Coleção O Mundo que Queremos
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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.
ISBN 978-85-8142-046-2 VENDA PROIBIDA
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patrocínio
realização
COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS ÁGUA PARA TODOS?
água é um elemento fundamental à vida e deve ser cuidada por todos. Sem ela, a vida não prospera, assim como não existe nenhuma espécie de ser vivo que não dependa dela para sobreviver. Certo? Então imagine você e todas as coisas desidratadas no planeta, como uma uva-passa. Assustador, não é mesmo? Neste livro, vamos aprofundar a discussão sobre o uso racional da água e sua disponibilidade para consumo na Terra.
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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues
evoluir
COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS
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S? ua p aRa toDo
bia monteiro • edson grandisoli • fernando monteiro ilustrações de samuel rodrigues
Evoluir, 2014 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009.
Coleção Título original Volume Autores Ilustrações Coord. Editorial Design gráfico Revisão
O Mundo Que Queremos Água para todos? 4 de 6 Bia Monteiro, Edson Grandisoli e Fernando Monteiro Samuel Rodrigues Fernando Monteiro e Uriá Fassina Uriá Fassina Fernanda K Soifer e Lilian Rochael
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Bia Água para todos? / Bia Monteiro, Edson Grandisoli, Fernando Monteiro ; ilustrações Samuel Rodrigues. -- 1. ed. -- São Paulo : Evoluir Cultural, 2014. -- (Coleção o mundo que queremos) 1. Água - Literatura infantojuvenil 2. Cidadania 3. Desenvolvimento sustentável 4. Educação - Finalidades e objetivos 5. Meio ambiente I. Grandisoli, Edson. II. Monteiro, Fernando. III. Título. IV. Série. CDD-370.115
14-09435 Índices para catálogo sistemático 1. Educação sustentável
370.115
ISBN deste livro ISBN da coleção
978-85-8142-046-2 978-85-8142-042-4
Fontes Impressão Tiragem Papel miolo Papel capa Acabamento capa
Whitney e Brandon Grotesque Prol (Diadema–SP) — novembro de 2014 4 mil exemplares Polém Bold 90g/m² Papelão 18 revestido por Couché 150g/m² Laminação Soft Touch, Verniz UV High Gloss
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Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional Evoluir · FBF Cultural Ltda. Rua Aspicuelta, 329 · São Paulo-SP · CEP 05433-010 · (11) 3816-2121 evoluir@evoluircultural.com.br · www.evoluircultural.com.br
soBre a coLeÇÃo o muNdo Que QueremoS
Raras são as ocasiões em que conseguimos estabelecer uma associação clara entre causa e efeito. Quando o assunto é meio ambiente, então, isso torna-se bastante improvável. Apenas recentemente é que começamos a tomar consciência dos efeitos da degradação ambiental sobre a saúde humana, mas os custos sociais decorrentes dessa destruição ainda passam despercebidos por boa parte da sociedade. A exemplo, ainda que saibamos que faz mais sentido investir em medidas preventivas como saneamento básico do que tratar, mais tarde, os doentes em hospitais, pouco se promove nesse sentido. Será que o sentimento de culpa que temos por contaminar o meio ambiente nos torna incapazes de perceber os danos causados a nós mesmos? O título da coleção “O Mundo Que Queremos” pode sugerir ao leitor a existência de um mundo hipotético ideal, onde todos concordariam sobre como “as coisas deveriam ser”, e como sociedade e natureza poderiam conviver em harmonia. Ledo engano! O que os livros da coleção abordam são os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, realçando os múltiplos interesses, posições defendidas e visões de mundo subjacentes aos diversos atores sociais envolvidos com as questões apresentadas. A leitura e as atividades propostas despertam no leitor um olhar crítico sobre a realidade socioambiental do planeta, e o convida a buscar, a partir do diálogo e do consenso, soluções para as situações-problema propostas. O processo da busca por soluções consensuadas contribui para o desenvolvimento da capacidade de argumentação, escuta, reflexão e empatia entre os integrantes de um grupo social. E é a troca de ideias e
opiniões, com o justo confronto dos pontos de vista, o que permite aos participantes de um diálogo chegar a soluções. Trata-se de avançar na compreensão de que a superação dos desafios para a sustentabilidade depende da nossa capacidade de alcançar resoluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam muitos. A Coleção é composta por seis livros. Na primeira parte de cada um deles, são apresentadas descrições detalhadas sobre os principais temas ambientais do planeta Terra. Cada tema é retratado a partir de três perspectivas: características do meio biofísico, impactos da sociedade e aspectos pessoais, onde o leitor poderá se reconhecer como parte de uma cadeia de interações. Na segunda parte, são expostos conceitos e atividades que desenvolvem nos leitores a capacidade de colaboração e aprendizagem social para o momento em que forem trabalhar o livro de forma coletiva. Em cada volume é proposto um exercício em grupo baseado na dinâmica do Jogo de Papéis. Por meio desta atividade, os leitores podem colocar em prática os princípios do diálogo, desenvolver suas habilidades de comunicação, escuta ativa, argumentação, busca pelo consenso e colaboração. Desta forma, a Coleção “O Mundo Que Queremos” oferece o conteúdo e sugere um processo que leva as pessoas a ampliar sua capacidade de leitura crítica e de uma interpretação propositiva dos desafios colocados para uma sociedade sustentável, levando-as à ações responsáveis sobre o ambiente, sobre os outros e sobre elas próprias.
Sumário
06
prefácio
08
água para todos?
