E se o ar acabar?

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Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-045-5 VENDA PROIBIDA

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COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  E SE O AR ACABAR?

o nosso dia a dia, são diversas as situações em que percebemos a presença do ar: no balanço dos galhos das árvores gerado pelo vento que sopra forte, nas nuvens que vêm e vão conduzidas pelas massas de ar, e no balanço dos cabelos ao receber a brisa suave, quando sentimos nossos pulmões encherem e esvaziarem. Vamos conhecer mais sobre o ar que respiramos e porque é tão importante que todos colaborem com a sua preservação?

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir



COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS

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Evoluir, 2014 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009.

Coleção Título original Volume Autores Ilustrações Coord. Editorial Design gráfico Revisão

O Mundo Que Queremos E se o ar acabar? 3 de 6 Bia Monteiro, Edson Grandisoli e Fernando Monteiro Samuel Rodrigues Fernando Monteiro e Uriá Fassina Uriá Fassina Fernanda K Soifer e Lilian Rochael

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Bia E se o ar acabar? / Bia Monteiro, Edson Grandisoli, Fernando Monteiro ; ilustrações Samuel Rodrigues. -- 1. ed. -- São Paulo : Evoluir Cultural, 2014. -- (Coleção o mundo que queremos) 1. Ar - Literatura infantojuvenil 2. Cidadania 3. Desenvolvimento sustentável 4. Educação - Finalidades e objetivos 5. Meio ambiente I. Grandisoli, Edson. II. Monteiro, Fernando. III. Rodrigues, Samuel. IV. Título. V. Série. CDD-370.115

14-09437 Índices para catálogo sistemático 1. Educação sustentável

370.115

ISBN deste livro ISBN da coleção

978-85-8142-045-5 978-85-8142-042-4

Fontes Impressão Tiragem Papel miolo Papel capa Acabamento capa

Whitney e Brandon Grotesque Prol (Diadema–SP) — novembro de 2014 4 mil exemplares Polém Bold 90g/m2 Papelão 18 revestido por Couché 150g/m2 Laminação Soft Touch, Verniz UV High Gloss

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SOBRE A COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS

Raras são as ocasiões em que conseguimos estabelecer uma associação clara entre causa e efeito. Quando o assunto é meio ambiente, então, isso torna-se bastante improvável. Apenas recentemente é que começamos a tomar consciência dos efeitos da degradação ambiental sobre a saúde humana, mas os custos sociais decorrentes dessa destruição ainda passam despercebidos por boa parte da sociedade. A exemplo, ainda que saibamos que faz mais sentido investir em medidas preventivas como saneamento básico do que tratar, mais tarde, os doentes em hospitais, pouco se promove nesse sentido. Será que o sentimento de culpa que temos por contaminar o meio ambiente nos torna incapazes de perceber os danos causados a nós mesmos? O título da coleção “O Mundo Que Queremos” pode sugerir ao leitor a existência de um mundo hipotético ideal, onde todos concordariam sobre como “as coisas deveriam ser”, e como sociedade e natureza poderiam conviver em harmonia. Ledo engano! O que os livros da coleção abordam são os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, realçando os múltiplos interesses, posições defendidas e visões de mundo subjacentes aos diversos atores sociais envolvidos com as questões apresentadas. A leitura e as atividades propostas despertam no leitor um olhar crítico sobre a realidade socioambiental do planeta, e o convida a buscar, a partir do diálogo e do consenso, soluções para as situações-problema propostas. O processo da busca por soluções consensuadas contribui para o desenvolvimento da capacidade de argumentação, escuta, reflexão e empatia entre os integrantes de um grupo social. E é a troca de ideias e


opiniões, com o justo confronto dos pontos de vista, o que permite aos participantes de um diálogo chegar a soluções. Trata-se de avançar na compreensão de que a superação dos desafios para a sustentabilidade depende da nossa capacidade de alcançar resoluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam muitos. A Coleção é composta por seis livros. Na primeira parte de cada um deles, são apresentadas descrições detalhadas sobre os principais temas ambientais do planeta Terra. Cada tema é retratado a partir de três perspectivas: características do meio biofísico, impactos da sociedade e aspectos pessoais, onde o leitor poderá se reconhecer como parte de uma cadeia de interações. Na segunda parte, são expostos conceitos e atividades que desenvolvem nos leitores a capacidade de colaboração e aprendizagem social para o momento em que forem trabalhar o livro de forma coletiva. Em cada volume é proposto um exercício em grupo baseado na dinâmica do Jogo de Papéis. Por meio desta atividade, os leitores podem colocar em prática os princípios do diálogo, desenvolver suas habilidades de comunicação, escuta ativa, argumentação, busca pelo consenso e colaboração. Desta forma, a Coleção “O Mundo Que Queremos” oferece o conteúdo e sugere um processo que leva as pessoas a ampliar sua capacidade de leitura crítica e de uma interpretação propositiva dos desafios colocados para uma sociedade sustentável, levando-as à ações responsáveis sobre o ambiente, sobre os outros e sobre elas próprias.


SUMÁRIO 06

PREFÁCIO

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E SE O AR ACABAR?

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COMO TUDO ISSO AFETA A NOSSA VIDA?

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DIÁLOGO E CONSENSO

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ATIVIDADES AUXILIARES

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PREFÁCIO POR PEDRO R. JACOBI

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Ao avançarmos na segunda década do século XXI, vive-se uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais e do conhecimento que sustentaram a modernidade, dominando a natureza e multiplicando a lógica de mercantilização e consumo planetários. A humanidade chegou, portanto, a uma encruzilhada que exige novos rumos para uma melhor reflexão sobre a cultura, as crenças, valores e conhecimentos em que se baseia o comportamento cotidiano, assim como sobre o paradigma antropológico-social que persiste em nossas ações, no qual a educação tem um enorme peso. Atualmente, os caminhos para uma sociedade sustentável são permeados de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência da sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. A coleção “O Mundo que Queremos”, representa uma oportunidade para compartilhar ideias e trajetos para o aperfeiçoamento das práticas em torno de temas socioambientais que fazem parte do nosso cotidiano, como o consumo da água, o tratamento dos resíduos e o lidar com a biodiversidade. A coleção contribui para construir e estimular processos de colaboração e interconexões entre pessoas, ideias e ações para multiplicar a disseminação de um conhecimento baseado em valores e práticas sustentáveis, indispensáveis para promover o interesse e o engajamento de cidadãos e cidadãs na ação e na responsabilidade social. Trata-se de uma abordagem que mostra como é possível superar o reducionismo, e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação e aos


preceitos éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos educadores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assuma o compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com as futuras gerações. Existe hoje o desafio de avançar uma nova forma de conhecimento, criando espaços de convivência que favoreçam mudanças de percepção e de valores, e que promovam um saber solidário e um pensamento complexo, aberto à possibilidade de construção e reconstrução coletiva num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação. Assim, o principal eixo de atuação da Educação para a Sustentabilidade deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. O que se fundamenta no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade, além de estimular a mudança de valores individuais e coletivos. A educação para a sustentabilidade e cidadania ambiental representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar os modos de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade. Em sintonia com as urgentes necessidades de mudanças da atualidade, a coleção “O Mundo que Queremos” contribui para a co-responsabilização acerca dos principais temas ambientais, estimulando iniciativas apoiadas em aprendizagem social, no diálogo e na participação. Ao destacar a ideia de Aprendizagem Social, ela cria a oportunidade para que os leitores ampliem seu conhecimento, fortaleçam os diálogos e estabeleçam laços de confiança e cooperação, a base de qualquer proposta que busque a amPedro Roberto Jacobi é professor Titular do Programa de Pós pliação da cidadania ambiental.

Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP) e editor da revista Ambiente e Sociedade (ANPPAS).

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COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS


No nosso dia a dia, são diversas as situações em que percebemos a presença do ar: no balanço dos galhos das árvores, gerado pelo vento que sopra forte, nas nuvens que vêm e vão, conduzidas pelas massas de ar, no balanço dos cabelos ao receber a brisa suave. Notamos também sua presença quando sentimos nossos pulmões encher e esvaziar. Vamos então fazer uma experiência? Respire fundo, encha os pulmões de ar. Agora, solte o ar lentamente até esvaziá-los. De pulmões vazios, pare a sua respiração pelo máximo de tempo que puder. Como você se sentiu? Conseguiu mesmo esvaziá-los? Quanto tempo foi capaz de ficar sem ar nos pulmões? Percebe como o ar que nos cerca é vital para a nossa existência? Que tal mais uma experiência? Imagine que você está no meio de uma floresta, onde o ar é puro e fresco. Respire profundamente. Sinta o ar entrando e saindo dos seus pulmões. Perceba como a respiração traz uma maravilhosa sensação de bem estar. Agora, imagine, que você está no centro de uma cidade, onde carros, caminhões e indústrias enchem o ar de fumaça. Respire profundamente. Sinta o ar poluído entrando pelas suas narinas, chegando aos seus pulmões. Como você se sente? Que efeitos esse gás sujo pode causar às suas vias aéreas, seus pulmões e ao seu corpo todo? Não precisamos pensar muito para dizer qual das duas últimas experiências foi a mais agrádavel. Neste livro, vamos conhecer um pouco melhor o ar que respiramos e porque é tão importante que todos colaborem com a sua preservação.

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O AR 12

Você provavelmente já deve ter nadado no mar, em uma piscina, no rio ou em um lago. Entretanto, poucos percebem que estamos também mergulhados em um imenso “oceano de ar”: a nossa atmosfera. A atmosfera terrestre é uma camada de gases que envolve a Terra e que é retida pela força da gravidade. É por causa dela que é possível haver vida em nosso planeta. Essa camada favorece a vida, absorvendo a radiação ultravioleta solar, aquecendo a superfície por meio da retenção de calor (efeito estufa), e reduzindo os extremos de temperatura entre o dia e a noite. Visto do espaço, o planeta Terra aparece como uma esfera de coloração azul brilhante. Um belo efeito de cor é produzido pela dispersão da luz solar sobre a atmosfera. Apesar de parecer quase infinita, a atmosfera é uma camada fina e muito delicada, especialmente se comparada à dimensão total do planeta. PARA FAZER A atmosfera é composta por várias caPesquise informações sobre a atmadas. Nós vivemos em uma dessas camosfera terrestre e responda: qual é o diâmetro do planeta Terra (em madas chamada de troposfera e é nela que quilômetros)? Qual é a espessura acontecem todos os fenômenos climáticos da atmosfera (em quilômetros)? conhecidos como chuvas, ventos, tornados, Agora, faça a seguinte conta: divigranizos, furacões etc. Além disso, a nossa da a espessura da atmosfera pelo diâmetro do planeta e depois mulatmosfera também funciona como um isotiplique o resultado por 100. A que lante térmico, ou seja, como se fosse um número você chegou? Esse número “cobertor de ar gigante” ao redor do planeta representa a porcentagem da ese que mantém as temperaturas dentro dos pessura de nossa atmosfera em relação ao diâmetro do nosso planeta. limites compatíveis com a vida.


