ZAMBRA
Monalisa verão de 2022
Y yo creo más en las paradojas de la vida que en las antinomias del pensamiento
María Zambrano
Em árabe marroquino, zambra significa "festa". O nome da zine carrega essa etimologia: uma festa poética, na qual dançamos eu e María Zambrano. Primeiro de tudo, quem é ela? Maria morreu um ano antes de eu nascer, em 1991. Ela, por sua vez, nasceu em Valéz-Malága na Espanha, mas viveu em muitos lugares, tendo passado boa parte de sua vida adulta no exílio, principalmente em Havana. María veio ao mundo em 1904, consegue imaginar? Eu consigo, adoro evanescer no tempo, principalmente naquele tempo onde eu não habitei. María foi uma filósofa, diria, uma grande filósofa inclusive. Não confie no google, se você a buscar ela aparecerá descrita como “discípula” de fulano e cricrano de tal. María foi uma filósofa em feminino, fez historiografia dos sentires, partiu de suas entranhas para, com a distância e o esmero no ponto, olhar o mundo. Na distância, ela se tornou parte. E quem, afinal, sou eu? Quem sou eu para, simplesmente, convidar María para bailar? Bom, eu sou apenas uma mulher que leu suas palavras, com a distância e o esmero no ponto, e fui infusionada de alegria… tanto, que sai escrevendo garatujas. Os poemas dessa zine são todos inspirados em palavras e frases que María Zambrano falou em uma entrevista concedida à Pilar Trenas em 1988 para a Televisión Española.
eu não sabia nomeá-las (as flores) mas as sentia sentia para sempre posso dizer que as conheço? não sei o nome mas meu corpo sabe o perfume e meu peito aperta em lembrança quem as conhece? eu? ou alguém que nunca as sentiu mas viu foto descrição, nome científico lustroso em latim? eu nem mesmo sei de sua aparência mas profundamente em mim repousa o cheiro o perfume derradeiro de minha infância mas não sei nomes só sei o amor só sei o mistério
a água esteve sempre em todas as partes gota à gota em meus sonhos e no mar no qual mergulho a água sai em umidade de gozo na alegria dos corpos a água sai em umidade de lágrima na tristeza da alma gota a gota em todas as partes água
o tempo sozinha com o tempo não havia nada a ser feito então, nadei o tempo, o mar… nos superam
o tempo era dono de mim e, com sorte, eu conseguia flutuar não contarei sobre os dias (?) de azar se soluço água salgada das horas (?) aí está o relato
sozinha com o tempo sozinha com o mar
não recordo-me com amargura /me/ recordo com alegria de tudo e tudo e mais pois foi breve e assim se foi e eu estava lá não é alegre encontrar-se em algum lugar?
adelfa hermana as primeiras horas a primeira irmã como as esperei!
não sei bem sobre o que escrevo descubro esqueço perco e da distância retorno procuro de novo e mais ser poeta é começar
sentinela estar na noite desperta estar no escuro sem claridade sem rigor desperta sentindo a piedade da vida
a vida é um arquipélago (não um jogo de xadrez) a vida é água e terra matizes de azul e ocre não quero analisar e jogar quero viver
a serenidade depende do descobrir-se da partida de si da chegada não-sei-onde depois —
calma
Y yo creo más en las paradojas de la vida que en las antinomias del pensamiento
María Zambrano
ZAMBRA poesia, colagem digital e design por Monalisa Gomyde Bahia 2022