O toque de Midas

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D�vid Nordon Arte:

PLANTIo CREw • MArCElo LAMArCA • MIguel FeRNande� COLEçÃO

histórias contadas nos muros da cidade


Toqu ed

as d i eM

Duque de Caxias · RJ

Santo AntÔnio

O conto "O Toque de Midas" foi recriado em imagens nos muros do bairro de Santo Antônio, no município de Duque de Caxias, que integra a região metropolitana do Rio de Janeiro, situado na Baixada Fluminense. O projeto contou com a participação dos alunos da escola Hervalina Diniz através de oficinas que fizeram a história ganhar vida.


Os Contos de Fadas,

ou fábulas,

consagrados por abordarem questões culturais e transmitidos de geração para geração são um grande sucesso até hoje. Com o passar dos anos, porém, têm o desafio de tornarem-se atuais. Por isso, deixe de lado o que quer que já tenha ouvido falar. David Nordon apresenta os personagens como pessoas comuns em situações inusitadas. Aqui, o protagonista poderia ser você ou seus familiares, contando histórias que aconteceram no seu bairro ou na sua escola. O Projeto teve ações nos muros de escolas, ruas e instituições que receberam os grafites sobre as histórias criadas no faz-de-conta! Leia e surpreenda-se com esses Contos de Fadas Urbanos.


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M

idas havia recebido este nome porque durante a sua gestação, sua mãe havia se encantado pela história do homem

que transformava tudo aquilo que tocava em ouro, e não

houvera nada que a demovesse de assim nomear o seu bebê.

E, justamente por um nome tão incomum quanto este, Midas foi caçoado durante todos os seus longos anos na escola. Não importava para qual escola ou qual classe ele fosse, sempre, sempre, sempre havia um espertinho que já havia ouvido falar da história de Midas e punha-se a zombar do coitado. Em pouco tempo, colegas faziam fila pedindo que Midas transformasse seus lanches em ouro.

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E foi assim, zombado por toda a turma, que Midas teve de se esconder na última cabine, do banheiro mais distante, do prédio mais alto da sua escola. Lá, ele se sentou sobre o tampo da privada e ficou esperando o sinal bater e os seus colegas começarem a sair. As horas passavam e nada; o tempo parecia não avançar! Midas ficou tanto tempo lá sentado que, inevitavelmente, teve vontade de esvaziar o conteúdo de seus intestinos. Abaixou as calças, sentou-se na tábua, que era feita de metal e geladíssima, e aproveitou a oportunidade, já que não teria nada melhor a fazer mesmo, nos próximos minutos.

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Foi quando se levantou que fez uma descoberta inacreditável: a tábua estava dourada! Seria possível? Ou seriam seus colegas pregando-lhe uma peça? Curioso, e ainda com tempo de sobra para o sinal bater, ele procurou outro sanitário que tivesse uma tábua de metal, o que foi difícil de achar. Mas, por fim, encontrou e, antes de tocá-la, certificou-se de que não havia absolutamente nada alterado nela. Mas nada aconteceu. Teria sido brincadeira, mesmo? Tentou segurar a tábua por mais tempo, e nada. 8


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É, realmente era brincadeira. Já estava saindo pelas portas, convencido de que, realmente, havia sido uma pegadinha muito bem feita. Pensou que alguém, definitivamente, devia ter fotografado, ou filmado o caso, e que, neste momento, já seria um dos vídeos mais vistos do YouTube — isso se já não estivesse entre os Trending Topics do Twitter. Foi quando, em uma manobra arriscada, decidiu voltar e fazer outro teste. Entrou novamente na cabine, abaixou as calças e sentou-se. A tábua gelada rapidamente esquentou e ele já teve certeza, antes mesmo de ver: realmente, havia se tornado ouro! Ele tinha nádegas com ares de pedra filosofal!

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Nádegas pétreas filosofais! Mas, era apenas metal? Ele tentou sentar no vaso de cerâmica e depois na pia, encostou o traseiro na porta de plástico e na de madeira, e nada. Tudo permanecera igual, exceto a maçaneta da porta, que se tornara de ouro. Ah, e outra descoberta: só a sua nádega direita era pétrea e filosofal. Saiu do banheiro pensando: o que fazer com esse poder?

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Caminhou pela escola — o sinal tinha batido havia mais de meia hora e ele já podia sair sem medo — teve a sensação de que todos estavam olhando para ele, o que era normal. Só não foi normal quando Midas começou a ouvir seu próprio nome e as pessoas apontando e falando algo sobre ouro. — Ei, Midas! — berrou um colega de turma, mostrando um vídeo no seu celular — me diz o que é? Seu traseiro transforma tudo em ouro? Ele não viu muito do vídeo, apenas a parte em que a maçaneta se tornava dourada, mas já foi o suficiente.

