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Campinas, 13 a 19 de junho de 2016 - ANO XXX - Nº 659 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Foto: Angelo Perosa/ Voz da Unidade/ AEL-Unicamp

Memória ampliada 6 e7

O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, detentor da maior massa documental de história social da América Latina, recebeu, de 2015 para cá, mais 11 coleções, entre as quais toda a documentação do Centro Pastoral Vergueiro (CPV) e os acervos pessoais de Oswaldo Sevá, Peter Fry e Verena Stolcke. As coleções reúnem material nas áreas de movimentos sociais, estudos africanistas, mundo do trabalho, meio ambiente, gênero e sexualidade e pesquisas de opinião, entre outras. “É uma documentação que muda bastante o perfil do AEL e amplia as possibilidades de pesquisa”, afirma o professor Alvaro Bianchi, diretor do Arquivo, cujo acervo já fundamentou inúmeras teses e dissertações.

Geologia explica ‘cidade perdida’ Radiação ainda é alta em Bikini Rumo ao detector de ondas gravitacionais

TELESCÓPIO

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O escritor José Saramago participa de evento em São Paulo, em janeiro de 1982; a foto, feita para o jornal Voz da Unidade, integra a coleção Agência A2ad/Angelo Perosa, incorporada recentemente pelo AEL

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Preenchendo a lacuna semântica das imagens Estudo investiga efeitos da judicialização da saúde Drone ajuda a preservar edificações históricas Modelo evita estresse térmico em aviários


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TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Foto: Divulgação

‘Cidade perdida’ é formação geológica Uma “cidade perdida” submarina na costa da Grécia é, na verdade, uma formação natural, de acordo com pesquisadores gregos e britânicos, que publicam artigo sobre o assunto no periódico Marine and Petroleum Geology. Descobertas por mergulhadores em 2013, as “ruínas” da Ilha de Zakynthos foram originalmente interpretadas como vestígios de colunas e ruas pavimentadas de uma cidade antiga destruída, milhares de anos atrás, por um tsunami. O novo trabalho, no entanto, sugere uma origem ainda mais antiga para as formações: um fenômeno ocorrido há cerca de 5 milhões de anos, a partir da deposição de minerais por bactérias que consumiam o gás metano liberado de uma falha submarina. Citado em nota distribuída pela Universidade de East Anglia, o pesquisador Julian Andrews explica: “Micróbios no sedimento usam o carbono do metano como alimento. A oxidação do metano pelos micróbios muda a química do sedimento, formando um tipo de cimento natural, chamado concreção. Essas concreções foram então exumadas pela erosão e apareceram no leito marítimo do presente”. A idade das concreções foi calculada com base nas abundâncias de isótopos do elemento estrôncio.

A tarântula e a dor Uma análise da ação das toxinas presentes no veneno da aranha Heteroscodra maculata, um tipo de tarântula, ajuda a entender o mecanismo pelo qual o sistema nervoso gera a sensação de dor. O trabalho, de autoria de pesquisadores dos Estados Unidos e da Austrália, aparece na edição mais recente da revista Nature. Canais de sódio controlados por mudanças de voltagem estão na origem dos sinais disparados pela maioria dos neurônios, incluindo os envolvidos na sensação da dor. O estudo publicado na Nature descreve ação de duas toxinas da aranha que atacam um canal específico, o Nav1.1, e demonstra que as fibras nervosas onde essa via se expressa têm um papel na sensação de dor mecânica, mas não na dor térmica. Camundongos que tiveram o Nav1.1 ativado pela toxina de tarântula Hm1a ficam sensíveis ao toque – estimulação mecânica – mas não ao calor.

“Base de coluna”, na verdade uma formação natural produzida por bactérias no litoral da ilha grega de Zakynthos

Enguias saltadoras Numa inusitada fusão de pesquisa histórica e experimentação de laboratório, o pesquisador Kenneth C. Catania, da Universidade Vanderbilt (EUA) demonstrou que o relato feito em 1807 pelo naturalista alemão Alexander von Humboldt, sobre enguias elétricas que saltavam de poças d’água e lagoas para atacar cavalos, na Venezuela, tem base factual. Em artigo publicado no periódico PNAS, Catania descreve como enguias (Electrophorus electricus) saltam de seus aquários e atacam com descargas elétricas “predadores protéticos” – falsas cabeças de crocodilo, montadas com luzes LED que se acendem quando o animal descarrega sua eletricidade sobre o “agressor”. Vídeos da ação das enguias acompanham a publicação no periódico online. No relato de Humboldt, pescadores venezuelanos levavam cavalos até lagoas infestadas de enguias. Elas então saltavam da água, pressionando seus corpos contra os animais. A carga das enguias se esgotava antes que os cavalos morressem, e os pescadores então as recolhiam. A descrição do naturalista tornou-se famosa no século 19, mas depois passou a ser vista com crescente ceticismo na comunidade científica. Agora, o experimento apresentado na PNAS confirma que o comportamento descrito em 1807 faz parte do repertório das enguias.

Radiação persiste em Bikini

Calor em luz Pesquisadores alemães anunciam, na revista Science, a criação de um material de baixo custo capaz de absorver radiação na faixa infravermelha do espectro em luz branca, semelhante à de uma lâmpada incandescente de halogênio. O aparato descrito pelos inventores envolve um laser de infravermelho projetado sobre um composto de estanho e enxofre, dotado de uma estrutura específica. Esse material, então, emite a luz branca. De acordo com nota divulgada pela Science, a tecnologia poderá ser útil em aplicações como microscópios ou projetores.

O nível de radiação na Ilha Bikini, parte de um grupo de atóis do Oceano Pacífico onde os Estados Unidos conduziram diversos testes de armas nucleares entre 1946 e 1958, é muito mais alto do que sugeriam as estimativas oficiais das últimas décadas, e supera os níveis de segurança definidos entre o governo americano e o das Ilhas Marshall, que detém a soberania do atol. O artigo que descreve as medições de radiação realizadas em 2015 aparece no periódico PNAS. “Estimativas recentes dos níveis de contaminação no norte das Ilhas Marshall usam medições feitas décadas atrás para calcular os níveis presentes de radiação”, escrevem os autores, vinculados a instituições dos EUA. “Em contraste, reportamos medições contemporâneas de três diferentes atóis (…) as ilhas de Bikini e Rongelap são de particular interesse, já que são relevantes para a discussão de reocupação humana”.

Antes de realizar os testes de armas nucleares, o governo americano havia retirado a população das ilhas que seriam afetadas. O atol que contém a Ilha Bikini, especificamente, foi palco de 23 explosões nucleares. O nível de radiação encontrado na Ilha Bikini foi de 184 mrem/ano, acima do limite considerado seguro para habitação humana acordado entre os EUA e as Ilhas Marshall, de 100 mrem/ano. Nas demais ilhas, no entanto, o nível já está em abaixo dessa marca. No atol de Enewatak, famoso por ter sido palco do primeiro teste de uma bomba H, o nível de radiação medido ficou em 7,6 mrem/ ano, e em Rongelap, em 18,8 mrem/ano.

Desperdício galáctico A maior parte dos elementos mais pesados, como ferro e oxigênio, produzidos em estrelas é ejetada para fora das galáxias, diz artigo publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. “Acreditávamos que esses elementos pesados seriam reciclados em futuras gerações de estrelas e contribuiriam para a construção de sistemas planetários”, disse, por meio de nota, o principal autor do trabalho, Benjamin Oppenheimer, da Universidade do Colorado em Boulder. “Mas no fim, as galáxias não são muito boas em reciclagem”. A conclusão surgiu da análise de dados gerados pelo Espectrógrafo de Origem Cósmica (COS, na sigla em inglês), um instrumento instalado a bordo do Telescópio Espacial Hubble. O COS foi usado para analisar a composição do meio circungaláctico, a nuvem invisível de material que cerca as galáxias. Simulações realizadas com base nesses dados mostram que o meio circungaláctico contém uma proporção maior de elementos pesados do que a galáxia em si.

Ondas gravitacionais Uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA), lançada para testar a viabilidade de se montar um detector de ondas gravitacionais no espaço, trouxe resultados positivos, informa artigo publicado no periódico Physical Review Letters. A sonda LISA Pahtfinder produziu uma prova de princípio de que é possível manter um equipamento estável e livre de influências externas num dos pontos

lagrangianos Terra-Sol. Nessas áreas, a gravidade do planeta e da estrela se equilibra, gerando zonas de estabilidade. A LISA Pathfinder consiste de dois cubos de ouro e platina que flutuam no interior de uma concha, dotada de pequenos propulsores. O objetivo da missão era demonstrar que os propulsores conseguiriam mover o sistema de modo a contrabalançar quaisquer influências, incluindo a mera pressão da luz solar, que pudessem desviar os cubos das trajetórias previstas pela ação exclusiva da força da gravidade. A demonstração dessa capacidade de equilíbrio, garantindo que a única força percebida pelos cubos seria a gravidade, era necessária para viabilizar o observatório eLISA (sigla em inglês de Antena Espacial de Interferômetro Laser), com início de atividade previsto para 2034. O observatório usará raios laser para medir a distância entre satélites artificiais, orbitando a distâncias de milhões de quilômetros uns dos outros. A passagem de uma onda gravitacional – que “enruga” o espaço-tempo – causa alterações nessa distância. No entanto, para filtrar os efeitos reais das ondas de perturbações originadas em outras fontes, os componentes do observatório precisarão de enorme estabilidade.

Questões da evolução humana A PNAS publica uma série especial de artigos sobre as origens da espécie humana. A introdução do especial aponta que “novas descobertas, novos métodos e novas teorias continuam a alimentar a compreensão da evolução humana. A genética mostrou que, ao contrário do que a anatomia sozinha vinha sugerindo, pessoas e chimpanzés têm um parentesco muito mais próximo entre si do que com os demais grandes símios”. Os artigos do especial tratam, entre outros temas, das caraterísticas que distinguem a cognição humana da dos demais grandes símios; das mudanças na vegetação africana pré-histórica que afetaram a dieta, o comportamento e a anatomia dos ancestrais humanos, dando apoio à hipótese de que a expansão das savanas sustentou a evolução de características tipicamente humanas; e uma revisão taxonômica de esqueletos de homininos de cerca de 3,5 milhões de anos atrás. Outros artigos trazem discussões das evidências arqueológicas a respeito dos comportamentos do homem de neandertal e das informações que amostras antigas de DNA trazem sobre a dinâmica das populações de ancestrais da humanidade.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Lacuna semântica em segmentação de imagens é objeto de estudo no Instituto de Computação

Quadro a quadro Fotos: Antonio Scarpinetti

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

diretor de efeitos especiais de um filme de ficção científica precisa lançar a imagem de seu protagonista, que realiza diversas manobras acrobáticas diante da parede do estúdio, sobre um fundo futurista de naves espaciais, tiros e explosões; um divulgador de ciência deseja inserir a imagem de um pássaro voando, captada na natureza, sobre um fundo animado com legendas que explicarão os movimentos do voo; um biólogo gostaria de isolar, numa animação criada a partir de dezenas de imagens de uma cultura de células em divisão, o percurso de apenas uma ou duas delas. Cada uma dessas situações comporta soluções diferentes – no cinema, por exemplo, a mais usada é a técnica da tela verde, diante da qual o ator se movimenta para, então, ter sua imagem inserida no fundo adequado – mas todas elas são exemplos de um mesmo tipo de problema, o de segmentação da imagem, e que hoje é um dos desafios da interação entre ser humano e computador. “É algo que parece simples, o ser humano bate o olho e diz: este é o meu objeto de interesse, o resto é fundo”, explicou Thiago Spina, autor da tese de doutorado “Interactive segmentation of objects in images and videos using graphs and fuzzy models of content knowledge” (“Segmentação interativa de objetos em imagens e vídeos utilizando grafos e modelos nebulosos de conhecimento de conteúdo”), defendida no Instituto de Computação (IC) da Unicamp. “Só que para a máquina preencher essa lacuna semântica de, dada a indicação do usuário, determinar com precisão quais são os pixels, os pontos que compõem a imagem, que ele realmente quer isolar não é trivial”, descreve ele. “Ainda mais em vídeo, onde é preciso propagar a segmentação para os demais quadros e há movimentos em que o objeto de interesse não só muda de posição como também de forma – por exemplo, um braço pode ficar escondido atrás do corpo por alguns segundos, ou a roda de uma bicicleta mudar de ângulo”. Em sua tese, Spina apresenta um software que permite ao usuário marcar, com um pincel colorido controlado pelo mouse, como o que existe em programas comuns de edição de imagens, que parte do quadro inicial do vídeo corresponde ao objeto de interesse e que parte é o fundo que deve ser descartado. O programa então propaga a seleção para os demais quadros e apresenta o resultado ao usuário, que pode refinar suas marcações para corrigir eventuais erros.

