Puc_Inovação #1

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JAN / FEV / MAR 2012

legislação

Paraná terá a sua própria Lei de Inovação e n t r e v i s ta

Márcio Machado, da Nokia Siemens, fala sobre os desafios da inovação

Marcos Wesley, presidente da Zoom

ZOOM e LEGO® Education

no PUCPR Tecnoparque


ao leitor

Prof. Luiz Márcio Spinosa Diretor da Agência PUC e do PUCPR Tecnoparque

Em países modelos em inovação tecnológica, como o Japão e os Estados Unidos, as empresas são responsáveis pela maior parte das pesquisas que levam às inovações tecnológicas. O conhecimento gerado dentro dessas empresas rapidamente é aplicado na linha de produção, gerando a todo momento produtos e serviços inovadores, que são copiados mundo afora.

No Paraná, ao lado desses motivos, está a falta de uma lei estadual que incentive a união entre empresa e universidade. O Paraná é o único estado das regiões Sul e Sudeste que ainda não aprovou uma lei de inovação. Nesta edição, trazemos uma reportagem sobre o assunto e discutimos as dificuldades de desenvolver projetos de inovação tecnológica no Brasil.

No Brasil, ao contrário desses países, mais da metade das patentes registradas é de autoria das universidades e, muito raramente, estas patentes resultam em novas soluções para o mercado, ficando restritas a publicações científicas que só serão lidas pelos seus pares.

Também trazemos a excelente notícia da parceria entre a PUCPR e o Grupo ZOMM, distribuidor exclusivo da LEGO® Education no Brasil. Com a vinda da empresa para o PUCPR Tecnoparque, já são 13 as empresas instaladas na unidade da Agência PUC que foi criada em 2009 para aproximar a universidade e a indústria.

A pergunta que todos fazemos é: por quê? Podemos apontar a falta de interesse dos pesquisadores e das universidades em fazer com que as pesquisas ultrapassem os muros acadêmicos. Podemos também supor que haja pouca procura das empresas por parcerias com as universidades e insuficiência de recursos próprios para investir em equipes de pesquisa e desenvolvimento, cujos projetos normalmente são de médio a longo prazo.

O rápido crescimento do PUCPR Tecnoparque não deixa dúvidas de que o Brasil tem tudo para recuperar o tempo perdido e ser também um país modelo em inovação tecnológica, por meio da união entre empresa e universidade.

Boa leitura!

expediente Jornalista responsável Fabiana Ferreira (MTB 4148/16/188) Edição e textos Danielle Sasaki (MTB 4731) Fotos João Borges Projeto gráfico e diagramação espresso design Impressão Gráfica APC

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Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação Rua Iapó, 1225 - Prado Velho CEP: 80215-900 - Curitiba/PR Telefone: (41) 3271-1389 E-mail: agenciapuc@pucpr.br

Comentários, sugestões e críticas Rua Imaculada Conceição, 1155 Prado Velho - CEP: 80215-901 - Curitiba/PR Telefone: (41) 3271-1515 E-mail: imprensa@pucpr.br

A revista PUC_Inovação é uma publicação trimestral com distribuição dirigida, produzida pela Assessoria de Comunicação da Associação Paranaense de Cultura (APC).


r e p o r ta g e m

Paulo Brofman: Brasil só se tornará um país rico se passar a vender produtos agregados em vez de commodities

Legalizando a inovação Paraná quer deixar de ser o único estado das regiões Sul e Sudeste sem uma lei de inovação

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Assembleia Legislativa do Paraná deve votar, no primeiro semestre de 2012, a Lei de Inovação do Paraná. O texto proposto pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior junto a uma comissão formada pelas universidades e coordenada pelo diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Júlio Félix, passou por ajustes e encontrava-se, em fevereiro, na Procuradoria Geral do Estado para aprovação. Assim que aprovado, voltará para a Procuradoria da Casa Civil, que por sua vez encaminhará para a Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, para depois ser votado pelos deputados. O presidente da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, Paulo Roberto Brofman, acredita que, assim que aprovada, a Lei de Inovação trará benefícios imediatos para o Estado. “A lei reflete a necessidade do Paraná de contar com dispositivos legais e eficientes que contribuam com o desenvol-

