Revista Olhar 21

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LHAR 21

DEZ/2023 | 1ª edição

ENCONTROS A cidade maravilhosa como cenário para histórias dignas de comédia romântica

CARROS E VIAGENS Conheça as histórias de quem mora sob rodas

PEDAÇO DE HISTÓRIA Os segredos que a Pequena África guarda no coração do Rio de Janeiro

AMOR PELO RIO A RIO DE JANEIRO RESPIRA PAIXÃO PELA CULTURA


AMOR PELO RIO

Imagem: Augusto RIbeiro

OLHAR 21 DEZ/2023 | 1ª edição

EQUIPE Augusto Ribeiro Letícia Bianca Luiz Otávio Coimbra Pedro Augusto Pinheiro Victória da Silva Revista desenvolvida para a disciplina de Planejamento Editorial do curso de Jornalismo da UFRRJ sob orientação da Professora Ivana Barreto no período de 2023.2 Imagem capa: Arquivo Pessoal/Arthur Amaral

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SUMÁRIO

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OLHAR 21

QUANDO O DESTINO TOCA

Uma história que , assim como uma boa comédia romântica nacional, tem o Rio de Janeiro como cenário

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O RIO DÁ UM SHOW

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LUXO NA BAIXADA FLUMINENSE

A capital fluminense recebe alguns dos maiores nomes da música mundial

Imagem: Acervo Pessoal

Entenda mais sobre o outlet exclusivo para público seleto

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JORNADA SOBRE RODAS

Imagem: Acervo Pessoal

A paixão por carros, viagens e desafios

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RESGATANDO A HISTÓRIA

A revitalização da pequena África no coração do Rio de Janeiro Imagem: Pedro Augusto Pinheiro

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EDITORIAL Queridos leitores, Com imensa alegria, apresentamos a primeira edição da revista Olhar 21, um novo panorama da cultura do Rio de Janeiro que busca atingir pessoas de 16 a 50 anos com uma linguagem simples, objetiva e direta. Nesse cenário diversificado, queremos explorar nuances muitas vezes esquecidas pela mídia tradicional. Em 2019, o IBGE trouxe à tona as desigualdades de acesso à cultura no Brasil, uma realidade que, sem dúvida, se reflete no Estado fluminense. O Rio de Janeiro, apesar de ser um ponto de lazer, nem sempre distribui informação a todos os seus habitantes. A Olhar 21 surge como um farol, iluminando o que está nas sombras,vasculhando as profundezas da cultura carioca e, por que não dizer, brasileira. Não nos limitamos ao já conhecido. Queremos ir além das fronteiras do convencional, explorando não apenas os cenários consagrados, mas dando voz a manifestações que permanecem nas margens, esperando serem descobertas. Mensalmente, nossa revista busca preencher uma lacuna na área cultural do Estado. Queremos desbravar territórios inexplorados, contando histórias que abrangem desde romances envolventes até questões sociais relevantes. Sejam bem-vindos a este novo capítulo cultural do Rio de Janeiro. Aqui, o olhar é amplo, e as histórias são infinitas. Esperamos que gostem do material que preparamos para vocês, leitores. Sejam bem-vindos a Olhar 21!

Equipe OLHAR 21 Imagem: Augusto RIbeiro

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OLHAR 21

Quando o destino toca Por: Letícia Bianca Imagem: Arquivo Pessoal

A CIDADE MARAVILHOSA COMO CENÁRIO PARA HISTÓRIAS DIGNAS DE COMÉDIA ROMÂNTICA 4


MATÉRIA PRINCIPAL

Ketlyn Santos posa na entrada da edição de 2022 do Rock In Rio

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m 2024, o Rock in Rio, o maior e mais tradicional festival musical do Brasil, celebra quatro décadas de história. Sob o tema "Rock in Rio 40 anos e para sempre", a nova edição busca reforçar os laços emocionais e geracionais estabelecidos ao longo desse período. Foi nessa atmosfera única que, em 2022, Ketlyn Santos teve a oportunidade, graças ao evento, de vivenciar uma história de amor.

Youtube ou transmissões ao vivo realizadas por fã-clubes. Além disso, passava madrugadas acordada na tentativa de ser seguida pelo canadense no Twitter. Apesar de sua paixão fervorosa pelo artista, ainda não tinha realizado seu maior sonho: conhecê-lo pessoalmente. As especulações de que o cantor viria para a Cidade do Rock começaram a circular, levando Ketlyn a até guardar dinheiro, mas a sorte não esteve ao seu lado.