COMPETIÇÃO

Para fazer a segmentação e a propagação, os pixels “semente” – aqueles que foram marcados como parte do objeto e parte do fundo – “competem entre si para tentar conquistar os mais parecidos com eles”, disse Spina. “E o que significa os mais parecidos? São aqueles cuja cor não é tão diferente da cor da semente. Como a cor não é tão diferente, o gradiente tende a ser baixo”. Usando como exemplo um vídeo que mostra um ciclista realizando manobras acrobáticas, ao ar livre e sob um céu azul, o pesquisador descreve: “Todos os pontos que estavam na camisa do ciclista tinham um gradiente baixo entre si, porque era todo mundo mais ou menos da mesma cor. A mesma coisa ocorreu aqui. Agora, quando o programa viu que o céu era bem diferente da camisa, aí o gradiente era alto, o peso era bem distinto e a competição entre semente de objeto e semente de fundo parou ali em cima, no contorno do ciclista. Assim, ele descobriu onde parar”. A dificuldade aumenta quando se pede ao programa que aplique os mesmos critérios baseados em pixels-semente aos demais quadros do vídeo, de modo automático. “Quando a gente quer fazer isso no vídeo inteiro, tem não só o problema de gradiente baixo, gradiente alto, como de oclusão parcial, quando uma parte do objeto de interesse passa por trás de algum objeto que é parte do fundo, ou de mudança de topologia, quando a silhueta, o contorno do objeto de interesse muda por conta de uma mudança de posição”. Mais dificuldades surgem no caso de movimentos muito rápidos, que geram um borrão onde a divisa entre objeto e fundo não é bem definida. Por isso são necessárias as correções feitas pelo usuário. Uma métrica da qualidade do sistema é o número de correções necessárias. “A gente fez algumas medidas do número de correções. Normalmente, se você consegue fazer uma segmentação manual a cada cinco quadros, você tem um bom resultado, porque já está reduzindo o esforço do usuário em 80%”, disse Spina. “Então o software que tem por aí, o meu inclusive, tenta chegar nessa meta ou superá-la”.

Imagem já segmentada pelo pesquisador: programa mostra resultados ao usuário

CONHECIMENTO HUMANO

O orientador da tese, Alexandre Falcão, explica por que, a despeito da crescente sofisticação dos sistemas de informática – com máquinas capazes de derrotar seres humanos em jogos complexos como xadrez ou go, ou mesmo reconhecer rostos em vídeos de segurança – a intervenção humana ainda é necessária na tarefa de segmentação. “A percepção humana da imagem é composta de duas partes: uma parte é a informação que podemos chamar de local, que você consegue extrair das cores e da textura. Você consegue perceber que o sujeito está com uma camisa vermelha. Então, todos os pontos da imagem, os pixels, que são vermelhos e pertencem à camisa têm uma textura similar, naquela adjacência. E aí você tem a camisa vermelha sobre um fundo branco, há um contraste. Esse tipo de informação é algo que a máquina consegue explorar bem”, disse ele. “Agora, quando a gente fala da outra percepção que o ser humano tem, essa é a percepção que vem da experiência, do conhecimento prévio: você sabe que o conjunto de pontos vermelhos forma uma camisa, que dentro da camisa há um homem, que o homem tem pernas, etc. Essa percepção é muito mais complicada para a máquina, a menos que ela seja treinada para chegar próximo ao que o ser humano consegue fazer”. O orientador prossegue: “Então, o que acontece aí? Nesse método, ela tenta incorporar um pouco da percepção

CÉLULAS

Thiago Spina, autor do estudo: “O contorno do objeto de interesse muda por conta de uma mudança de posição”

Publicação Tese: “Interactive segmentation of objects in images and videos using graphs and fuzzy models of content knowledge” Autor: Thiago Spina Orientador: Alexandre Falcão Unidade: Instituto de Computação (IC)

que o ser humano tem, através de um modelo: na hora que você segmenta a silhueta do indivíduo num quadro, cria-se um modelo a partir da segmentação, e o modelo é propagado para o frame seguinte”. Outro componente do método, explica Falcão, está associado à percepção de como os elementos da imagem se conectam entre si. “Dois pontos na camisa estão mais fortemente conexos do que um ponto na camisa e outro no fundo. Porque, entre os dois pontos da camisa é possível achar um caminho que vai de um ao outro passando por outros que também satisfazem esse mesmo critério de cor e de textura. Já para ir de um ponto na camisa e um ponto do fundo é preciso, necessariamente, passar por uma transição, sendo que os elementos de fundo também são mais parecidos entre si do que com os elementos da camisa”. Falcão explica que tarefas como o reconhecimento de faces são mais fáceis para os computadores. “São tarefas em que você repete várias vezes a imagem daquele indivíduo para a máquina, então ela vai aprender que se trata daquele indivíduo. Mas outra coisa é determinar a extensão espacial: dizer que determinada pessoa está numa imagem e delimitar exatamente qual a extensão espacial ocupada pela pessoa são tarefas bem diferentes”. “A maioria das aplicações mais modernas de ‘deep learning’ (aprendizado profundo), em que grandes empresas como o Google estão investindo tanto, requer apenas o reconhecimento de padrões, a detecção de um evento, a identificação de um determinado objeto, a partir da apresentação consistente daquela imagem, forma ou textura”, disse. “Mas isso tudo se baseia em ações repetitivas. Quando a forma ou a textura varia muito e a decisão requer outras informações que são difíceis de modelar, tem que ter um ser humano no processo. Acho que o grande exemplo é vídeo. Esse trabalho do Thiago é um exemplo: dificilmente você vai ver uma técnica de ‘deep learning’ que segmente todos os objetos de um vídeo automaticamente”. Além das aplicações nas áreas de arte e entretenimento, sistemas de segmentação de imagens também são úteis na análise de imagens médicas e em ouros campos da ciência.

O orientador da pesquisa, professor Alexandre Falcão: “Dificilmente você vai ver uma técnica de ‘deep learning’ que segmente todos os objetos de um vídeo automaticamente”

Spina está atualmente em contato com pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) interessados em segmentar vídeos montados a partir de sequências de imagens de células vegetais em crescimento. “Eles têm trabalhado com segmentação de células-tronco em imagens de plantas”, disse. “Então, em vez de ser um objeto apenas a segmentar, são centenas de objetos, e uma vez que tenham segmentado essas centenas, eles têm que garantir que a segmentação esteja correta, isto é, precisam não só utilizar o método automático que já têm, como também fazer a parte de correção, com o auxílio do usuário, e as imagens são 3D também”, descreve. O objetivo, explica Spina, é entender como as células crescem e se dividem. “A ideia é criar simulações computacionais que permitam compreender como funciona o processo de desenvolvimento dos órgãos das plantas, que se transformam em grãos e frutos para a alimentação humana, por exemplo”. “Para a análise dos vídeos das células, a propagação da segmentação de um quadro anterior para o quadro seguinte ainda é um problema em aberto”, disse o autor da tese. “Por ora, o que é feito é segmentar cada quadro individualmente, com o auxílio do usuário, e depois tentar determinar a correspondência entre as células segmentadas em quadros adjacentes, para determinar se ocorreu um processo de crescimento, duplicação ou morte”.


4 Campinas, 13 a 19 de junho de 2016

Judicialização da saúde expõe divergências entre instâncias Foto: Antoninho Perri

Estudo mostra que usuários nem sempre obtêm êxito quando lutam por seus direitos ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

judicialização da saúde no Brasil é o fenômeno pelo qual as pessoas buscam garantia de acesso às ações e aos serviços públicos de saúde por meio de ações judiciais. Ela às vezes é necessária pois a política de saúde pública é permeada de contradições. É o caso do Sistema Único de Saúde (SUS). No discurso, trata-se de uma política universal com princípios e diretrizes que deveriam ser aplicados uniformemente a todo território nacional. Não é o que ocorre. Desta forma, os usuários acabam tendo que procurar alternativas para garantir seus direitos, sendo uma delas a judicialização. Ocorre que, enquanto instituições como o Conselho Nacional de Justiça, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS e a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgam recomendações diante da complexidade do tema, o Judiciário ignora boa parte das principais discussões, que nem sempre chegam aos autos. Existe também um distanciamento decisório entre a primeira e a segunda instâncias e da atuação das Organizações não Governamentais (ONGs). Essas conclusões estão no estudo de mestrado da advogada Keyla Ketlyn Passos Pimenta, que foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e realizado na comarca de Campinas. A legitimação nas decisões pelos magistrados, quando o tema é o SUS, ainda não está livre dessas divergências. “O trabalho com essa comarca revela muito sobre a judicialização da saúde pública no país, sinalizando uma realidade ignorada em nível dos ‘autos processuais’ dos tribunais: existe muita incongruência entre as posições dos juízes de primeira e de segunda instâncias.” Em uma realidade local, em que o fenômeno da judicialização da saúde pública não contempla os extratos mais baixos da sociedade e é permeado pelas pouco esclarecidas relações entre seus atores, o Judiciário se mantém à margem da realidade dos fatos, que vai muito além dos aspectos jurídicos. Na opinião da pesquisadora, essas conclusões não deslegitimam ou desqualificam completamente a interferência judicial, mas apontam sim que o Judiciário carece de conhecimento sobre os elementos da realidade em que atua e que, agindo de forma não articulada, como os outros membros do poder público, não consegue mitigar o problema da saúde pública brasileira.

CAMPO

No estudo, Keyla avaliou o fenômeno da judicialização com foco em um conjunto de ações judiciais, partindo da análise de uma amostra recente de processos judiciais da comarca de Campinas. Buscou descrever como a justiça comum civil de primeiro e de

Publicação Dissertação: “Judicialização da saúde pública no Brasil: o que nos mostra o caso de Campinas” Autora: Keyla Ketlyn Passos Pimenta Orientador: Oswaldo Gonçalves Junior Unidade: Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA)

Usuários do sistema de saúde aguardam atendimento em hospital conveniado ao SUS: problema histórico

segundo graus do Estado de São Paulo, nas ações advindas da comarca de Campinas, tem se manifestado sobre o acesso às ações e aos serviços públicos da saúde; e em descrever e analisar os elementos do contexto dessas demandas judiciais. A autora do estudo entendeu como elementos todas as informações constantes dos processos que tenham sido julgadas pertinentes para a análise do fenômeno, como a idade do autor, a patologia que o acometia, a descrição do pedido, o lapso temporal da decisão. Também entraram nessa análise os elementos não explicitados nas ações, mas que foram do conhecimento de Keyla por meio de advogados ou de outras instituições envolvidas nos processos, como a atuação de organizações, a condição econômica do autor, entre outros. Ela contou que, como o estudo nasceu de um programa interdisciplinar da FCA, o enfrentamento da problemática trouxe uma análise integrada entre elementos do direito e da gestão pública. A sua expectativa é contribuir para propiciar uma visão com referencial e direção diferentes dos tradicionais, estritamente disciplinares. É ajudar a alimentar as informações do Estado sobre o tema, colaborando para uma melhor gestão das políticas públicas de saúde, especialmente em âmbito local e regional. “Que essas informações sejam lidas pela comunidade local e que a comunidade jurídica, os membros do Judiciário, as instituições governamentais e não governamentais, e os cidadãos possam discutir juntos sua realidade, seus problemas, caminhando para as soluções do problema social referido no estudo.”

cipalmente próteses e órteses específicas, em razão de determinado material e estrutura; há ainda aquelas que pedem medicamentos de determinada marca por não estarem satisfeitas com o genérico fornecido pela rede pública; e também há aquelas que recorrem ao Judiciário em razão da falta de algum produto já padronizado, mas que está em falta por problemas de aquisição ou distribuição. No Brasil, a tentativa de resolver conflitos políticos em saúde por meio do Poder Judiciário tornou-se relevante somente após a promulgação da Constituição Federal de 1988. A Carta Magna possibilitou a atuação do Judiciário em matérias que eram a priori apenas da alçada dos poderes Legislativo e Executivo. Afastando-se do sistema constitucional anterior – que permitia, por meio da legislação infraconstitucional, limitar a assistência terapêutica aos segurados da Previdência Social (art. 165, inciso XV, da Carta Magna Foto: Divulgação

RESULTADOS

As pessoas recorrem ao Judiciário, no caso da saúde pública, quando não têm suas demandas atendidas pelo SUS. Isso ocorre das mais diversas formas. São muitos os casos, desde pessoas que pedem por tratamentos milionários no Exterior até aquelas que pedem medicamentos rotineiros que não foram disponibilizados. Há pessoas que pedem medicamentos não registrados na Anvisa por serem ainda experimentais; há aquelas que pedem serviços ou insumos não disponibilizados pelo SUS, prin-

