Editora Evoluir Cultural Título original
Livro de Leonardo: o poder da razão
Autor
Evoluir Cultural
Texto principal
João Pedro Lima
Textos das missões
Rafael Posnik, Fernando Monteiro e Chico Maciel
Comentários
Daniel Angelo, Gerson Santos e Wilson Namen (Ciência em Show), Fernando Monteiro, Chico Maciel, João Pedro Lima e Rafael Posnik (Evoluir Cultural)
Coordenação editorial
Fernando Monteiro e Chico Maciel
Ilustrações
Shun Izumi, Breno Ferreira e Benson Chin
Projeto e produção gráfica
Chico Maciel
Colaboração
Uriá Fassina, David Renó, Gabriela Ferreira e Marcelo Shama
Revisão
Antônio Maciel e Lilian Rochael
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Livro de Leonardo: o poder da razão / comentários João Pedro Lima e Rafael Posnik. — São Paulo : Evoluir Cultural, 2013 — (Coleção Nau dos Mestres). ISBN 978-85-8142-030-1 1. Contos - Literatura infantojuvenil 2. Mitologia - Estudo e ensino I. Lima, João Pedro. II Posnik, Rafael. III. Série. 13-11666 CDD-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura infantojuvenil 2. Contos : Literatura juvenil
028.5 028.5
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Evoluir Cultural FBF Cultural Ltda. Tel: (11) 3816-2121 evoluir@evoluircultural.com.br www.evoluircultural.com.br Rua Aspicuelta, 329 Vila Madalena, São Paulo-SP CEP 05433-010
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Textos por João Pedro Lima e Rafael Posnik Ilustrações por Estúdio 1 mais 2 Em parceria com
Realização
O Caminho da Aventura Em busca do sonho de voar................................ 13 Não existem barrancos para a ciência.......21 E o vento empurrou................................................ 24 Remando sem usar as mãos.............................28 Cola para cartas...........................................................32 Retratos e esquadros..............................................36 O sonho de voar.......................................................... 40 De volta para casa........................................................ 44
O poder da Razão
m dos maiores ícones da ciência e arte da história, Leonardo da Vinci se destacou como pintor, inventor e brilhante mente pensante em diversas outras áreas nos séculos XV e XVI, durante a Renascença Italiana. Leonardo era famoso por ser um grande observador dos padrões e do mundo ao seu redor e um homem de curiosidade insaciável. Conhecido principalmente por sua carreira de pintor, com obras como a Mona Lisa e a Virgem dos Rochedos, Da Vinci foi o inventor de diversos conceitos tecnológicos que hoje são comuns e de grande importância, como helicóptero, paraquedas, roupa de mergulho e outros.
Introdução
Em busca do sonho de voar
clima era de expectativa na base de operações do Ciência em Show. Daniel inspecionava a Nau dos Mestres para ver se a máquina voadora do grupo ficara como o planejado. Wilson estava curioso quanto ao funcionamento daquela engenhoca, e Gerson saltava sobre ela testando se era mesmo sólida. — Eu acho que a Nau quebra um galho, sim! — gritou Gerson. — Gerson, eu agradeceria muitíssimo se você parasse de dizer que um projeto, que nos tomou meses de trabalho, “quebra um galho” — replicou Daniel. — Relaxa, Daniel. Tenho certeza de que ele falou com a melhor das intenções — disse Wilson, que também parecia inseguro quanto ao que a Nau dos Mestres poderia realmente fazer. — E aí, vamos levar para uma primeira viagem? Quero ver quão bem a geringonça funciona! — insistiu Gerson. — Primeiro, precisamos verificar alguns dos sistemas e decidir, racionalmente, um destino que seja cientificamente enriquecedor e que interesse a todos — disse Daniel com voz da razão. — Posso escolher o primeiro? Se não for incômodo para nenhum de vocês, é claro — o entusiasmo de Wilson era notável. — Por mim tudo bem. Vamos nessa! — Não discordo também. Poderia me dizer para onde vamos, Wilson? E quando? — Claro. Vamos para Milão, em 1482, encontrar Leonardo da Vinci, mestre das invenções, padrões e questionamentos. Eu tenho tantas perguntas a fazer a ele que nem sei por onde começar! O som e a movimentação de mochilas sendo arrumadas são interrompidos apenas por um assobio vindo de Wilson, que sabia que essa experiência seria única, e um excelente teste para a capacidade da Nau dos Mestres de viajar para qualquer localidade no tempo–espaço. 13
A Nau era uma máquina voadora impressionante. A cabeça com a forma de uma coruja abrigava a cabine de controle. Sua forma, aliás, justificava o apelido carinhoso de Corujola. Sobre as costas do "pássaro-máquina", um dirigível levava a embarcação a altitudes estratosféricas, e um par de asas e hélices permitia atingir velocidades incríveis. Dentro da nave, o painel de controle era formado por relógios, medidores, botões variados e um sistema de comunicação interno. Enfim, fariam o primeiro voo da máquina de investigação e experimentação com a qual por tanto tempo sonharam! — Estão prontos, rapazes? — perguntou Daniel. — Eu estou sempre pronto! — respondeu, Gerson, entusiasmado. — Quase! — disse Wilson, tropeçando e se apoiando para ficar em pé. Ele provavelmente estava levando coisas demais na mochila, mas quem saberia o que seria necessário? Ao embarcar, os três estavam apreensivos. Será que o projeto, mesmo pensado e repensado em cada engrenagem, circuito e peça, funcionaria de forma perfeita? A única maneira de colocá-lo à prova seria testar, e nenhum deles tinha dúvidas a respeito disto. — Iniciando viagem inaugural da Nau dos Mestres em: três, dois, um! — disse Daniel, enquanto apertava os botões definindo o dia, mês e o ano em um reloginho no painel de controle da nave, ao mesmo tempo em que Wilson marcava o destino da jornada em um mapa desenhado sobre uma tela digital: Milão, na Itália, e o ano: 1482. A Nau dos Mestres decolou levantando poeira para todos os lados. O chacoalhar na cabine de controle foi forte e os três tiveram que se segurar para não cair sobre o convés da nave. Pela escotilha, a paisagem foi se transformando muito rapidamente, e centenas de imagens apareciam, como se estivessem sendo distorcidas pelo tempo. Os anos foram retrocedendo, com as imagens marcantes dos séculos passando pela janela. Era possível ver personagens da História, grandes cientistas do século XX, como Albert Einstein, Carl Sagan e Marie Curie, uma das maiores cientistas de todos os tempos e a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel. Depois, apareceram pessoas importantes do século XIX, como Charles Darwin e o brasileiro Osvaldo Cruz. A viagem seguia apressada, passando pelos anos 1600, depois, 1500... e, finalmente, 1482! 14
