Editora Evoluir Cultural Título original
Livro de Gaia: o poder da Terra
Autor
Evoluir Cultural
Texto principal
João Pedro Lima
Textos das missões
Rafael Posnik, Fernando Monteiro e Chico Maciel
Comentários
Daniel Angelo, Gerson Santos e Wilson Namen (Ciência em Show), Fernando Monteiro, Chico Maciel, João Pedro Lima e Rafael Posnik (Evoluir Cultural)
Coordenação editorial
Fernando Monteiro e Chico Maciel
Ilustrações
Shun Izumi, Breno Ferreira, Benson Chin e Harumi Tokuyosi
Projeto e produção gráfica
Chico Maciel
Colaboração
Uriá Fassina, David Renó, Gabriela Ferreira e Marcelo Shama
Revisão
Antônio Maciel e Lilian Rochael
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Livro de Gaia: o poder da Terra / comentários João Pedro Lima e Rafael Posnik. — São Paulo : Evoluir Cultural, 2013 — (Coleção Nau dos Mestres). ISBN 978-85-8142-033-2 1. Contos - Literatura infantojuvenil 2. Mitologia - Estudo e ensino I. Lima, João Pedro. II Posnik, Rafael. III. Série. 13-11663 CDD-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura infantojuvenil 2. Contos : Literatura juvenil
028.5 028.5
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Textos por João Pedro Lima e Rafael Posnik Ilustrações por Estúdio 1 mais 2 Em parceria com
Realização
O Caminho da Aventura Em busca do Jardim................................................. 12 Uma nova chance para as águas................ 20 Em busca da luz.......................................................... 24 De Sol a sal.......................................................................28 Solo sobre tela...............................................................32 Infiltrações e contaminações.........................36 Uma lembrança do Jardim............................. 40 Regressar para transformar............................. 44
O poder da Terra
eusa grega da Terra, mãe e avó de todos os deuses e gigantes mais conhecidos da mitologia, Gaia é representada como a própria consciência da Mãe Terra. Frequentemente associada aos papéis de mãe criadora, força feminina e natureza fértil. Representa todos os aspectos da natureza mais pura e selvagem, intocada pela ação humana. Gaia sempre foi uma deusa controversa, seguindo suas próprias regras e complexa como a Natureza, indo além das definições de “bem e mal”. Imaginar Gaia nos tempos atuais, em que as condições ambientais de nosso planeta se deterioram a cada dia, é um exercício desafiador e nos leva a refletir sobre como a mãe terra deve se sentir.
Introdução
Em busca do Jardim
dia de Daniel não havia começado bem. Logo pela manhã, o trem passou perto de um rio mal-cheiroso e poluído e o odor ardeu em suas narinas, revirando o estômago. Em seguida, ao descer do trem e caminhar até a sede do Ciência em Show, foi obrigado a desviar de algumas ruas alagadas devido a bueiros entupidos, provavelmente, por lixo. As crises de tosse que teve no caminho o incomodaram ainda mais. Quando finalmente chegou ao local, encontrou Wilson e Gerson que também não pareciam muito felizes. O tempo chuvoso e o odor de poluição misturado com água suja não alegrava ninguém naquele momento. Os três haviam acabado de chegar... molhados e cabisbaixos. Cumprimentaram-se e, enquanto conversavam sobre como havia sido a semana, iniciaram a última rodada de ajustes na nova versão da Corujola. — Esse clima anda uma tragédia. Chove demais, o trânsito para e o cheiro do rio fica insuportável! — disse Daniel, botando para fora suas frustrações. — Quanto ao trânsito, já estou acostumado, mas esses alagamentos andam complicando demais a vida — Wilson estava ensopado, espirrando, secando o cabelo e se aprumando. — Sem corpo mole, galera! Temos coisas para fazer! Não tínhamos que revisar a Corujola? — propôs Gerson, que já estava seco, pegando as ferramentas. Os três se organizaram e puseram mãos à obra, terminando de implantar as alterações que haviam sido sugeridas por Leonardo da Vinci, em uma outra ocasião. A Corujola era a invenção mais famosa e impressionante dos três cientistas, capaz de levá-los através do tempo e espaço para encontrar mestres do conhecimento de qualquer lugar no Universo. E eles a tinham usado em muitas aventuras, e aprendido muito com as grandes figuras que conheceram. Com essas modificações, a Corujola se tornara mais estável e elegante, mantinha o formato 12
de coruja, com asas hipermodernas e um mecanismo de propulsão revolucionário. A novidade desta vez era um computador interno de última geração que dava à Corujola personalidade e inteligência artificial, o que a tornava uma máquina-voadora fora do comum. Após terminarem o trabalho na nave e lavarem as mãos, os três rapazes se sentaram para fazer um lanche, descansar e pôr o papo em dia. Enquanto comiam, assistiam casualmente à televisão. Daniel mexia no computador, vendo sites de notícias. No telejornal noturno de uma grande emissora, o destaque era a notícia a respeito de um vazamento de petróleo no Rio de Janeiro, e os detalhes dos danos causados. — Nossa, olha o tamanho do estrago! Como é que uma empresa desse porte pode ser tão irresponsável? — disse Wilson, abismado.