Fã de Justin Bieber desde 2009, Ketlyn acompanhava todos os shows do cantor por meio de vídeos no

Ao tentar adquirir o tão cobiçado ingresso para o Rock in Rio, a jovem passou o dia inteiro no site. No entanto, a procura foi tão grande

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Imagem: Arquivo Pessoal

que os ingressos se esgotaram em minutos, frustrando suas tentativas de compra. Apesar disso, Ketlyn não desistiu. Foi então que ela conheceu outra fã de Justin que estava vendendo um ingresso - o tão sonhado ingresso. Mal imaginava ela que sua vida tomaria outro rumo a partir daquele momento. Apesar de nunca ter viajado sozinha, a paulista sempre foi apaixonada pelo Rio e decidiu embarcar nessa aventura. De acordo com o Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro, a edição de 2022 do Rock in Rio bateu recorde de ocupação nos


OLHAR 21 hotéis. Com tantos turistas presentes na Cidade Maravilhosa, Ketlyn foi parar no mesmo hostel que Vinicius Barros, que na época estava tirando um ano sabático, conhecendo diversos estados brasileiros, e decidiu passar um tempo na capital carioca. “Eu nunca acreditei em amor à primeira vista, até conhecer o Vinicius." Desde o dia em que a jovem esbarrou com o gaúcho, ela já sentiu algo diferente, mas nas primeiras interações nada passava de uma troca de olhares. Dias se passaram, e a data de partida de Ketlyn do Rio de Janeiro havia chegado. Acreditando que nunca mais veria o rapaz, ela perguntou seu nome e avisou que estava indo embora. Contudo, o destino não quis que tudo acabasse nessa simples troca de palavras. A paulista acabou perdendo o ônibus devido a um engarrafamento e teve que voltar ao hostel, enquanto não conseguia agendar a viagem de volta para sua cidade natal, Ribeirão Preto. Ao retornar, logo deu de cara com Vinicius, explicou a ele a história e começaram a conversar. A conexão dos dois foi instantânea, e falaram sobre tudo, até filhos. O sonho dele era ter um filho chamado Augusto, e

Eu nunca acreditei em amor à primeira vista, até conhecer o Vinicius.

Ketlyn e Vinícius na piscina do palácio do Parque Lage

Imagem: Arquivo Pessoal

ela brincou: "Já pensou se o nome da criança fosse Augusto e ele nascesse em agosto?"

para comemorar o aniversário, e mais uma vez, depois de se despedirem, ela não queria deixá-lo ir embora.

No dia seguinte, os dois foram fazer uma trilha juntos, e ela iria embora à noite. Apesar do pouco contato que tiveram, Ket já se considerava apaixonada e não queria voltar para sua cidade. Quando se despediram, ela só pensava que nunca mais o veria, mas continuaram conversando todos os dias. Vinte dias depois, o gaúcho foi visitá-la em sua cidade

Dias se passaram, ela voltou à sua rotina habitual e tentava se ocupar ao máximo para não pensar na saudade que sentia de Vinicius. Até que resolveu expulsar essa angústia de dentro de si e mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro. "Eu tinha muito medo, porque estaria longe da minha 6


MATÉRIA PRINCIPAL

família e amigos, não iria conhecer ninguém lá, e fui, mesmo com medo." Visitar pontos turísticos e passar o dia na praia viraram rotina para o casal. Conforme foram se conhecendo melhor, o assunto sobre ter filhos e formar uma família começou a surgir. Depois que ela foi morar com Vinicius, começaram a refletir bastante sobre isso. Segundo a jovem, para quem vê de fora, parece uma loucura. Eles tinham acabado de se conhecer; um mês depois, ele foi para outra cidade morar com ela, e já estavam falando de filho. "A nossa conexão foi tão perfeita e intensa, o nosso encontro aconteceu por obra do destino, e eu O pequeno Augusto em ensaio fotográfico

sabia que era ele a pessoa certa. Somos tão parecidos em várias coisas, e quando descobrimos a gravidez, veio um misto de sentimentos: medo, felicidade, emoção". Após saberem da gravidez, o casal já tinha a sensação de que seria um menino e, no dia do ultrassom, ao ouvir o coração do neném e o médico confirmar que era um menino, ela logo olhou para o Vinícius com um sorriso de orelha a orelha e disse: “nosso Augusto”. A gravidez passou rapidamente, e estava marcado para Augusto nascer no dia 01/09/2023. Entretanto, no dia 24/08/2023, ele nasceu, trazendo consigo não apenas a vida O casal comemora a notícia da gravidez Imagem: Arquivo Pessoal

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Imagem: Arquivo Pessoal

dele, mas também uma mãe e um pai, que, desde o primeiro dia em que se conheceram, já sabiam que ele estava a caminho. Agora, olhando para trás e refletindo sobre toda a sua história com Vinicius, Ket acredita que está vivendo o seu melhor momento e que, em suas orações, sempre pedia a Deus por tudo que está acontecendo hoje. "O que era para ser apenas um show do meu ídolo no Rock in Rio acabou se transformando em uma história de amor! Não esperava que isso iria acontecer comigo; para mim, isso só acontecia em filmes. Eu e o Vinicius estávamos destinados, era para acontecer!"


