flĂĄvia bastos juliana rizzuto
ilustraçþes
caroline pereira
S
abe aquele dia em que você acorda e já ouve um montão de orientações: “faz isso, não esquece aquilo, vai buscar o pão” e coisas do tipo? Tenha certeza de que não é exclusividade apenas da sua casa; acontece em milhares de residências espalhadas, principalmente nos países “latinos”, onde parece que as pessoas são mais “intensas”, assim como seus relacionamentos. Mas acreditem, isso não chega a ser um defeito. Pode até aproximar as pessoas. Experimente contar até dez, escutar o que sua mãe tem a dizer. Você pode acreditar que sempre vai ter alguém querendo dar opinião na sua vida e até falar o que pode ou não ser certo. — Kátia, minha filha, você vai se atrasar! Apresse-se! Não se esqueça de pegar as cartas que estão na caixinha lá fora. Na casa de Kátia, acontecia tudo isso e mais um pouco. Ela era a caçula da família e seus irmãos tinham a personalidade muito forte. Desde pequenininha escutava a opinião e os conselhos dos mais velhos. É lógico que ela gostava do ambiente familiar, apesar de, às vezes, ficar um pouco “maluca” com tanta informação. Todos eram muito unidos, mas muitas vezes, se sentia como um “peixe fora d’água” porque sua personalidade era bem diferente dos demais. Não queria ficar acuada de jeito nenhum. Não gostava da ideia de ser um “pau mandado”. Queria ter suas próprias vontades, desejos, realizações, superar seus medos. Sonhava, desde os 15 anos, ser independente. Sempre quis viajar pelo mundo e sabia que iria conseguir. Tanto que já tinha uma certeza em sua vida: logo que concluísse os estudos seguiria para um país distante com o qual tinha até sonhos com aqueles incríveis ônibus vermelhos de dois andares. Por isso, não se preocupava com os problemas e a 5
ciumeira que tinha em sua casa. Procurava deixar tudo isso em segundo plano. Sabia que sua família sempre, de uma forma ou de outra, estaria por ali. Gabriel, o irmão mais velho e o “queridinho da mamãe”, sem dúvida era o mais independente. — Você precisa ter planos para sua vida, sonhar, ter um objetivo — dizia ele. Kátia ouvia com atenção. Gabriel era um rapaz muito bonito, moreno, alto e fazia muuuuiiito sucesso com as garotas. Também muito gente boa. Gostava de ajudar seus amigos com conselhos e palavras sábias. Vocês sabem o que significa estar bem e se sentir seguro, rodeado de pessoas interessantes e que gostam da gente e a gente delas? Kátia não sentia isso com todo mundo. Aliás, era um pouco tímida para se abrir com todos os tipos de pessoas. No colégio, nunca foi de ter muitos amigos. Era apenas para algumas amigas mais próximas que contava seus segredinhos, como uma paquera nova, uma nota baixa na prova de Matemática, que por sinal, odiava. Gostava mesmo de Português, História, Geografia e adorava ouvir histórias, e depois contar para as pessoas. A família era uma parte importante de sua vida, mas não a única. Dona Tereza, sua mãe, sempre lhe dizia: — Filha, a vida é como uma pizza: tem a fatia da família, dos relacionamentos e amigos, do trabalho, das viagens… Ainda era um pouco difícil para a menina Kátia entender tudo aquilo. Mas o que a mãe falava sempre tinha uma força muito grande para a garota, que a escutava cuidadosamente e com toda atenção deste mundo. Percebeu que a mãe tinha razão. A vida era mesmo como uma pizza, e ela estava disposta a colocar mais energia nas outras “fatias dessa pizza maravilhosa” que 6
pode ser a vida se a gente quiser. Percebia também que, quanto mais os outros lados da “pizza” estivessem “gostosos”, mais iam ficando fáceis de digerir os que estavam menos agradáveis. Uma coisa era certa: o que a garota gostava mesmo era de conversar, conhecer pessoas diferentes, trocar experiências, aventuras e até tristezas. Com isso, percebia e tinha mais consciência do planeta que estava habitando.
