7 Recado para você 11 O big bang, a origem do universo 15 Por um ambiente equilibrado 23 Águas claras 29 Bicho também é gente?
35 A Terra, o nosso chĂŁo 41 E se o ar acabar? 47 Quanto resĂduo! 53 O desenvolvimento tem de ser sustentĂĄvel 63 Um caminho para nosso planeta
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Recado para você
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Quantos bilhões de anos a vida levou para chegar até nós, aqui no planeta Terra, neste século XXI da nossa era? O que terá acontecido ao longo desse tempo? Como teria aquilo que, dizem, foi a grande explosão que deu origem a tudo se transformado nos milhares de rios, montanhas, pássaros e peixes, flores e frutos, homens, mulheres e tantas coisas mais? Muito sobre isso já se sabe, outro tanto ainda é mistério, mas uma coisa é certa: temos de cuidar dessa natureza generosa que nos abriga, encanta e alimenta. Temos de manter limpas as nossas águas e puro o nosso ar, sadio o nosso solo e protegida a variedade imensa de espécies animais e vegetais que expressam o milagre da vida. Temos de desenvolver nossas sociedades em todos os cantos do planeta, é fato, mas esse desenvolvimento precisa ser sustentável, satisfazendo nossas necessidades no presente sem prejudicar essa satisfação no futuro.
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Estamos aprendendo a fazer tudo isso e instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas e documentos como a Carta da Terra vêm nos lembrando de que a natureza pode existir sem nós, mas nós não podemos existir sem ela. É disso que trata este livro Eu e o universo, e da esperança de que, ao lê-lo, você participe desse ideal e o espalhe por toda parte. Um grande abraço, Bia
A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização constituída por governos da maioria dos países do mundo. Foi fundada em 1945 e tem por finalidade promover a segurança internacional, desenvolvimento econômico, respeito aos direitos humanos e o progresso social.
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O big bang, a origem do universo
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Bang! E foi assim que tudo começou. É o que dizem os físicos sobre a origem do universo. Claro que ninguém estava lá para ver, há 15 bilhões de anos, mas a teoria do big bang, de George Gamow, apresentada em 1946, é até hoje considerada a base para a explicação da origem do universo. Já nosso planeta é bem mais recente, tem 4,6 bilhões de anos e nele apareceram as primeiras formas de vida há 3,5 bilhões de anos. Quanto a nós, seres humanos, estamos aqui há bem menos tempo, mas o suficiente para fazer algumas melhorias e muitos estragos, parte dos quais já estamos tomando consciência e tentando consertar. Que tal nos encontrar com a Terra “em pessoa”, imaginando que estamos no espaço, e olhá-la como se fosse pela primeira vez? Então, encontre uma boa posição, acomode a vista e visualize a imagem do nosso planeta flutuando no universo. O que você vê? Continentes e oceanos. Mais oceanos que continentes. A Terra é, na verdade, água. Mais água do que terra.
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Mas o que existe dentro dos oceanos? Montanhas e vales, milhares de tipos de vegetação, bilhões de seres das mais variadas cores e formas. E nos continentes? Ah, aí dá para ver melhor: cordilheiras brancas de neve, florestas exuberantes, desertos dourados, rios caudalosos, regatos ondulantes, alguns vulcões flamejantes. Se pudéssemos ver ainda mais de perto, notaríamos desfiladeiros de pedras, plantações de laranja, de café, de arroz, povoados e cidades, com suas casas, prédios, ruas e praças. Ainda, muitos animais: insetos, gado, pássaros, jacarés, alguns elefantes, tigres, camelos… E gente, concentrada nas cidades, espalhada pelos campos. É um planeta lindo, não é mesmo? Agora que com o telescópio Hubble já pudemos fotografar Marte, Júpiter e os anéis de Saturno, que já estivemos até andando pela Lua, dá para comparar — modéstia à parte, pelo que vimos até agora, a Terra é o planeta mais bonito do sistema solar, além de ser o único em que a vida pode existir. Onde mais encontramos árvores, rios, pássaros? E essa temperatura, com exceção dos polos, em geral tão agradável. A diversidade de vida é o que mais chama atenção. Tão grande é a variedade que, para conhecê-la melhor, tivemos que dividi-la em reinos — os reinos da natureza: o reino monera (das bactérias), o reino protista, o reino dos animais e o reino vegetal. E como se relacionam esses reinos da natureza? Qual nosso papel nisso tudo?
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Tudo se relaciona com tudo, todos se relacionam com todos. Como afirma o ambientalista Al Gore no livro A Terra em balanço, “se não percebermos que a parte humana tem uma influência cada vez maior sobre o conjunto da natureza — que somos, de fato, uma força natural, como os ventos e as marés —, não conseguiremos perceber quão perigosamente estamos ameaçando colocar a Terra fora de equilíbrio”. Nós percebemos, e queremos para todos um ambiente harmonioso e equilibrado.
O telescópio Hubble é um satélite astronômico espacial não tripulado que transporta um grande telescópio. Foi lançado pela agência espacial americana, a NASA, em 1990. Pesa 11.110 kg, tem um diâmetro de 2,4 m e está localizado a 589 km da Terra.
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Por um ambiente equilibrado
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Meio ambiente em equilíbrio é o que propicia a convivência harmoniosa e enriquecedora de todos os seres que dele fazem parte. Um ambiente em que os espaços dos minerais, vegetais, animais e humanos são respeitados, porque existe uma consciência de que cada um deles têm o direito de existir. E quem determina esse direito é a própria pluralidade da vida, que criou seres tão numerosos e diversificados. Existe uma hierarquia de poder na vida e nessa hierarquia é a própria vida a autoridade máxima. A própria vida que, por vezes, se manifesta como o homem desviando o curso de um rio ou dinamitando uma montanha. E, por vezes, como um terremoto destruindo uma cidade ou como o sol, possibilitando a existência da vida. Se é então a própria vida que cria e permite a destruição (como nos terremotos e inundações), podemos também nós, homens, destruir à vontade? Se pensarmos bem, veremos que a lógica da vida e seus ciclos são muito maiores do que os da humanidade. Estamos incluídos neles, mas não os determinamos.
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O termo meio ambiente foi definido em 1972 pelas Nações Unidas como “o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”.