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O RIO DÁ UM SHOW

SÉRIE DE SHOWS INTERNACIONAIS MOVIMENTAM O RIO DE JANEIRO EM 2023 Por: Augusto Ribeiro Imagem: Buda Mendes/TAS23/Getty Images

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ENTRETENIMENTO

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m 2023, o Rio de Janeiro foi marcado pelo grande número de apresentações de cantores nacionais e internacionais em festivais ou shows solo, trazendo turistas de todo o País e continente e aquecendo os setores de Turismo e Transporte. Fãs de artistas desembolsaram dinheiro para as atividades de impacto na economia local, ou seja, na compra de passagens, hospedagem e alimentação, entre outros. Após o período pandêmico, que esfriou o setor cultural em todo o mundo, causando uma pausa em turnês e festivais, o ano de 2022 foi marcado pelo retorno de alguns dos grandes eventos realizados em terras fluminenses, o que se consolidou em 2023. Desde janeiro, o Rio de Janeiro foi escolhido como palco das apresentações de grandes nomes da música. Ainda no primeiro semestre, o Festival Spanta reuniu os principais nomes nacionais na Marina da Glória, enquanto o REP Festival ofereceu um lineup com os maiores rappers do País na Barra da Tijuca e o MITA misturou nomes em ascensão no Brasil com grandes artistas internacionais do gênero alternativo, como Lana Del Rey e Florence + The Machine no Jockey Club. Já a segunda metade de 2023 foi marcada pela presença de grandes nomes da música pop internacional 9

A cantora Lana del Rey em sua apresentação no festival MITA

em território nacional, com artistas como The Weeknd, Evanescence, Måneskin, Red Hot Chilli Peppers, RBD, Taylor Swift e Paul McCartney, trazendo suas turnês internacionais para o País com passagens pelo Rio de Janeiro com públicos de até 70 mil pessoas. Hotéis atingem 100% de ocupação Com as grandes turnês sendo apresentadas, no geral, nas capitais cariocas e paulistas, fãs de todo o Brasil — e até mesmo continente — precisam se deslocar às cidades para acompanhar os shows, elevando o número de passagens compradas com destino para o Rio de Janeiro e de hospedagens na capital carioca. Para o último trimestre deste ano, é prevista a ocupação de cerca de 72%

Imagem: Ariel Martini/MITA

nos quartos de hotéis, superando o número de 68% registrado nos últimos três meses de 2022. Dados do HotéisRio, apontam que a média de ocupação de hotéis entre os dias 16 e 19 de novembro, fim de semana em que a cantora estadunidense Taylor Swift apresenta a “The Eras Tour” no Rio, já é de 93,54%, com o pico de 97,03% no dia 17, quando ocorre o primeiro show. Arthur Amaral e Gabriel Ferreira, de 20 e 21 anos, respectivamente, e moradores do município de Padre Paraíso, em Minas Gerais, visitaram a capital fluminense em outubro para acompanhar o show do canadense The Weeknd com a “After Hours Til Dawn Global Stadium Tour” e retornaram em novembro para a turnê de Swift, tendo os gastos de


OLHAR 21 passagem, hospedagem e transporte para o Engenhão, onde o show acontece.

Sempre quisemos conhecer o Rio, e essa era a oportunidade perfeita.

Arthur e Gabriel no Engenhão para os shows de Taylor Swift (foto 1) e The Weekend (foto 2).

“Devido à demanda dos shows, hospedagem e passagens encarecem muito, então me organizei logo quando realizei as compras dos ingressos, reservando hotéis mais em conta e buscando passagens mais baratas também.”, explica Arthur O jovem casal ainda ressalta a oportunidade de conhecer alguns dos pontos turísticos da cidade. “Sempre quisemos conhecer o Rio, e essa era a oportunidade perfeita.”, relata Gabriel, que conta sobre o

Selfie do casal na vista do Cristo Redentor Imagem: Arquivo Pessoal

Imagens: Arquivo Pessoal

programa pela cidade: “Mesmo que por pouco tempo, aproveitamos pra conhecer, visitamos o Morro do Corcovado e também fomos à praia de Ipanema, no arpoador, além de ver, mesmo que de longe, inúmeros lugares turísticos que parecem ser ótimos para conhecer.” Toda a movimentação envolvendo esses shows deve impactar diretamente no aumento da arrecadação em impostos de serviços turísticos em comparação com o mesmo período do ano anterior. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município estima o salto de 15%, com o total de faturamento de 90 milhões.