12 A Água 14
Água por todos os lados
16
acesso à água potável
16
Reciclagem Natural
18 A água e nós 18
Usos da água
20
Impermeabilização do solo
21
Assoreamento dos rios
22
Desperdício
23
Contaminação
25 A água e eu 27 Como tudo isso afeta a nossa vida? 28
Impasse em Pacífica
anexos A01 diálogo e consenso A03 Jogo de Papéis A10 Atividades auxiliares A10 Conhecendo outras perspectivas A12 Jogos Psicodramáticos
preFácio por pedro r. Jacobi
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Ao avançarmos na segunda década do século XXI, vive-se uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais e do conhecimento que sustentaram a modernidade, dominando a natureza e multiplicando a lógica de mercantilização e consumo planetários. A humanidade chegou, portanto, a uma encruzilhada que exige novos rumos para uma melhor reflexão sobre a cultura, as crenças, valores e conhecimentos em que se baseia o comportamento cotidiano, assim como sobre o paradigma antropológico-social que persiste em nossas ações, no qual a educação tem um enorme peso. Atualmente, os caminhos para uma sociedade sustentável são permeados de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência da sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. A coleção “O Mundo que Queremos”, representa uma oportunidade para compartilhar ideias e trajetos para o aperfeiçoamento das práticas em torno de temas socioambientais que fazem parte do nosso cotidiano, como o consumo da água, o tratamento dos resíduos e o lidar com a biodiversidade. A coleção contribui para construir e estimular processos de colaboração e interconexões entre pessoas, ideias e ações para multiplicar a disseminação de um conhecimento baseado em valores e práticas sustentáveis, indispensáveis para promover o interesse e o engajamento de cidadãos e cidadãs na ação e na responsabilidade social. Trata-se de uma abordagem que mostra como é possível superar o reducionismo, e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação e aos
preceitos éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos educadores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assuma o compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com as futuras gerações. Existe hoje o desafio de avançar uma nova forma de conhecimento, criando espaços de convivência que favoreçam mudanças de percepção e de valores, e que promovam um saber solidário e um pensamento complexo, aberto à possibilidade de construção e reconstrução coletiva num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação. Assim, o principal eixo de atuação da Educação para a Sustentabilidade deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. O que se fundamenta no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade, além de estimular a mudança de valores individuais e coletivos. A educação para a sustentabilidade e cidadania ambiental representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar os modos de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade. Em sintonia com as urgentes necessidades de mudanças da atualidade, a coleção “O Mundo que Queremos” contribui para a co-responsabilização acerca dos principais temas ambientais, estimulando iniciativas apoiadas em aprendizagem social, no diálogo e na participação. Ao destacar a ideia de Aprendizagem Social, ela cria a oportunidade para que os leitores ampliem seu conhecimento, fortaleçam os diálogos e estabeleçam laços de confiança e cooperação, a base de qualquer proposta que busque a amPedro Roberto Jacobi é professor Titular do Programa de Pós pliação da cidadania ambiental.
Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP) e editor da revista Ambiente e Sociedade (ANPPAS).
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água para todos?
COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS
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Imagine você desidratado. Não só um pouquinho, mas totalmente, assim como uma uva-passa. Imagine agora se todas as coisas também estivessem desidratadas. Uma “bananeira-passa”, um “cachorro-passa”, “seres-humanos-passa”… Que horror! Agora, imagine um “planeta-Terra-passa”… Rapidamente podemos perceber que um mundo sem água é inviável. A água é um elemento fundamental à vida e deve ser cuidada por todos. Sem ela, a vida não prospera. Na verdade, não haveria vida tal qual a conhecemos hoje se não houvesse água. Observe com atenção a imagem da próxima página. Você conhece esse planeta? O que mais lhe chama a atenção nele? Agora faça uma experiência: feche os olhos e coloque o dedo sobre a figura. Não vale olhar! Em que região do nosso planeta seu dedo parou? Faça esse exercício por algumas vezes mudando seu livro de posição. Quantas vezes seu dedo parou na água e quantas foi parar em parte de terra? Que conclusões você consegue tirar desta rápida experiência?
para pensar
Apesar de grande extensão do nosso planeta estar coberto por água, apenas uma pequena parte dela é própria para consumo. Este mapa mostra a quantidade de água disponível nos continentes: podemos constatar facilmente que a distribuição não é uniforme. Cerca de 10 países detêm 60% das reservas de água no mundo.
Fonte: Facts and Trends — Water, 2005 (World Business Council for Sustainable Development)
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Neste mapa, o azul mais escuro representa as ĂĄreas que possuem maior disponibilidade hĂdrica.
A Água
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De acordo com os cientistas, a vida surgiu na água e não existe nenhuma espécie de ser vivo que não dependa dela para sobreviver. Cerca de 2/3 da Terra é coberta por água e nós, seres humanos, também temos uma grande quantidade de água em nosos corpos. É fácil perceber que a questão da água é muito importante. Ela está em todos os lugares da Terra, até mesmo nos desertos mais secos. Olhe ao seu redor e visualize o planeta como um todo: onde existe mais água?
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Tudo tem água! Veja nestes gráficos quanto cada coisa possui de água. Você consegue imaginar que 90% de uma alface seja pura água!? E quantos quilos de água há no seu corpo?
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O Deserto do Atacama, no norte do Chile, é considerado um dos lugares mais secos do mundo.
O Deserto do Kalahari fica no sul da África, e tem cerca de 900.000 km² de extensão, distribuídos por Botswana, Namíbia e África do Sul.
Água por todos os lados
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A água está mesmo em todos os lugares. A maior parte nos oceanos, mas também nos rios, lençóis de água subterrâneos, nos lagos e lagoas. E, quanto aos pólos norte e sul, estão cobertos de geleiras feitas de quê? De água, muita água, mas em estado sólido. Há água até mesmo nos locais em que não podemos observá-la. Saiba que, neste exato momento, você está cercado por um oceano de água invisível. Mas, fique tranquilo: não irá se afogar! A água presente ao seu redor encontra-se na forma de vapor, que é invisível aos olhos. Apesar de estar em todos os lugares, a água é considerada um bem extremamente precioso e deve ser utilizada com cautela. Isso não lhe parece estranho? Se há tanta água por aí, por que eu devo economizá -la? Boa pergunta! Vamos investigar por quê?
Imagine que toda a água existente no planeta Terra coubesse em um copo de 200 mL, ou seja, o copo em que você normalmente bebe a sua água. Destes 200 mL, cerca de 194 mL (97% do líquido do copo) equivaleria a toda a água salgada do nosso planeta. Como todos sabemos, não é possível beber essa água, pela presença de grande quantidade de sais. O que sobrou no copo? Somente 6mL, ou seja, algumas gotas. Destes 6mL que sobraram, 4mL representariam todas as geleiras, ou seja, a água em estado sólido e que se concentra principalmente nos pólos norte e sul do planeta. Dos 2mL que restaram, somente cerca de 1,2mL representaria as águas superficiais e a parte da água subterrânea que o ser humano é capaz de utilizar no seu dia a dia. Os outros 0,8mL representariam a umidade escondida no solo e a água presente na atmosfera. Acho que depois de saber disso tudo, você deve ter ficado com sede…
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acesso à água potável
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Os relatórios da ONU repetem o diagnóstico sempre alarmante: mais de um bilhão de pessoas (14% da população mundial!), não têm acesso a uma quantidade mínima aceitável de água potável, ou seja, água segura para o uso humano. Se nada mudar no padrão de consumo, no ano de 2025, dois terços da população do planeta (o que equivalerá a 5,5 bilhões de pessoas) poderão não ter acesso à água limpa. E, em 2050, apenas um quarto da humanidade vai dispor de água para satisfazer as suas necessidades básicas. Trazendo isso para uma realidade mais próxima, seria o mesmo que dizer que, se a sua sala de aula tem 40 alunos, oito deles, hoje, não teriam água em condições próprias para beber. E, em 2050, já seriam 27, entre os seus 40 colegas, que não disporiam de água potável. O que você acha que poderia acontecer em uma situação como essa? Reciclagem Natural Na natureza nada é desperdiçado. Todo o material orgânico presente nas plantas, nos animais, nos protozoários e algas, nos fungos e nos micro-organismos, por exemplo, é reaproveitado graças à ação dos organismos conhecidos como decompositores, que reciclam todo esse material. Com a água não é diferente. A Terra recicla continuamente a água entre os oceanos e os continentes por meio da evaporação e escoamento; a distribui na forma de chuva, rios, neve, riachos, mananciais, e a armazena em lençóis subterrâneos, lagos, geleiras, nuvens, florestas etc. A quantidade de água presente na natureza é exatamente a mesma desde sempre. O planeta não fabrica novas quantidades de moléculas de H2O todo mês. O que acontece é que a água circula em diferentes estados e, a esses movimentos, damos o nome de Ciclo da Água. Observe a ilustração a seguir. Por que o ciclo da água é tão importante para os seres vivos do nosso planeta?
