Lixo ou resíduo?

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Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-044-8 VENDA PROIBIDA

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COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  LIXO OU RESÍDUO?

inguém quer viver em um lugar sujo, e a solução mais fácil é jogar em outro canto aquilo que sobra do nosso consumo, contanto que seja longe. Só que o longe de uns é o perto de outros… O que fazer, então com os resíduos que produzimos? Este título traz essa complexa questão sobre o consumo e os resíduos em nossa sociedade.

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir



COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS

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Bia monteiro • edson grandisoli • Fernando monteiro ilustrações de samuel rodrigues


Evoluir, 2014 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009.

Coleção Título original Volume Autores Ilustrações Coord. Editorial Design gráfico Revisão

O Mundo Que Queremos Lixo ou resíduo? 2 de 6 Bia Monteiro, Edson Grandisoli e Fernando Monteiro Samuel Rodrigues Fernando Monteiro e Uriá Fassina Uriá Fassina Fernanda K Soifer e Lilian Rochael

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Bia Lixo ou resíduo? / Bia Monteiro, Edson Grandisoli, Fernando Monteiro ; ilustrações Samuel Rodrigues. -- 1. ed. -- São Paulo : Evoluir Cultural, 2014. -- (Coleção o mundo que queremos) 1. Cidadania 2. Desenvolvimento sustentável 3. Educação Finalidades e objetivos 4. Lixo - Literatura infantojuvenil 5. Meio ambiente I. Grandisoli, Edson. II. Monteiro, Fernando. III. Rodrigues, Samuel. IV. Título. V. Série. CDD-370.115

14-09438 Índices para catálogo sistemático 1. Educação sustentável

370.115

ISBN deste livro ISBN da coleção

978-85-8142-044-8 978-85-8142-042-4

Fontes Impressão Tiragem Papel miolo Papel capa Acabamento capa

Whitney e Brandon Grotesque Prol (Diadema–SP) — novembro de 2014 4 mil exemplares Polém Bold 90g/m² Papelão 18 revestido por Couché 150g/m² Laminação Soft Touch, Verniz UV High Gloss

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sobre a coleção o mundo que queremoS

Raras são as ocasiões em que conseguimos estabelecer uma associação clara entre causa e efeito. Quando o assunto é meio ambiente, então, isso torna-se bastante improvável. Apenas recentemente é que começamos a tomar consciência dos efeitos da degradação ambiental sobre a saúde humana, mas os custos sociais decorrentes dessa destruição ainda passam despercebidos por boa parte da sociedade. A exemplo, ainda que saibamos que faz mais sentido investir em medidas preventivas como saneamento básico do que tratar, mais tarde, os doentes em hospitais, pouco se promove nesse sentido. Será que o sentimento de culpa que temos por contaminar o meio ambiente nos torna incapazes de perceber os danos causados a nós mesmos? O título da coleção “O Mundo Que Queremos” pode sugerir ao leitor a existência de um mundo hipotético ideal, onde todos concordariam sobre como “as coisas deveriam ser”, e como sociedade e natureza poderiam conviver em harmonia. Ledo engano! O que os livros da coleção abordam são os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, realçando os múltiplos interesses, posições defendidas e visões de mundo subjacentes aos diversos atores sociais envolvidos com as questões apresentadas. A leitura e as atividades propostas despertam no leitor um olhar crítico sobre a realidade socioambiental do planeta, e o convida a buscar, a partir do diálogo e do consenso, soluções para as situações-problema propostas. O processo da busca por soluções consensuadas contribui para o desenvolvimento da capacidade de argumentação, escuta, reflexão e empatia entre os integrantes de um grupo social. E é a troca de ideias e


opiniões, com o justo confronto dos pontos de vista, o que permite aos participantes de um diálogo chegar a soluções. Trata-se de avançar na compreensão de que a superação dos desafios para a sustentabilidade depende da nossa capacidade de alcançar resoluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam muitos. A Coleção é composta por seis livros. Na primeira parte de cada um deles, são apresentadas descrições detalhadas sobre os principais temas ambientais do planeta Terra. Cada tema é retratado a partir de três perspectivas: características do meio biofísico, impactos da sociedade e aspectos pessoais, onde o leitor poderá se reconhecer como parte de uma cadeia de interações. Na segunda parte, são expostos conceitos e atividades que desenvolvem nos leitores a capacidade de colaboração e aprendizagem social para o momento em que forem trabalhar o livro de forma coletiva. Em cada volume é proposto um exercício em grupo baseado na dinâmica do Jogo de Papéis. Por meio desta atividade, os leitores podem colocar em prática os princípios do diálogo, desenvolver suas habilidades de comunicação, escuta ativa, argumentação, busca pelo consenso e colaboração. Desta forma, a Coleção “O Mundo Que Queremos” oferece o conteúdo e sugere um processo que leva as pessoas a ampliar sua capacidade de leitura crítica e de uma interpretação propositiva dos desafios colocados para uma sociedade sustentável, levando-as à ações responsáveis sobre o ambiente, sobre os outros e sobre elas próprias.


Sumário

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prefácio

08 Lixo ou Resíduo? 12 Os Resíduos 18

nós e Os resíduos

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Coleta seletiva

25 EU e Os resíduos 29 Como tudo isso afeta a nossa vida? 30

Coleta seletiva em Pau a Pique

anexos A01 diálogo e consenso A03 Jogo de Papéis A10 Atividades auxiliares A10 Conhecendo outras perspectivas A12 Jogos Psicodramáticos


prefácio por pedro r. JaCoBi

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Ao avançarmos na segunda década do século XXI, vive-se uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais e do conhecimento que sustentaram a modernidade, dominando a natureza e multiplicando a lógica de mercantilização e consumo planetários. A humanidade chegou, portanto, a uma encruzilhada que exige novos rumos para uma melhor reflexão sobre a cultura, as crenças, valores e conhecimentos em que se baseia o comportamento cotidiano, assim como sobre o paradigma antropológico-social que persiste em nossas ações, no qual a educação tem um enorme peso. Atualmente, os caminhos para uma sociedade sustentável são permeados de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência da sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. A coleção “O Mundo que Queremos”, representa uma oportunidade para compartilhar ideias e trajetos para o aperfeiçoamento das práticas em torno de temas socioambientais que fazem parte do nosso cotidiano, como o consumo da água, o tratamento dos resíduos e o lidar com a biodiversidade. A coleção contribui para construir e estimular processos de colaboração e interconexões entre pessoas, ideias e ações para multiplicar a disseminação de um conhecimento baseado em valores e práticas sustentáveis, indispensáveis para promover o interesse e o engajamento de cidadãos e cidadãs na ação e na responsabilidade social. Trata-se de uma abordagem que mostra como é possível superar o reducionismo, e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação e aos


preceitos éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos educadores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assuma o compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com as futuras gerações. Existe hoje o desafio de avançar uma nova forma de conhecimento, criando espaços de convivência que favoreçam mudanças de percepção e de valores, e que promovam um saber solidário e um pensamento complexo, aberto à possibilidade de construção e reconstrução coletiva num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação. Assim, o principal eixo de atuação da Educação para a Sustentabilidade deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. O que se fundamenta no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade, além de estimular a mudança de valores individuais e coletivos. A educação para a sustentabilidade e cidadania ambiental representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar os modos de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade. Em sintonia com as urgentes necessidades de mudanças da atualidade, a coleção “O Mundo que Queremos” contribui para a co-responsabilização acerca dos principais temas ambientais, estimulando iniciativas apoiadas em aprendizagem social, no diálogo e na participação. Ao destacar a ideia de Aprendizagem Social, ela cria a oportunidade para que os leitores ampliem seu conhecimento, fortaleçam os diálogos e estabeleçam laços de confiança e cooperação, a base de qualquer proposta que busque a amPedro Roberto Jacobi é professor Titular do Programa de Pós pliação da cidadania ambiental.

Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP) e editor da revista Ambiente e Sociedade (ANPPAS).

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Lixo ou Resíduo? 08

COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS


Você acredita que, em alguns lugares do mundo, uma pessoa possa produzir o equivalente ao dobro do próprio peso por dia, apenas em resíduos? Pois é verdade! Quando pesquisadores somaram todo o resíduo das cidades e das fábricas, tanto o sólido, como o líquido e o gasoso, e dividiram o total pelo número de habitantes, foi a esse resultado que chegaram. E é tanto resíduo que já não sabemos mais o que fazer com ele. Ninguém quer viver em um lugar sujo, e a solução mais fácil sempre é jogar as sobras em outro canto, contanto que seja longe. Só que o longe para uns é o perto para outros… Vamos fazer um exercício simples? Olhe para os seus tênis e lembrese do dia em que os colocou no pé pela primeira vez. Qual é a marca? Isso é importante para você? Agora veja na etiqueta qual é o país onde eles foram produzidos. Você sabe onde fica esse lugar? Quais são as condições de trabalho das pessoas que fabricaram esses tênis? E as fábricas, será que estão poluindo o meio ambiente? E pensando além, quando os tênis já estiverem velhos, o que você vai fazer com eles? Reciclar? Onde? Talvez os doe a alguma pessoa, que após usá-los pelas ruas da cidade à procura de latinhas de alumínio e caixas de papelão, também os deixará em qualquer local, onde o nylon dos cadarços e a borracha do solado vão durar milhares de anos até se decompor. Esse simples exercício de imaginação é suficiente para ilustrar como é complexa a questão do consumo e dos resíduos na nossa sociedade. Vamos entender melhor como isso acontece?

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Para pensar

Imagine um dia qualquer em uma cidade. Quanto é produzido, comercializado, consumido e descartado? Quanto resíduo você gera por dia?


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Os Resíduos 12

Você já parou para pensar por que o nosso estilo de vida faz com que geremos tantos resíduos? Poucas pessoas têm a curiosidade de saber para onde eles vão e acreditam que as embalagens simplesmente somem de casa e vão parar em algum lugar, levadas pelo caminhão da coleta. E não pense que os únicos problemas gerados pelos resíduos são o aspecto ruim e o mau cheiro. Com o enorme volume de produtos e substâncias químicas tóxicas, muitos dos quais inexistentes até pouco tempo, a quantidade de resíduos perigosos vem aumentando em proporções assustadoras. Chumbo, mercúrio, resíduo nuclear, hospitalar ou material contaminado, além de produtos tóxicos, que podem permanecer no solo, no ar, nos rios e oceanos por tempo indeterminado. É muito mais fácil produzir os resíduos do que nos livrarmos dele. Saiba que o problema causado pelo resíduo urbano, isto é, o rejeito das casas, lojas, restaurantes, não é menor. Nas grandes cidades, são milhares de toneladas por dia. Além do resíduo orgânico, há outros componentes presentes no lixo que produzimos. Quando investigamos melhor esse resíduo, podemos perceber que contém muito material reutilizável. Ao fazermos isso, começamos a valorizar aquilo que sobra e compreendemos que os materiais descartados podem ser, inclusive, reaproveitados para a transformação em novos produtos. O gráfico a seguir mostra a composição aproximada dos resíduos no Brasil:


3% metais

Fonte: Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2012.

3% vidro

recicláveis 13% papel, papelão e tetra pak

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14% Plásticos

52% matéria orgânica (compostável)

Como você pode observar, o resíduo orgânico compõe a maior parte do lixo gerado em nosso país. Esse resíduo é composto por inúmeros tipos de materiais como cascas de fruta, restos de comida, grãos, podas de árvores e de grama, sobras das indústrias de alimentos, dos restaurantes e também das nossas casas. Ou seja, tem origem animal ou vegetal. Essa matéria orgânica, quando descartada de forma incorreta, pode gerar sérios problemas ao ambiente, como, por exemplo, a proliferação de insetos e outros animais — que podem ser vetores de doenças e de organismos patogênicos —, o acúmulo de sujeira, contaminação do lençol freático, do solo e das águas superficiais. Tudo isso sem falar no impacto visual provocado pelo lixo amontoado. Atualmente, o principal destino desse tipo de resíduo são os lixões e os aterros sanitários, sendo que os lixões sem controle, infelizmente, são os locais onde a maior parte do resíduo gerado no Brasil se acumula. Mas será que precisa ser assim?


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A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um alerta sobre a quantidade de resíduo produzido pelas cidades em todo o mundo. De acordo com o Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), os governos devem tomar medidas urgentes para evitar aquilo que chamou de uma ameaça de “crise global de resíduos”, um problema que traria consequências não só para o meio ambiente, mas também para a saúde dos seres humanos. Segundo o Pnuma, todos os anos, as cidades geram 1,3 bilhão de toneladas de resíduos sólidos, e as estimativas são de que a quantidade desse detrito deve chegar a

Para refletir

Já foi sugerida, e até aplicada, a utilização da quantidade de resíduo/habitante como um indicador de nível de riqueza. Qual a sua opinião sobre a relação entre quantidade de resíduo gerado e nível de riqueza de uma pessoa, cidade ou nação? Se você fosse comparar os resíduos gerados por uma família muito rica com os de uma muito pobre, quais seriam as maiores diferenças?

2,2 bilhões de toneladas até 2025. A situação é mais grave nos países de baixa renda, onde, muitas vezes, o volume de coleta não alcança sequer a metade da quantidade produzida. Ainda segundo informações da ONU, as cenas de resíduos amontoados às margens de rios, queimadas a céu aberto e resíduos tóxicos são cada vez mais frequentes. No Brasil, estima-se que a quantidade de resíduo produzida passe de 250 mil toneladas por dia, o que equivale a, mais ou menos, à massa de 50 mil elefantes juntos, em apenas um dia, todos os dias do ano.

Adaptado do Portal Terra (Ciência), 2012.

ONU alerta para a quantidade de resíduo urbano produzido no mundo podemos chegar a 2,2 bi de toneladas ao ano!


uitos materiais que fazem parte do nosso dia a dia, além do resíduo orgânico e do papel, do plástico, do vidro e dos metais, podem se tornar um sério problema ambiental se descartados juntamente com o resíduo comum. Veja abaixo alguns exemplos:

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Lâmpadas fluorescentes: quando quebradas, liberam substâncias perigosas, como os metais pesados e gases, que podem contaminar o ar, a água e causar problemas respiratórios. Resíduo eletrônico: muitas peças utilizadas na fabricação dos telefones celulares, computadores, televisores, entre outros, podem ser reaproveitadas e recicladas. Mas também não devemos nos esquecer de que, nesses aparelhos, há também materiais e substâncias tóxicas. As baterias, por exemplo, se não descartadas corretamente, podem liberar resíduos que poluem o ambiente e se tornam um risco à saúde. Pilhas: da mesma forma que as baterias de telefones celulares (e de outros aparelhos), as pilhas podem provocar a contaminação do solo por metais pesados. Se você por acaso entrar em contato com uma bateria que vazou, lave bem as mãos e a descarte da maneira correta. Além desses produtos, embalagens de agrotóxicos, fertilizantes, pneus, óleos lubrificantes etc, também devem ter destino correto.