O fenômeno das turnês O impacto de artistas como Swift não acontece só no Brasil. O Federal Reserve, o Banco Central norteamericano, já apontou a intérprete de sucessos como “Shake It Off” como responsável por impulsionar a economia local de diversos Estados do País. A passagem da cantora pelo Estado Ohio, no fim de junho, levou ao faturamento de mais de US$7,9 milhões nos hotéis da cidade de Cincinnati. Já em Chicago, o faturamento total superou o número de US$39 milhões, batendo o recorde do estado com mais de 44 mil quartos ocupados. 10


ENTRETENIMENTO

Os shows Algumas das apresentações deste ano eram esperadas há anos por legiões de fãs. Com a “After Hours Til Dawn Global Stadium Tour”, o cantor canadense The Weeknd retornou ao País após 6 anos com uma apresentação para 71 mil pessoas no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, na Zona Norte da capital carioca. Em sua passagem, marcada pelo mau tempo, que ameaçou o impedimento do show, o artista apresentou seus maiores sucessos entre as 40 canções cantadas sob a chuva. O Engenhão ainda foi palco para o esperado retorno do grupo RBD ao Brasil após 15 anos. Formado pelos mexicanos Anahí, Dulce María, Maite Perroni, Christopher

Taylor Swift no palco da “The Eras Tour” no Engenhão Imagem: Buda Mendes/Getty

Com 151 concertos marcados na América, Europa, Ásia e Oceania, Taylor deve ultrapassar a marca histórica de US$1 bilhão em faturamento com a “The Eras Tour”, superando Elton John, que possui o título de turnê mais rentável da história, com mais de US$939 milhões pela “Farewell Yellow Brick Road Tour”, sua turnê de despedida aos palcos. Ao todo, estima-se que a sequência de shows da cantora estadunidense ultrapasse US$4,6 bilhões de movimentação de dinheiro em economias locais. 11

Uckermann e Christian Chávez, o grupo, originado pela novela de sucesso exibida entre 2004 e 2006, acumulou oito noites em território brasileiro, incluindo duas noites esgotadas no Rio de Janeiro, somando mais de 120 mil pessoas. Taylor Swift, a artista com mais ouvintes do mundo no Spotify, principal plataforma digital de música, com quase 109 milhões de ouvintes globais, escolheu o Brasil para apresentar os últimos shows de 2023 da “The Eras Tour” turnê que celebra a carreira da artista, se dividindo entre atos especiais para seus dez álbuns de estúdio com 3 horas de show e 45 músicas performadas. Ao todo, foram seis apresentações no País, com três delas no Engenhão nos dias 17, 18 e 20 de novembro.

Quinteto do RBD utilizam roupas com as cores da bandeira brasileira em apresentação no Engenhão. Imagem: Iris Alves/Live Nation/RBD

The Weekend canta sob a chuva na primeira noite de show no Rio de Janeiro Imagens: Lucas Tavares/Agência O Globo


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Público lota Maracanâ no show de 1990.

Anteriormente, Taylor só havia visitado o Brasil em 2012 para a promoção do seu álbum “Red” em programas de televisão e em um pocket show privado para convidados. Seu retorno aconteceria em 2020, com as apresentações da Lover Fest nos dias 18 e 19 de outubro em São Paulo, as únicas datas na América do Sul. No entanto, toda a turnê foi cancelada ainda em abril do mesmo ano devido à pandemia da Covid-19. Encerrando a sequência de apresentações internacionais na cidade maravilhosa, o ex-beatle Paul McCartney voltará ao Brasil após quatro anos com a “Got back tour”, passando por cinco estados, com um show marcado para o dia 16 de dezembro no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. O estádio mais famoso do País foi o palco do primeiro show de McCartney no Brasil em 1990, quando bateu seu recorde de público.

Imagem: Cezar Loureiro

Cantor durante a apresentação.

Novidades para o próximo ano O ano de 2024 promete ser ainda mais agitado para os fãs de músicas de todos os gêneros com a vinda de grandes artistas de todo o planeta. O jornalista José Norberto Flesch, conhecido por adiantar os anúncios de apresentações no País, deu indícios de que artistas como Beyoncé, que fez sucesso com a “Renaissance World Tour” em 2023, e Madonna, que apresenta a “The Celebration Tour”, sua turnê retrospectiva em comemoração aos 40 anos de carreira, com datas divulgadas na Europa e América do

Imagem: Custódio Coimbra

Norte até abril de 2024, devem desembarcar em terras brasileiras no próximo ano. No próximo ano, o Rio de Janeiro também volta a sediar o Rock In Rio, principal festival do País realizado no Parque Olímpico, com público diário de 100 mil pessoas, em sua edição comemorativa de 40 anos. O evento, marcado para os dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro de 2024, já conta com Ed Sheeran, Ne-Yo e Joss Stone entre as atrações internacionais confirmadas.