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— Transforma a minha mochila! — pediu o amigo. — Vai! Transforma a minha mochila! Use seu traseiro de ouro! Logo, mais e mais crianças se juntaram, pedindo que ele transformasse coisas. Desesperado, Midas saiu correndo e decidiu voltar para casa a pé, sozinho, aos prantos. No entanto, no caminho começou a pensar que estava em uma posição de poder: agora, ele não seria mais o garoto zombado na escola, mas sim, quem mandaria. Todos viriam lhe pedir favores, pedir para transformar suas coisas em ouro... Ele se tornaria Midas, o Rei da Escola!

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Chegou à sua casa com outro ar, o peito estufado, o passo certo, e encontrou dois homens com ternos pretos e óculos escuros, sentados no sofá, tomando café com sua mãe. — Midas, estes são homens do governo de um país lá do norte. Eles disseram que precisam da sua ajuda. Um dos homens se ajoelhou (ele era muito alto mesmo) para encarar o garoto (sem tirar os óculos) e lhe disse: — Nós precisamos do seu toque de Midas para ajudar a nação.

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Como eles já estavam sabendo? Ficou chocado. Pouco depois, bateram à porta, e quatro homens de ternos risca de giz, charutos, maletas de violinos e sotaque italiano pediram para falar com o Midas dourado. E, ainda, mais um pouco depois, a casa estava cheia de gente de todos os países, repórteres, curiosos, familiares... Midas pensou em fugir pela janela do seu quarto, mas não tinha por onde escapar! Estava cercado!

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Ficou alguns minutos na indecisão, em seu quarto, com as portas fechadas e as persianas abaixadas. Por fim, chegou à conclusão de que não tinha escapatória e resolveu se entregar. Não sabia para quem, mas se entregou. Um mês depois, Midas estava no quarto país diferente. Por um acordo internacional, ele seria rodiziado entre todos os países do mundo, que teriam direito a uma cota determinada de conversão de metal em ouro.

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O seu dia era basicamente ficar sentado, deitado ou em pĂŠ e deixar que infinitas pessoas lhe trouxessem vĂĄrios tipos de metais para serem transformados em ouro. Havia se tornado a pessoa mais famosa e, ao mesmo tempo, com a vida mais chata do mundo. Algumas semanas depois, rodando pelo mundo, um paĂ­s desconhecido quebrou as regras e, por baixo dos panos (literalmente!), transformou metal mesmo quando Midas estava dormindo! Ultrapassou assim sua cota em dezenas de vezes.

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O mercado mundial de ouro foi afetado. As Bolsas de Valores do mundo todo caíram; acionistas foram à bancarrota. Da noite para o dia, o ouro passou a não valer muito mais do que comida chinesa, na China. Países foram ao desespero; alguns ameaçaram entrar em guerra. E agora? Contudo, enquanto o valor do ouro caía, vertiginosamente, o valor do ferro de todo o mundo, que havia sido convertido em ouro e já, praticamente, não mais existia, subia estratosfericamente. Assim, acionistas mudaram do ouro para o ferro, e a Bolsa foi colada como com Super Bonder.

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O mundo se recuperou da crise, do dia para a noite, e o ferro tornou-se o novo ouro. Com isso, Midas perdeu toda a sua importância e foi despachado de volta para casa, na classe econômica. Sem direito sequer a um pacote de amendoins. Na escola, Midas e sua nádega pétrea filosofal perderam a importância. Como a história era real e como ouro já não valia mais nada, ele passou de zombado para esquecido. Mas tudo bem; pelo menos, ele não precisava mais esperar todo mundo ir embora para ir também.

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E, certo dia, ouviu um burburinho na escola. Era sobre um tal de Marcius, apelidado de Marciano. Diziam que seu nariz podia transformar tudo em ferro. Ele atĂŠ tinha um vĂ­deo no YouTube! "Ah, pobre Marcius!", pensou Midas. "SerĂĄ que ele transformaria sua caneta de ouro de volta em ferro?"

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Retoques de midas A Coleção Contos de Fadas Urbanos é composta por seis histórias, ilustradas em três comunidades do Rio de Janeiro e três de São Paulo. Foram muitas pessoas, instituições locais e artistas envolvidos e interessados em incentivar a leitura e a vivência de cada um dos livros! Este conto foi realizado em Santo Antônio, Duque de Caxias (RJ) em parceria com a escola Hervalina Diniz, com um grupo de, aproximadamente, quinze alunos da turma de desenho, com idade entre 12 e 15 anos, todos muito dedicados e interessados. Juntos, lemos o texto de "O Toque de Midas". Em seguida, formaram-se os grupos que fizeram a sequência de desenhos da história.