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— Eu que o diga! Vejam só a matéria que encontrei. O ar da cidade está cada dia mais poluído e o índice de pessoas afetadas por doenças respiratórias, como a minha bronquite, aumenta a cada ano — disse Daniel, bastante mal-humorado, tossindo e com a voz um pouco rouca. — Ah! Qual é gente? Vocês estão exagerando! — ponderou Gerson. Não deve ter só desastres ambientais acontecendo no momento. Olha só, tem uma matéria no jornal sobre um projeto de reflorestamento que está sendo financiado por um grande empresário… ãh... investigado por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro... ok, eu me enganei! A coisa está feia mesmo. — Isso me deixa triste e enfurecido ao mesmo tempo, sabem? Ver toda essa destruição do meio ambiente, problemas de infraestrutura e tudo o mais. Parece que estamos nos afundando a cada dia em problemas ambientais — lamentou Wilson demonstrando claramente sua preocupação. — Tenho dúvidas se é sensato ser assim, tão alarmista, Wilson. Com certeza há grandes cientistas e estudiosos preocupados com as questões ambientais — afirmou Daniel. — Modéstia à parte, nós, como cientistas e aventureiros responsáveis, não deveríamos fazer algo a respeito dos problemas ambientais? Algo mais “mão na massa”? — perguntou Gerson. — Bom, mas nenhum de nós é exatamente um especialista em temas ambientais, não é? — indagou Wilson. — Senhores, devo lembrá-los que é para esse tipo de situação, quando precisamos da orientação de um especialista em uma área que para nós é um mistério, que criamos nossa máquina-voadora, a Corujola — filosofou Daniel, que não escondia o orgulho que tinha da Nau. — Bem, então vamos embora falar com um especialista, e começar a fazer a nossa parte! — disse Gerson, arrumando sua mochila de viagem. — Mas, com quem iremos conversar sobre a preservação da natureza? Algum mentor do vegetarianismo? O criador do Greenpeace? Eu desconheço qualquer cientista dos tempos antigos que tenha se dedicado ao estudo da conservação da natureza — argumentou Wilson, intrigado. — Por que não perguntamos diretamente à Corujola? — sugeriu Daniel. Os outros dois concordaram prontamente, e juntos foram até o teclado acoplado à nave, que garante a comunicação direta com o computador. Após alguma discussão, concordaram em digitar: “Corujola, 15
por favor, indique quem pode nos esclarecer a respeito de problemas ambientais e nos ensinar formas de os prevenir e combatê-los”. O mecanismo de resposta da Corujola é algo curioso de se observar. Depois de digitar a pergunta no teclado ouve-se o som de diversos mecanismos e engrenagens girando. Ao mesmo tempo, nuvens de vapor são expelidas, os olhos de coruja se movem e o bico abre e fecha, dando a impressão de que a máquina está realmente viva. Alguns segundos depois, surge a resposta na forma de um papelzinho impresso. A mensagem é clara e intriga os três: “Mestra da natureza e meio ambiente localizada. Traçar rota para o Jardim de Gaia?” — Espera aí! Gaia? Gaia como em “Mãe Terra”? — Wilson se sentia confuso — Vamos falar com uma divindade grega? — Parece que sim. Vamos? — apressou-se Gerson, já colocando os equipamentos dentro da Corujola e fazendo os ajustes para a partida. — Espere, Gerson, eu também estou confuso, assim como o Wilson. A Corujola está realmente sugerindo que nos levará para visitar uma entidade que representa a “própria essência vital do planeta”? — Daniel não parecia acreditar no que ouvia. — Galera, nós criamos a Corujola e acreditamos nela, certo? Ela já nos levou para inúmeros países, épocas e lugares estranhos e curiosos, e tudo sempre deu certo. Então parem de enrolar e vamos ver para onde ela nos leva desta vez. Por fim, os três concordaram em subir à nave e iniciar a viagem, indo para um tempo desconhecido. Estranhamente, o relógio do painel da Corujola que indica o ano, dia e mês do destino escolhido não se fixara em número algum. Foi então que perceberam que se dirigiam para um lugar "fora do seu tempo". Conforme a nave acelerava, a temperatura oscilava e os rapazes podiam ver, pela grande janela da cabine de comando, muitas paisagens diferentes desde desertos até montanhas cobertas de neve. De campos calmos a oceanos tempestuosos, tudo em um curtíssimo espaço temporal. Até que, em meio a nuvens muito altas, chegaram a um conjunto de ilhas que flutuavam no céu, com cachoeiras caindo no infinito e uma agradável sensação de paz... 17
O pouso ocorreu sem problemas e, em pouco tempo, os cientistas encontravam-se em meio a uma paisagem verde, repleta de flores, pássaros e árvores que nunca tinham visto. Era o ar mais puro que, até então, haviam respirado. A paisagem natural do jardim era tão exuberante que os três ficaram alguns minutos apenas observando as enormes árvores, as fascinantes cores da vegetação e os animais selvagens que passavam calmamente por eles, como se nunca tivessem visto um ser humano e nada tivessem a temer. O deslumbramento dos cientistas só foi interrompido pela aparição de uma figura feminina, diferente de todas as que já haviam encontrado. Sua pele era esverdeada, nos olhos parecia correr clorofila e no lugar dos cabelos havia flores. Tudo nela era fora do comum. Porém, o que mais os impressionou foi quando a figura feminina disse: — Sejam bem-vindos, rapazes. É um grande prazer tê -los aqui — a voz parecia vir de outro lugar que não apenas da boca da mulher, mas também de toda a terra e das plantas ao redor, criando um poderoso eco. A voz era poderosa, sábia e acolhedora, como a de uma mãe rígida e uma avó carinhosa, unidas em um só corpo. — Oi, tudo bom? Quem é a senhora? — perguntou Gerson, sem fazer muita cerimônia. — Ga-Gaia? — gaguejou Wilson, bastante nervoso. — Por mais que pareça improvável, devemos supor que esta senhora seja mesmo Gaia, a deusa grega da Terra — disse Daniel, desconfortável, tentando falar de algo que lhe parecia tão diferente e mítico. — Por favor, não fiquem tímidos. Posso imaginar o porquê de estarem aqui. Vocês têm perguntas a fazer, não? Dificilmente alguém vem a este jardim apenas para apreciar a paisagem. E foi assim que a sucessão de dúvidas e ensinamentos começou. 18
Capítulo 1
Uma nova chance para as águas
ma figura tão estranha aos nossos olhos causa um nervosismo natural nas pessoas. E com os rapazes não foi diferente. Ainda absortos pela presença da deusa, eles demoraram um pouco para tomar coragem e começar a fazer perguntas. — Vamos, garotos, não tenham medo. Digam-me o que vieram me perguntar, pois imagino que vocês não têm todo o tempo do mundo. — Bem, senhora Gaia, nós viemos até aqui porque estamos muito preocupados com o estado do nosso planeta. As condições de conservação e preservação e as formas de uso dos recursos naturais estão longe do ideal. A verdade é que temos medo de que a nossa civilização esteja acabando com o mundo em que vivemos. — Como Wilson colocou, senhora, estamos muito preocupados com problemas como a poluição das águas, do ar e da Terra em geral. Também nos preocupamos com a quantidade de lixo produzido e com o pouco caso que se faz quando o assunto é meio ambiente — completou Daniel. — Não queremos apenas saber mais sobre estas questões. Também queremos aprender como lidar com elas e buscar soluções — concluiu Gerson. — Então é por isso que vieram até aqui? Nenhum desejo egoísta? Querem apenas saber a respeito dos problemas de seu planeta e as formas de solucioná-los? Estou surpresa, honestamente! E feliz em conhecer humanos tão nobres. Pois bem, comecemos pelas coisas mais simples. Instruídos como são, vocês devem saber que a água é essencial para a vida, e que a água potável é um recurso limitado. Os rapazes concordaram com a cabeça. — O importante, portanto, é pensar sobre como conservar essa água potável e reverter ao máximo os estragos já causados. A água pode ser contaminada pelo lixo, despejo de esgotos e outras atitudes irresponsáveis. Evitar esses tipos de danos, desperdícios e comportamentos 20
inconsequentes é mais importante do que buscar formas para purificar a água. — Tudo bem quanto à prevenção e cautela, mas e quanto a essa ideia de reverter os danos? Isso é realmente possível? — questionava Wilson. — Primeiro, devemos organizar nossos pensamentos de forma adequada. A ideia de despoluir a água não é absurda, mas é preciso notar que a conservação e o cuidado devem ser sempre a prioridade, afinal "é melhor prevenir do que remediar". Não é porque sabemos como purificar a água de um lago, que podemos permitir que ele seja poluído. Mas, retirar dejetos e detritos da água doce, isso sim, é possível. Gostariam de uma pequena demonstração? — Só se for agora! — exclamou Gerson. — Sigam-me, então — Gaia levou os cientistas aventureiros a um pequeno lago cheio de água turva e marrom. — Olhem só a situação deste lago. Não é diferente da situação de muitos outros que vocês conhecem no seu planeta, não é verdade? E vocês sabem me dizer como limpar essa água?
