Os Heróis descobrem os valores

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descobrem os valores Bia monteiro

ilustrações estúdio 1+2



descobrem os valores Bia monteiro

ilustrações estúdio 1+2


Uma bela manhã... Nem sequer começava o dia na escola e uma discussão em

voz alta tumultava a sala de aula: — Não acredito que você fez isso! Não quero mais ser sua amiga! — gritou Camila. — É você quem mostra suas coisas para os outros e depois fica de mimimi! — respondeu Bruno. Todos ficaram assustados diante da violenta discussão entre os colegas de classe. Então, a professora Vivi retirou os dois da sala de aula, levando-os para a diretora da escola. Temerosos com os acontecimentos, os colegas comentavam entre si: — Puxa, mas eles são tão amigos! — disse Dudu. — O que será que aconteceu? — perguntou Uerê. No intervalo, os quatro amigos reuniram-se para conversar. Dudu, Rasta, Uerê e Mika já conheciam os brigões havia bastante tempo, mas nunca os tinham visto tratarem-se daquele jeito. Enquanto conversavam entre si, viram Camila e Bruno sendo levados embora pelos seus respectivos pais. Percebendo que as crianças estavam impressionadas, a professora Vivi aproximou-se do grupo e avisou o que já tinha combinado em separado com os dois alunos: — Amanhã falarei a respeito da discussão entre Camila e Bruno. Todos deverão estar presentes.

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Bruno que foto Ei, pessoal! Olha รก! Hahaha :P ac C engraรงada da


Mais tarde, depois da lição de casa e do jantar, os quatro amigos e Lili, de outra turma, reuniram-se no grupo do Zipzap:

Mika Gente, eu estou realmente preocupada com aqueles dois… Rasta Mas o que a gente pode fazer, Mika? Mika Eu acho que pra ajudar a gente primeiro tem que entender o que aconteceu Uerê Falei com a Camila mais cedo e ela me contou que o Bruno postou na rede social uma foto que ela tinha pedido para não mostrar a ninguém Dudu Nossa, isso não se faz! Uma vez, uma tia postou uma foto de quando eu era bebê, na banheira, sem nem me perguntar :/ Mika Isso é muito sério. Acho até que é contra a lei! Lili Meu pai sempre diz que a gente deve ter muito cuidado com o que espalha na internet! Mika Bom, amanhã a professora vai explicar tudo! Boa noite, pessoal! :*

No dia seguinte, os alunos foram levados ao pátio da escola para ouvir o que a professora Vivi tinha a dizer. — Bom dia, pessoal! Depois do que houve ontem, quero trazer um assunto muito importante: a boa convivência, tanto nas relações virtuais quanto nas pessoais. A internet já é parte do nosso dia a dia. Por

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isso, o respeito que devemos aos nossos amigos e colegas deve estar presente também na vida on-line. E continuou, agora adotando um tom mais sério: — Ninguém tem o direito de expor a intimidade alheia na internet ou fora dela. Para vivermos em harmonia uns com os outros, precisamos entender quais são os valores sociais, éticos e humanos, e depois praticá-los. São esses princípios que regem uma convivência pacífica e agradável. Em seguida, a professora deu alguns exemplos de valores e passou aos alunos um projeto especial para o semestre. Eles deveriam reunir-se em grupos para organizar o Festival da Diversidade Cultural. Essa seria uma maneira de pesquisar a diversidade cultural e aprender mais sobre o convívio em atividades colaborativas. Como preparação para o Festival, eles deveriam planejar o evento com uma maquete e, depois, como atividade final do semestre, expor tudo o que aprenderam sobre os valores. Assim, formaram-se os grupos e o trabalho começou!