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Marcelo Lamarca, grafiteiro e artista plástico, possui um traço marcante que é reconhecido facilmente pelas ruas. A paixão pela arte e desafios, tornaram-se um caminho óbvio e rapidamente os muros do Rio de Janeiro começaram a servir de tela para esse artista visual. Lamarca sempre esteve ligado à arte, costumava

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observar a cidade e sua estética vandalizada pelas pichações. Estes fatores foram uma influência determinante que chamou sua atenção para a Street Art. No processo de construção dos graffitis desse livro contou com a parceria de Bruno Werneck, também conhecido como Anjinho, morador da Pedra de

Guaratiba, que ilustra sua arte pela cidade há mais ou menos sete anos. Miguel Fernandes também foi parceiro neste projeto. Ele desenha e pinta a óleo desde pequeno, é pioneiro do skate longboard no Rio de Janeiro e está finalizando a faculdade de Arquitetura.


Em uma bela manhã de domingo, a escola abriu suas portas para receber o evento em que foram realizadas diversas atividades lúdicas. O livro-vivo foi pintado no bar principal da cidade. Um livro-vivo são imagens e histórias em espaços urbanos. Fazem com que pessoas participem desta narrativa e possam (re)contá-las e vivê-las no seu dia a dia.

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DAVID NORDON | autor Começou a escrever pequenos jornais aos 9 anos e seu primeiro livro veio aos 14 anos. Desde então, não parou mais. Hoje já passa de uma dúzia de livros publicados. Equilibra sua profissão de médico com seu hobby — uma "hob-

bissão" — de romancear crônicas, contar romances, cronicar contos e trançar rimas — os limeriques, seus favoritos! Por seu trabalho literário, David já ganhou o 2º lugar do 5º Concurso Literário Ben Gurion (2010).

Gabriele VALENTE | co-criadora Empreendedora social, artista-educadora da alegria, animadora de redes, idealizadora do movimento Liberte seus Sonhos e engajada na construção de novos paradigmas para a educação.

MARIANA FARCETTA | co-criadora Artista-educadora, movida pelo desejo de viver um mundo mais humano, colorido e menos excludente. Desde 2004, atua nas áreas da educação e saúde, tendo a arte como instrumento interdisciplinar para novas relações e saberes.


Editora Evoluir Título Original

O toque de midas

Autor

David Nordon

Coordenação editorial

Chico Maciel, Fernando Monteiro e Flávia Bastos

Produção

Gabriele Valente e Mariana Farcetta

Arte (graffitis)

Gelson, Salvador, Ayco Daki, Bruno Pastore, Lucio do Nascimento

Ilustrações

Profª Juliane Karin Pfersich e alunos da sexta série da EMEF Leonardo Villas Boas

Parceiro

CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes)

Fotografias

Marina B. Valença

Projeto gráfico

Gisela Dias e Chico Maciel

Diagramação

Gisela Dias

Letterings e capa

Fernanda Machado e Guilherme Reis Machado

Revisão de texto

Lilian Rochael

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nordon, David O toque de midas / David Nordon. — São Paulo : Evoluir, 2014. — (Coleção contos de fadas urbanos) Vários ilustradores. ISBN 978-85-8142-055-4 14.12017 CDD-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura infantil 2. Contos : Literatura infantojuvenil

028.5 028.5

Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.

Evoluir Cultural · FBF Cultural Ltda. Tel: (11) 3816-2121 · evoluir@evoluircultural.com.br www.evoluircultural.com.br · facebook.com/evoluircultural Rua Aspicuelta, 329 · Vila Madalena, São Paulo-SP · CEP 05433-010


Papel capa Papel miolo Fonte Edição Tiragem Impressão

Diamond telado 180g/m2 sobre papelão 18 Offset 120g/m2 Duper OT, LunchBox e Whitney 1ª edição, novembro de 2014 1.200 (segunda impressão, maio de 2015) XXX

Esta obra é licenciada sob uma Licença Creative Commons 4.0 Internacional que permite que você faça cópias e até gere obras derivadas, desde que não as use com fins comerciais e que sempre as compartilhe sob a mesma licença.



O menino Midas, que ganha este nome por conta do personagem da ficção que transforma objetos em ouro, de fato descobre que tem o mesmo poder. Sabem como? Ao tocar objetos com suas nádegas e também transformar em ouro qualquer coisa que quisesse. Detalhe: tinha que ser com a nádega direita. Muita diversão nesta leitura leve e divertida.

projeto

realização

contosdefadasurbanos.com.br


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