A Justiça Divina Segundo o Espiritismo Quanto tempo passamos desencarnados? Espíritas de Hoje e de Amanhã “Um cão de sonho”
Ano XXXI - Nº 127 - 1 de julho de 2015 - Trimestral - julho/agosto/setembro 2015 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS
O sentimento de gratidão torna-nos perseverantes para continuar a caminhar quando todas as forças parecem abandonar-nos. A vontade de demonstrar reconhecimento a Deus dá-nos energia para seguir uma e outra vez, pelos trilhos da vida. E pela perseverança conseguimos alcançar todos os objetivos. E tendo-os alcançado ficamos felizes. O sentimento de gratidão ilumina o coração e, ainda que rodeados pelas sombras da ignorância, passamos a ver melhor o nosso caminho, tropeçando ainda mas caindo menos. E caminhando, percorremos as estradas desenhadas por Deus para nós. E chegando em segurança ao termo da jornada ficamos felizes. Pela gratidão, pela identificação da bondade divina para com os nossos erros, fazemo-nos fortes para enfrentar o desespero. E da robustez nascida pela vontade de vencer, tornamo-nos vitoriosos. E por essa vitória que nos amadurece ficamos felizes. Por gratidão, e para demonstrá-la, passamos a falar menos e a confiar mais, tomando consciência de que é nas lições mais duras que a alma se redime e regenera. E na redenção do ser que se aprimora chega a emancipação da alma. E com essa liberdade interior ficamos felizes. Em agradecimento por tudo o que se recebe, tomamos a decisão de enfrentar inimigos e tormentas, oceanos desconhecidos e territórios inóspitos, de onde só pela força do querer sairemos com glória. E ainda que a alma apresente cicatrizes, pela gratidão que sente essas marcas são abraçadas com afeto, por representarem o testemunho vivo de tudo o que se venceu. E transformam-se na coroa de louros de triunfo do guerreiro da vida. E ficamos felizes!
julho/ agosto / setembro
Quando falamos de céu e inferno vemos os dois lados... da mesma alma! O “céu” refletido no sentimento incomparável do dever cumprido. O “inferno” como estado de alma em convulsão entregue aos conflitos consigo mesma e com o mundo. Dois lados da mesma alma, não desde sempre, não para sempre mas enquanto durar a aprendizagem iniciada pelo caminho das paixões até chegar ao “agapé”, o amor total, incondicional. Unindo-os e dando-lhes sentido, está a justiça. Não uma justiça suscetível de ser corrompida ou aplicada com base no erro ou numa visão distorcida da realidade. Mas uma justiça que tem como objetivo educar e conduzir a humanidade à felicidade. Uma justiça que se preocupa em impedir que o erro se prolongue indefinidamente. Uma justiça que consola a vítima e redime o algoz. É tão diferente da que é aplicada pelos homens que é por isso, uma justiça que só pode vir de Deus. Os dois lados da mesma alma convivem entre si. Por vezes um impera sobre o outro. O Homem, aceitando a necessidade da obediência, aprendendo o valor da mansuetude e da brandura, conquista cada vez mais espaço ao lado sombra da sua alma. E, pouco a pouco, em si mesmo extingue o lado “inferno” das vivências amargas da rebeldia, do orgulho, da prepotência, do egoísmo.
conquista de mais riquezas, de maior poder, de domínio sobre outros, de satisfação pelos desejos alcançados, pela posse de alguma coisa mais – ou de mais alguém... Chamaram-lhes dias felizes, ébrios da certeza de uma superioridade a que nada nem alguém poderiam sobrepor-se. Tinham tudo aquilo a que se propuseram obter, a qualquer preço. Quem os observava, incauto, pensava que aquelas vidas eram como céu sem dificuldades. Mas, a esses felizes da Terra, nada lhes dava paz e mais ainda mergulhavam no atordoamento de si mesmos, alimentados pelo sabor dessas vitórias que encharcavam a alma e saturavam o corpo de terríveis indisposições. Tinham adquirido para si mesmos tudo o que a vida material tem para oferecer mas movimentavam-se em segredo, no inferno das angústias, dos sentimentos de culpa, do remorso, do eco das lágrimas, da aflição das suas vítimas. Os sonos, intranquilos, palcos por onde passavam os vencidos, os dominados, os aviltados, os perdedores da dignidade. O pranto dos indefesos ecoando, acompanhando os desfiles da tristeza e nas madrugadas os vitoriosos do mundo acordavam em pânico para logo mais se entreterem com novas astúcias e meios de esquecerem as lembranças desses sonhos, repletos de inquietação.