Apesar de sabermos que a água e seu ciclo são fundamentais para a vida na Terra, o ser humano tem alterado muito a dinâmica natural de toda essa movimentação, o que tem trazido grandes desequilíbrios. Não há quem não conheça ou já não tenha estado presente em uma situação na qual a água tenha causado algum tipo de problema ou transtorno. Uma enchente, a sensação de sede, uma inundação, um temporal ou até mesmo um cano quebrado. Como você pode perceber, a relação entre nós e a água, apesar de fundamental para a vida, não é isenta de obstáculos e desafios. 17 Precipitação Das nuvens vêm as chuvas, o granizo e a neve.
Condensação O vapor de água forma as nuvens.
Absorção Parte da água das chuvas é absorvida pelas plantas.
Escoamento Parte escoa pela superfície, abastecendo rios, lagos e oceanos.
Evaporação A água dos rios, lagos e mares evapora.
Transpiração A transpiração das plantas libera vapor de água.
Infiltração Outra parte da água proveniente das chuvas se infiltra no solo, formando os lençóis subterrâneos.
A água e nós 18
Desde a irrigação até a geração de energia produzida pela força das marés, a água sempre ocupou um papel fundamental no desenvolvimento da civilização. Entretanto, os avanços proporcionados por novas tecnologias, as formas de uso e ocupação do solo e a própria utilização da Para refletir água têm, em sua maioria, causado efeiNo mundo, o segmento que mais utilitos indesejados, ou seja, de alto impacto za água é a irrigação, para a produção sobre a qualidade e quantidade de água de alimentos. E é um fato que a humanidade precisa produzir mais alimendisponível. Vamos conhecer alguns destos para a população crescente. Assim, ses impactos mas, antes disso, é bom precisamos irrigar as plantações mas, sabermos como estamos utilizando nesse processo, uma grande quantiaquele que é um dos mais importantes dade de água é perdida. Qual é a sua sugestão para resolver o impasse? recursos naturais para a vida na Terra.
Usos da água O Brasil, conhecido como o “país das águas”, é um lugar privilegiado, pois guarda em seu território cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Apesar disso, a água é um recurso esgotável e deve ser utilizado por todos com muita responsabilidade. O maior uso da água no mundo ainda está na produção de alimentos, seguida pelo consumo industrial e doméstico.
Fontes: (1) Facts and Trends — Water, 2005 (World Business Council for Sustainable Development). (2) waterfootprint.org. (3) Aquastat — fao.org/nr/aquastat
Quanta água? Tudo o que consumimos exige uma quantidade de água para ser produzido. Veja quanto de água é necessário para se produzir um quilo destes alimentos:
896= 15.415 L • CARNE BOVINA 605= 10.412 L • CARNE OVINA 348= 5.988 L • CARNE SUÍNA 252= 4.325 L • CARNE DE FRANGO 59= 1.020 L • LEITE 145= 2.497 L • ARROZ 106= 1.818 L • SOJA 97= 1.667 L • CEVADA 71= 1.222 L • MILHO 65= 1.110 L • TRIGO
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175= 3.015 L • AZEITONA 46= 790 L • BANANA 33= 560 L • LARANJA 17= 287 L • BATATA 12= 214 L • TOMATE 1000= 17.196 L • CHOCOLATE 276= 4.745 L • LEITE EM PÓ 185= 3.178 L • QUEIJO 108= 1.849 L • MACARRÃO 104= 1.782 L • AÇÚCAR E como usamos a água? O consumo e a destinação dos recursos hídricos dos países também estão ligados ao nível de desenvolvimento de cada nação. Observe o comparativo abaixo: por que será que países mais pobres destinam pouca água para a indústria?
agricultura indústria uso doméstico
30+59+11m 82+108m 55+1728m 70m+822 11%
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Países desenvolvidos
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países em desenvolvimento
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Impermeabilização do solo
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Por que será que os quintais têm que ser azulejados ou cimentados? Por que não ter um jardim com árvores frutíferas e ornamentais? Trata-se de uma simples mudança doméstica que permitiria que a água da chuva retornasse ao solo, para depois ser utilizada pelas plantas e, finalmente, realimentar o lençol subterrâneo. Quando a água não infiltra no solo, ela segue para o sistema de drenagem das cidades, causando enchentes. A impermeabilização do solo também ocorre fora das residências, como é o caso das ruas asfaltadas, estradas de rodagem, estacionamentos a céu aberto e toda superfície capaz de impedir que a água infiltre na terra. Como são os espaços de convivência da sua escola? Há mais área impermeabilizada ou existe lá um jardim considerável? É possível aumentar a área verde do pátio? E se há um abundante jardim, por que não cultivar lá também uma horta?
Assoreamento dos rios A retirada da vegetação ao longo das margens dos rios, além de ser considerada crime ambiental, compromete a qualidade da água. Sem vegetação protetora, a terra fica solta e tende a ser levada pelas chuvas para dentro do leito do rio, tornando-o gradativamente mais raso e provocando o transbordamento. Além disso, a qualidade da água é comprometida pelas partículas do solo em suspensão na água. São ações do homem comuns em várias cidades do Brasil, especialmente no período de chuvas mais intensas. Muitas vezes, a vegetação das encostas dos rios, a chamada mata ciliar, é removida com o propósito de ceder lugar a plantios ou pastagens para a produção de alimento. Qual é a sua opinião a respeito?
