas com
Jesus
Candeia Debaixo do Alqueire Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; - pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente. (S. LUCAS, cap. VIII, vv. 16 e 17.)
Por | Marta Jorge Alqueire era uma palavra que designava originalmente uma antiga medida em formato de caixa. A expressão que hoje analisamos “Não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um alqueire” parece-nos de facto lógica, uma vez que ninguém acende uma candeia para no momento a seguir colocá-la dentro de uma caixa, anulando o seu efeito que é o de iluminar. Por outro lado, sentimos certa admiração quando estabelecemos um paralelismo entre esta expressão e a forma como Jesus se dirige aos homens. Se por um lado verbaliza que a candeia deve ser colocada num sítio que ilumina a todos, ou seja, que o conhecimento deve chegar indistintamente a todos, como o demonstrou de forma clara, explícita e sem ambiguidade, quando, por exemplo, se refere à prática da caridade: “Fora da Caridade não há Salvação”, por outro lado, Jesus oculta frequentemente o verdadeiro sentido das Suas palavras, sob o véu da alegoria, quando toca aos aspetos de certo modo abstratos dos Seus ensinamentos, o que parece uma contradição. Mas, na verdade, Jesus não é contraditório. Ele explica aos seus Apóstolos que comunica com os homens através de parábolas, porque estes não têm capacidade para compreender outro tipo de conceitos mais abstratos. Refere Allan Kardec nesta mensagem que: “Jesus procedia com o povo como se faz com as crianças cujas ideias ainda não estavam desenvolvidas”. Relativamente aos Apóstolos, Espíritos mais adian- 11 -
tados e esclarecidos, capazes de compreenderem esses conceitos mais abstratos, Jesus limitava-se a dizer que: “Àqueles que já têm, ainda mais será dado”. Jesus tinha muito cuidado na forma como se expressava, tendo sempre em conta a quem o fazia, pelo que os ensinamentos eram sempre transmitidos de forma proporcional à inteligência do seu público; caso contrário, a luz da candeia ou luz do conhecimento podia deslumbrar as pessoas, sem as esclarecer convenientemente. Por outro lado, a Sua exemplificação diária da caridade e da humildade, como regras de conduta que todos deviam seguir, confirma mais ainda a clareza da Sua pedagogia - a do exemplo -, na transmissão dos conhecimentos. A sabedoria da Providência Divina constata-se na história da Humanidade. Observamos as várias descobertas, somos testemunhas dos vários avanços e somos levados a buscar a luz viva, a luz da razão que fortalece a nossa fé e que nos indica o caminho seguro da felicidade. A Providência Divina, com todo o seu cuidado, só revela o conhecimento da verdade ao Homem à medida que este se mostra apto para compreendê-lo. Porém, o homem que detém a posse desse conhecimento quase sempre o oculta dos restantes, com o fim de dominá-los. Estes são considerados os homens que escondem a candeia debaixo do alqueire. Aqueles que a benefício pessoal escondem a verdade dos
restantes, impedindo a sua melhoria e progresso. Jesus verbaliza que não podem existir mistérios absolutos, que não existe nada secreto que não deva ser conhecido, visto que, tudo o que não se conheça, a seu devido tempo se conhecerá. Como refere esta mensagem: “(…) o que o homem ainda não pode compreender sobre a Terra, lhe será sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra ainda se encontra em pleno nevoeiro”. O Espiritismo é a luz que ilumina o homem sobre uma quantidade de assuntos que ainda estavam por compreender. Porém, estes novos conhecimentos também são revelados com prudência e à medida que o momento se torna propício, de forma a esclarecer todos por igual e a evitar que muitos despreparados se assustem e dificultem a sua propagação.
Quanto a nós, Homens em fase de crescimento intelectual e moral, só podemos agradecer todo o cuidado com que sempre fomos cercados pela Providência Divina, na revelação gradual do conhecimento da verdade, apesar da dificuldade que sempre demonstrámos em compreendê-la. Ao longo de todos os tempos foram enviados Espíritos evoluídos ao planeta, que com imenso amor vieram relembrar os ensinamentos de Jesus com o fim de fazer avançar a Humanidade. Muitas vezes ignorámos e prejudicámos o seu trabalho. Hoje, um pouco mais amadurecidos, compreendemos as inúmeras oportunidades e bênçãos que nos foram concedidas, restando-nos apenas agradecer profundamente e aproveitar ao máximo estes ensinamentos, para aperfeiçoamento pessoal e crescimento íntimo, rumo à felicidade.