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Mas, afinal, de quem é a responsabilidade pela coleta e descarte apropriado de todo o resíduo tóxico? Essa questão é muito séria. Pode até parecer que não nos afeta diretamente, pois, após serem colocados na lixeira, os restos de comida e as embalagens desaparecem e, num piscar de olhos, passam a não ser mais problema nosso. Mas não é bem assim. O lixo, ou melhor, como já aprendemos, os resíduos do nosso consumo, não desaparecem. Eles se acumulam nos becos, vielas, ruas, nos bueiros, nos córregos e no mar, quando não são encaminhados ao destino correto. Precisamos realmente compreender que a embalagem usada não é lixo! É somente com essa mudança conceitual em nossas mentes que iremos resolver o problema do excesso e acúmulo de resíduos. Vamos então criar uma nova mentalidade a respeito da utilização dos bens que a natureza que nos oferece. Vamos abrir mão dos abusos e controlar os usos para que, o que sobra hoje, não falte amanhã, e para que aquilo que nos delicia hoje, não envenene nosso futuro.

Para fazer

Faça uma pesquisa com os responsáveis pela merenda ou com aqueles que cuidam da cantina da sua escola, e descubra a quantidade e que tipos de resíduo orgânico são produzidos diariamente com essas atividades. Faça a mesma pesquisa com o resíduo orgânico da sua casa e compare os resultados. Anote tudo o que você descobrir e, depois de compartilhar suas descobertas com a turma, responda em grupo à seguinte pergunta: é possível reduzir a quantidade do resíduo orgânico que produzimos todos os dias? Como?


Adaptado de Folha de São Paulo on line (Mercado), Leandro Martins, 2012.

Técnica brasileira transforma resíduo orgânico em fertilizante e tijolo empresa encontrou alternativa para produtos que são descartados

Uma empresa de Barretos, no interior de São Paulo, criou um equipamento que pode dar um destino nobre ao resíduo orgânico doméstico que atualmente vai parar em lixões e aterros. O processo faz do resíduo um pó, que pode ser usado como fertilizante ou até mesmo na fabricação de tijolos. A microempresa, com seis funcionários e um faturamento anual de R$ 50 mil, em 2012 já produzia máquinas usadas na reciclagem de resíduos como plástico, alumínio e papelão — não orgânicos. Em 27 anos trabalhando com reciclagem, o empresário sempre buscou uma alternativa que pudesse aproveitar também o resíduo orgânico, que é a maior parte do total de resíduos domésticos coletados no país.

No novo equipamento, restos de alimentos ou mesmo material vegetal proveniente de limpeza pública, passam por um reator que transforma tudo em massa que, depois de seca, é triturada e vira pó. Dois reagentes químicos são os responsáveis por remover os contaminantes do material. Um laudo técnico emitido pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Jaboticabal atestou que o pó fabricado tem potencial para ser usado na agricultura, como fonte de cálcio e corretivo de acidez do solo. Outra destinação é o uso do pó misturado ao concreto na fabricação de tijolos. Ensaios mostraram que a mistura garante mais resistência aos blocos.

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nós e Os resíduos 18

Você sabia que o conceito de “lixo” pode ser considerado uma invenção humana? Isso porque, nos processos naturais, nada é perdido ou rejeitado. As substâncias produzidas pelos seres vivos e que são inúteis ou prejudiciais para determinados organismos, tais como as fezes e urina dos animais, ou o oxigênio gerado pelas plantas verdes como subproduto da fotossíntese, assim como os restos de organismos mortos são, em condições naturais, reciclados pelos decompositores. Em uma floresta, por exemplo, toda a matéria orgânica que cai no solo, como troncos, galhos, folhas, frutos e muitas sementes é rapidamente decomposta por organismos como fungos e bactérias. Parte desse material decomposto é devolvido ao solo na forma de matéria inorgânica, que é reaproveitada pelos próprios vegetais. Na natureza, nada é lixo e, por conta disso, o que não serve para uns é matéria-prima para outros. A natureza, portanto, funciona dentro de uma realidade circular, ou seja, tudo é aproveitado e reaproveitado, o que é fundamental para a manutenção da vida. Na sociedade, ao contrário, funcionamos dentro de uma realidade linear da produção, movida pelo consumo: uso › descarte › poluição. Veja os esquemas a seguir e compare-os para entender melhor essa ideia.


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Na natureza, os processos são cíclicos. Tudo se transforma e aquilo que não é útil para um, tona-se vital para outro.

Os processos humanos são linerares. A cadeia produtiva temina em descarte que, frequentemente, gera poluição. Ao longo do processo de produção, outros resíduos também são gerados.


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Em que você pensa quando ouve a palavra lixo? Nas últimas décadas, o conceito sobre o que é lixo tem mudado. Temos percebido que muito do material que estamos tratando como lixo pode ter valor para outros usos. Dessa forma, o que antes era simplesmente descartado em lixões ou aterros, pode ser reaproveitado, reutilizado e reciclado de alguma forma. O lixo deixou de ser algo sem valor e passou a ser chamado de resíduo, e que possui importância significativa para muitos. Reaproveitar, reutilizar e reciclar. São apenas três das diversas formas como cada um de nós pode colaborar para a redução da quantidade de resíduos produzidos diariamente. Parecem sinônimas, mas essas palavras possuem significados próprios e bem importantes: • Reaproveitar: vários objetos têm, entre seus componentes, muitos materiais e peças de valor. Por exemplo, há prata nos filmes fotográficos, ouro nos circuitos de computador. Assim, diversos materiais podem — e são — reaproveitados para a criação de novos produtos. • Reutilizar: quanta coisa pode ser usada novamente, dando-se apenas um jeitinho? Caixas de papelão podem ser recobertas e utilizadas como presente; papéis usados só de um lado podem ser utilizados no verso. Uma velha calça pode ser transformada em uma bermuda. E que tal reutilizar sobras de arroz fazendo deliciosos bolinhos? • Reciclar: significa usar a matéria-prima dos produtos já utilizados para fazer outros novos. A reciclagem começa pela separação dos materiais que podem ser reciclados dos resíduos em geral. Esses recicláveis são recolhidos pelo programa de coleta seletiva e levados às estações de reciclagem, onde serão novamente separados (triagem), Para refletir compactados e comercializados.

Quais os outros benefícios que podem ser gerados, a médio e longo prazo, por meio da reciclagem?


Extraído de: Aventuras na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, 5 Elementos, 2013

Obsolescência programada já parou para pensar na data de validade das coisas que não estragam?

Uma das principais causas da geração crescente de resíduos é a chamada prática da obsolescência programada. Ela surgiu após a 2ª Guerra Mundial (1945), como um mecanismo para manter a produção das fábricas a todo vapor e o interesse dos consumidores sempre em alta. A durabilidade dos produtos foi substituída pela descartabilidade. A palavra “obsolescência” vem de obsoleto, que significa tornar-se antigo, ultrapassado, inútil, caduco. Isso pode acontecer com qualquer objeto usado por muito tempo. Mas quem determina quanto tempo um objeto irá durar? Seu fabricante.

Pode até parecer teoria da conspiração, mas não é. A obsolescência programada ou planejada nada mais é do que criar um produto que tenha que ser substituído por outro, mais “moderno”, em pouco tempo. A propaganda é a responsável por influenciar e convencer as pessoas a adquirir esses novos produtos. E quem faz a propaganda? Os fabricantes e revendedores de produtos e serviços para que possam vender mais produtos e serviços. É o círculo vicioso do consumismo.