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Desperdício
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Pensar em abrir uma torneira e de lá não sair uma só gota é um pesadelo para qualquer um. Mas trata-se de um cenário bem real para milhões de pessoas no mundo. No Brasil, a região Nordeste é bastante conhecida por enfrentar grandes períodos de estiagem. Em muitos pontos da região, a época de seca é gerada por fenômenos meteorológicos naturais, mas em muitos outros lugares do país, a falta de água é causada pelo mau uso. Durante o verão brasileiro, é comum vermos nos noticiários que milhares de pessoas estão sem água em diversas cidades do litoral. Isso é consequência de dois fatores: o aumento do número de pessoas que se deslocam na mesma época para as regiões litorâneas e também o desperdício da água. Sua cidade já passou, em alguma época do ano, por racionamento de água? Como você acha que é possível evitar que isso aconteça?
Contaminação A água pode ser contaminada por diferentes substâncias prejudiciais aos seres vivos: matéria orgânica (que inclui restos mortais), agrotóxicos, fertilizantes e substâncias químicas usadas em processos industriais que, muitas vezes, são lançadas nos cursos de água. Os fertilizantes aumentam sensivelmente a quantidade de nutrientes na água, o que ocasiona a multiplicação acelerada de algas e, consequentemente, um processo conhecido como eutrofização ou eutroficação. Já a contaminação por agrotóxicos, por sua vez, está associada à doenças do aparelho respiratório, cardíaco e nervoso, e também ao aumento da incidência de câncer. Também são fontes de contaminação os coliformes fecais, encontrados nas fezes de animais de sangue quente e os resíduos sólidos em suspensão, que reduzem a quantidade e a qualidade da água disponível para o uso humano e para os ecossistemas.
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Para fazer
Em grupo, aprofunde o seu conhecimento. Busquem imagens e façam um levantamento sobre o fenômeno da eutroficação e quais são as suas consequências ao meio ambiente.
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A disponibilidade de água para o consumo humano depende de dois aspectos igualmente importantes: a quantidade e a qualidade. Ou seja, não basta ter água em abundância se ela não está boa para o consumo. Em todo o mundo, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água. Porém, o volume de água no Brasil é 19 vezes superior ao mínimo estabelecido pela ONU: 1700 m3/s por habitante por ano. Apesar de abundantes, os recursos hídricos brasileiros não são inesgotáveis. A água não chega para todos na mesma quantidade, qualidade e regularidade. As características geográficas de cada região e mudanças de vazão dos rios, que ocorrem devido às variações climáticas ao longo do ano, afetam a distribuição. Além disso, há também o uso indiscriminado tanto dos mananciais superficiais quanto dos subterrâneos. As perspectivas de escassez e degradação da qualidade da água colocaram em discussão a necessidade de um planeja-
mento sobre o manejo integrado dos recursos hídricos. Por ser reconhecido como o "país das águas", o Brasil busca servir de exemplo na gestão e preservação desse bem para a humanidade. A partir dos anos 1980, três fatores passaram a ser o foco de gestão da água no país: a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Assim, foram criadas leis mais adequadas e a formulação de políticas públicas que ampliaram as formas de participação de diversos setores da sociedade no gerenciamento das águas. Em 1997, foi sancionada a Lei das Águas (Lei nº 9.433), que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh). Um de seus principais objetivos é assegurar a disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados, bem como promover uma utilização racional e integrada dos recursos hídricos.
Texto adaptado do Portal Brasil (Meioambiente): “Lei das Águas assegura a disponibilidade do recurso no País”, 2010.
muita água ou pouca água? será que todos têm o acesso que precisam?
A água e eu Em um dia normal da sua vida, quantas vezes você interage com a 25 água? Lembre-se de que ela existe em estado sólido, líquido e gasoso. Pense nos momentos agradáveis, como matar a sede com um copo de suco, e outros nem tanto, como quando você fica encharcado na rua porque esqueceu o guarda-chuva. Como você pôde perceber, a água faz parte do dia a dia de todos. Porém, somente uma mudança profunda na importância que damos a ela no nosso cotidiano, garantirá a sua sustentabilidade no presente e também e para as gerações futuras. Nós não precisamos, nem queremos, chegar à situação de total falta d’água para percebermos como esta é fundamental. É mais fácil entendermos a importância da água se trouxermos a hipótese de sua ausência para mais perto de nós mesmos. Quem já passou sede sabe dar valor à água, não é mesmo? Para isso, pense sobre como você a usa no dia a dia. Com cuidado ou com desperdício? Se você fosse elaborar uma lista com sugestões sobre como usar a água “do jeito certo”, quais seriam os três primeiros itens? Para fazer Leia a sua lista e faça uma auJunto com seus colegas e professores, identoavaliação. Dê uma nota de zero tifiquem os pontos que ainda podem ser melhorados na sua escola e elaborem uma carta a dez para você mesmo, para coletiva contendo as suas observações e recocada item da lista. Analisando a mendações. Apresentem a carta à direção da sua própria pontuação, liste três escola e convidem todos a participar de um diácoisas que você está disposto a logo sobre o que todos podem fazer para reduzir o consumo e desperdício de água na escola.
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fazer, a partir de amanhã, para usar a água de maneira mais eficiente no seu dia a dia. Agora, pense na sua escola. O que a palavra “água” tem a ver com a sua escola? Você se lembra de algum episódio que relacionasse as duas coisas? Você consegue imaginar formas sobre como a escola pode se relacionar melhor com a água? De tudo o que veio a sua mente, o que lhe chamou mais a atenção? Finalmente, pense nas pessoas que frequentam a sua escola, como por exemplo, os professores, os alunos, as merendeiras, os diretores, os pais etc. Como cada uma delas pode colaborar para o uso da água da escola de forma sustentável? Pergunte isso a eles!
5% limpeza
10% cozinhar e beber
20% lavagem de roupa
30% higiene pessoal
30% descarga
Como tudo isso afeta a nossa vida? No exercício a seguir, propomos uma situação hipotética que irá nos ajudar a compreender melhor a complexa discussão em torno da construção de hidrelétricas. Entenderemos também quais são as principais vantagens e desvantagens da instalação de usinas que geram energia elétrica aproveitando o potencial hidráulico de um rio. O exercício poderá ser realizado utilizando-se as metodologias do Diálogo e do Jogo de Papéis, apresentadas na última sessão deste livro. Você sabia que no Brasil, a maior parte da energia elétrica que utilizamos vem da água? E que as usinas hidrelétricas são responsáveis por mais de 75% da geração de energia elétrica no nosso país? Apesar de serem consideradas, por muitos especialistas, como fontes de energia “limpa”, elas acarretam, em sua construção, altos custos ambientais, sociais e financeiros. Imagine que você mora em uma cidade com um belo rio, muita água e ainda cercada por uma linda vegetação. O que você sentiria se propusessem a construção de uma usina hidrelétrica na região? O mesmo dilema já foi sentido por muitas pessoas no Brasil, pois moravam próximas ao local de construção de usinas hidrelétricas.