Troposfera

Estratosfera

Mesosfera

Termosfera

Exosfera

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E DO QUE É FEITA A ATMOSFERA? A atmosfera terrestre é composta por diferentes tipos de gases. Ainda assim, ela é invisível aos nossos olhos. Ao respirarmos, colocamos para dentro de nossos pulmões uma mistura de gases, sendo que os principais são o Nitrogênio (N2) e o Oxigênio (O2). Vale lembrar que aqui não estamos considerando o vapor de água, que também é invisível aos olhos, e seu volume varia de lugar para lugar. Em uma floresta tropical, por exemplo, a quantidade de vapor 14 de água na atmosfera é enorme, enquanto no deserto, muito pequena. É justamente o volume do vapor no ar que nos dá a sensação de um ambiente “abafado” ou de um clima “seco”. Observando o gráfico ao lado, uma coisa nos chama a atenção: o gás Nitrogênio (N2) está presente em cerca de 78% em volume da nossa atmosfera. Apesar de se tratar de uma grande quantidade de gás, a maior parte dos PARA FAZER seres vivos não o utiliza diretamente. No nosso Se o planeta tivesse o diâmecaso, por exemplo, inspiramos os 78% de gás tro de uma laranja, qual seria a espessura da casca, adotando nitrogênio e expiramos os mesmos 78% de vola mesma proporção encontrata à atmosfera. Apesar disso, indiretamente, ele da no exercício anterior? Coné um gás muito importante. sidere, para efeito de compaOutro gás fundamental na nossa atmosfera ração, que a casca da laranja representa a atmosfera. do qual certamente você já ouviu falar, é o gás oxigênio (O2). A grande maioria dos seres vivos depende dele, pois dentro de todas as células dos seus corpos, o gás oxigênio participa de reações químicas para a produção de energia, fundamental para a atividade do organismo. Apesar da importância das plantas terrestres para a produção de gás oxigênio, a maior parte do O2 que respiramos neste exato momento, é produzida pelas microalgas (fitoplâncton) que vivem nas camadas superficiais dos oceanos.


Gás Oxigênio (O2)

Gás Nitrogênio (N2)

Gás Argônio (Ar)

Gás Dióxido de Carbono (CO2)

Outros gases


EFEITO ESTUFA

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O efeito estufa é um mecanismo natural do planeta Terra e que possibilita a manutenção da temperatura em uma média global de cerca de 15°C, o ideal para grande parte das formas de vida que habitam nosso planeta. Se não existisse o efeito estufa natural, a temperatura na Terra seria muito baixa, inviabilizando o desenvolvimento de grande parte das espécies vegetais e animais. Além disso, a radiação solar refletida pela superfície terrestre se perderia totalmente, o que faria com que a temperatura do planeta despencasse. Cerca de 50% da radiação solar que chega até a Terra, fica retida na nossa atmosfera devido à presença dos gases de efeito estufa (os GEE): vapor de água, dióxido de carbono, metano, clorofluorocarbonetos (os CFCs), óxido nitroso, entre outros. Porém, o agravamento desse efeito pode se tornar catastrófico, desestabilizando o equilíbrio energético (e térmico!) do planeta, originando outro fenômeno, conhecido como aquecimento global. O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), estabelecido pela Organização das Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988, diz que a maior causa do aquecimento global, observado durante os últimos 50 anos, se deve muito provavelmente a um aumento dos gases do efeito estufa na atmosfera.


CRIANDO SUA PRÓPRIA ESTUFA Que tal fazer sua própria estufa, para simular o efeito que a atmosfera exerce sobre a variação da temperatura? Você vai precisar de: fita adesiva, caixa de papelão (como uma caixa de sapatos), tesoura, sacos ou filmes plásticos transparentes, água, terra e um termômetro. A

Corte as quinas da caixa para formar abas. Deixe cerca de 40cm na base para que a caixa de papelão não desmonte. 17

B

Dobre as abas para fora e corte, no interior de cada uma delas, uma “janela”, deixando cerca de 2 cm de margem. Cole os sacos plásticos pela parte interna, cobrindo toda a abertura da janela.

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Fixe as duas abas, pela parte superior, com a fita adesiva. Corte-as dos lados menores como indicado na figura e, logo depois, fixe-as com a fita adesiva.

D

Disponha a terra levemente umedecida no interior da estufa. Insira o termômetro e deixe tudo em um local ensolarado. Acompanhe e registre a variação da temperatura e compare com a temperatura do lado de fora da estufa.


EVENTOS ATMOSFÉRICOS

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O estado da nossa atmosfera está em constante movimento e nós sentimos essas alterações literalmente “na pele”. As mudanças climáticas fazem com que a atmosfera fique quente ou fria, úmida ou seca, calma ou tempestuosa, limpa ou nublada. Trata-se de uma grande variedade de estados extremamente importante para o planeta, e nós a percebemos principalmente pelos fenômenos meteorológicos. Eles ocorrem devido às diferenças de temperatura, pressão atmosférica ou umidade entre uma massa de ar e outra. Na Terra, os eventos mais comuns incluem o vento, as nuvens, a chuva, a neve, o nevoeiro e as tempestades de areia. Há outros eventos menos comuns que, em geral, causam desastres naturais. São os tornados, ciclones tropicais (os furacões!) e tempestades de gelo. A maior parte dos eventos meteorológicos ocorre na troposfera, a camada mais baixa da atmosfera terrestre. Veja na sequência algumas curiosidades sobre os eventos atmosféricos.

Ventos: o vento é o ar em movimento. Ou seja, é o deslocamento dos gases atmosféricos que migram de regiões de alta pressão atmosférica para pontos em que a pressão é inferior. Na meteorologia, os ventos são expressos de acordo com a sua força e direção. Existem vários fatores que podem influenciar na formação do vento, fazendo com que este possa ser mais forte (como uma ventania) ou suave (como uma brisa). Pressão atmosférica, radiação solar, umidade do ar e evaporação influenciam diretamente nas características do vento. Em regiões mais altas, como no topo das montanhas, o vento costuma ser mais forte, pois não há interferências das construções. Toda essa movimentação do ar é importantíssima porque, entre outras coisas, facilita a dispersão dos poluentes e ajuda na formação das nuvens.


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Nuvens: quando a água evapora da superfície terrestre, se eleva e, com a altitude, começa a esfriar, ela se condensa formando gotículas que, juntas, formam as nuvens. De acordo com a temperatura, essas pequenas gotas d’água podem também se trasformar em minúsculos cristais de gelo que se formam em torno de núcleos microscópicos, geralmente compostos de poeira suspensa na atmosfera. As nuvens têm papel fundamental no ciclo da água no planeta pois “transportam” a água que evapora de uma área para outra. É importante lembrar que, já que as nuvens acumulam partículas da atmosfera, elas também podem transportar vapores industriais, fumaça, poeira e poluentes! E, como você sabe, é das nuvens que vem a chuva. Chuvas: quando as gotículas de água nas nuvens se acumulam e ficam pesadas demais para se sustentar, ocorre a chamada precipitação: a gota se desprende da nuvem e cai em direção ao solo. Chuva é como convencionamos chamar a água que cai em estado líquido, mas ela também pode vir na forma de granizo e neve, dependendo das condições de umidade, temperatura e pressão atmosférica na área. Neste ponto, você pode perceber como as chuvas têm papel fundamental no ciclo da água no planeta, são essenciais para inúmeros ecossistemas e também influenciam na sensação térmica do ambiente.


DESASTRES NATURAIS

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Um desastre natural é um grande evento adverso resultante de processos naturais da Terra como inundações, erupções vulcânicas, terremotos, tsunamis e deslizamentos. Um desastre natural pode fazer um enorme número de vítimas, causar danos materiais e, normalmente, deixa também prejuízo econômico significativo em seu rastro. Seja o evento geológico ou atmosférico, só se transforma em um desastre quando encontra uma população vulnerável em seu caminho ou quando afeta áreas de interesse humano. A gravidade e o tamanho do desastre depende da capacidade de resistência e recuperação da população afetada. Claramente, países mais pobres têm muito menos potencial econômico e material para se recuperar ou até mesmo se proteger de eventos naturais adversos. Veja na sequência alguns eventos que ocorrem em função de alterações na atmosfera, e que podem se transformar em desastres e tragédias de grandes proporções.


Ciclones, furacões ou tufões: são diferentes denominações para um mesmo fenômeno. Assim como qualquer chuvinha, o furacão se forma a partir da evaporação de água para a atmosfera. Óbvio que não é uma chuvinha qualquer: é uma mega tempestade, com verdadeiros “torós” que podem durar vários dias, e ventos que ultrapassam os 200 km/h. A evaporação de água também ocorre em grandes proporções, numa área de centenas de quilômetros e em condições especiais: sempre no meio dos oceanos, em regiões de águas muito quentes e de ventos calmos. Por isso, os furacões são fenômenos tipicamente tropicais. Em tais condições, forma-se uma região de baixa pressão atmosferica e se estabelece uma coluna de ar giratório que pode ter centenas de quilômetros de diâmetro. Tornados: o princípio do tornado é o mesmo do furacão. Ocorre quando uma região de baixa pressão favorece a formação de uma coluna de ar giratório. Porém, isso acontece no continente e não nos oceanos. A principal diferença entre os fenômenos está na sua intensidade e duração: os tornados têm diâmetro que raramente ultrapassa os 2 km, enquanto sua duração é tipicamente menor que 15 minutos. Embora seja menor e tenha curta duração, o tornado é bem mais destrutivo do que um furacão, já que seus ventos podem ultrapassar 500 km/h. Inundações: uma inundação pode ser o resultado de uma chuva que não foi suficientemente absorvida pelo solo e outras formas de escoamento, causando transbordamentos. Também pode ser provocada de forma induzida pelo homem através da construção de barragens e pela abertura PARA FAZER ou rompimento de comportas de represas. As Reúna alguns amigos e pesquiinundações podem também ocorrer em função se como se formam as regiões de baixa pressão atmosférica do derretimento da neve acumulada durante o onde ocorrem os furacões. O inverno em locais frios e úmidos, tais como reaquecimento do planeta altera giões montanhosas. o comportamento e as características desses fenômenos atmosféricos?