— Preparar para a aterrissagem! — disse Daniel, assim que conseguiu ver um amontoado de casas. A reentrada na atmosfera chacoalhou a nave. Cada um se segurou onde podia enquanto tudo balançava. — Então, lembram-se de quando disse que achava que a Nau aguentaria? Acho que errei — reconheceu Gerson, que sempre mantinha um sorriso, mesmo quando a situação era complicada. Os cálculos estavam todos corretos mas, obviamente, não poderiam avaliar os efeitos que a viagem causaria no aparelho. Afinal de contas, é a primeira vez que este tipo de viagem estava sendo realizada. — Acho que devemos nos perguntar neste exato momento: o que faremos se a Corujola cair? — ponderou Wilson, que não conseguia parecer tão controlado, suas mãos tremiam e a voz demonstrava certa apreensão. — Preparar os dispositivos para pouso de emergência! — Deixa comigo! — prontificou-se Gerson. Os dispositivos de emergência ajudaram a estabilizar a nave, mas os fortes solavancos foram inevitáveis. A nave finalmente aterrissou em uma colina nos arredores de Milão. 16
Após verificar que estavam mesmo parados, Gerson abriu a portinhola e verificou as avarias. Uma breve inspeção na parte externa, e viu o que temia: uma das asas estava quebrada. — É, acho que isso vai dar um trabalhão para consertar... — disse ele, já usando sua conhecida força para levantar alguns pedaços quebrados da asa da Corujola. — Desculpem-me, eu estava tão empolgado para decolar logo e conhecer Da Vinci... deveríamos ter feito mais testes. — Não se culpe, Wilson. Nós todos idealizamos e trabalhamos no projeto juntos, e estou certo de que fizemos tudo de forma adequada, mas nem sempre tudo procede como gostaríamos — Daniel sorria bondosamente, e logo os três estavam calmos, rindo e olhando para a Nau. Enquanto sem mantinham entretidos pensando em uma solução, um homem de cabelos encaracolados, que estava casualmente próximo ao local da queda, se aproximou e começou a olhar fascinado para a Nau e a tomar nota do que via. Demorou algum tempo até que os três cientistas de nosso tempo percebessem o que se passava. 17
— Ei, Wilson, não olhe agora, mas... eu acho que sei quem é aquele ali — sussurrou Gerson, que já ia na direção do homem enquanto falava. — Quem? Onde? Ei, espera, será que é o... — confuso, Wilson havia perdido até a fala. Bem diante de seus olhos, estava aquele por quem sempre teve grande admiração. Leonardo da Vinci, talvez o homem mais inteligente que já pisou sobre a Terra, estava ali, bem diante dos três jovens cientistas. Suas ideias sobre movimento, resistência do ar, proporções matemáticas, luz, arte e estética influenciaram e influenciam até hoje centenas de cientistas que vieram depois dele. No entanto, sua postura, ao contrário do que se poderia esperar, era de alguém muito humilde e amistoso. Antes mesmo que algum deles pudesse se pronunciar, o homem da barba desgrenhada resolveu se adiantar: — Madonna mia! Foram vocês que construíram esta obra estupenda? É um grande prazer conhecê-los, chamo-me Leonardo, e posso dizer-lhes, sem dúvida, que esta é uma obra-prima! — Senhor, é um prazer conhecê-lo. Na verdade, viemos até aqui para tentar encontrá-lo — disse, Wilson mal cabendo em si. — Me encontrar? Mas que curioso... diria que é exatamente o contrário! Era eu que, há dias, perseguia a máquina voadora na qual vocês vieram, e que pareceu surgir até mim como uma inspiração divina. — Como assim perseguia a máquina voadora? Nós acabamos de chegar! — disse Gerson, achando aquela conversa muito estranha. — Na verdade, é mais complexo do que isso, rapaz, e não tão mágico. Tenho pesquisado muito sobre como criar uma máquina voadora. — E por que exatamente o senhor precisaria saber como criar uma máquina voadora? — indagou Wilson, com ar mais sério e questionador. — Preciso prestar um favor ao meu patrono, Luciano Sforza. Ele me solicitou que apresentasse esse projeto ao Magnífico Lourenço de Médici, em Florença, na próxima semana, e me deu esta carta para que a levasse até ele. Infelizmente, há pouco tempo para chegar. Uma pena que só tenha encontrado vocês tão tarde, já que não os conheço o suficiente, para lhes pedir o grande favor de me acompanhar nesta jornada. — Espere um momento, senhor Leonardo, — disse Daniel, que até então só observava e ouvia o que se passava — tenho algo a discutir com meus colegas. 18
Depois de alguns minutos de conversa, os três rapazes retornaram, com uma expressão alegre. — Deixe-me ter a honra de fazer as apresentações: meu nome é Daniel, estes são Wilson e Gerson e nós seremos seus acompanhantes nessa viagem até Florença, e o ajudaremos a desvendar os segredos da máquina voadora, se o senhor aceitar. — Mas... é claro! Sou-lhes muito agradecido — disse Leonardo, aparentemente impressionado com a gentileza dos três jovens. E assim, a viagem começou...
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Capítulo 1
Não existem barrancos para a ciência
viagem seguia calma e a conversa empolgante, à medida em que os três integrantes do Ciência em Show iam se identificando com o mestre Leonardo. Os quatro estavam entretidos em uma discussão a respeito de física e formas de voar, quando de repente... — UAAAAAAAAU, isso é que é queda! Deve ter mais de cinquenta metros até lá embaixo — disse Gerson, olhando para baixo na borda do enorme penhasco que havia na estrada. — Costumava ter uma ponte por aqui. As chuvas fortes provavelmente a derrubaram, e nós tivemos o azar de só descobrir agora. Teremos que pegar outra estrada — o desânimo e a apreensão na expressão de Leonardo eram visíveis. — E temos tempo para isso? Para pegar a outra estrada e chegar a tempo, digo? — questionou Wilson, sentindo um friozinho na barriga. — Não tenho certeza. Segundo meus cálculos, isso nos atrasaria muito — respondeu o florentino. — Então precisamos de uma solução prática. E isso, Leonardo, é nossa especialidade — disse Daniel, já com o tradicional olhar racional. — "Vambora" resolver tudo, então! — disse Gerson, enquanto começava a se inclinar e checar a distância a olho e fazer alguns cálculos. — Eu trouxe os materiais — afirmou Wilson, mostrando a mochila de acampamento super carregada. Leonardo aproximou-se para observar o que aqueles rapazes fariam para descer até o fundo do penhasco, levando os seus equipamentos até lá, sem oferecer risco às próprias vidas...