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Como filtrar água suja? Missão 1
Esta gravura mostra dois hemisférios do planeta. Repare bem: tem muito mais água do que terra! Globo Terrestre: gravura de um livro infantil inglês de 1885
Gaia sabe o quanto a água é fundamental para a sobrevivência de todos os seres. Sem água, não existe vida. E mesmo nós, que não vivemos dentro d’água, somos praticamente feitos dela! Isso mesmo: quase 70% do nosso corpo, mais da metade, é composto por esse "Líquido da Vida". A água faz parte da estrutura do corpo e é fundamental para o funcionamento do metabolismo. Infelizmente, o ser humano tem poluído rios, lagos e mares, sujando-os com lixo, esgoto e produtos químicos que tornam a água imprópria para o consumo. Algumas pessoas, mesmo não a ingerindo, correm sérios riscos de contaminação quando a utilizam para tomar banho. Daniel, Gerson e Wilson começam a compreender que, para os seres humanos, não basta qualquer água: é importante que ela seja limpa e livre de micróbios causadores de doenças. De toda água existente no planeta Terra, cerca de 97% está nos oceanos, é salgada e imprópria para consumo. Sobram 3% de água potável, ou seja, boa para beber. Só que a maior parte dessa água potável está congelada nos pólos, geleiras e glaciares. Portanto, resta pouco mais de 1% realmente disponível para consumo humano! E para piorar, essa água está mal distribuída: em alguns lugares do mundo, como na Floresta Amazônica, chove muito; já em outros, como no Deserto do Saara, não chove nunca. Por isso é tão importante fazer bom uso da pouca água que temos. Existem alguns modos simples de livrar esse líquido das bactérias e microrganismos. Por exemplo, fervê-la até começar a borbulhar. Isso não tira o gosto ruim, nem remove resíduos, como areia, barro e impurezas, mas ajuda a obter uma água menos contaminada. Uma forma de recuperar a água suja é filtrá-la. Será que com os materiais disponíveis, você consegue limpá-la?
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Um exemplo natural de filtragem da água são os lençóis freáticos. Quando a água penetra no solo, desce até encontrar uma camada de rocha ou argila muito dura e não consegue mais passar. Então, ela se acumula a até centenas de metros de profundidade, formando os lençóis freáticos. Grande parte das impurezas são retidas nesse processo. Muitos lençóis freáticos conectam-se, criando os aquíferos. Os dois maiores do mundo estão no Brasil e são o Aquífero Guarani, que cobre uma área imensa, desde o Mato Grosso até o norte da Argentina, e o Aquífero Alter do Chão, localizado no Oeste do Pará. Este último, apesar de ocupar uma menor área, tem muito mais água do que o primeiro e, sozinho, seria capaz de abastecer a população mundial por mais de 100 anos. É muita água!
Você possui uma série de filtros em seu corpo, sendo que os mais importantes são os rins. Eles têm a função de purificar o sangue, eliminando impurezas pela urina. Você consegue notar alguma semelhança entre esse sistema e os lençóis freáticos?
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Amarelo
Dicas 1. Filtrar a água nada mais é do que um modo de tirar as impurezas como lascas de madeira, pedregulhos e pequenas partículas (pedaços tão pequenos que nossos olhos não conseguem ver!). 2. Organize os materiais na garrafa de modo que retenham impurezas grandes e depois pequenas, nesta ordem.
Você vai precisar de: Brita Cascalho Areia grossa Areia fina Algodão Garrafa PET 2 litros Jarra Colher de sopa Terra e impurezas Tesoura
Capítulo 2
Em busca da luz
as Daniel ainda estava intrigado. Racional como era, não lhe parecia ser possível que o ser humano pudesse colaborar para a recuperação do meio ambiente. — E por que não? — respondeu Gaia — A capacidade de influenciar o meio ambiente, assim como as plantas e animais que dele dependem, é algo impressionante nos seres humanos. Vocês possuem uma habilidade grandiosa para transformar tudo ao seu redor e, felizmente, não só de forma negativa. — Certo, você nos mostrou como ajudar a reverter um dos problemas causados pelo ser humano. Mas o que mais podemos fazer? — quis saber Wilson, ansioso para aprender. — Muitas coisas! Muitas mesmo. Mas para melhorar a saúde do planeta da forma como pretendem, há algumas relações que precisamos 24
conhecer. Como vocês, na vida cotidiana, se relacionam com os vegetais? — questionou Gaia, sorridente. — Tirando os que comemos? Bem, na cidade não temos muito contato com plantas… — disse Gerson, chateado. — E fora da cidade? Nos campos onde praticam o cultivo de vegetais para alimentação, paisagismo e outras atividades, como é a relação da sua civilização com aquilo que cultivam? Após um silêncio constrangedor, Gaia notou que nenhum dos três parecia saber coisa alguma sobre o cultivo de vegetais nos campos. Como ninguém arriscou uma resposta, Gaia continuou sua exposição. — A relação dos humanos com aquilo que extraem e produzem, por muito tempo, foi simplesmente de tomar o que queriam, sem preocupações com as consequências. Com o passar do tempo, vocês começaram a perceber a necessidade de preservar e usar, de forma mais consciente, os recursos que eu lhes dou. Porém, ainda estão longe do ideal. — E como seria o ideal? — questionou Wilson. — O ideal seria que aprendessem o quanto se pode usufruir da natureza, sem lhe causar maiores danos. E as formas corretas de extrair o que precisam diminuindo, ao máximo, o impacto de suas atividades. Neste caso, estamos falando de vegetais. — E no que a senhora pode nos ajudar nesta nossa relação com os vegetais? — interferiu Daniel. — Vou ensinar uma maneira delicada e pouco agressiva de fazer com que os vegetais ocupem o espaço que vocês gostariam que ocupassem, sem destruí-los. É algo que eu e Apolo discutimos há algum tempo. — Apolo, o deus da luz? Manda ver, mostra aí! — desafiou Gerson, que sempre preferia partir logo para a ação. — Venham comigo! — convidou Gaia, conduzindo-os em direção a um conjunto de pequenas plantas de folhas verdes, em uma parte da floresta onde a luz mal transpassava a copa das árvores. — Observem bem este local — prosseguiu Gaia. Como podem perceber ele é o lugar mais escuro da floresta. E o que acontece com as plantas? Para onde elas crescem? Os três olharam a flora ao redor sem saber muito bem pelo que procurar. Qual seria a relação entre luz, sombra e plantas? 25
Como direcionar o crescimento das plantas? Missão 2
“Qual será a relação entre a luz e as plantas?” — Era a dúvida que pairava na cabeça dos jovens cientistas. No fundo, os três sabiam a resposta: as plantas adoram a luz! Gostam tanto que sempre dão um jeito de se esticar em sua direção. É só observar. Elas buscam a claridade para realizar a fotossíntese, processo no qual as plantas utilizam a luz para transformar água e gás carbônico em oxigênio e carboidratos. Isso quer dizer que as plantas produzem o próprio alimento! Cada espécie de planta aprecia a luz de maneira diferente: algumas preferem uma luz mais forte, outras nem tanto, e isso interfere em seu crescimento, no desenvolvimento de suas raízes e folhas. No mundo inteiro, os vegetais adaptaram-se aos diferentes tipos de clima, solo, luminosidade de cada região e o resultado disto é a grande variedade de plantas espalhadas pelo globo terrestre. As plantas sempre procuram a claridade para poderem crescer. O nome desse comportamento é fototropismo. Nas florestas mais densas, algumas precisam crescer muito acima das outras, em busca de um pouco mais de luz. O famoso girassol também é curioso: como o próprio nome diz, todos os dias ele, elegantemente, gira seu caule, folhas e flor em direção ao Sol. 26
A fotossíntese é o processo celular pelo qual alguns seres vivos produzem seu próprio alimento. A energia necessária para a realização desse processo vem da luz, sendo o Sol a principal fonte. Por meio da fotossíntese, as plantas, as algas e alguns microrganismos produzem todo o oxigênio da Terra. E ainda tem gente que acha que árvore só serve para fazer sombra! Na Terra, dependendo de onde estivermos localizados, o dia pode ter mais ou menos horas de luz. Isso também é influenciado pelas estações do ano — no inverno os dias são mais curtos e, no verão, mais longos. Por exemplo, durante o verão do Canadá, o Sol se põe em torno das 10 da noite. Já na Patagônia, sul da Argentina, as noites podem durar até 17 horas, no inverno. Isso influencia o desenvolvimento das plantas nestas regiões, fenômeno conhecido por fotoperiodismo.