Inferno, como se fosse céu A espada e o punhal, como meios brutais de vencer as naturais rivalidades; as conversas mantidas em surdina e carregadas de intriga, trabalhando, na sombra dos frios corredores, pelas vitórias da ilusão; a calúnia, soprada em várias direções, numa sementeira de tormentas; a pena, redigindo as duras condenações, tantas vezes de crueldade exagerada em obediência a interesses de obscura origem; e o discurso inflamado, poderoso, a liderar, a conduzir os mais ingénuos aos abismos do terror... Pareciam alegrias, chamaram-lhe vitórias. Brindaram em humana felicidade, em júbilo pela
Céu, ainda na Terra No espanto da violência que os atingia sem aviso ou piedade, indivíduos, famílias e coletividades, viram ser-lhes arrebatados, de um momento para outro, os bens, a honra, os afetos, a vida. Acreditavam na segurança dos companheiros de vida e viram-se por eles espoliados nos bens maiores da existência que são a dignidade, a confiança, o ideal, a força de viver. Todos encontraram a morte em mais ou menos tempo. Alguns morreram interiormente ainda antes que a morte física chegasse, enlouquecendo de dor e aflição.
4 A Libertação
julho/ agosto/ setembro
Chegados ao instante de confirmar que a vida prossegue, ainda que o corpo se corrompa, eram aqueles que choravam desfilando nos sonhos dos homens vitoriosos do mundo. Tinham passado por momentos de desespero indescritível, desde quando os dramas tinham chegado às suas vidas. Sentiam agora uma estranha paz. Tão estranha e desconhecida mas tão cicatrizadora de todas as feridas que os marcavam que a ela se renderam, exaustos. Passaram, em última romagem na mente dos seus algozes mas não se fixaram neles. “Vinde a mim, todos vós que sofreis” convidava uma voz branda e amiga. E eles foram. Esqueceram as traições e os roubos, o aviltar dos seus nomes e a tortura pelo afastamento dos seus afetos. Seguiram os caminhos luminosos traçados por invisível mão e após o inferno porque tinham passado, sentiram na alma o céu dos que não mais se revoltam. Inferno, como processo educativo Conjunto das experiências que o Homem mais teme: afastamento dos entes queridos, doenças, dor, fome, abandono, solidão. Chamam-lhes “inferno de vida” mas estes são os amigos que, tomando a mão da alma, a conduzem à renovação de si mesmas. Em cada um deles está o inferno criado nos dias da insensatez a pedir regeneração, a pedir claridade que extinga as recordações que, de forma difusa, invadem o pensamento e transtornam as emoções. A pobreza, como o outro lado da abundância egoísta, rasga trilhos estreitos para o esforço de cada dia na manutenção da vida material, agora parca de bens e por cuja ausência ganha a alma espaço para buscar as estrelas e os gratuitos prazeres da obra divina, com que pode deleitarse e que nunca antes tinham chamado a sua atenção. A doença, pausa obrigatória para aprender a valorizar a vida que um corpo saudável permite, afastando os abusos da força e a entrega ao vício. E a cada nova indisposição, um novo tratamento para males antigos, de desintoxicação de alma dos abusos contra a vida
alheia, contra o bem-estar dos outros. Seguir quase sozinho, tendo de olhar os grupos que o rodeiam mas não o envolvem e educar-se na escola da obediência e da aceitação, aprendendo que os afetos não se roubam, não se compram, não se exigem. Conquistam-se, mas apenas quando se lhes oferece a liberdade de serem quem são e como são. A justiça divina, atenciosa e segura, é exercida com absoluto rigor e cuidado – como tudo quanto é obra de Deus. O homem, apesar de cruel e insensível para com os sofrimentos daqueles a quem pretendeu destruir, amou em algum dia, algo ou alguém. E esse amor, apesar de conviver com o ódio, fixase no terreno duro do coração, como uma pequena pedra preciosa, rutilante. Ninguém mais daria por ela, de tão pequena. Mas aos olhos de Deus nada escapa. E se ele anota a lágrima provocada, regista também esse pouco de amor imorredouro e sincero, sentido um dia. Então, quando nas páginas do tempo voltamos, para reescrever as nossas histórias, transformando insucessos em êxitos, e pensamos nada merecer, ainda assim encontramos o amor de alguém, mesmo que fugaz num rosto desconhecido que nos olhe com interesse. É pela justiça divina que essa migalha de afeto nos é oferecida. Tudo, das pequenas migalhas de Bem às obras de Amor que temos vindo a construir, tudo reverte a nosso favor no momento exato em que mais precisamos, fazendo-nos pressentir o céu ainda que enfrentando os desafios e os confrontos difíceis, suscetíveis de nos fazer pensar que a vida é um inferno... e ainda aí está bem presente a justiça divina que educa e que consola. Senhor, Deus, nosso Pai, que a chama do conhecimento Espírita ilumine com segurança os nossos rumos do Presente para que, apesar de ainda errarmos tentando acertar, saibamos a cada dia construir alguma pequena obra de amor que nos ajude a resgatar a dívida que temos para contigo, dívida que contraímos sempre que agimos contra a Tua lei, o Teu divino amor!