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Como amortecer uma queda? Missão 1
Cápsula espacial regressa à Terra com Astronautas Litografia de Robert T. McCall, 1972
Antes de Galileu Acreditava-se que objetos mais pesados caiam mais rápido
E agora? Nossos heróis parecem ter um problemão pela frente. Descer o desfiladeiro pelas pedras parece possível, mas como fazer com que os equipamentos não se quebrem ao caírem? Em primeiro lugar, é preciso esclarecer: as coisas caem porque existe uma força que atrai tudo para o chão e que é conhecida como gravidade. Esta força é a mesma que mantém as estrelas, planetas e satélites em órbita uns dos outros, e que atua sobre todos os corpos do universo que possuem massa como: animais, vegetais, minerais, construções, água, ar, e tudo que conhecemos. Muitos cientistas colaboraram para o entendimento da gravidade. Durante o Renascimento, o italiano Galileu Galilei descobriu que quando um objeto cai, a gravidade acelera sua velocidade, independentemente de sua massa. Antes de Galileu, pensava-se que objetos mais pesados chegavam primeiro ao solo, mas ele percebeu que se soltarmos uma bola de chumbo e uma bola de madeira, ao mesmo tempo, de uma certa altura, veremos que ambas chegarão juntas ao solo, mesmo tendo pesos diferentes. Entretanto, uma folha de papel plana cairá mais lentamente do que uma bolinha de papel amassado. Isso acontece porque a superfície da folha é maior, o que aumenta a resistência do ar e diminui a aceleração, fazendo com que o A partir de Galileu papel caia suavemente no chão. Descobriu-se que objetos caem sempre na mesma velocidade, mesmo que tenham massas diferentes Alguns objetos podem ser presos a outros que oferecem maior resistência do ar. Você conhece alguma invenção ou aparelho com esse propósito? 22
A lenda conta que, lá pelo ano de 1700, uma maçã caiu na cabeça de Isaac Newton, enquanto ele descansava sob uma macieira e, a partir daí, o cientista inglês começou a procurar entender por que aquilo acontecia. Verdade ou não, o fato é que Newton foi o primeiro a supor que a força que atrai a maçã ao solo seria a mesma que mantém a Lua em órbita da Terra, e esta e outros planetas, em torno do Sol.
Amarelo
Dicas 1. Use a fita adesiva antes de fazer os furos; 2. Corte todos os barbantes do mesmo tamanho.
Para brincar Solte dois objetos iguais de pesos diferentes no ar, ao mesmo tempo, e veja qual deles chega primeiro ao chão!
Você vai precisar de:
No dia 14 de outubro de 2012, o austríaco Felix Baumgartner saltou de uma cápsula elevada à estratosfera terrestre, a mais de 39 mil metros de altura. A queda durou 4 minutos e 20 segundos até que se abrisse seu paraquedas. Ele atingiu a velocidade de 1.173km/h, quebrando a barreira do som e batendo dois recordes mundiais: o de salto mais alto e o de maior velocidade atingida pelo Homem. 23
Saco de lixo Copo descartável Barbante Furador Tesoura bolinhas de gude Fita adesiva Régua
Capítulo 2
E o vento empurrou
epois de descerem o penhasco, o entusiasmo do quarteto pareceu diminuir um pouco. Já havia algum tempo que estavam na estrada, e o cansaço começava a bater. Naturalmente, em algum momento, uma parada seria necessária... — Ufa, estou morto! — suspirou Gerson, enquanto secava o suor da testa. Mas quem o conhecia, há tempos, como os dois amigos, sabia que ele não pararia tão cedo. — Também estou bastante cansado, mas parece que ali, à frente, há um vilarejo. Podemos fazer uma parada para descanso? — perguntou Daniel que não costumava ter o mesmo pique que Gerson. — Leonardo, aquela vila é um bom lugar para parar? — questionou Wilson, tentando fazer com que o olhar do gênio se voltasse para a vila, porém o florentino passara os últimos minutos contemplando fixamente o horizonte. — Vila? Que vila? Ah, sim, é um lugarzinho amistoso, já estive lá — disse Leonardo, com os olhos semicerrados, focando as pequenas casas à medida que caminhavam em direção ao local. Somente após chegarem, perceberam que alguma coisa estava acontecendo: uma mulher, com o rosto avermelhado e expressão raivosa, parecia muito preocupada. Ela dizia algumas palavras com um sotaque estranho e que eles não conseguiam entender muito bem.
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— Com licença, o que se passou? — Wilson tinha o costume de ser empático, de não hesitar ao ver alguém sofrendo. — Não sei porque isto lhe interessaria, já que nunca o vi antes, mas... o que acontece é que a carroça da nossa vila, com todos os queijos que iremos vender na feira neste final de semana, está atolada no lamaçal — lamentou a mulher. — Carroça atolada? Você se importa se dermos uma olhada? — perguntou Wilson, com sua curiosidade habitual. — Wilson, não tenho certeza de que haverá tempo para isso. Leonardo tem problemas urgentes a resolver em Florença. Talvez devêssemos discutir isso com ele antes — intercedeu Daniel. — É importante ajudar sempre que pudermos. Em vilas pequenas como essa, a venda dos produtos na feira é uma fonte de renda importante para todos os moradores — afirmou o mestre Leonardo. — Ah, vamos lá, a gente resolve isso rapidinho — falou Gerson, enquanto seguia a moça, em direção à carroça. Ao chegarem ao local, viram a carroça com as suas rodas atoladas em um declive da estrada onde o terreno estava muito lamacento. — Que meleca! Deem-me uma força aqui, vamos puxar isso para fora em dois minutos — Gerson tomou a frente, e Wilson, Daniel e Leonardo, assim como a dona da carroça, se juntaram a ele. Após dez minutos de esforço, logo perceberam que somente a força deles não seria suficiente. A carroça mal se movera, e a lama era escorregadia, tornando difícil firmar os pés. — Caspita! Não está funcionando! Desculpem a grosseria, meu nome é Giovanna, agradeço pelo apoio, mas acho que precisaremos de mais gente. E tenho medo de sair daqui para ir buscar ajuda e a carroça deslizar ainda mais para baixo antes do reforço chegar — disse a desesperada moradora da vila. — Precisamos desatolar essa carroça o mais rápido possível, então — constatou Daniel. — Mas como? Não temos um guindaste, nem mais animais de tração, nem nada do tipo — argumentou Wilson. — Nada que não se possa resolver com um pouco de criatividade — comentou Leonardo, mexendo na bolsa e tirando alguns objetos. O que será que o gênio iria tramar desta vez? 25
Como impulsionar um objeto sem empurrá-lo? Missão 2