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Para fazer

Faça uma pesquisa com seus colegas e descubra que tipo de resíduo deve ser descartado em cada um dos coletores da ilustração ao lado. Quais as diferenças entre os sistemas de coleta seletiva que você pode identificar aqui? Existem deficiências no sistema de lixeiras coloridas? Quais? Aproveite o momento e procure descobrir se a sua escola ou o seu bairro possuem coletores identificados.

* Fonte: CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), 2012.

ocê certamente já ouviu falar sobre a importância da reciclagem. Reciclar é interessante porque reduz a necessidade de uso de novas matérias-primas da natureza, diminui a quantidade de resíduos enviados para os aterros sanitários ou lixões, ajuda a diminuir a emissão de gases que causam as mudanças climáticas, gera empregos, diminui o consumo de energia e ainda reduz a poluição do ar e do solo. Entretanto, para que os resíduos possam ser reciclados de forma adequada, é importante que sejam separados no local onde são gerados. Para cada tipo de resíduo, deve haver um coletor adequado e bem identificado, para que não ocorra nenhuma confusão na hora do descarte. Após o recolhimento dos diferentes tipos de resíduos, o serviço de coleta e tratamento de lixo da sua cidade deve estar preparado para reciclá-lo de forma adequada. Infelizmente, a coleta seletiva só existe em cerca de 14% das cidades brasileiras * (776 cidades).

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Coleta seletiva Estudos* revelam que cerca de 27 milhões de brasileiros têm acesso a programas municipais de coleta seletiva. Mas, apesar de o número de programas ter dobrado no Brasil entre 2000 e 2008 (passou de 451 para 994), na maior parte das cidades do País, o serviço não cobre mais que 18% da população local, segundo o IBGE. O custo da coleta seletiva também é alto, se comparado ao da coleta convencional. O preço médio da coleta seletiva nas grandes cidades 23 é de R$ 424 por tonelada. Já a coleta regular de resíduo tem custo médio de R$ 95 a tonelada, ou seja, cerca de 4,5 vezes menos. Com o intuito de preparar a sociedade brasileira para uma mudança de comportamento em relação à coleta seletiva do resíduo e ressaltar os benefícios ambientais, sociais e econômicos do reaproveitamento dos resíduos sólidos, o Ministério do Meio Ambiente realizou, em 2011, a campanha “Separe o resíduo e acerte na lata”. Um dos objetivos era divulgar as soluções propostas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) como mecanismo de logística reversa. Uma vez descartadas, as embalagens são de responsabilidade dos fabricantes, que devem criar um sistema para recolher e reciclar seus produtos. Observe o esquema da próxima página, que mostra o trajeto de fabricação de uma latinha a partir do alumínio primário. O alumínio é um produto que pode ser reciclado infinitamente com 100 % de eficiência, ou seja, não perde nenhuma das suas propriedades naturais no processo. O produto reciclado pode se transformar no mesmo produto em sua Para refletir forma original ou se tornar algo totalmente Caso não exista um sistema de diferente. Aeronaves, automóveis, biciclecoleta seletiva na sua cidade, para onde você imagina que os resíduos tas, barcos, computadores, aparelhos doestão indo? Se vimos que os resímésticos, cabos e latas são, todos, fontes duos têm valor para muitas pespara reciclagem. E apesar de a reciclagem soas, quais são as consequências ser um importante caminho para boa parte sociais, econômicas e ambientais de enviá-los para os lixões, ao invés de nosso resíduo, existe outra solução tão de promover a reciclagem? importante quanto: a redução do consumo.


Como se produz uma latinha de alumínio? 1 Matéria-prima: a extração da bauxita é o primeiro estágio. É o minério de onde o alumínio será obtido.

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2 Refinamento: da dissolução da bauxita em uma solução aquecida de soda cáustica e cal, obtém-se o óxido de alumínio: um pó branco chamado de alumina. 3 Redução: a alumina é então submetida a um processo de eletrólise para separar os componentes. Esta etapa demanda muita energia elétrica! 4 Fundição: com o alumínio puro retirado da alumina, molda-se grandes blocos, os lingotes, que poderão ser usados em indústrias de vários segmentos. 5 Prensagem: comprimindo os lingotes, as indústrias formam uma grande bobina de alumínio em folha. 6 Moldagem: uma máquina corta a lâmina de alumínio e molda as latas no seu formato conhecido. 7 Acabamento: para que os líquidos não entrem em contato direto com o alumínio, todas as latas recebem uma camada de verniz. 8 Rotulagem: outra máquina imprime, diretamente nas latas, a marca do produto. Agora elas estão prontas para receber o seu conteúdo!


EU e Os resíduos 25

Nosso estilo de vida é influenciado por aquilo o que consumimos. Desde o momento em que acordamos pela manhã até quando vamos dormir, consumimos uma infinidade de produtos e serviços: energia elétrica, água, alimentos, roupas, aparatos eletrônicos. Enfim, uma grande quantidade de produtos manufaturados e industrializados. Embora o Brasil não faça parte do grupo dos países chamados desenvolvidos ou ricos, aqui nós também enfrentamos problemas associados ao consumo excessivo. O “consumismo”, ou seja, o ato de consumir por consumir, gera graves consequências ao nosso ambiente, próximo e distante, e a nós mesmos. Você já deve ter percebido que Para fazer há coisas em casa que poderiam Discuta com seus colegas e redesenhe a ilusser muito bem dispensáveis. Ou tração da página ao lado. O que é necessário para se fabricar uma latinha de alumínio até seja, não há necessidade de termos que ela chegue ao consumidor final? Como e tantas coisas. Todavia, consumir onde o processo de reciclagem poderia entrar com consciência não significa apenesse esquema? Identifique quais grupos sonas comprar menos, mas também ciais e organizações civis, públicas e privadas participariam diretamente ou influenciariam comprar melhor. Isto é: planejar os em cada fase. Em que etapa de todo esse progastos, comparar opções, verificar a cesso vocês participariam diretamente? Você qualidade e as condições socioamsabia que a reciclagem da sucata de alumínio bientais em que aquele produto foi exige somente 5% da energia empregada para a produção do alumínio primário?


feito. Por isso, uma das primeiras atitudes do consumidor consciente é ler o rótulo dos produtos para conhecer sua composição e também a sua origem. O problema é que, na maioria das vezes em que compramos algo por impulso, a sua utilidade é muito pequena. Isso é fácil de perceber pois, pouco tempo depois o deixamos de lado, sem nenhum uso e, por fim, seu destino é o lixo. Ficou clara a relação entre consumismo e aumento dos resíduos? Cada brasileiro produz 1,1 kg de resíduos, em média, por dia. No país, 26 são coletados diariamente 188,8 milhões de quilos de resíduos sólidos. Desse total, em 50,8% dos municípios, os resíduos ainda têm destino inadequado, pois vão para os 2.906 lixões existentes no Brasil. Por esse ponto de vista, ainda temos que caminhar muito para encontrar uma real solução para esse impasse em nosso país. A responsabilidade pelos resíduos que produzimos é de todos, uma vez Para refletir que os problemas decorrentes Você se considera um(a) consumista? Primeiro, de sua produção afetam toda a pense em tudo o que tem em casa e identifique quais bens são essenciais e quais são supérfluos, sociedade. ou seja, aqueles ítens que você e sua família poApesar de ser um problema deriam muito bem viver sem. Depois, reveja a antigo, somente em 2010, o Golista e verifique se há alguma coisa que consideverno Federal aprovou a Política re necessária para uma vida saudável, mas que não está listada. O que você pôde concluir? Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Trata-se de uma legislação que determina como devem ser feitas as coletas, o tratamento e o destino final de resíduos urbanos, perigosos e industriais, entre outros. Entretanto, a existência de uma nova lei, por si só, não garante que o resultado desejado seja alcançado. É preciso que toda a sociedade se mobilize, cobre das autoridades o cumprimento das novas regras e, claro, faça o seu papel. Veja, nas próximas páginas, alguns destaques sobre os principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).