A Libertação 5
julho/ agosto/ setembro
Em 1987, Karl W. Goldstein escreveu um artigo no jornal Folha Espírita, no suplemento “Espiritismo e Ciência”, uma espécie de ensaio, pretendendo responder à seguinte questão: “Em média quanto tempo passamos desencarnados entre duas encarnações sucessivas?” Para responder a esta pergunta, ele baseou-se em dois métodos, cujos resultados foram semelhantes. Ele chamou aos métodos, utilizados para o estudo e fundamento do seu raciocínio, de direto e indireto. O primeiro baseou-se na análise de dados recolhidos pelos investigadores que se dedicavam ao tema da reencarnação, no séc. XX. O segundo baseou-se no cruzamento de vários dados estatísticos. Em resumo: o método direto foi um método indutivo, baseando-se numa análise de conteúdo, para encontrar pontos comuns a partir das singularidades; o método indireto foi um método dedutivo, em que vários dados quantitativos foram analisados. No método direto, Goldstein detalhou uma análise de conteúdo associado a três casos. Três pessoas sujeitas a regressão de memória através da hipnose, cujos dados foram obtidos através da realização de várias sessões seguidas, devidamente registadas, gravadas e analisadas. No 1º caso o investigador foi a Dra. Helen Wambach, no 2º e 3º foi o Dr. Arnall Bloxham. Depois, Goldstein expos os resultados obtidos da análise que realizou aos 16 casos reunidos na obra Reencarnação Baseada em Factos, do Dr. Karl Muller. Em modo de síntese, foram observadas algumas 6 A Libertação
conclusões: primeiro, existe uma variedade de grandeza dos tempos de intervalo entre duas encarnações, quer entre as pessoas, ou seja, entre os Espíritos, quer no percurso evolutivo de um mesmo Espírito; segundo, a tendência geral é haver um decréscimo gradual desse tempo de intervalo, sendo muito maior em épocas mais remotas. O valor médio geral de cada intervalo foi de 253 anos, sugerindo 4 encarnações por milénio. Mas este valor é apenas uma média calculada a partir dos vários valores obtidos, dos maiores aos mais pequenos. Estes variaram entre 0 a 1200 anos e, como se referiu, à medida que nos aproximamos do tempo atual, esses valores baixam significativamente. No método indireto, Goldstein partiu de algumas avaliações estatísticas relacionadas com o crescimento populacional do mundo e da evolução da esperança média de vida que, como é do conhecimento geral, aumentou gradual e significativamente a partir do séc. XVIII. Cruzou esses valores com a informação fornecida, em 1952, pelo Espírito Emmanuel, na obra Roteiro, psicografada por Francisco C. Xavier, que afirmava existirem mais de vinte bilhões de almas desencarnadas. Embora os dados utilizados sejam imprecisos, como o próprio Goldstein refere, importa destacar que os resultados foram semelhantes, observando-se o mesmo decréscimo do tempo na erraticidade, à medida que nos aproximamos da atualidade (séc. XX). A razão hipotética apontada, no artigo, para os longos intervalos de erraticidade, no homem primitivo, seria a necessidade de
julho/ agosto/ setembro
restabelecimento do perispírito, já que as mortes nessa época seriam frequentemente bastante violentas. Goldstein também comparou estes dados com dados obtidos através de crianças que têm recordações espontâneas, observando que nestas ultimas os intervalos são menores, explicando-se, por isso, as recordações espontâneas de reencarnações anteriores, por contraste ao adulto, que só em condições especiais as obtém (sonhos, “déjà vu”, revelações, estados alterados de consciência, regressão hipnótica). Cruzando todos os resultados, Goldstein concluiu: (I) “os homens têm passado mais tempo em estado de morte do que de vida”, por outras palavras, os Espíritos têm passado mais tempo na erraticidade do que na Terra; (II) a tendência futura do homem será ter reencarnações mais longas e intervalos de erraticidade mais curtos, pelo que ele interroga se, por essa razão, o homem não se espiritualizará; (III) a tendência do decréscimo dos intervalos de erraticidade sugere que, “futuramente, os casos de lembranças reencarnatórias poderão ser mais numerosos”. As conclusões são interessantes, mas merecem uma reflexão um pouco mais aprofundada. Consultando O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, base da revelação espírita, observamos algumas instruções dos Espíritos superiores sobre as Leis Divinas que regem a vida (em qualquer plano de ação) e o mecanismo de evolução dos Espíritos, que valem a pena recordar. Começamos por observar que o mundo normal
