Marco Rosetti
Ilustraçþes por Pietro Luigi
Todos os dias ele acordava cedo, avisava a mĂŁe e o pai para onde ia e partia, feliz da vida. A pĂŠ ou de bicicleta, ele adorava andar. Seu nome era JoĂŁo, mas seus amigos o chamavam de Gabriel, pois tinha 9 anos e se parecia com um anjinho, um mensageiro de Deus.
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Cada dia que passava, ficava mais curioso. Vivia fazendo perguntas ao pai. Queria saber o que era divorciado, por que galinha não tem dente, quem inventou o telefone, por que coelho gosta de cenoura, por que focinho de porco não dá choque, por quê, por quê, por quê…
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Para cada pergunta que fazia, João recebia resposta. “Divorciado é separado, mas os pais não se divorciam do filho, só os adultos se separam” — explicava o pai. “Focinho de porco não dá choque porque não é tomada, ora essa!” “Quem inventou o telefone foi Alexander Graham Bell”. “Galinha não tem dentes, porque, onde já se viu dentista de galinha?” “Coelho gosta de cenoura porque gosta” — encerrou o pai.
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Mas nem todas essas respostas eram suficientes. João era curioso demais e só pensava em andar. Pensava que andando acharia respostas às suas perguntas, inclusive à mais importante de todas:
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Quem sabe, se caminhasse muito, muito, em direção ao extremo Norte ou ao extremo Sul, chegaria lá? Afinal, a Terra é redonda, todos aprendemos isso na escola.
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E lá foi João em direção ao Norte, muito contente, encantado com sua aventura. Naquele dia ele esqueceu de avisar aos pais que ia demorar e foi andando, andando sem olhar para trás. Seguiu por uma trilha de mata que parecia não ter fim.
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Andou o dia todo. Quando já estava escurecendo, sentiu fome e sede. Decidiu parar para descansar ao lado de uma árvore, mas não olhou para cima, nem viu os macacos que lá estavam. Um dos macacos, porém, percebeu que o menino estava com fome e deixou cair uma banana. João pegou, olhou para o animal e agradeceu. Antes que escurecesse mais, os macacos saíram da árvore. João, então, pensou: “Vou passar a noite ali em cima.” Subiu e logo dormiu. De repente, ouviu um barulho.
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Era uma onça pintada à procura de comida. João ficou com medo, mas teve uma ideia brilhante: Começou a imitar um leão e assustou a onça — que achou que o menino fosse um bicho mais forte que ela e fugiu! Cansado e sem desconfiar que a vida na floresta pudesse ser muito perigosa, João dormiu profundamente…
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Enquanto isso, em sua casa, seus pais se desesperavam. Não sabiam mais a quem telefonar. Ligaram para dona Fabíola, mãe do melhor amigo de João, o Diego Falador, que ganhou esse apelido porque falava alto demais: podia ser ouvido a quilômetros de distância, parecia um rádio. Mas dona Fabíola de nada sabia. Marcão, o pai de João, decidiu seguir os passos do filho e chamou Isis,uma cadela vovó que conhecia o cheiro do menino. Ela indicou a direção e seguiram ambos para o Norte. Ainda era madrugada quando saíram.
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Longe dali, João acordava com o Sol. Sem lembrar-se de onde estava, quase caiu da árvore! Foi ao rio, lavou o rosto, mas não notou que um jacaré estava pertinho dele. Tomou um susto! Mais assustado ainda ficou quando ouviu uma voz: — Não se apavore menino, não como carne. Sou jacaré, mas sou vegetariano. Eu era um príncipe que virei jacaré porque uma bruxa queria fazer de mim uma bolsa. Fugi para este rio e, desde então, tento achar um jeito de desfazer o feitiço. Mas e você? O que procura? — Estou procurando o começo de tudo — disse João. — Mas para que você quer encontrar o começo de tudo? — perguntou o jacaré. — Para entender todas as coisas, saber como nascemos, para onde vamos, por que galinha não tem dente, por que cobra não voa, por que gato tem medo de cachorro, por que um lugar é diferente do outro…
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— Ah, mas é só isso? — indagou o jacaré. Sei de um lugar onde você poderá encontrar todas as respostas que busca. Venha comigo!