Seguir adiante, fazendo o Bem!
Por |Francisco Ribeiro
Nas nossas vidas, no dia-a-dia, ainda presos às injunções da vida material que nem sempre corre de acordo com os nossos desejos e intenções, somos muitas vezes levados a situações que parecem desesperantes ou de difícil solução. Estes problemas surgem com diversas formas de apresentação, desde os problemas de saúde, às dificuldades económicas, passando pelas dores morais, só para enunciar alguns. Nesses momentos, num instante inicial, quando avassalados pela dimensão do problema que nos visita, é frequente esquecermo-nos do Pai e da Sua infinita Bondade, mas a ajuda nunca está longe, bastando às vezes, seguir adiante, sem vacilar. Conta-nos Ramiro Gama a seguinte história: “No escritório da Fazenda Modelo, quando datilografava uma relação para seu Chefe e Amigo, Dr. Darwin, sentiu-se mal o Chico. Algo esquisito, inexplicável, acontecia com ele. Fazia-o tremer, trazia-lhe tonteiras, apertava-lhe o coração, fazendo-o sentir até falta de ar... Acabou o trabalho, pediu licença ao Chefe e saiu. No caminho, o mal-estar aumentava. E, na suposição de que ia morrer, implorou o auxílio de Emmanuel, que lhe diz: — Caminhe, esforce-se um pouco, pois, mais adiante na curva - 12 -
do caminho, receberá o socorro. Mas, a aflição perdurava. E o Chico sentia que não chegaria em casa. Tornou a pedir o auxílio do seu bondoso Guia, e, este, tornou a pedir-lhe que tivesse calma, que esperasse, pois, alguns metros à frente, receberia o remédio de que estava carecendo. E o caro Médium, com muito esforço, caindo e levantando, conseguiu enfim chegar à curva do caminho, quase às portas da cidade. Ao seu encontro vem uma senhora, trazendo à cabeça uma bacia cheia de roupa. Vendo o Médium, alegra-se demorada e ternamente, dizendo-lhe: — Este abraço é por conta do bem que você me fez ontem. Você me deu remédio para o corpo e para a alma no passe e nos conselhos. O Chico surpreendeu-se. Era outro. Seu sofrimento desaparecera. Não sentia mais nada. Estava bom de saúde, outra vez. Recebera no abraço da irmã, tão cheia de reconhecimento pelo bem que lhe fizera na véspera, o remédio de que necessitava. A luz da gratidão afugentara a sombra de uma experimentação. No Bem está a nossa defesa, o remédio para todos os nossos males. Que a lição nos sirva!” (1) A lição deixada pelo mentor de Chico Xavier compreende diversos aspetos. Em primeiro, ponderemos no que teria acontecido se o Médium cearense não tivesse acatado o conselho do amigo espiritual e se tivesse deitado à beira da estrada, a pretexto do terrível mal-estar que o assaltava. No melhor cenário a ajuda chegaria mais tarde, pois a senhora demoraria mais tempo para chegar até ele. Mas este é o melhor cenário, pois não sabemos que caminho levava a senhora, e seria bastante possível que tomasse outro e, desse modo, não se cruzasse com o médium, o que faria com que aquela ajuda
providencial nunca chegasse. A situação é expressiva! Nas nossas vidas, os momentos em que nos sentimos a desfalecer e queremos abandonar as tarefas podem ser bastante frequentes, mas continuar adiante, prosseguir, confiar na ajuda do Alto é sempre a nossa melhor opção. Pois, tal como disse Jesus, “Ajuda-te e o Céu te ajudará.” Em ambas as situações, temos o conselho salutar de nos mobilizarmos em nosso próprio benefício, mas também temos o exercício do livre-arbítrio. Seguir adiante ou parar na beira da estrada, fazermos algo por nós mesmos ou resvalarmos no queixume e na inércia. São opções que tomamos nas nossas vidas, cada uma delas com resultados muito significativos e muito próprios. Ensina-nos Emmanuel, na sua obra “Vinha de Luz”, item 162 - “A luz inextinguível”, que o bem que praticamos, em algum lugar, é o nosso advogado em toda a parte. Neste episódio da vida de Chico Xavier temos a aplicação prática deste enunciado. Se pensarmos que o mal-estar que o afligia seria o “advogado de acusação”, então o bem que Chico tinha feito na véspera, foi o “advogado de defesa”, exercendo tão bem a sua função que a pena/aflição foi imediatamente levantada. E nesta situação, temos também em ação o livre