Beyoncé no palco do Rock In Rio 2013, sua última passagem pelo Brasil.

Imagem: Reprodução/RIR

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REFLEXÃO

LUXO NA BAIXADA FLUMINENSE O OUTLET EXCLUSIVO PARA PÚBLICO SELETO Por: Victória da Silva Imagem: Victória da Silva

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a movimentada Baixada Fluminense, onde o cotidiano é marcado pela diversidade cultural e social, surge uma peculiaridade que destoa da paisagem urbana tradicional. À margem da Avenida Washington Luiz, encontra-se um Outlet Premium que se destaca não apenas pelos produtos de alta qualidade, mas também por ser um ponto de encontro para uma clientela bastante específica: pessoas da classe média que cruzam a Avenida que faz a ligação de Petrópolis para a capital do Rio de Janeiro, mas não para aqueles que chamam aquela região de lar. 13

Este outlet é uma vitrine de marcas renomadas e grifes de prestígio, como The North Face, Boss, Calvin Klein, Diesel, Lacoste, etc, e oferece uma experiência de compras única na Baixada Fluminense. Com suas lojas de preços elevados, tornou-se um refúgio para aqueles que buscam exclusividade em meio a um ambiente inesperado. No entanto, a curiosidade reside na dinâmica social que se desenrola na sua clientela, majoritariamente composta por pessoas não residentes naquele local, brancas, de maior poder aquisitivo, e, muitas vezes, estrangeiras. “Apesar de morar bem perto, não

costumo ir lá não. O lugar é agradável, mas os preços são altos. Já que não dá pra comprar, a visita acaba sendo bastante entediante. Parece um shopping, só que não dá pra comprar nada” compartilhou Lucas Duarte, vizinho do outlet. Enquanto as lojas reluzem com produtos das últimas coleções de estilistas renomados, o cenário fora das vitrines conta uma história diferente. Os moradores locais, muitas vezes pertencentes a classes econômicas inferiores, observam de longe o movimento constante, dirigem-se ao outlet e compram peças caras que comumente não


OLHAR 21 engraçado a moça trazendo várias opções para eu provar, todas muito caras. Óbvio que eu não ficaria com nenhuma, a não ser que eu quisesse passar fome o resto do mês”, contou o jovem Manuel da Silva, morador da região.

vitrine da loja da Calvin Klein do Outlet de Duque de Caxias

poderiam comprar. Este lugar, que poderia ser uma oportunidade de consumo acessível para a comunidade, tornou-se um símbolo do acesso restrito ao luxo.

Já fui lá para procurar um casaco e estive em lojas que a peça custava mais do que o salário mínimo.

Imagem: Victória da Silva

destaca as complexidades da gentrificação e do consumo ostensivo em uma área outrora caracterizada por uma atmosfera mais modesta. Enquanto o outlet serve como um atrativo para a elite, a questão sobre seu impacto na comunidade local e o papel na dinâmica socioeconômica da Baixada Fluminense permanece em aberto. “Já fui lá para procurar um casaco e estive em lojas que a peça custava mais do que o salário mínimo, que é o que eu recebo mensalmente. Achei

O Outlet Premium está situado no bairro da Figueira, no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A presença de marcas reputadas no local e a constante circulação de visitantes de diversas localidades sugerem que o empreendimento foi concebido para atender a uma clientela que utiliza a longa avenida como rota para bairros mais sofisticados e precisam de um lugar “a altura” para comprar. Isso evidencia os fenômenos urbanos de disparidade social e econômica, especificamente em locais de consumo erguidos em regiões economicamente desfavorecidas, destinados exclusivamente à elite. Essa dinâmica reforça o fenômeno da gentrificação, onde a revitalização de espaços marginalizados muitas vezes resulta na instalação de estabelecimentos voltados para um público mais abastado.

“Já comprei uma peça muito cara, mas ainda foi na promoção, queima de estoque, sabe? Muito mais do que eu poderia pagar, mas fazer o que, né? Eu gosto, é muito bonito e está na moda usar marcas como essas. Eu não podia, mas comprei” afirmou uma das visitantes do espaço. A disparidade entre os frequentadores e a população local

Banner da loja com celebridades do ramo musical.