primitivo, aquele que preexiste e sobrevive a tudo é o mundo espírita, ou seja, o dos Espíritos. Este é independente do mundo corporal, apesar de estar em relação com ele, não precisando dele, contudo, para existir (L.E., perg. nº 84 a 86). Por isso, não é surpreendente que os Espíritos passem mais tempo nesse mundo. As reencarnações são matrículas transitórias na escola e na oficina do progresso, onde a evolução é tecida ou provada, através das lutas e tribulações da vida material (L.E., perg. nº 132, 133, 166, 167). Nos intervalos das experiências materiais, o Espírito errante continua a forjar o seu progresso, através de atividades e aprendizagens variadas, embora estas últimas tenham sempre que ser provadas, mais tarde, numa existência corpórea (L.E., perg. nº 227 e 230). No que diz respeito à duração desses intervalos erráticos, as instruções dos Espíritos confirmam a grande variedade existente, indo de algumas horas a intervalos mais ou menos longos. Não há um limite, embora não possa ser perpétuo (L.E. perg. nº 223 e 224-a), o que se compreende, já que a reencarnação é um dos mecanismos da Lei do Progresso. Adiantam ainda que em mundos superiores esse intervalo é muito curto, sendo a reencarnação quase imediata, devido a fatores que decorrem da evolução do Espírito que reencarna: a matéria é menos grosseira e as faculdades do Espírito encarnado são quase as mesmas das do Espírito errante. E aqui tocamos num ponto essencial, a meu ver, para a compreensão de toda a variedade dos dados em A Libertação 7
julho/ agosto/ setembro
análise, não mencionado no artigo de Goldstein: o fator moral. É o fator moral que aciona os efeitos materiais, nomeadamente as transformações do perispírito, do corpo físico e de todos os detalhes da reencarnação. É o fator moral, traduzido no livre-arbítrio, que interfere com as curvas do destino espiritual de cada um, na medida em que produz as alterações perispirituais naturalmente decorrentes, quer no plano progressivo das funções e competências, quer no plano do desequilíbrio dos centros de força, desarmonizando as funções e a forma do organismo perispiritual. O estado moral do Espírito é causa, não é efeito. Quando questionados sobre as causas da variedade dos intervalos erráticos, os Espíritos são taxativos: “é uma consequência do livrearbítrio”, mas ainda pode ser uma “punição infligida por Deus” (L.E., perg. nº 224-a). O prolongamento expressa-se, por vezes, na vontade de prosseguir estudos, que no mundo espiritual serão feitos com maior proveito ou na vontade de protelar uma situação a qual não se tem coragem de enfrentar, como ficaria mais tarde ilustrado nalgumas obras psicografadas pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Ivone A. Pereira. Quanto à punição, também se compreende que nos casos em que as oportunidades foram intensamente aviltadas, a contrariedade à vontade imediata do Espírito, constitua recurso valioso à sua educação. Na dimensão do fator moral encontramos toda a problemática da obsessão e de auto obsessão, como consequência da vida que se deixou e do nível baixo de evolução moral em que o Espírito 8 A Libertação
se encontra. Esses estados obsessivos permeiam estados erráticos de profundo sofrimento que, comumente, se alongam no tempo, porque a mente fica presa nesses estados patológicos de ressentimento ou de remorso. O tempo é como cada um o sente. Encontramos diversas ilustrações deste facto em obras complementares da doutrina espírita, ditados pelo Espíritos André Luiz e Manuel Philomeno de Miranda, psicografados respetivamente por F. C. Xavier e Divaldo P. Franco, bem como nas obras de Ivone A. Pereira. É claro que estes quadros ocorrem em níveis evolutivos ainda inferiores do ponto de vista espiritual, parecendo-me uma razão mais provável para explicar os estados prolongados de erraticidade em tempos mais recuados. O estado do perispírito depende do estado mental de quem o porta. Depende mais do tipo de vida que do tipo de morte, que se teve. As tribulações da vida, quando bem suportadas, conduzem-nos ao progresso e à paz e o perispírito plasma, muito facilmente, o estado sombrio ou pacificado da mente. As deformações perispirituais são consequência dos estados patológicos da mente espiritual; dos sofrimentos decorrentes pela fixação mental nas paixões ou no remorso de crimes inconfessáveis; dos choques fluídicos continuamente suportados, sob torturas inenarráveis, durante longo tempo, quando reféns de vítimas que semearam no plano físico e que do outro lado da vida, perdidas em si mesmas pela ausência do perdão, gritam por uma justiça equivocada. Muitas vezes, nestes casos, a reestruturação da harmonia perispiritual só é