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o valor da amizade

Amigos do peito! Depois da explicação da professora, o quinteto combinou

a va um Escre a para h cartin lhor e m iga se u ou a m l é o g i am ua ndo q conta ior sonho. a se u m

um encontro na casa de Dudu para começar o trabalho. Por ser mais nova, Lili não fazia parte desse grupo na escola, mas eram amigos tão inseparáveis, que foi lá com a cadela Miga fazer-lhes companhia. Enquanto aproveitavam o lanchinho trazido pela mãe do anfitrião, passaram algum tempo refletindo sobre os valores que Mika tinha escrito em uma folha de caderno. As horas passaram sem que nenhuma ideia surgisse, até que… — Já sei! — exclamou Mika, empolgada. — O quê? — perguntou Dudu, curioso. — Já sei por onde começar! Pelo valor da amizade — respondeu a mais tímida de todos. — Então fala, Mika! Estou curioso! — pediu Uerê. Mika tomou um gole de suco, limpou a garganta e, empolgada, começou a sua história: — Quando cheguei à escola nova, sem conhecer ninguém, sentia-me triste e sozinha. Como sempre fui muito tímida, demorei para fazer amigos. Até o dia em que esqueci minha borracha em casa. Aí, não teve jeito: olhei ao redor, e acabei pedindo o material para um curumim, que não só me emprestou como puxou a carteira para mais perto e começou a conversar comigo. E esse curumim era você, Uerê!

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— Ei, eu lembro disso! — exclamou Uerê. — Pois é, isso me fez sentir mais à vontade para conhecer outras pessoas e me enturmar com vocês e o restante da sala — concluiu ela, emocionada. Os amigos continuaram a conversar sobre como se conheceram, os grandes momentos de amizade e companheirismo que tiveram juntos e todas as emoções que compartilharam. — Vocês me ajudaram muito quando meus pais começaram a brigar — disse Dudu, colocando a mão no ombro de Uerê. — E também quando minha avó faleceu… — acrescentou Lili. — Eu não sei como eu ficaria sem vocês — disse Rasta, puxando os amigos para um abraço coletivo. Assim, chegaram à conclusão de que a amizade é um valor muito importante, porque o apoio dos amigos torna a vida melhor e mais amena. E foi exatamente isso que anotaram em seu trabalho.


o valor da dedicação

Que capricho! Para melhor planejar o Festival e fazer com que os alunos

co m Converse os sobre ig seus am balho algum tra muita iu que exig ! dedicação

descobrissem os valores por si mesmos, a professora Vivi pediu para cada grupo fazer uma maquete, imaginando os detalhes, as atividades e as barracas do evento. Já era quase noite de domingo quando Uerê, Rasta e Mika terminaram o trabalho. Foi preciso empenhar o final de semana na casa de Rasta, mas os amigos estavam orgulhosos do resultado. Ali, retratadas em miniaturas, estavam as tendas de alimentação e jogos, com as áreas de música e dança, além do espaço onde haveria uma gincana. Desenhista habilidosa, Mika cuidou de projetar a maquete para depois pintá-la. Uerê tratou de colar as partes maiores, como as árvores e as tendas. Rasta encarregou-se das partes menores, como as pessoas minúsculas. Tudo foi realizado com muito capricho! Ao terminar, olharam em volta a bagunça e perceberam a arrumação que teriam de encarar antes que os pais de Rasta voltassem. Enquanto se preparavam para a limpeza, a campainha tocou. Uerê abriu a porta e lá estava Dudu, que também devia ter ajudado o grupo. — E aí, Dudu? O que aconteceu, cara? Te ligamos e mandamos um monte de mensagens — disse Uerê. — Oi, Uerê, estou bem. Desculpa! Acabei ficando na internet ontem, o dia todo, e depois dormi demais! — respondeu Dudu, meio sem graça.

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Foi quando Rasta, ouvindo a conversa, aproximou-se: — Ei, Dudu! Entre! — convidou. — Sabe que a gente se dedicou muito a esse trabalho e contava com você. — Desculpa, pessoal! Ainda dá tempo de ajudar com alguma coisa? — perguntou Dudu. Uerê e Rasta entreolharam-se. — Bom, já que perguntou… — disse Uerê, com um sorriso. — Olhe à sua volta, Dudu. Vê como está tudo bagunçado? — falou Rasta, mostrando a sala ao amigo. — Estávamos contando com você para nos ajudar com o trabalho durante o final de semana. Já que você não apareceu antes, que tal assumir essa faxina agora? — Mas… é que… — balbuciou Dudu. — “Mas” nada, Dudu! — interferiu Mika, que ainda não havia se manifestado. — Você sabe muito bem que não foi justo com a gente o seu atraso, e que você se sentiria muito mal se estivesse no nosso lugar. — É verdade! — concordou Rasta. — E que fique a lição para todos: se queremos qualidade em nosso trabalho, é preciso que tenhamos dedicação! — Tudo bem, pessoal, vocês têm razão — disse Dudu, já pegando a vassoura. E, um pouco a contragosto, mas consciente de seu dever, começou a arrumação pela casa.