Laranja
Dicas 1. Vedar bem a caixa: “A planta precisa ser colocada na parte mais escura da caixa.” 2. Teste a planta em um labirinto e veja, depois de alguns dias, como ela encara o desafio.
Para brincar Tente fazer a experiência com sementes de outras plantas, como ervilha, cebola e tomate.
Você vai precisar de: Copo acrílico 65 ml Algodão 3 grãos de feijão Caixa de sapatos (papelão) Tesoura Pincel Guache preto Fita adesiva Fita dupla face Régua
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Capítulo 3
De Sol a sal
pós um pequeno repouso, os três rapazes foram servidos, pela anfitriã, de frutas e água fresca e conversavam enquanto comiam: — Gaia, posso perguntar algo? — disse Gerson, comendo uma maçã. — Claro, fique à vontade. — Você falou como é importante utilizarmos o que a natureza nos oferece, mas da forma menos danosa possível, e foi legal. Mas nós precisamos de diversos recursos naturais, como essas frutas que estamos comendo, por exemplo. Se continuamos sempre a extrair o que precisamos, como evitar que um dia acabe? — Bem colocado, Gerson! Para responder a sua pergunta, vamos escolher um recurso natural que para vocês pareça ser abundante. — Que tal os mares? — sugeriu Wilson. — Concordo. Não há nada melhor que o oceano para nos transmitir a noção de imensidão e de infinito — elaborou Daniel. — Está bem, é uma boa sugestão: os oceanos, então. A maior parte das pessoas imagina os mares como algo infinito, como vocês mesmos disseram. Algo até difícil para os humanos terem uma noção
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do seu tamanho. Os oceanos são majestosos, impressionantes e parecem grandes demais para acabarem. Porém, não é só com a quantidade de água que devemos nos preocupar. Os oceanos são ecossistemas complexos, contêm muitas espécies animais, vegetais e recursos minerais também — explicou Gaia. — Nós vimos algumas notícias a respeito de derramamento de petróleo e outras formas de poluição nos oceanos. Mas você nos disse que uma parte desses problemas pode ser solucionada. No caso dos oceanos, que são tão imensos, por que temos que nos preocupar? — perguntou Wilson. — Boa pergunta! Bem, como disse antes, é possível reverter e combater alguns dos estragos causados ao meio ambiente. Mas isso não é tão simples assim. Mesmo se despoluímos um rio que esteve contaminado por muito tempo, os peixes e outras formas de vida aquática não reaparecem imediatamente. — É claro, tem um monte de condições para que o rio seja um ambiente ideal: limpeza da água, oxigenação e outras. Como em um aquário — esclareceu Gerson, lembrando de seus peixes em casa. E Gaia concordou: — Exato. Na natureza há uma série de condições para que haja equilíbrio nos ecossistemas. Quando este equilíbrio é afetado, é necessário um bom tempo para que tudo volte a ser como antes. Para exemplificar, vamos falar de um recurso dos oceanos que é muito importante na vida de vocês: o sal. A formação de sal nos oceanos e alguns lagos é resultado de um processo muito longo e demorado! Querem saber como isso acontece?
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Como fazer um cristal de sal? Missão 3
O tempo de Gaia é eterno. O tempo dos humanos, na Terra, é breve. A formação do sal na natureza ocorre há milhões e milhões de anos e sua origem está ligada diretamente ao Ciclo da Água. Compreender este ciclo é importante para entender por que a água do mar é salgada. Não há um ponto de partida, mas podemos dizer que a água está constantemente percorrendo seu longo caminho desde os céus, passando pelas montanhas, rios, lençóis freáticos até chegar novamente ao mar. Durante este percurso, ela “arrasta” consigo partículas que, quando chegam ao oceano, sofrem reações químicas que as transformam em sal. Todas as etapas deste ciclo — evaporação, condensação, solidificação e escoamento — ocorrem ao mesmo tempo na Natureza. Isso quer dizer que enquanto está chovendo em algum lugar (condensação), em outro ponto do planeta a água congela (solidificação), transformando-se em gelo no topo de montanhas e desaguando dos rios para os mares, em seu estado líquido (escoamento). Nossos amigos querem saber como o sal é formado, mas este desafio levará alguns dias para ser completado. Parece bastante, mas se compararmos ao tempo necessário para que o sal se forme na natureza, é muito pouco.
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Além do sal, uma outra substância que leva milhões de anos para ser formada é o petróleo. A decomposição de florestas e de animais que existiram antes dos dinossauros e que foram compactados por muitas e muitas camadas de solo e lava vulcânica deram o origem a esse óleo. No Brasil, a principal fonte de petróleo é o fundo do oceano, na costa brasileira. Recentemente, em 2007, foi descoberta uma quantidade imensa desse óleo em águas ultraprofundas, abaixo da camada de sal. Por isso, o petróleo que sai de lá é conhecido como pré-sal. Quase tudo o que utilizamos no nosso dia a dia — de chiclete até combustível de avião, de plástico até gás de cozinha — vem do petróleo. Entretanto, esse é um recurso que polui o meio ambiente, além de ser esgotável (um dia vai acabar). Então, sempre que possível, devemos optar por produtos biodegradáveis ou recicláveis, ao invés dos feitos à base de petróleo.