julho/ agosto/ setembro
possível por via de reencarnações dolorosas, como é muito bem explicado, com a ilustração de vários casos em No Mundo Maior de André Luiz, psicografado por F. C. Xavier. A tendência futura para intervalos erráticos mais curtos, mencionada na segunda conclusão de Goldstein, parece estar em conformidade com as instruções, já referidas, dos Espíritos a Kardec. Embora a causa seja a consequência da evolução moral dos Espíritos e não o inverso. A lembrança espontânea de reencarnações passadas também merece algumas notas. Mais uma vez, é o fator moral que influi no processo. O Espírito, reencarnado ou não, só recorda o que tem condições para recordar e o que for permitido por Deus. As recordações não surgem de imediato nem no mundo espiritual; o Espírito tem que possuir estrutura moral, equilíbrio espiritual para recordar, por isso o que geralmente acontece é que recorda umas, mas não recorda outras e quando recorda algumas é com o apoio dos Mentores Espirituais. As Leis Divinas são sábias e o esquecimento temporário é uma medida imprescindível ao processo de evolução espiritual (L.E.,perg. nº 392). No entanto, à medida que o corpo é menos material, ele vai recordando mais facilmente, aflorando mais frequentemente as recordações espontâneas (L.E perg, nº 397). Mas já vimos que o corpo desmaterializa-se à medida que o Espírito ascende moralmente. Não vamos desenvolver, neste artigo, sobre os benefícios do esquecimento das várias experiências materiais. Vamos apenas reforçar a ideia de que este ocorre em virtude da Sabedoria
Divina e das leis Naturais, que se prendem com o grau de desmaterialização do Espírito e, por consequência, dos corpos que ele reveste, não tanto com o tempo de erraticidade. Na obra No Mundo Maior (Cap. 4), encontramos a explicação do Mentor Calderaro a André Luiz: “(…) Não estamos, por enquanto, munidos de suficiente luz para descer com proveito a todos os ângulos do abismo das origens; tal faculdade, só mais tarde a adquiriremos, quando nossa alma estiver escoimada de todo e qualquer resquício de sombra. (…) e nem todos, ao atravessarem o sepulcro, podem readquirir, repentinamente, o património de suas reminiscências. Quem demasiado se materialize, demorando-se em baixo padrão vibratório, no campo de matéria densa, não pode reacender, de pronto, a luz da memória. Despenderá tempo a desfazer-se dos pesados envoltórios a que inadvertidamente se prendeu. Dentro da luta humana, também é indispensável que os neurónios se façam de luvas, mais ou menos espessas, a fim de que o fluxo das recordações não modere o esforço edificante da alma encarnada, empenhada em nobres objetivos de evolução ou resgate, aprimoramento ou ministério sublime. (…)” O Espiritismo é ciência, mas também é filosofia e também é moral. As três dimensões deverão andar juntas em plena harmonia para compreender qualquer problema, qualquer dilema. Quanto tempo desencarnados? Aquele que for necessário ao processo de evolução de cada um, na articulação perfeita entre o livrearbítrio e as Leis Divinas, que nos orientam o caminho. A Libertação 9
julho/ agosto/ setembro
Gina Ferreira
Em todas as épocas, Jesus, o Governador e Mentor do nosso planeta, enviou à terra emissários seus para instruir a Humanidade. Vemo-los em todas as civilizações, a preparar o terreno para a vinda do Mestre. Cada um utilizou a linguagem adaptada à época e aos costumes do povo a que se dirigiu, porque só assim seria ouvido. Todas as religiões da Humanidade têm as suas origens no coração do Cristo. Cada raça recebeu os seus instrutores, como se fosse Ele mesmo. Por isso, as máximas de cada religião – do Cristianismo ao Budismo, ao Judaísmo, ao Islamismo e ao Hinduísmo - são concordantes entre si, porque todos os emissários são enviados do Cristo: Para o Budismo: “Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio; o que acaba com o ódio é o amor”; “O que somos é consequência do que pensamos”; “Praticar o bem, abster-se do mal e purificar seus pensamentos, são os mandamentos de todo iluminado." Para o Judaísmo (Isaías): “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva”; “A própria consciência é o mais feroz acusador do culpado.” Para o Hinduísmo: “O coração em paz vê uma festa em todas as aldeias.”