Para desatolar a carroça será preciso implicar maior impulsão sobre ela. Quando um objeto é impulsionado recebe um tipo de força chamada propulsão, que faz com que o movimento aconteça. Nossos amigos precisam empurrar a carroça, mas não conseguem fazê-lo apenas com os próprios braços. Será necessário criar um sistema propulsor que os auxilie a movimentar a carroça. Há diversos mecanismos propulsores: Foguetes, aviões, navios, motocicletas: todos esses e muitos eles criam o impulso e estão presentes em outros veículos precisam de propulsão para se movimentar! nosso dia a dia, como a corrente e os pedais de uma bicicleta, a turbina de um avião, e as hélices usadas em helicópteros ou submarinos. Essa característica também está presente nos animais, afinal, as pernas, asas e nadadeiras são mecanismos naturais de impulsão. Para um foguete decolar, ele precisa ser impulsionado para cima, por uma força que cria o movimento. Nesse caso, a propulsão é gerada pela queima de combustível no motor, e sua forma direciona toda a energia da explosão para saída debaixo do foguete. Quando você empurra um objeto ele te "empurra" de volta, e quanto mais massa esse objeto tiver, maior a força propulsora necessáOlha que triciclo curioso! A ria para movê-lo. propulsão dele está no conjunto de pedais, correntes e catracas, assim Também devemos lembrar do atrito que, no caso da carroça atocomo uma bicicleta comum. Gravura de um livro inglês de 1850 lada, funciona como a resistência do ar: quanto maior a superfície em contato com o chão, mais difícil será mover o objeto. Assim, um armário no chão terá maior resistência para ser empurrado, mas se colocarmos rodas sob ele, haverá menor contato com o chão, o que diminui o atrito e facilita sua movimentação. 26
Novamente, nosso amigo Isaac Newton teve papel fundamental ao expor os princípios da mecânica moderna. A impulsão foi descrita pela primeira vez por Newton, da seguinte forma: “Para cada ação há uma reação igual e contrária”. Este pensamento também pode ser visto no modo como interagimos com as pessoas, o ambiente e até mesmo com nós mesmos. Na sua vida, todas as ações têm reações, só que nem sempre acontecem na mesma hora, como na propulsão. Algumas delas, como plantar uma árvore, levam mais tempo para serem percebidas e sentidas. Uma árvore, em sua fase de crescimento, produz muito oxigênio, melhorando o ar. Além disso, serve como lar aos pássaros e animais, ajuda controlar o clima e, dependendo da árvore, pode até dar frutos. Tudo isso é uma reação da simples ação de plantar uma semente. Tudo aquilo que você pratica retorna a você de algum modo. As pessoas vivem reagindo a tudo aquilo que é feito pelos outros. Um mesmo desenho, música ou um chute a gol pode levar diversas pessoas a diferentes reações. Cabe a você tentar compreender o porquê. Por isso é que se diz: “Trate os outros como você gostaria de ser tratado”.
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Laranja
Dicas 1. O foguete possui um trajeto calculado. Para sua missão, não há necessidade de calculá-lo e sim fixar sua rota; 2. A saída de ar deve ser estável para melhor impulsão.
Para brincar 1. Junte seus colegas e amarre os fios de aço na vertical. Quem consegue impulsionar a bexiga mais alto? 2. Tente usar a bexiga junto com um brinquedo leve e com rodas.
Você vai precisar de: Canudo rígido (8 cm) Canudo simples (14 cm) Fita adesiva Varal de aço revestido 3 Bexigas Tesoura Régua
Capítulo 3
Remando sem usar as mãos
esgatada a carroça, a conversa a respeito de aerodinâmica, resistência do ar, voar e flutuar parecia não ter fim. Enquanto isso, a marcha continuava, sem que ninguém parecesse incomodado. Aparentemente, os primeiros desafios serviram apenas para unir e entrosar os quatro viajantes. — Devo admitir que não esperava esse tipo de cooperação, senhores. Você caíram do céu, literalmente! Me sinto tentado a questionar: não seria parte da Providência Divina? — perguntou Leonardo. — Não que eu queira por em dúvida suas crenças, senhor Leonardo, mas posso garantir que também há uma explicação razoavelmente lógica para estarmos aqui — disse Daniel. — Eu gostaria muitíssimo de ouvi-la, se vocês se sentirem confortáveis para falar — replicou o famoso pintor e inventor. Antes que começasse a responder, Wilson se viu interrompido por uma exclamação de Gerson: tinham chegado à beira de um lago e perceberam que a travessia só seria possível à nado ou por barco. — Acho que desta vez estamos ferr... perdidos! Olha só a largura desse lago! É imenso — apontou Gerson, levantando os óculos escuros para avistar melhor. — Nada que não possamos resolver, não é? — indagou Wilson, mais autoconfiante agora que já se sentia a vontade com a presença do grande gênio que sempre admirou. Após uma observação rápida dos arredores, notaram que o canal fora alterado e que, aparentemente, o ponto em que estavam não era mais um local de travessia. Havia apenas um pequeno barco, abandonado, sem remos e com alguns furos no casco. — Senhor Leonardo, desculpe perguntar, mas há quanto tempo não vai à Florença? — perguntou Wilson, incomodado e até um pouco constrangido. 28
— Há alguns anos. Mas, honestamente, não esperava que tudo tivesse mudado tanto. Creio não estar muito atualizado em relação às estradas — replicou o pintor, com o olhar perdido ao longe a observar o voo de alguns pássaros. — Bom, vamos colocar a mão na massa — Gerson adiantou-se e começou a tapar provisoriamente alguns buracos do barco, com material que tinha consigo. — O problema maior é como impulsionar um barco, sem remos nem velas. Além disso, nem temos material para fazer uns remos aqui! E me parece que teremos de atravessar mais rápido do que pensávamos, se quisermos chegar em Florença a tempo — afirmou Daniel, preocupado. Leonardo, saiu de seu estado meditativo e falou: — Projetei alguns aparatos que poderiam ajudar, mas não tenho nenhum deles prontos aqui comigo. Quem dera tivéssemos alguma fonte de energia capaz de impulsionar o barco sem a necessidade de esforço humano. — Epa! Nós temos algo assim! Wilson, cadê o nosso sistema de geração de energia solar? — Tá na mão! Vamos colocar esse barco para “andar”! 29
Como montar um barco movido a energia solar? Missão 3
O problema de nossos heróis parece complicado sem qualquer forma de propulsão, como velas para serem sopradas pelo vento ou remos para impulsionar o barco. Porém, existem outros modos de fazer com que o barco se mova. Diversas civilizações antigas aprenderam a utilizar a luz do Sol para melhorar suas condições de vida, inclusive com usos complexos como os relógios de sol. Até hoje, mesmo que naturalmente, ou seja, sem uso de tecnologia ou de aparelhos complexos, o calor gerado pela luz solar nos ajuda de diversas formas. Podemos usá-la para secar roupas, tintas, colas, aquecer estufas. Um prédio projetado para aproveitar a luz do Sol ao máximo gera menos poluição e gastos. Na antiga Grécia, em torno do século VII a.C., os gregos construíam suas casas de modo que recebiam luz que vem do Sol durante o dia inteiro para conservar o calor à noite. Utilizavam espelhos para projetar a luz para dentro das casas com a mesma finalidade. No Renascimento, Leonardo da Vinci também estudou sobre energia solar e inventou um pequeno concentrador solar. Por meio de um jogo de pequenos espelhos, ele ampliava o calor gerado pela luz solar, como um modelo rústico do raio laser, o que o ajudava a esquentar água e outras substâncias. Ao longo dos anos, muitas pessoas, cientistas ou não, fizeram experimentos com a luz solar. 30
Vermelho
Dicas O Kit de Geração Solar vem completo para sua experiência. Verifique se não está faltando nada.