Fonte: Adaptado da PNRS, 2012.

Principais temas da PNRS O Brasil tem uma legislação específica para os resíduos sólidos. Ela define quais são os papéis e a responsabilidade de cada setor

Empresas São obrigadas a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. A lei se refere aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos; pilhas e baterias; pneus, óleos lubrificantes e seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Para que a logística reversa aconteça, todos aqueles envolvidos na produção e consumo devem assumir uma responsabilidade compartilhada pelos resíduos produzidos.

Consumidores Sempre que existir um sistema de coleta seletiva no município, os consumidores são obrigados a: • Acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados. • Disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. • Após o uso, os consumidores deverão efetuar a devolução aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens que são objeto de logística reversa.

Para fazer

Individualmente, leia cada parte da legislação e faça uma lista dos pontos positivos e negativos de cada uma delas.

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Gestão pública

Incentivo econômico

Cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos:

O poder público poderá instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, às iniciativas de:

• Adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

• Prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo.

• Estabelecer sistema de coleta seletiva.

• Desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida.

• Articular com os agentes econômicos e sociais, medidas para viabilizar o retorno, ao ciclo produtivo, dos resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis provenientes dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. • Implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular, com os agentes econômicos e sociais, formas de utilização do composto produzido. • Dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos e rejeitos oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

• Implantação de infraestrutura e aquisição de equipamentos para cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, formadas por pessoas físicas de baixa renda. Proibições São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos: • Lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos. • Lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração. • Queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade. Outras formas vedadas pelo poder público. A PNRS é a legislação que regulamenta as formas de descarte e gestão dos resíduos sólidos no país e define com clareza os papéis e responsabilidades de cada setor.


Como tudo isso afeta a nossa vida? No exercício a seguir, propomos uma situação hipotética, ou seja, imaginária, pela qual poderemos entender melhor quais os desafios na implementação de um sistema de coleta seletiva municipal. O exercício poderá ser realizado utilizando-se as metodologias do Diálogo e do Jogo de Papéis. As informações necessárias para realizar essa atividade estão na última sessão do livro. O Brasil ainda não conseguiu resolver completamente o problema dos resíduos sólidos. Há, no país, centenas de lixões a céu aberto, causando graves problemas ambientais e de saúde pública. Apesar de o país ter aprovado uma legislação bastante avançada, ainda é necessário criar os mecanismos para que a lei “saia do papel”. Um avanço importante trazido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, foi a divisão da responsabilidade pelo problema do lixo entre vários setores da sociedade. Se todos somos parte do mesmo problema, então todos nós devemos estar também empenhados por uma solução. No exercício a seguir, será justamente esta a capacidade do grupo que será colocada à prova: a de construir soluções compartilhadas.

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Coleta seletiva em Pau a Pique

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A cidade de Pau a Pique, assim como tantas outras no Brasil, passou por um grande crescimento populacional nas últimas décadas. O aumento do número de moradores, aliado ao do poder aquisitivo da população em geral, tem colocado uma grande pressão sobre o sistema de coleta e tratamento de resíduos sólidos no município que, nunca foram feitos de maneira ideal. Com isso, a ocorrência de problemas associados a coleta tem aumentado. Há dias em que o caminhão responsável pelo recolhimento de certos resíduos não passa pelas ruas, e eles se acumulam em praças e vielas, entopem bueiros, atraem animais e causam doenças na população mais carente, aquela que sofre ainda mais com a situação. O sindicato dos garis da cidade vem considerando até mesmo entrar em greve, já que o volume de trabalho dobrou mas a remuneração continua a mesma. Enquanto isso, o resíduo coletado é jogado em um lixão, uma vez que a cidade não dispõe de um aterro sanitário. Para piorar a situação, há famílias que coletam objetos no lixão na tentativa de garantir o seu sustento, o que tem causado muitos problemas de saúde e violência. Os moradores, por sua vez, estão irritados com a sujeira na qual a cidade se encontra. Como justificativa, a empresa responsável pela coleta diz que, para ampliar o sistema, são necessários investimentos e que a Prefeitura é a responsável por isso. Há também, em Pau a Pique, uma cooperativa de catadores de resíduo que passam nas ruas com seus carrinhos coletando o material reciclável. Frente a essa situação dramática, o prefeito de Pau a Pique decidiu implementar um sistema de coleta seletiva na cidade. Segundo ele, trata-se de um sistema que poderá resolver o problema do resíduo, mas, como o município não dispõe de verba suficiente para arcar com o investimento, parte dos custos necessários terá que ser pago pelos contribuintes, por meio da taxa de limpeza. Os interessados em toda essa discussão devem decidir sobre a seguinte problemática:


Qual a melhor alternativa para resolver a questão da coleta de lixo urbana? Deve-se criar uma taxa municipal do lixo ou um sistema de cooperativas? Alguma combinação entre as duas alternativas ou ainda uma outra solução? O jornal de Pau a Pique, interessado no assunto, decidiu fazer uma pesquisa de opinião com várias pessoas da cidade sobre a instalação da coleta. Saiba o que pensam os diversos atores sociais dessa história. 31 Aristides dos Santos, 54 anos Prefeito de Pau a Pique A coleta seletiva irá resolver todos os problemas do resíduo na cidade. Será um custo a mais para a população, mas o investimento é necessário e, sem a participação de todos, a cidade não conseguirá resolver o problema. Gerusa Nascimento, 45 anos Moradora Estou insatisfeita com o modo como o lixo é coletado. Acho que devemos sim ter um novo sistema de coleta seletiva, mas não quero pagar mais impostos. Já damos muito dinheiro para o governo, que sempre inventa uma desculpa para passar a conta à população. Silvério Pereira, 37 anos Catador de recicláveis Eu vivo de coletar o resíduos. Tiro o meu sustento disso e é assim que mantenho a minha família. Mas aquilo o que as pessoas jogam fora acaba sendo tudo misturado, dificultando o trabalho na cooperativa. Com a coleta seletiva, vai ficar mais fácil a nossa vida. Isto, se a empresa de coleta nos deixar participar.