10 A Libertação
julho/ agosto/ setembro
“No coração de todas as coisas, de tudo o que existe no Universo, habita Deus. Somente ele é realidade. Portanto, renunciando às vãs aparências, rejubilai-vos nele. Não cobiceis a riqueza de ninguém.” Para o Islamismo: “No dia do juízo, dirá o Senhor a seus servos: Entrai no Paraíso, vós que me adorais, por minha misericórdia; participai dele conforme vossas obras”; “Aquele que espera encontrar-se com seu Senhor, que pratique boas obras.” Cada um na sua época enfrentou dificuldades. Quando se fala de amor, de paz, da necessidade de praticar o bem, agitam-se consciências, e, aqueles que querem manter nas suas mãos as rédeas do poder, assustam-se e tentam travar a evolução. Também Jesus encontrou a incompreensão da maioria dos homens. Incapazes de aceitar a mudança, atentos e astutos, deturparam suas palavras: “...não vim trazer a paz mas a espada...”. Em seu nome, muitas atrocidades foram cometidas, gerando-se ódios que, passados tantos séculos, ainda perduram. Vivemos no século XXI, época de grandes transformações. Já perdemos muito tempo. Jesus aguarda-nos. Um dia recebeu-nos neste planeta, envolveu-nos no seu abraço fraterno e misericordioso. É tempo de deixar para trás as mágoas, os ressentimentos e aceitar os outros tal como eles são, descobrindo em cada um o seu lado bom. Todas as religiões têm a mesma origem, todas ensinam a acabar com a espada que divide e mata e todas apontam para a necessidade de amar e de praticar as boas ações. Quando estivermos em paz com a nossa consciência, estamos em paz com o nosso próximo, e quando muitos estiverem em paz, as famílias, a sociedade e por conseguinte as nações estarão em paz. Os poucos que ainda não tenham conseguido essa conquista, não conseguirão destabilizar a paz reinante. As suas palavras e os seus atos não encontrarão onde atuar e, envergonhados, irão ser eles por sua vontade a esforçarem-se pela mudança, porque irão finalmente perceber como é bom ser bom.