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CICLO DO NITROGÊNIO O NITROGÊNIO É ESSENCIAL PARA A VIDA: ELE ESTÁ NA COMPOSIÇÃO DAS PROTEÍNAS E DO DNA

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Os animais e as plantas não são capazes de absorver o gás nitrogênio diretamente do ar, mas alguns tipos de bactérias que vivem no solo e nos oceanos, possuem essa habilidade. Essas bactérias, chamadas de fixadoras, capturam gás nitrogênio do ar e o transformam em amônia (NH3), por meio da combinação com o gás hidrogênio, e então a liberam no solo e algumas plantas a absorvem diretamente. Outra classe de bactérias transforma a amônia em nitritos e em seguida em nitratos, que as plantas

usam para compor proteínas e material genético, o DNA. Finalmente, ao se alimentarem das plantas, os animais absorvem o nitrogênio e assim por diante na cadeia alimentar. Portanto, quando consumimos alimentos que contêm proteínas, estamos ingerindo o nitrogênio metabolizado por alguma planta. Este nitrogênio é então excretado retornando ao ambiente natural. É importante lembrar também que outras bactérias convertem o nitrato do solo em gás nitrogênio novamente, fechando o ciclo.


BACTÉRIAS NAS RAÍZES? CAPTURAR NITROGÊNIO É ESSENCIAL PARA QUE AS LEGUMINOSAS PRODUZAM PROTEÍNAS

Não é possível falar do Ciclo do Nitrogênio sem mencionar as plantas leguminosas. No Brasil, assim como em outros países, existe o costume de ingerir diversas espécies dessas plantas, como a soja, amendoim, feijão, lentilha, grão-de-bico e ervilha. Todas essas sementes são ricas em proteínas fundamentais para a nossa nutrição diária. As plantas leguminosas possuem, em suas raízes, nódulos (protuberâncias) onde se abrigam diferentes espécies de bactérias capazes de capturar o gás nitrogênio do ar e transformá-lo em substâncias que serão aproveitadas pela planta para fabricar proteínas. É por isso que as plantas le-

guminosas em geral são ricas em proteínas, como é o caso da soja, do grão-de-bico e dos feijões. É uma característica que permite às plantas leguminosas viver em solos que são pobres em compostos de nitrogênio. Isso porque elas se beneficiam do trabalho das bactérias. As bactérias acabam por ser úteis às plantas, mas também se favorecem do processo, pois recebem abrigo e também algumas substâncias orgânicas vindas da planta, importantes para a sua sobrevivência. Essa relação entre planta e bactéria é conhecida como mutualismo.

PARA REFLETIR

A natureza está repleta de exemplos do tipo “ganha-ganha” como o mutualismo, ou seja, uma interação entre espécies que se beneficiam reciprocamente da associação entre elas. Que outros casos de mutualismo na natureza você conhece? E na sociedade humana, você consegue identificar situações como essa?

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O AR E NÓS 24

Apesar de conhecermos relativamente bem a atmosfera terrestre e sua importância, não temos cuidado muito bem dela. Todos os dias, veículos, fábricas, queimadas, incineração de lixo e outras formas de combustão de material fóssil contribuem para a deterioração da qualidade do ar que respiramos. Todas essas atividades lançam na atmosfera gases poluentes e fuligem que, por sua vez, prejudicam, além de nós mesmos, outras formas de vida, interferindo nos ciclos naturais. Neste capítulo, veremos como nós próprios estamos nos relacionando com a atmosfera e as consequências de nossos atos sobre todos. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS As mudanças climáticas estão relacionadas ao aumento médio da temperatura do planeta, o que afeta a todos os seres vivos, independente da região em que vivem ou do grau de desenvolvimento dos países. A maior parte do aumento de temperatura observado é causada por concentrações crescentes de gases do efeito estufa, emitidos por atividades humanas como a PARA REFLETIR queima de combustíveis fósseis e o desmatamenVocê já ouviu falar que a to. Esses gases atuam obstruindo a dissipação do Amazônia é o “pulmão do mundo”? Essa afirmação é calor terrestre para o espaço. O relatório do Painel correta? Faça uma pesquiIntergovernamental das Nações Unidas para Musa para entender melhor danças Climáticas (UN-IPCC) de setembro de 2013 como ocorre a produção apresenta as seguintes constatações: e o consumo de gás oxigênio nas florestas tropicais.


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O aquecimento do planeta é evidente e, desde 1950, muitas das mudanças observadas apresentaram-se sem precedentes em décadas e milênios. A atmosfera e o oceano estão mais quentes, as quantidades de neve e gelo têm diminuído, o nível do mar se elevou e as concentrações de gases de efeito estufa aumentaram.

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As três últimas décadas foram sucessivamente mais quentes na superfície da Terra do que qualquer década anterior, desde 1850. No Hemisfério Norte, o período entre 1983 e 2012 foi, provavelmente, o intervalo de 30 anos mais quente dos últimos 1400 anos.

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O aquecimento dos oceanos lidera o aumento de energia acumulada no sistema climático, sendo responsável por mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e 2010. É altamente provável que o aquecimento da porção superior dos oceanos (00–0700m) tenha ocorrido entre os anos de 1971 e 2010.

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A taxa de aumento do nível dos mares a partir da metade do século XIX, foi mais alta do que a média observada durante os últimos dois mil anos. Entre 1901 e 2010, o nível médio global dos oceanos subiu 19 cm.

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As concentrações atmosféricas de CO2, metano e óxidos de nitrogênio aumentaram a níveis sem precedentes nos últimos 800 mil anos. A concentração de CO2 aumentou 40% desde o período pré-industrial, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis e, em segundo lugar, por mudanças no uso do solo, ocasionadas em grande parte pelo desmatamento e pelas queimadas. Os oceanos absorveram 30% do gás carbônico emitido pelo ser humano, causando a acidificação de suas águas.

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essas alterações podem ter um efeito muito prejudicial para os seres humanos, com o calor causando mais mortes e aumentando a pressão sobre serviços de saúde. Já o brusco aquecimento provoca uma maior incidência de chuvas, levando ao aumento de doenças como a dengue. Na infraestrutura, com incêndios e enchentes prejudicando construções. Na agricultura, com as mudanças nas chuvas e calor excessivo eliminando colheitas. Por fim, em ecossistemas naturais, com a extinção de espécies que não conseguem se adaptar às rápidas mudanças climáticas. Torna-se cada vez mais importante reduzirmos as emissões provenientes da queima dos combustíveis fósseis, pois, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, as emissões causadas pelo uso de todas as reservas de combustível fóssil do mundo levariam a mudanças sem precedentes no clima, tão severas que desafiariam a existência de nossa sociedade como a conhecemos hoje.

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ENERGIA EÓLICA A energia eólica tem sido aproveitada desde a antiguidade para mover os barcos impulsionados por velas ou para fazer funcionar a engrenagem de moinhos, movimentar suas pás. Nos moinhos de vento, a energia eólica constumava ser transformada em energia mecânica, utilizada na moagem de grãos ou para bombear água. Mais recentemente, a energia eólica passou a ser uma importante forma de se produzir energia elétrica sem poluir o meio ambiente, pois ela é renovável, está sempre disponível (desde que haja vento), pode ser produzida em qualquer PARA REFLETIR região, é limpa e não produz gases de O ar que respiramos é um bem coleefeito de estufa durante a produção, além tivo e, dessa forma, deve ser cuidado por todos, sem exceção. Entretanto, de não precisar de grandes áreas para ser ainda que todos dependam igualmenproduzida. Contudo, há críticas quanto te de uma boa qualidade do ar, você ao efeito causado pelas turbinas eólicas acha que pessoas pobres e ricas sona paisagem e ao ruído que emitem. frem as consequências da poluição atmosférica da mesma forma? Por quê?


MOBILIDADE E POLUIÇÃO DO AR O problema da poluição do ar é bem mais antigo do que se supõe. As primeiras preocupações com a qualidade do ar apareceram na era précristã. Devido ao uso do carvão como combustível, as cidades da época já tinham ares de qualidade abaixo do desejável. A situação veio se agravando durante os primeiros séculos depois de Cristo, quando os primeiros atos de controle de emissão de fumaça foram baixados na Inglaterra do final do século xiii, passando pela Revolução Industrial e 27 pelo crescimento das cidades. A poluição do ar tem sido, desde a primeira metade do século xx, um grave problema nos centros urbanos industrializados, com a presença cada vez maior dos automóveis, que vieram a somar, como fontes poluidoras, com as indústrias. Episódios de poluição excessiva causaram aumento do número de mortes em algumas cidades da Europa e EUA. O caso clássico, e mais grave, acerca dos efeitos prejudiciais dos poluentes do ar foi o acontecido em Londres. Durante o inverno de 1952, um episódio de inversão térmica impediu a dispersão de poluentes, gerados então pelas indústrias e pelos aquecedores domicilares que utilizavam carvão como combustível, e uma nuvem escura, composta principalmente por material particulado e enxofre (em concentrações até nove vezes maiores do que a média), permaneceu estacionada sobre a cidade por aproximadamente três dias. Durante as semanas seguintes, houve um aumento de quatro mil mortes em relação à média em períodos semelhantes. Atualmente, uma das principais fontes de poluição atmosférica e de gases de efeito estuPARA FAZER fa, especialmente nas grandes cidades, é a fuPesquise imagens que repremaça gerada pela enorme quantidade de carsentem o que são as mudanças climáticas. Retrate na forma de ros e outros veículos motorizados que utilizam um cartaz ou esquema como gasolina ou óleo diesel para circular. os gases estufa (gás carbônico, É o chamado grupo de combustíveis fósseis, metano, vapor de água, entre integrados, por exemplo, pelo carvão e pelo outros) têm alterado as temperaturas médias do planeta.


gás natural. São denominados assim porque o tempo necessário para a sua formação supera milhões de anos, resultante de um longo processo de decomposição de matéria orgânica, como restos de plantas e animais. Os combustíveis que utilizamos hoje foram formados há cerca de 65 milhões de anos. Eles são compostos basicamente por carbono e, ao serem queimados, liberam na atmosfera uma grande quantidade de gases poluentes como por exemplo, monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2). 28 Vale lembrar que o CO2 é considerado um dos principais gases poluentes responsáveis pelo aumento médio das temperaturas do nosso planeta. O processo, conhecido como aquecimento global, tem causado, segundo os cientistas, uma série de alterações climáticas por todo o planeta, como apresentamos anteriormente. Desde o início dos anos 2000, no Brasil, a compra de automóveis e motocicletas tem sido bastante facilitada, tanto pelo crédito mais barato quanto pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI. Isso reduziu o preço final e, consequentemente, aumentou o tamanho da frota de veículos no Brasil. Esse aumento da frota acontece por todo o país, desde o interior até os grandes centros. E esses grandes centros brasileiros apresentam, geralmente, transporte coletivo insuficiente para toda a população. Muitos PARA FAZER moradores apostam na ideia de que a Após a leitura do texto sobre rodízio na solução é ter o seu próprio carro para página ao lado, converse com colegas sobre como deveria ser uma nova estrair ao trabalho ou se divertir, ao invés de tégia para melhorar a fluidez do tráfego, reivindicar transportes públicos adepossibilitando também a melhoria na quados. O que resulta no aumento de qualidade do ar. Como sugestão, discuveículos nas ruas e tem comprometido tam sobre duas propostas: implantação de cobrança por pedágio urbano em muito a qualidade de vida das pessoas, áreas centrais para desincentivar o uso tanto pelo tempo perdido nos engarrado automóvel e a implantação de faixas famentos, quanto pela piora da qualiexclusivas de ônibus nas principais ruas dade do ar — o que, naturalmente, leva e avenidas da cidade, com penalização para automóveis que por elas circularem. a problemas de saúde.