Há uma lenda muito antiga que diz que Arquimedes de Siracusa teria usado espelhos côncavos para direcionar e concentrar luz do sol nas velas dos navios romanos. O resultado foi o incêndio de diversas embarcações e os invasores, acreditando ser vítimas de feitiçaria, recuaram. Tal história jamais pôde ser comprovada, mas nos mostra um pouco do conhecimento da importância da luz solar ao longo do tempo.
A energia solar não gera resíduos, não polui a água, a terra, nem o ar. Ela pode ser utilizada para acender lâmpadas, mover motores, e até esquentar a água do chuveiro na sua casa. Nesse caso, a manutenção é simples e você ainda economiza energia elétrica. Seu lado negativo é depender das condições climáticas. Dias nublados, chuvosos ou com fraca incidência de luz não aquecem muito a água.
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Para brincar 1. Organize uma corrida de barcos com seus colegas. 2. Você conseguiria usar o espelho para gerar energia em outra invenção?
Você vai precisar de: Kit Geração Solar Bacia d'água
CapĂtulo 4
Cola para cartas
inalmente o grupo chegou a Florença. A cidade, bonita e calma, parecia lhes dar as boas-vindas, com suas ruas estreitas e cheias de pequenas casas. Os quatro caminhavam aliviados em meio aos habitantes em um ritmo mais lento. Parecia, afinal, que tudo se resolveria. 32
Era notável que o humor de Leonardo melhorara bastante com a superação dos obstáculos. — Acredito que ainda temos tempo suficiente, — disse o gênio — gostariam de conhecer a cidade? — Claro! — responderam os três, quase que ao mesmo tempo, e riram da coincidência. Começaram uma caminhada animada pela bela Florença, parando em bancas de rua para observar mercadorias, e decidiram comer em uma pequena cantina conhecida de Leonardo. — Podem deixar comigo. Pagarei a vocês uma refeição que jamais esquecerão! — anunciou Leonardo, enfiando a mão em suas vestes para puxar a sacola de couro dentro da qual guardava seu dinheiro. Na mesma hora, seu rosto pareceu expressar nervosismo. — O que há, Leonardo? — perguntou Wilson, notando a expressão aflita do Mestre. — Acho que... perdi minha bolsa, com o dinheiro e a carta de apresentação de Luciano Sforza. — Por acaso seria... a bolsa na mão daquele homem correndo? — disse Daniel, com seu olhar analitico, conseguindo distinguir a figura na multidão. As apertadas ruas atulhadas de gente de Florença eram normalmente calmas, mas podia-se ver claramente um vulto encapuzado correndo e segurando uma bolsa de couro nas mãos, causando confusão. A multidão abria espaço, como se não conseguisse entender a pressa do fugitivo. — Eu pego ele! — gritou Gerson, disparando em perseguição ao ladrão. — Devemos ajudá-lo, ele não conhece bem as ruas de Florença, e precisamos avisá-lo de que não pode machucar o homem. Viemos até aqui representando Sforza, não podemos nos envolver em nada ilícito ou constrangedor — advertiu Leonardo, realmente preocupado. — O que mais você tem nessa mochila que possamos usar, Wilson? — no rosto de Daniel surgiu uma expressão que os amigos só costumavam ver quando ele os surpreendia com uma ideia genial. — Um monte de ingredientes que sobraram, dá uma olhada — respondeu Wilson, abrindo a mochila. — Certo, então agora vamos preparar uma surpresa pegajosa para esse ladrãozinho! 33
Como transformar líquido em geleca? Missão 4
Da Vinci e o grupo resolveram a situação de maneira bem criativa e pegajosa usando a Química. Esta ciência estuda os elementos da natureza, o modo como se misturam e reagem. Xamãs, alquimistas, filósofos, sábios e acadêmicos a estudam há milênios, sob as mais diferentes formas. Essas pessoas pesquisam para desenvolver remédios, cosméticos, e materiais. Existem duas crenças que representam alguns dos maiores desejos da humanidade: o Elixir ou poção da vida eterna, que dá a quem o toma uma saúde perfeita e a cura para todas as doenças e males; e a Pedra Filosofal, que seria capaz de transformar qualquer metal em ouro. Embora nenhum dos dois jamais tenha sido realmente descobertos, as experiências para encontrar uma boa saúde criaram não um, mas vários “elixires”. Afinal, muitos dos tratamentos que fazemos hoje no nosso dia a dia têm origem nessesconhecimento ancestral, e nos ajudam no combate a doenças e males. Porém, uma vida saudável consiste em coisas simples como comer bem, praticar exercícios físicos e, o mais importante, fazer o que te deixa feliz. A química não está presente apenas nos laboratórios, mas em todos os seres vivos e ao nosso redor. Nosso corpo é um grande laboratório: comer, exercitar-se, aprender, criar, emocionar-se, e até ir ao banheiro são resultados de reações químicas. Por isso mesmo, a química pode ser uma ciência muito divertida! Em meio a todas essas misturas e reações, ela cria substâncias novas a cada momento. 34
Violeta
Dicas 1. Você precisará de 2 copos para fazer 2 misturas;
O estudo dos metais pela Alquimia possibilitou o desenvolvimento da Química como a conhecemos hoje. Muitas das substâncias químicas e técnicas presentes em nossa cozinha, como o banho-maria, por exemplo, têm origem na Alquimia.
2. A cola faz parte da segunda mistura. Seja paciente quando for adicioná-la à mistura.; 3. Perceba a consistência da mistura com a cola. Ela precisa ser firme; 4. Não coma esta mistura!