João, o Gabriel, ouvia curioso a história do jacaré vegetariano — ”Seria Verdade?” Estava pensativo quando o novo amigo o convidou: — Siga-me. Vou te levar à maior sala do castelo. Ela se chama Biblioteca e é cheia de livros, pilhas e mais pilhas deles. Meus pais já colecionavam livros antes mesmo de eu nascer. Basta você ler para encontrar as respostas que procura. E alguns têm figurinhas, desenhos e fotos muito interessantes. — Que legal! Então vamos logo para lá — disse o menino, ansioso.
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Quando chegaram, o jacaré disse: — Conheço uma porta secreta. Venha comigo, ninguém pode nos ver. Logo, estavam dentro do castelo. João começou a ler todos os livros que encontrava e cada vez gostava mais. Até que achou um chamado Merlim, que ensinava como desfazer feitiços. E foi então que encontrou uma fórmula mágica: — Jaca, olhe o que descobri! Acho que posso te ajudar a voltar a ser como era! “Fique de pé, Ande em ré, Cataplim, cataplam, Volte a ser O príncipe Barbacham” E, assim, o feitiço foi desfeito. 26
Que legal, voltei a ser como era! — exclamou o príncipe. Os dois se abraçaram e viram que eram meninos muito parecidos. O príncipe correu ao quarto dos pais para dar a boa notícia. — Filho, que bom que voltou! Como cresceu! Onde esteve todo esse tempo? Procuramos tanto por você. E quem é esse amigo? — perguntou o rei. — Espere, disse a mãe, também quero abraçá-lo. — Calma, pai; calma, mãe! É uma longa história, depois conto tudo. “Só consegui tirar o feitiço da bruxa depois de fazer uma boa ação, que foi mostrar ao meu amigo João o que ele procurava. Agora preciso fazer outra boa ação: chamem os guardas e vamos levar o João pra casa! Seus pais devem estar muito preocupados.”
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Logo ouviram os latidos de Ísis que, de longe, sentiu o cheiro de João. Entusiasmado, o menino correu para os braços do pai e disse: — Encontrei o começo de tudo! Ele se chama Curiosidade e as Bibliotecas podem me ajudar a buscar respostas em muitos idiomas, para todas as minhas perguntas, além de conhecer muitos lugares, sem correr perigo. — Que bom, filho! Vamos voltar para casa. Sua mãe também está preocupada. Vou montar uma biblioteca pequena no seu quarto, e sempre que seus tios, primos e amigos lhe derem livros, você os terá onde guardar, assim, cada vez mais e você não precisará andar tanto para saber das coisas. Aprender o nome das estrelas, pesquisar as grandes invenções do ser humano ou mistérios de antigas civilizações… Conhecer a vida de atletas campeões, músicos famosos, escritores… Marcão, João e Ísis, apressaram o passo para logo, logo, construir esse novo e fascinante mundo do conhecimento: 30
A Biblioteca!
Editora Evoluir Cultural Título Original
O menino que queria encontrar o começo de tudo
Autor
Marco Rosetti
Coordenação Editorial
Fernando Monteiro, Flávia Bastos e Lilian Rochael
Conselho Editorial
Chico Maciel, David Renó, Fernando Monteiro, Flávia Bastos, Gabriela Ferreira, Lilian Rochael e Uriá Fassina
Projeto e revisão gráfica Chico Maciel Revisão de Texto
Lilian Rochael
Edição Fonte Tiragem Papel capa Papel miolo Gráfica
1ª edição, julho de 2014 Avenir 4.000 Couché 120g/m2 Pólen 90g/m2 Pancrom
Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Rosetti, Marco O menino que queria encontrar o começo de tudo / Marco Rosetti, Pietro Luigi. — São Paulo : Evoluir, 2013 1. Literatura infantojuvenil I. Luigi, Pietro. II. Título ISBN xxx-xx-xxxx-xxx-x 03.0903 CDD-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil 2. Literatura infanto-juvenil
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Onde é o começo de tudo? Você já pensou nisso? Pois essa era dúvida de João, um menino curioso que vivia fazendo perguntas sobre tudo o que queria conhecer, até o começo de tudo. E tão decidido estava em encontrar as respostas que saiu andando por trilhas sem fim.