RODÍZIO DE VEÍCULOS EM SÃO PAULO UMA PROPOSTA PARA DIMINUIR O TRÂNSITO E MELHORAR A QUALIDADE DO AR

O rodízio municipal de veículos de São Paulo, também chamado de Operação Horário de Pico pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), é uma restrição à circulação de veículos automotores na cidade de São Paulo. Implantado em 1997 com o propósito de melhorar as condições ambientais, através da redução da carga de poluentes na atmosfera, passou a diminuir o congestionamento nas principais vias da cidade nos horários de maior movimento. No entanto, os congestionamentos da cidade logo voltaram a piorar. O maior con-

gestionamento da história de São Paulo foi registrado no dia 14 de novembro de 2013, véspera do feriado prolongado da Proclamação da República, quando a cidade atingiu 309 km de lentidão, às 18h10. Hoje a situação é agravada pelo acelerado e contínuo crescimento da frota veicular, um reflexo do dinamismo econômico da cidade. Para mitigar os efeitos no trânsito e na qualidade do ar da cidade, a Prefeitura de São Paulo estendeu o rodízio para a circulação dos caminhões dentro do Centro Expandido, desde 30 de junho de 2008.

PARA REFLETIR

A China tem uma população de mais de um bilhão de pessoas. Qual a sua opinião a respeito da seguinte frase: “Todo cidadão chinês tem o direito de ter o seu próprio carro”?

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ETANOL O etanol (ou álcool etílico) é produzido em usinas a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho ou beterraba. Desde os anos 1970, o Brasil tem investido muito na produção do etanol, que é obtido, no nosso caso, a partir da cana-de-açúcar. O etanol é considerado uma fonte renovável de energia, por se originar de uma planta que pode ser produzida sempre que necessário. Já a gasolina e o diesel, obtidos a partir do petróleo, são fontes não renováveis de energia e 30 levam milhões de anos para ser geradas. Além disso, o etanol é considerado uma fonte de energia limpa, ou seja, que emite muito menos gases poluentes que os derivados do petróleo. O CO2 emitido pela queima de etanol, por exemplo, é reabsorvido pelo processo da fotossíntese, durante o crescimento das plantas de cana-de-açúcar que serão colhidas na safra seguinte. Por outro lado, a área destinada à produção de cana de açúcar para etanol fica indisponível para outros cultivos. E essa é justamente uma das críticas ao etanol e a outros biocombustíveis: usa-se a terra para produzir energia para veículos ao invés de alimentos para pessoas. Apesar de o etanol de cana-de-açúcar emitir até 82% menos gases poluentes, se comparado à gasolina, vale lembrar que, quando examinamos as vantagens e desvantagens de determinada fonte de energia, devemos considerar toda a cadeia produtiva. No caso do etanol, desde a plantação da cana até sua queima nos motores dos carros. Como vimos, os carros e demais veículos são alguns dos grandes responsáveis pelo comprometimento da qualidade do ar que respiramos. Apesar PARA FAZER disso, não cabe apenas aos usuários e Realize uma pesquisa sobre as motoristas encontrar soluções que visem vantagens e as desvantagens associadas à produção de etanol de caa melhoria da qualidade do ar. Governos, na-de-açúcar, a partir dos pontos de prefeituras, fabricantes de veículos autovista econômico, ambiental e social. motores, usuários, todos devem contribuir Anote suas descobertas e organize de alguma forma. uma mesa redonda na sala de aula sobre a questão do etanol no Brasil.


E COMO É PRODUZIDO O ETANOL?

31 1 Moagem: chegando na usina, a cana é lavada (para retirar terra e outras impurezas), picada em pequenos pedaços e depois moída. 70% da cana vira caldo e 30% bagaço — queimado para gerar energia na usina.

2 Garapa: da moagem, obtém-se o caldo da cana que contém um alto teor de sacarose. É deste açucar que as leveduras se alimentarão para produzir álcool. Este caldo ainda é filtrado para retirar mais impurezas.

3 Melaço: aquecendo a garapa se obtém uma solução que tem aproximadamente 40% de sacarose. Ou seja, menos água e mais açucar concentrado. A partir daí, é possível fabricar também o açucar mascavo.

4 Fermentação: nesta etapa, entram os micro-organismos, que vão se alimentar do açúcar presente no melado e liberar álcool, CO2 e calor. O resultado é o vinho fermentado (ou mosto), com 10% de álcool.

5 Destilação: a partir da evaporação e condensação, separa-se o álcool dos outros componentes do mosto. O resultado é o álcool hidratado, com apenas 4% de água, que será vendido nos postos de combustíveis.

6 Distribuição: o etanol é armazenado em tanques de grande volume. Lá ele aguarda até ser retirado por caminhões-tanque, que o transportam para as distribuidoras comercializarem o produto.


QUEIMADAS E DESMATAMENTO NO BRASIL

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A queimada é uma prática primitiva da agricultura, destinada principalmente à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de pastos. Contudo, o uso do fogo deveria ser empregado de forma racional, sem que pudesse sair do controle e causar incêndios em florestas, matas e grandes terrenos. O efeito mais notório da queimada é a destruição do meio ambiente. Na floresta amazônica, em agosto de 1988, foram queimados, por dia, cerca de mil quilômetros quadrados de mata, enquanto agricultores limpavam os terrenos para o cultivo. Na época, a poluição gerada pelas queimadas na Amazônia era estimada como equivalente ao lançado na atmosfera pela cidade de São Paulo nos últimos setenta anos. O Brasil está entre os cinco países com as maiores taxas de emissão de gases de efeito estufa, sendo que 61% das nossas emissões de gás carbônico são resultantes das queimadas e do desmatamento. Atualmente, a maior parte desse desmatamento acontece na Amazônia. Estima-se que mais de 18% da floresta já tenha sido derrubada e convertida em pastagens, plantações e áreas de ocupação humana, em especial vilarejos e pequenas cidades. A derrubada da floresta, assim como sua posterior queima, libera uma grande quantidade de compostos com carbono (como o gás carbônico), diretamente relacionados ao aumento das temperaturas do planeta. As queimadas em plantações também contribuem para o aumento da quantidade de gases estufa na atmosfera. O destaque verde escuro no mapa ao lado mostra a Amazônia Legal Brasileira, que compreende todos os estados da Região Norte, o Mato Grosso e boa parte do Maranhão. As áreas em vermelho mostram o desmatamento acumulado até o ano de 2012. É possível perceber o tamanho desse desmatamento se compararmos as áreas atingidas com as de outros estados do nosso país, como Goiás, que possui uma extensão territorial de cerca de 340 mil km2.


Fonte: Imazon, 2014.


CHUVA ÁCIDA

Coloque água (se possível destilada) no pote até a metade e adicione o papel tornassol. Acenda 3 fósforos ao mesmo tempo dentro do pote, tentando aprisionar a fumaça. Tampe rapidamente quando as cabeças dos fósforos queimarem. Depois, chacoalhe bem para que a fumaça e a água se misturem. O que aconteceu com o papel tornassol? Agora misture na água um pouco de giz moído. O que acontece com o papel tornassol? A que conclusões você chegou?

* Faça esse exercício na presença de um adulto.

Além dos gases estufa, a queima de combustíveis fósseis e vegetais libera na atmosfera óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SOx). Esses gases se dissipam na atmosfera e vão se combinar com a água presente nas nuvens, formando compostos ácidos como o ácido nítrico (HNO3) e o ácido sulfúrico (H2SO4). O acúmulo dessas partículas na atmosfera resulta na formação de chuvas ácidas. Vários estudos mostraram que a chuva ácida tem efeitos prejudi34 ciais às florestas, ao solo, aos corpos d’água (rios, lagos e mares) e à biodiversidade. O aumento da acidez da água, por exemplo, pode inibir o crescimento do fitoplâncton, conjunto de organismos fotossintePARA REFLETIR tizantes que vive nas camadas suAs medidas preventivas ao aquecimento perficiais dos corpos d’água, princiglobal e às mudanças climáticas também seriam úteis para reduzir as chuvas ácidas? palmente nos oceanos e compõe o grupo primário da cadeia alimentar. O prejuízo ao fitoplâncton espalhase por toda a cadeia alimentar aquática, incluindo os organismos herbívoros, carnívoros e onívoros que fazem parte deste ciclo. Para simular uma chuva ácida em casa*, você precisa apenas de um pote de vidro com tampa, papel tornassol e fósforos. O papel tornassol indica se determinado meio tem características ácidas ou alcalinas.


O AR E EU Quase todos os seres vivos empregam gás oxigênio num processo que libera energia para as suas atividades. Portanto, sem ele, a maiorias desses seres não conseguiria energia suficiente para se manter com vida. O processo que envolve a entrada de gás oxigênio em nossos pulmões e a saída de gás carbônico é chamado de respiração pulmonar. Dos pulmões, o O2 entra pela corrente sanguínea e é levado para dentro de estruturas microscópicas que formam o nosso corpo, as células. Nas células ocorre a respiração celular, onde o gás oxigênio combina-se com substâncias químicas do alimento (principalmente com a glicose) e libera energia. Além disso, produz-se também gás carbônico e água. Sabemos que o ar é essencial para a nossa sobrevivência no planeta. Mas, você já parou para pensar o quanto ele é um elemento importante para o nosso bem-estar físico e mental? Ainda não? Então, que tal refletir sobre essa questão e começar a praticar mais exercícios físicos e, especialmente, exercícios aeróbicos? Você não gosta de exercícios porque se cansa fácil? Pois é exatamente por isso, porque não os pratica. Exercícios aeróbicos são aqueles que temos condições de suportar por períodos mais longos, sem nos sentirmos desconfortáveis ou fatigados, com predomínio do sistema de produção de energia em que o gás oxigênio tem participação direta. Uma corrida, por exemplo, é uma atividade essencialmente aeróbica. Mas, claro, cada pessoa deve praticar a atividade no seu ritmo e intensidade. Nosso organismo possui vários sistemas ou fontes de obtenção de energia para garantir a atividade muscular. E para que essas fontes de