arbítrio da irmã que Chico auxiliara. Primeiro, ela ajudou-se ao procurar a ajuda na véspera, recebendo o respetivo auxílio do Céu. E depois, no dia em que a história se passa, ao ver o Chico, escolhe abraçá-lo, cheia de gratidão, transmitindo-lhe, sem saber, os fluídos benéficos que lhe faziam falta para afastar a sua indisposição. O ato, singelo e de aparência simples, é todo o socorro necessário, mostrando-nos que o exercício do Bem ao próximo não precisa de se manifestar em grandes obras para ser eficiente. Pode manifestar-se em todos os momentos da nossa vida, num sorriso, numa palavra simpática, num gesto de respeito ou carinho. “Que a lição nos sirva!”, termina Ramiro Gama: a lição de confiar em Deus e seguir adiante, de fazer sempre o bem, em todos os lugares e de todas as formas e nunca esquecermos o quanto devemos ser gratos pelo bem que nos fazem. Referências Bibliográficas: Ramiro Gama, Lindos Casos de Chico Xavier, item 154.
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Sou
Por |Isabel Piscarreta
médium
pneumatógrafo… Caso lhe tenha sucedido deparar-se com um raro fenómeno que consistiu em ter guardado uma folha de papel em branco numa gaveta, num armário ou noutro local e, após ter rogado a um bom Espírito que se dignasse escrever um bom conselho, foi surpreendido com o traçado de sinais diversos, letras, palavras, frases ou dissertações escritas com uma substância análoga à do lápis de carvão ou de uma tinta comum, e após ter feito o despiste a qualquer tipo de fraude, confirmou não serem da sua autoria ou de outro alguém… poderemos então afirmar que é um médium pneumatógrafo, ou seja, que possui a faculdade de obter a escrita direta por parte dos Espíritos. Em que consiste o fenómeno da pneumatografia ou da escrita direta? A pneumatografia é um dos fenómenos mais extraordinários e muito raros do Espiritismo que consiste numa escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem o concurso da mão do médium e do lápis. Este fenómeno não é espontâneo, ocorre por evocação dos Espíritos e para que sejam os Bons a comunicarem-se, são requeridas as condições essenciais que caracterizam as reuniões sérias, como o recolhimento espiritual, a prece e os sentimentos de simpatia e benevolência por parte do médium e demais participantes. Este fenómeno, no entanto, pode ocorrer nos lugares mais comuns, desde que facultem o recolhimento espiritual e a concentração do pensamento. Como se dá o fenómeno da pneumatografia ou escrita direta por parte dos Espíritos? Uma folha de papel em branco, aberta ou dobrada, é colocada num dado local. Se o médium pneumatógrafo dispuser das condições morais exigidas e consoante a sua maior ou menor potência mediúnica, ao cabo de 10/15 minutos ou, às vezes mais tempo, poder-se-ão encontrar sinais, traços simples,
letras, palavras, frases ou mesmo um texto escrito na folha. Todavia, raramente as comunicações são extensas. Em geral, reduzem-se a algumas palavras ou proposições e, às vezes, até mesmo a sinais ininteligíveis. As pneumatografias têm sido dadas em todas as línguas: em grego, em latim, em sírio, em caracteres hieroglíficos, etc., mas não se prestam às dissertações seguidas e rápidas, como a psicografia ou a escrita pela mão do médium. A pneumatografia suscita uma questão: Se ao papel se juntasse um lápis, poder-se-ia pensar que o Espírito se serviria deste para escrever; mas, uma vez que tal não acontece, torna-se evidente que a escrita se formou por meio de uma substância depositada sobre ele. De onde tirou o Espírito essa substância? Para escrever dessa maneira, o Espírito não se serve das nossas substâncias, nem dos nossos instrumentos. Ele próprio fabrica a matéria e os instrumentos necessários, a partir do elemento primitivo universal (fluido cósmico universal) que, pela ação da sua vontade, sofre as modificações que permitem a produção do efeito desejado. É-lhe possível, portanto, fabricar todas as tintas, ou até caracteres tipográficos bastante resistentes para darem relevo à escrita. Quando a substância que compõe esses caracteres é examinada ao microscópio, constata-se que não é incorporada ao papel, mas simplesmente depositada na superfície, de maneira irregular, sobre as suas asperezas. Se é médium pneumatógrafo, procure o esclarecimento e o auxílio num Centro Espírita. Referências Bibliográficas: Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. VIII, item 127, Cap. XII, item 146 – 149 e Cap. XIV, item 177. Allan Kardec, “Pneumatografia ou Escrita Direta”, in Revista Espírita, agosto 1859.