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o valor do perdão

Foi mal… Na manhã seguinte, um carro buzinava em frente à casa de

Rasta. Era a mãe de Uerê, com ele e Dudu no banco traseiro. — Vamos, Rasta! — chamou Uerê. — Estamos atrasados! A Mika já está lá, esperando a gente! Com cara de sono, Rasta correu pra dentro do carro. E lá foram eles rumo à escola. Ao chegarem, tomaram muito cuidado para não estragar a maquete enquanto saíam do carro. Estavam tão concentrados que nem perceberam a aproximação de Lili. A garota estudava à tarde no mesmo colégio e estava passeando com Miga. A cachorra era enorme e Lili, teimosa, sabia que não deveria passear com ela sozinha, pois não teria forças para contê-la. Quando Miga viu os meninos, saiu em disparada puxando a garota pela calçada. — Cuidadoooo! — gritou Lili, antes da cachorra pular em cima de Rasta, que segurava o trabalho. A maquete despedaçou-se no chão e todos ficaram sem saber o que fazer, atônitos com o que havia restado do trabalho. O silêncio só foi quebrado pelo choro de Lili: — Buááá! Des… desculpa, gente — disse Lili, entre lágrimas. — Poxa, Lili, mas que descuido! Sabemos que não teve intenção de causar toda essa confusão, mas você sabe muito bem que sozinha não deve levar a Miga pra passear! — repreendeu Dudu. — E se ela te puxasse para o meio da rua? Que perigo!

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— O Dudu tem razão, Lili — refletiu Rasta. — Mas agora é tarde, pessoal. A maquete já era! O melhor a fazer é perdoar nossa amiga. Afinal, ela ainda é novinha e tem muito que aprender! Nós também cometemos erros. Lili, volte pra casa e tome cuidado desta vez! Vamos tentar explicar para a professora o que aconteceu aqui. Vivi escutou-os com atenção. Sua expressão foi mudando à medida que as crianças relatavam o ocorrido. Quando terminaram, a professora tomou sua decisão: — Hummm… Entendo o que aconteceu. Mas não posso dar uma nota alta para o grupo, pois vocês não entregaram o combinado. Preparem um relatório sobre a maquete até amanhã para que eu possa avaliar o trabalho. E lá foram eles, frustrados mas refletindo sobre esses novos valores que tinham aprendido na prática: a dedicação, o trabalho e o perdão.

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o valor da colaboração

Dando uma mãozinha A ansiedade era grande com a aproximação do Festival! Como

ficou decidido na reunião de pais e mestres, os alunos fariam a decoração e organização sozinhos, com a supervisão de adultos apenas quando fosse preciso, por questão de segurança. Todos estavam empenhados pintando, preparando enfeites e organizando o espaço. A tranquilidade acabou quando Dudu e Mika começaram a brigar. Dudu achava que a melhor forma de prender alguns enfeites seria com pregos. Mika discordava, afirmando que cola funcionaria melhor e faria menos barulho. Enquanto os dois discutiam, num tom cada vez mais alto, Lili cansou de esperar por ajuda, subiu na escada e tentou pendurar uma faixa sozinha. A escada chacoalhou, balançou… Lili estava quase caindo quando Rasta apareceu rapidamente e segurou as pernas da escada. A discussão entre Mika e Dudu acabou no ato, e os dois foram perguntar a Lili se ela estava bem. — Se vocês não tivessem perdido tempo brigando e se esforçassem para trabalhar juntos, isso não teria acontecido! — disse Rasta, decepcionado com os amigos. — Eu fiquei muito assustada! — acrescentou Lili, chorosa. — Tem razão, Rasta — admitiu Dudu. — A melhor forma de trabalharmos é na base da cooperação, e não atrapalhando nem brigando uns com os outros. Unidos, como sempre fomos, será mais fácil

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arrumar tudo. Mika — disse ele, dirigindo-se à amiga — acho que insisti no uso dos pregos por pura teimosia. Vamos usar sua ideia e colar os efeites. — Boa, Dudu! — falou Mika. — Vamos logo seguir com essa decoração que está ficando linda! Logo, terminaram os preparativos e o resultado foi impressionante. O visual do colégio estava totalmente diferente e muito mais bonito. — Esse Festival vai ser um sucesso! — exclamou Lili, já recuperada do susto.