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energia possam ter duração maior, a presença e a correta utilização do gás oxigênio são fundamentais. Dependemos dessa forma de produção de energia para executar tarefas com grandes grupos musculares por um tempo considerável, sem chegarmos à fadiga. Durante os exercícios aeróbicos, nossos sistemas cardiovascular e respiratório trabalham harmoniosamente, garantindo um suprimento adequado de oxigênio aos músculos em atividade. À medida que os exercícios se tornam parte da nossa rotina, vamos melhorando nosso condicionamento físico e, também, o nosso organismo passa a utilizar o O2 com maior eficiência. Ou seja: quanto mais exercícios praticamos, melhor respiramos. E não se esqueça de realizar essas atividades aos poucos, aumentando o ritmo gradativamente, de maneira leve, prazerosa, mas também persistente, com disciplina e constância. Lembre-se, o objetivo aqui é cuidar do corpo e manter uma respiração correta, utilizando o ar da melhor maneira. Como comentamos, a respiração adequada potencializa o rendimento nas atividades físicas e quanto melhor for a qualidade do ar, mais eficaz será o trabalho dos pulmões. É importante sempre lembrar que a maneira mais correta de respirar é pelo nariz. Isso porque a respiração nasal aquece, umidifica, filtra o ar inspirado. A respiração e a mente estão intimamente ligadas. Ao controlar a respiração, você controla a mente que, imediatamente, se tranquiliza. O ioga é um exemplo clássico de exercício com a respiração: inspiração e expiração. Apenas respirarando corretamente, você já pode ter muitos beneficios para a sua saúde. Através dos exercícios respiratórios do ioga, é possível aumentar a entrada de gás oxigênio em seu corpo, o que faz com que você se sinta mais relaxado e revitalizado. Exercícios diários de respiração reduzem os níveis de ansiedade e estresse e ajudam no tratamento de uma série de doenças, por exemplo, possibilitando maior controle e redução da pressão arterial e ajudando a alcançar o equilíbrio das emoções. A respiração ideal deve ser mais lenta e profunda, com as pausas inspiratórias e expiratórias,


leve e natural. E o melhor de tudo isso: as técnicas de respiração e relaxamento podem ser praticadas a qualquer hora, em qualquer lugar. Depois de todas essas informações, você já sabe quais são os principais exercícios aeróbicos? Pois são aqueles que mais benefícios trazem ao nosso organismo, diminuindo a chance de morte por doenças cardiovasculares e por câncer, melhorando a qualidade e a expectativa de vida. Então, inspire e respire infinitas vezes e sinta como sua vida já está melhorando. Você pode praticar ioga, caminhar, nadar, pedalar, patinar, dançar, correr e, assim, cuidar da sua saúde. 37

PARA FAZER

Exercite a sua respiração. Com as costas retas, sentado com as pernas cruzadas ou em uma cadeira, feche os olhos e concentre-se em enrijecer e relaxar cada um dos grupos musculares por 3 segundos. Comece pelos pés e os dedos. Mova os joelhos, coxas, glúteos, peitoral, braços, mãos, pescoço, mandíbula e olhos… De forma lenta, mantenha profundas respirações. Se não conseguir… Inspire pelo nariz, segure a respiração por 3 segundos, relaxe os músculos tensos e expire pela boca. Com uma mão no peito e outra na barriga, respire fundo pelo nariz, garantindo que o diafragma (e não o peito) infle com ar suficiente para criar um estiramento nos pulmões.


SUA SAÚDE E A QUALIDADE DO AR NA CIDADE

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De acordo com dados recentes de saúde ambiental, na cidade de São Paulo, quatro mil pessoas morrem, por ano, vítimas de problemas relacionados à poluição do ar. Em comparação, morrem mil pessoas infectadas por AIDS e outras 500 por tuberculose. A poluição do ar, trata-se, portanto, de um problema de saúde pública. Mas, ainda que seja essencialmente um problema relacionado a políticas públicas, há coisas que nós podemos fazer para não ter a saúde tão afetada por essa degradação do ar. Veja algumas delas abaixo: 1

Preste atenção nos avisos sobre a qualidade do ar. No inverno, em especial, ele tende a ficar mais poluído à medida que aumenta a concentração de ozônio, material particulado e dióxido de nitrogênio, o que pode causar irritações nos olhos e garganta. As crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias, são os que sofrem mais. Nestes dias, evite fazer exercícios ou atividade física em ambientes externos.

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Não queime! A fumaça e fuligem causam sérios problemas respiratórios. Nunca coloque fogo em lixo, madeira tratada ou outro material pintado, pois você estará sendo responsável por emitir material químico que afeta a saúde humana. Adultos e crianças com problemas cardíacos, ou respiratórios, devem tomar cuidado e evitar ficar próximos a fumaça e outras fontes de poluição do ar.

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Use transporte alternativo, como caminhar ou andar de bicicleta. Exercitar o corpo leva a benefícios diretos para a saúde. Evitar o uso de transporte por automóvel ou mesmo ônibus, é uma maneira de contribuir para atenuar a poluição do ar.

E você, consegue imaginar outras formas de evitar essa poluição?


COMO TUDO ISSO AFETA A NOSSA VIDA? No exercício a seguir, propomos uma atividade que ajudará a compreender melhor os dilemas relacionados às mudanças climáticas e seus efeitos. Você e seu grupo poderão utilizar as metodologias do Diálogo e do Jogo de Papéis descritas no final desse livro. As mudanças climáticas são, talvez, o maior desafio enfrentado pela humanidade atualmente. E a situação deve permanecer assim até que uma solução seja alcançada, conjuntamente, por todos os países. Sabemos que não é um assunto de fácil resolução. Os países industrializados argumentam que o grupo de nações em desenvolvimento já é o maior emissor de gases de efeito estufa. Por sua vez, os países em desenvolvimento alegam que estão sofrendo as consequências da poluição gerada pelos países ricos. Na zona de confronto, estão ainda os países mais pobres e os insulares, que sofrem as consequências das decisões dos demais. Muito pouco se avançou em negociações até agora, e um esforço coordenado será necessário se quisermos evitar o pior. Leia o texto a seguir e pense a respeito das mudanças climáticas. Ele servirá como ponto de partida para a atividade principal.

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Os gases que provocam o efeito estufa atingiram, em 2013, um pico histórico de concentração, o que prejudica a atmosfera e os oceanos. O alerta foi feito pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), agência ligada à ONU. A taxa de aumento do dióxido de carbono atmosférico entre 2012 e 2013 também representou o maior avanço em ritmo anual do período 1984-2013. Segundo o boletim, a concentração de CO2 na atmosfera chegou a 396^ppm (partes por milhão). Isso significa um aumento de 142% em relação ao nível pré-industrial, enquanto os níveis dos gases metano e óxido nitroso estão, respectivamente, 253 e 121% maiores do que os níveis na atmosfera em 1750. Com isso, a capacidade da Terra em absorver o efeito estufa ao invés de dispersá-lo aumentou 34% desde 1990. A OMM afirmou que o recorde de 2013 no aumento da concentração de CO2 na atmosfera ocorreu pela menor capacidade do planeta em absorvê-lo. Atividades humanas, como a exploração de combustíveis fósseis, desmatamentos e o aumento da

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bilhões de toneladas de co2 emitidos

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acidez nos oceanos são alguns dos motivos. A agência também declarou que a capacidade dos oceanos de absorver gases é 70% menor que na era pré-industrial. E podem perder outros 20% até o final do século. A maior quantidade de gases nos oceanos “tem um impacto de grande alcance”, pois contribui para a acidificação, prejudicial para os ecossistemas marinhos e, por extensão, para a pesca e o turismo. Esse ritmo de acidificação não tem precedentes nos últimos 300 milhões de anos. O documento foi publicado pouco antes da reunião do clima de 23 de setembro de 2014, em Nova York, convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para preparar as negociações de 2015 em Paris, onde os países esperam alcançar um acordo histórico que entraria em vigor em 2020. No gráfico abaixo, nota-se que as emissões globais de CO2 aumentaram 50% desde 1992, o que fez com que a concentração desse gás na atmosfera se elevasse em 11%. As emissões globais de dióxido de carbono mais do que dobraram nos últimos 40 anos.

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2 01 0 2 01 1 2 01 2

2 00 0

1 99 0

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0

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Fonte: texto adaptado de Portal Terra (Clima). Gráfico: Netherlands Environmental Assessment Agency, 2014.

CONCENTRAÇÃO DE CO₂ ATINGE O SEU MAIS ALTO NÍVEL EM 4 MILHÕES DE ANOS


NEGOCIANDO O CLIMA Muitas reuniões, encontros e cúpulas com a presença de chefes de Estado, cientistas, jornalistas e representantes de organizações não governamentais, têm acontecido para que se avance nas negociações cujo desafio é chegar a um acordo global sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa. Apesar dos avanços nos diálogos, a comunidade internacional ainda não foi capaz de construir um consenso sobre o problema. Um dos inúmeros empecilhos para se chegar a um acordo é a posição assumida pelos diversos países com relação à responsabilidade pelo problema, como já foi dito anteriormente. Os países em desenvolvimento afirmam que os industrializados são os responsáveis por boa parte das emissões geradas até hoje, e portanto, são eles que devem arcar com a maior parte do custo. Os países industrializados, por sua vez, dizem que são os em desenvolvimento que irão crescer muito nas próximas décadas e isso aumentará consideravelmente as suas emissões de gases efeito estufa, e portanto, também devem “pagar parte dessa conta”. Como vemos, não é uma situação fácil de ser resolvida. Para entender melhor toda essa controvérsia, um observador neutro participou da Reunião Internacional sobre Mudanças Climáticas, também conhecida como COP (Conferência das Partes), e que ocorreu em 2013 na Polônia. Lá, ele pode entender melhor o problema, as posições e os pontos de vista dos principais países envolvidos nas negociações sobre mudanças climáticas. Veja alguns dos pontos obervados por ele: 1

As mudanças climáticas estão relacionadas ao aumento médio da temperatura do planeta, o que afeta a todos os seres vivos, humanos ou não, independente da região em que vivem ou do grau de desenvolvimento do país. A responsabilidade de oferecer os encaminhamentos necessários para a solução dos problemas também deve ser de todos — tanto dos países ricos quanto dos em desenvolvimento.

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Para enfrentar a situação caótica, é necessário que seja reduzida a quantidade de gás carbônico e gás metano lançados na atmosfera, de forma a evitar que o aumento da temperatura média do planeta ultrapasse os 2°C. Mas, cada país ou grupo de países (industrializados, em desenvolvimento e os menos desenvolvidos) têm uma posição sobre como essa meta deva ser alcançada.

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O gráfico abaixo mostra as emissões globais de CO2 per capita provenientes do uso de energia (combustíveis fósseis, principalmente) global e também de alguns países e regiões. A partir de 1980, as emissões de CO2 per capita nos EUA e na União Europeia caíram 14% e 19%, respectivamente, enquanto as emissões per capita na China e Índia aumentaram em 325% e 240%. O aumento das emissões, nessas nações, se acelerou rapidamente na última década. Além disso, as populações dos países em desenvolvimento e também dos menos desenvolvidos estão crescendo muito mais rápido do que nas nações desenvolvidas.