Tirando alguns grandes fenômenos, como terremotos, furacões e vulcões, nós, seres humanos, somos a segunda autoridade do planeta. Essa autoridade não é dada pela quantidade de seres humanos, pois afinal existem mais insetos do que pessoas. Somos autoridade, porque somos mais inteligentes e a inteligência nos dá poder. A inteligência nos levou a construir pontes, e assim a termos poder sobre os rios. A inteligência nos levou a entender as sementes, e assim adquirimos o poder de plantar. Mas nossa inteligência vem crescendo aos poucos. Assim, muitas vezes temos exercido nosso poder de forma meio ignorante, sem perceber muito bem as consequências a longo prazo, sem prestarmos atenção ao que pode acontecer paralelamente a certas ações. Por exemplo, quando queimamos florestas para criar gado, matamos milhares de animais e plantas que viviam lá. O que acontece quando jogamos o esgoto no mar ou nos rios? E quando lançamos fumaça no ar?
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Nós temos poder sobre as matas, os rios e o ar porque conseguimos atacá-los e eles não conseguem se defender. Mas como estamos usando esse poder? Rios, mares, ar, florestas, animais, estão todos aí para compartilharmos a existência e nos desenvolvermos mutuamente. E é assim que será quando todos, desde crianças, tivermos essa consciência. Antigamente ninguém pensava muito nesses assuntos, porque a população mundial era pequena em relação à área do planeta e também porque não dispunha de armas e instrumentos capazes de fazer um estrago muito grande, como a bomba atômica, as usinas hidrelétricas ou fábricas poluidoras. No entanto, muitas mudanças aconteceram. Somos muito mais numerosos e com o aumento da população vieram também maiores necessidades de alimento, vestuário, transporte, energia, abrigo, lazer, saneamento etc. E todas essas necessidades só podem ser supridas a partir de um único lugar: a Natureza — do ferro utilizado para produzir automóveis, do algodão para tecer roupas ou do petróleo para movimentar motores, tudo o que usamos é feito com materiais existentes na Natureza. Assim, podemos entender melhor como as transformações causadas pelo homem sobre o meio ambiente estão relacionadas às satisfações de nossas necessidades. Esse tipo de transformação ou impacto é chamado de impacto ambiental.
Impacto ambiental é o nome dado à alteração no meio ambiente causada por ação ou atividade humana.
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E impacto ambiental é bom ou ruim? Faz parte da vida, não é? O mico-leão-dourado tem o direito de existir nas florestas, mas nós também temos o direito de construir cidades e viver nelas. Os rios devem fluir, com seus peixes e plantas. O esgoto, que é fruto da atividade humana, existe mas não pode ser despejado nos rios. As fábricas têm de produzir: chocolate, automóveis, cadernos, mas a fumaça poluente que elas produzem tem de ser tratada antes de ser lançada na atmosfera! Os carros e ônibus precisam levar as pessoas ao seu destino, mas ao fazê-lo não deveriam poluir o ar. O problema não é o impacto ambiental, mas a nossa pouca capacidade de evitar o que é possível e remediar as consequências. E se não usarmos a nossa inteligência para minimizar esses impactos, sem comprometer o desenvolvimento, correremos um grande risco. E é muito gratificante perceber que a luta dos ambientalistas pela preservação de um meio ambiente harmonioso, pleno de diversidade de vida, isto é, da biodiversidade tem surtido efeitos positivos. O movimento ambientalista é uma mostra de que a humanidade percebe a importância de lutar pela preservação do ambiente natural. Assim como a Ecologia — ainda que seja um campo da ciência relativamente recente (o termo foi descrito pela primeira vez em 1866, na Alemanha, com os estudos do biólogo Ernest Haeckel) — que nos fornece o conhecimento científico sobre o funcionamento da natureza.
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Ambientalista é a pessoa que, por convicção ou profissão, está ligada à preservação do meio ambiente e das condições de vida no planeta. O ambientalismo, movimento ecológico ou movimento verde consiste em um heterogêneo feixe de correntes de pensamento e movimentos sociais que têm na defesa do meio ambiente sua principal preocupação, reivindicando medidas de proteção ambiental e sobretudo uma ampla mudança nos hábitos e valores da sociedade de modo a estabelecer um paradigma de vida sustentável. Biodiversidade é a diversidade da natureza viva. Pode ser definida como a variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, a terrestre, a marinha e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte. Ecologia é uma palavra que deriva das palavras gregas “oikos”, que significa casa, e “logos”, que significa estudo.
Claro que ainda existem alguns gananciosos que deixam seus interesses pessoais, os de suas empresas e corporações falar mais alto do que o bem-estar geral. Por exemplo, o pessoal que quer manter energias poluidoras como petróleo e carvão ao invés de incentivar e pesquisar outras formas mais limpas, como a energia solar, a eólica, biomassa. Ou parte do setor da indústria pesqueira que não respeita o ciclo reprodutor dos peixes, exterminando, assim, muitas espécies. É uma questão de bom senso e de ver mais longe e a longo prazo, de buscar o progresso de hoje sem prejudicar o de amanhã, isto é, de buscarmos o desenvolvimento sustentado.
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Quais foram as transformações no meio ambiente em que você vive, nos últimos vinte anos? Devemos usar toda a tecnologia que criamos, nosso poder sobre os recursos naturais, para enriquecermos e não para empobrecermos. Para melhorarmos nossa vida, e não para piorá-la. Para propiciar a evolução dos seres, e não seu extermínio. Para promover a harmonia, e não o desequilíbrio. Como dizem os índios norte-americanos: “Nós não herdamos a terra de nossos pais, mas a tomamos emprestada de nossos filhos”. Se não usarmos a nossa inteligência para minimizar esses impactos, correremos um grande risco. Isto porque, ao causarmos impactos ao meio ambiente, afetamos uma enorme quantidade de seres e as relações entre eles, ou seja, afetamos o ecossistema. E esse é o ponto da questão. Preservar os ecossistemas para que o nosso desenvolvimento não cause impactos ambientais negativos, nem destrua a biodiversidade tão necessária para a manutenção da vida no planeta. É daqui para frente que temos de pensar… Alguma devastação já foi feita, algum desequilíbrio já foi criado. Mas podemos ser mais cuidadosos! Agora que sabemos mais sobre os efeitos, podemos controlar melhor as causas. Agora que percebemos que os interesses de alguns são só deles mesmos, podemos defender os nossos.
