A árvore que queria andar

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“A árvore que queria andar” mostra às crianças como podemos ir a lugares maravilhosos deste e de outros mundos usando apenas nossa imaginação e criatividade, além de relembrar a importância de uma relação equilibrada, leve e harmoniosa com a natureza.

Realização

Apoio

PROJETO REALIZADO COM O APOIO DO GOVERNO DE SÃO PAULO, SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA, PROGRAMA DE AÇÃO CULTURAL 2010

Evoluir Cultural Rua Girassol, 34 cj 94 Vila Madalena CEP: 05433-000 São Paulo - SP | Fone/fax: (11) 3816- 2121 www.evoluircultural.com.br | evoluir@evoluircultural.com.br

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ISBN 85-87420-29-1

9 788587 420299

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Ár

que queria e r a vo

Fernando Monteiro

Ilustrações Renata Vilanova

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Copyright® Fernando Monteiro Copyright® Ilustrações: Renata Vilanova Todos os direitos reservados à Evoluir Cultural ISBN: 85-87420-29-1 Coordenação Editorial Flavia Bastos Produção Editorial Evoluir Cultural Texto Fernando Monteiro Ilustrações e Projeto Gráfico Renata Vilanova Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Fernando A árvore que queria andar / Fernando Monteiro, ilustrado por Renata Vilanova. – São Paulo. Evoluir, 2003. 1. literatura infantojuvenil I. Vilanova, Renata. II. Título. 03.4605

CDD-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil 028.5 2. Literatura infantojuvenil 028.5

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Japubá era uma bela arvorezinha que vivia no meio

de uma densa e ensolarada floresta tropical. Assim como as outras árvores da sua família, tinha as folhas largas e bem verdes, que brotavam de todos os seus galhos, ainda um tanto finos. Seu caule, um pouco esguio, mas bastante firme, não deixava dúvidas de que ela um dia se tornaria uma árvore forte e robusta. As raízes já começavam a penetrar mais fundo o solo da floresta, e a umidade daquela terra dava à pequena arvorezinha uma gostosa sensação, afinal era de lá que retirava boa parte do seu alimento.

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O local da fl oresta

onde Japub

do, a i g e l i á nascera era priv

ficava perto de um igarapé, e, em certas épocas do ano, quando o nível do rio subia, Japubá se deliciava com o frescor das águas que o banhavam até a altura da cintura e podia ouvir encantado as histórias que seus amigos peixes vinham lhe contar. O sol naquele lugar brigava para passar entre as copas das árvores mais altas, mas, quando rompia a camada espessa de galhos e folhas, brindava Japubá com o

calor de seus raios e aquecia suas folhas ainda molhadas pelo orvalho da noite. Ao seu redor, podia ver as outras árvores todas bem mais velhas e mais fortes.

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A cerca de uns dez metros, ficava o velho Jacarandá, a árvore mais velha e sábia de toda a floresta. Era ele quem à noite contava belas histórias sobre os bichos, os pássaros, a lua e os rios. Mas contava também outras horripilantes sobre os terríveis homens e as línguas de aço usadas para cortar e derrubar outras árvores. Japubá gostava daquelas histórias. Ainda que o velho Jacarandá exalasse o ar típico das arvores maduras, Japubá o admirava.

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Mas em uma coisa a nossa pequena arvorezinha era diferente de todas as outras.

Ela queria andar.

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Certa manhã, quando o sol mal havia

surgido na floresta, Japubá acordou sentindo um peso sobre seu galho esquerdo. Virou lentamente sua copa e pode finalmente ver o que causava tamanha dor. Era um linda arara, trazendo no bico uma fruta vermelha, que parecia muito saborosa.

– Bom dia, dona Arara – disse

Japubá.

– Bom dia, pequena árvore. Espero não estar causando muito incômodo. Mas estou voando há léguas, e seu galho me pareceu um lugar agradável para um pouso de descanso.

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– Não se incomode. De onde vens afinal?

– Ah, venho do extremo oeste desta

floresta. Um lugar lindíssimo, onde o rio é mais estreito e com muitas cachoeiras.

– Cachoeiras? O que é isso? – São lugares lindos onde a água cai sobre as pedras, fazendo um barulho gostoso, e muitos pássaros e outros animais se divertem tomando banho e bebendo a água.

– Parece divertido.

–O h, sim

! É muito divertido.

beirinhas. unidades ri m o c s a efi ro Mas eu pr

– Agora, então, que eu não entendi nada. O que é isso? – Ribeirinhas são as pessoas que vivem às margens do rio. Vivem da pesca, da coleta de frutos e também de uma pequena agricultura. Eu adoro ouvir as lendas e histórias que eles contam sobre a floresta.

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– Ah, isso eu sei bem. Passei minha vida toda aqui no meio desta floresta. – Eles contam cada história engraçada. Sabe o nosso amigo, o Boto?

– O cor-de -rosa? Miolo - A árvore que queria andar Proac.indd 12

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– É, ele mesmo. Então, eles contam que o Boto, em noite de lua cheia, aparece na vila, rouba as mulheres dos homens e as leva para o fundo do rio. – Que engraçado, logo o Boto!... Morro de vontade de conhecer todos esses lugares. Parece tão divertido! Aqui tudo é monótono. Quando muito, cai uma árvore mais velha, e aí é aquele barulhão. – Bom, o papo está muito bom, mas acho que já vou indo. Tenho que encontrar meus amigos tucanos, pois vamos juntos a uma festa dos ianomâmis.