Marcela da Silva, 27 anos Diretora de ONG É inaceitável que Pau a Pique ainda não tenha coleta seletiva. As águas do córrego estão poluídas e há crianças vivendo no lixão. Essa situação não pode continuar! Plínio Augusto, 55 anos Empresário de limpeza urbana Coleta seletiva é importante para a cidade, sem dúvida. Mas é um sistema mais caro e alguém terá que pagar a conta. Minha empresa recebe pelo volume de resíduo coletado. Com a implantação da coleta seletiva pública, meu lucro irá diminuir. Chico Sampaio, 30 anos Pai de família que vive do lixão O pouco dinheiro que ganhamos aqui é o que nos mantêm vivos. Ninguém está interessado em nós. Temos que sobreviver no meio do lixo para achar algo para vender e até para comer. A situação é ruim, mas estamos conseguindo sobreviver. Com essa tal de coleta seletiva, o resíduo aqui no lixão vai diminuir. E aí, como faremos? Um encontro foi marcado para que todos os envolvidos nesse assunto possam se expressar. Mas o desafio será chegar a um consenso para solucionar o problema do lixo. Sabe-se que as opiniões são divergentes e que cada grupo envolvido analisa o que é melhor para si ou então, como será beneficiado de forma individual. Mas, como em todo esforço coletivo, o resultado deve ser bom para todos e também viável. Caso não se chegue a um consenso, é possível que a implantação da coleta seletiva seja cancelada, o que poderá ser pior para todos. Porém, com sabedoria e paciência, o grupo acredita ser possível encontrar uma solução que atenda a todos os interesses. Agora apressem-se, pois a reunião está prestes a começar!


diรกlogo e consenso


á se tornou sabedoria popular a importância da comunicação para a superação de impasses. Entretanto, o que se nota é que, em muitas ocasiões, grupos de pessoas se encontram em condição de conflito, não por discordar a respeito de uma determinada situação, mas porque são incapazes de perceber aquilo com que concordam. O diálogo é uma forma pela qual os atores sociais envolvidos em impasses podem estabelecer conversas significativas, ou seja, que permitam o surgimento de alternativas capazes de superar — ou evitar — situações de conflito, chegando assim ao consenso. O diálogo é um melhor caminho para o consenso do que o debate, pois permite que cada cidadão exponha as suas ideias, levando a uma convergência entre os participantes, das suas percepções sobre os significados dos problemas. Isso acontece porque somente o diálogo possibilita que indivíduos exponham seus pontos de vista acerca das questões sociais. Quando as pessoas conseguem sair do nível das posições defendidas e chegam ao patamar das concepções de mundo que trazem consigo, ampliam-se as possibilidades de consenso. Uma troca de pontos de vista que se traduz em novos conceitos, valores, crenças e ideias que, por sua vez, se transformam conforme são expostos. É no espaço da livre troca de impressões e argumentos que as pessoas têm a oportunidade de aprender, ou seja, de transformar a si mesmas a partir de influências e reflexão. Só assim, é que poderão chegar a consensos.

J

A02

Diálogo ou Discussão? Um diálogo verdadeiro não é um embate de ideias e pontos de vista, com um grupo fazendo de tudo para convencer o outro a mudar de visão ou de opinião para que uma posição prevaleça. O diálogo verdadeiro acontece quando as pessoas escutam atentamente a opinião dos outros e estão abertas para mudar seus pontos de vista. É somente quando estamos abertos para ouvir interpretações diferentes das nossas e, eventualmente mudar de opinião, que se


chega a acordos para soluções efetivas e duradouras. Se a solução for imposta por um grupo, quem foi “vencido” na discussão ficará contrariado e provavelmente desistirá de participar do processo. Mas sabemos que manter um diálogo construtivo não é tarefa simples. É mais fácil tentarmos convencer o outro a fazer as coisas “do nosso jeito” do que criarmos alternativas que atendam aos interesses de todos, ainda que parcialmente. Somente quando as soluções propostas satisfazem aos interesses de todos é que se chega a um consenso. A03

debate Há um espírito de “ganhar ou perder”: é um embate de ideias e posições.

discussão

Diálogo

Troca de argumentos sem necessariamente se aprofundar no tema ou chegar a um consenso.

Mais sintonizado com o pensamento e com as preocupações do grupo.

Jogo de Papéis A atividade coletiva proposta nos livros desta Coleção, é um Jogo de Papéis, ou seja, um tipo de dinâmica onde os jogadores interpretam um personagem, criado dentro de um determinado cenário ou ambiente. A técnica permite aos jogadores se colocarem em situações de tomada de decisão similares às reais, permitindo a aprendizagem em relação ao tema abordado, possibilitando a observação das atitudes dos jogadores e a discussão do resultado de suas ações.


Preparando o grupo para o jogo de papéis Antes de iniciar o Jogo de Papéis, é importante que um participante seja escolhido para organizar o funcionamento da sessão. Esta pessoa será chamada de “mediador”, assim como nos debates políticos da televisão. Se o jogo for promovido entre um grupo de alunos, o papel de mediação pode ser assumido pelo professor responsável. O mediador deverá criar um espaço seguro para que os participantes possam se expressar aberta e livremente, removendo as desigualA04 dades de poder ou posição que possam existir no grupo. É fundamental que o grupo perceba o ambiente como um lugar aberto e acolhedor para se expressar sem medo de críticas ou ridicularização. Você já esteve em situações em que não se sentiu à vontade para expressar a sua opinião? Então podemos dizer que aquele não era um ambiente propício para um diálogo construtivo. Também é papel do mediador encorajar novos pontos de vista sem rotulá-los. A troca de opiniões, e não o convencimento, é o que se busca. Para tanto, o mediador deve conceder a palavra e organizar as falas. É muito importante que esta pessoa dê voz a todos, de forma democrática e em igualdade. Ela é responsável por estipular um tempo para a sessão, sinalizando ao grupo quando o término estiver próximo. Após a definição do mediador e da apresentação das regras do diálogo, os grupos devem ser formados. Cada grupo irá representar um dos atores sociais envolvidos no caso que vimos neste livro e terá determinado tempo para apresentar suas ideias e pontos de vista, assim como estar aberto para ouvir as posições dos demais. O objetivo do Jogo de Papéis é estabelecer o diádica importante logo entre todas as partes envolvidas da forma mais O Jogo de Papéis pode democrática e séria possível, buscando uma solução durar de 2 a 3 horas. Considere a possibilidaconsensuada para a questão apresentada. de de dividir a atividade Para que isso aconteça, converse com os demais em dois encontros: um integrantes do grupo sobre cada ator social que será para preparo dos grurepresentado, troquem impressões e façam anotapos e pesquisa e o outro para a sessão coletiva.


ções. Para que suas opiniões não fiquem simplesmente no terreno da fantasia, vocês poderão fazer uma pesquisa sobre casos reais, levantando pareceres de especialistas e apresentando números e estatísticas. Somente com informações concretas, será realmente possível defender os seus argumentos de forma objetiva. Sem informações que embasem os seus pontos de vista, a discussão ficará no “achismo”. Por outro lado, lembrem-se que um mesmo fato ou informação pode ter mais de uma interpretação. Para definir melhor o perfil do ator social que vocês irão representar, respondam: A05 • • • • • •

Quem eu sou e o que eu faço? Quais as coisas que eu mais valorizo? Quais são as minhas reais necessidades? Até que ponto estou disposto a mudar de opinião? De que eu abriria mão? De que eu não abriria mão?

Técnicas para a promoção do diálogo Para ajudar o grupo a chegar a um consenso, vamos apresentar algumas técnicas. Sim, há técnicas para se alcançar o consenso! A Pare de falar e escute atentamente o que os outros estão dizendo. Não vá logo pensando em como irá confrontar o ponto de vista do outro. Antes, pare, escute. O que você concorda naquilo que o outro falou? Com o que você não concorda? B Não interrompa os outros participantes enquanto eles estiverem falando. Controle a ansiedade e aguarde a sua vez. C Se coloque no lugar dos outros participantes, tentando visualizar os problemas por eles enfrentados, buscando compreender a sua visão de mundo, sua linguagem e seus valores.


D Demonstre e aja com verdadeiro interesse. Não disperse a sua atenção enquanto os outros falam. E Procure o significado nas entrelinhas das falas dos outros. O que eles estão querendo dizer, mas que não foi verbalizado, foi omitido ou não explicado? Pergunte a respeito disso.