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A tomada de consciência é o primeiro passo para a mudança de atitude: O meio ambiente somos todos nós: rios, plantas, pedras, montanhas, seres humanos, pássaros... Respeitemo-nos e construiremos um ambiente inteiro.
Agora pense: do que você mais gosta em nosso planeta?
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Águas claras
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A água constitui cerca de 2/3 do planeta e de nós, seres humanos. Em alguns vegetais, como o alface, a água constitui 90% da sua composição. A água não é necessária apenas para existência da vida. Ela é matéria-prima para a produção de uma infinidade de produtos. Para você ter uma ideia, para se fazer uma calça jeans são necessários, aproximadamente, 10 mil litros de água ao longo de toda a cadeia produtiva.
Cerca de 75% do peso de um músculo é composto por água. O sangue, por sua vez, contém 95% de água, a gordura corporal 14% e o tecido ósseo 22%. Nosso cérebro tem 75% e os pulmões 86% de água. O corpo humano possui cerca de 65% de água em homens adultos e 60% em mulheres adultas. Essa diferença se deve à maior porcentagem de gordura corporal (com menor conteúdo de água) e à menor porcentagem de massa muscular (com maior conteúdo de água) das mulheres em relação aos homens.
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Veja abaixo quantos litros de água são necessários para se produzir cada produto. • Para 1 kg de carne bovina: 15.415 litros de água • Para 1 litro de leite: 1.020 litros de água • Para 1 kg de arroz: 2.497 litros de água • Para 1 kg de chocolate: 17.196 litros de água E como usamos a água? O consumo e a destinação dos recursos hídricos dos países também estão ligados ao nível de desenvolvimento de cada nação. Países desenvolvidos usam a maior parte de sua capacidade hídrica na indústria, enquanto os países em desenvolvimento chegam a usar mais de 80% de sua água na agricultura. Na média mundial, 70% da água se destina à agricultura, 22% à indústria e apenas 8% para o uso doméstico. A questão da água é muito importante. Tanto para nós individualmente, pois uma grande parte do nosso corpo é formado por água, quanto coletivamente, já que o estado das nossas águas representa em grande parte a saúde do nosso planeta. A Terra recicla continuamente a água entre os oceanos e os continentes através da evaporação e do escoamento. Depois, a água é distribuída sob a forma de chuva, rios, neve, mananciais e armazenada em lençóis subterrâneos, lagos, geleiras. Esse padrão sofreu grandes alterações principalmente a partir do século XIX, quando as sociedades se tornaram mais complexas, com a industrialização e crescimento da população. Os impactos podem ser notados na mudança dos padrões de chuvas
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e as temperaturas, que têm aumentado muito em algumas regiões e diminuído em outras, causando grandes desequilíbrios.
Como você acha que isso vem acontecendo no Brasil? Outra mudança que está ocorrendo é a alteração dos níveis dos mares e perda de áreas litorâneas. Com isso, muitas comunidades, pelo mundo todo, serão inundadas. De fato, alguns países insulares já perderam parte do seu território devido ao avanço do mar. Um ponto importantíssimo quando consideramos a questão da água é o quanto temos disponível para consumo, isto é, o potencial de água doce. Sabemos que ele representa 2,5% do total de água na Terra. A maior parte se encontra sob a forma de gelo, nos polos; outra parte nos lençóis subterrâneos. Em alguns lugares do planeta a quantidade de água disponível ainda é suficiente, mas em uma grande parte problemas como o aumento da população, a poluição e o descuido já tornaram a falta de água uma dura realidade. Não pelo que as pessoas bebem — uma boa parte do problema está na enorme quantidade de água utilizada pela irrigação para agricultura e pecuária e no uso de água pela indústria para atender a necessidade de consumir alimentos e produtos. Você sabia que cerca de 70% da água potável consumida em todo o mundo é usada na irrigação? E o mais grave — grande parte dela é perdida devido a técnicas ineficazes.
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E não basta pensarmos na quantidade das águas. Temos de pensar também na sua qualidade. Como queremos nossas águas? Com certeza você respondeu algo semelhante a limpas e claras. Todas elas: da chuva, dos mares, dos rios, das fontes, dos lagos. Queremos também a neve limpa, as geleiras, o vapor. Nós todos, seres humanos, animais, plantas, precisamos da água. Além disso as águas consistem em fonte de alimentos com seus peixes, algas, crustáceos e frutos do mar. Em muitos locais, eles são a maior fonte de proteína disponível à população. Como não pensar na maravilha dos oceanos, na delícia do banho de mar, nos rios e lagos embelezando as paisagens, promovendo o turismo e com ele trazendo o desenvolvimento de tantas regiões. E você acredita que, com tudo isso, tem gente que joga esgoto nos rios, lixo no mar, agrotóxicos nos lagos? Isso sem falar nos navios petroleiros que, vez ou outra, deixam vazar petróleo nos oceanos, sujando as águas e praias, matando milhares de peixes e aves marinhas… Pior que isso, só o lixo tóxico que fica passeando de navio, de um lado para outro, até que algum país mais descuidado permita que seja despejado nas proximidades de sua fronteira, ou mesmo no meio de algum oceano. A natureza é forte, resistente. Tem uma grande capacidade de aguentar e transformar todo esse lixo. Mas essa capacidade tem limite, e em muitos lugares esse limite já foi ultrapassado.
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E quais as providências e atitudes que teremos de tomar para mantermos nossas águas sempre claras, vivas e limpas? • Reconhecer que a água é de fato fundamental para a vida e tratá-la desta forma; • Utilizar a água com parcimônia, economizando sempre que possível; • Diminuir a poluição por produtos químicos, tóxicos, agrotóxicos, esgotos, lixo, lixo radioativo, derramamento de petróleo, testes nucleares; • Participar e se conscientizar a respeito da importância da água, sua inter-relação com toda a vida do planeta e a necessidade de usá-la de maneira racional; • Buscarmos um desenvolvimento econômico que leve em conta sua preservação. A boa notícia é que estamos cada vez mais conscientes da necessidade de proteger a natureza. Estamos aprendendo a consertar alguns estragos. O rio Tâmisa foi recuperado em Londres, e temos que trabalhar e lutar para que o mesmo seja feito com o rio Tietê, em São Paulo. Recolhemos o petróleo derramado no Alasca, e, uma por uma, lavamos milhares de gaivotas e focas… Montamos guarda para proteger os recifes da Austrália e cercamos a Jureia para garantir que ela continue linda. Vamos, enfim, melhorando o relacionamento com as nossas águas e esperamos que elas sejam sempre bem-tratadas.