vimento científico e tecnológico, assim como o desenvolvimento do incentivo à inovação”, afirma Brofman, que é professor da PUCPR e referência internacional em pesquisas com células-tronco. Para ele, somente um ambiente propício para a formação de parcerias entre a academia e a indústria é que viabilizará a transformação do Brasil para um país que oferta produtos agregados e não apenas commodities. “O Brasil tem uma cultura de que conhecimento só gera conhecimento e não riqueza. Contribui o fato das pesquisas serem financiadas com recursos públicos, que impõem como obrigação final a publicação do artigo e não o desenvolvimento de patentes que gerem inovação”. Com a Lei de Inovação, o cenário deve mudar. “A iniciativa privada, ao financiar uma pesquisa, quer a patente e a inovação e não a publicação de artigos”, explica Brofman. Ele acredita que a Lei de Inovação será fundamental também para colocar o Paraná em destaque no cenário científico nacional. “A ciência paranaense tem uma

Concessões de patente

X (ano)

24 146

1980

2009

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9.401

Fonte: United State Patent and Trademark Office (USPTO)

atuação tímida. Não temos, por exemplo, um programa de pós-graduação com nota máxima pela Capes. Por outro lado, nossas instituições de ensino e pesquisa

estão totalmente preparadas para desenvolverem pesquisas de ponta. Por isso, não tenho dúvidas de que a Lei de Inovação será fundamental para o desenvolvimento do Estado”. _

Os benefícios da Lei de Inovação I ncentivos como redução ou isenção de tributos às empresas que investem em inovação • Definição dos recursos e regulamentação da relação do poder público e seus agentes de ciência e tecnologia com a iniciativa privada •

efinição da participação de D ganhos das universidades e de seus pesquisadores • Criação de instrumentos jurídico-administrativos para alocação de recursos em projetos financiados pelas agências federais de fomento •

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r e p o r ta g e m e s p e c i a l

ZOOM e LEGO® Education

firmam parceria com a PUCPR É o primeiro acordo firmado no Brasil pela representante da dinamarquesa LEGO® Education com uma Instituição de Ensino Superior

A

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e o Grupo ZOOM, distribuidor exclusivo da LEGO® Education no Brasil, firmaram em 2011 um acordo de cooperação técnicaoperacional. A parceria prevê a instalação da Franquia Premium de Curitiba da ZOOM no PUCPR Tecnoparque, unidade da Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação que proporciona a aproximação entre a Universidade e a indústria. É o primeiro acordo firmado no País pela representante da dinamarquesa LEGO® Education com uma Instituição de Ensino Superior. Com a parceria, viabilizada com o apoio do Núcleo de Engenharias da Agência PUC, que é coordenado pelo professor Pablo Deivid Valle, a PUCPR e a LEGO® Education passarão a desenvolver projetos de pesquisa em conjunto, tanto na área tecnológica quanto na área pedagógica. O objetivo é desenvolver soluções de aprendizagem inovadoras, que auxiliem o processo de aprendizagem dentro das salas de aula do Ensino Infantil, Fundamental e Médio.

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Representantes da PUCPR e da ZOOM LEGO® Education se reuniram para assinar o acordo

Engenharia de Controle e Automação em foco O curso de Engenharia de Controle e Automação será um dos cursos beneficiados com a parceria com a ZOOM e a LEGO® Education. Segundo o coordenador do curso, Agnelo Denis Vieira, e a professora Maria Angela Moscalewski Roveredo, os alunos poderão aplicar conceitos teóricos desenvolvidos em Cálculo, Geometria, Física e Técnicas de Programação, melhorando o processo de aprendizagem e motivando os alunos. Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCPR, Waldermiro Gremski, a parceria representa o cumprimento de uma missão. “As universidades têm como função a produção do conhecimento. Só que, no Brasil, boa parte deste

conhecimento se esgota na sua publicação. Esta parceria tem a função de transformar nosso cabedal científico em realidade e em bem-estar para a população”. O vice-reitor da PUCPR, Paulo Mussi, ressalta o esforço da Universidade para operacionalizar o conhecimento, colocando à disposição das empresas os projetos desenvolvidos dentro da Instituição. “Neste contexto, a parceria com a ZOOM e LEGO® Education é muito especial. Primeiro porque a demanda surgiu dentro da sala de aula. Segundo porque as duas instituições têm missões muito próximas. Ambas atuam na área educacional e promovem o desenvolvimento humano”.