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A China é atualmente o maior emissor mundial de CO2, e as emissões combinadas da China, Índia e de outros países em desenvolvimento, estão aumentado em um ritmo muito mais rápido do que aquelas provenientes dos Estados Unidos, União Europeia e outros países desenvolvidos.

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Crise econômica mundial

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EUA

Toneladas C02 / Pessoa / Ano

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UE China 5

Mundo Índia África

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010


ENCONTROS DE NEGOCIAÇÃO Com base nessas informações, dividam-se em grupos, sendo que cada um irá representar um grupo de países, ativistas e lobistas. O objetivo deste exercício é chegar a um consenso sobre quanto e como cada país irá se comprometer para reduzir emissões de gases do efeito estufa. Para solucionar as controvérsias, foram estabelecidos encontros de negociação, nos quais apenas os países têm poder de decisão, por tratarse de uma conferência oficial da ONU. Entretanto, os representantes das nações envolvidas são influenciados tanto pelos lobistas quanto pelos ambientalistas. Veja a seguir um pouco mais sobre eles: Grupo 1: Países desenvolvidos EUA, Canadá, União Europeia , Escandinávia, Japão, Rússia e outros da Europa Oriental e ex-Repúblicas da União Soviética, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia. Nosso objetivo é alcançar o melhor resultado possível para as nações que representamos. A maior parte da população em nossos países acredita que as mudanças climáticas estejam acontecendo, e que a atividade humana contribua significativamente para isso. A maioria das pessoas entende ser necessário chegar a um acordo sobre o que cada um pode fazer para mudar a situação. No entanto, se opõe a mais impostos sobre a energia ou outras ações que venham a aumentar o custo de vida. O assunto “mudanças climáticas” é uma das últimas prioridades dos eleitores. Com as nossas economias ainda fracas, há cada vez mais receio de que impor um limite às emissões possa prejudicar a nossa competitividade, afetando as empresas e os trabalhadores. Qualquer acordo que nos imponha um maior ônus econômico para limitar as mudanças climáticas, não será politicamente aceitável.

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Grupo 2: Países em rápido desenvolvimento China, Índia, África do Sul, México, Brasil e Indonésia

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A ciência indica que os riscos das mudanças climáticas são reais e graves. Nossas nações buscam negociar um acordo global para reduzir as emissões e os efeitos do aumento dos gases de efeito estufa (GEE) que podem limitar os riscos, mas buscam o melhor resultado para as economias e interesses nacionais vitais. Além dos benefícios ambientais, entendemos que um acordo para limitar as mudanças climáticas traria também alguns benefícios adicionais para nossos países, como por exemplo, ampliar as negociações comerciais com as nações desenvolvidas e a possibilidade de financiamento para a promoção de um desenvolvimento limpo, com menor utilização de combustíveis fósseis. As nossas economias estão crescendo rapidamente, e estamos nos estabelecendo como potências globais. No entanto, o padrão de vida médio em nossos países ainda é muito inferior ao dos EUA, Europa e outras nações desenvolvidas. Nossa prioridade é o desenvolvimento econômico. O nosso povo, assim como as pessoas de outros lugares, também deseja viver em um meio ambiente saudável, mas também quer ampliar a qualidade de vida. Um país salutar inclui ter os meios para prover emprego, moradia, alimentação, acesso a serviços de saúde, mobilidade e segurança nacional.


Grupo 3: Países menos desenvolvidos Bangladesh, Paquistão, sudeste da Ásia, as nações mais pobres da América Central e do Sul, a maioria das nações Africanas, as nações insulares do Pacífico, Oceano Índico, e no Caribe, e grande parte do Oriente Médio. Entendemos que as mudanças climáticas existem e que a atividade humana contribui significativamente para isso. Também compreendemos que, os países menos desenvolvidos serão os mais afetados pela mudanças climáticas: o aumento do nível do mar irá deslocar centenas de milhões de pessoas nos nossos países e alguns outros territórios poderão simplesmente desaparecer. Muitos de nossos povos vivem na pobreza e são vulneráveis à seca, doenças, inundações, quedas nos rendimentos agrícolas e destruição ecológica. Não temos o capital necessário para mitigar nossas emissões ou nos adaptarmos às mudanças climáticas. Chegar a um acordo que limite os efeitos das mudanças no clima é fundamental para o nosso futuro, mas há pouco o que podemos fazer, pois contribuímos com uma pequena fração do total global de emissões. Como todos os países, também queremos viver em um ambiente saudável, mas sofremos ainda com a grande pobreza. Em nossas nações, um ambiente saudável significa ter o que comer, vestir e abrigar suas famílias, ter uma oportunidade de trabalho, e estar livre de malária, dengue, cólera e outras doenças há tempos erradicadas nos países ricos. Os países desenvolvidos querem colocar uma forte pressão sobre nós para reduzirmos as emissões porque nossas populações estão crescendo mais rápido do que a deles. Eles temem que o desenvolvimento econômico e o crescimento em nossos países possam destruir o meio ambiente do planeta. Assim, querem usar um acordo climático global para retardar nosso crescimento e nos impedir de, finalmente, desfrutar a prosperidade que eles já têm. No entanto, as emissões de poluentes per capta nos países ricos são muito maiores que nos pobres. Os EUA emitem 12,5 vezes mais do que a Índia, por exemplo. Acordos que nos obriguem a diminuir o desenvolvimento, pagar mais caro pela energia, ou construir cara infraestrutura poderão causar revoltas.

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Grupo 4: Ativistas ambientais

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Estamos participando da conferência da ONU sobre mudanças climáticas para defender o meio ambiente e promover a justiça social para as gerações atuais e futuras. Nosso objetivo é promover um acordo que seja o mais restritivo possível e com aplicação imediata. A melhor ciência disponível mostra que os riscos das alterações do clima são reais e graves. Devemos começar a reduzir as emissões globais imediatamente ou, em breve, será tarde demais para evitar danos graves tanto para a humanidade quanto para outras espécies. Como de costume, os pobres e as gerações futuras vão sofrer de forma desproporcional. Felizmente, a população da maioria dos países acredita que as mudanças climáticas sejam uma realidade, e que a atividade humana contribua significativamente com isso. No entanto, sabemos que a maioria dos cidadãos irá se opor à políticas que aumentem o custo de energia à base de carbono. O assunto “mudanças climáticas” é um dos menos importantes entre as prioridades das pessoas. As prioridades são a economia e o emprego. Nosso objetivo é promover uma reunião com os negociadores para influenciá-los sobre a necessidade de ação urgente. Enfatizamos como a ciência confirma a necessidade de redução de emissões, mas sabemos que iremos enfrentar a resistência de muitos setores. Muitos governos não querem limitar o crescimento da indústria de combustíveis fósseis, que tem um forte poder político e inclui algumas das empresas mais rentáveis do mundo. São interesses de poucos que têm tido sucesso em confundir o público, utilizando a mesma estratégia que a indústria do tabaco, que lança dúvidas sobre a ciência, dizendo ou “que não sabe o suficiente sobre o assunto”, ou “que os riscos estão exagerados”. Nosso argumento, como ativistas ambientais, é de que a redução das emissões de GEE vai criar empregos e fortalecer as economias do mundo, estimulando o investimento e o emprego em energia e tecnologias verdes, aumentando a eficiência. Desejem-nos boa sorte, pois o futuro do planeta depende do nosso sucesso!


Grupo 5: Lobistas da Indústria de Combustíveis Fósseis Fomos contratados para representar os interesses da indústria de combustíveis fósseis nas próximas negociações das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Nosso objetivo é impedir que se chegue a um acordo para limitar o uso de combustíveis fósseis, ou pelo menos enfraquecer e adiar qualquer ação. Nossa indústria não pode mais argumentar que as mudanças climáticas não estejam acontecendo. Tais argumentos não são mais críveis, tendo em vista o imenso conhecimento científico acumulado pelo IPCC e outros cientistas. Ao invés disso, seguimos a estratégia utilizada com sucesso pela indústria do tabaco: lançamos dúvidas sobre a ciência. Temos realizado uma ação interligada de relações públicas e campanha de mídia para sugerir que existe, sim, uma incerteza, da qual os cientistas discordam, e que os riscos apontados por eles são exagerados. Devido, em parte, aos nossos esforços, o público permanece confuso sobre a real existência das mudanças climáticas e o papel que a atividade humana exerça sobre as mesmas. A crise econômica mundial tem sido a nossa maior aliada, já que a alta taxa de desemprego significa que os esforços de ambientalistas radicais para limitar a criação de postos de trabalho não têm sido eficazes. Mas não podemos relaxar. À medida que a economia se recupere e o desemprego caia, as pessoas podem, mais uma vez voltar sua atenção para a preservação ambiental. Nossos argumentos são sempre de que a sociedade deve esperar e ver se a mudança climática vai passar a ser prejudicial para a economia, e só então tomar medidas para limitar as emissões. Também argumentamos que a legislação para redução das emissões de gases de efeito estufa irá aumentar o preço da gasolina e energia em geral e que o crescimento econômico em desaceleração aumentará o desemprego, prejudicando os consumidores, os trabalhadores e os pequenos empresários, que são “o coração e a alma” da economia. Desejem-nos sorte, pois o bônus depende do nosso sucesso.

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CONSENSO OU NÃO?

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Os Encontros de Negociação do Clima entre os países membros da ONU buscam aprofundar o debate a respeito das mudanças climáticas e produzir um consenso referente ao esforço que cada país fará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Qual é o compromisso que cada um deles assumirá ao final da reunião? Apesar de representarem países com realidades bastante diferentes, seja por aspectos econômicos ou culturais, e com visões às vezes opostas em relação ao tema, é importante que haja diálogo entre as lideranças. O que se busca é o consenso, considerando os interesses também de ativistas ambientais e lobistas da indústria de combustíveis fósseis. Caso os envolvidos nesse debate não consigam chegar a um acordo, uma nova roda de conversa será marcada até que todos encontrem uma solução conjunta. Mas não há tanto tempo assim para desperdiçar. Os termômetros estão subindo e a temperatura na sala de reuniões — e no planeta — também se elevará!