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Impasse em Pacífica
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Pacífica é uma pequena cidade onde moram cerca de três mil pessoas. Lá, a produção agropecuária é a base da economia, mas também existem vários comerciantes e pessoas que vivem do turismo e da pesca no principal rio que corta a cidade, o Rio Japú. O Japú possui um fluxo de água considerável e a geografia de seu terreno possibilitava facilmente a instalação de uma usina hidrelétrica. E foi o que aconteceu: em um belo dia, o prefeito da cidade comunicou a todos os habitantes que o governo estava interessado em produzir energia na região e que as novas medidas trariam consequências para a vida de todos em Pacífica.
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Estudantes interessados no assunto decidiram pesquisar a opinião de várias pessoas da cidade sobre a instalação da usina. Veja, a seguir, o ponto de vista de diversos atores sociais envolvidos nessa história:
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Uerê Paraguaçu, 72 anos Indígena Esta terra é considerada sagrada por nós. Nossos ancestrais chegaram aqui há milhares de anos e seguimos a tradição de nosso povo. Consideramos que os rios são sagrados e também as veias que alimentam a Mãe Terra. Eles nos fornecem alimento e água. Alterar o seu curso é modificar a própria essência da vida que nos mantêm. Somos contra a construção da barragem e lutaremos pela causa! Jorge Pontes, 35 anos Agricultor A construção da barragem vai alagar toda a minha propriedade. Vou perder a casa onde nasci e fui criado, e minha família não está nada contente com a ideia. Sei que vão nos colocar em outro lugar para morar e continuar nossas vidas, mas não acho certo ter que me mudar daqui. Lorival Ferreira, 33 anos Pecuarista Também terei que abandonar minhas terras para criar meu gado em um terreno talvez até maior do que aquele que tenho hoje, mas não gostaria de sair daqui. Quem vai pagar as despesas por levar todo o meu rebanho para outro lugar? E se o gado não gostar do novo pasto?
Arthur Reis, 50 anos Prefeito de Pacífica Sei que a construção da barragem vai causar problemas, mas todos serão transferidos para lugares melhores para morar e trabalhar. Além do mais, as obras vão empregar muita gente aqui da cidade e ainda movimentar o comércio local, o que será bom para todos. Depois de tudo construído, nossa cidade terá energia mais barata e com menor risco de quedas da rede, o que tem sido um grande problema nos últimos tempos. Gertrudes Dias, 43 anos Dona de um restaurante por quilo Estou achando essa ideia ótima. A cidade vai receber mais pessoas e eu vou poder ganhar além do que ganho hoje. Quem sabe até não abro uma filial do meu restaurante? Plínio Gomes, 29 anos Dono de uma agência de ecoturismo Há muitos anos, eu e minha equipe temos levado turistas brasileiros e estrangeiros para caminhadas na floresta e observação de aves. Além disso, muitos visitam a nossa cidade para realizar pesca esportiva no Rio Japú. Com a usina, não haverá mais floresta. Ela será inundada. O rio mudará de conformação e não sei se poderei continuar a utilizá-lo para pescar. Não sou só eu quem saio perdendo, os turistas também. Eles usam o hotel da cidade, os restaurantes e compram lembranças nas lojinhas. É uma situação difícil.
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Leônidas Gonçalves, 52 anos Atualmente desempregado Estou achando tudo ótimo. Tenho a promessa de um novo emprego na usina e poderei oferecer um futuro melhor para meus filhos, que também deverão trabalhar lá. Está na hora de dar uma virada.
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Paula Nunes, 37 anos Diretora de ONG ambientalista em Pacífica É um absurdo a construção da usina no Rio Japú. Muitas pessoas sairão prejudicadas e, além disso, boa parte da rica biodiversidade da nossa região será perdida. Luizinho Soares, 12 anos Estudante Sou a favor da usina, pois quero que nossa cidade progrida, se desenvolva. Isso vai garantir uma vida melhor e um emprego para mim no futuro.
Como é possível perceber, a construção de uma usina hidrelétrica em Pacífica não será nada pacífica. Deve-se ou não construir a usina? Os atores sociais envolvidos na questão vão precisar de muito tato e calma para chegar a um consenso. Existem várias opiniões diferentes sobre a construção da usina na cidade. Mas, e quanto a você, qual a sua opinião sobre ouvir vários pontos de vista a respeito de uma mesma história?
diรกlogo e consenso
á se tornou sabedoria popular a importância da comunicação para a superação de impasses. Entretanto, o que se nota é que, em muitas ocasiões, grupos de pessoas se encontram em condição de conflito, não por discordar a respeito de uma determinada situação, mas porque são incapazes de perceber aquilo com que concordam. O diálogo é uma forma pela qual os atores sociais envolvidos em impasses podem estabelecer conversas significativas, ou seja, que permitam o surgimento de alternativas capazes de superar — ou evitar — situações de conflito, chegando assim ao consenso. O diálogo é um melhor caminho para o consenso do que o debate, pois permite que cada cidadão exponha as suas ideias, levando a uma convergência entre os participantes, das suas percepções sobre os significados dos problemas. Isso acontece porque somente o diálogo possibilita que indivíduos exponham seus pontos de vista acerca das questões sociais. Quando as pessoas conseguem sair do nível das posições defendidas e chegam ao patamar das concepções de mundo que trazem consigo, ampliam-se as possibilidades de consenso. Uma troca de pontos de vista que se traduz em novos conceitos, valores, crenças e ideias que, por sua vez, se transformam conforme são expostos. É no espaço da livre troca de impressões e argumentos que as pessoas têm a oportunidade de aprender, ou seja, de transformar a si mesmas a partir de influências e reflexão. Só assim, é que poderão chegar a consensos.
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Diálogo ou Discussão? Um diálogo verdadeiro não é um embate de ideias e pontos de vista, com um grupo fazendo de tudo para convencer o outro a mudar de visão ou de opinião para que uma posição prevaleça. O diálogo verdadeiro acontece quando as pessoas escutam atentamente a opinião dos outros e estão abertas para mudar seus pontos de vista. É somente quando estamos abertos para ouvir interpretações diferentes das nossas e, eventualmente mudar de opinião, que se
chega a acordos para soluções efetivas e duradouras. Se a solução for imposta por um grupo, quem foi “vencido” na discussão ficará contrariado e provavelmente desistirá de participar do processo. Mas sabemos que manter um diálogo construtivo não é tarefa simples. É mais fácil tentarmos convencer o outro a fazer as coisas “do nosso jeito” do que criarmos alternativas que atendam aos interesses de todos, ainda que parcialmente. Somente quando as soluções propostas satisfazem aos interesses de todos é que se chega a um consenso. A03
debate Há um espírito de “ganhar ou perder”: é um embate de ideias e posições.
discussão
Diálogo
Troca de argumentos sem necessariamente se aprofundar no tema ou chegar a um consenso.