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Foto Divulgação


Foto Divulgação

r e p o r ta g e m e s p e c i a l

O presidente nacional da ZOOM, Marcos Wesley, acredita que “com o passar do tempo, a PUCPR vai se transformar em um pólo que vai difundir as tecnologias de robótica aliada ao contexto social”. Wesley explica que grandes universidades, como a norte-americana MIT (Massachusetts Institute of Technology), têm parcerias com a LEGO® Education para auxiliar no aprendizado dos estudantes e desenvolver novas tecnologias. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de crianças e jovens em três mil escolas públicas e privadas utilizam as soluções de aprendizagem da LEGO® Education, que são compostas por kits, fascículos educacionais, assessoria às escolas e capacitação de educadores. Todas as soluções são baseadas em propostas e estudos de renomados pesquisadores da

Juntos para Fazer Mais A parceria entre a PUCPR, a ZOOM e a LEGO® Education já teve o seu primeiro resultado concreto. No dia 8 de dezembro, as instituições lançaram o projeto “Juntos para Fazer Mais”, uma iniciativa da ACTIS Comunicação com apoio da Concessionária Ecovia. Durante a cerimônia, foram entregues 20 Kits LEGO® a escolas e organizações do terceiro setor de Curitiba. O evento contou com a participação do presidente da ZOOM, Marcos Wesley.

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área educacional e fundamentadas nos quatro pilares para a educação da Unesco: aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a conhecer. Além das pesquisas, o acordo entre a PUCPR e a ZOOM e a LEGO® Education prevê o envolvimento dos alunos nas atividades da FIRST® (For Inspiration and Recognition of Science and Technology), organização sem fins lucrativos que tem como objetivo incentivar crianças e jovens a descobrir o universo da ciência e da tecnologia e que tem como embaixador o astronauta brasileiro Marcos Pontes. Os alunos também serão capacitados para se tornarem instrutores de equipes de robótica de escolas públicas e privadas que participam de campeonatos regionais, nacionais e internacionais nessa área. _

Marcos Wesley, presidente da ZOOM, com Luiz Márcio Spinosa e Mônica Ribeiro, responsável pela Franquia Premium da ZOOM em Curitiba


radar

Novas soluções em TIC A PUCPR, por meio da Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação, e a SOFHAR Gestão&Tecnologia S.A assinaram, no final de 2011, um contrato para o desenvolvimento de novas soluções na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O acordo envolve diretamente o Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção e Sistemas da PUCPR, que disponibilizará alunos de Doutorado e Mestrado para o desenvolvimento de soluções para gestão da sustentabilidade. Os projetos que serão desenvolvidos envolverão também alunos de cursos de graduação e serão coordenados pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, Edson Pinheiro de Lima, e pelo gerente da área de Desenvolvimento da SOFHAR, José Marcelo Cestari. Segundo o coordenador da Agência PUC, Mauro Nagashima, o acordo é uma continuidade da parceria firmada com a SOFHAR, que em 2011 transferiu a sede da empresa para o PUCPR Tecnoparque. _

Assinatura do contrato contou com representantes das duas instituições

Lançamento Foto Divulgação

A Agência PUC de Ciência, Tecnologia e Inovação lançou oficialmente, no dia 6 de dezembro, em um evento para convidados, a revista PUC_Inovação. O evento contou com a participação do gerente executivo do Centro Internacional de Inovação da Fiep, Filipe Cassapo, que ministrou a palestra “Inovação para a Competitividade e Sustentabilidade – O Imperativo das Indústrias do Século XXI”. “A Universidade quer cada vez mais desenvolver iniciativas inovadoras, que promovam o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida da população.