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Mediunidade na
História Por |Liliana Henriques
“Não vemos, pois, no Sr. Home, mais que uma coisa: um homem dotado de uma faculdade notável. O estudo dessa faculdade é tudo quanto nos interessa e tudo quanto deve interessar a quem quer que não seja movido apenas pela curiosidade.” (1)
Mas… quem foi, afinal, o Sr. Home? Que fenómenos extraordinários produziu? Vamos iniciar pela resposta à 2ª pergunta. Segundo Arthur Conan Doyle, na sua obra “História do Espiritismo”, o Sr. Home era um médium de Voz Direta, de Psicofonia, Clarividência e de Efeitos Físicos. Mas, para estes últimos o Sr. Home tinha uma disposição natural, produzindo-os de um modo mais intenso do que se tinha testemunhado até então. Era uma mediunidade espontânea e natural, como demonstram as suas próprias afirmações sobre as suas forças mediúnicas: “ (…) Eu não exerço controlo sobre elas. Elas me usam, mas eu não as uso. Elas me abandonam durante meses e voltam com redobrada energia. Eu sou um instrumento passivo - nada mais.” (2) Sob sua influência, ouviam-se os mais estranhos e retumbantes ruídos, moviam-se corpos sólidos, nomeadamente móveis, que se levantavam, trans-
portavam-se de um lugar a outro, no espaço e à vista de todos; ele próprio levitava, elevando-se vários metros acima do chão. (3) Por vezes, marcava o teto com uma cruz, feita com um lápis, para assegurar às testemunhas que não eram vítimas de sua própria imaginação. Lord Adare, uma das pessoas que teve oportunidade de testemunhar o fenómeno de levitação, descreveu que no dia 16 de Dezembro de 1868, em Ashley House, em estado de transe, Home flutuou, do quarto para a sala de estar, passando pela janela, a setenta pés acima da rua. Quando o amigo lhe perguntou como conseguira ele fazer isso, ele pediu que se afastasse e repetiu o fenómeno. (4) Outro dos fenómenos produzidos era o de instrumentos de música tocarem sozinhos (geralmente piano ou acordeão). Ora viam-se as teclas a mexerem sozinhas, ora viam-se mãos a pressionarem as teclas, produzindo sons melodiosos, se tocassem livremente ou músicas conhecidas, pedidas pelas pessoas presentes. (5) Outro fenómeno produzido eram as aparições, de diversos graus. Estas pertenciam à classe de fenómenos mais extraordinários, na opinião de Kardec. As aparições mais frequentes eram as de mãos, que apareciam, tocavam instrumentos, escreviam, cumprimentavam, acariciavam, beliscavam; ora mais etéreas, ora tangíveis, ao ponto de se sentir o calor e a textura, mas também de deixar uma impressão visível e sensorial na parte do corpo da pessoa que essa mão pudesse beliscar ou apertar… Respondendo, agora, à 1ª pergunta, Daniel Dunglas Home nasceu em 1833 em Currie, uma aldeia perto de Edimburgo (Escócia). A faculdade mediúnica se lhe revelou desde a mais tenra infância: com a idade de seis meses, o seu berço balançava-se sozinho e mudava de lugar; em seus primeiros anos ele era tão débil que mal podia suster-se; sentado sobre um tapete, os brinquedos que não podia alcançar deslocavam-se por si mes-
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mos e vinham pôr-se ao alcance de suas mãos; aos três anos teve suas primeiras visões. (6) Aos 9 anos foi levado para a América, por uma tia. Os fenómenos continuaram com intensidade crescente, sobretudo as visões. Aos 13 anos soube da desencarnação de um amigo, pois este lhe apareceu numa visão e aos 17, em 1850, teve notícia da desencarnação de sua mãe, da mesma forma. Em breve, fenómenos mais intensos começaram a acontecer: batidas fortes, móveis a serem arrastados, perturbando o lar pacato da tia que, acreditando que o menino Home tinha levado o diabo para a