A sua cidade tem enfrentado problemas como excesso de chuvas ou secas prolongadas? Como a população vem lidando com isso? 27
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Bicho também é gente?
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Você já viu um pássaro dodô? Não? Nem eu! E sabe por que não podemos mais vê-lo? Ele foi extinto. Já pensou se tivessem matado também todos os elefantes, os leões-marinhos, os golfinhos e as gaivotas? E os beija-flores? Ou as estrelas-do-mar? As baleias foram salvas por um triz. Em vários países foram feitas campanhas para sua preservação. Órgãos internacionais proibiram sua caça comercial, algumas ONGs (Organizações Não Governamentais), como o Greenpeace, filmaram a violência de sua caça e a mostraram nas televisões do mundo todo. Deu certo, pois hoje a população de baleias voltou a aumentar. Muitas outras espécies de animais têm sido exterminadas pela caça exagerada ou pela pesca predatória, que não respeita os períodos de reprodução e crescimento. Outras espécies vão se escasseando pela destruição de seu habitat, isto é, sua moradia natural.
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Habitat é um local ou região onde se desenvolvem ou vivem seres vivos de forma organizada. Ele oferece condições climáticas, físicas e alimentares para o desenvolvimento de determinada espécie. Ex.: o habitat da vitória-régia são os lagos e matas alagadas da Amazônia.
Quando destroem, por exemplo, uma floresta tropical, por causa da madeira ou para fazer pasto, os animais que habitavam essa floresta tendem a desaparecer porque perdem sua fonte de alimento e até seu modo de vida. Você pode imaginar, por exemplo, macacos sem árvores para pular de galho em galho? Há quem defenda que alguns animais podem ser preservados em cativeiro. Além de este ser um ponto de vista muito questionável eticamente, é muito difícil os animais silvestres procriarem nesta situação. Assim, mesmo que se conseguisse recolher alguns deles, a continuidade da espécie estaria ameaçada — o que consistiria em uma perda para todos. Esse é o caso do macaco-aranha, do mico-leão-dourado, do orangotango, do gorila africano, para não falar de espécies de pássaros, insetos e plantas que, segundo dizem os especialistas, desaparecem a um ritmo extremamente alto. Não é só nas florestas que os animais se abrigam. Nos Estados Unidos, por exemplo, as pradarias, antigo lar de manadas de búfalos e cervos, foram progressivamente sendo usadas para pecuária e plantações de milho. Os herbicidas acabaram matando as ervas daninhas que eram o alimento de animais menores, répteis e pássaros, e assim, todo um sistema ecológico foi praticamente destruído. 30
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, existem mais de mil espécies de animais em risco de extinção no Brasil. Uma delas é o mais barulhento dos animais terrestres, o bugio das Américas Central e do Sul. Seus gritos assustadores podem ser ouvidos a até 5 km de distância.
E o que dizer da matança de tigres, leopardos e raposas para fazer casacos de pele? Ou de elefantes para fabricar enfeites de mesa com marfim? E de rinocerontes para fazer remédio com seu chifre? As savanas africanas e as florestas do Extremo Oriente que já abrigaram grandes populações desses magníficos animais contam hoje com poucos remanescentes. No entanto, foram criadas iniciativas para a preservação de espécies ameaçadas. Em 1872, surgiu pela primeira vez a ideia de proteger a vida selvagem — plantas, animais e até paisagens naturais — e assim foi criado nas Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos, o Parque Nacional de Yellowstone. Em 1922, o rei da Itália transformou também em parque nacional a reserva de Gran Paradiso para proteger o cabrito alpino e seu habitat. E, a partir daí, quase todos os países passaram a criar seus parques nacionais e reservas ecológicas. Dessa forma, preservam suas riquezas naturais, abrindo-os à visitação de turistas. No Brasil também foram criados parques protegidos por lei. Em 2016, no total temos 71 parques nacionais, dentre os quais podemos citar os Parques Nacionais de Itatiaia, do Araguaia, da Chapada dos Veadeiros, de Fernando de Noronha, dos Lençóis Maranhenses e do Pantanal Mato-grossense.
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Os parques nacionais são espaços públicos onde é possível interagir e se aproximar da natureza. Claro que os visitantes devem ser educados para não poluir com lixo, não arrancar plantas ou caçar animais. Os parques mais organizados mostram vídeos sobre sua biodiversidade e distribuem folhetos com instruções e regras a serem observadas durante a visita e que, basicamente, lembram o lema do turista ecológico dos parques: • Não se tira nada a não ser fotos. • Não se deixa nada a não ser pegadas. • Não se leva nada a não ser recordações. Além dos parques e reservas, outra forma de preservar espécies animais e possibilitar que sejam apreciadas pelas pessoas são os zoológicos. Eles começaram com uma série de jaulas onde colocavam leões, pumas, leopardos, ursos, mas evoluíram bastante. Hoje, alguns procuram recriar o ambiente natural, colocando os animais em espaços maiores, com árvores e lagos. Às vezes colocam várias espécies juntas, como elefantes, girafas, antílopes etc. E muitos zoológicos têm até conseguido a reprodução de animais quase extintos em seu ambiente natural e ainda os devolvem a ele. Foi o caso do órix árabe, um tipo de antílope que estava quase desaparecendo. Alguns poucos remanescentes desses animais foram levados a um zoológico nos Estados Unidos. O tratamento foi tão bom que conseguiram criar uma manada de procriação, parte da qual voltou a Omã, seu lugar de origem. O mesmo se deu com gansos havaianos, várias espécies de macaco, aves e outros animais.
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Entretanto, mesmo com essas mudanças no formato dos zoos, devemos nos perguntar o quão ético é retirar um animal do seu habitat e deixá-lo preso em um parque apenas para que nós possamos apreciá-los. Outros já defendem que a visita a estes locais aproxima o homem dos animais, aumentando nossa consciência quanto aos direitos dos animais. E você, o que acha dos zoos? Animal não é gente, mas a Terra não é só da gente. Ela é também dos bichos, das plantas, das pedras, que têm tanto direito de existir como nós mesmos. Claro que cada um em seu lugar: ninguém esperaria encontrar um tigre no restaurante. Mas, provavelmente, eles também não esperam encontrar um homem em sua clareira. Em seus 12.756 km de diâmetro, com certeza há na Terra lugar para todos. A Terra é de todos nós; ou melhor, nós somos todos da Terra.