A advogada Keyla Ketlyn Passos Pimenta, autora da dissertação: “Muitos atores e interesses estão envolvidos no fenômeno, em escala local e global, e cada tema demanda minuciosa reflexão”

de 1967) –, a Constituição consagrou a saúde pública como direito social de todos os brasileiros (art. 6º). A partir daí, o fenômeno se desenvolveu. Keyla escolheu a comarca de Campinas por encontrar boa parte dos dados disponíveis já em meio digital e pela sua familiaridade com o sistema judicial local, porque já trabalhou nessa comarca. Foi assim que constatou incongruências entre as posições dos juízes de primeira e de segunda instâncias. Verificou que os de primeira instância mostraram mais elementos de convicção em suas decisões em relação ao deferimento ou indeferimento do pedido dos autores das ações estudadas. Tal variedade ligou-se à patologia dos autores, ao tratamento pedido, à urgência e às convicções de cada julgador. De forma geral, em primeira instância, 58% das decisões deferiram (houve concessão) o pedido do autor, 37% indeferiram e 5% deferiram parcialmente. Já, em segunda instância, observou-se padronização das decisões para o deferimento dos pedidos dos autores, sendo que 89,5% das decisões do tribunal foram totalmente favoráveis aos autores, 7% parcialmente favoráveis e 1% não favoráveis. Esse distanciamento decisório tem relação com a posição adotada pelo tribunal estadual, que segue as orientações dos tribunais superiores. Por outro lado, a maior variedade de decisões encontradas em primeira instância é mais complexa de ser explicada. Uma hipótese é de que a proximidade entre o juiz, patronos, autor, réu e inclusive administradores públicos locais é maior e faz com que o julgador pondere mais em suas decisões, considerando elementos específicos de cada caso concreto, não se vinculando tão fortemente às orientações dos tribunais superiores. Com relação à atuação de instituições, o aspecto mais curioso foi a identificação de duas entidades sem fins lucrativos que atuam no tema, servindo de ponte entre advogado e cliente em parte das ações da amostra. São elas a ONG Saúde em Vida (Associação de Assistência a Portadores de Hepatites e Transplantados Hepáticos do Estado de São Paulo) e a Afag (Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves). A ONG Saúde em Vida desempenha um papel atuante no fenômeno de judicialização na Comarca de Campinas, na medida em que informa os pacientes sobre a via judicial, indica advogados e tem sua própria assessoria jurídica para esse fim específico. A Afag informa a população sobre o recurso judicial e como buscá-lo. “Um aspecto impactante é que as informações coletadas sugerem relações entre laboratórios, clínicas, médicos, advogados e associações sem fins lucrativos. Estas relações podem estar sendo usadas pela indústria na formação e articulação de mecanismos para vender melhor seus produtos ao setor público”, sinalizou a autora. Os dados dessa pesquisa, comentou, comprovam que a indústria farmacêutica movimenta significativa monta de recursos financeiros no Estado em razão do fenômeno da judicialização e, por isso, é necessário considerar que as relações estabelecidas entre clínicas, farmacêuticas, médicos, advogados e associações sem fins lucrativos podem ser articuladas de modo a maximizar o ganho do mercado, em supressão aos interesses públicos. Caso essa hipótese se confirme no futuro, também é possível que alguns atores envolvidos possam não ter plena consciência dos estímulos que recebem para divulgação de determinadas informações e não discussão/disseminação de outras desfavoráveis a esse mercado. Keyla salientou que os resultados desse estudo podem ser extrapolados para outros Estados e comarcas. Mas o fenômeno da judicialização da saúde não é necessariamente permanente ou uniforme e também não se esgota no ativismo de minorias políticas. “Muitos atores e interesses estão envolvidos no fenômeno, em escala local e global, e cada tema demanda minuciosa reflexão”, ponderou.


5 Campinas, 13 a 19 de junho de 2016

Voos impulsionados pela ciência Pesquisas da FT com drones abrem novas possibilidades para o uso dos equipamentos Fotos: Antoninho Perri

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

s Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), mais conhecidos como drones, são temas de duas linhas de pesquisa desenvolvidas na Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, localizada em Limeira (SP). Uma equipe coordenada pela professora Eloisa Dezen-Kempter tem utilizado o equipamento para fazer o reconhecimento fotográfico de edificações históricas, com vistas a ações de preservação ou restauração. Já o grupo orientado pela professora Talia Simões dos Santos, responsável pelo Laboratório de Sistemas Embarcados, desenvolve um sistema com capacidade de fazer com que os veículos realizem voos autônomos. Embora independentes, os estudos tendem a se complementar futuramente. A professora Eloisa explica que a pesquisa realizada pelo seu grupo se insere nas áreas de arquitetura e engenharia civil. As bases para as investigações foram trazidas por ela dos Estados Unidos, onde realizou o pós-doutorado na University of Southern Califórnia. Na FT, os pesquisadores utilizam tecnologias híbridas – drones e scanners 3 D – para elaborar a documentação de edifícios históricos, de modo a oferecer subsídios para ações de preservação e/ou restauração desses bens. Nesse sentido, são consideradas informações referentes tanto ao passado (fotografias, plantas, dossiês etc) quanto ao presente (estado atual). Em relação ao presente, o trabalho consiste na captura da realidade da edificação. “Nós fazemos isso combinando duas tecnologias. Utilizamos um equipamento de escaneamento a laser 3D, que nos foi emprestado pela empresa Faro Technologies do Brasil. O scanner faz, com o auxílio de um feixe óptico a laser e uma câmera fotográfica, a varredura da situação as-is [situação atual] do edifício. Também usamos um drone que cobre os pontos que não podem ser atingidos pela varredura a laser, por causa de um eventual obstáculo”, detalha a docente. Segundo ela, o scanner gera uma nuvem de pontos extremamente densa, que dá origem a um modelo tridimensional do bem histórico. Com isso, os pesquisadores obtêm dados detalhados sobre a geometria do prédio, muito mais precisos do que se as medições fossem feitas manualmente. Já as fotografias realizadas pelo drone complementam essas informações Como o scanner 3 D tem um custo muito alto – em torno de US$ 100 mil -, o objetivo dos cientistas da FT é substituir essa tecnologia pelo VANT, que custa dez vezes menos. “Nesse caso, para elaborar uma documentação tridimensional do edifício, precisamos gerar fotografias que tenham sobreposições mínimas de 70%. Essas imagens são trabalhadas através de softwares de restituição fotogramétrica que usam algoritmos para detectar os pixels correspondentes ao mesmo ponto, gerando uma malha tridimensional do objeto, a exemplo do que faz o scanner a laser. Essa informação em 3 D é muito importante, visto que precisamos de dados fidedignos sobre o edifício para orientar eventuais projetos de preservação e/ou restauro”, reforça a professora Eloisa. Embora o trabalho possa parecer simples ao primeiro olhar, a docente assegura que, na prática, não é bem assim. É que o equipamento utilizado na pesquisa da FT é um drone comercial, o mesmo que qualquer pessoa pode comprar em lojas de itens de aeromodelismo ou pela internet. Portanto, não tem capacidade para carregar muito peso. “Não dá para acoplar, por exemplo, uma câmera fotográfica profissional a esse tipo de veículo. No nosso caso, nós usamos uma câmera mais simples, tipo olho de peixe, que registra imagens mais abertas. Isso gera algumas distorções na malha, o que nos obriga a retificar todas as imagens. Se não fizermos essa correção, há o risco de gerarmos distorções no modelo tridimensional do prédio”, detalha. A pesquisa coordenada pela professora Eloisa está sendo validada com um estudo em torno do Edifício Prada, construído em 1939 e que por décadas abrigou uma fábrica de chapéus de mesmo nome. Atualmente, o prédio, que é tombado pelo órgão responsável pela preservação do patrimônio histórico local, sedia a Prefeitura de Limeira. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Pesquisadores da FT operam drone usado para fazer reconhecimento fotográfico de edifícios históricos

Foto: Divulgação

para que eles funcionem de forma sincronizada. Já fizemos o teste com um dos motores. Agora, vamos testar os quatro juntos”, relata Bruno Conrado. Rodrigo Ximenes explica que os drones comerciais têm um sistema fechado, o que impede que detalhes sobre o seu funcionamento sejam conhecidos. “Nossa proposta é construir um sistema aberUm dos estudos em andamento pretende dotar Imagem de trecho da nuvem de pontos levantada to, para que o veículo possa os VANTs da capacidade de realizar voos autônomos com escaneamento a laser da fachada do Edifício Prada, em Limeira captar e seguir a linha demarcada no solo a determinada origem em um trabalho de iniciação científi(CNPq). “Estamos fazendo todo o levantaaltitude. Estamos criando o nosso próprio mento da geometria e da documentação hisca realizado pelo aluno de graduação Bruno algoritmo de estabilização, visto que o drotórica da edificação com vistas à elaboração ne pode enfrentar vários distúrbios durante o de Souza Conrado, com a colaboração do de seu modelo tridimensional”, adianta a esseu deslocamento, como os provocados pelo engenheiro Rodrigo Luiz Ximenes, funciopecialista. vento. Feito isso, a nossa expectativa é que o nário da FT. O objetivo do estudo, que tem VANT possa voar autonomamente tanto em previsão de término para julho de 2016, é Esse modelo, prossegue a docente, será ambiente outdoor quanto indoor. Atualmente, tornar o VANT capaz de realizar voos autôposteriormente trabalhado com a ferramenta o equipamento convencional não opera em nomos. Atualmente, os veículos convencioBIM [Building Information Modeling], que locais fechados porque tem dificuldade para nais são operados a distância, com o auxílio permite a inserção de diferentes informações captar sinais de GPS”, pormenoriza. de um joystick, ou programados para cum(fotos, textos etc) nos componentes modelaDotar drones com a capacidade de realizar dos do edifício. “Esse é um grande desafio, prir uma trajetória pré-definida, orientada pois atualmente os dados sobre o Edifício voos autônomos, de acordo com os pesquipor GPS. Prada, como plantas, dossiês do tombamento sadores, poderá ampliar o leque de aplicação A ideia é aproveitar a experiência que a etc, estão todos dispersos. O nosso propósito dessa tecnologia. Por hipótese, os equipaequipe já tem na área de sistemas embaré reunir todos eles numa plataforma única, mentos poderão realizar voos coletivos, o cados. Os pesquisadores da FT participam justamente para facilitar qualquer iniciativa que atualmente é muito difícil, por causa do há vários anos, por exemplo, de uma comde preservação ou restauração”. A pesquisarisco de colisões. “Nesse caso, os drones popetição de carros inteligentes, denominada dora revela que, atualmente, o trabalho está deriam ser utilizados em ambiente interno, Freescale Cup Brasil, por meio da qual rena fase de promover a consolidação das inforpara conferir o estoque de um grande centro presentaram o Brasil em um campeonato mações. “Temos o arquivo com as nuvens de atacadista”, infere Bruno Conrado. “Ou para internacional na Coreia do Sul em 2014. pontos e o arquivo da malha tridimensional fazer a inspeção da rede aérea de eletricidaNesse caso, os veículos, que são dotados gerada a partir das fotografias. Agora, precide, o que é feito atualmente com o auxílio de de sensores específicos, se movimentam samos proceder à união desses arquivos em helicóptero, solução que encarece demais a seguindo uma linha demarcada na pista. “O formatos diferentes para gerar um modelo operação”, acrescenta Rodrigo Ximenes. que pensamos foi: se podemos fazer isso único”, diz. Segundo a professora Talia, certamente com um carro, por que não com um drone? novas pesquisas serão desenvolvidas pelo O nosso maior desafio tem sido garantir que VOO AUTÔNOMO grupo para buscar essas e outras aplicações o veículo mantenha a estabilidade durante o para o drone autônomo. Uma delas pode ter voo. Como o drone opera com quatro motoA pesquisa com drones desenvolvida pelo conexão com o trabalho realizado pela prores, temos que programar, via computador, grupo coordenado pela professora Talia teve fessora Eloisa. “A possibilidade de promover o voo indoor de drones é muito interessante, pois isso facilitaria a captação do perfil geométrico do interior das edificações, tanto para aquelas que precisam ser preservadas quanto das que necessitam passar por algum tipo de restauro ou reforma”, antevê a docente. Outra contribuição que a pesquisa pode dar, assinala Rodrigo Ximenes, é quanto ao fornecimento de subsídios para a regulamentação do uso de drones, o que ainda não ocorre no Brasil. “A principal questão, a nosso ver, é a garantia da segurança das pessoas que estão próximas à área de deslocamento dos equipamentos. Acredito que o nosso estudo em torno da estabilização de voo pode contribuir para avançarmos em relação a uma legislação específica para o uso dessa tecnologia. Vale lembrar que o preço dos drones caiu muito nos últimos anos, o que fez com que muitas pessoas tivessem acesso a eles. A ampliação da frota desses veículos tem trazido problemas em vários países. No Japão, por exemplo, a polícia tem usado drones para capturar, com o ajuda de uma rede, outros drones que operam de forma irregular”. As professoras Eloisa Dezen-Kempter (à esq.) e Talia Simões dos Santos: combinação de duas tecnologias