Imagem: Victória da Silva

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VIAGEM

JORNADA SOBRE RODAS

A PAIXÃO DE KATHARINA BRAZIL POR CARROS, VIAGENS E DESAFIOS Por: Luiz Otávio Coimbra Imagem: Arquivo Pessoal

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OLHAR 21

A

paixão de Katharina Brazil por carros e viagens moldou uma jornada incrível em sua vida. Tudo começou lá atrás, a bordo de um Variant Squareback 1971, aprendendo a dirigir com seu avô, e desde então, essa trajetória a levou por escolhas ousadas. A coragem de se reinventar e investir na sua paixão trouxe experiências transformadoras. Nesta entrevista, Katharina compartilha suas vivências, enfrenta desafios e revela seus planos futuros, destacando a essência de uma vida motivada pelo prazer de descobrir novos horizontes.

coragem para me reinventar. Essa coragem veio acompanhada da necessidade de redescobrir minha essência, pois não tinha certeza de quem me tornei, do que gostava ou não. A única certeza era que eu era a prioridade daquele momento em diante. Saí da zona de conforto, mudei para São Paulo, transformei minha área profissional, criei uma nova empresa, comprei um Mercedes Benz C180 e retomei as viagens, agora por prazer. Tudo estava indo bem até que, dois anos depois, sofri um acidente com o MB, que sofreu

perda total, mas eu estava viva. Nesse momento, percebi a necessidade de me preocupar mais com minha segurança nas viagens. Pesquisei e acabei adquirindo um SUV Toyota RAV4, acreditando ser uma melhor opção para os tipos de viagens que pretendia fazer. O SUV não apagou minha paixão pelos esportivos alemães, e comprei, como segundo carro, um Mercedes Benz SLK 200 Compressor, que se tornou meu bibelô e continua brilhando ao meu lado.

Como começou a sua paixão por carros e viagens? Minha história começou a bordo de um Variant Squareback 1971, o qual me tornou uma apaixonada por viagens sobre rodas. Nela, aprendi a dirigir com meu avô, que a comprou na fábrica da Volkswagen na Alemanha, quando trabalhava na embaixada brasileira em Paris, e também onde fiz minhas primeiras viagens. Hoje, além das inúmeras histórias que colecionei junto dessa raridade, ela enfeita a minha garagem. Minha vida sempre foi marcada por muitas viagens a trabalho, com pouco tempo para minha paixão por carros, mas nunca deixei de aproveitá-las. Em 2013, a maior ruptura aconteceu, forçando-me a decidir entre continuar em um trabalho de mais de 20 anos sem amigos, hobbies, família e quase todos os prazeres da vida, ou criar

Katharina posa em cima de seu fiel carro durante uma das suas viagens

Imagem: Arquivo Pessoal

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VIAGEM

Como surgiu a ideia de transformar o seu Jeep Compass? E quais foram os desafios que você enfrentou durante a montagem do carro? Foi em uma das minhas muitas viagens na RAV4, mais precisamente pela Serra do Roncador (MT), que percebi que o estilo Overland era o que me fazia sentir viva. Ou seja, minhas viagens definitivamente seriam feitas, no máximo, por meio terrestre e sobre rodas. Contudo, não havia mais dúvidas; eu precisava de um veículo mais robusto, novo, com tração 4x4 e preparado. Em junho de 2018, adquiri meu primeiro Jeep Compass Longitude diesel 18/18, já com a intenção de investir e transformá-lo em um veículo Overland. Para isso, sabia que precisava de mais conhecimento. Decidi que o mais importante naquele momento era receber um treinamento sobre as técnicas de uso e condução de veículos 4x4, e assim fui para Brotas (SP) aprender com o time da KeepTrack.

Imagem: Arquivo Pessoal

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Passei um ano viajando pelo Brasil, e de repente, surgiu a incrível oportunidade de trabalhar na idealização e execução do primeiro evento Arena Jeep em São Paulo. Além de ter sido uma experiência enriquecedora e mágica, onde construí uma pista off-road, testei os Jeeps nela, conheci Jeepeiros e alcancei o sucesso do evento, mas não foi suficiente; eu ainda tive que me apaixonar pela marca, e me pareceu que não existia outro caminho. Nesse momento, tomada pela paixão, iniciei uma nova fase do

projeto: preparar meu Compass Overland. Defini premissas a serem seguidas, como tornar o carro mais seguro, já que viajo na maioria das vezes sozinha; criar funcionalidades tanto para o uso on quanto off-road e também aumentar as qualidades e capacidades do carro. O árduo trabalho de pesquisa para encontrar fornecedores confiáveis e, principalmente, que topassem o desafio, já que muitas soluções não existiam para o Compass e tiveram que ser criadas do zero. Acho que tive sorte nesse quesito. A maior dificuldade tem sido encontrar um equilíbrio para ter um bom desempenho, tanto no asfalto quanto fora de estrada, já que são demandas muito diferentes, e uma coisa pode atrapalhar a outra.