– Boa viagem, dona Arara ! – Obrigada, Japubá! E sempre que passar por aqui, pousarei nesse seu galho acolhedor. Japubá olhou a arara alçar voo com uma pontinha de inveja. Ela também adoraria conhecer todos esses lugares e pessoas.

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Na manhã seguinte, um barulho estranho despertou o velho Jacarandá. Ao abrir preguiçosamente os olhos, viu a pequena Japubá fazendo um tremendo esforço. – O que tentas fazer, pequenina árvore? – Estou tentando me livrar destes enormes pedaços de terra que prendem minhas raízes - respondeu Japubá, já com o suor escorrendo caule abaixo. – E por que tentas remover esse solo? Não sabes que é ele quem a mantém viva? – Eu sei! Mas, com este montão de terra em volta, eu nunca conseguirei andar. – Andar? – É. Andar, sim. Dar umas voltas por esta linda floresta.

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– E você não sabe que árvores não andam?

Japubá nunca pensara naquilo. Seu maior sonho era

conhecer lugares diferentes, outros animais, os povos da floresta... Mas e agora!? Como iria a todos esses lugares SE NÃO PODERIA ANDAR? O velho Jacarandá prosseguiu: – Sabe, Japubá, nós árvores, cumprimos um papel muito importante para que a vida exista. É por meio de nossas folhas que limpamos o ar, deixando-o puro para que os outros seres possam respirar; nossos frutos alimentam milhares de animais; nossos ramos fornecem abrigo e também um excelente material para a casa dos humanos; nossos troncos dão ótimas canoas, que possibilitam aos índios se locomoverem ao longo deste imenso rio. Além disso, o fogo feito com nossos galhos aquece os homens e cozinha sua comida.

Japubá ouvia encantada. Nunca havia imaginado que as árvores são tão importantes para os bichos, os povos e para a vida da floresta.

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– Mas também estamos correndo um sério risco – disse o velho Jacarandá com ar de preocupação. Já faz tempo que alguns homens brancos começaram a cortar e derrubar muitas e muitas árvores por causa da madeira. Isso nos dá uma grande tristeza, pois estamos perdendo milhares de amigos, e a floresta já começa a dar sinais de fraqueza. Os bichos começaram a fugir; os pássaros não têm mais onde fazer seus ninhos, enfim, toda a floresta está sofrendo. – É aquele barulho metálico das máquinas com línguas de ferro? - perguntou Japubá.

– Sim. Quando ouço aquele ruído, sei que perderemos mais um amigo ou

parente. Lembro com saudade do velho Mogno; crescemos juntos na floresta durante muitos e muitos anos, até que um dia infelizmente ele se foi...

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Aquelas palavras soaram estranhas para Japubá. Ela já escutara histórias semelhantes sobre a floresta, árvores e homens, mas aquela conversa com o velho Jacarandá a deixou ao mesmo tempo preocupada e ávida para conhecer o mundo afora. Ela sabia que era importante para aquele pedacinho da floresta, que iria crescer e se tornar uma árvore forte e robusta, capaz de ajudar muitos bichos e homens. Mas, e a vontade de conhecer todos os lugares distantes que só existiam nas histórias dos amigos peixes e araras? E se ela também se tornasse uma vítima das máquinas com língua de aço e não tivesse tempo de conhecer o mundo? Nossa pequena arvorezinha adormeceu com essas dúvidas pairando sobre sua copa.

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Alguns meses se passaram, e Japubá seguia crescendo forte, sempre conversando muito com seus amigos. Até que uma coisa interessante aconteceu. Com a chegada da primavera, toda a floresta se encheu de flores lindíssimas, e um aroma delicioso podia ser sentido em todos os lugares. Os pássaros cantavam felizes, e toda a floresta se enchia de novos sons, cores, formas ficou muito feliz quando percebeu que suas e sabores. primeiras florezinhas começaram a brotar. Ainda muito pequeninas, mas bastante coloridas e cheirosas, as flores de Japubá ficavam na extremidade de seus ramos, todas juntinhas como um lindo buquê.

Japubá

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Ali daquele jeito, bem juntinhas a seus galhos, Japubรก as sentia como parte de seu corpo. Por isso, nรฃo se espantou muito quando, num vento mais forte, algumas se desprenderam e foram levadas num gostoso sobrevoo pela floresta.

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Japubá pode sentir o frescor do vento nas suas flores e, ao fechar os olhos, pode ver toda a floresta lá de cima, de onde suas florezinhas já ganhavam altura. Viu o verde escuro das árvores mais velhas, o contorno sinuoso do rio, e ficou maravilhada com a revoada de tucanos que passou bem próximo a ela.

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Ao passar pela cachoeira, pode sentir o frescor das águas e, lá longe, na linha do horizonte, viu um lindo barquinho cruzando o rio em direção ao mais belo pôr do sol que jamais havia visto. Japubá percebeu então que, muitas vezes, não precisamos sair do nosso lugar para conhecer outros distantes e encantadores. Basta fechar os olhos e mergulhar neste maravilhoso universo que é a nossa imaginação!

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“A árvore que queria andar” mostra às crianças como podemos ir a lugares maravilhosos deste e de outros mundos usando apenas nossa imaginação e criatividade, além de relembrar a importância de uma relação equilibrada, leve e harmoniosa com a natureza.

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