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o valor da diversidade

Diferente, mas igual Além da decoração do Festival,

os alunos agora precisavam pensar em como as diferentes culturas seriam representadas. Quando começaram a escolher quais temas seriam expostos, iniciou-se outra confusão: muitos não conheciam ou não gostavam das propostas uns dos outros. Conforme falavam sobre seus hobbies, nacionalidade dos pais, religião e gostos, os alunos percebiam que não se conheciam tão bem assim. Para falar a verdade, acharam algumas coisas pra lá de estranhas! Dudu considerou muito esquisito quando Mika disse que adorava comer sashimi. — É só peixe cru cortado em fatias bem fininhas! Fica super gostoso com shoyu, um molho salgado à base de soja — explicou ela. — Você deveria experimentar! — Eca! Eu não, obrigado! — rejeitou Dudu. Rasta recebeu olhares estranhos ao dizer que era filho de Oxalá e Oxum, mesmo tentando explicar aos colegas a riquíssima cultura do candomblé. — E esses seus deuses são de alguma religião nova? — perguntou Lili, um pouco desconfiada. — Nem uma coisa nem outra, Lili! — explicou Rasta, pacientemente. — São orixás, não deuses. Eles são como os santos para os católicos. Nós acreditamos em um único Deus, assim como os

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cristãos. E também é uma religião muito, muito antiga, com quase cinco mil anos! — Sei… — disse Lili, um pouco desacreditada. Uerê tentava explicar de onde vinham seus pais: — Meus avós eram da tribo Guarani Embiá! — contou ele, todo orgulhoso. — Era um grande grupo, quase nômade, que habitava partes do Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil. — Como assim? — questionou Mika, incrédula. — Seus avós eram de quatro países diferentes? Como isso é possível? — É que no território da tribo não havia países e eles migravam conforme a necessidade — simplificou Uerê. De repente, parecia que ninguém se conhecia mais! Por alguns minutos, um clima estranho pairou sobre os alunos, até que decidiram fazer um intervalo para comer. Durante o lanche, os amigos permaneceram em silêncio até que Dudu, colocando de lado seus temores, esticou a mão e pegou um pouco do sashimi que Mika havia trazido. Os colegas observaram quando ele o colocou na boca, mastigou e… sorriu! Todos caíram na risada e, a partir daí, voltaram a falar sobre os gostos e hábitos de cada um. Na verdade, ao experimentar uma

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coisa da qual achava não gostar, Dudu deu um exemplo de como lidar com as diferenças e novidades. De modo que decidiram organizar o Festival valorizando diversos aspectos das comidas, músicas, vestimentas e religiões de diferentes culturas. Estavam ansiosos, afinal de contas o Festival da Diversidade Cultural começaria logo no final de semana seguinte. *** Finalmente, chegara o grande dia! Havia barracas explicando a história de várias religiões, com painéis, resumos e orientações. Fizeram também barracas de desafios com pescaria, jogos de tabuleiro e jogos eletrônicos. Havia o cantinho da música popular brasileira, com muito samba, chorinho e outros ritmos da nossa terra. As barracas de comida contavam com os sabores mais variados, até com o tal “peixe cru”! Dudu era o mais empolgado: — Gente, esse evento, e tudo o que tem acontecido conosco desde que nos envolvemos em sua organização, mudou a maneira como vejo o mundo! — Eu também estou adorando! — exclamou Lili. — E olha que está só começando — completou Uerê. — Ainda tem muito o que acontecer hoje! E, assim, os Heróis foram descobrindo o que eram os valores e por que eles são tão importantes para a nossa vida. A partir de suas próprias experiências compartilhadas, eles perceberam que a diversidade cultural é uma das maiores e mais importantes riquezas da humanidade. la , a e sc o u s m E ize um organ parecido al Festiv e: celebre a ss e tural co m de cul a d i s r dive s! so paí do nos