Há vários tipos de substâncias que podem ser chamadas de sal. O que chamamos de “sal de cozinha” é um composto conhecido como cloreto de sódio e é principalmente extraído do mar, de minas sal ou de lagos de água salgada.
Vermelho
Dicas 1. Misture água e sal de maneira que não sobre no fundo do copo; 2. Deixe o copo descansar por 2 minutos; 3. Adicione mais sal até que comece a saturar (sobrar) no fundo do copo; 4. Amarre a linha em um cristal de sal grosso e no palito de modo que o cristal fique no meio do copo; 5. É uma experiência que leva algumas semanas para verificar o resultado. Tenha paciência.
Você vai precisar de: Sal grosso (10 grãos) Sal de cozinha 100 g 1 colher de sopa 1 copo acrílico 200ml Linha fina 1 palito de sorvete 31
Capítulo 4
Solo sobre tela
sticados sobre a grama, apreciando o Sol da tarde e descansando um pouco, os quatro ficaram alguns minutos em silêncio. O ar puro e a temperatura, que parecia sempre ideal, faziam com que os rapazes se sentissem em um sonho, e estavam decididos a aproveitar cada minuto. Gaia disse que iria resolver um pequeno problema e voltaria logo. Enquanto isso, os três conversavam sobre o quanto estavam aprendendo e qual a próxima pergunta que iriam fazer. Quando Gaia voltou já estavam preparados.
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— Pois então, rapazes, podemos continuar nosso passeio? — Na verdade, pensamos que podíamos continuar por aqui. E falar do solo — disse Daniel, apontando para o chão. — Da terra, então? O que exatamente vocês pensaram? — Nós já falamos sobre os vegetais e a influência da luz e da sombra, das águas doces e salgadas, mas não chegamos à terra em si — respondeu Wilson. — E o que despertou o seu interesse pelo solo? Algo em especial? — Na verdade, estávamos conversando sobre como nós, que vivemos em uma cidade asfaltada, conhecemos tão pouco sobre o solo — continuou Daniel. — Entendo… mas, talvez seja esse o problema, não é? Vocês quase não veem a terra, não plantam, não retiram nada do solo diretamente para seu sustento, a relação de vocês com o chão é de afastamento. — Eu costumo cair na terra e meter os pés na lama quando vou fazer trilha ou praticar esportes, serve? — gracejou Gerson, sorrindo enquanto se esticava no chão, aproveitando o Sol da tarde. — Sim, eu diria que isso é mais intimidade com a terra do que eu esperava de vocês. Porém, a pergunta que quero fazer é: além das plantas que nela crescem, o que a terra oferece aos seres humanos? Os três revezaram-se, palpitando. E disseram coisas como matéria-prima para argila, cimento, pedras preciosas, metais e outros minerais variados. Conforme iam falando, Gaia aprovava e sorria, feliz por perceber que estava diante de pessoas capazes de compreender o tipo de riqueza que havia bem debaixo dos seus pés, todos os dias. — Exato, as inúmeras rochas e variadas formações de relevo geram diferentes tipos de riqueza mineral. Além disso, retomando nossa conversa sobre vegetais, vocês sabiam que cada espécie de planta se desenvolve melhor em um determinado tipo de solo? Há as que preferem solos úmidos e profundos; já outras, os solos mais secos… Os três assentiram com a cabeça, mas pareciam cansados e um pouco sobrecarregados com tanta informação. Percebendo o desânimo dos cientistas, Gaia propôs algo. — Aproveitando, vou mostrar a vocês um outro recurso que o solo fornece, e que poucos se lembram de usar. Peguem folhas de papel. Vamos fazer algumas pinturas! 33
Como fazer tinta com terra? Missão 4
Papel e pincéis a postos! Os cientistas estavam ansiosos para começar. Pintar com terra os fez lembrar dos homens das cavernas. Nossos ancestrais pré-históricos não conheciam a escrita, mas deixaram um importante legado daquela época: as pinturas rupestres, ou seja, artes primitivas nas paredes das cavernas e em algumas rochas, e que registravam o dia a dia daqueles homens e mulheres. Por conta dessas pinturas, foi possível aprendermos sobre como nossos antepassados relacionavam-se com a natureza. O desenho surgiu muito antes da escrita, como uma das primeiras formas de representação das ideias e da realidade. A tinta era feita usando pigmentos da terra, plantas, raízes e até sangue de animais. Hoje em dia há muitos tipos de tintas feitas de diferentes compostos químicos: acrílica, guache, plástica etc. Nessa experiência descobriremos como diferentes tipos de terra podem ter cores tão diversas. Isso se deve à ação do tempo e à quantidade de minerais e materiais orgânicos presentes em cada solo. Por isso, toda terra tem sua cor! 34
Chamamos de Pré-História o estágio da Humanidade antes do surgimento da escrita e que ocorreu, mais ou menos, em 5.500 a.C. Foi nesse período em que o Homem começou a pintar animais selvagens, cenas de caça e danças nas paredes das cavernas, utilizando principalmente argila, sangue, saliva e até fezes de morcego. Eca!
Violeta
Dicas 1. Misturando os materiais disponíveis, desmanche a terra o máximo que conseguir; 2. Diferentes tipos de terra criam diferentes tons de cores.
Para brincar 1. Crie um alfabeto pré histórico — você pode até inventar letras, se quiser! 2. Desenhe uma história com animais.