Fábio Rueda Faucz recebe o prêmio em São Paulo

VI Prêmio SAÚDE! A pesquisa desenvolvida pelo professor do Núcleo de Saúde da PUCPR Fábio Rueda Faucz, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, que relacionou o uso de medicamentos contra a impotência com o câncer de próstata, foi a vencedora do VI Prêmio SAÚDE!, promovido pela revista SAÚDE! É Vital, da Editora Abril. A pesquisa concorreu com dois trabalhos de instituições paulistas, na categoria Saúde do Homem e da Mulher. A divulgação dos vencedores foi feita em

novembro, durante a festa do VI Prêmio SAÚDE!, em São Paulo. A pesquisa já foi publicada no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, a principal publicação mundial da especialidade. Segundo Faucz, a pesquisa sugere que pacientes que fazem uso constante desses medicamentos devem ser submetidos a exames preventivos regulares. “É preciso atenção especial já que os pacientes que normalmente buscam o tratamento para a impotência sexual são aqueles que já se enquadram no grupo de risco do câncer de próstata, que é idade superior a 50 anos”. _

Com a revista PUC_Inovação, daremos visibilidade a estas iniciativas, em especial às novas pesquisas que podem beneficiar diretamente toda a comunidade”, declarou o vicereitor da PUCPR, Paulo Mussi. Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCPR, Waldemiro Gremski, a revista PUC_Inovação tem o papel fundamental de incentivar o empreendedorismo e a inovação, sendo um meio para a expressão de ideias, críticas e angústias dos profissionais envolvidos com a área de pesquisa e desenvolvimento. _

O pró-reitor Waldemiro Gremski, o gerente executivo do Centro Internacional de Inovação da Fiep, Filipe Cassapo, e o vice-reitor Paulo Mussi

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e n t r e v i s ta

A solução é

inovar M árcio Machado, gerente de Desenvolvimento, Ensino e Aprendizagem da Nokia Siemens Networks (NSN), instalada no PUCPR Tecnoparque, convive na prática com os desafios e triunfos da inovação, que é um dos três pilares estratégicos da empresa, ao lado do atendimento focado nas demandas de seus clientes e da qualidade dos produ-

> Qual a importância da inovação para as empresas? É vital para a existência de qualquer organização, seja pública ou privada. Excetuando-se alguns poucos segmentos da economia, para todas as outras áreas, principalmente aquelas que carregam forte conteúdo tecnológico e/ou estão expostas à competição internacional, a inovação é (ou deveria ser) um dos pilares de sustentação da gestão das empresas, capaz de garantir sua longevidade.

> No Brasil, houve avanços? Penso que, como país, estamos trilhando o caminho correto, porém ainda lentamente. Reconheço os bons progressos realizados com a disponibilização de programas de incentivo à inovação, de novas legislações que apoiam a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. A decisão de adicionar a letra “I” de inovação à sigla do Ministério da Ciência e Tecnologia demonstra a percepção correta do Governo Federal sobre o papel fundamental da inovação. É um ato simbólico que tomará proporções maiores e sinaliza à sociedade a mudança rumo a uma sociedade mais criativa. Há que mencionar também os 8

tos e serviços oferecidos para o mercado. A Nokia Siemens é reconhecida mundialmente como uma das três maiores do segmento de Telecom, um dos mais competitivos da nova economia global. Segundo Machado, inovar é a moeda que garante que a Nokia Siemens seja percebida como a empresa preferida neste mercado. São

milhares de funcionários em todo o mundo envolvidos integralmente nos processos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Nesta entrevista, Márcio Machado reforça a importância da inovação para o sucesso de uma empresa e avalia os obstáculos que fazem o Brasil estar a alguns passos atrás de países como Coreia do Sul, China e Índia.

“ Aproximar empresas e universidade para termos um sistema de inovação forte, próspero, que gere riqueza e conhecimento.”

enormes progressos na área acadêmica, onde formamos, anualmente, crescentes números de mestres e doutores.

> Quais são os obstáculos para que a inovação ganhe força no Brasil? Nossas autoridades públicas e privadas precisam entender que uma tonelada de grãos e carne de frango tem muito valor, mas alguns quilos de química fina trazem um retorno muito maior. Devemos sim nos orgulhar pelas conquistas já obtidas na agroindústria, na mineração, no petróleo, fortalecendo-as. Mas também devemos atribuir valor estratégico a outras áreas do conhecimento que podem gerar até maiores vanta-

gens econômicas para o país com menores investimentos e impactos ambientais. Países desenvolvidos entenderam a vantagem competitiva do conhecimento há décadas e prosperaram muito, sendo geradores de tecnologia. Precisamos fazer parte deste seleto grupo.

anos e em Curitiba há quase 40, foi apoiada pela Lei de Informática. Inovamos, criamos e produzimos muitos novos produtos, serviços e soluções localmente. No momento em que a manufatura no Brasil perdeu competitividade, seja pelo alto custo de produção (câmbio, principalmente) e/ou surgimento da indústria asiática, deveríamos ter nos antecipado como país e migrado para atração de empresas de software e design. O programa teve evolução tardia com a Lei do Bem e outros mecanismos de suporte, como contratação de mestres e doutores por empresas com subsídio de programas do governo. Perdemos, como país, o timing. Poderíamos estar hoje melhor posicionados ao lado da Índia, por exemplo, se tivéssemos movido a peça certa no tempo certo.