A descrição dos perfis dos grupos foi adaptada de World Climate: Negotiating a Global Climate Agreement using the C-ROADS Climate Policy Simulation, do Profº John Sterman, MIT Sloan School of Management.


diรกlogo e consenso


á se tornou sabedoria popular a importância da comunicação para a superação de impasses. Entretanto, o que se nota é que, em muitas ocasiões, grupos de pessoas se encontram em condição de conflito, não por discordar a respeito de uma determinada situação, mas porque são incapazes de perceber aquilo com que concordam. O diálogo é uma forma pela qual os atores sociais envolvidos em impasses podem estabelecer conversas significativas, ou seja, que permitam o surgimento de alternativas capazes de superar — ou evitar — situações de conflito, chegando assim ao consenso. O diálogo é um melhor caminho para o consenso do que o debate, pois permite que cada cidadão exponha as suas ideias, levando a uma convergência entre os participantes, das suas percepções sobre os significados dos problemas. Isso acontece porque somente o diálogo possibilita que indivíduos exponham seus pontos de vista acerca das questões sociais. Quando as pessoas conseguem sair do nível das posições defendidas e chegam ao patamar das concepções de mundo que trazem consigo, ampliam-se as possibilidades de consenso. Uma troca de pontos de vista que se traduz em novos conceitos, valores, crenças e ideias que, por sua vez, se transformam conforme são expostos. É no espaço da livre troca de impressões e argumentos que as pessoas têm a oportunidade de aprender, ou seja, de transformar a si mesmas a partir de influências e reflexão. Só assim, é que poderão chegar a consensos.

J

A02

Diálogo ou Discussão? Um diálogo verdadeiro não é um embate de ideias e pontos de vista, com um grupo fazendo de tudo para convencer o outro a mudar de visão ou de opinião para que uma posição prevaleça. O diálogo verdadeiro acontece quando as pessoas escutam atentamente a opinião dos outros e estão abertas para mudar seus pontos de vista. É somente quando estamos abertos para ouvir interpretações diferentes das nossas e, eventualmente mudar de opinião, que se


chega a acordos para soluções efetivas e duradouras. Se a solução for imposta por um grupo, quem foi “vencido” na discussão ficará contrariado e provavelmente desistirá de participar do processo. Mas sabemos que manter um diálogo construtivo não é tarefa simples. É mais fácil tentarmos convencer o outro a fazer as coisas “do nosso jeito” do que criarmos alternativas que atendam aos interesses de todos, ainda que parcialmente. Somente quando as soluções propostas satisfazem aos interesses de todos é que se chega a um consenso. A03

debate Há um espírito de “ganhar ou perder”: é um embate de ideias e posições.

discussão

Diálogo

Troca de argumentos sem necessariamente se aprofundar no tema ou chegar a um consenso.

Mais sintonizado com o pensamento e com as preocupações do grupo.

Jogo de Papéis A atividade coletiva proposta nos livros desta Coleção, é um Jogo de Papéis, ou seja, um tipo de dinâmica onde os jogadores interpretam um personagem, criado dentro de um determinado cenário ou ambiente. A técnica permite aos jogadores se colocarem em situações de tomada de decisão similares às reais, permitindo a aprendizagem em relação ao tema abordado, possibilitando a observação das atitudes dos jogadores e a discussão do resultado de suas ações.


Preparando o grupo para o jogo de papéis Antes de iniciar o Jogo de Papéis, é importante que um participante seja escolhido para organizar o funcionamento da sessão. Esta pessoa será chamada de “mediador”, assim como nos debates políticos da televisão. Se o jogo for promovido entre um grupo de alunos, o papel de mediação pode ser assumido pelo professor responsável. O mediador deverá criar um espaço seguro para que os participantes possam se expressar aberta e livremente, removendo as desigualA04 dades de poder ou posição que possam existir no grupo. É fundamental que o grupo perceba o ambiente como um lugar aberto e acolhedor para se expressar sem medo de críticas ou ridicularização. Você já esteve em situações em que não se sentiu à vontade para expressar a sua opinião? Então podemos dizer que aquele não era um ambiente propício para um diálogo construtivo. Também é papel do mediador encorajar novos pontos de vista sem rotulá-los. A troca de opiniões, e não o convencimento, é o que se busca. Para tanto, o mediador deve conceder a palavra e organizar as falas. É muito importante que esta pessoa dê voz a todos, de forma democrática e em igualdade. Ela é responsável por estipular um tempo para a sessão, sinalizando ao grupo quando o término estiver próximo. Após a definição do mediador e da apresentação das regras do diálogo, os grupos devem ser formados. Cada grupo irá representar um dos atores sociais envolvidos no caso que vimos neste livro e terá determinado tempo para apresentar suas ideias e pontos de vista, assim como estar aberto para ouvir as posições dos demais. O objetivo do Jogo de Papéis é estabelecer o diádica importante logo entre todas as partes envolvidas da forma mais O Jogo de Papéis pode democrática e séria possível, buscando uma solução durar de 2 a 3 horas. Considere a possibilidaconsensuada para a questão apresentada. de de dividir a atividade Para que isso aconteça, converse com os demais em dois encontros: um integrantes do grupo sobre cada ator social que será para preparo dos grurepresentado, troquem impressões e façam anotapos e pesquisa e o outro para a sessão coletiva.


ções. Para que suas opiniões não fiquem simplesmente no terreno da fantasia, vocês poderão fazer uma pesquisa sobre casos reais, levantando pareceres de especialistas e apresentando números e estatísticas. Somente com informações concretas, será realmente possível defender os seus argumentos de forma objetiva. Sem informações que embasem os seus pontos de vista, a discussão ficará no “achismo”. Por outro lado, lembrem-se que um mesmo fato ou informação pode ter mais de uma interpretação. Para definir melhor o perfil do ator social que vocês irão representar, respondam: A05 • • • • • •

Quem eu sou e o que eu faço? Quais as coisas que eu mais valorizo? Quais são as minhas reais necessidades? Até que ponto estou disposto a mudar de opinião? De que eu abriria mão? De que eu não abriria mão?

Técnicas para a promoção do diálogo Para ajudar o grupo a chegar a um consenso, vamos apresentar algumas técnicas. Sim, há técnicas para se alcançar o consenso! A Pare de falar e escute atentamente o que os outros estão dizendo. Não vá logo pensando em como irá confrontar o ponto de vista do outro. Antes, pare, escute. O que você concorda naquilo que o outro falou? Com o que você não concorda? B Não interrompa os outros participantes enquanto eles estiverem falando. Controle a ansiedade e aguarde a sua vez. C Se coloque no lugar dos outros participantes, tentando visualizar os problemas por eles enfrentados, buscando compreender a sua visão de mundo, sua linguagem e seus valores.


D Demonstre e aja com verdadeiro interesse. Não disperse a sua atenção enquanto os outros falam. E Procure o significado nas entrelinhas das falas dos outros. O que eles estão querendo dizer, mas que não foi verbalizado, foi omitido ou não explicado? Pergunte a respeito disso.

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F Foque em fazer apenas comentários construtivos. Resista à tentação de criticar, replicar ou estigmatizar uma fala assim que ela for proferida. Guarde os seus comentários para o momento em que o contexto tiver se alterado, que é quando a crítica poderá ser feita ao tema ou assunto e não à pessoa que fez o comentário. G Observe o comportamento não verbal, como linguagem corporal, para perceber o que foi “dito” mas não foi falado. H Não fique com dúvidas. Você realmente entendeu o que o outro quis dizer ou está supondo que entendeu? Verifique se a sua compreensão está correta por meio de perguntas que comecem com frases como “estou certo em admitir que você(s)…”. Investigue também, por meio de perguntas, por que ele acha que a posição por ele apresentada é a melhor. I Exponha seu ponto de vista de forma clara e objetiva, para que todos entendam por que você está defendendo determinada posição. Lembre-se de demonstrar a todos quais são as suas reais necessidades e como a posição que você está defendendo atende a isso. Apresente sua perspectiva com frases do tipo “nosso ponto de vista está baseado no fato de que…” . J Explore coletivamente soluções criativas e que não apareceram antes. Não fique preso apenas ao que você já sabe sobre os outros grupos. Faça perguntas do tipo “as suas necessidades ainda seriam atendidas se, ao invés da sua solução, fizéssemos…?”.


Desenvolvimento do Jogo de Papéis Após cada grupo ter elaborado o perfil dos respectivos atores sociais e respondido às perguntas citadas, inicia-se a sessão de diálogo. O mediador apresenta novamente o dilema em questão, certificando-se de que todos entenderam o entrave, como serão conduzidas as falas e a duração prevista para a atividade. Não é necessário estipular um tempo máximo para cada fala, pois isto pode limitar a qualidade das conversas. Por outro lado, não queremos sessões de monólogos e se não houver bom senso por parte de quem fala, o mediador tem o direito de pedir a palavra. O papel do mediador é promover, por meio do questionamento, a expressão dos diversos pontos de vista, explorando as possibilidades e interesses comuns à medida em que estes vão se revelando. É importante que o grupo explore as oportunidades de consenso a partir das necessidades de cada ator social. Muitas vezes, as conversas estagnam em torno das posições defendidas, sem que se aprofundem para o campo das necessidades. Passar do campo das posições para o das necessidades permite ao grupo criar ou visualizar oportunidades inexploradas. A imagem do iceberg, ilustrada ao lado, representa bem a diferença entre posições, interesses e necessidades de cada pessoa. As posições divergentes são como as pontas de um iceberg, sobressalentes na superfície da mar. Assim como é impossível visualizar o restante do iceberg, escondido abaixo da linha d’água, muitas vezez não somos capazes de identificar com precisão quais são os reais interesses de nossos interlocutores, pois nos atemos à superficialidade de seus argumentos,

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e não ao que vai em seu íntimo, aquilo que gostariam verdadeiramente de comunicar. Nos atemos somente à parte mais visível. Mais profundas ainda que os interesses, estão as necessidades do grupo ou indivíduo. Um diálogo só é produtivo quando cria uma ampla gama de alternativas para o posicionamento dos atores envolvidos. Discussão e Aprendizagem sobre o jogo de papéis

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As questões abaixo devem ser utilizadas como guia para uma conversa em grupo sobre o processo e os resultados alcançados durante a sessão de diálogo. Um dos integrantes, ou o professor, pode mediar esta conversa, sempre passando a palavra a todos os participantes. Sobre os resultados • Houve consenso? Em caso afirmativo, vocês consideram sustentável o acordo ou o consenso a que o grupo chegou? O que pode garantir que esse tipo de acordo se mantenha? • Todos os atores sociais tiveram as suas necessidades atendidas? • Foi possível assegurar ganhos mútuos, ou seja, situações de “ganha-ganha”, nas quais ninguém perde? O que pôde garantir isso? • Foi possível fortalecer os relacionamentos entre os participantes? Em outras palavras, vocês estariam dispostos a negociar com essas pessoas novamente? E, será que estas pessoas teriam interesse em negociar com vocês outra vez? Sobre a representatividade • Os interesses e necessidades fundamentais de todas as partes foram bem representados? • Vocês acreditam que poderiam realizar este tipo de negociação e diálogo de grupo em uma situação real? O que precisa ser superado para que o diálogo funcione em situações reais?