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o valor da justiça

Que injustiça! Anoitecia quando o Festival aproximava-se do fim. Pouco an-

eu s Com s organize s, colega ento de m o julga to que ro um ga trabalho o u rasgo . o r t de ou

tes, os alunos tinham organizado como encerramento das atividades uma grande gincana, cheia de jogos e competições entre duas equipes. Depois de brincar de alerta, peteca, corrida do ovo e pega rabo, Rasta estava esgotado. Na última prova, a corrida do saco, ele não aguentou e pediu a Dudu que o substituísse. Suado e ainda ofegante, Rasta pegou sua garrafa d’água e sentouse em um canto da quadra, assistindo calmamente à prova. Ficou torcendo o tempo todo para Dudu e Uerê, que sempre se saíam muito bem em competições esportivas. De repente, para a surpresa de Rasta, que prestava atenção em cada detalhe do jogo, os juízes encerraram a partida, dando vitória ao time adversário! Mas, muito observador, o garoto notou que, provavelmente por descuido, a soma dos pontos estava errada, favorecendo a equipe declarada vencedora. Rasta então caminhou até o quadro-negro, onde estavam anotados os pontos, e começou a refazer as contas por si próprio para conferir se estavam corretas, quando ouviu gritos enfurecidos: — Olha lá, o Rasta está alterando o placar! — gritou um rapaz da quinta série. — Ladrão! Trapaceiro! — acusou outra voz.

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E, antes que pudesse se defender, uma multidão rapidamente se formou ao seu redor, gritando e apontando em sua direção. Rasta ficou à beira do choro. Quando parecia que tudo ia piorar, a professora Vivi, que era juíza da competição, manifestou-se: — Ei, gente! O Rasta está certo! Ele foi imprudente de refazer as contas sem falar comigo antes, mas o cálculo dele está correto. Eu me enganei — continuou Vivi. — Em nome da justiça e em consideração ao colega, peçam desculpas agora mesmo! Rasta foi, então, abraçado pelos amigos, e recebeu desculpas envergonhadas de alguns dos envolvidos. A competição recomeçou e, de quebra, o time de Dudu e Uerê ganhou a gincana! Apesar da vitória, a gincana terminou com um clima meio pesado. As crianças viram pela primeira vez o que era o prejulgamento e a injustiça, situações ruins que infelizmente acontecem em nossa sociedade. Por pouco o julgamento incorreto da ação de Rasta não teve maiores consequências. Daí a importância em conhecermos o valor da justiça — para que ela sempre possa ter condições de ser aplicada, e evitar que as pessoas sofram penas por atos não praticados.

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o valor da responsabilidade

Dá pra confiar? Logo após o Festival, haveria um feriado prolongado. Ou seja,

alguns dias só para passear e brincar! Que alegria! Os amigos estavam empolgados, mas desta vez Uerê não poderia viajar. Seu pai tinha muito trabalho no escritório, e a família teria de ficar na cidade. Sem poder viajar e sem os amigos por perto, o curumim já estava pensando que seus dias de folga seriam entediantes. Até que viu uma mensagem de Lili no grupo do Zipzap: Lili Ei, amigos! Alguém vai ficar em casa no feriado? Vou viajar com meus pais e a Miga não pode ficar sozinha. Preciso de alguém que cuide dela Uerê Eu posso, Lili! Vou adorar cuidar da Miga! Lili Beleza! Daqui a pouco estamos aí!

No primeiro dia, Uerê foi superatencioso e lembrou-se de levar a cachorra para passear, alimentou-a direitinho e fez tudo o que Lili havia pedido. Nos dias seguintes, porém, Uerê foi relaxando. Esqueceu-se de dar comida, passeou com a cachorra somente uma vez e, no último dia, antes de Lili voltar à cidade, Miga amanheceu chorando. Uerê entrou em pânico e correu para os pais, que já haviam percebido o desleixo do garoto:

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— Vamos ao veterinário agora mesmo! Mas já adianto que os custos do tratamento serão descontados da sua mesada! — repreendeu o pai. — Filho, isso é muito sério. Quando assumimos a responsabilidade por algo ou alguém, precisamos cumprir com nossa palavra! — explicou a mãe, um pouco menos brava. — Se você se comprometeu a cuidar da Miga, então cuide direitinho. Uerê primeiro reclamou, depois lembrou-se de que ele mesmo tinha aceitado a responsabilidade de cuidar do bichinho de estimação da amiga. Agora, era preciso enfrentar as consequências de seu descuido. Miga voltou do veterinário sem maiores problemas. Mas Lili, apesar da sua pouca idade, deu uma bela bronca em Uerê assim que soube do que tinha acontecido: — Nunca mais, Uerê! Nunca mais deixo você cuidar da Miga! A amizade entre os dois não ficou abalada, mas Uerê aprenderia uma lição para sempre: “compromisso e responsabilidade andam sempre juntos”.

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Faça uma entrev ista com um(a) colega sobre alguma ve z em que ele ou ela precisou de responsabilidade para lidar com alguma situação.


o valor da empatia

Conta comigo No retorno do feriado, tudo parecia ter voltado ao normal na

Escreva uma redação sobre a importância de se colocar no lugar do outro para podermos entendê-lo.

escola. Todos contavam suas aventuras e viagens. Até a história envolvendo Uerê e a cadela Miga virou motivo de piada entre a turma. — Quer dizer que você não conseguiu cuidar de uma simples cachorra, Uerê? Acho que se cuidasse de um peixe, você o deixaria fugir! Hahaha — brincou Rasta. Todos estavam bem alegres, menos Dudu, que andava um pouco calado. Os amigos já tinham notado seu comportamento estranho. Logo após a aula, foram conversar com ele, que estava sozinho no banco da praça em frente à escola. Uerê se aproximou: — E aí, Dudu? Está acontecendo alguma coisa? Você não parece muito bem… Foi o que bastou para o menino desmoronar. Choroso, ele balbuciou algumas palavras e acabou contando: — Meu pais andam brigando muito, Uerê… — disse, entre lágrimas. — Acho que vão se separar. Uerê abraçou Dudu e falou que tudo ficaria bem, mas o garoto estava muito abalado. Os outros amigos sentaram-se à sua volta. Dudu não conseguia se acalmar ou pensar com clareza, desculpava-se e chorava muito. Lili lembrou Dudu sobre como havia ficado triste quando sua avozinha morreu, e como não teve vontade de conversar com ninguém

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naquela época. Mika contou sobre as dificuldades que teve quando sua prima Carol sofreu de depressão e ficou sem falar com ela durante um bom tempo… — Mudanças são difíceis, mas conseguimos superá-las sendo fortes e contando com o apoio dos amigos — ponderou Mika. — A professora Vivi me contou que é importante tentarmos entender os sentimentos dos outros, colocando-nos “na pele” deles. Ela disse que isso é ter “empatia”. Todos passam por momentos difíceis na vida e, por isso — continuou Rasta —, nenhum de nós vai julgá-lo, nem tratá-lo mal por estar mais sensível diante de um momento delicado. Todos sabiam que Dudu não superaria aquilo de uma hora para outra, mas acreditavam que ele iria melhorar. Assim, ele próprio passou a acreditar nisso também.

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o valor da paz

Viva a paz! No sábado, Dudu já estava se sentindo melhor. Na sala de estar da casa de Uerê, o quinteto conversava alegremente sobre os últimos detalhes da apresentação do trabalho que aconteceria na segunda-feira. A TV estava ligada, mas ninguém prestava atenção nela. De uma hora pra outra, foram interrompidos por um programa de notícias falando de diversas mortes violentas.