A química estuda a transformação da matéria. Matéria é tudo que possui átomos, pedacinhos microscópicos que formam coisas como as árvores, a água, o ar e você. O cientista francês Antoine Lavosier disse uma vez: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
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Você vai precisar de: Cola branca – 35 g Borato de sódio (bórax) – 50g 2 copos de acrílico 200 ml Corante 1 palito de sorvete Colher de sopa Jarra
Capítulo 5
Retratos e esquadros
mobilizar o ladrão, usando a poderosa geleca, foi fácil! Foi assim que os quatro conseguiram recuperar a carta e as posses de Leonardo. Agora, seguiam animados e nada mais poderia dar errado. — Ali está o palacete dos Médici! Chegamos a tempo, creio — exclamou Leonardo, que parecia satisfeito e bastante confiante. A residência dos Médici, umas das famílias mais notáveis da Itália, era esplendorosa e claramente trabalhada por alguns dos maiores nomes da arquitetura da época. Os brasões pendurados, as grandes portas e os guardas postados em cada entrada davam a impressão de tratar-se praticamente de um castelo, porém muito mais luxuoso. Wilson ficou boquiaberto ao olhar para a construção, e os jovens cientistas pareciam ansiosos para entrar no prédio. — Entremos, então — disse Leonardo, dirigindo-se à frente da porta, quando foi parado pelos guardas. — Quem vem lá? — gritou um dos guardas armadurado e armado de uma alabarda. — Sou Leonardo da Vinci, e esses são meus acompanhantes. Vim falar com o senhor Lourenço de Médici. Trago uma carta de Luciano Sforza, como podem ver. — Está bem, podem passar — autorizou o guarda, após inspecionar atentamente o documento — Giuseppe, acompanhe-os até a antessala e aguarde instruções. — Essa burocracia é normal?— perguntou Wilson, enquanto olhava deslumbrado ao redor. — Sim, uma vez que estamos pedindo uma audiência com o verdadeiro governante de Florença. — Governante? Uau, essa aventura está cada vez mais divertida! — falou Gerson, enquanto inspecionava algumas armas e bandeiras decorativas nas paredes. 36
Daniel se mantinha calado. Ele se concentrava em examinar com os olhos as tapeçarias, adornos, vasos e móveis deslumbrantes que estavam em seu caminho naqueles corredores. Ao chegar à sala, foram recepcionados por uma mulher alta, esguia e com um leve sorriso no rosto. Seus cabelos escuros e a pele muito branca eram atraentes, além de possuir grande beleza e um ar respeitável. — Boa tarde, senhores. Permitam que me apresente: sou Clarice Orsini, esposa do “Magnífico” Lourenço de Médici. No momento, meu marido está ocupado, mas creio que poderemos nos entender muito bem. — Senhora — disse Leonardo, curvando-se e indicando aos outros que o imitassem — é um enorme prazer conhecê-la, e sinto pela ousadia, mas fui instruído a procurar o senhor Lourenço de Médici, sem demora. A expressão no rosto da nobre mudara instantaneamente. O clima na sala ficou pesado e os quatro perceberam que talvez não estivessem tão perto do fim da jornada quanto pensavam. — Já que não estão dispostos a ser educados, tudo bem! Saibam que quem controla este palacete sou eu, não importa o que ouviram. Meu marido tem uma cidade para governar, e se querem chegar até ele, pintem-me um retrato. Um retrato meu, mas diferente do que todos os outros artistas medíocres vêm fazendo — ordenou Clarice, mostrando diversos quadros comuns. — Pintem algo digno de sua fama, ou saiam pela mesma porta por onde entraram! — esbravejou Clarice. — Hã, Leonardo, nós… não temos muita experiência em arte deste tipo... — balbuciou Wilson, olhando para o material disponibilizado, pensando no que fazer. — Deixem comigo, senhores, estou certo de que podemos fazer algo que vai agradar nossa querida anfitriã — comentou Leonardo, com um sorriso amarelo. 37
Como criar um desenho usando a geometria? Missão 5
Um desenho como nunca visto antes? Por que Clarice achou os quadros “comuns”? Para responder a essas duas perguntas, precisamos entender um pouco sobre a Estética que estuda a essência da beleza, suas características, seu processo e como eles são percebidos por cada um de nós. Uma mesma ideia pode ser expressa de diversas maneiras. Se três pessoas desenharem livremente uma mesma mulher, cada uma o fará de um jeito. Um bom exemplo disso, são algumas releituras do quadro mais famoso de Da Vinci, a Mona Lisa:
Mona Lisa cubista Ilustração de Breno Ferreira, 2014
Mona Lisa original Pintura de Leonardo da Vinci, 1506
Mona Lisa "gordinha" Pintura de Fernando Botero, 1978
Mesmo diferentes, essas três imagens representam uma mesma mulher, mas com valores ou abordagens estéticas diferentes tanto para quem a desenhou como para quem a está apreciando. Esses valores, dizem respeito às suas respectivas épocas, costumes e necessidades. O Renascimento foi um período da história da Humanidade em que os artistas, incluindo Da Vinci, buscavam aperfeiçoar a arte com o 38
uso da razão, da proporção, da perspectiva, além de novas tintas e técnicas de luz e sombra. Naquela época, grande parte da elite europeia adotou o Renascentismo como padrão estético para suas obras. Com o passar do tempo, porém, foram feitos tantos trabalhos artísticos que esse tipo de arte acabou ficando comum ao grande público daquela região. Em outro momento da história, muitos artistas escolheram uma alternativa a esse padrão da busca pela perfeição, agora sem a preocupação de reproduzir fielmente a realidade observada. Assim, mais ou menos 500 anos depois do Renascimento, o Cubismo surgiu no início século XX. Pablo Picasso e seu colega Georges Braque começaram a fazer quadros que não imitavam a natureza, nem usavam os princípios do Renascimento. A maior característica do Cubismo é o uso de formas geométricas e a tentativa de mostrar todos os lados da figura de uma só vez. O Cubismo foi importante pois apresentou ao mundo um novo jeito de ver a essência da beleza. Ela não precisa ser realista ou igual à natureza; ela pode ser inventada e recriada.
Azul
Dicas 1. Usar os instrumentos geométricos de maneira inesperada; 2. Você consegue observar figuras ou padrões geométricos na natureza?
Para brincar 1. Desenhe um mapa de qualquer lugar, pode ser até um lugar imaginário; 2. Faça um desenho para alguém na sua sala colorir e depois peça um autógrafo!
Você vai precisar de:
Você já reparou nas formas que existem na natureza?