> Como está o processo hoje? Para as empresas de tecnologia da informação e comunicação, as ações do Governo Federal concretamente iniciaram com a Lei de Informática que procurou atrair a cadeia de produção e gerar conteúdo local. Funcionou bem até um certo momento. Por exemplo, nossa empresa, que está estabelecida no Brasil há mais de 100

> Qual seria o modelo ideal para que as empresas brasileiras invistam mais em inovação? Organizações da Sociedade Civil, empresas, universidades e governos deveriam agir proativamente em favor do fortalecimento do Sistema Nacional da Inovação. Outras ideias seriam: simplificar o acesso e a prestação de contas para que


os participantes dos programas de financiamento operem com tranqüilidade e segurança; maior agilidade nos trâmites processuais; criação de mecanismos que, de fato, aproximem os protagonistas do Sistema Nacional da Inovação, que são empresas, governos e universidades; concessão de um selo de organização inovadora, que teria maior facilidade de crédito, obtenção de fundos, isenção de impostos para importação de insumos para P&D&I como laboratórios; criar escolas de inovação, usando organizações federais que oportunizem ao empreendedor acesso ao conhecimento, a processos, a ferramentas para melhorar seu portfólio de produtos e serviços e estabelecer uma cultura de inovação em sua comunidade; e aumentar a segurança jurídica. Por último, tão importante quanto às outras sugestões, precisamos transformar o sistema de ensino e rapidamente. Precisamos ensinar nossas crianças, adolescentes e jovens a pensarem “fora da caixa”, a serem criativos, a empreenderem, a gostarem da matemática e outras disciplinas abstratas que são insumos do pensamento criativo.

> A união entre empresa e universidade é necessária neste contexto? É fundamental. Universidades são parte do Sistema Nacional de Inovação em qualquer país. Uma grande empresa antes de se instalar em uma região pesquisa a quantidade de boas universidades que existem por lá, sua capacidade de formar bons

profissionais e suas linhas de pesquisa. A aproximação é desejada e existe espaço para interessantes projetos conjuntos. É uma grande simbiose. Precisamos aproximar estas duas entidades rapidamente, quebrar barreiras para que tenhamos um sistema de inovação forte, próspero, que gere riqueza e conhecimento.

> Tornar o Brasil um país modelo em inovação é um projeto de curto, médio ou longo prazo? Considerando os indicadores atuais, trata-se de um projeto de longo prazo, com possíveis bons resultados intermediários de muito valor. Para chegarmos ao grupo dos que andam na frente na área de inovação, como Alemanha, EUA, Japão, Coréia, Inglaterra e França, tendo China, Índia e Rússia no segundo pelotão, precisamos resolver questões básicas, ainda que tenhamos ilhas de prosperidade na agroindústria, aeroespacial, mineração e petróleo. Mas a construção de um grande castelo começa com o assentamento do primeiro tijolo. Penso que em 25 anos, com programas agressivos de financiamento, simplificação e educação, chegaremos lá.

> Qual seria o diferencial do Brasil? O brasileiro é empreendedor, corajoso e perseverante nos negócios. O poder criativo do brasileiro é um ativo importante. Temos vários excelentes exemplos de empresas nacionais de sucesso, inovadoras, como Petrobras, Embrapa, Embraer, Vale, Gerdau, Weg, Natura, OBoticário, entre

“ Precisamos ensinar

nossas crianças, adolescentes e jovens a serem criativos, a empreenderem, a gostarem da matemática e outras disciplinas abstratas que são insumos do pensamento criativo.”