Mais sintonizado com o pensamento e com as preocupações do grupo.
Jogo de Papéis A atividade coletiva proposta nos livros desta Coleção, é um Jogo de Papéis, ou seja, um tipo de dinâmica onde os jogadores interpretam um personagem, criado dentro de um determinado cenário ou ambiente. A técnica permite aos jogadores se colocarem em situações de tomada de decisão similares às reais, permitindo a aprendizagem em relação ao tema abordado, possibilitando a observação das atitudes dos jogadores e a discussão do resultado de suas ações.
Preparando o grupo para o jogo de papéis Antes de iniciar o Jogo de Papéis, é importante que um participante seja escolhido para organizar o funcionamento da sessão. Esta pessoa será chamada de “mediador”, assim como nos debates políticos da televisão. Se o jogo for promovido entre um grupo de alunos, o papel de mediação pode ser assumido pelo professor responsável. O mediador deverá criar um espaço seguro para que os participantes possam se expressar aberta e livremente, removendo as desigualA04 dades de poder ou posição que possam existir no grupo. É fundamental que o grupo perceba o ambiente como um lugar aberto e acolhedor para se expressar sem medo de críticas ou ridicularização. Você já esteve em situações em que não se sentiu à vontade para expressar a sua opinião? Então podemos dizer que aquele não era um ambiente propício para um diálogo construtivo. Também é papel do mediador encorajar novos pontos de vista sem rotulá-los. A troca de opiniões, e não o convencimento, é o que se busca. Para tanto, o mediador deve conceder a palavra e organizar as falas. É muito importante que esta pessoa dê voz a todos, de forma democrática e em igualdade. Ela é responsável por estipular um tempo para a sessão, sinalizando ao grupo quando o término estiver próximo. Após a definição do mediador e da apresentação das regras do diálogo, os grupos devem ser formados. Cada grupo irá representar um dos atores sociais envolvidos no caso que vimos neste livro e terá determinado tempo para apresentar suas ideias e pontos de vista, assim como estar aberto para ouvir as posições dos demais. O objetivo do Jogo de Papéis é estabelecer o diádica importante logo entre todas as partes envolvidas da forma mais O Jogo de Papéis pode democrática e séria possível, buscando uma solução durar de 2 a 3 horas. Considere a possibilidaconsensuada para a questão apresentada. de de dividir a atividade Para que isso aconteça, converse com os demais em dois encontros: um integrantes do grupo sobre cada ator social que será para preparo dos grurepresentado, troquem impressões e façam anotapos e pesquisa e o outro para a sessão coletiva.
ções. Para que suas opiniões não fiquem simplesmente no terreno da fantasia, vocês poderão fazer uma pesquisa sobre casos reais, levantando pareceres de especialistas e apresentando números e estatísticas. Somente com informações concretas, será realmente possível defender os seus argumentos de forma objetiva. Sem informações que embasem os seus pontos de vista, a discussão ficará no “achismo”. Por outro lado, lembrem-se que um mesmo fato ou informação pode ter mais de uma interpretação. Para definir melhor o perfil do ator social que vocês irão representar, respondam: A05 • • • • • •
Quem eu sou e o que eu faço? Quais as coisas que eu mais valorizo? Quais são as minhas reais necessidades? Até que ponto estou disposto a mudar de opinião? De que eu abriria mão? De que eu não abriria mão?
Técnicas para a promoção do diálogo Para ajudar o grupo a chegar a um consenso, vamos apresentar algumas técnicas. Sim, há técnicas para se alcançar o consenso! A Pare de falar e escute atentamente o que os outros estão dizendo. Não vá logo pensando em como irá confrontar o ponto de vista do outro. Antes, pare, escute. O que você concorda naquilo que o outro falou? Com o que você não concorda? B Não interrompa os outros participantes enquanto eles estiverem falando. Controle a ansiedade e aguarde a sua vez. C Se coloque no lugar dos outros participantes, tentando visualizar os problemas por eles enfrentados, buscando compreender a sua visão de mundo, sua linguagem e seus valores.
D Demonstre e aja com verdadeiro interesse. Não disperse a sua atenção enquanto os outros falam. E Procure o significado nas entrelinhas das falas dos outros. O que eles estão querendo dizer, mas que não foi verbalizado, foi omitido ou não explicado? Pergunte a respeito disso.
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F Foque em fazer apenas comentários construtivos. Resista à tentação de criticar, replicar ou estigmatizar uma fala assim que ela for proferida. Guarde os seus comentários para o momento em que o contexto tiver se alterado, que é quando a crítica poderá ser feita ao tema ou assunto e não à pessoa que fez o comentário. G Observe o comportamento não verbal, como linguagem corporal, para perceber o que foi “dito” mas não foi falado. H Não fique com dúvidas. Você realmente entendeu o que o outro quis dizer ou está supondo que entendeu? Verifique se a sua compreensão está correta por meio de perguntas que comecem com frases como “estou certo em admitir que você(s)…”. Investigue também, por meio de perguntas, por que ele acha que a posição por ele apresentada é a melhor. I Exponha seu ponto de vista de forma clara e objetiva, para que todos entendam por que você está defendendo determinada posição. Lembre-se de demonstrar a todos quais são as suas reais necessidades e como a posição que você está defendendo atende a isso. Apresente sua perspectiva com frases do tipo “nosso ponto de vista está baseado no fato de que…” . J Explore coletivamente soluções criativas e que não apareceram antes. Não fique preso apenas ao que você já sabe sobre os outros grupos. Faça perguntas do tipo “as suas necessidades ainda seriam atendidas se, ao invés da sua solução, fizéssemos…?”.