Quais animais foram extintos em seu estado nos últimos cem anos e quais as providências que poderiam ter sido tomadas para evitar que isso acontecesse?
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A Terra, o nosso chão
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A superfície da Terra, que pode ser comparada à nossa própria pele, vem sofrendo inúmeras agressões: • desmatamento; • irrigação desordenada; • contaminação por lixo tóxico; • contaminação por radiação; • poluição por fertilizantes químicos; • envenenamento por pesticidas, fungicidas e herbicidas. E está respondendo a essas agressões com: • erosão; • desertificação; • desequilíbrio do clima em todo o globo; • desequilíbrio do ciclo das águas; • extinção de milhares de seres vivos; • destruição de informações genéticas do planeta; • salinização dos solos.
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De acordo com o Worldwatch Institute, cerca de 15% da superfície terrestre sofre de algum tipo de desertificação, afetando 110 países e prejudicando a vida de mais de 250 milhões de pessoas.
O que você pensa ao ler essas informações? Que são exageradas, que Deus vai dar um jeito, que o governo tem que tomar alguma providência ou que temos, todos nós, de ser mais conscientes ambientalmente? Certamente a última alternativa é bem sensata. E o que significa sermos mais conscientes com a forma como estamos tratando a Terra? Significa levar em conta os diversos pontos da questão ambiental, avaliando a importância de cada um deles a curto, médio e longo prazo. Não seríamos conscientes se disséssemos, simplesmente: a partir de amanhã não vamos mais usar fertilizantes, porque a produtividade das lavouras cairia tanto que logo haveria falta de alimentos. E também não seria sábio dizermos: o que importa é acabarmos com as pragas, se a terra ficar envenenada pelo excesso de agrotóxicos, depois a gente resolve… Estamos justamente nessa fase: fertilizantes e agrotóxicos foram utilizados indiscriminadamente e agora precisamos lidar com essa situação, de preferência usando produtos que não agridam a natureza.
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Você está entendendo onde queremos chegar? Precisamos observar os vários lados da questão, separar os resultados esperados dos efeitos colaterais indesejados e vamos buscar soluções mais inteligentes para nossos problemas. A população humana aumentou muito. Hoje, somos, mais de 7 bilhões. Gente ocupa espaço, tem de comer, beber, vestir-se, morar, ir para a escola, divertir-se. Assim, muitos lugares que eram mata tiveram de ser transformados em cidades. Mas não seria possível escolher lugares e ocupá-los preservando a harmonia com a paisagem, por exemplo, planejando cidades que mantivessem parques, lagos e matas, e onde se aproveitam os rios para áreas de lazer? Além disso, roupa e comida vêm da natureza — o algodão para o tecido tem de ser plantado, assim com o arroz e o feijão para alimentação. Para se ter uma boa colheita é necessário uma terra rica em nitrogênio e fósforo. Ainda, é importante que os insetos não destruam a plantação e que outras ervas não a enfraqueçam. Quando a terra não é naturalmente rica e quando há pragas de origem animal ou vegetal, torna-se necessário adubá-la e proteger a plantação. Mas podemos usar adubos orgânicos e defensivos naturais que ajudam as plantações sem envenenar a terra. Será que não é hora de as indústrias serem obrigadas a respeitar essas exigências? A pressão da sociedade e a mudança da legislação nesse sentido poderiam surtir efeito.
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Outro fator importante na questão do plantio é a água, fundamental para as plantas. Em muitos locais, as chuvas são insuficientes e assim nem sempre se pode contar com ela. Para suprir a falta de chuvas, usa-se a irrigação. Segundo dados estatísticos, 75% da água destinada à irrigação é, entretanto, perdida ou utilizada de maneira imprópria. Como consequência, os lençóis subterrâneos estão se esgotando e está aumentando a salinização, isto é, a quantidade de sal na terra. Na sua opinião, o que é preciso fazer em relação a isso? Precisamos economizar água, não é? As grandes florestas tropicais estão sendo derrubadas para dar lugar a atividades econômicas diversas, como criação de gado, plantação de soja etc. Sabe-se que esse tipo de floresta tem grande importância na manutenção do equilíbrio do clima e do ciclo das águas, além de ser o habitat de milhões de animais e vegetais. Há um potencial incalculável de riqueza genética nas florestas. Além disso, estamos apenas começando a descobrir as possibilidades medicinais e bioquímicas da infinidade de plantas lá existentes.
Qual é a sua opinião sobre formas alternativas de uso das florestas, como por exemplo, a exploração da biodiversidade? Muitas das agressões ao planeta Terra vêm sendo evitadas graças à pressão dos ambientalistas nacionais e internacionais, que alertam a população, pressionam os políticos, requerem mudanças nas leis e exigem seu cumprimento.
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Você se lembra de ter visto algum protesto desse tipo nos jornais, na televisão ou nas redes sociais? Como você pode perceber, cuidar do nosso chão é, ainda hoje, um grande desafio. Vamos juntos superá-lo?
Como incentivar a produção de alimentos orgânicos, aqueles cultivados sem agrotóxicos e, desta forma, proteger a qualidade do solo?
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E se o ar acabar?
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Você quer fazer um teste? Feche os olhos e imagine você em uma floresta. Agora respire fundo. Encha os pulmões e sinta ar puro entrando pelo seu corpo adentro. Agora, imagine que você está caminhando pela rua de uma cidade muito poluída. Pense no ar pesado e cheio de gases tóxicos indo parar dentro dos seus pulmões e da sua corrente sanguínea. Não precisamos pensar muito para dizer qual das duas experiências foi a melhor. Isto porque ar é essencial para todos os seres vivos, e sua qualidade influencia a qualidade de vida de tudo. O ar ainda não chegou ao ponto de se tornar irrespirável, entretanto, nós já estamos causando estragos difíceis até de se imaginar, cuja reversão pode se tornar impossível.