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#amigas
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odos aceitaram organizar uma comemoração entre amigos para celebrar o fim do ano na casa de Kátia. Marcaram entre os dias 22 e 23 de dezembro, já que o dia 24 seria festejado com os familiares. Kátia, Andrea e Fernanda enfeitaram toda a casa com lindas decorações de Natal que elas aproveitaram para comprar no dia da “Terapia das Compras”… Foram elas também que prepararam a ceia e ainda capricharam no visual. Kátia, para homenagear a ocasião, colocou um vestido vermelho e, na cabeça, um gorrinho da mesma cor, com um pompom branco na ponta que fazia lembrar Papai Noel. As meninas também se produziram com vestidos, tops, bijuterias e maquiagem leve. As meninas pediram a receita para as “mamães” e “titias” com suas especialidades e colocaram tudo em prática no Natal dos amigos. Impressionaram de fato. A ceia estava farta e tinha de tudo: peru, salpicão, tender, farofa decorada, panetone, uma deliciosa salada de maionese. Realmente, tudo estava de dar água na boca. Exceto com alguns contratempos: — O que aconteceu com a receita da sobremesa? — perguntou Andrea. A sobremesa tinha ficado a cargo de Kátia, e ela logo se desesperou. A ideia era fazer uma sopa de chocolate, mas quando deu o tempo da sopa ferver, foram conferir viram que ela estava com uma cor completamente diferente: um tom “roxo beterraba” misturado a “rosa chiclete”. — Nossa, não sei o que pode ter acontecido! — comentou Kátia tentando esconder o seu desespero. No final, descobriram que ao preparar a sopa, a moça ferveu, também, um pedaço da embalagem e todas caíram na gargalhada! 95
— Receita especial da vovó: sopa de chocolate a la embalagem, completou ela, brincando. Logo tiveram que improvisar uma outra receita para a sobremesa e criaram uma deliciosa gelatina de duas cores: vermelha e verde. Mesmo assim, Renatinho ainda teve coragem de experimentar a sopa. — Ei, gente! É só a cor que está esquisita, pois o sabor ficou delicioso. Não está muito doce e a consistência exatamente no ponto, experimentem! — disse o rapaz ao mexer a sopa com uma colher de pau. — Muito obrigada, mas desta vez passamos — disseram Andrea e Fê achando graça da situação. Fernanda, Tony e Andrea cochicharam para de Kátia: — Ele é mesmo apaixonado por você! — e caíram novamente numa gostosa gargalhada. Kátia ficou sem graça e sorriu delicadamente. Cada uma preparou um prato diferente para dar àquela noite um sabor especial. A mesa também tinha um colorido muito bonito. Preocuparam-se com tudo. Para combinar com o tema fizeram toda a decoração nas cores vermelho e verde: tinha até aquelas guirlandas na porta da casa, sem contar as luzinhas que Kátia tinha colocado para iluminar o quintal. Os meninos não podiam deixar de elogiar e reconheceram o talento das garotas: “já podem casar!”. Kátia chegou a corar, por um instante. Mas ainda tinham tanto a fazer que logo voltaram aos preparativos daquela especial noite antecipada de Natal. Os garotos também tinham tarefas a serem cumpridas: ficaram com a responsabilidade do som, das bebidas e de coordenar o Amigo Secreto. Todos compareceram e chegava a hora de abrir os presentes. 96
Andrea tirou Fernanda que tirou Domênico que “caiu” com Andrea, e Kátia e Renato “caíram” um com outro. O combinado era que, ao dar os presentes, um teria que descrever o outro. Quando chegou a vez de Renato descrever Kátia, todos ficaram abismados. — Na minha opinião, uma garota muito mais do que especial. Não há como ficar indiferente à sua presença. Acho que ela já sabe de quem é que estou falando. Também acredito que ela conheça minhas intenções — disse, timidamente, ao corar um pouco. Kátia levantou-se, foi em sua direção e falou: — Nestes últimos meses percebi que você é muito mais importante do que imaginava. Foi nesse momento que os dois se beijaram calorosamente e todos começaram a aplaudir! — Você é o melhor presente de Natal que eu poderia ganhar — disse Kátia ao abrir a caixinha de veludo que continha uma correntinha dourada muito delicada. O pingente tinha a forma de um coração. Ele a olhou carinhosamente e disse: — Você é que é o meu amor… Enfim, os dois se entenderam e resolveram “engatar um namoro” a sério. Certa nostalgia tomou conta da casa quando Tony colocou para tocar um CD natalino que gravou de um LP antigo de seu pai. A música era “Jingle Bells” gravada por Frank Sinatra. Por alguns minutos, as amigas se emocionaram. “Jingle Bells, Jingle Bells, jingle all the way…” Todos cantavam juntos. Porém, muitas outras novidades ainda estavam para acontecer. Certamente, surpreenderão a todos quando os amigos começarem a trilhar destinos diferentes e conhecer outras pessoas… 97
Evoluir Cultural, 2015 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográficos da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009. Título original Autor Ilustração Coord. Editorial Design gráfico Revisão
Me Liga: romances, encrencas e confissões Flavia Bastos e Juliana Rizzuto Caroline Pereira Lilian Rochael Gabriela Ferreira Chico Maciel e Fabiana Chiotolli
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bastos, Flavia Me liga : romances, encrencas e confissões / Flavia Bastos & Juliana Rizzuto ; [ilustrações Caroline Pereira]. -- 2. ed. -- São Paulo : Evoluir, 2015. 1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Rizzuto, Juliana. II. Pereira, Caroline. III. Título. 15-00528
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantojuvenil 2. Ficção : Literatura juvenil
028.5 028.5
ISBN 978-85-8142-069-1
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