Andança fotográfica Quem não conhece a fotografia contemporânea de Belo Horizonte não sabe o que está perdendo. É, hoje, a área mais expressiva das artes visuais. Sucedem-se, articulam-se, revelando quantidade de autores de qualidade estética rara, com obra desenvolvida há décadas. São imagens, instalações, explorações diversas do espaço expositivo que motivam a admiração pela forma que delineia uma presença, que quer ser sinônimo de renovação, debate, fundação de novas perspectivas. Talvez apenas o setor de design exiba igual efervescência criativa. Que ninguém imagine que a exuberância demonstrada é acaso ou, simplesmente, reflexo de situação semelhante, que vem acontecendo em escala nacional. Tão surpreendente quanto à criatividade e complexidade de questões postas pelos trabalhos, por si, é a constatação de que a vibração demonstrada, resultado de longo processo que, de forma continuada, existe há quase quatro décadas. Marcos de uma argumentação fértil, incisiva, poderia ser audiovisuais, apresentados em salões dos anos 1970, e a reverência, hoje, a diversos autores, que não só vem ganhando prêmios e publicações, como sendo incorporados a importantes coleções de arte. Todo contexto chama, naturalmente, a reflexão que delineando realizações, revelam o processo do qual emergiram. A através de uso e pesquisa continuada de linguagem construiu-se situação que retirou a fotografia do limbo em que era colocada. Luta, ainda em curso, é a disposição para dar a fotografia outro patamar estético, histórico, cultural e de mercado. Ação nada simples de ser realizada, movida por muitos, em diversas frentes, já que colocava questões complexas e disposição de enfrentar anacronismo e conservadorismos enraizados. Acrescente-se andança que cruzou momento marcado por profundas transformações dos conceitos de arte, que enfrentou o tema da formação e da informação, de profissionais e do público, apresentando realizações. Até porque eram necessárias outras formas de abordagem da fotografia para que, com realizações motivadoras, sacudisse a letargia de um contexto. >>
A marca do mostrado, em diversas exposições, como já observaram muitos, e com razão, é a diversidade. O que é valor a ser posto em destaque, ainda mais diante da homogeneidade e repetição, algo enfadonha, de outros segmentos das artes visuais. Na área de fotografia, talvez até pela falta de mercado, pode-se observar pluralidade que não é ecletismo, diversidade de olhares, propostas, pontos de vistas, que cria tensão poética e crítica, digna de nota. Diferentes motivos da contemporaneidade (memória, a cidade, o corpo, questões de gênero etc.) andaram juntos com a reinvenção de práticas clássicas da modernidade (a abstração, a colagem, abertura para o onírico etc.) regidas, praticamente, por busca de independência intelectual. O que se viu e continua sendo mostrada são fotografias com profunda consciência (crítica, lúdica, histórica, ótica etc.) do ato fotográfico. Que se valem do aparato fotográfico como se ele acabasse de ser inventado e a história dada fosse apenas primórdios. Que afirma, explicitamente, a busca da construção de um olhar pessoal (novo?) que quer renovar a percepção, alimentando liberdade para obras autorais e projetos que resistam aos usos convencionais e funcionais da fotografia. Talvez tudo isso sejam questões excessivamente pesadas para uma mostra como esta, que surge com temperatura festiva, militante, vinda “da base”. E que traz algo “típico” dos fotógrafos: encantamento com o ofício. Movido de certezas teóricas, mas de algo mais efetivo: o reconhecimento de um agir criativo com impacto sobre o contexto em que é inserido. Que o nascente contexto da nova fotografia seja capaz de enfrentar os impas- ses postos pelo mercado cujo gosto pela especulação sacrifica a liberdade criativa, empobrece o presente e não consegue assumir um acervo de realizações, inclusive para impedir a pura e simples destruição física de obras. Walter Sebastião Belo Horizonte, dezembro de 2010
Alexandre Lopes Carrossel 2010
Alexandre C. Mota Sem TĂtulo 2009
ร lvaro Frรกguas Meio 2010
Carlos Vรกz Monkey 2010
CĂcero Mafra St. Petersburg 2010
Daniel Mansur Sem TĂtulo 2010
Eugênio Sávio Pedro 2008
Fernando Martins Cavaleiro na Serra do Espinhaço 2010
Jomar Bragança Sem TĂtulo 2009
Marcelo Rosa Belo Horizonte 2010
Marcilio Gazzinelli Copacabana 2008
Marcio Rodrigues Skin 2008
Miguel Aun Sem TĂtulo 1980
Paulo Laborne Petit 2009
Tibério França Liberdade de Criação 1990/2010
Weber Pádua Curcuma 2010