6 Campinas, 13 a

Conjuntos documentais de histór

Arquivo Edgard Leuenroth, o maior do gênero da América Latina, incorporo LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), que já disponibiliza o maior acervo de história social da América Latina, está incorporando toda a documentação do Centro Pastoral Vergueiro (CPV), um dos maiores acervos neste segmento existentes no Brasil. “São mais de 400 metros lineares de documentos, que abrem novas perspectivas para o estudo dos movimentos sociais no país. Já recebemos a primeira parte, que é de fotografias, áudios e vídeos, e também a segunda, com a documentação em papel já digitalizada. Esperamos incorporar todo o acervo do CPV em dois anos”, afirma Alvaro Bianchi, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e diretor do AEL. Segundo Bianchi, o acervo do Edgard Leuenroth cresceu significativamente de 2015 para cá, com a incorporação de 11 conjuntos documentais, além de outras pequenas doações, totalizando mil metros lineares. “São coleções de relevância nacional e internacional, com farto material sobre direitos humanos, movimentos sociais, produção intelectual da esquerda, pesquisas de opinião e mundo do trabalho, entre outros. É uma documentação que muda bastante o perfil do AEL e amplia as possibilidades de pesquisa, criando novas temáticas no campo das ciências sociais, a exemplo dos acervos pessoais de Oswaldo Sevá, Peter Fry e Verena Stolcke. Vários pesquisadores estão vindo trabalhar neste campo.” O professor Christiano Key Tambascia, diretor adjunto do AEL, lembra que Peter Fry e Verena Stolcke, juntamente com Antonio Augusto Arantes, foram fundadores do Departamento de Antropologia do IFCH. “De Peter Fry trouxemos a biblioteca pessoal, com cerca de 3,2 mil livros, em um conjunto único e muito rico sobre as temáticas de gênero e sexualidade, como também de raça e estudos africanistas. De Verena temos os cadernos de campo da pesquisa que ela desenvolveu no começo da década de 1970, sobre trabalho e gênero em fazendas da região de Campinas; um contraponto à sua pesquisa anterior em Cuba, sobre o trabalho assalariado em fazendas de café.” Na opinião de Alvaro Bianchi, o conjunto documental de Verena Stolcke é menor, mas riquíssimo por mostrar as etapas preliminares da pesquisa, registrando o material colhido para realizá-la. “Geralmente, conhecemos apenas os resultados das pesquisas, publicados em artigos ou livros. Já a documentação de Oswaldo Sevá chegou recentemente. Ele estudou e atuou muito junto aos movimentos ambientalistas, produzindo inclusive uma coleção de mapas. Incorporamos sua biblioteca e relatórios referentes ao movimento contra as barragens, mas não só.” O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, o mais antigo do Grande ABC paulista (fundado em 1933), doou documentos em duplicata do sindicato e de outras organizações da cidade e do campo. “Temos aqui, por exemplo, uma foto da primeira Conclat [Conferência Nacional da Classe Trabalhadora], que está na origem da CUT [Central Única dos Trabalhadores], onde aparecem figuras como de Lula, Djalma Bom e Jair Meneguelli. Há uma coleção de 15 mil slides, que também já chegou.” O diretor do AEL acrescenta que outra documentação incorporada no último ano, da Fundação Pluma, traz uma dimensão internacional à temática social ao focar principalmente a Argentina, mas também outros países da América do Sul (Chile, Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia) e da América Central (Nicarágua, El Salvador, República Dominicana). “É um acervo

Foto: Nair Benedicto/Centro Pastoral Vergueiro/AEL-Unicamp

Acima, 1º Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1981; abaixo, manifestantes protestam contra a intervenção na Unicamp, também em 1981 Foto: AEL/Unicamp

enorme, que estamos trazendo por partes: na primeira, com apoio do Gabinete do Reitor, vieram 32 metros lineares e, até o final do ano, mais 30 metros de documentação, além de áudios e vídeos. Com esta coleção vieram coleções quase completas dos jornais Independência Operária, Versus e Convergência Socialista, juntamente com vasta e interessante documentação interna de organizações políticas, impressa muitas vezes ainda em mimeógrafos a álcool.” O AEL também recebeu parte do acervo da agência A2ad, com imagens produzidas entre 1982 e 1985, período em que seu sócio-fundador Angelo Perosa atuou no jornal Voz da Unidade: uma coleção retrata

eventos como greves de operários no ABC, manifestações pelas Diretas Já, celebrações da eleição do presidente Tancredo Neves e uma visita do escritor José Saramago a São Paulo. Uma segunda coleção registra viagens, debates, comícios e bastidores da campanha de Franco Montoro ao governo do Estado de São Paulo em 1982. De acordo com Alvaro Bianchi, estas duas coleções da A2ad já vieram digitalizadas, ao passo que o AEL acaba de fazer o mesmo com um conjunto documental sobre o IFCH, como parte da Mostra dos 50 Anos da Unicamp, que estão sendo comemorados desde outubro do ano passado. Esta mostra do cinquentenário inclui

imagens dos protestos contra a intervenção na Unicamp por Plínio Alves de Moraes, decretada pelo então governador Paulo Maluf e que durou de meados de 1981 até o início 1982. O diretor do AEL destaca, finalmente, que os técnicos do AEL, em parceria com o Cecult (Centro de Pesquisas em História Social da Cultura) da Unicamp, estão envolvidos em um grande projeto de digitalização de processos judiciais trabalhistas, que representam alguns milhões de páginas. “Estamos procurando associar todas as coleções recebidas recentemente a projetos de pesquisa que permitam a sua disponibilização online.”


7 19 de junho de 2016

ria social ampliam acervo do AEL

ou recentemente 11 coleções, entre as quais a do Centro Pastoral Vergueiro

As novas coleções Foto: Antoninho Perri

CENTRO PASTORAL VERGUEIRO (CPV) O CPV foi fundado em 1973, durante a ditadura militar no Brasil, idealizado por frades dominicanos da região sudeste de São Paulo, que aglutinaram em torno do projeto estudantes universitários, professores, profissionais liberais e militantes de organizações de esquerda. O Centro Pastoral Vergueiro nasceu com o compromisso de preservar a memória de resistência e organização popular. Seu acervo documental (433 metros quadrados) será transferido em sua totalidade para o AEL no prazo de dois anos. São folhetos, manuscritos, periódicos, livros, teses, cartazes, slides, diapositivos, fitas cassetes, fotos, adesivos, broches, discos de vinil etc.

SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE SANTO ANDRÉ E MAUÁ Fundado em 1933, é o mais antigo sindicado do Grande ABC, tendo participado de diversas lutas e conquistas dos trabalhadores das indústrias de São Paulo. Ao completar 81 anos de existência, passou a organizar a sua memória, priorizando o material produzido diretamente pelo próprio sindicato e também em parceria com o movimento sindical e popular. A doação ao AEL compreende a documentação em duplicata do sindicato e de outras organizações, entidades e movimentos da cidade e do campo (oposições sindicais, sindicatos, comissões de fábrica, partidos políticos, movimentos populares, entidades de apoio etc.). São 10 metros lineares de jornais, boletins, cartazes, revistas, folhetos, cadernos, cartilhas, adesivos, dossiês, folders e outros textos.

VERENA STOLCKE Nascida na Alemanha em 1938 e criada na Argentina, Verena Stolcke foi cofundadora do Departamento de Antropologia da Unicamp, instituição em que lecionou até 1980. São cadernos de campo, mapas sinópticos e documentos diversos que trazem informações de sua pesquisa realizada nos anos 1970 sobre o café em terras paulistas.

PETER FRY Nascido em 1931, doutor em antropologia pela Universidade de Londres e professor emérito do Departamento de Antropologia da UFRJ, Peter Fry ajudou a criar o Programa de Antropologia da Unicamp, juntamente com Antonio Augusto Arantes e Verena Stolcke, no começo da década de 1970. Dentre os livros da biblioteca pessoal do professor e que agora compõem o acervo do Arquivo Edgard Leuenroth, existem importantes obras africanistas, bem como sobre raça, gênero e sexualidade.

OSWALDO SEVÁ Engenheiro mecânico pela USP, doutorado em literatura e ciências humanas pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, livre-docente no Instituto de Geociências (IG) e professor colaborador do IFCH da Unicamp. Arsênio Oswaldo Sevá Filho, ao longo da vida (faleceu em 28 de fevereiro de 2015), teve uma atuação de destaque em defesa do meio ambiente, realizan-

Os professores Alvaro Bianchi (à esq.) e Christiano Key Tambascia, respectivamente, diretor e diretor adjunto do AEL: ampliação das fontes de pesquisa

do o mapeamento de riscos ambientais em várias regiões brasileiras, a mais recente na área da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Foi um pesquisador de destaque no cenário nacional e internacional em questões relacionadas ao meio ambiente e trabalhou junto a diversas entidades ligadas à causa ambiental. Foi assessor e defensor das causas do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens). Para além de um estudioso, Sevá se engajou na luta contra a destruição da natureza e violações de direitos causados pela construção de hidrelétricas no Brasil. A documentação no AEL contém fotografias, slides, negativos, fitas magnéticas VHS, películas cinematográficas, transparências, livros, planos de aula e projetos de pesquisa.

AGÊNCIA A2AD/ANGELO PEROSA São 10 mil negativos, já digitalizados e catalogados, que se dividem em duas coleções: Jornal Voz da Unidade e Campanha Eleitoral para Governo do Estado de São Paulo de Franco Montoro. Além das imagens produzidas para o jornal no período de 1982 a 1985 e da campanha eleitoral de Montoro, a coleção inclui imagens das primeiras eleições no Uruguai após o fim da ditadura naquele país.

MPT DA 15ª REGIÃO O Ministério Público do Trabalho desta região abrange 599 municípios do interior de São Paulo e firmou convênio com a Unicamp, por meio do Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), visando à preservação de seu acervo histórico. O convênio permite que a documentação arquivada, que traz informações preciosas sobre a dinâmica e a história do mundo do trabalho na região, seja catalogada, digitalizada e disponibilizada para fins acadêmicos, preservado o sigilo disposto no Decreto 7.845/12. Já foram digitalizados 9.600 processos do primeiro e segundo lotes, referentes ao período de 1992 a 2010, estando em digitalização o terceiro lote, com mais 4.700 processos (o quarto lote ainda não foi avaliado).

FUNDACIÓN PLUMA A Fundación Pluma para la Preservación y Difusión de la Tradicion Socialista Morenista foi fundada por iniciativa de militantes argentinos com o objetivo de preservar e divulgar a história de quase 50 anos de trotskysmo na Argentina. A coleção recebida pelo AEL abrange: 1) documentos referentes ao primeiro período organizacional na Argentina, do GOM (Grupo Obrero Marxista) ao PST (Partido Socialista de los Trabajadores); 2) documentos referentes ao segundo período na Argentina, desde o inicio do MAS (Movimiento al Socialismo) em 1982 até maio de 1992; 3) documentação internacional referente aos distintos períodos construtivos da corrente: Quarta Internacional (SU-QI), congressos, debates, tendências, campanhas, etc., bem como a documentação de parte da construção da Liga Internacional de los Trabajadores (LIT-Quarta Internacional); e 4) publicações e documentos de diversas organizações trotskistas e países.

CENTRO DE ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA (CEDEC) Fundado em 1976, nos anos da ditadura militar, o Cedec aglutinou intelectuais na época impedidos de exercer suas funções nas universidades públicas e privadas do país. Instituição civil, sem fins lucrativos, tem como objetivo principal realizar pesquisas e debates sobre aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da realidade brasileira, com ênfase na problemática das classes populares. As pesquisas desenvolvidas pelo Cedec focam na temática de direitos humanos e justiça social, constituição e consolidação da cidadania, instituições e práticas democráticas, políticas públicas, relações internacionais e a integração regional. Além de pesquisa, o Cedec realiza consultorias, seminários, atividades de formação e publicações. A documentação engloba projetos, programas e documentos administrativos, contábeis e jurídicos, bem como publicações gerais, relatórios de pesquisa, teses, dissertações e outros textos.

DANIEL RYO Fotógrafo e artista plástico, Daniel Ryo Shinozaki (1965-2010) iniciou a construção de seu repertório artístico por meio de um exercício contínuo no campo do desenho, gravura e pintura, ao mesmo tempo em que se graduou em engenharia civil, pela Escola Politécnica da USP. Em sua trajetória fotográfica merecem destaque o premiado “Projeto Foices: imagens de agricultores da zona rural do sul do país”; um vasto estudo da cultura japonesa, desde imagens de comunidades tradicionais do interior paulista até as feitas mais recentemente no Japão; e imagens de multidão – tema de seu mestrado em multimeios pela Unicamp. O acervo que chega ao AEL registra parte de sua produção enquanto fotógrafo, desenhista e gravurista. São cadernos de desenho, gravuras, xilogravuras, esboços (desenho), fotos, negativos etc.