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Com certeza você já deve ter lido algo a respeito do aquecimento global, isto é, o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra, intensificado pelo aumento do chamado efeito estufa. O aquecimento global traz várias consequências, muitas das quais já podem ser sentidas em diferentes partes do planeta, como o derretimento das calotas polares, o aumento do nível dos mares, inundações. Sendo também responsável, segundo os cientistas, pelas mudanças climáticas e ocorrência de eventos extremos como tempestades tropicais, ondas de calor, seca, furacões e tornados, entre outros. Ou seja, uma mudança brusca nos padrões climáticos da Terra.
Para conter o aquecimento global, em 22 de abril de 2016, Dia da Terra, 176 países assinaram na ONU o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, no qual comprometem-se a diminuir a emissão de gases poluentes. Na definição da ONG WWF, o “efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a superfície da Terra. Essa camada, composta principalmente por gás carbônico (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e vapor d’água, é um fenômeno natural e fundamental para a existência da vida na Terra, pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio, inviabilizando a sobrevivência de diversas espécies”. O aumento do nível dos mares devido ao aquecimento global está provocando a inundação de países do Pacífico Sul como Tuvalu e Kiribati, ameaçando-os de desaparecer.
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Os graves problemas que tais eventos causam às populações humanas e às espécies animais e vegetais levaram a ONU a criar um órgão dedicado a analisar informações científicas para compreender as mudanças climáticas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). As conclusões chegadas foram que a queima de combustíveis fósseis para geração de energia, atividades industriais, transportes, desmatamento, a agricultura e a pecuária, e o descarte de resíduos sólidos são as principais causas do aquecimento global. O IPCC apontou como formas de reduzir esses problemas: • reduzir o desmatamento; • reflorestamento e conservação de áreas naturais; • incentivar o uso de energia solar, eólica, biomassa e pequenas hidrelétricas; • preferir biocombustível a combustíveis fósseis; • buscar a eficiência energética; • incentivar o transporte público; • reduzir, reaproveitar e reciclar materiais.
Reflorestamento refere-se à atividade de replantar florestas e áreas que tiveram a vegetação removida pelas forças da natureza ou por ações humanas, como exploração de madeira, queimadas etc.
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Em muitos países, a população tem exigido mudança nas ações dos grandes poluidores da atmosfera e conseguindo grandes vitórias, como por exemplo: • redução da taxa de chumbo na gasolina; • motores e combustíveis menos poluentes; • proibição do uso de CFCs em aerossóis e sprays; • proibição da incineração do lixo tóxico; • maior segurança em usinas nucleares; • maior controle sobre produtos químicos perigosos. Por outro lado, na grande maioria dos países o uso de petroleo, gás natural ou carvão ainda constitui a base da geração de energia. Há uma grande esperança! Mais uma vez, vamos enfatizar a necessidade de pensarmos de forma mais abrangente e a longo prazo tudo o que se refere à preservação do meio ambiente. Se tivermos bom senso, o ar estará aí, puro, por um bom tempo. Assim como os rios, os mares, as matas, os animais e tudo o mais que faz tão especial a vida em nosso planeta.
De que forma você pode contribuir para diminuir a emissão de gases poluentes? (Sem brincadeiras!)
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Quanto resíduo!
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Com o aumento da população e do consumo em todos os lugares do mundo, estamos produzindo cada vez mais lixo, tanto sólido como líquido e gasoso. Na verdade, devemos mudar nosso conceito sobre o que é lixo, pois lixo é aquilo que não serve para nada, mas na verdade o que não serve para um é de uso para outro. Por isso preferimos a palavra “resíduo”, ou seja, o que resta. Quando mudamos o nome de determinada coisa, mudamos nosso conceito sobre ela também. E é exatamente isso que precisamos fazer: mudar o nosso conceito sobre o que nos resta. É tanto resíduo que não sabemos mais o que fazer com ele, jogá-lo no oceano , enterrá-lo, queimá-lo, reciclá-lo ou levá-lo para qualquer outro lugar, contanto que seja para longe (só que o longe para alguns é o perto de outros). E não pense que os únicos problemas dos resíduos são seu aspecto e mau cheiro. Com a variedade de produtos químicos, muitos deles altamente tóxicos, que são usados nas várias etapas do processo industrial, a quantidade do que os especialistas
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chamam de “rejeitos perigosos” vem aumentando em proporções assustadoras. Chumbo, mercúrio, resíduo hospitalar contaminado, nuclear, além de tóxicos, permanecem na terra, no ar, nos rios e oceanos por milhares de anos!
Hoje, o mundo produz cerca de 1,3 bilhão de toneladas de lixo por ano. Isso representa uma média 1,2 kg de lixo por dia por pessoa! A ONU prevê a quantidade de lixo anual produzida pelos seres humanos possa chegar a 4 bilhões de toneladas ao ano em 2050. O Brasil é o quinto maior produtor de lixo urbano do mundo. Apenas 3% dos resíduos sólidos produzidos nas cidades brasileiras são reciclados, apesar de um terço de todo o lixo urbano ser potencialmente reaproveitável. Segundo a revista National Geographic, há 5,25 trilhões de detritos plásticos nos oceanos.
É muito mais fácil produzir resíduo do que nos livrarmos dele. E ainda por cima é caro tratar esses rejeitos para que eles fiquem menos tóxicos. Saiba que o problema causado pelo resíduo urbano, isto é, o resíduo das casas, lojas, restaurantes, não é menor. São milhares de toneladas por dia, nas grandes cidades. Ainda mais alarmante é o que ocorre nos países subdesenvolvidos, onde os lixões são uma ameaça àqueles que sobrevivem a partir do que neles encontram. Podem contrair doenças que, por vezes, transformam-se em epidemia. Infelizmente, os lixões a céu aberto ainda existem em grande número de países, inclusive no nosso, apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos que os proíbe.
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Existe uma outra forma de tratar o resíduo, os aterros sanitários. O aterro sanitário é um local destinado à deposição final de resíduos sólidos gerados pela atividade humana. Nele são dispostos resíduos domésticos, comerciais, de serviços de saúde, da indústria de construção, e também resíduos sólidos retirados do esgoto. Isso realmente acontece, mas às custas de gerar gás metano, que pode contribuir para o efeito estufa, quando liberado na atmosfera sem tratamento adequado. Entretanto, tanto os lixões quanto os aterros são insuficientes. A quantidade de resíduos é tão grande que outra alternativa passou a ser queimá-los. Os incineradores pareciam uma boa solução, até que perceberam que a fumaça resultante produz poluição altamente venenosa, pois concentra, entre outros poluentes, mercúrio, chumbo e enxofre. A principal consequência da incineração, portanto, é a transferência do lixo de um lugar para o outro, em forma de gás liberado na atmosfera, onde permanecerá por muitos anos, até que uma solução tecnológica possa resolver este problema.