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F Foque em fazer apenas comentários construtivos. Resista à tentação de criticar, replicar ou estigmatizar uma fala assim que ela for proferida. Guarde os seus comentários para o momento em que o contexto tiver se alterado, que é quando a crítica poderá ser feita ao tema ou assunto e não à pessoa que fez o comentário. G Observe o comportamento não verbal, como linguagem corporal, para perceber o que foi “dito” mas não foi falado. H Não fique com dúvidas. Você realmente entendeu o que o outro quis dizer ou está supondo que entendeu? Verifique se a sua compreensão está correta por meio de perguntas que comecem com frases como “estou certo em admitir que você(s)…”. Investigue também, por meio de perguntas, por que ele acha que a posição por ele apresentada é a melhor. I Exponha seu ponto de vista de forma clara e objetiva, para que todos entendam por que você está defendendo determinada posição. Lembre-se de demonstrar a todos quais são as suas reais necessidades e como a posição que você está defendendo atende a isso. Apresente sua perspectiva com frases do tipo “nosso ponto de vista está baseado no fato de que…” . J Explore coletivamente soluções criativas e que não apareceram antes. Não fique preso apenas ao que você já sabe sobre os outros grupos. Faça perguntas do tipo “as suas necessidades ainda seriam atendidas se, ao invés da sua solução, fizéssemos…?”.


Desenvolvimento do Jogo de Papéis Após cada grupo ter elaborado o perfil dos respectivos atores sociais e respondido às perguntas citadas, inicia-se a sessão de diálogo. O mediador apresenta novamente o dilema em questão, certificando-se de que todos entenderam o entrave, como serão conduzidas as falas e a duração prevista para a atividade. Não é necessário estipular um tempo máximo para cada fala, pois isto pode limitar a qualidade das conversas. Por outro lado, não queremos sessões de monólogos e se não houver bom senso por parte de quem fala, o mediador tem o direito de pedir a palavra. O papel do mediador é promover, por meio do questionamento, a expressão dos diversos pontos de vista, explorando as possibilidades e interesses comuns à medida em que estes vão se revelando. É importante que o grupo explore as oportunidades de consenso a partir das necessidades de cada ator social. Muitas vezes, as conversas estagnam em torno das posições defendidas, sem que se aprofundem para o campo das necessidades. Passar do campo das posições para o das necessidades permite ao grupo criar ou visualizar oportunidades inexploradas. A imagem do iceberg, ilustrada ao lado, representa bem a diferença entre posições, interesses e necessidades de cada pessoa. As posições divergentes são como as pontas de um iceberg, sobressalentes na superfície da mar. Assim como é impossível visualizar o restante do iceberg, escondido abaixo da linha d’água, muitas vezez não somos capazes de identificar com precisão quais são os reais interesses de nossos interlocutores, pois nos atemos à superficialidade de seus argumentos,

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e não ao que vai em seu íntimo, aquilo que gostariam verdadeiramente de comunicar. Nos atemos somente à parte mais visível. Mais profundas ainda que os interesses, estão as necessidades do grupo ou indivíduo. Um diálogo só é produtivo quando cria uma ampla gama de alternativas para o posicionamento dos atores envolvidos. Discussão e Aprendizagem sobre o jogo de papéis

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As questões abaixo devem ser utilizadas como guia para uma conversa em grupo sobre o processo e os resultados alcançados durante a sessão de diálogo. Um dos integrantes, ou o professor, pode mediar esta conversa, sempre passando a palavra a todos os participantes. Sobre os resultados • Houve consenso? Em caso afirmativo, vocês consideram sustentável o acordo ou o consenso a que o grupo chegou? O que pode garantir que esse tipo de acordo se mantenha? • Todos os atores sociais tiveram as suas necessidades atendidas? • Foi possível assegurar ganhos mútuos, ou seja, situações de “ganha-ganha”, nas quais ninguém perde? O que pôde garantir isso? • Foi possível fortalecer os relacionamentos entre os participantes? Em outras palavras, vocês estariam dispostos a negociar com essas pessoas novamente? E, será que estas pessoas teriam interesse em negociar com vocês outra vez? Sobre a representatividade • Os interesses e necessidades fundamentais de todas as partes foram bem representados? • Vocês acreditam que poderiam realizar este tipo de negociação e diálogo de grupo em uma situação real? O que precisa ser superado para que o diálogo funcione em situações reais?


• Há grupos de atores sociais que não estavam presentes, mas que poderiam ter afetado o resultado do consenso? Como o grupo poderia ter considerado as preocupações destes atores sociais? Sobre a negociação e a construção do consenso • Foram formadas coalizões? Quais? Estes acordos ajudaram a construir o consenso ou a bloqueá-lo? • Como o grupo chegou ao consenso? Tratou um ponto de vista de cada vez ou abordou o problema de uma forma completa? • Algum ator social ficou insatisfeito com o resultado? Como o grupo lidou com isso? Sobre o processo • Quais foram as principais fontes de incerteza que surgiram no decorrer do processo e como vocês lidaram com elas? • Como as informações foram obtidas? Elas foram compartilhadas? O grupo foi capaz de criar soluções criativas? Quem propôs estas soluções e por quê? • Como o grupo lidou com as diferenças dos valores morais apresentadas por cada ator social? • O poder dos atores sociais interferiu no resultado final do diálogo? • Como o grupo lidou com as diferenças de poder e informação? Como vemos, o diálogo não é apenas uma série de técnicas destinadas a melhorar a comunicação, chegar a um consenso ou resolver um problema. Durante o processo de diálogo, pessoas aprendem a pensar juntas. Não apenas analisam um problema ou criam coletivamente, mas constroem uma sensibilidade comum na qual os pensamentos, emoções e ações resultantes não pertençam a apenas um indivíduo, mas a todo o grupo.

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Atividades auxiliares A10

As atividades que descrevemos neste capítulo podem ser realizadas antes que o Jogo de Papéis seja iniciado, pois, servirão como uma espécie de “aquecimento” e irão ampliar as possibilidades de consenso. Conhecendo outras perspectivas Quanto mais perspectivas sobre a questão central do projeto a equipe levar em consideração, maiores serão as possibilidades de se chegar a um consenso e construir uma ação coletiva. Em situações complexas, é importante que você tenha uma compreensão holística, ou seja, respeite o todo, levando em consideração as partes envolvidas e suas interrelações. Uma compreensão construída a partir das múltiplas perspectivas dos diversos atores sociais, permite que você possa tomar decisões informadas e relevantes. Ser capaz de identificar e compreender o ponto de vista das diversas partes envolvidas é um aspecto fundamental para um agente de mudança. Sua capacidade de “ver o mundo através de outros olhos” irá impactar diretamente a forma como você toma decisões. O nome que se dá a isso é empatia. Em uma folha de papel disposta sobre o chão, ou em uma mesa, desenhe um diagrama como o da figura a seguir. No centro da roda, exponha o desafio principal enfrentado pelo grupo do diálogo. Nas áreas


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ao redor do centro, anote os nomes dos grupos de atores sociais, ou seja, aqueles que estão interessados ou envolvidos na questão central (você poderá, por exemplo, usar os nomes e as ocupações dos personagens sugeridos para o Jogo de Papéis proposto neste livro). Cada participante deverá se posicionar no “pedaço da pizza” com o nome do ator social que ele representa. Cada pessoa, na sua vez, dirá com suas próprias palavras qual o seu entendimento do problema, a partir da perspectiva de quem ela representa. Sua fala, neste momento, não deverá ser uma interpretação, mas sim estar baseada em fatos extraídos dos textos de apoio e pesquisas. As conversas não