GRUPO IDENTIDADE É a organização LGBT mais antiga da cidade de Campinas, tendo participação ativa na vida política da cidade. O acervo do Grupo Identidade propicia conhecer um pouco da história do movimento homossexual no Estado de São Paulo, além de possuir informação a respeito dos processos jurídicos que o grupo moveu contra a homofobia, participação dos membros em encontros nacionais, paulistas, da região Sudeste, atas de reunião, troca de e-mails e toda a produção gráfica do Identidade, como fotografias, CDS, vídeos e áudios.

GALLUP Gallup é uma empresa de pesquisa de mercado e opinião pública com mais de 80 anos de existência e atuação global. O acervo recebido abrange as pesquisas elaboradas pela seção brasileira do grupo.


8 Campinas, 13 a 19 de junho de 2016

Pistas na folha de eucalipto Foto: Antoninho Perri

Pesquisa investiga ação do fluoreto no meio ambiente na produção de alumínio CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ão conhecidos as pesquisas e os trabalhos desenvolvidos pelo professor Jaime Aparecido Cury, da Faculdade de Odontologia (FOP) de Piracicaba, relacionados aos benefícios da adição do flúor nas águas tratadas destinadas ao consumo humano, nos cremes dentais e nas aplicações tópicas realizadas nos consultórios dentários. Nesses casos, e estudos o comprovam, o emprego do flúor, na forma de íon fluoreto (F - ), não provoca quaisquer efeitos colaterais danosos à saúde dos indivíduos. Embora reconhecidos os benefícios do íon fluoreto no controle da cárie dentária, e apesar de encontrado naturalmente no solo, nas águas subterrâneas, nas águas dos rios e dos mares, ele é considerado um poluente quando advindo de atividades industriais na forma de gás, caso do fluoreto de hidrogênio (HF) ou de material particulado. Nestes casos as principais fontes de poluição são as indústrias de alumínio, fertilizantes, cerâmica, vidro, aço, entre outras. Este fato levou o docente, já há algumas décadas, a se dedicar também ao estudo da poluição ambiental por fluoreto e suas consequências. Na década de 90 o professor preocupouse, de forma assistemática, a determinar o grau de contaminação a que pudessem estar sendo submetidos funcionários de uma fábrica de alumínio. Posteriormente, em 1996 e 2006, se dedicou à determinação da poluição por flúor, decorrente da fabricação de fertilizantes, na região de Cubatão. Recentemente ele orientou tese, do dentista Fabricio Narciso Olivati, que teve o objetivo de avaliar eventual poluição ambiental por fluoreto na cidade de Alumínio, São Paulo, sede da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), a maior indústria de produção desse metal no Brasil e uma das mais importantes do mundo no setor. Situada a sudeste do Estado de São Paulo, o município de Alumínio pertence à região administrativa de Sorocaba e está a 74 km da capital. Para determinar a presença de fluoreto o pesquisador se valeu de folhas de eucalipto como biomarcador, selecionado pela disponibilidade desse vegetal a diferentes distâncias da indústria. Como biomarcadores são utilizadas espécies vegetais que possuem maior sensibilidade para a detecção de substâncias químicas potencialmente contaminantes. Embora existam vários compostos de flúor gerados como poluentes, o trabalho centrou-se na ação de gases de flúor liberados na fabricação de alumínio e que, absorvidos pela planta, dão origem ao íon fluoreto. As análises basearam-se na quantificação da concentração de fluoreto encontradas nas amostras de folhas de eucalipto existentes na região, em cinco diferentes pontos de coleta, e foram realizadas no Laboratório de Bioquímica da FOP, dirigido pelo professor Jaime. Para tanto, as folhas foram desidratadas, pulverizadas e o fluoreto solúvel em água foi extraído a 37 ºC, sendo então o extrato resultante submetido a processos analíticos adequados. Frise-se que os limites de ingestão de fluoretos pelo ser humano envolvem duas situações distintas: a toxidade aguda e a toxidade crônica. A aguda, hoje muito rara e acidental, decorre da ingestão por via oral de uma quantidade muito grande de fluoreto, acima da dose provavelmente tóxica (DPT) que é de 5 mg F/kg de peso do indivíduo. Já a toxidade crônica resulta da ingestão diária de pequenas quantidades de fluoreto por via oral ou respiratória. É o que ocorre com o consumo diário por crianças de água fluoretada na concentração ótima - cujo único

O dentista Fabricio Narciso Olivati (à esq.), autor da tese, e o orientador, professor Jaime Cury

efeito é fluorose dental, que neste caso não provoca qualquer prejuízo ao organismo. Entretanto quando pessoas são expostas durante toda a vida a altas concentrações de flúor pode haver o desenvolvimento de fluorose esquelética, provocada pela poluição ambiental decorrente de atividades industriais locais. Nos dentes o fluoreto em excesso interfere na sua mineralização, tornando-os opacos e mais fragilizados. Esta hipomineralização ocorre somente durante a formação dos dentes e, portanto, acomete apenas crianças até mais ou menos os sete anos de idade. Já no osso o excesso de fluoreto leva à hipermineralização tornando-o frágil e mais sensível a fraturas. Como o tecido ósseo está em constante renovação, o efeito crônico da toxidade se manifesta no adulto desde que a quantidade de fluoreto absorvida pelo organismo seja alta e por períodos muito prolongados.

A PESQUISA Embora um dos objetivos do trabalho fosse o de verificar as concentrações de fluoreto em amostras de folhas do eucalipto disponível no entorno da indústria, Fabricio pretendia inicialmente determinar também, através de exames de urina, a quantidade de fluoreto absorvido por moradores da cidade e até a situação dentária de crianças locais, propostas inviabilizadas pela pouca disponibilidade das pessoas em participar. Ele entende que em uma cidade de pequeno porte, com pouco mais de 17 mil habitantes, em que tudo gira em torno de uma única indústria, os fatores inibitórios e os receios são grandes. Em vista disso, ele delimitou o foco do estudo à contaminação atmosférica, colhendo amostras de folhas de eucalipto da espécie híbrida Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophilla, disponíveis no local, nos meses de março e agosto. Ou seja, no período mais chuvoso e por consequência de maior dispersão atmosférica, em que se poderiam esperar teoricamente menores concentrações do poluente, e no período menos chuvoso, portanto de menor dispersão atmosférica e, presumivelmente, de maior concentração de poluentes. A escolha de dois períodos visou também a confirmação de resultados e a eliminação de eventuais sazonalidades de produção, já que ele não dispunha de informações sobre possíveis períodos de maior ou menor atividade da fábrica. A colheita das folhas foi feita às distâncias de 250, 350, 600, 700 e 1.700 metros da indústria e amostras de controle foram colhidas, nas mesmas épocas, na cidade de Capão Bonito, a 150 km do local, onde reside o pesquisador, comprovadamente livre de poluição por fluoreto de origem industrial, e que se distingue ainda por possuir o maior reflorestamento de eucaliptos no Estado de

São Paulo, de propriedade do mesmo grupo empresarial. Com a colheita de amostras a várias distancias procurava-se saber se a poluição concentrava-se no entorno da fábrica ou se disseminava além. A constatação foi a de que a presença de poluição não tem relação direta com a distância da indústria, pois foram encontradas concentrações acima dos valores normais em plantas em todos os pontos estudados, mas sem que se verificasse uma tendência padrão. Esse achado contrariava de certa forma o que era inicialmente esperado, ou seja, que a concentração de fluoreto fosse máxima próximo à fábrica e que diminuísse com o distanciamento dela. Ele considerou, então, a possibilidade deste aparente disparate decorrer da ação dos ventos predominantes na região, explicação a ser confirmada por outras pesquisas. Segundo a literatura especializada, as concentrações de fluoreto estão dentro da normalidade quando na faixa 1 a 10 ppm que corresponde à mg F/kg de vegetal, mas podem ser potencialmente tóxicas para as plantas quando atingem de 20 a 80 ppm. No caso, houve pontos da coleta que atingiram mais de 450 ppm, ou seja, 450 miligramas de flúor em 1 000 gramas do vegetal, ou ainda, 0,45 miligramas de fluoreto em um grama do vegetal. Os valores detectados no entorno da fábrica foram 5 a 100 vezes maiores que os encontrados no grupo de controle (Capão Bonito). A propósito Fabricio ressalva: “Os resultados em média mostraram que as concentrações de íon fluoreto nas folhas de eucaliptos localizados ao redor da fábrica na cidade de Alumínio foram da ordem de 8 a 54 vezes maiores que os encontrados em Capão Bonito, evidenciando a emissão de fluoreto de hidrogênio na atmosfera. Não determinamos os possíveis impactos dessa emissão de fluoreto nos trabalhadores da fábrica, na população, na fauna e flora da região, que devem ser pesquisados”. O professor Jaime lembra que para efeitos comparativos, de controle analítico e validação da técnica, foram analisadas as concentrações de fluoreto nas folhas da espécie Camellia sinensis, da qual é obtido o chá preto ou verde, por se tratar de planta que consegue captar o fluoreto contido no solo. No chá preto o fluoreto tem origem natural atingindo concentrações de até 1000 ppm. Uma xícara de chá preto chega a contribuir com uma ingestão de fluoreto equivalente a 1 litro de água fluoretada na concentração ótima de 0,7 ppm.

EXPLICAÇÕES O professor Jaime explica que se levou em conta no ar do entorno da indústria principalmente a presença de fluoreto gasoso, que entra na folha e libera no seu interior

o íon fluoreto. Mas esse mesmo gás é absorvido pelos vegetais e respirado pelos animais e humanos e uma vez nestes, na forma iônica, chega ao sangue que o conduz aos vários tecidos do organismo. O seu efeito cumulativo ocorre ao encontrar os tecidos mineralizados nos quais se junta ao cálcio solidificando-se na forma de minerais. O docente esclarece ainda que, embora as empresas disponham de filtros para retenção de gases nocivos, ela não é total e uma parte deve escapar para o ambiente, como sugerem os dados do trabalho. Então ele se pergunta: “Se gases de fluoreto estão contaminando a atmosfera o que deverá estar acontecendo com os que trabalham dentro da fábrica? É uma pergunta que merece resposta, pois se trata de uma questão de saúde ocupacional. A legislação (NR 7, 2013) exige análises periódicas de urina em ambiente industrial em que há possibilidade de contaminação por fluoreto, o que imagino deve estar sendo feito em Alumínio. Valores de excreção de fluoreto na urina, em termos do Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) de 3,0 mg F/g creatinina antes do início da jornada de trabalho e de 10,0 mg F/g creatinina ao final dela são parâmetros previstos por lei. Dados, da década de 90, de que confidencialmente disponho, mostraram que essa contaminação existia. Resta verificar se continua e quanto ela pode estar afetando a saúde do trabalhador”. Fabricio enfatiza que os dados obtidos mostram que existe poluição ambiental por fluoreto em certo espaço em torno da fábrica, embora não permitam determinar o impacto dela nos vegetais, nos animais e nos seres humanos. “Tínhamos ideia de fazer um trabalho até com as crianças para detectar o efeito dessa poluição na fluorose dental, mas não conseguimos por falta de receptividade. Nossa pesquisa acabou tendo caráter prospectivo e exploratório. Os possíveis impactos dessa poluição na saúde dos trabalhadores, dos moradores da cidade e sobre os animais e vegetais da região sugerem novas pesquisas, a exemplo do que é rotineiramente feito em países como Alemanha, Austrália, Nova Zelândia”, conclui ele.