muitas. Há muitas riquezas a serem descobertas nas florestas da Amazônia e nas matas do cerrado; nos subsolos de nossas terras e mares. Há muita invenção na cabeça de muitos brasileiros. Precisamos gerar um ambiente aberto, democrático, propenso à criação, que inicie nas escolas e termine na criação e manutenção de pequenos, médios e grandes empreendimentos. Temos potencial (riquezas naturais

inexploradas, superfície, população), temos vocação, precisamos remover os poucos obstáculos rapidamente. Não podemos perder mais tempo. As commodities não garantirão a estabilidade econômica para sempre. A África está sendo irrigada. Logo, logo será um competidor agrícola. Temos que explorar outras riquezas no Brasil. Conhecimento que leva à inovação é a alavanca. _

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pesquisa

A genética

cárie

da

Pesquisas pioneiras realizadas pela PUCPR avançam no entendimento da doença

A

cárie dentária é a maior causa de perda de dentes entre crianças e jovens no mundo. É uma doença multifatorial e complexa, resultado da interação de aspectos relacionados ao hospedeiro e aspectos ambientais. A PUCPR desenvolve uma série de pesquisas sobre a doença com o objetivo de ajudar a prevenir o seu surgimento. Uma delas, inédita no mundo, identificou um forte componente genético controlando a resistência à cárie dentária, por meio de modelos matemáticos que tentam explicar o padrão de herança da doença. O estudo avaliou uma população de 451 pessoas no interior do Pará, distribuídas em 11 famílias. A comunidade foi escolhida por estar isolada há mais de 80 anos e apresentar variáveis ambientais homogêneas, o

que aumentou o poder do estudo. A pesquisa foi publicada em 2010 no periódico internacional mais renomado da área de Odontologia, o Journal of Dental Research. Segundo o coordenador da pesquisa, o geneticista e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da PUCPR, Marcelo Távora Mira, pessoas que possuem o alelo de suscetibilidade à doença apresentam uma média de dentes cariados nove vezes maior do que as que possuem o alelo de proteção. O estudo foi a tese de Doutorado da aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Renata Iani Werneck. Em 2011, a PUCPR avançou ainda mais no entendimento da doença, ajudando a preencher a lacuna sobre quantos e quais são os genes que influenciam a

suscetibilidade à cárie dentária. O novo estudo, resultado da tese de Doutorado da aluna Andrea Duarte Doetzer e coordenado pela professora dos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Odontologia, Paula Cristina Trevilatto, identificou uma forma variante do gene de uma proteína chamada lactotransferrina (LTF), que está associada à resistência contra a cárie. A LTF está presente na saliva e desempenha ação antibacteriana contra

o Streptococcus mutans, principal bactéria associada à cárie. Os novos achados foram apresentados na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO), em 2011, e foi o vencedor do Prêmio Hatton, promovido pela SBPqO. Em 2012, a pesquisa concorre na etapa internacional do Prêmio Hatton, que será entregue no mais importante congresso internacional da área, o International Association for Dental Research. _

Uma forma variante de gene, presente na saliva, desempenha ação antibacteriana contra a cárie.

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Pesquisas com células-tronco são realizadas no Núcleo de Tecnologia Celular da PUCPR


Marcelo Mira e Paula Trevilatto: pesquisas visam à prevenção da doença

Inovação em saúde O Núcleo de Saúde da Agência PUC atua nas áreas das Ciências Biológicas e da Saúde, com a missão de promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação por meio de parcerias e alianças estratégicas com empresas e comunidade em geral. O Núcleo oferece conhecimentos e competências múltiplas oriundas dos diversos cursos de graduação da PUCPR e, fundamentalmente, com os Programas de Mestrado e Doutorado. Desta forma, possibilita às empresas o desenvolvimento de projetos de parceria altamente competitivos para o desenvolvimento de novos produtos e processos, incrementando a inovação nas áreas da saúde.

O Núcleo de Saúde da Agência PUC concentra suas ações nas seguintes atividades: • Desenvolvimento de Programas de Formação e Educação Continuada; • Capacitação de pessoal “in-company”; • Intercâmbio e colaboração com organizações nacionais e internacionais; • Promoção e realização de eventos; • Prestação de serviços de assessoria e consultoria; • Desenvolvimento de produtos, serviços e tecnologia; • Pesquisa aplicada e serviços científicos e tecnológicos.

Entre em contato com o Núcleo de Saúde: nucleo.saude@pucpr.br / (41) 3271-6331

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