No Brasil, um aterro sanitário é definido como um aterro de resíduos sólidos urbanos, ou seja, adequado para a recepção de resíduos de origem doméstica, varrição de vias públicas e comércios. Os resíduos industriais devem ser destinados a aterro de resíduos sólidos industriais.
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Como o problema é grave, alguns países pensaram em “exportar” resíduos para países pobres, mediante pagamento. Isso obviamente é ilegal, e há uma série de organizações públicas e da sociedade civil empenhadas em coibir isso há um bom tempo. Foi em 1984 por exemplo, que a pressão do Greenpeace impediu que dezenas de milhares de toneladas de lixo norte-americano fossem parar no Tibete. Há uma outra solução mais razoável para a questão do resíduo, mas que precisa ser mais empregada — a reciclagem, isto é, o aproveitamento do refugo. Alguns projetos de reciclagem deram ótimos resultados. No entanto, uma de suas dificuldades é que os produtos são feitos e embalados tendo-se em vista sua utilidade e marketing, isto é, seu potencial de vendas. Não se costuma pensar no resíduo que será gerado ou nos produtos tóxicos que serão liberados das embalagens ao serem reaproveitadas. Com isso a reciclagem se torna mais complicada e cara. A questão do resíduo é muito séria. Precisamos criar uma nova mentalidade a respeito da utilização dos bens que, em última instância, é a natureza que nos oferece. Vamos abrir mão dos abusos e controlar os usos para que o que sobra hoje não falte amanhã, e para que aquilo nos delicia no presente não nos envenene no futuro. Vamos aprender a reduzir, reutilizar, reciclar, doar e trocar.
Você já participou de algum projeto de reciclagem? Quais são suas sugestões para desenvolver um em sua escola?
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O desenvolvimento tem de ser sustentável
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Todos querem viver bem, ter um trabalho digno em uma sociedade justa, que respeita o meio ambiente e a variedade de crenças, costumes e etnias. Não esqueçamos que nossos filhos, netos e bisnetos também vão querer a mesma coisa. Em outra palavras, todos querem o desenvolvimento sustentável, que é aquele que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. Esse conceito foi reconhecido internacionalmente em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia. Anos depois, em 1983, foi estabelecida a Comissão Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento encarregada de investigar os impactos negativos das atividades humanas sobre o planeta.
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O resultado dessa investigação foi o Relatório Nosso Futuro Comum, que ficou conhecido como Relatório Brundtland, em referência a Gro Harlem Brundtland, ministra norueguesa que chefiou a comissão responsável pelo trabalho. O desenvolvimento sustentável foi então concebido como aquele que é ecologicamente correto, socialmente justo, economicamente viável, culturalmente aceito e, por isso, capaz de satisfazer as necessidades humanas, tanto das gerações presentes como das futuras. Desenvolvimento ecologicamente sustentável é aquele que concilia o respeito ao meio ambiente e o uso adequado dos recursos naturais com as necessidades humanas de comer, beber, morar, vestir-se, educar-se, divertir-se… Desenvolvimento economicamente sustentável é aquele que tem por objetivo não apenas o lucro financeiro, mas também a proteção ambiental e social. Desenvolvimento social sustentável é aquele orientado ao desenvolvimento humano, à estabilidade das instituições públicas e à promoção da justiça e equilíbrio das sociedades. Desenvolvimento cultural sustentável é aquele que, mesmo aberto às transformações, preserva formas tradicionais da cultura, como crenças, músicas, danças, comidas, sem preconceito ou discriminação em relação a formas diversas. Dando continuidade ao esforço para levar o desenvolvimento sustentável a todos os países, a ONU continuou a realizar encontros, conferências, a elaborar documentos e propor iniciativas.
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Durante a Eco-92, também chamada de Rio-92, no Rio de Janeiro, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em que participantes de 170 países elaboraram a Agenda 21, que propõe ações que combinam desenvolvimento com proteção ambiental. Em 2000, a ONU lançou os “Objetivos do Milênio”, também chamado “8 Jeitos de Mudar o Mundo”, que sinalizou metas que os países deveriam atingir até 2015: 1) Acabar com a fome e a miséria; 2) Educação básica de qualidade para todos; 3) Igualdade entre sexos e valorização das mulheres; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das gestantes; 6) Combater a aids, a malária e outras doenças; 7) Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
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Eco-92 foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ela reuniu mais de cem chefes de estado para debater formas de desenvolvimento sustentável.
Ainda no ano 2000, foi concluída a versão final da Carta da Terra, uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica no século XXI. Em seu preâmbulo, ela afirma: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.” Em 2012, aconteceu no Rio de Janeiro a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Sua finalidade foi a de avaliar os avanços, as lacunas e a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável.