Publicação Tese: “Concentração de íon flúor em folhas de eucalipto localizadas ao redor de uma indústria de alumínio” Autor: Fabricio Narciso Olivati Orientador: Jaime Aparecido Cury Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)


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SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

m modelo matemático desenvolvido na Unicamp pode ajudar os produtores da avicultura de corte do país no melhor controle das condições climáticas às quais as aves são expostas dentro de um aviário. Desenvolvido pela matemática Denise Trevisoli Detsch, o modelo prevê, em tempo real, a temperatura interna do aviário, evitando o chamado estresse térmico do animal. Os ganhos são o bem-estar animal, aumento de produtividade, economia de energia e menor desgaste de equipamentos. A avicultura brasileira possui uma importância econômica e social em grande expansão. O setor emprega direta e indiretamente mais de 3,6 milhões de pessoas, respondendo por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segundo dados da União Brasileira de Avicultura. O país é o maior exportador mundial e está entre os três maiores produtores de carne de frango do mundo, ao lado de Estados Unidos e China. A pesquisadora Denise Trevisoli Detsch informa que o modelo é inovador, pois permite ao produtor tomar as melhores decisões em relação ao número de exaustores ligados, sem a necessidade de esperar por variações na temperatura. Nos sistemas convencionais, as condições climáticas de um aviário são controladas por meio de mecanismos reativos simples: mais exaustores são ligados conforme a temperatura aumenta. Na proposta da estudiosa da Unicamp, ao prever um aumento da temperatura, o modelo já aciona os exaustores, antes mesmo que ocorra esta elevação. “Atualmente existem alguns mecanismos para controlar a temperatura interna de aviários, mas que não têm uma inteligência de previsão. Normalmente os aviários têm alguns sensores que ligam um exaustor quando a temperatura já está elevada, ou seja, quando já ocorreu o estresse climático”, compara a estudiosa da Unicamp, graduada pelo Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica (Imecc). Ela acrescenta que, por menor que seja este intervalo, a elevação da temperatura provoca um estresse climático na ave. “Pensando nisso nós desenvolvemos um modelo que prevê em tempo real a temperatura para que não ocorra este estresse climático. Caso a previsão indique um aumento de temperatura nos próximos cinco ou dez minutos, por exemplo, o nosso modelo já pede o acionamento dos exaustores. É como se o modelo fizesse um estudo da temperatura e, em tempo real, indicasse, a melhor estratégia para evitar o estresse climático”, explica Denise Detsch. O modelo com aprendizagem automática para previsão e controle de temperatura de aviários do tipo túnel de vento foi desenvolvido como parte da tese de doutorado de Denise Detsch. O trabalho foi conduzido junto ao programa de pós-graduação do Imecc, sob orientação do docente José Mário Martínez, que atua no Departamento de Matemática Aplicada da Unidade. Houve coorientação da professora Maria Aparecida Diniz Ehrhardt, do mesmo departamento da Unidade. O projeto insere-se como uma das linhas de pesquisa apresentadas junto ao Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CEPID/ CeMEAI). Os Cepids são financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A pesquisa da Unicamp também contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Modelo prevê e controla temperatura de aviários Ganhos são bem-estar animal, produtividade, economia de energia e menor desgaste de equipamentos Fotos: Divulgação

No modelo desenvolvido pela pesquisadora, os exaustores da granja são acionados antes da elevação da temperatura

A autora do estudo esclarece que o trabalho deteve-se apenas no desenvolvimento do modelo matemático e do software. A sua aplicação prática requer o desenvolvimento de um sistema de automação. “O nosso modelo é bastante simples e pode ser utilizado na maioria das plataformas e hardwares mais acessíveis. O modelo está descrito na tese e a ideia é que fique aberto para aqueles que desejam desenvolver a automação do aviário.”

ESTRESSE TÉRMICO

A pesquisadora Denise Detsch informa que o estresse térmico ambiental exerce um impacto negativo na produção e no bem-estar animal. De acordo com ela, o excesso ou a falta de calor para os animais de corte podem causar perdas do peso da ave, doenças, e em caso extremo, aumento da mortalidade. “Estas aves são muito sensíveis às variações de temperatura, que, por sua vez, são influenciadas pelas condições ambientais. Desta forma, é necessário manter níveis ideais de temperatura dos aviários, forne-

cendo um ambiente consistente e uniforme. Diferenças bruscas na temperatura do galpão causam estresse nos pintos e reduzem o consumo de ração. Além disso, essas diferenças resultam em maior consumo de energia para manter a temperatura corporal”, especifica. A ventilação é o principal mecanismo controlador das condições climáticas nos aviários, acrescenta a matemática. “Decisões simples como ligar ou desligar exautores são essenciais. Escolhas erradas podem ser as causas de pouco ganho de peso, doenças e, em casos extremos, a morte das aves.”

EQUAÇÃO DO CALOR

Para alcançar os resultados do modelo, a pesquisadora da Unicamp desenvolveu como parte da metodologia a chamada equação do calor, que permite a representação de como a temperatura varia em função do meio. “Através desse estudo da equação do calor e de métodos numéricos, nós conseguimos fazer uma previsão numérica da temperatura. Depois de desenvolvido o

Publicação Tese: “Modelo com aprendizagem automática para previsão e controle de temperatura em aviários tipo túnel de vento” Autora: Denise Trevisoli Detsch Orientador: José Mário Martínez Coorientadora: Maria Aparecida Diniz Ehrhardt Unidade: Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica (Imecc) Financiamento: Fapesp, CNPq e Capes

A matemática Denise Trevisoli Detsch, autora da tese: “O nosso modelo é bastante simples e pode ser utilizado na maioria das plataformas e hardwares mais acessíveis”

modelo, fizemos algumas simulações, que mostraram um bom desempenho do modelo de predição e dos algoritmos implementados”, relata. Conforme Denise Detsch, as simulações indicaram que o modelo consegue manter por mais tempo a temperatura interna do aviário dentro dos limites estabelecidos. Esta manutenção da temperatura foi mais adequada quando comparada àquela alcançada pelo sistema convencional. “Essa diferença fica mais evidente em períodos de maior temperatura externa, tipicamente ao meio-dia”, pontua. Outra característica da proposta foi a simplificação do modelo. “Observamos que um modelo de temperatura unidimensional é suficiente para obter um bom desempenho de predição. Importante ressaltar que modelos baseados na Dinâmica dos Fluídos Computacional (CFD) poderiam permitir um grau maior de fidelidade à realidade, mas eles não atenderiam aos requisitos de tempo real considerando a execução em hardware acessível. Além disso, o custo se tornaria inviável para pequenos produtores.”


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Painel da semana 

Painel da semana  Equipamentos multiusuários e instalações - O

professor Daniel Martins de Souza, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, é um dos docentes que participarão no dia 12 de junho, das 8 às 17 horas, do 2º Workshop de Equipamentos Multiusuários e Instalações. O evento, que é organizado pela Fundação de Pesquisa de São Paulo (Fapesp), ocorre na Rua Pio XI, 1500, no bairro do Alto da Lapa, em São Paulo-SP. Inscrições podem ser feitas no site http:// www.fapesp.br/eventos/mue2/interest. Mais informações pelo link www.fapesp.br/eventos/mue2, e-mail vera@fapesp.br ou telefone 11-3838-4362.  Feira de Economia solidária - A Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), órgão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), organiza no dia 14 de junho, das 9 às 17 horas, mais uma edição da Feira de Economia Solidária. A Feira será realizada na rua dos Flamboyants, localizada entre o Restaurante Administrativo (RA) e o prédio da Engenharia Básica. No local, além da comercialização de comidas típicas, bebidas e produtos orgânicos/ artesanais, ocorrem atividades musicais e roda de capoeira. A Feira pertence à Rede de Economia Solidária de Campinas, associação que está sob a responsabilidade da Secretaria de Trabalho e Renda da Prefeitura do município. Seu objetivo é promover a inclusão de pessoas que produzam algum tipo de produto artesanal com vistas à sua comercialização a preço justo. A Feira é aberta ao público em geral. Outros detalhes podem ser obtidos mediante contato com o telefone 19-3521-2936 ou e-mail cac@reitoria.unicamp.br.  Perspectivas Unicamp 50 Anos - Com o tema “Arte, Ciência e Cultura”, as mesas-redondas do evento acontecem em 15 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O objetivo é reunir nomes importantes para discutir os temas “Virtualidade e ubiquidade na construção da memória cultural” e “Criatividade em arte e ciência: desafios do século XXI”. Inscrições e outras informações no site http://www.50anos.unicamp.br/eventos/58/arte-cienciae-cultura  Políticas públicas e cidadania - Com o tema Patrimônio e Poder, a próxima edição do Fórum Permanente de Políticas Públicas e Cidadania acontece no dia 16 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento será transmitido pela TV Unicamp. Mais informações na página eletrônica do evento http://www. foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_ eventos/politicaspub15.html  Resíduo sólido urbano: perspectivas como matéria-prima para bioprodutos - Workshop será realizado no dia 16 de junho, às 13h30, na Sala de Videoconferências do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe). Seu público-alvo são docentes, alunos e pesquisadores. O gerenciamento integrado dos Resíduos Sólidos Urbanos é um dos maiores desafios da atualidade, o qual relaciona as etapas de geração, segregação, coleta, transporte, reaproveitamento e destinação final. A fim de explorar novos caminhos no aproveitamento do RSU para geração dos bioprodutos (eletricidade, biogás, bioetanol e produtos químicos), o NIPE - Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, com esta iniciativa pretende aprofundar estas questões. Saiba mais no

Teses da semana 

endereço eletrônico http://www.nipe.unicamp.br/2013/docs/eventos/ programa-workshop-rsu-nipe-unicamp.pdf. Outras informações pelo telefone 19-3521-1718 ou e-mail brandini@nipe.unicamp.br  Migrações contemporâneas - O projeto “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp/CNPq/Nepo-Unicamp), em parceria com o Museu da Imigração, o Observatório das Metrópoles (PUC-SP) e o Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas (USP), realiza um ciclo internacional de palestras sobre migrações contemporâneas. O primeiro encontro terá a participação da professora Maxine Margolis, da Universidade da Flórica (EUA). No dia 16 de junho, às 15 horas, no Museu da Imigração, ela profere a palestra “O que é ser brasileiro no exterior?”. A organização é da professora Rosana Baeninger, do Núceo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo) da Unicamp. O público-alvo são pesquisadores, alunos de pós-graduação e interessados no tema. O Museu Imigração está localizado na rua Visconde de Parnaíba 1316, no bairro da Mooca, em São Paulo-SP. Mais detalhes podem ser obtidos pelo telefone 19-3521-5913 ou e-mail roberta@nepo.unicamp.br. Consulte a programação no link http://www.nepo.unicamp.br/eventos/2016/seminarios_observatorio_museu_imigracao.jpg  Mãos que alimentam - O Espaço Cultural Casa do Lago sedia, em sua Galeria, até 23 de junho, a exposição de fotos “Mãos que alimentam”, do jornalista Ronei Aparecido Thezolin, funcionário da Assessoria de Comunicação (Ascom) da Unicamp. Visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 22 horas, na Av. Érico Veríssimo 1011, no campus universitário. Mais informações pelo email casadolago@reitoria.unicamp.br ou telefone 19-3521-7017.

Eventos futuros  Iniciação científica - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) rece-

berá, de 20 de junho a 4 de julho, as inscrições para o XXIV Congresso de Iniciação Científica da Unicamp. O evento destina-se aos alunos de graduação que desenvolvem projetos de iniciação científica, com financiamento de alguma agência de fomento ou de maneira voluntária. A partir desta edição, alunos de outras instituições de ensino e pesquisa estão convidados a participar. O Congresso ocorre de 19 a 21 de outubro. Para mais informações acesse a página eletrônica http://www.prp.rei.unicamp.br/pibic/congressos/xxivcongresso/  Expansão do ensino superior no Brasil - O Laboratório de Estudos sobre Ensino Superior (LEES) e o Núcleo de Estudos e Pesquisas de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp organizam, dia 21 de junho, o Fórum “Expansão do ensino superior no Brasil na última década: conquistas, limites e desafios”. O evento acontece das 9 às 17 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp, à rua Elis Regina 131, no campus da Unicamp. Mais detalhes pelo e-mail lees@unicamp.br  Educorp e Abec promovem curso e seminário - A Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp) e a Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec Brasil) promovem, de 22 a 24 de junho, o XXIV Curso de Editoração Científica e o IX Seminário Satélite para Editores Plenos. A abertura oficial será no dia

Eventos futuros 

22, às 8h30, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Para participar do curso é necessário que os participantes já tenham conhecimentos sobre tópicos fundamentais de editoração científica. Outras informações no link http://xxivcurso.abecbrasil.org.br/  5º Cinfotec - A Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação da Unicamp promove o 5º Cinfotec Unicamp - Comunicação, Informação e Tecnologia, dias 22 e 23 de junho, no Centro de Convenções. O objetivo é reunir os profissionais de TIC da Unicamp para compartilhamento de experiências e casos de sucesso e oferecer oportunidades de atualização profissional em assuntos de destaque em tecnologia da informação e comunicação. Mais detalhes no site do evento: http://www.ctic.unicamp.br/cinfotec, telefone 19-3521-2220 ou e-mail simoneft@unicamp.br  Projetos para a Galeria de Arte - A Galeria de Arte do Instituto de Artes (GAIA) da Unicamp receberá, até 24 de junho, projetos de exposições de arte contemporânea e de atividades culturais a serem realizadas em 2017. A seleção será feita pelo Conselho da GAIA com resultado a ser disponibilizado em 8 de julho, na página eletrônica do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Os arquivos para encaminhamento dos projetos estão no link http://www.iar. unicamp.br/evento/convocatoria-gaiaunicamp-2017. Mais detalhes podem ser obtidos pelo e-mail galeria@iar.unicamp.br ou telefone 19-3521-6561.