sua casa, o pôs na rua. A partir de então, e nos anos seguintes, refugiou-se em casa dos amigos, passando da casa de um para a casa de outro, de cidade em cidade. A sua mediunidade desenvolve-se poderosamente e nas casas onde se hospedava realizava frequentes sessões. Multidões acorriam de todos os lados para presenciar as maravilhas que se produziam na sua presença. Chegavam homens distintos da área da ciência, da cultura, do magistério. A todos Home causava uma impressão forte, não só pela natureza dos fenómenos que produzia, mas também pelo encanto da sua personalidade. Todos o acolhiam com prazer, protegiam-no, muitos queriam adotá-lo e deixar-lhe a sua herança. Home sempre teve uma saúde delicada e a frequência de sessões levava-o muitas vezes à cama. Em 1855, devido a uma infeção pulmonar, é aconselhado pelo médico a ir para a Europa. Esteve inicialmente em Inglaterra, Itália, depois Paris, onde permaneceu algum tempo. Por todos os lugares onde passou, impressionou com a sua faculdade mediúnica. Nunca recebeu dinheiro pelas suas sessões. Dizia “Fui mandado em missão, essa missão é demonstrar a imortalidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais o receberei.” (7) No entanto, foi acolhido na intimidade pela Realeza. Foi recebido no Palácio das Tulherias, onde realizou várias sessões para Napoleão III e a princesa Eugénia. Segundo Arthur
C. Doyle (8), Napoleão III cuidou da sua única irmã e o Imperador da Rússia foi testemunha do seu 1º casamento. Ele casou duas vezes: primeiro casou com a filha de uma família nobre russa, de quem teve um filho e de quem ficou viúvo; nove anos depois casou segunda vez, também com uma senhora russa.(9) William Crookes estudou-o nas suas investigações. (10) Kardec conheceu-o pessoalmente e descreveu-o desta forma: “É um rapaz de estatura mediana, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrica; é de compleição muito delicada, de maneiras simples e suaves, de caráter afável e benevolente, sobre o qual o contacto com os poderosos não lançou arrogância nem ostentação. Dotado de excessiva modéstia, jamais faz alarde de sua maravilhosa faculdade, nunca fala de si mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta coisas pessoais, é com simplicidade que o faz (…) Diversos factos íntimos, de nosso conhecimento pessoal, provam seus sentimentos nobres e uma grande elevação de alma (…)”. (11) Arthur Conan Doyle acrescenta que “Um indício de sua elegância é que, sempre que devia confirmar os seus resultados, jamais citava nomes, a menos que estivesse absolutamente certo de que as pessoas citadas de modo algum se incomodariam em ser referidas (…) A caridade era uma das mais belas características de Home. Como toda verdadeira caridade, era secreta e só se tornava conhecida indiretamente, e por acaso.” (12) Os fenómenos produzidos pelo Sr. Home eram de natureza mediúnica, porque manifestavam a ação de uma inteligência diferenciada da do médium ou das testemunhas. Eram manifestações inteligentes porque davam sinais inequívocos de uma vontade e obedeciam a um pensamento (ex: música tocada nos instrumentos, mãos que escrevem, que acariciam, a intermitência dos próprios fenómenos). São considerados estranhos enquanto não se conhece a lei natural que a eles preside. O Espiritismo vem revelar essa lei, explicando, por consequência, o mecanismo e as condições necessárias à sua produção, sendo o estudo de O Livro dos Médiuns uma referência elementar. Referências Bibliográficas: 1, 3, 5, 6 e 11 - Allan Kardec, “Sr. Home”, in Revista Espírita, fevereiro, março e abril de 1858. 2, 4, 7, 8, 10 e 12 - Arthur Conan Doyle, História do Espiritismo, São Paulo, 2006, 169-172, 176 e 183. 9 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Dunglas_Home [consultada em janeiro de 2018]
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notícias
SOS ESPIRITUAL - NOVO FORMATO Já pode aceder ao novo formato do SOS espiritual da FEC - mensagem de consolo para auxílio espiritual à distância, agora disponível em vídeo, no nosso canal do Youtube, no nosso site www.fec.pt ou em mensagem áudio pelo telefone 218873794.