Existia muito preconceito com o carro, principalmente pelo fato de ter sido desenvolvido por uma mulher.

Qual é a reação das pessoas quando veem o seu carro?

No início, não foi fácil. Existia muito preconceito com o carro, principalmente pelo fato de ter sido desenvolvido por uma mulher. Hoje, mudou bastante. Após dois Rallys dos Sertões e uma dezena de expedições, tanto eu quanto o carro conquistamos o respeito tanto de quem pratica o offroad e o overlanding quanto de quem curte carros.


OLHAR 21 O que te motiva para as viagens e expedições que você faz? Eu amo estar na natureza, adoro ver a reação das pessoas que levo para as expedições e curto demais ajudar e ensinar. Existe também a adrenalina de conhecer lugares novos, experimentar novos sabores, conhecer diferentes culturas... tudo isso alimenta a alma. Qual foi o momento mais marcante ou engraçado que você vivenciou em uma dessas aventuras? E quais são os seus planos para o futuro? São tantos momentos maravilhosos que é difícil eleger algum. No entanto, tem uma aventura que me mudou para sempre e que experimentei sensações que nunca havia vivido nestes meus 40 e muitos anos: eu subi o Pico da

Durante viagem, Katherina aparece com seu Jeep.

Neblina guiada pelos indígenas Yanomami. Ir ao ponto mais alto do meu País, no meio da Floresta Amazônica, guiada e cuidada pelos donos daquela terra foi incrível. Me emociono sempre que conto minhas aventuras por lá. A minha aventura ao Yaripo (nome dado pelos indígenas para o Pico da Neblina), além de tatuada na pele, está registrada no Fantástico apresentado em 01/05/2022. O plano principal e também a razão pela qual eu preparei meu OverKing (nome do meu Jeep) é ir até o Alasca, sempre priorizando o fora de estrada e os caminhos mais pitorescos, sinuosos e remotos. Hoje, o objetivo é iniciar essa aventura em janeiro de 2025, pois quero comemorar meus 50 anos assistindo à aurora boreal em Fairbanks.

Katharina utiliza seu notebook para o trabalho durante as viagens, independente da localização onde está. Imagem: Arquivo Pessoal

Imagem: Arquivo Pessoal

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CULTURA

Resgatando a História A REVITALIZAÇÃO DA PEQUENA ÁFRICA NO CORAÇÃO DO RIO DE JANEIRO Por: Pedro Augusto Pinheiro Imagem: Pedro Augusto Pinheiro

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OLHAR 21

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m meio aos encantos e complexidades urbanas do Rio de Janeiro, a região conhecida como Pequena África emerge como um tesouro histórico pouco explorado. Localizada no coração da Cidade, esta área desempenhou um papel crucial na formação da identidade carioca, marcada por uma rica herança cultural, social e histórica. Localização Estratégica: ponto de confluência e resistência carioca A região conhecida como “Pequena África” ocupa uma posição estratégica nas proximidades do centro histórico do Rio de Janeiro, desempenhando um papel vital no desenvolvimento da Cidade. Segundo análises do historiador Luiz Antonio Simas, especialista em cultura

carioca, a localização desse bairro foi determinante para a concentração de uma rica diversidade cultural, especialmente durante os períodos colonial e pós-abolição. "A Pequena África foi uma encruzilhada de culturas, onde convergiram influências africanas, indígenas e europeias. Essa mistura

A Pequena África foi uma encruzilhada de culturas, onde convergiram influências africanas, indígenas e europeias.

única moldou não apenas a geografia do bairro, mas também a identidade cultural do Rio de Janeiro", ressalta Simas. Durante a época colonial, essa região desempenhou um papel crucial na construção e desenvolvimento da Cidade. A congromerado significativa de negros escravizados nessa área foi resultado direto da exploração econômica baseada na produção de açúcar, ouro e outras commodities. A mão de obra escrava foi empregada em diversas atividades, desde a construção de edifícios e infraestrutura urbana até o trabalho nas plantações e nas minas. Essa força de trabalho era essencial para a expansão e consolidação do espaço urbano carioca, contribuindo para a

Centro Cultural Casa da Tia Ciata, a sede da Organização dos Remanescentes da Tia Ciata (ORTC) cujo objetivo é manter viva a memória da Matriarca do samba que dá nome ao espaço, contando com uma exposição permanente sobre a mesma.