A Libertação 11
julho/ agosto/ setembro
Era uma vez uma menina que tinha o desejo de ter um cão. Todos os dias pensava, sonhava, orava... Os pais diziam que não, que seria caro e não era a altura ideal... Um dia teve uma ótima ideia: juntar dinheiro para ter um cão! Assim os pais não se iriam preocupar com o dinheiro e quem sabe podia concretizar o seu sonho. Ela, a menina, juntou dinheiro durante 2 anos e todas as noites, quando orava com a família, pedia no seu coração um dia poder ter um cão. O desejo era tão grande que passava todos os momentos, até nas aulas, a orar para ter um cão, falava com o professor do seu desejo e ele até lhe arranjava revistas sobre o seu cão de sonho! Até que... vieram a ter um cão! Tão feliz que estava a menina, não imaginam... Passaram muitos momentos bonitos, brincaram, passearam... Parecia que a família se tinha tornado mais próxima... Conseguiram ultrapassar alguns medos que tinham e eram muito felizes! Um dia o cão ficou doente e aconteceu o inimaginável: o cão de sonho morreu. A menina chorava, não conseguia acreditar que o cão com que ela sempre sonhara tinha desencarnado e estava no mundo espiritual!... Ela não conseguia estar atenta nas aulas, não comia e sentia que lhe faltava algo... Não conseguia entender porque é que aquilo tinha acontecido... Porque é que Deus tinha permitido que aquilo acontecesse? A família todos os dias orava, a pensar nele, e a mãe lembrava à menina que o cão fora muito feliz com eles...aconselhava-a a deixar para trás o mal, e a só recordar o bem. Mas era tão difícil... Uma vez uma amiga muito especial ofereceu-lhe uma caixinha de música onde poderiam colocar as boas recordações do seu amiguinho... e aos poucos, entre papelinhos colocados na caixa, entre orações sentidas e algumas lágrimas, uniram forças e com o passar do tempo conseguiram superar aquela dor... E ao superarem a saudade foi mais fácil perceber que a vida é um ciclo, não interessava o tempo que tinham passado juntos, mas sim a qualidade desse tempo! A Menina entendeu que o poder da oração era imenso. Não no pedido para ter um animal, mas no pedido para acalmar o seu coração... Ainda hoje é a oração que a ajuda a superar, a acreditar que o seu cãozinho está feliz, agora noutra família... e que a dor que sente a ajudará um dia a suportar outras dores... Tempos depois, e para grande alegria, a menina recebeu, não um, mas dois cãezinhos! Era uma alegria no ar! Uma alegria que aconchegava o seu coração, mas que ainda assim não apagou a saudade do seu sonho de cão!... Esse seria sempre o seu primeiro cão!... Teria sempre um local especial no seu coração... Um dia, quem sabe, se não se voltarão a encontrar ou se durante a noite, depois da oração, não poderá ver o seu pequeno e fiel amigo... o seu cão de sonho! 12 A Libertação
De pequeno porte, raça cruzada de “poedeira” e “coquicha”, sempre que podia desaparecia da capoeira e só voltava mais tarde, deixando o Rolinha sem os ovos. Durante a ausência, bem podia ele correr toda a horta com uma cana a bater e a fazer barulho no sítio das canas, nas silvas ou na ramada das batatas ou dos feijões, que ela não se manifestava. Mais tarde lá aparecia a “Matreira” a cantar muito alto, dizendo que acabava de dar à luz mais um futuro pintainho, mas que era segredo o seu ninho e segredo bem guardado. Um dia, porém, desapareceu e não voltou mais. Rolinha pensou com os seus botões – é agora que a vou encontra, começou a chocar os ovos! Tinha sido esperta, não deixou que ele os comesse nem cozidos nem estrelados e muito menos escalfados como tanto gostava num bom prato de açorda alentejana. Mas agora corria grandes riscos pois as cobras, as ratazanas e as doninhas também gostam de ovos e podiam pôr em perigo toda a ninhada. Por isso, chamou o Piny, o pastor alemão, habituado a procurá-las e a trazê-las para as capoeiras e lá foram muito devagar à sua procura, após o Rolinha lhe ter dito: - falta uma! Deram umas voltas pelo sítio onde ela sempre aparecia a cantar, após a postura do ovo, mas não a encontraram. Depois de muito procurarem pelos lugares mais suspeitos, por serem os mais indicados para nidificar, voltaram para casa. Ao chegarem junto à habitação o Piny parou, levantou as orelhas, olhou para o Rolinha e começou a abanar a cauda muito agitado. E debaixo da grande roseira de flores de Santa Teresinha, entre um tufo de grandes urtigas, lá estava ela muito escondidinha, sem se mexer para não trair a sua casinha. O Rolinha trouxe milho que ela comeu com sofreguidão e de seguida uma tigela com água. Ela levantouse para beber e lá estavam eles, redondinhos e muito luzidios. Contou-os: um, dois, três…doze! Vinte e um dias depois nasceram onze “pompons” amarelinhos, ficando intacto o “ovo da cobra”. A Libertação 13
julho/ agosto/ setembro
Nosso Lar
14 A Libertação
Autor Espiritual: André Luiz I Psicografado por: Francisco Cândido Xavier Adaptado e ilustrado por: Paulo Henriques I Com a autorização da Federação Espírita Brasileira
julho/ agosto/ setembro
A Libertação 15
julho/ agosto/ setembro
CONFERÊNCIA “NOVAS PERSPETIVAS PARA O FUTURO” - FEC 87º Aniversário
FORMAÇÃO DE MONITORES DIJ - FEC 2015 Inserida na comemoração dos 35 anos de DIJ na FEC, terá lugar, nos dias 11 e 12 de Julho, uma Formação para Evangelizadores DIJ. Pretende-se com esta atividade dar formação aos novos Evangelizadores e, simultaneamente, relembrar e atualizar os conhecimentos dos Evangelizadores mais experientes. Inscrições online: http://www.eventbrite.pt/e/bilhetesformacao-de-monitores-dij-17384898700 ou através do email: correio@fec.pt
A Conferência "Novas perspetivas para o futuro" encetará as comemorações do 87º aniversário da Fraternidade Espírita Cristã. Decorrerá nos dias 25, 26 e 27 de setembro e será composta por um conjunto de painéis temáticos nos quais serão tratados variados assuntos da atualidade, à luz da Doutrina Espírita, mantendo por pano de fundo a perspetiva de que o futuro aponta para um planeta Terra regenerado, onde o bem e o progresso dominarão de modo pleno. Programa a divulgar oportunamente.