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— Credo! Que coisa horrível! — exclamou Lili, impressionada. — Não precisamos ver isso. Só tem violência nesse programa — disse Uerê, trocando o canal. — E qual o problema? — quis saber Rasta. — Não sei explicar direito — respondeu Lili —, mas não acho certo os adultos incentivarem o uso da violência para resolver a própria violência! Sou nova, mas sei que isso é errado. Os amigos passaram então a discutir como a violência estava presente em suas vidas. Todos já haviam tido problemas com valentões na escola, mas sempre resolveram conversando. Também já tinham assistido a filmes violentos, jogado jogos de luta e tiro, sabiam, enfim, que a violência aparece em diversos âmbitos. Alguns deles sabiam de um colega que teve o pai preso por agredir a mãe do garoto. Apesar de serem bombardeados por informações desse tipo, não acreditavam que a violência fosse necessária para resolver qualquer problema entre as pessoas. — Meu pai sempre diz que “a violência é inaceitável, e nem mesmo em casos extremos devemos brigar, afinal, não há disputa que não possa ser resolvida com uma boa conversa” — refletiu Uerê. Mika, que era budista, também disse o que pensava: — Minha mãe chamava a ideia de evitar conflitos de “cultura de paz”. Ela me ensinou que devemos incentivar os colegas a se esforçarem para isso. A paz deve começar dentro de cada um de nós — concluiu Mika. E, assim, os Heróis deram-se conta de que, falando sobre o valor da paz, haviam concluído o trabalho proposto pela professora Vivi. Agora sim! Era só terminar de escrever e apresentar tudo o que aprenderam nos últimos dias na aula de segunda-feira! n ho m dese ara u a ç a F p lorido b e m co a pa z r celebra essoas. sp a entre

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Valeu, pessoal! Enfim, tinha chegado o grande dia das apresentações. As crianças

a poesia Faça um o sua nd agradece ue q professora as nt ensina ta rtantes po coisas im a você!

envolveram-se de tal forma com o projeto que Lili, que sequer fazia parte da turma, foi prestigiar a apresentação de seus amigos. Mika falou a todos sobre o valor da amizade, além da importância de ter pessoas queridas por perto. Comentou também sobre o perdão, que todos cometem erros e, portanto, devemos ser compreensivos com as falhas dos outros. Dudu refletiu sobre a empatia, ou seja, a capacidade de compreender os sentimentos e problemas de outras pessoas. Também discorreu sobre quão fundamental esse valor foi para ele. Aproveitando o embalo, também fez um breve discurso sobre a paz, dando exemplos do que cada pessoa pode fazer para conservá-la em um mundo tão violento. Concluiu falando sobre a diversidade e o respeito às culturas, usando exemplos do que aprendeu com Mika e no próprio Festival. Por sua vez, Rasta lembrou da importância de agir com justiça para jamais condenar os inocentes. Disse ainda que, não fosse a cooperação de todos os alunos, pais e professores, o Festival jamais teria dado tão certo. Por sua vez, Uerê lembrou-se do significado da dedicação e o quanto ela era importante para realizar um trabalho bem-feito. Depois, compartilhou com todos o que aprendeu sobre responsabilidade e

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mostrou uma foto de Miga ao lado de Lili. Por causa dos ótimos resultados alcançados, o término das apresentações dos trabalhos sobre os valores foi bastante festejado. Todos os grupos montaram cartazes e compartilharam experiências pessoais superinteressantes. — Estou muito orgulhosa de todos! — disse a professora Vivi. — Vocês se dedicaram ao projeto e fizeram dele um trabalho excelente! Mas há ainda um outro valor sobre o qual quero que vocês reflitam: o valor do respeito. A professora explicou que o respeito é a base das relações humanas, e que para conseguirmos viver em sociedade precisamos aprender a respeitar as características e os limites de cada um. Isso, na verdade, inclui todos os valores que os alunos haviam discutido em seus trabalhos, como aceitar as diferenças culturais dos colegas, buscar a paz pelo diálogo, colocar-se no lugar do outro e entender suas dificuldades e fraquezas, saber perdoar, e assim por diante. Até que uma mão se ergueu tímida entre os alunos. Era o Bruno, que parecia bastante envergonhado e pediu à professora para falar com a turma. — Gente, esse trabalho me fez perceber que agi de forma errada com a Camila. Deveria ter respeitado a sua privacidade e pensado melhor antes de fazer o que fiz. Desculpe-me, Camila — disse Bruno, arrependido.