Teses da semana  Ciências Médicas: ”Craniopuntura de Yamamoto na Doença de Parkinson” (mestrado). Candidato: Leandro Turati. Orientador: professor Heloisa G. R. G. Gagliardo. Dia 15 de junho de 2016, às 14 horas, no anfiteatro da CPG da FCM.  Computação: “Encriptação parcialmente homomórfica CCA1segura” (doutorado). Candidato: Eduardo Moraes de Morais. Orientador: professor Ricardo Dahab. Dia 14 de junho de 2016, às 14 horas, no auditório do IC. “Reconstrução de filogenias para imagens e vídeos” (doutorado). Candidato: Filipe de Oliveira Costa. Orientador: professor Anderson de Rezende Rocha. Dia 14 de junho de 2016, às 14 horas, na sala 353 do IC.  Educação: “Leitura fruição na escola: o que alunos e professores têm a dizer?” (doutorado). Candidata: Fabiana Bigaton Tonin. Orientadora: professora Ana Lúcia Guedes-Pinto. Dia 14 de junho de 2016, às 14 horas, na sala de videoconferência 2 da FE.  Educação Física: “Critérios de classificação do índice de massa corporal e capacidades motoras: um estudo em crianças e adolescentes obesos e eutróficos brasileiros” (doutorado). Candidata: Berlis Ribeiro dos Santos Menossi. Orientador: professor Edison Duarte. Dia 14 de junho de 2016, às 14 horas, no auditório da FEF. “Panorama da ginástica para todos no Brasil: um estudo sobre a invisibilidade” (mestrado). Candidata: Tamiris Lima Patricio. Orientador: professor Marco Antonio Coelho Bortoleto. Dia 17 de junho de 2016, às 14 horas, na sala de aula 2 da FEF.

Destaque do Portal 

 Engenharia Elétrica e de Computação: “Algoritmo e circuito digital para estimação cega de frequência e banda em faixas com múltiplos sinais” (mestrado). Candidato: José Arnaldo Bianco Filho. Orientador: professor Luís Geraldo P. Meloni. Dia 17 de junho de 2016, às 10 horas, no prédio da CPG da FEEC.  Engenharia de Alimentos: “Extratos biotransformados de fenólicos de cítricos e atividade anti-inflamatória in vitro” (mestrado). Candidata: Tais Moala. Orientadora: professora Juliana Alves Macedo. Dia 17 de junho de 2016, às 10 horas, na sala 1 de extensão da FEA.  Filosofia e Ciências Humanas: “A luta pelo reconhecimento étnico dos kokama na tríplice fronteira Brasil/Colômbia/Peru” (doutorado). Candidato: Jose Maria Trajano Vieira. Orientador: professor Mauro William Barbosa de Almeida. Dia 15 de junho de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH. “Para dentro das portarias, por detrás das cancelas: características e condicionantes da autossegregação das elites em Campinas” (mestrado). Candidata: Dafne Sponchiado Firmino da Silva. Orientador: professor José Marcos Pinto da Cunha. Dia 17 de junho de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de tese do IFCH.  Física: “Difração Bragg-Superfície (BSD) de raios-X no estudo do efeito do tratamento térmico em Si(111) implantado com íons Cr+” (mestrado). Candidato: Hugo Eugênio de Freitas. Orientador: professor Lisandro Pavie Cardoso. Dia 16 de junho de 2016, às 10 horas, na sala de seminários do Departamento de Física Aplicada do IFGW. “Implementação de passeios quânticos em duas dimensões” (mestrado). Candidato: João Fernando Doriguello Diniz. Orientador: professor Marcos Cesar de Oliveira. Dia 17 de junho de 2016, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Geociências: “Fluxos de energia e de CO2 no cerrado da estação ecológica de Assis/SP: funcionalidade ecossistêmica e conservação ambiental” (mestrado). Candidato: Edson Xavier Fernandes. Orientador: professor Jonas Teixeira Nery. Dia 16 de junho de 2016, às 9 horas, na sala B do DGRN do IG. “Estudo exploratório das ações educativas no setor petrolífero como base para elaboração de projeto curricular empresarial e a valorização geocientífica” (mestrado). Candidata: Lourdes Regina Corrêa dos Santos. Orientador: professor Roberto Greco. Dia 16 de junho de 2016, às 10 horas, no auditório do IG.  Linguagem: “A expressão do sujeito no português de Moçambique” (mestrado). Candidato: Victor Mateus Santos de Oliveira. Orientador: professor Juanito Ornelas de Avelar. Dia 13 de junho de 2016, às 14 horas, na sala de videoconferência do IEL. “Simulacros desterritorializados: uma análise do discurso sobre as novas tcnologias em materiais didáticos de LI” (doutorado). Candidata: Silvelena Cosmo Dias. Orientadora: professora Maria José Rodrigues Faria Coracini. Dia 14 de junho de 2016, às 13h30, no anfiteatro do IEL. “A estruturação da fala em casos de afasia: o papel do outro” (mestrado). Candidato: Danilo Brandão de Lima. Orientadora: professora Maria Irma Hadler Coudry. Dia 16 de junho de 2016, às 10 horas, no anfiteatro do IEL.  Odontologia: “Avaliação da formação de artefatos por implantes de zircônia em imagens de tomografia computadorizada de feixe cônico” (doutorado). Candidata: Taruska Ventorini Vasconcelos. Orientadora: professora Deborah Queiroz de Freitas França. Dia 15 de junho de 2016, às 8h30, no anfiteatro 3 da FOP.

Destaque do Portal

Acordo para universidade indígena Unicamp firmou no último dia 3, na Casa do Professor Visitante (CPV), um acordo de cooperação com o povo indígena Paiter Suruí, localizado no município de Cacoal, Estado de Rondônia. Com a cooperação será possível o estabelecimento das bases de trabalho conjunto para a realização de cursos de educação superior no território Paiter Suruí, voltados para as sociedades indígenas. O acordo foi assinado pelo reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, e pelo cacique Almir Narayamoga Suruí, líder maior do povo Paiter Suruí e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Rondônia. Conforme o cacique Almir Suruí, a expectativa é que, a partir do acordo, seja possível a criação, no futuro, de uma universidade indígena no território Paiter Suruí. O líder indígena também ressaltou a importância da cooperação no sentido de capacitar o povo Paiter Suruí para fazer a gestão do seu território, composto por 148 mil hectares de floresta. Atualmente, vivem no território aproximadamente 1,4 mil pessoas. O primeiro registro de contato com não indígenas aconteceu há 46 anos. “Esta cooperação é muito importante para o nosso povo. Ela vai possibilitar uma abertura para que tenhamos acesso ao ensino superior de qualidade, com o objetivo de preparar o nosso povo para fazer a gestão do território. Pretendemos levar vários cursos superiores de interesse do povo para o nosso território. Dentro de um plano de 50 anos, nós queremos implementar uma universidade indígena. E esses mesmos professores da Unicamp que estarão no nosso território por meio do acordo de cooperação vão contribuir para criarmos políticas pedagógicas para esta universidade indígena”, explicou o cacique. Para o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, o acordo deverá contribuir para a preservação da cultura indígena, enrique-

cendo, ao mesmo tempo, os saberes da Unicamp. “O conceito de universidade que nós defendemos é aquela instituição preocupada com os aspectos de preservação da cultura e com a produção e disseminação do conhecimento em todos os seguimentos da população do país. Portanto, no caso do Brasil, a preservação da cultura indígena e a possibilidade de interação dessa cultura com a universidade tem muito a enriquecer a Unicamp. Essa parceria vai permitir que a Universidade contribua da melhor forma com o conhecimento que gera para que os indígenas possam manter os seus hábitos culturais, disseminar essa cultura e poderem avançar naquilo que entenderem ser mais adequado para o desenvolvimento das suas tribos”, considerou Tadeu Jorge. A implementação das atividades do acordo ocorre por meio do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência

(CLE) da Unicamp, inserindo-se no âmbito do projeto Multilinguismo no Mundo Digital e do grupo de pesquisa Interdisciplinar CLE Auto Organização. Também colaboram no projeto, professores da Unicamp ligados ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Faculdade de Educação (FE), Instituto de Artes (IA), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Instituto de Computação (IC). Para a professora Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, que coordena o grupo de pesquisa interdisciplinar do CLE, o trabalho com o povo Paiter Suruí já vinha sendo desenvolvido há um ano. “Estamos trabalhando conjuntamente com esta etnia desde maio do ano passado, quando fizemos um primeiro seminário no território Paiter Suruí. Este seminário envolveu a participação de cerca de 1000 pessoas, entre indígenas, pesquisadores e estudantes. Foi Foto: Antonio Scarpinetti

neste momento que discutimos a possibilidade de criação, via trabalho inicial com a Unicamp, de uma universidade indígena”, lembrou Ítala D’Ottaviano. A professora da Unicamp informou que há ainda parcerias com docentes de outras instituições como a Universidade Federal de Rondônia, Unesp (campus de Marília e de Presidente Prudente), USP e PUC-Campinas. No plano internacional a Unesco e a Universidade Sami (Tromso, Noruega), participam da iniciativa. Participaram da cerimônia de assinatura do convênio, além de professores, funcionários e pesquisadores da Unicamp, os docentes do CLE, Walter Carnielli, Claudia Wanderley e Fábio Maia Bertato, além da professora Ariane Porto, do Instituto de Artes (IA). Durante a solenidade, o líder do povo entregou ao reitor um colar que simboliza a sabedoria. Tadeu Jorge retribuiu com um botton comemorativo aos 50 anos da Unicamp.

PAAIS

Cerimônia de assinatura do acordo, no último 3: estabelecimento das bases de trabalho conjunto

Em conversas com professores e autoridades da Unicamp, o líder Almir Narayamoga Suruí também comentou sobre a importância do desenvolvimento de políticas públicas e ações de inclusão no âmbito do ensino superior. Ele elogiou o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) da Unicamp, o primeiro sem cotas implantado em uma universidade brasileira. “Políticas públicas para educação são um direito do povo e um dever do governo. Eu particularmente não sei se sou favorável a cotas. O governo tem que tratar este tipo de política de forma igualitária para todo o povo brasileiro. Mas acredito que tem que ter uma política para avançar a inclusão social, talvez seja necessário hoje na universidade, mas não tem que ser de todo o tempo. O importante é que o governo leve políticas de educação de qualidade aonde é necessário ser levado”, disse. (Silvio Anunciação)


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Seguro, confortável e funcional Fotos: Antonio Scarpinetti

CAMILA DELMONDES Especial para o JU

m Equipamento de Proteção Individual (EPI) específico para profissionais de saúde, com proteção hidrorrepelente e antimicrobiana, está sendo testado pelo Laboratório de Genética Molecular do Câncer (Gemoca), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O traje não possui costuras ou locais abertos que ofereçam risco de contaminação química e biológica. O tecido utilizado tem acabamento nanotecnológico e, por isso, não esquenta e permite a perspiração. Além disso, uma viseira de policarbono adequada à circunferência craniana foi projetada para proporcionar mais conforto. “Graças à nanotecnologia empregada, o tecido desse EPI proporciona conforto igual ou superior àqueles utilizados na fabricação de roupas comuns, já usados em hospitais, como jalecos e uniformes de centros cirúrgicos”, explica a médica endocrinologista Laura Sterian Ward, responsável pelo Gemoca da Unicamp. A vestimenta testada na Unicamp é um projeto da empresa EPI Saúde, uma das startups da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, da Agência de Inovação Inova da Unicamp. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp. O projeto é dividido em três etapas e inclui testes de usabilidade e de análises microbiológicas, realizados com o apoio da Enfermaria de Moléstias Infecciosas (EMI) e do Laboratório de Patologia Clínica (LPC), do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade. A primeira etapa do projeto é um estudo de custo-utilidade, realizado a partir de um questionário de avaliação de usabilidade, aplicado com a equipe de enfermagem da EMI do HC. A segunda etapa adequa a vestimenta para atender necessidades específicas de trabalhadores da área da saúde, com a possibilidade de automatização do processo de fabricação da vestimenta e acessórios, e desenvolvimento de novos produtos, como roupas de cama, por exemplo. A terceira e última fase inclui a análise microbiológica e contagem bacteriana da parte interna do tecido. Laura Ward explica que a análise da atividade antimicrobiana do tecido leva em consideração os aspectos bactericida e bacteriostático da roupa, que se referem à capacidade do tecido para eliminar e inibir o crescimento de bactérias. “Amostras dos tecidos deverão ser testadas qualitativamente para a atividade antibacteriana, a partir do método laboratorial conhecido como AATCC 147 e empregado em produtos têxteis. As amostras que apresentam atividade bacteriana são avaliadas quantitativamente, com a introdução de microorganismos, eluição por agitação em solução neutralizante e cálculo do número de bactérias”. O traje está sendo testado para as bactérias que podem causar desde uma simples infecção, como espinhas e furúnculos, até doenças mais graves, como pneumonia, meningite, infecção urinária de difícil controle e septicemia. No entanto, Laura Ward explica que a maior inovação proposta pela EPI Saúde é o design de um traje específico para os profissionais de saúde. “Nosso foco é a usabilidade. A inovação não está na roupa em si, mas no fato de propor trajes de proteção adaptados às necessidades desses profissionais”, enfatiza.