ESTUDO DOUTRINÁRIO - O LIVRO DOS MÉDIUNS Depois da conclusão do estudo da obra “O Livro dos Espíritos”, que ocupou as palestras da FEC durante os últimos anos, iniciou-se no mês de março o estudo de “O Livro dos Médiuns”, uma obra fundamental para a compreensão dos fenómenos de natureza espiritual que ocorrem com o ser humano e que encontram explicação perfeitamente racional e totalmente despida de misticismo no estudo metódico e pedagógico proposto por Allan Kardec. Por |Paulo Henriques
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Por |Paula Alcobia Graรงa
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horário
Fraternidade Espírita Cristã
2ª Feira Momento de reflexão - 19h30 às 19h45 Estudos Espíritas - 20h15 - 21h30 (Com inscrição prévia) ESDE - Fundamental I - Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - Ano I EIMECK - Estudo e Interpretação da Mensagem dos Espíritos Codificada por Kardec - Ano II Estudo Básico das Obras de André Luiz - Ano V
A Libertação Nº 142 Ano XXXIV abril/maio/junho 2 0 1 9 Nome do Proprietário e Editor Fraternidade Espírita Cristã Morada Sede do Proprietário e Editor, Redação e Impressão Rua do Vale Formoso de Cima, nº 97A 1950-266 Lisboa, Portugal Nº de Contribuinte 501091670 Nº de Registo na ERC 109883 Nº de Depósito Legal 10.284/85 ISBN 0871-4274
3ª Feira Integração no Centro Espírita 17h00 - 19h00 (Atendimento individual com inscrição prévia) 5ª Feira A receção abre às 16h30 Abertura e Assistência Espiritual (Passe)- às 17h30 Momento de reflexão e Assistência Espiritual (Passe) - às 18h45 Momento de reflexão e Assistência Espiritual (Passe) - às 19h30 K Iniciação (Iniciação ao Estudo da Doutrina Espírita) - 19h30 - 20h30
Direção Diretor - Maria Emília Barros Colaboradores Carmo Almeida Francisco Ribeiro Isabel Piscarreta Liliana Henriques Marta Jorge Nuno Sequeira Paula Alcobia Graça Paulo Henriques Sílvia Almeida
Sábado Aulas de Evangelização Infantojuvenil e Atividades Complementares 15h00 - 18h00 Assistência Espiritual para crianças e jovens (Passe) - 15h30 - 16h20 Receção Individual - 16h00 -17h00 Estudo Básico das Obras de André Luiz - Ano VIII (para adultos) - 16h30 - 18h00 (Com inscrição prévia)
Periodicidade Trimestral Tiragem 500 exemplares
Domingo Palestra de Estudo Doutrinário e Assistência Espiritual (Passe) - 17h00 - 18h30 Atendimento Fraterno -18h00 - 18h30 (Palestra com transmissão vídeo on-line em direto em http://www.fec.pt)
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