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1 régua 1 esquadro 45° 1 esquadro 60° Barbante Canetinhas Tintas guache Pincéis 5 folhas sulfite 1 cartolina grande
Capítulo 6
O sonho de voar
uiados pelos guardas, os quatro companheiros sabiam que este seria o momento decisivo, aquele pelo qual tanto tinham viajado e trabalhado. As grandes portas duplas com entalhes e ornamentos dourados se abriram para uma enorme sala, na qual se podia ver uma grande mesa e um homem de meia idade sentado em uma imponente cadeira. — Sejam bem-vindos, senhores. É um prazer conhecê-lo, Leonardo, e qualquer um que o acompanhe é bem recebido em minha casa — o sorriso, a elegância e a voz cativante de Lourenço revelavam o porquê de ser chamado de “O Magnífico”. — Boa tarde, senhor Lourenço — desta vez todos acertaram, razoavelmente, a reverência. Passadas as apresentações formais, Leonardo se adiantou. — Senhor, venho até aqui em nome de Luciano Sforza, com esta carta de apresentação, perguntar-lhe em que posso ser útil. Após ler a carta, o Senhor de Médici replicou: — Pois bem, não quero tomar o tempo de nenhum de vocês à toa. Propus a Luciano que me mandasse um homem capaz de criar uma máquina voadora, e demonstrar que isso é possível. E é isso que espero de você e de seus... auxiliares? Pupilos? Enfim, o que quer que sejam. — São meus companheiros, senhor, e grandes homens da ciência e arte, também — disse Leonardo, orgulhoso. — Senhores, — prosseguiu o mestre florentino — sei que já muito me ajudaram, mas preciso de um último auxílio: queremos mostrar ao caríssimo senhor Lourenço que somos capazes de produzir máquinas voadoras. Estão dispostos a mais este desafio? — Conte comigo! — exclamou Gerson, sempre o primeiro. — Sem dúvida auxiliaremos no que for possível — disse Daniel. — E lá é hora de dar para trás? — reforçou Wilson. 40
A empolgação de todos era perceptível. Podia-se notar o quanto aqueles homens haviam aprendido a respeitar um ao outro e a cooperar entre si. Não seria este último desafio que os impediria.
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Como fazer a máquina-voadora de Leonardo? Missão 6
O sonho do Homem de voar o acompanha por toda a sua história. Um dos mitos mais antigos, contando esse desejo, é o de Dédalo e Ícaro: Para escapar de sua prisão na ilha de Creta, Dédalo recolheu penas de aves e, unindo-as com cera do mel de abelhas, construiu asas para si e para seu filho Ícaro. Assim, ambos fugiram voando. No caminho, Ícaro, entusiasmado com o sucesso da experiência, não deu ouvidos a seu pai, que o tinha alertado para que não voasse alto demais. Como se aproximou muito do Sol, o calor derreteu a cera de suas asas, que se desmancharam. Ícaro caiu no mar Egeu e despareceu para sempre. Leonardo da Vinci, o gênio incansável, também se dedicou a projetar algumas máquinas voadoras. Algumas das que merecem maior destaque são o “parafuso voador”, um tipo de helicóptero medieval, e o “planador com asas”, também conhecido como “ornitóptero”. Somente anos mais tarde, entre o fim do século XIX e início do século XX, é que a humanidade, finalmente, conseguiu criar a máquina que até hoje simboliza a realização do sonho de voar: o avião. Existe uma invenção muito antiga, conhecida pelos chineses, egípcios, gregos e outros povos, que iniciou a pesquisa e a busca por novas máquinas voadoras. Uma simples invenção que representa o desejo de voar, e que qualquer um pode construir sua versão mais simples. Você sabe qual? 42
Verde
Dicas 1. Esta invenção depende da força éolica para funcionar. 2. A estrutura precisa ser firme, leve e aerodinâmica.
George Pocock inventou uma engenhoca chamada “Charvolant”. Uma carruagem movida pelo vento. Ela chegava a 32 km/h utilizando a força dos ventos para locomoção.
3. CUIDADO! Não use esse brinquedo perto de fios elétricos, redes elétricas, em dias de chuva, nem em locais com trânsito!
Para brincar 1. Faça sua marca ou pense em cores diferentes para sua máquina voadora.
Você vai precisar de: Papel de seda 2 varetas de pipa Cola Linha nº 10 Tesoura Além do avião e da asa-delta, essa invenção gerou alguns esportes que usam a força do vento para puxar pranchas ou veículos. Um deles é o kite surfing, da figura acima! Você já viu? 43
Conclusão
De volta para casa
ourenço parecia maravilhado ao perceber a simplicidade da solução do desafio que havia proposto. Seus olhos acompanhavam a máquina voadora pela sala, enquanto o vento entrava forte pelas janelas. — Magnífico! — exclamou o soberano — Leonardo, ouso dizer que o senhor é mesmo tudo o que se diz por aí. Diga a Luciano Sforza que, se eu puder dispor de seus serviços como artista e inventor, ele sempre terá o apoio dos Médici. Escreverei uma carta imediatamente. Aguardem lá fora um instante, e saibam que serão sempre bem-vindos na casa dos Médici. Os quatro se encaminharam para a saída, felizes, escoltados por guardas e cumprimentados nos corredores de forma muito mais amistosa do que na chegada, e viram a cidade lá fora sob um novo ângulo. Florença era maravilhosa, principalmente quando não era preciso correr desesperadamente pelas ruas... — Bem, senhor Da Vinci, creio que isso conclua a sua jornada — disse Daniel, cansado, porém satisfeito. — Algo mais em que possamos ajudar? — quis saber Wilson, visivelmente empolgado. — Nossa, olha para essa vista! — comentou Gerson, enquanto escalava um muro para admirar melhor a cidade. — Vocês já fizeram demais, meus amigos. Ser-lhes-ei eternamente grato e saibam que se precisarem de qualquer coisa, dentro das minhas possibilidades, podem contar comigo — Leonardo abraçou-os emocionado e apertou a mão de cada um dos três. — Na verdade, hã... — Wilson parecia constrangido em pedir. — Sim, há uma questão… — apontou Daniel, polidamente. — Quanta enrolação, gente! É simples: nossa Nau dos Mestres, a que carinhosamente chamamos de Corujola, quebrou, e precisamos de ajuda para consertar! — soltou Gerson, agora mais decidido e menos acanhado. 44
— Ajudar a consertar aquela magnífica máquina voadora? E como não! Tomemos o caminho de Milão! E assim foi feito, a viagem de volta foi mais tranquila, até porque os viajantes já sabiam com o que teriam de lidar. Houve mais tempo para discutir, rir e apreciar o caminho, sem tantos transtornos. Ao chegarem, foram direto ao trabalho, que só era interrompido para descansar, comer e conversar, conforme verificavam as melhores maneiras de consertar a asa quebrada. O trabalho prosseguia, e quando estavam quase chegando ao fim, Wilson lembrou-se de perguntar: — Léo, desculpe-me, mas... nós três viemos de um lugar com conhecimentos tecnológicos mais avançados do que os daqui, e não conseguimos entender como o senhor aprendeu tanto em sua época. Seria a influência dos grandes mestres que teve, ou o senhor que é, simplesmente, genial? — Sinceramente, tenho muito a agradecer aos professores que tive. Mas, a verdade é que eu aprendi de outras formas. Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, os padrões de movimentação das folhas ao vento, o voo dos pássaros, a forma como a erosão da terra acontece, todos os processos fascinantes que a natureza nos apresenta. Observando esses fenômenos, imaginei, anotei e testei diversas invenções e ideias, e qualquer um pode fazer isso também. A natureza é uma grande mentora, tão 45