REALIDADE E POTENCIAL Calças, jalecos, luvas, viseiras e outros EPIs não apenas devem estar disponíveis aos trabalhadores, como também devem ser adequados aos diferentes ambientes e riscos, além de proporcionar conforto térmico e mobilidade. Uma vez hidrorrepelente e antimicrobiano, e ajustado às necessidades específicas da área de saúde, o EPI desenvolvido na Unicamp tem considerável potencial de mercado. “Temos no Brasil cerca de 1,4 milhão de profissionais envolvidos nas atividades de prestação de serviços de saúde à população, e praticamente nenhuma empresa que ofereça EPI com essa dupla funcionalidade. Temos um mercado praticamente inexplorado”, explica Laura.

O traje usado pelos profissionais é hidrorrepelente

Funcionários durante expediente no Hospital de Clínicas da Unicamp: trajes adaptados às necessidades

A médica endocrinologista Laura Sterian Ward: “Amostras dos tecidos deverão ser testadas qualitativamente para a atividade antibacteriana”

‘Startup’ da Unicamp cria traje de proteção antimicrobiano e hidrorrepelente para profissionais da área da saúde A coordenadora do Gemoca da FCM pondera que, embora existam no mercado vestimentas de proteção de diferentes materiais e propriedades, elas são pouco adequadas aos variados ambientes e riscos presentes no meio hospitalar. É o caso do avental branco, utilizado por médicos e demais profissionais de saúde, há mais de 100 anos. De acordo com Laura, embora o avental branco seja reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como equipamento de proteção individual, ele serve muito mais como instrumento de identificação profissional, do que de proteção. Dados recentes de uma pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) num hospital-escola do interior do Estado de São Paulo mostraram que 95,83% dos jalecos utilizados por 98 alunos e médicos-residentes apresentavam algum tipo de contaminação. Muito embora a Norma Regulamentadora nº 32, do Ministério do Trabalho, reconheça a necessidade de uso de vestimenta de proteção individual pelos trabalhadores da área de saúde, Laura Ward considera que as recomendações contidas no texto são antigas e vagas, tanto no que se refere à segurança do equipamento, quanto ao design mais adequado. “Mesmo existindo uma lei que proíbe o uso desses trajes fora de hospitais, clínicas e laboratórios, na prática ela não é obedecida e pouco se comenta sobre o assunto. O que observamos, frequentemente, é o profissional saindo do meio hospitalar com as vestimentas de serviço, levando para sua própria casa e para outros ambientes os agentes infecciosos aos quais esteve exposto no trabalho. O uso de EPIs está mais consolidado na área agrícola, e pouca ênfase tem sido dada à qualidade desses equipamentos na área da saúde”, afirma. O diretor da EPI Saúde, Paulo Formagio, explica que o uso de equipamento de proteção com tecido hidrorrepelente no setor agrícola já está normatizado e é obrigatório há muitos anos, mas que a área de saúde ainda não conta com produtos adequados de proteção individual, muito embora ofereça mais riscos de contaminação. “São profissionais que manipulam pacientes infectados, que realizam funções laboratoriais no trato com agentes infecciosos, que utilizam técnicas microbiológicas ou relacionadas à biotecnologia, que administram medicamentos quimioterápicos, substâncias químicas e fármacos em pacientes, ou que atuam nos serviços de limpeza e lavanderia hospitalar. Nossa meta é avançar nos testes para que o EPI da Unicamp obtenha a certificação do Ministério do Trabalho”, afirma. O infectologista e diretor clínico do HC, Plínio Trabasso, também é um dos responsáveis pelo estudo desenvolvido na Unicamp, e enfatizou que apesar dos riscos aos quais estão expostos, os profissionais de saúde da Unicamp já estão protegidos. Trabasso também comentou sobre a possibilidade de implantação do novo EPI na rotina do hospital. “O avental utilizado no HC é o mesmo recomendado em hospitais do mundo todo. O EPI que estamos testando seria uma proteção extra, substancial, além da barreira de proteção já oferecida pelos aventais atualmente utilizados. Após os testes de usabilidade, será realizada uma análise de custo-benefício. Não podemos apresentar um custo extra ao hospital, a menos que seja oferecido um benefício muito maior. Isso não se aplica somente ao caso dos EPIs, mas também a todas as outras tecnologias”, explica o infectologista da Unicamp.


12 Campinas, 13 a 19 de junho de 2016

Na batida da evolução Fotos: Divulgação

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

partir de uma investigação sobre os grupos de percussão da Unicamp e da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o pesquisador Rodrigo Gudin Paiva, do Instituto de Artes (IA), concluiu que as atividades neste tipo de ambiente incrementam o desenvolvimento musical dos percussionistas. Para o autor de tese de doutoramento sobre o tema, as análises sobre os dois grupos de percussão apontam que as práticas neste contexto contribuíram para o aprendizado, a criação musical e a performance dos participantes. O trabalho foi conduzido junto ao programa de pós-graduação do IA, na área de práticas interpretativas. O professor Fernando Augusto de Almeida Hashimoto, do Departamento de Música e atual diretor da Unidade, orientou o estudo. “O grupo de percussão potencializa a aprendizagem dos percussionistas, ampliando o desenvolvimento relacionado tanto com a performance como com a criação musical. A prática em grupo de percussão favorece a motivação e o desenvolvimento da autonomia do músico em relação à tomada de decisões e à autorregulação dos processos de estudo individual”, confirma o autor do trabalho, que é musico profissional desde 1989. Rodrigo Gudin Paiva atua como instrumentista e integra, atualmente, a orquestra Camerata Florianópolis e o grupo instrumental catarinense Luiz Zago Trio. É também docente do curso de música da Univali. Durante a pesquisa atuou como instrumentista e aluno de pós-graduação no Grupo de Percussão da Unicamp (Grupu); e como instrumentista, coordenador e professor no Grupo de Percussão de Itajaí (GPI), função que exerce até o momento. Pela relação direta com os grupos de percussão pesquisados, Rodrigo Paiva informa que optou pela metodologia da observação participante e do estudo multicaso. “Os dados foram obtidos por meio de diários de campo, registros de ensaios e apresentações musicais em áudio e vídeo, além de questionários realizados com os integrantes dos dois grupos. Por meio da observação participante, os dados puderam ser coletados de maneira tão extensa quanto intensa. As análises foram realizadas separadamente e, em seguida, de maneira transversal, buscando apontar singularidades e similaridades entre os grupos investigados”, justifica. O instrumentista e pesquisador reconhece que os grupos de percussão fazem parte do cotidiano de muitos professores e alunos de música. Ele acrescenta que a importância destes agrupamentos é reconhecida por quem trabalha com percussão. “Os professores e alunos sabem da importância, a maioria dos cursos das universidades têm práticas com os grupos. A minha pesquisa teve o objetivo de não só confirmar esta hipótese, mas de compreender de que forma emerge este potencial e esta aprendizagem acontece. Há, além disso, escassez de literatura sobre o tema no Brasil”, fundamenta.

CARACTERÍSTICAS

O estudo buscou identificar e descrever, portanto, conforme Rodrigo Paiva, os aspectos das práticas em grupo que contribuem para o desenvolvimento musical dos percussionistas. Neste sentido, o autor do trabalho encontrou seis características nos dois grupos pesquisados: uso de repertório específico; emprego de instrumentação variada; inclusão de elementos cênicos na performance; a prática de estudos individuais e ensaios semanais em grupo; diferentes possibilidades de criação; e diversidade de aprendizagens. Em relação ao uso de repertório específico, o pesquisador destaca que em ambos os grupos este aspecto representou um elemento fundamental para o desenvolvimento musical dos alunos. “No Grupu o foco está na performance de música contemporânea dos séculos 20 e 21. Já o GPI se baseia num repertório mais autoral, desenvolvido por meio de um processo de criação coletiva. Tanto a ênfase na criação quanto na performance contribui para o desenvolvimento musical em diferentes aspectos, à medida que o equilíbrio entre as habilidades e os desafios vão sendo ajustados em um fluxo contínuo”, aponta. A oportunidade de estudar e aprimorar as habilidades em variados instrumentos constitui-se em outro elemento relevante para o desenvolvimento técnico dos percussionistas. “Trata-se de uma instrumentação muito

O Grupo de Percussão de Itajaí (acima) e o Grupo de Percussão da Unicamp foram analisados para fundamentar a pesquisa: observação participante e estudo multicaso

variada. Num grupo de percussão, o aluno tem oportunidade de tocar muitos instrumentos. Portanto, isso exige estudo e dedicação para as técnicas específicas de cada um deles. As técnicas para tocar um atabaque e uma marimba, por exemplo, são muito diferentes”, exemplifica. A inclusão de elementos cênicos na performance musical apareceu de forma bastante evidente na pesquisa como contribuição à potencialidade dos percussionistas. Rodrigo Paiva explica que a utilização de elementos cênicos acontece de maneira distinta nos grupos. No Grupu esses elementos aparecem em algumas obras, de modo pontual, enquanto que, no GPI, os elementos cênicos passaram a ser incorporados à performance do grupo como um todo e de forma mais evidente. “Apesar das diferenças, em ambos os casos, os elementos cênicos elevaram o nível dos desafios e das habilidades, possibilitando um entendimento aos alunos de que não é ‘só tocar’. Desse modo, a performance passou a ganhar novos significados, o que também representou excelentes oportunidades para a criação coletiva.” As práticas de estudo individual e os ensaios semanais em grupo impulsionam a motivação, a aprendizagem e o comprometimento nos dois grupos. Rodrigo Paiva relata ainda que os grupos de percussão constituem como um ambiente propício para o desenvolvimento da criatividade, aspecto relacionado às possibilidades de composição, arranjo ou adaptação; sugestão de ideias e estudos; montagem de espetáculos; inserção de elementos cênicos; e interpretação e improvisação. “Em relação ao aspecto da diversidade de aprendizagem, a prática do grupo de percussão contribui para a formação musical do percussionista de forma bastante ampla. Esta diversidade está relacionada a habilidades musicais, conhecimento do repertório e do contexto histórico, valorização da percussão e da profissão, aquisição de hábitos e postura profissional, aspectos emocionais, experiência e vivência musical em grupo, relacionamento e comunicação interpessoal.”

GRUPOS PESQUISADOS

O Grupo de Percussão da Unicamp (Grupu) existe desde 1998, tendo como fundador o professor Fernando Hashimoto. A proposta do grupo é executar um repertório específico para percussão, além de incentivar e integrar alunos de composição e regência do Departamento de Música do IA. Em 2007, o grupo lançou o seu primeiro CD intitulado Configurações para percussão contemporânea, com obras de Jônatas Manzolli, Raul do Valle e do próprio Hashimoto. Em 2014, o Grupu realizou uma temporada de concertos, apresentando obras de compositores brasileiros, como Liduíno Pitombeira (Zumbi dos Palmares) e Ricardo Tacuchian (Cárceres). O programa incluiu, ainda, a obra Trio Per Uno, do compositor sérvio

O pesquisador Rodrigo Gudin Paiva, autor da tese: “A prática em grupo de percussão favorece a motivação e o desenvolvimento da autonomia do músico em relação à tomada de decisões e à autorregulação dos processos de estudo individual”

Nebojsa Zivkovic; Ensaio n.4, de Barry Ford; e Musique de Tables, do compositor e coreógrafo Thiery De Mey. O Grupo de Percussão de Itajaí foi criado em 2007 pelo professor Chico Santana, como parte do programa do curso de percussão do Conservatório de Música Popular de Itajaí. No mesmo ano, passou a ser coordenado pelo autor da pesquisa. A partir de 2010, com a criação do curso de bacharelado em Música da Univali, o grupo ampliou suas atividades, passando a ser sediado na universidade. O repertório consistia, na época, basicamente de obras escritas para percussão, de compositores brasileiros, como Paticumpá,

de Oscar Bolão; Cadência para Berimbau, de Ney Rosauro; Tambaleando, de Chico Santana; Música para Caçarolas, de Hermeto Pascoal; e Triunvirato, de Pascoal Meireles. A partir de 2009, o GPI passou a desenvolver repertório inédito para percussão, interpretando peças de autoria dos membros do grupo. Em 2011, o grupo desenvolveu um espetáculo chamado Ritmos do Mundo e, em 2013, foi contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura da cidade de Itajaí, com projeto para gravação de seu primeiro DVD contendo dez peças musicais inéditas gravadas ao vivo e em estúdio.

Publicação Tese: “Grupo de percussão e aprendizagem musical: um estudo multicaso no contexto de dois grupos brasileiros” Autor: Rodrigo Gudin Paiva Orientador: Fernando Augusto de Almeida Hashimoto Unidade: Instituto de Artes (IA)


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