Imagem: Pedro Augusto

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CULTURA

construção de edificações históricas que ainda hoje são parte integrante do patrimônio cultural da cidade. Alguns exemplos desses feitos são a Igreja de São Francisco da Penitência, o Real Gabinete Português de Leitura e a Igreja da Candelária, localizada na região do centro histórico do Rio de Janeiro. Além do aspecto material, a influência da população negra escravizada na Pequena África se estendeu para o campo cultural e religioso. A prática do candomblé, por exemplo, floresceu nessa região, preservando tradições religiosas de origem africana. A musicalidade e a dança, fundamentais na expressão cultural afro-brasileira, também encontraram espaço na Pequena África, deixando uma marca indelével na identidade carioca. É importante contextualizar essas contribuições no cenário mais amplo da exploração e escravidão no Brasil colonial. A Pequena África não apenas reflete a exploração econômica brutal da época, mas também representa a resiliência e a preservação da cultura afro-brasileira em face de adversidades históricas. Essa herança, ainda visível nos elementos culturais presentes na região, é um testemunho vivo da complexidade e diversidade da história brasileira. .Importância Histórica: um patrimônio cultural afro-brasileiro A Pequena África não era apenas um espaço físico; era um caldeirão fervilhante de culturas afrobrasileiras que ecoam até os dias de 21

Grafitti na área da Pequena África.

Imagem: Pedro Augusto Pinheiro

hoje. Além disso, a região foi berço de movimentos como o samba de roda e a capoeira, manifestações culturais que transcenderam suas origens para se tornarem símbolos nacionais.

Carolina Maria de Jesus, "Esse lugar não foi apenas um espaço de opressão, mas um solo fértil de resistência, onde a cultura africana florescia em meio às adversidades, deixando um legado que transcende os séculos."

O professor André Rodrigues observou que "a Pequena África foi a expressão mais viva e autêntica da cultura negra no Brasil, onde se desenharam os contornos da resistência e da formação de uma identidade afro-brasileira única." Essa efervescência cultural também se manifestava em resistência. Nas palavras da escritora e poetisa

Ao reconhecer a riqueza dessa herança, a revitalização da Pequena África busca não apenas restaurar prédios e ruas, mas também resgatar e preservar a profundidade cultural e histórica que moldou não somente o Rio de Janeiro, mas toda a nação brasileira.


OLHAR 21 Revitalização em curso Recentemente, um vigoroso movimento de revitalização tomou impulso na Pequena África, respaldado por um ambicioso projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro, com foco no Cais do Valongo. Esse plano abrangente vai muito além da restauração de prédios históricos, englobando uma modernização da infraestrutura para promover uma verdadeira transformação na região. Entre as iniciativas mais significativas, destaca-se a substituição de parte da mureta, aprimoramento da sinalização e instalação de uma iluminação mais eficiente, proporcionando não apenas segurança, mas também realçando a beleza intrínseca da área. Um dos elementos mais distintivos desse projeto é a introdução de uma escultura singular, modelada na forma do continente africano. Esta peça, de impacto visual notável, não

só adiciona uma dimensão artística à paisagem urbana, mas também serve como símbolo marcante da rica herança cultural africana que permeia a região. Totens expositivos, minuciosamente detalhados, proporcionarão aos visitantes uma imersão profunda na história da Pequena África, destacando sua importância ao longo dos séculos. Comprometida com a transformação integral da região, a prefeitura do Rio de Janeiro também assumiu a responsabilidade pela iluminação das ruas, oferecendo não apenas uma estética envolvente, mas também garantindo a segurança dos moradores e visitantes. Além disso, a supervisão do sistema de drenagem foi aprimorada para mitigar alagamentos, uma preocupação recorrente no passado. Essas melhorias estruturais não apenas revitalizam o espaço, mas também asseguram que a Pequena África se torne um local dinâmico e resiliente.

Largo de São Francisco da Prainha, no bairro da Saúde.

Imagem: Pedro Augusto Pinheiro

Este é um capítulo empolgante na história da Cidade, onde passado e presente se entrelaçam, guiando-nos a uma compreensão mais completa e apreciativa da nossa diversidade e patrimônio cultural. A revitalização da Pequena África, sob a égide da Prefeitura, não é apenas um projeto urbanístico; é um compromisso coletivo com a preservação da identidade e memória de uma nação, preparando o terreno para um futuro vibrante e respeitoso com suas raízes culturais.

Placa sinalizando a Pedra do Sal, área que foi ressignificada e é um dos grandes pontos noturnos do centro da cidade. Imagem: Pedro Augusto Pinheiro

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