Você vai precisar de:
O grafite não é só aquele que faz o seu lápis escrever! Grafite, em latim, significa "marca ou inscrição feita em um muro”, e também é o nome dado às inscrições ou desenhos feitos em paredes desde o Império Romano. Nos dias de hoje, essa expressão é tida como uma manifestação artística típica das cidades. 35
5 copos acrílico 65 ml Terra 1 colher de sopa 1 copo acrílico 400 ml 3 palitos de sorvete 1 pincel Folhas sulfite Cola branca Jarra
Capítulo 5
Infiltrações e contaminações
em que se dessem conta, o dia foi escurecendo e a noite chegou. Os rapazes ficaram deslumbrados, ao perceber que eram acompanhados por centenas de vagalumes que clareavam o caminho pela floresta adentro. Iluminados dessa forma, os quatro entraram em um grande campo florido, e caminharam por algum tempo em silêncio, aproveitando a brisa do anoitecer, as cores e aromas ao redor. Gaia então se ajoelhou e começou a remexer em algumas das muitas flores que brotavam por todos os cantos. Em seguida, ergueu-se sorrindo. — O que acham dessa paisagem? É bonita aos seus olhos? Os três concordaram, silenciosamente, acenando com a cabeça, não querendo acabar com a magia daquele momento. — E se eu dissesse a vocês que todas essas flores e essa beleza podem ser ameaçadas por resíduos despejados no solo? Por contaminações que 36
as pessoas sequer suspeitam, mas que afetam diretamente essa obra de arte botânica? — desabafou Gaia, demonstrando certa irritação, como se seu humor tivesse mudado de uma hora para outra. — Nós… nos sentiríamos envergonhados pelo que nossa civilização tem feito? — respondeu Wilson, um pouco inseguro. — Talvez devam, mesmo. A verdade é que as ações irresponsáveis dos seres humanos me afetam diretamente, pois o que acontece à Terra, afeta a mim também. — Então, além de utilizar as riquezas do solo, devemos nos preocupar também com o que despejamos na terra? — perguntou Wilson. — Sim. A riqueza mineral que o solo oferece é uma das razões para evitar e combater a sua contaminação, mas seguramente não é a única. A saúde da terra é importante para a fauna e a flora local, assim como para as pessoas que dela vivem. A agricultura, a água, tudo que tem relação com a terra pode ser afetado quando os solos estão poluídos. — Mas nem todos os humanos contribuem com a poluição, há muitas pessoas dedicadas a evitar contaminações e outros problemas ambientais — ponderou Daniel. — A verdade é que muitas vezes vocês, humanos, nem percebem o mal que estão fazendo. Já reparou no que está vazando da sua mochila, Gerson? — apontou Gaia, visivelmente irritada! — Vazando? Oh! — exclamou Gerson desnorteado, e então percebeu que havia óleo de máquina escorrendo de sua mochila. — Algum frasco deve ter estourado quando você deitou-se no chão para aproveitar o Sol — disse Daniel. — Ai, caramba! Como a gente resolve isso agora? Gaia, me desculpe, eu nem sei o que dizer — comentou Gerson, bastante envergonhado. — Falar, neste tipo de situação, não resolve muita coisa. É preciso amenizar os danos e evitar que os resíduos se espalhem. — Mas não temos o equipamento adequado! — lamentou Wilson, um tanto quanto preocupado. — Nem sempre é preciso equipamento moderno e caro para resolver um problema ambiental. Vou lhes mostrar como usar o que há ao seu redor para reverter uma contaminação. Observem — disse Gaia, enquanto se dirigia a um pedaço do jardim, repleto de flores. 37
Como colorir uma flor? Missão 5
Nem todas as plantas possuem flores ou folhas, mas todas possuem raízes. E, ao contrário do caule e dos galhos, estas crescem em direção oposta à da luz, cavando e ramificando-se a fundo no solo. É nas raízes que ocorre a absorção de água e de substâncias nutritivas presentes no solo pelo vegetal. Esses nutrientes tornam possível a realização da fotossíntese e, por isso, da alimentação da planta. Gerson derrubou óleo na terra. Como as plantas não se alimentam de óleo, é como se fosse um veneno para elas. E, se o solo se contamina com alguma substância venenosa, a raiz a absorverá e isso afetará diretamente a planta. Um solo muito contaminado pode perder sua capacidade de sustentar a vida. E os animais, plantas, fungos e insetos estão todos conectados, dependendo uns dos outros. Contaminar o solo é condenar a fauna, a flora e a nós mesmos à extinção! Para observar como a planta retém as substâncias que estão na água, vamos fazer nossa experiência com um corante que não ofereça nenhum risco a ela. Com uma flor clara, poderemos verificar o corante mudando a cor de suas pétalas.
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A produção de alimentos no campo costuma levar ao uso de muitos agentes tóxicos como venenos para acabar com insetos e fungos. O problema é que esses produtos são absorvidos pelas plantas que ingerimos, e podem nos fazer mal. Por isso, é sempre melhor dar preferência aos alimentos de origem orgânica, que não recebem agrotóxicos durante sua produção e não agridem o solo.
Azul
Dicas 1. Para aumentar a superfície de absorção do caule, que tal cortá-lo na diagonal? 2. Flores brancas adquirem a cor do corante que você utilizar; já as com cores claras, como o amarelo e o azul claro, combinam-se com o corante, formando novas cores.
Para brincar 1. Presenteie alguém que você gosta com as flores que tingiu! 2. Tente reproduzir as cores dos cinco anéis olímpicos, uma para cada continente.
O cálcio é um dos diversos nutrientes presentes no solo e que é absorvido pelas plantas. No pasto, a grama torna-se rica desse mineral e é ingerida pelo boi e pela vaca. Por isso, tanto o leite quanto a carne desses animais também estão repletos de cálcio. Assim, quando nos alimentamos destes produtos, ingerimos o cálcio e outros nutrientes de maneira indireta.
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Você vai precisar de: Flores brancas 2 corantes 2 copos de acrílico 400 ml Tesoura Jarra
Capítulo 6
Uma lembrança do Jardim
uanta beleza! Mesmo já tendo caminhado por boa parte do Jardim, a cada momento, os três se deparavam com novas formações rochosas, animais desconhecidos e flores diferentes. A variedade dos vegetais, porém, era o que mais os fascinava, pois ali encontraram flores, frutos e folhas de cores, formas e texturas que nunca imaginaram existir. Os três cientistas observavam e tomavam nota de tudo o que viam, mas ainda assim sempre havia algo novo para conhecer e surpreender. — E então, acham que já aprenderam tudo o que poderiam por aqui? Gerson, que estava subindo em uma árvore, respondeu: — Eu duvido! Aqui há tantas frutas e tantas flores! E a maioria delas eu nunca tinha visto nem ouvido falar. — E sempre haverá, jovem. Aqui vivem todas as espécies existentes no Universo, inclusive muitas que as pessoas de seu mundo ainda não conhecem. Os três, pensando nessa afirmação, começaram a olhar ao longe, e então perceberam o que Gaia dizia. Havia diversos tipos de relevo e vegetação pouco ou totalmente desconhecidos, mas que tornavam-se visíveis aos seus olhos conforme exploravam as regiões mais distantes, com o auxílio dos binóculos trazidos na mochila. — Mas isso é… impossível. Ou, ao menos, altamente improvável — disse Daniel. O Jardim, que era muito maior do que imaginavam, continha um exemplar de cada ecossistema da Terra. — Daniel, nós estamos, há dias, em um lugar indefinido no tempo e espaço, falando com uma divindade grega. Você realmente está preocupado aqui com as regras da lógica do nosso mundo? — ponderou Wilson, que parecia estar se divertindo. — Hahaha, Daniel, acho que desta vez o Wilson te pegou! — gargalhou Gerson, contente. — Rapazes, por favor. Agora que vocês entenderam que é impossível catalogar, investigar e estudar todas as espécies existentes aqui, é 40
melhor se conformarem. Muitas dessas plantas têm funções medicinais, alimentícias e até mesmo sagradas, conhecidas por civilizações humanas. Mas os poderes da grande maioria ainda são ignorados por vocês humanos. E uma coisa que me deixa enfurecida é a capacidade que a sua civilização tem de destruir coisas que sequer conhece. E é isso que vem acontecendo com o desparecimento das florestas na Terra. — Incrível! Há tanto para se conhecer e a aprender aqui! Será que é possível encontrar esse conhecimento em nosso tempo? — indagou Wilson. — Sim. Vocês podem encontrar este conhecimento onde quer que estejam. Porém, não serei tão cruel assim com vocês. Há alguma espécie aqui que os interessou em particular? Algo que será difícil encontrar quando regressarem?