importante quanto os professores formais, pois ela nos ensina por meio de experiências vividas todos os dias — garantiu o italiano. — Entendo o que quer dizer. Ao observar... — disse Daniel. — E questionar — complementou Wilson. — E testar! — exclamou Gerson. — …Podemos aprender muito, apenas com o mundo ao nosso redor. Com o cotidiano e nossas experiências diárias, adquirimos muito conhecimento — completou Daniel. — Creio que não tenho mais nada a ensinar a vocês, meus caros. Já entenderam meu maior segredo — o sorriso de Leonardo era exuberante. Ele parecia mais feliz do que esteve em todos os dias da jornada. Ao terminarem os reparos na Corujola, os quatro se prepararam para a despedida... — Foi uma honra, senhor Leonardo — disse Daniel. — Um grande prazer! — disse Wilson, um pouco chateado quanto a ir embora. — O senhor é fera! — Gerson apertava a mão de Leonardo, com sua empolgação habitual. — Sentirei a falta de vocês, caros companheiros. Mas antes de partirem, tenho um pequeno presente a lhes entregar. Algo que vim esboçando, e no qual apliquei diversos princípios que aprendi e desenvolvi durante nossa viagem. Leonardo entregou aos três um projeto de alteração da Corujola. Ele previa diversas melhorias, tanto para voos mais estáveis, quanto para melhorar a eficiência da nave de muitas outras formas. — Muito obrigado, Léo! Com certeza, os próximos vôos da Nau serão muito melhores! — Até uma próxima vez! — gritou Leonardo, acenando para a Corujola, que se perdia no horizonte. A Nau dos Mestres se afastava a uma velocidade vertiginosa, rumando através do tempo e do espaço em direção à base de operações do “Ciência em Show”. O voo inaugural fora um sucesso, e ainda haveria muito a trabalhar na Corujola, antes que ela atingisse seu potencial total. Os três sabiam, apenas, que havia muito a explorar, muitas viagens a fazer, e muito a aprender.
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Corujola: a máquina viva
Passarola Gravura original de Bartolomeu de Gusmão, 1722
No Século XVIII, Bartolomeu de Gusmão, conhecido como o Padre Voador, o inventor do balão de ar quente e de outros engenhos, projetou uma espécie de aeronave chamada Passarola. Esse invento, apesar de não ter nunca sido construído, foi a inspiração usada para a Nau voadora dos nossos protagonistas do Ciência em Show: a Corujola. Inspirada no formato de uma coruja, tem asas, controles, um balão e diversas engrenagens, fruto da tecnologia moderna. Aprimorada com o auxílio dos mestres e das descobertas realizadas pelos três cientistas viajantes, a Corujola é a nave que transporta Wilson, Gerson e Daniel em viagens através do tempo e espaço e os ajuda a encontrar os mestres da tecnologia e da natureza. A Corujola é também o veículo que irá transportar todos aqueles interessados em desvendar o universo da Ciência, seus mistérios, aventuras e aprendizados. 48
O trio Ciência em Show
Daniel
Gerson
Wilson
O mais observador entre os três protagonistas, Daniel é mais formal e tem um ar de professor, o que o diferencia dos colegas mais sociáveis e afetivos. É o mais centrado, racional, e o menos inclinado a agir por impulso, sempre pensando e planejando bem antes de agir. É muito inteligente e bastante respeitado pelos colegas e pelas pessoas em geral.
Atlético, amistoso e apressado, Gerson é o mais esportivo e "mão-na-massa” dos três: não tem "tempo ruim"! Está sempre disposto a testar pessoalmente as ideias dos colegas e contribuir para a resolução de problemas. Nossa "cobaia" não é de falar muito, mas age sempre que necessário e, às vezes, até mesmo se adiantando mais do que deveria.
Eterno questionador e o mais curioso, Wilson é também o mais emocional e falante do grupo. Apesar da fama de atrapalhado e de ser um pouco desastrado, Wilson é bastante perspicaz e observador. Sua necessidade de aprendizado e compreensão é grande, e quase nunca se dá por satisfeito até achar a resposta para as questões que foram levantadas.
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Este livro foi composto em Sentinel, desenhada por HF&J, derivada da Clarendon esta que, por sua vez, foi projetada por Robert Besley em 1845, tendo sido a primeira fonte patenteada da História. Foi muito utilizada em cartazes no Velho Oeste americano. Além da Sentinel, o livro é composto pelas fontes Phaeton, de Kevin Cornell e Randy Jones e que é inspirada nos rótulos de produtos da Era Vitoriana; e pela fonte Abraham Lincoln, desenhada pela designer Frances Macleod a partir de cartazes de 1864 (um ano antes da morte do então presidente americano que dá nome à fonte). Seu uso é livre e está disponível em: www.losttype.com. As capitulares deste livro foram inspiradas nos trabalhos de Jessica Hische e geradas a partir da fonte Apex Lake pela designer Gabriela Ferreira. Todas as gravuras utilizadas neste livro, são de domínio público ou de uso livre (royaltie free) e foram obtidas nos seguintes sites: • Graphics Fairy: www.thegraphicsfairy.com • Wikimedia Commons: www.commons.wikimedia.org • Retro Vectors: www.retrovectors.com • Biblioteca do Congresso Americano: www.loc.gov • Bibliodyssey: www.bibliodyssey.blogspot.com.br
Esta edição foi impressa sobre papel Triplex 250g/m2 (capa) e Pólen Bold 90g/m2 (miolo), na gráfica Garilli, São Paulo, em abril de 2014. Tiragem: 2600 exemplares.
desejo de voar desperta em Wilson, Gerson e Daniel a vontade de conhecer um dos maiores inventores e artistas de todos os tempos: Leonardo da Vinci, na Itália do século XV. A aventura, porém, não será fácil, e os três cientistas terão que, juntos com o sábio-inventor, atravessar pontes caídas, usar a energia do sol e correr atrás de ladrões antes de apresentarem o invento voador ao grande soberano de Florença. Muitos perigos e desafios surgem no caminho do trio de cientistas. Será que eles chegarão a tempo? A Coleção “Nau dos Mestres” é uma forma criativa e divertida para você aprender sobre ciências e artes. Os livros da coleção acompanham um laboratório de ciências composto por quatro caixas: Merlim, Leonardo da Vinci, Apolo e Gaia — os Mestres. Dentro de cada caixa, você encontrará os materiais necessários para superar os desafios e completar as missões mirabolantes. Use a sua inteligência e criatividade para ajudar os jovens cientistas a completar as missões para avançar na história. As aulas na escola nunca mais serão as mesmas depois que você entrar para o time da Nau dos Mestres!