Desenvolvimento do Jogo de Papéis Após cada grupo ter elaborado o perfil dos respectivos atores sociais e respondido às perguntas citadas, inicia-se a sessão de diálogo. O mediador apresenta novamente o dilema em questão, certificando-se de que todos entenderam o entrave, como serão conduzidas as falas e a duração prevista para a atividade. Não é necessário estipular um tempo máximo para cada fala, pois isto pode limitar a qualidade das conversas. Por outro lado, não queremos sessões de monólogos e se não houver bom senso por parte de quem fala, o mediador tem o direito de pedir a palavra. O papel do mediador é promover, por meio do questionamento, a expressão dos diversos pontos de vista, explorando as possibilidades e interesses comuns à medida em que estes vão se revelando. É importante que o grupo explore as oportunidades de consenso a partir das necessidades de cada ator social. Muitas vezes, as conversas estagnam em torno das posições defendidas, sem que se aprofundem para o campo das necessidades. Passar do campo das posições para o das necessidades permite ao grupo criar ou visualizar oportunidades inexploradas. A imagem do iceberg, ilustrada ao lado, representa bem a diferença entre posições, interesses e necessidades de cada pessoa. As posições divergentes são como as pontas de um iceberg, sobressalentes na superfície da mar. Assim como é impossível visualizar o restante do iceberg, escondido abaixo da linha d’água, muitas vezez não somos capazes de identificar com precisão quais são os reais interesses de nossos interlocutores, pois nos atemos à superficialidade de seus argumentos,
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e não ao que vai em seu íntimo, aquilo que gostariam verdadeiramente de comunicar. Nos atemos somente à parte mais visível. Mais profundas ainda que os interesses, estão as necessidades do grupo ou indivíduo. Um diálogo só é produtivo quando cria uma ampla gama de alternativas para o posicionamento dos atores envolvidos. Discussão e Aprendizagem sobre o jogo de papéis
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As questões abaixo devem ser utilizadas como guia para uma conversa em grupo sobre o processo e os resultados alcançados durante a sessão de diálogo. Um dos integrantes, ou o professor, pode mediar esta conversa, sempre passando a palavra a todos os participantes. Sobre os resultados • Houve consenso? Em caso afirmativo, vocês consideram sustentável o acordo ou o consenso a que o grupo chegou? O que pode garantir que esse tipo de acordo se mantenha? • Todos os atores sociais tiveram as suas necessidades atendidas? • Foi possível assegurar ganhos mútuos, ou seja, situações de “ganha-ganha”, nas quais ninguém perde? O que pôde garantir isso? • Foi possível fortalecer os relacionamentos entre os participantes? Em outras palavras, vocês estariam dispostos a negociar com essas pessoas novamente? E, será que estas pessoas teriam interesse em negociar com vocês outra vez? Sobre a representatividade • Os interesses e necessidades fundamentais de todas as partes foram bem representados? • Vocês acreditam que poderiam realizar este tipo de negociação e diálogo de grupo em uma situação real? O que precisa ser superado para que o diálogo funcione em situações reais?
• Há grupos de atores sociais que não estavam presentes, mas que poderiam ter afetado o resultado do consenso? Como o grupo poderia ter considerado as preocupações destes atores sociais? Sobre a negociação e a construção do consenso • Foram formadas coalizões? Quais? Estes acordos ajudaram a construir o consenso ou a bloqueá-lo? • Como o grupo chegou ao consenso? Tratou um ponto de vista de cada vez ou abordou o problema de uma forma completa? • Algum ator social ficou insatisfeito com o resultado? Como o grupo lidou com isso? Sobre o processo • Quais foram as principais fontes de incerteza que surgiram no decorrer do processo e como vocês lidaram com elas? • Como as informações foram obtidas? Elas foram compartilhadas? O grupo foi capaz de criar soluções criativas? Quem propôs estas soluções e por quê? • Como o grupo lidou com as diferenças dos valores morais apresentadas por cada ator social? • O poder dos atores sociais interferiu no resultado final do diálogo? • Como o grupo lidou com as diferenças de poder e informação? Como vemos, o diálogo não é apenas uma série de técnicas destinadas a melhorar a comunicação, chegar a um consenso ou resolver um problema. Durante o processo de diálogo, pessoas aprendem a pensar juntas. Não apenas analisam um problema ou criam coletivamente, mas constroem uma sensibilidade comum na qual os pensamentos, emoções e ações resultantes não pertençam a apenas um indivíduo, mas a todo o grupo.
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Atividades auxiliares A10
As atividades que descrevemos neste capítulo podem ser realizadas antes que o Jogo de Papéis seja iniciado, pois, servirão como uma espécie de “aquecimento” e irão ampliar as possibilidades de consenso. Conhecendo outras perspectivas Quanto mais perspectivas sobre a questão central do projeto a equipe levar em consideração, maiores serão as possibilidades de se chegar a um consenso e construir uma ação coletiva. Em situações complexas, é importante que você tenha uma compreensão holística, ou seja, respeite o todo, levando em consideração as partes envolvidas e suas interrelações. Uma compreensão construída a partir das múltiplas perspectivas dos diversos atores sociais, permite que você possa tomar decisões informadas e relevantes. Ser capaz de identificar e compreender o ponto de vista das diversas partes envolvidas é um aspecto fundamental para um agente de mudança. Sua capacidade de “ver o mundo através de outros olhos” irá impactar diretamente a forma como você toma decisões. O nome que se dá a isso é empatia. Em uma folha de papel disposta sobre o chão, ou em uma mesa, desenhe um diagrama como o da figura a seguir. No centro da roda, exponha o desafio principal enfrentado pelo grupo do diálogo. Nas áreas
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ao redor do centro, anote os nomes dos grupos de atores sociais, ou seja, aqueles que estão interessados ou envolvidos na questão central (você poderá, por exemplo, usar os nomes e as ocupações dos personagens sugeridos para o Jogo de Papéis proposto neste livro). Cada participante deverá se posicionar no “pedaço da pizza” com o nome do ator social que ele representa. Cada pessoa, na sua vez, dirá com suas próprias palavras qual o seu entendimento do problema, a partir da perspectiva de quem ela representa. Sua fala, neste momento, não deverá ser uma interpretação, mas sim estar baseada em fatos extraídos dos textos de apoio e pesquisas. As conversas não
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precisam durar mais do que um minuto e a pessoa que fala não deve ser interrompida. Para deixar a atividade ainda mais interessante, os participantes podem trocar de lugar, assumindo o papel de um outro ator social, tendo assim contato com um ponto de vista diferente sobre o tema. Como conclusão do exercício, o grupo chega a um insight para cada ator social. Um insight tem a ver com aquilo de mais significativo que foi expressado por cada ator social, e que ajudará a construir uma solução ao desafio colocado. Este exercício e os seus resultados visam levar a uma melhor compreensão das múltiplas perspectivas que possam existir sobre um mesmo problema. Jogos Psicodramáticos A dramatização é uma ferramenta de grande valor quando se trata de incentivar a aprendizagem. É um método de intervenção social e pesquisa das relações interpessoais, em grupo ou/e individualmente, e um poderoso agente de transformação. Ao favorecer a vivência da experiência do grupo, recria modelos de relacionamento, e a percepção das diferenças individuais de opinião, sentimentos e emoções, servindo para aprofundar a consciência dos valores. Tornando-se ao mesmo tempo autor, jogador e observador, cada indivíduo participa do jogo através do movimento e da espontaneidade, o que promove atuação livre de todos, estimulando a criatividade na produção dramática e na catarse. Os únicos requisitos para a dramatização são: espaço, tempo, grupo de indivíduos e tema. O objetivo destes jogos é praticar o diálogo e a cordialidade, e observar o contexto nas diversas dimensões em que se apresentam. O tempo de duração varia de acordo com o planejamento do grupo. Para desenvolver a atividade são necessários materias para anotações. Adereços como roupas e cenário podem ajudar, mas não são indispensáveis.