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Um pouco surpresa, a colega levantou-se e tomou a palavra: — Tudo bem, Bruno! Compartilhei com você algo pessoal e o que você fez foi muito injusto. Espero mesmo que esse tipo de atitude não se repita — falou Camila, dando um abraço em Bruno. Todos aplaudiram e então a professora perguntou se mais alguém gostaria de falar. Outros colegas aproveitaram a oportunidade para pedir desculpas e comentar sobre o que haviam aprendido no projeto. Ao final das apresentações, Vivi reuniu a turma para uma foto: — Esta sim, uma selfie para circular à vontade nas redes sociais! — disse ela, para alegria de todos. A professora Vivi despediu-se da turma naquele semestre, reforçando a mensagem principal:

"A base da vida em harmonia é o respeito por si mesmo e pelo outro".

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Ra

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Rafael Silva

Simpático e extrovertido, gosta de matemática e foguetes. Com 12 anos, Rasta é uma referência para seus amigos por sua maturidade e seu jeitão tranquilo.

M

i

ka

Michele Sato

Inteligente, disciplinada e cautelosa. Tem 12 anos e é mais tímida e madura do que os amigos. Ah! Ela é bem legal, mas sabe ser firme quando necessário.

Ue

Cauã Ribeiro

Lil i

Aline Rizzo

Extrovertido e brincalhão, Uerê tem 10 anos e adora observar a etimologia das palavras, principalmente as de origem indígena.

Du

Lili tem 8 anos e é espontânea e muito sapeca. Questionadora, não aceita que haja nada “só para meninos ou só para meninas”. Apesar de muito nova, já sabe que lugar de menina é onde ela quiser.

du

Eduardo Müller

É o melhor amigo de Uerê. Alegre, participa de tudo, mas não é de falar muito. Tem apenas 10 anos, como o Uerê, e já sabe cozinhar.

Mi g

a

Uma autêntica vira-lata, Miga foi adotada por Lili quando ainda era filhote. Mas a turma toda a tem como companheira. Grande, peluda, babona e muito, mas muito desastrada!

v

i

Vi

Miga

Professora Viviane Seixas

Inteligente e simpática, acredita no poder transformador da educação. Está conectada com os desafios e novos processos que acontecem no mundo. Procura experimentar formas inovadoras e originais de ensino e aprendizagem. Vivi valoriza o aluno por aquilo que ele é, e acredita no potencial que cada um deles traz consigo.


Evoluir Título original

Os Heróis descobrem os valores

Autora

Bia Monteiro (Beatriz Monteiro da Cunha)

Preparação de texto

João Pedro Lima Gonçalves

Conselho editorial

Bia Monteiro, Chico Maciel, Fernando Monteiro, Flávia Bastos, Lilian Rochael e Uriá Fassina

Ilustrações

Estúdio 1+2 (Benson Shin, Breno Ferreira e Shun Izumi)

Projeto gráfico e produção

Chico Maciel

Revisão

Elisa Andrade Buzzo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Bia Os Heróis descobrem os valores / Bia Monteiro. 1. ed. – São Paulo : Evoluir, 2015. 1. Valores (Ética) – Literatura infantojuvenil I. Título. ISBN 978-85-8142-076-9 15 -04253 Índice para catálogo sistemático 1. Valores éticos : Literatura infantil 2. Valores éticos : Literatura infantojuvenil

CDD-028.5 028.5 028.5

Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.

Evoluir FBF Cultural Ltda. Rua Aspicuelta, 329 Vila Madalena, São Paulo-SP CEP 05433-010 Tel: (11) 3816-2121

Esta obra é licenciada sob uma Licença Creative Commons 4.0 Internacional que permite que você faça cópias e até gere obras derivadas, desde que

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"We could be heroes, just for one day" — David Bowie

Edição Fontes Papel capa Papel miolo Gráfica

1ª edição/impressão, junho de 2015 Ideal Sans Suzano TP Premium 300g/m² Suzano Pólen Soft 80g/m² Melting Color (São Bernardo/SP)


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Uma foto postada nas redes sociais faz com que dois grandes amigos se desentendam em sala de aula. A partir daí, a professora percebe que os alunos deveriam aprender mais sobre os valores humanos, éticos e sociais. Como projeto para o semestre, ela propõe que a turma organize o Festival da Diversidade Cultural. Toda escola se mobiliza para apresentar um trabalho sobre o que aprendeu. O que será que eles vão descobrir ao longo desses dias?

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