• Há grupos de atores sociais que não estavam presentes, mas que poderiam ter afetado o resultado do consenso? Como o grupo poderia ter considerado as preocupações destes atores sociais? Sobre a negociação e a construção do consenso • Foram formadas coalizões? Quais? Estes acordos ajudaram a construir o consenso ou a bloqueá-lo? • Como o grupo chegou ao consenso? Tratou um ponto de vista de cada vez ou abordou o problema de uma forma completa? • Algum ator social ficou insatisfeito com o resultado? Como o grupo lidou com isso? Sobre o processo • Quais foram as principais fontes de incerteza que surgiram no decorrer do processo e como vocês lidaram com elas? • Como as informações foram obtidas? Elas foram compartilhadas? O grupo foi capaz de criar soluções criativas? Quem propôs estas soluções e por quê? • Como o grupo lidou com as diferenças dos valores morais apresentadas por cada ator social? • O poder dos atores sociais interferiu no resultado final do diálogo? • Como o grupo lidou com as diferenças de poder e informação? Como vemos, o diálogo não é apenas uma série de técnicas destinadas a melhorar a comunicação, chegar a um consenso ou resolver um problema. Durante o processo de diálogo, pessoas aprendem a pensar juntas. Não apenas analisam um problema ou criam coletivamente, mas constroem uma sensibilidade comum na qual os pensamentos, emoções e ações resultantes não pertençam a apenas um indivíduo, mas a todo o grupo.

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Atividades auxiliares A10

As atividades que descrevemos neste capítulo podem ser realizadas antes que o Jogo de Papéis seja iniciado, pois, servirão como uma espécie de “aquecimento” e irão ampliar as possibilidades de consenso. Conhecendo outras perspectivas Quanto mais perspectivas sobre a questão central do projeto a equipe levar em consideração, maiores serão as possibilidades de se chegar a um consenso e construir uma ação coletiva. Em situações complexas, é importante que você tenha uma compreensão holística, ou seja, respeite o todo, levando em consideração as partes envolvidas e suas interrelações. Uma compreensão construída a partir das múltiplas perspectivas dos diversos atores sociais, permite que você possa tomar decisões informadas e relevantes. Ser capaz de identificar e compreender o ponto de vista das diversas partes envolvidas é um aspecto fundamental para um agente de mudança. Sua capacidade de “ver o mundo através de outros olhos” irá impactar diretamente a forma como você toma decisões. O nome que se dá a isso é empatia. Em uma folha de papel disposta sobre o chão, ou em uma mesa, desenhe um diagrama como o da figura a seguir. No centro da roda, exponha o desafio principal enfrentado pelo grupo do diálogo. Nas áreas


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ao redor do centro, anote os nomes dos grupos de atores sociais, ou seja, aqueles que estão interessados ou envolvidos na questão central (você poderá, por exemplo, usar os nomes e as ocupações dos personagens sugeridos para o Jogo de Papéis proposto neste livro). Cada participante deverá se posicionar no “pedaço da pizza” com o nome do ator social que ele representa. Cada pessoa, na sua vez, dirá com suas próprias palavras qual o seu entendimento do problema, a partir da perspectiva de quem ela representa. Sua fala, neste momento, não deverá ser uma interpretação, mas sim estar baseada em fatos extraídos dos textos de apoio e pesquisas. As conversas não


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precisam durar mais do que um minuto e a pessoa que fala não deve ser interrompida. Para deixar a atividade ainda mais interessante, os participantes podem trocar de lugar, assumindo o papel de um outro ator social, tendo assim contato com um ponto de vista diferente sobre o tema. Como conclusão do exercício, o grupo chega a um insight para cada ator social. Um insight tem a ver com aquilo de mais significativo que foi expressado por cada ator social, e que ajudará a construir uma solução ao desafio colocado. Este exercício e os seus resultados visam levar a uma melhor compreensão das múltiplas perspectivas que possam existir sobre um mesmo problema. Jogos Psicodramáticos A dramatização é uma ferramenta de grande valor quando se trata de incentivar a aprendizagem. É um método de intervenção social e pesquisa das relações interpessoais, em grupo ou/e individualmente, e um poderoso agente de transformação. Ao favorecer a vivência da experiência do grupo, recria modelos de relacionamento, e a percepção das diferenças individuais de opinião, sentimentos e emoções, servindo para aprofundar a consciência dos valores. Tornando-se ao mesmo tempo autor, jogador e observador, cada indivíduo participa do jogo através do movimento e da espontaneidade, o que promove atuação livre de todos, estimulando a criatividade na produção dramática e na catarse. Os únicos requisitos para a dramatização são: espaço, tempo, grupo de indivíduos e tema. O objetivo destes jogos é praticar o diálogo e a cordialidade, e observar o contexto nas diversas dimensões em que se apresentam. O tempo de duração varia de acordo com o planejamento do grupo. Para desenvolver a atividade são necessários materias para anotações. Adereços como roupas e cenário podem ajudar, mas não são indispensáveis.


Organização do Jogo 1 O coordenador propõe um tema central como, por exemplo, "Uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade". 2 Os participantes podem atuar de diferentes formas: como um único grupo, como subgrupos que representarão diferentes aspectos da questão ou ainda divididos entre atores e plateia. 3 Os participantes criam o roteiro coletivamente e distribuem as funções e papéis. 4 Os atores representam seus respectivos papéis. Seguindo o exemplo acima, os personagens podem ser: o prefeito, a moradora, o catador de recicláveis, o empresário de limpeza urbana, o diretor de uma ONG, um pai de família que vive no lixão etc. 5 Depois da dramatização, é dado um tempo para que atores e espectadores percebam o que aprenderam. 6 Após esse tempo, o coordenador inicia a discussão final em que levanta tanto o que foi conscientemente verbalizado, quanto aquilo inconscientemente revelado através da dramatização. A Dramatização de uma Cena Distinguem-se, no desenvolvimento da ação psicodramática, três momentos de importância singular. A primeira fase, o aquecimento, é quando o grupo se prepara. Os participantes desenvolvem um tema e, com o afloramento de um protagonista, dá-se início a um segundo momento: a representação propriamente dita, ou seja, a cena dramática. Aqui ganham importância os coadjuvantes, que serão os encarregados de encenar os personagens ao contracenarem com o prota-

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gonista, com outros personagens reais ou fantasiosos, sempre com atenção para os aspectos dos atores do jogo, símbolos de seu mundo etc. A terceira fase é o compartilhamento, o retorno do protagonista, momento em que o grupo compartilha seus sentimentos e vivências, reflete sobre tudo o que foi acontecendo a cada personagem durante a cena, bem como as ressonâncias que ela produziu. Coleta de Perspectivas A14

Os participantes da atividade devem anotar as impressões, perspectivas e opiniões de cada um dos grupos retratados no psicodrama. Para organizar a coleta de informações, é necessário registrar a palavra, frase ou expressão considerada mais significativa na representação de cada um dos grupos/personagens. Veja o exemplo na próxima página: os personagens do psicodrama discutem sobre “uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade”. Imagine uma situação em que um bairro tradicional de uma cidade de médio porte se transforma em um ponto de encontro e entretenimento, com muitos bares, casas de shows e restaurantes, dividindo o espaço com os moradores. Reflexão Ao final da encenação e da coleta de perspectivas, o grupo deve se juntar para refletir e argumentar sobre o aprendizado coletivo. Veja alguns questionamentos que podem ser feitos neste momento: • Como foi participar ou assistir a atividade? • Qual foi a parte mais difícil? E a mais fácil? • Quais insights e feedbacks foram adquiridos através do jogo?


Almir Simões, o fiscal da prefeitura

Minha função é fiscalizar, multar quando for preciso e fazer cumprir a lei. Pelo que tenho visto nos últimos dias, esse bairro está muito barulhento! Jucélia Leal, a moradora do bairro

Está insuportável! Os bares e restaurantes não respeitam os moradores e fazem barulho até altas horas da madrugada. Chega! Mauro Sá, músico que se apresenta na região

O bairro é muito bom para os músicos. Com os shows que fazemos nos bares daqui, sustentamos nossas famílias. O bairro é o nosso “ganha-pão”. Marta Leite, proprietária de uma casa de shows

As pessoas que frequentam os bares querem se divertir! Empregamos muita gente e movimentamos toda a economia dessa região. Zeca Vieira, o diretor da Associação do Bairro

O bairro está dividido entre os moradores e os empresários. Precisamos chegar a uma solução que beneficie a todos. Aqui, um depende do outro. Jô Américo, vereador que propôs a Lei do Silêncio

Barulho tem limite. Vamos aumentar a fiscalização e tentar acabar com toda esta bagunça aqui! Em breve teremos uma lei específica para isso.

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BIA Monteiro é graduada em Psicologia pela PUC-SP e pós‑graduada em Psicologia Social na Boston University. Trabalhou durante muito tempo na área educacional e, nos últimos anos, tem se dedicado ao estudo do potencial humano participando de cursos em diversos países. Em 1997, fundou a Evoluir, uma organização dedicada a promover uma nova forma de ensinar e aprender, seja na escola, em casa ou em qualquer espaço de convivência e que, por meio de publicações, eventos e projetos, leva a público a discussão de diferentes temas. Edson Grandisoli é Biólogo, Ecólogo e Consultor em Educação e Sustentabilidade. Nas últimas duas décadas tem se dedicado à sala de aula e elaboração de coleções didáticas e paradidáticas. Há 11 anos, é Diretor Pedagógico da Escola da Amazônia, projeto do terceiro setor em Educação para a Conservação e Sustentabilidade. Atualmente, colabora com diferentes escolas no desenvolvimento e implementação de projetos em Educação e Sustentabilidade, tema de seu doutoramento pelo Programa de Ciência Ambiental da USP. Fernando Monteiro é graduado em Agronomia pela ESALQ/USP e doutorado em Ciência Ambiental pela USP, com estudos sobre Aprendizagem Social. Foi diretor de redes e comunicação do LEAD International, em Londres, entre 2007 e 2009, e pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP–Procam. É educador e acredita que a aprendizagem profunda acontece por meio de experiências transformadoras. É sócio-fundador da Evoluir.

Samuel Rodrigues é ilustrador. Desde pequeno gosta de desenhar, simplesmente por gostar de desenhar. Aprendeu observando o mundo e praticando, aperfeiçoando os traços, “gastando” a mão e o olhar. Ilustra para livros, revistas, publicidade e jornais. Além disso, também desenha nas horas vagas.



Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-045-5 VENDA PROIBIDA

projeto

patrocínio

realização

COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  E SE O AR ACABAR?

o nosso dia a dia, são diversas as situações em que percebemos a presença do ar: no balanço dos galhos das árvores gerado pelo vento que sopra forte, nas nuvens que vêm e vão conduzidas pelas massas de ar, e no balanço dos cabelos ao receber a brisa suave, quando sentimos nossos pulmões encherem e esvaziarem. Vamos conhecer mais sobre o ar que respiramos e porque é tão importante que todos colaborem com a sua preservação?

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir


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