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Considerando ser o desenvolvimento um processo contínuo, em 2015 a ONU estabeleceu novas metas globais, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a serem alcançados até 2030. O conjunto de objetivos e metas demonstram a escala e a ambição desta nova Agenda universal. Os ODS aprovados foram construídos sobre as bases estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de maneira a completar o trabalho deles e responder a novos desafios. São integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Você pode ver a lista dos 17 ODS no segundo volume desta coleção. A implementação dos ODS será um desafio, o que requererá uma parceria global com a participação ativa de todos, incluindo governos, sociedade civil, setor privado, academia, mídia, e Nações Unidas. Os objetivos e metas sinalizados nesse documento estimularão a ação para os próximos 15 anos em seis áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta: 1) Dignidade: acabar com a pobreza e a desigualdade. 2) Prosperidade: economia forte, inclusiva e transformadora. 3) Justiça: sociedades seguras, pacíficas e instituições fortes. 4) Parceria: solidariedade global para a sustentabilidade. 5) Planeta: proteger os ecossistemas para o futuro. 6) Pessoas: vidas saudáveis, conhecimento e a inclusão de mulheres e crianças. 57
Os esforços conjuntos dos povos, organizações e países vêm trazendo desenvolvimento ao mundo. É verdade que de forma bastante desigual, e é verdade também que ainda estamos longe de tornar a vida boa para todos. Mas já temos uma fórmula inovadora para calcular a quantas andamos: é o Índice do Planeta Feliz (IPF). O IPF é inovador porque ele nos faz refletir sobre as coisas realmente importantes para um povo e uma nação, ou seja, o que os torna mais felizes. Esse índice foi criado por uma instituição inglesa, a Fundação para Nova Economia. Por meio de questionários, observações e pesquisas, ele mede a capacidade de cada nação converter seus recursos naturais em vida longa e feliz para seus cidadãos. O IPF é expresso na seguinte fórmula matemática:
IPF =
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Satisfação com a vida × Expectativa de vida Pegada ecológica
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• Satisfação com a vida quer dizer estar contente, feliz, gostar da família, dos amigos, do lugar onde se vive. Ter o que é necessário e confiar que a vida pode ser cada vez melhor. • Expectativa de vida quer dizer quantos anos, em geral, as pessoas de determinada região vivem. Esse número varia muito de país para país, em função dos cuidados com a saúde, higiene, alimentação, meio ambiente. Quanto melhor forem essas condições, maior se espera que seja o tempo de vida das pessoas. • Pegada ecológica é uma forma de traduzir o quanto de recursos naturais uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza” para sustentar seu estilo de vida. Em alguns países, as pessoas vivem muito, estão satisfeitas, mas a Pegada ecológica é grande, o que prejudica o seu IPF. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos. Outras nações, como o Zimbábue, devastam menos o meio ambiente, mas sua população vive pouco e mal. Em 2014, o Brasil ocupava o 21º lugar. Não é tão ruim como o Zimbábue e nem tão bom como a Costa Rica, mas, como todo o mundo, podemos e vamos melhorar.
Seguindo o modelo do IPF, pesquise e descubra o “IFC”, Índice de Felicidade de sua Cidade.
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Um caminho para nosso planeta
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Segundo consta, dentro deste gigantesco universo, o nosso mundo, o planeta Terra, existe há cerca de 5 bilhões de anos; mas apenas há 50 mil anos aparecemos nele, nós, os Homens Modernos. Começamos lascando pedras, aprendemos a fazer fogo, cultivar plantas, domesticar animais, compor música, desenhar e, a partir de um certo ponto, ninguém nos segurou mais… Inventamos aviões, computadores, TV, internet, foguete e, quem diria, estações espaciais. Temos de nos orgulhar dessas conquistas, quanta coisa já aprendemos e como já marcamos nossa presença. Mas precisamos aprender ainda muita coisa. Estamos evoluindo, não estamos ainda prontos, acabados, por isso nossa história vem se baseando em acertos e erros. Mas está chegando a hora de criarmos um projeto bem definido e escolher um caminho sustentável para o futuro de nossa sociedade e do planeta. Vamos escolhê-lo!
Como é o mundo que você deseja? E quais os caminhos para chegar a ele?
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Editora Evoluir, 2016 Texto Ilustrações Revisão Projeto gráfico Arte final
Bia Monteiro Pianofuzz Elisa Andrade Buzzo Pianofuzz Uriá Fassina
Conselho Editorial
Bia Monteiro, Chico Maciel, Fernando Monteiro, Flavia Bastos e Uriá Fassina
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M775e
Monteiro, Bia. Eu e o universo / Bia Monteiro. – São Paulo : Evoluir, 2016. 72 p. : il. ; 23 cm. – (Coleção Aventura Humana) ISBN 978-85-8142-105-6 1. Ecologia humana. 2. Meio ambiente - Preservação. 3. Natureza. 4. Desenvolvimento sustentável. 5. Recursos naturais. 6. Consciência ambiental. 7. Ensino para jovens. I. Título. II. Série. CDU 504.75 CDD 304.2
Índice para catálogo sistemático: 1. Ecologia humana 504.75 Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB / ISBN da coleção:
978-85-8142-102-5
Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009. Fontes Papel miolo Papel capa Impressão
Sabon e Malaga Suzano Alta Alvura Offset 90g/m² Suzano Art Premium Tech 300g/m² Melting color (São Bernardo do Campo) Impresso em novembro de 2016
Esta obra é licenciada sob uma Licença Creative Commons 4.0 Internacional que permite que você faça cópias e até gere obras derivadas, desde que não as use com fins comerciais e que sempre as compartilhe sob a mesma licença. Editora Evoluir · FBF Cultural Ltda. Rua Aspicuelta, 329 · São Paulo-SP · CEP 05433-010 (11) 3816-2121 · ola@evoluir.com.br · www.evoluir.com.br
Bia Monteiro As montanhas de Minas, onde nasceu em 1944, o céu estrelado e o brilho dos vaga-lumes, foram sempre a referência do estar no mundo de Beatriz. E foi a percepção de que também o mundo das coisas e das pessoas poderia apresentar essa beleza toda que a motivou a escrever e criar, junto com seus filhos, a editora e produtora de projetos educacionais e culturais Evoluir, dedicada a contribuir para a realização do potencial que todos nós, seres humanos, temos de ser mais livres e felizes, de estabelecer sociedades mais justas e generosas, de preservar melhor o meio ambiente e de escolher um trabalho que seja expressão de nós mesmos. Seus livros e projetos vêm sendo aprovados, desde 1996, por diversos órgãos oficiais e particulares de educação e cultura, por escolas e empresas patrocinadoras de todo o país. Mas, principalmente, têm alegrado as milhares de crianças que os receberam.
A Coleção Aventura Humana tem por objetivo auxiliar o jovem estudante a responder às perguntas: 1
Quem sou e como posso ser melhor, mais livre e feliz?
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Vivo em sociedade, então, como colaborar para torná-la mais justa e generosa?
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A sociedade depende da natureza, assim, como manter com ela uma relação harmoniosa?
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Ao refletir sobre esses temas, como escolher a melhor profissão para mim, aquela que me realizará e me capacitará para contribuir com a construção do mundo que queremos?
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Eu e o universo Neste livro vamos refletir sobre o papel da sociedade humana e de cada um de nós na proteção e desenvolvimento da imensa comunidade de vida que habita nossa Terra. E sobre como, para a nossa e as futuras gerações, podemos fazer deste um planeta feliz flutuando na imensidão do universo.
realização
venda proibida — ISBN 978-85-8142-105-6