Os três entreolharam-se e discutiram durante alguns minutos. Finalmente responderam: — Há uma flor em particular, aquela com uma cor prateada, que nenhum de nós conhecia antes de chegar aqui. Podemos fotografá-la e analisá-la, ou até mesmo levar um exemplar conosco? — Não sei exatamente qual a forma de viagem utilizada por vocês, tampouco se a flor sobreviveria caso a levassem consigo. Mas posso ensiná-los a extrair os pigmentos que dão a esta flor a cor tão especial que tem. Desta forma, o material estará seguro seja qual for seu meio de transporte. 41
Como extrair o pigmento das plantas? Missão 6
O Reino Vegetal é incrivelmente vasto, como Gaia revelou aos nossos heróis. São tantas e tantas espécies no mundo, cada uma com características únicas, que muitas delas jamais foram vistas por olhos humanos. Há plantas que servem para comer, perfumar, curar, tratar males e até espantar insetos. Nossos cientistas desejam levar um pouco desse paraíso, que é o Jardim de Gaia, a bordo da Corujola. Extrair a cor daquela estranha flor parece ser a melhor solução nesse caso. Através da extração de pigmentos, não só de plantas, conseguimos reproduzir as cores existentes na natureza, o que nos possibilita criar uma infinidade de tintas. É possível também retirar pigmentos de minérios. Não há limites quando se fala em misturas de pigmentos. A extração é simples e, com as folhas, flores e minerais adequados você poderá conseguir suas próprias cores naturais. Experimente, pinte à vontade!
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Além de pigmentos, é possível extrair o aroma das plantas para criar fragrâncias. Os perfumes que você conhece são uma combinação de diversos extratos das plantas. A França é conhecida por produzir muitos perfumes famosos.
Verde
Dicas 1. Você poderá usar folhas, flores e até minerais! Quanto mais tipos, mais pigmentos; 2. O almofariz e o pistilo servem para triturar e misturar; 3. O álcool ajuda a liberar os pigmentos das flores e folhas.
Para brincar Que tal usar as plantas que você tingiu na experiência anterior para conseguir mais algumas cores?
Você vai precisar de:
O camaleão é um réptil que tem a habilidade de trocar a cor de sua pele para se disfarçar no ambiente ao redor. É um sistema de camuflagem que o ajuda a capturar a sua caça e também esconderse de predadores. Observando este curioso animal, nós humanos adaptamos a habilidade de nos camuflar usando as mesmas cores que o ambiente. 43
Almofariz e pistilo Folhas e flores diversas Álcool hidratado 100ml Papel filtro Tesoura Copo acrílico 200 ml Conta gotas Régua
Conclusão
Regressar para transformar
ela manhã, os cientistas deram-se conta de que já estavam há muito tempo naquele jardim. Era impossível calcular com exatidão, mas a sensação era de que havia passado meses. O tempo parecia avançar diferente por ali, e os três começaram a ficar preocupados. Eles deram diversos passeios, exploraram cada canto do local e aproveitaram o quanto puderam, tentando adiar ao máximo a hora da partida, mas logo lembraram-se de que tinham outras obrigações. Precisavam mesmo ir embora. — Então, garotos, vejo que estão arrumando suas coisas. Espero que sua estadia aqui tenha sido interessante. Atingiram seus objetivos? Os três se entreolharam e observaram o jardim ao seu redor antes de responder. Sabiam que sentiriam saudades daquele lugar, assim que entrassem na Corujola. Entretanto, o regresso era necessário. — Sim, somos muito gratos por tudo que pudemos experimentar e aprender. Há alguma forma de agradecermos a senhora? — perguntou Wilson, sorrindo emocionado. — Vocês vieram até aqui com um objetivo: aprender sobre a natureza e a relação dos humanos com ela, para poder interferir na forma como o mundo de vocês segue. Nada tenho a pedir a não ser que cumpram com o que dizem — respondeu Gaia, séria. — Prometemos! — exclamaram Wilson e Gerson, sorrindo. Daniel deu um passo à frente dos amigos: — Gaia, antes de irmos, eu gostaria de falar sobre mais algumas coisas. Você nos instruiu o melhor que pôde, mas eu gostaria de ter certeza de que aprendemos o que você nos ensinou. — E por que a dúvida, rapaz? O que lhe incomoda? — disse Gaia, calmamente, encarando os três. — Bem, de onde viemos, há organizações e pessoas interessadas em trabalhar pela conservação do meio ambiente. Muitas, na verdade. Mas eu 44
não tenho certeza se elas realmente entendem a importância do equilíbrio na natureza, nem a forma como as coisas dependem umas das outras ou das suas inter-relações… — falou Daniel, que parecia confuso, angustiado. — Hummm, acho que saquei! Daniel acha que as pessoas imaginam que pequenos gestos mudam tudo, mas não entendem como os sistemas funcionam — arriscou Gerson. — Para não falar dos ciclos… — complementou Wilson.