Por: Sílvia Almeida
REUNIÃO DE PAIS 2015 Teve lugar, no dia 23 de maio, pelas 16h30, a Reunião de Pais organizada pela Direção para a Infância e Juventude da FEC, com o tema. "E VOCÊ, TEM PROBLEMAS COM O “NÃO”? – Sobre a importância da linguagem na educação.
16 A Libertação
julho/ agosto/ setembro
A Libertação 17
julho/ agosto/ setembro
Constelação familiar O Espírito Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, aborda, em 30 capítulos, a temática Família, base fundamental sobre a qual se ergue o imenso edifício da sociedade. Os pais, os filhos, os avós, os tios, outros parentes, os vizinhos, a educação doméstica, a mediunidade na família, as turbulências no âmbito familiar, as tragédias no lar são alguns dos assuntos abordados na preciosa obra. Editora: FEP
Almas em desfile É a trilha humana com os seus sonhos e esperanças, flores e espinhos, alegrias e sofrimentos. O autor espiritual relaciona 52 temas, trazendo a lume episódios retirados do livro da vida, que nos convidam ao alimento do amor e da compaixão no relacionamento humano. Editora: FEB
Os Profetas No processo da evolução física, os cinco sentidos elementares exigiram milénios de experiência, a fim de atenderem ao imperativo das manifestações orgânicas, em benefício do homem imortal. A mediunidade, como faculdade do Espírito eterno, ultrapassa as barreiras das manifestações físicas para alcançar outras dimensões ainda desconhecidas pelo ser, na sua fase de evolução atual. De Moisés a Chico Xavier, num interregno de 32 séculos, a mediunidade sublimada constitui sempre elevado investimento no processo da evolução humana, enquanto a outra face, a mediunidade torturada, tem contribuído para a sementeira da dor e das injustiças sociais. Editora: FEB 18 A Libertação
Amor e Ódio
julho/ agosto/ setembro
Romance empolgante, da médium Yvonne A. Pereira que narra o drama vivido pelo fidalgo Gaston de Saint-Pierre, ex-aluno do Professor Denizard Rivail (mais tarde, Allan Kardec), que por uma infeliz paixão foi acusado de crimes que não cometeu, sendo condenado ao degredo. Em episódios emocionantes, o leitor verificará a vitória da coragem, da fé e da confiança na justiça divina, hauridas na compreensão dos princípios da Doutrina Espírita.. Editora: FEB
Dramas da Obsessão Em Dramas da Obsessão, o Espírito Bezerra de Menezes apresenta duas histórias baseadas em fatos reais com preciosos ensinamentos sobre a lei de causa e efeito. Com psicografia da médium Yvonne A. Pereira, as cativantes narrativas ajudam-nos a compreender o fenómeno da obsessão e as ligações profundas que podem ser estabelecidas entre as criaturas por meio do ódio e da vingança, além dos possíveis séculos de sofrimento até que se dissolvam as desavenças ao toque suave do perdão. Editora: FEB
Emmanuel Coletânea de dissertações mediúnicas sobre importantes questões que preocupam a Humanidade nos campos da Ciência, Religião e Filosofia. Vasto e atual é o conjunto dos assuntos, divididos em duas partes: a primeira aborda as tradições religiosas e a evolução da fé no contexto histórico, a segunda versa sobre temas científicos à luz do Espiritismo. Num rápido exame do sumário, o leitor identificará instigantes questões que o autor espiritual aprofunda com segurança e grande poder se síntese. Editora: FEB