Organização do Jogo 1 O coordenador propõe um tema central como, por exemplo, "Uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade". 2 Os participantes podem atuar de diferentes formas: como um único grupo, como subgrupos que representarão diferentes aspectos da questão ou ainda divididos entre atores e plateia. 3 Os participantes criam o roteiro coletivamente e distribuem as funções e papéis. 4 Os atores representam seus respectivos papéis. Seguindo o exemplo acima, os personagens podem ser: o prefeito, a moradora, o catador de recicláveis, o empresário de limpeza urbana, o diretor de uma ONG, um pai de família que vive no lixão etc. 5 Depois da dramatização, é dado um tempo para que atores e espectadores percebam o que aprenderam. 6 Após esse tempo, o coordenador inicia a discussão final em que levanta tanto o que foi conscientemente verbalizado, quanto aquilo inconscientemente revelado através da dramatização. A Dramatização de uma Cena Distinguem-se, no desenvolvimento da ação psicodramática, três momentos de importância singular. A primeira fase, o aquecimento, é quando o grupo se prepara. Os participantes desenvolvem um tema e, com o afloramento de um protagonista, dá-se início a um segundo momento: a representação propriamente dita, ou seja, a cena dramática. Aqui ganham importância os coadjuvantes, que serão os encarregados de encenar os personagens ao contracenarem com o prota-
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gonista, com outros personagens reais ou fantasiosos, sempre com atenção para os aspectos dos atores do jogo, símbolos de seu mundo etc. A terceira fase é o compartilhamento, o retorno do protagonista, momento em que o grupo compartilha seus sentimentos e vivências, reflete sobre tudo o que foi acontecendo a cada personagem durante a cena, bem como as ressonâncias que ela produziu. Coleta de Perspectivas A14
Os participantes da atividade devem anotar as impressões, perspectivas e opiniões de cada um dos grupos retratados no psicodrama. Para organizar a coleta de informações, é necessário registrar a palavra, frase ou expressão considerada mais significativa na representação de cada um dos grupos/personagens. Veja o exemplo na próxima página: os personagens do psicodrama discutem sobre “uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade”. Imagine uma situação em que um bairro tradicional de uma cidade de médio porte se transforma em um ponto de encontro e entretenimento, com muitos bares, casas de shows e restaurantes, dividindo o espaço com os moradores. Reflexão Ao final da encenação e da coleta de perspectivas, o grupo deve se juntar para refletir e argumentar sobre o aprendizado coletivo. Veja alguns questionamentos que podem ser feitos neste momento: • Como foi participar ou assistir a atividade? • Qual foi a parte mais difícil? E a mais fácil? • Quais insights e feedbacks foram adquiridos através do jogo?
Almir Simões, o fiscal da prefeitura
Minha função é fiscalizar, multar quando for preciso e fazer cumprir a lei. Pelo que tenho visto nos últimos dias, esse bairro está muito barulhento! Jucélia Leal, a moradora do bairro
Está insuportável! Os bares e restaurantes não respeitam os moradores e fazem barulho até altas horas da madrugada. Chega! Mauro Sá, músico que se apresenta na região
O bairro é muito bom para os músicos. Com os shows que fazemos nos bares daqui, sustentamos nossas famílias. O bairro é o nosso “ganha-pão”. Marta Leite, proprietária de uma casa de shows
As pessoas que frequentam os bares querem se divertir! Empregamos muita gente e movimentamos toda a economia dessa região. Zeca Vieira, o diretor da Associação do Bairro
O bairro está dividido entre os moradores e os empresários. Precisamos chegar a uma solução que beneficie a todos. Aqui, um depende do outro. Jô Américo, vereador que propôs a Lei do Silêncio
Barulho tem limite. Vamos aumentar a fiscalização e tentar acabar com toda esta bagunça aqui! Em breve teremos uma lei específica para isso.
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BIA Monteiro é graduada em Psicologia pela PUC-SP e pós‑graduada em Psicologia Social na Boston University. Trabalhou durante muito tempo na área educacional e, nos últimos anos, tem se dedicado ao estudo do potencial humano participando de cursos em diversos países. Em 1997, fundou a Evoluir, uma organização dedicada a promover uma nova forma de ensinar e aprender, seja na escola, em casa ou em qualquer espaço de convivência e que, por meio de publicações, eventos e projetos, leva a público a discussão de diferentes temas. Edson Grandisoli é Biólogo, Ecólogo e Consultor em Educação e Sustentabilidade. Nas últimas duas décadas tem se dedicado à sala de aula e elaboração de coleções didáticas e paradidáticas. Há 11 anos, é Diretor Pedagógico da Escola da Amazônia, projeto do terceiro setor em Educação para a Conservação e Sustentabilidade. Atualmente, colabora com diferentes escolas no desenvolvimento e implementação de projetos em Educação e Sustentabilidade, tema de seu doutoramento pelo Programa de Ciência Ambiental da USP. Fernando Monteiro é graduado em Agronomia pela ESALQ/USP e doutorado em Ciência Ambiental pela USP, com estudos sobre Aprendizagem Social. Foi diretor de redes e comunicação do LEAD International, em Londres, entre 2007 e 2009, e pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP–Procam. É educador e acredita que a aprendizagem profunda acontece por meio de experiências transformadoras. É sócio-fundador da Evoluir.
Samuel Rodrigues é ilustrador. Desde pequeno gosta de desenhar, simplesmente por gostar de desenhar. Aprendeu observando o mundo e praticando, aperfeiçoando os traços, “gastando” a mão e o olhar. Ilustra para livros, revistas, publicidade e jornais. Além disso, também desenha nas horas vagas.
Coleção O Mundo que Queremos
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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.
ISBN 978-85-8142-046-2 VENDA PROIBIDA
projeto
patrocínio
realização
COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS ÁGUA PARA TODOS?
água é um elemento fundamental à vida e deve ser cuidada por todos. Sem ela, a vida não prospera, assim como não existe nenhuma espécie de ser vivo que não dependa dela para sobreviver. Certo? Então imagine você e todas as coisas desidratadas no planeta, como uma uva-passa. Assustador, não é mesmo? Neste livro, vamos aprofundar a discussão sobre o uso racional da água e sua disponibilidade para consumo na Terra.
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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues
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