— Acho que compreendi o problema. Vocês conseguiram captar o que queriam entender, mas não sabem muito bem como utilizar e repassar isso no mundo de vocês. Estou certa? — Sim, é isso! — Daniel parecia um pouco envergonhado. — Está bem, sentem-se. Precisaremos de algum tempo para isso, antes de vocês partirem. Os três se acomodaram e ouviram atentamente: — Falar de questões específicas não é tão complicado. Muitas pessoas são capazes de entender os problemas ambientais, e colaboram, dentro do possível, para amenizá-los. Seja separando o lixo para reciclagem, economizando a água, regulando motor de veículos, entre outros. Todas essas ações são válidas e boas para o mundo em que os humanos vivem. 45
— Mas se as pessoas têm essa consciência e fazem sua parte… qual o verdadeiro problema? — questionou Wilson. — Na verdade, algumas pessoas fazem o que acreditam ser “a sua parte”. Isso não significa que elas saibam como cada atitude pode afetar o mundo ao seu redor. O que vocês aprenderam aqui de mais importante? Após pensar um pouco, cada um deu sua opinião. — A respeito dos ciclos e períodos da Natureza, eu diria — destacou Daniel. — Sobre a forma como nossas ações afetam direta e indiretamente o mundo em que vivemos — disse Wilson. — Como podemos colaborar para evitar e reverter a poluição e degradação do mundo em que vivemos! — concluiu Gerson. — Três bons pontos, de fato. Vejo que absorveram as partes mais importantes do que conversamos. Mas aí é que está, o principal é compreender o conjunto de tudo isso. Vejamos se consigo explicar melhor: Todas essas lições devem ser usadas juntas. Vocês têm que perceber e compartilhar com os outros de seu mundo que não há uma solução única para os problemas ambientais. É preciso trabalhar de várias formas e em colaboração. — Despejando o lixo nos lugares adequados e evitando contaminações desnecessárias, por exemplo — lembrou Daniel. — Apoiando campanhas e projetos de restauração e conservação do meio ambiente — complementou Wilson. — Percebendo que não estamos separados da natureza, mas que fazemos parte de tudo o que há nela — encerrou Gerson. — Os três estão corretos. E vocês não pensavam assim antes de virem até aqui, não é? Tenho certeza de que não foram apenas nossas discussões e as demonstrações que os fizeram mudar a maneira de ver e sentir a natureza. Vocês perceberam o quanto é agradável viver em um ambiente como esse, um mundo onde a natureza está próxima, viva e saudável. Se aproximaram o suficiente para perceber como é viver em um planeta onde as plantas e animais estão integrados à nossa vida, e não são apenas enfeites ou bichos de estimação. E saibam que a mensagem que devem levar e demonstrar é muito maior. Digam a todos que puderem que a melhor maneira de valorizar a natureza é incorporá-la, de fato, em suas vidas. 46
— Espalharemos o conhecimento e a mensagem que nos passou! — exclamou Wilson, enquanto os outros dois concordavam acenando com a cabeça. Os cientistas então recolheram suas coisas e se prepararam para o momento da despedida. — Agradecemos por tudo, senhora Gaia — disse Daniel, dando-lhe um rápido abraço e sorrindo. — Gostaríamos de poder visitá-la novamente — comentou Wilson, já com saudades do lugar e da anfitriã. — E de explorar mais esse lugar lindo — completou Gerson, olhando para o Jardim. — Boa sorte em sua viagem. Quem sabe não nos encontramos novamente algum dia? Agradeço pela visita e pelo compromisso que assumiram. Adeus! Conforme a Corujola se afastava pelos ares, os rapazes tiveram uma última visão daquele lugar maravilhoso. Ao lembrar que voltariam para um mundo mais cinza souberam que, ao menos, carregavam consigo as ideias para melhorar este mundo e a vontade de torná-lo mais verde. 47
Corujola: a máquina viva
Passarola Gravura original de Bartolomeu de Gusmão, 1722
No Século XVIII, Bartolomeu de Gusmão, conhecido como o Padre Voador, o inventor do balão de ar quente e de outros engenhos, projetou uma espécie de aeronave chamada Passarola. Esse invento, apesar de não ter nunca sido construído, foi a inspiração usada para a Nau voadora dos nossos protagonistas do Ciência em Show: a Corujola. Inspirada no formato de uma coruja, tem asas, controles, um balão e diversas engrenagens, fruto da tecnologia moderna. Aprimorada com o auxílio dos mestres e das descobertas realizadas pelos três cientistas viajantes, a Corujola é a nave que transporta Wilson, Gerson e Daniel em viagens através do tempo e espaço e os ajuda a encontrar os mestres da tecnologia e da natureza. A Corujola é também o veículo que irá transportar todos aqueles interessados em desvendar o universo da Ciência, seus mistérios, aventuras e aprendizados. 48
O trio Ciência em Show
Daniel
Gerson
Wilson
O mais observador entre os três protagonistas, Daniel é mais formal e tem um ar de professor, o que o diferencia dos colegas mais sociáveis e afetivos. É o mais centrado, racional, e o menos inclinado a agir por impulso, sempre pensando e planejando bem antes de agir. É muito inteligente e bastante respeitado pelos colegas e pelas pessoas em geral.
Atlético, amistoso e apressado, Gerson é o mais esportivo e "mão-na-massa” dos três: não tem "tempo ruim"! Está sempre disposto a testar pessoalmente as ideias dos colegas e contribuir para a resolução de problemas. Nossa "cobaia" não é de falar muito, mas age sempre que necessário e, às vezes, até mesmo se adiantando mais do que deveria.
Eterno questionador e o mais curioso, Wilson é também o mais emocional e falante do grupo. Apesar da fama de atrapalhado e de ser um pouco desastrado, Wilson é bastante perspicaz e observador. Sua necessidade de aprendizado e compreensão é grande, e quase nunca se dá por satisfeito até achar a resposta para as questões que foram levantadas.
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Este livro foi composto em Sentinel, desenhada por HF&J, derivada da Clarendon esta que, por sua vez, foi projetada por Robert Besley em 1845, tendo sido a primeira fonte patenteada da História. Foi muito utilizada em cartazes no Velho Oeste americano. Além da Sentinel, o livro é composto pelas fontes Phaeton, de Kevin Cornell e Randy Jones e que é inspirada nos rótulos de produtos da Era Vitoriana; e pela fonte Abraham Lincoln, desenhada pela designer Frances Macleod a partir de cartazes de 1864 (um ano antes da morte do então presidente americano que dá nome à fonte). Seu uso é livre e está disponível em: www.losttype.com. As capitulares deste livro foram inspiradas nos trabalhos de Jessica Hische e geradas a partir da fonte Apex Lake pela designer Gabriela Ferreira. Todas as gravuras utilizadas neste livro, são de domínio público ou de uso livre (royaltie free) e foram obtidas nos seguintes sites: • Graphics Fairy: www.thegraphicsfairy.com • Wikimedia Commons: www.commons.wikimedia.org • Retro Vectors: www.retrovectors.com • Biblioteca do Congresso Americano: www.loc.gov • Bibliodyssey: www.bibliodyssey.blogspot.com.br
Esta edição foi impressa sobre papel Triplex 250g/m2 (capa) e Pólen Bold 90g/m2 (miolo), na gráfica Garilli, São Paulo, em abril de 2014. Tiragem: 2600 exemplares.
reocupados com a poluição e destruição causada ao meio ambiente de nosso planeta, os três cientistas decidem ir em busca de uma solução para os problemas ambientais que tanto nos incomodam. Após uma consulta à Corujola, Wilson, Gerson e Daniel seguem em direção ao Jardim de Gaia, lugar onde vive a Mãe Terra. Lá aprendem muito mais do que imaginavam sobre o funcionamento e formas de conservação de nosso mundo. Será que essa aventura os ajudará a solucionar os problemas aqui na Terra? A Coleção “Nau dos Mestres” é uma forma criativa e divertida para você aprender sobre ciências e artes. Os livros da coleção acompanham um laboratório de ciências composto por quatro caixas: Merlim, Leonardo da Vinci, Apolo e Gaia — os Mestres. Dentro de cada caixa, você encontrará os materiais necessários para superar os desafios e completar as missões mirabolantes. Use a sua inteligência e criatividade para ajudar os jovens cientistas a completar as missões para avançar na história. As aulas na escola nunca mais serão as mesmas depois que você entrar para o time da Nau dos Mestres!