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precisam durar mais do que um minuto e a pessoa que fala não deve ser interrompida. Para deixar a atividade ainda mais interessante, os participantes podem trocar de lugar, assumindo o papel de um outro ator social, tendo assim contato com um ponto de vista diferente sobre o tema. Como conclusão do exercício, o grupo chega a um insight para cada ator social. Um insight tem a ver com aquilo de mais significativo que foi expressado por cada ator social, e que ajudará a construir uma solução ao desafio colocado. Este exercício e os seus resultados visam levar a uma melhor compreensão das múltiplas perspectivas que possam existir sobre um mesmo problema. Jogos Psicodramáticos A dramatização é uma ferramenta de grande valor quando se trata de incentivar a aprendizagem. É um método de intervenção social e pesquisa das relações interpessoais, em grupo ou/e individualmente, e um poderoso agente de transformação. Ao favorecer a vivência da experiência do grupo, recria modelos de relacionamento, e a percepção das diferenças individuais de opinião, sentimentos e emoções, servindo para aprofundar a consciência dos valores. Tornando-se ao mesmo tempo autor, jogador e observador, cada indivíduo participa do jogo através do movimento e da espontaneidade, o que promove atuação livre de todos, estimulando a criatividade na produção dramática e na catarse. Os únicos requisitos para a dramatização são: espaço, tempo, grupo de indivíduos e tema. O objetivo destes jogos é praticar o diálogo e a cordialidade, e observar o contexto nas diversas dimensões em que se apresentam. O tempo de duração varia de acordo com o planejamento do grupo. Para desenvolver a atividade são necessários materias para anotações. Adereços como roupas e cenário podem ajudar, mas não são indispensáveis.


Organização do Jogo 1 O coordenador propõe um tema central como, por exemplo, "Uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade". 2 Os participantes podem atuar de diferentes formas: como um único grupo, como subgrupos que representarão diferentes aspectos da questão ou ainda divididos entre atores e plateia. 3 Os participantes criam o roteiro coletivamente e distribuem as funções e papéis. 4 Os atores representam seus respectivos papéis. Seguindo o exemplo acima, os personagens podem ser: o prefeito, a moradora, o catador de recicláveis, o empresário de limpeza urbana, o diretor de uma ONG, um pai de família que vive no lixão etc. 5 Depois da dramatização, é dado um tempo para que atores e espectadores percebam o que aprenderam. 6 Após esse tempo, o coordenador inicia a discussão final em que levanta tanto o que foi conscientemente verbalizado, quanto aquilo inconscientemente revelado através da dramatização. A Dramatização de uma Cena Distinguem-se, no desenvolvimento da ação psicodramática, três momentos de importância singular. A primeira fase, o aquecimento, é quando o grupo se prepara. Os participantes desenvolvem um tema e, com o afloramento de um protagonista, dá-se início a um segundo momento: a representação propriamente dita, ou seja, a cena dramática. Aqui ganham importância os coadjuvantes, que serão os encarregados de encenar os personagens ao contracenarem com o prota-

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gonista, com outros personagens reais ou fantasiosos, sempre com atenção para os aspectos dos atores do jogo, símbolos de seu mundo etc. A terceira fase é o compartilhamento, o retorno do protagonista, momento em que o grupo compartilha seus sentimentos e vivências, reflete sobre tudo o que foi acontecendo a cada personagem durante a cena, bem como as ressonâncias que ela produziu. Coleta de Perspectivas A14

Os participantes da atividade devem anotar as impressões, perspectivas e opiniões de cada um dos grupos retratados no psicodrama. Para organizar a coleta de informações, é necessário registrar a palavra, frase ou expressão considerada mais significativa na representação de cada um dos grupos/personagens. Veja o exemplo na próxima página: os personagens do psicodrama discutem sobre “uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade”. Imagine uma situação em que um bairro tradicional de uma cidade de médio porte se transforma em um ponto de encontro e entretenimento, com muitos bares, casas de shows e restaurantes, dividindo o espaço com os moradores. Reflexão Ao final da encenação e da coleta de perspectivas, o grupo deve se juntar para refletir e argumentar sobre o aprendizado coletivo. Veja alguns questionamentos que podem ser feitos neste momento: • Como foi participar ou assistir a atividade? • Qual foi a parte mais difícil? E a mais fácil? • Quais insights e feedbacks foram adquiridos através do jogo?


Almir Simões, o fiscal da prefeitura

Minha função é fiscalizar, multar quando for preciso e fazer cumprir a lei. Pelo que tenho visto nos últimos dias, esse bairro está muito barulhento! Jucélia Leal, a moradora do bairro

Está insuportável! Os bares e restaurantes não respeitam os moradores e fazem barulho até altas horas da madrugada. Chega! Mauro Sá, músico que se apresenta na região

O bairro é muito bom para os músicos. Com os shows que fazemos nos bares daqui, sustentamos nossas famílias. O bairro é o nosso “ganha-pão”. Marta Leite, proprietária de uma casa de shows

As pessoas que frequentam os bares querem se divertir! Empregamos muita gente e movimentamos toda a economia dessa região. Zeca Vieira, o diretor da Associação do Bairro

O bairro está dividido entre os moradores e os empresários. Precisamos chegar a uma solução que beneficie a todos. Aqui, um depende do outro. Jô Américo, vereador que propôs a Lei do Silêncio

Barulho tem limite. Vamos aumentar a fiscalização e tentar acabar com toda esta bagunça aqui! Em breve teremos uma lei específica para isso.

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BIA Monteiro é graduada em Psicologia pela PUC-SP e pós‑graduada em Psicologia Social na Boston University. Trabalhou durante muito tempo na área educacional e, nos últimos anos, tem se dedicado ao estudo do potencial humano participando de cursos em diversos países. Em 1997, fundou a Evoluir, uma organização dedicada a promover uma nova forma de ensinar e aprender, seja na escola, em casa ou em qualquer espaço de convivência e que, por meio de publicações, eventos e projetos, leva a público a discussão de diferentes temas. Edson Grandisoli é Biólogo, Ecólogo e Consultor em Educação e Sustentabilidade. Nas últimas duas décadas tem se dedicado à sala de aula e elaboração de coleções didáticas e paradidáticas. Há 11 anos, é Diretor Pedagógico da Escola da Amazônia, projeto do terceiro setor em Educação para a Conservação e Sustentabilidade. Atualmente, colabora com diferentes escolas no desenvolvimento e implementação de projetos em Educação e Sustentabilidade, tema de seu doutoramento pelo Programa de Ciência Ambiental da USP. Fernando Monteiro é graduado em Agronomia pela ESALQ/USP e doutorado em Ciência Ambiental pela USP, com estudos sobre Aprendizagem Social. Foi diretor de redes e comunicação do LEAD International, em Londres, entre 2007 e 2009, e pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP–Procam. É educador e acredita que a aprendizagem profunda acontece por meio de experiências transformadoras. É sócio-fundador da Evoluir.

Samuel Rodrigues é ilustrador. Desde pequeno gosta de desenhar, simplesmente por gostar de desenhar. Aprendeu observando o mundo e praticando, aperfeiçoando os traços, “gastando” a mão e o olhar. Ilustra para livros, revistas, publicidade e jornais. Além disso, também desenha nas horas vagas.



Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-044-8 VENDA PROIBIDA

projeto

patrocínio

realização

COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  LIXO OU RESÍDUO?

inguém quer viver em um lugar sujo, e a solução mais fácil é jogar em outro canto aquilo que sobra do nosso consumo, contanto que seja longe. Só que o longe de uns é o perto de outros… O que fazer, então com os resíduos que produzimos? Este título traz essa complexa questão sobre o consumo e os resíduos em nossa sociedade.

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir


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