Guia EXAME de Sustentabilidade 2008

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Outubro/2008 | R$ 19,90 | www.exame.com.br

Marketing

Pesquisa exclusiva revela que os consumidores não querem pagar mais por produtos verdes

Agronegócio

Uma nova geração de empresários mostra que é possível crescer no campo sem destruir o meio ambiente

2008 Governança

Como a crise mundial está mudando o relacionamento das companhias abertas com seus investidores

Internacional

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Por que os negócios relacionados à água estão atraindo empresas do mundo todo

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pesquisa Apresentação Pela primeira vez, o Guia EXAME de Sustentabilidade elege a Empresa Sustentável do Ano Resultados A maioria das empresas do guia já tem uma política de responsabilidade ambiental

empresas-modelo Natura Com o gene da sustentabilidade em seu negócio, a fabricante de cosméticos é escolhida a Empresa Sustentável do Ano AES Tietê Um método inovador para obter créditos de carbono Amanco Funcionários se tornam disseminadores da agenda verde Anglo American Todo cuidado é pouco ao abrir uma nova mina Basf Uma linha direta para colher a opinião dos stakeholders Bradesco Mais recursos para os financiamentos responsáveis Coelba A distribuidora de energia incentiva o consumo consciente CPFL Investimentos em produção de energia a partir do bagaço de cana Elektro As ações sustentáveis dependem da participação de todos Energias do Brasil A aposta em fontes limpas de baixo impacto Itaú Parcerias para impulsionar as operações de microcrédito Masisa Produção de painéis de madeira com baixo impacto ambiental Perdigão Como conciliar a expansão com a conduta responsável Philips O esforço para engajar os fornecedores nas boas práticas Promon A sustentabilidade está presente nos detalhes Real Empréstimos condicionados às práticas socioambientais dos clientes

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Serasa Uma receita para incluir portadores de deficiência Suzano A competição global exige padrões cada vez mais rígidos Usiminas Crescimento sem perder de vista o impacto ambiental Wal-Mart O varejista muda para apagar a fama de pouco preocupado com questões socioambientais

118

negócios globais

126

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Mercado A falta de água no planeta está criando um mercado bilionário para grandes multinacionais

brasil Agronegócio Como a nova geração do campo está lidando com velhos problemas socioambientais

130

entrevista Tendência Para o americano Stuart L. Hart, as tecnologias limpas só vão ajudar a salvar o planeta se atingirem as populações de baixa renda

134

negócios Reciclagem Cada vez mais a indústria do aço depende do reaproveitamento de sucatas Estratégia As indústrias químicas investem em produtos mais limpos para mudar a imagem de vilãs

138

Sociedade O que as grandes mineradoras estão fazendo para evitar o colapso de cidades depois do esgotamento de uma mina Qualidade Até que ponto os selos verdes, que atestam se um produto ou processo segue normas sustentáveis, fazem a diferença?

finanças Governança Após as perdas milionárias com a crise, os acionistas minoritários vão à luta e exigem mais transparência das empresas

tecnologia Energia Até 2010, o Brasil deve receber investimentos de 30 bilhões de reais em fontes alternativas de energia

livros Idéias Cinco obras para entender temas fundamentais do mundo de hoje, como aquecimento global, falta de água e superpopulação

artigo Comportamento A sustentabilidade não deve ser encarada como simples modismo de gestão e de marketing, escreve o consultor Aron Belinky

marketing

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Consumo Pesquisa revela que os consumidores querem comprar produtos com apelo ecológico — desde que não sejam mais caros

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Recursos humanos As empresas que bonificam seus executivos por metas socioambientais

gestão

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Ilustração de capa: Marcelo Calenda

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|Carta ao leitor Inspiração para os novos tempos as últimas semanas, o mundo tem assistido com um misto de horror e surpresa ao aprofundamento da crise econômica internacional. Estamos — no ambiente de negócios e fora dele — com uma desconfortável sensação de desequilíbrio, de perda de referência e de insegurança diante do futuro. Como sempre acontece — e como deve, de fato, acontecer — em momentos históricos como este, os sistemas vigentes são colocados na berlinda. E o próprio capitalismo transformouse em alvo. Um alvo fácil, devido às suas próprias fragilidades, ora expostas às multidões. Culpar o capitalismo talvez seja a saída mais óbvia, mas certamente não a mais sábia. O problema não está necessariamente em seu fim — a busca do lucro como atalho para o desenvolvimento —, mas nos meios utilizados por um número surpreendentemente grande de empresas para chegar até ele. É em momentos críticos como este que sustentabilidade deixa de ser um conceito abstrato ou um instrumento de marketing e passa a ser o limite entre companhias feitas para durar e negócios passageiros. Ser sustentável, em poucas palavras, é pensar e agir com olhos no futuro. Mesmo que isso, em alguns momentos, signifique ganhar menos no presente. Isso nada tem a ver com o fim do capitalismo. Ao contrário, é a senha para sua sobrevivência como o melhor sistema econômico criado até hoje. Nesta nona edição do Guia EXAME de Sustentabilidade apresentamos 20 exemplos de empresas brasileiras que têm buscado, no dia-a-dia de seus negócios, um equilíbrio entre as necessidades do presente e as perspectivas do futuro. Isso não envolve apenas o respeito ao meio ambiente, quase um modismo em nossos dias. Não se restringe ao tratamento dado aos acionistas ou aos funcionários. Não é só questão de transparência ou de preocupação com a sociedade como um todo. É tudo isso ao mesmo tempo. Ao trabalhar em todas as dimensões da sustentabilidade, essas companhias buscam fazer a diferença não apenas hoje ou no próximo trimestre, mas permanentemente. Buscam uma excelência complexa, que envolve números, mas vai muito além deles. Nenhuma empresa, até hoje, apresentou tanta consistência nessa busca pela sustentabilidade quanto a Natura, maior fabricante de cosméticos do país. É a única companhia apontada como modelo de responsabilidade corporativa nas nove edições deste guia. É também uma das poucas companhias brasileiras a implantar conceitos de sustentabilidade em seu dia-a-dia. Nem sempre tem sido fácil, como mostra a reportagem publicada na pág. 28. Mas, mesmo diante de dificuldades e reveses, a Natura mantém viva sua crença na perenidade não apenas do negócio, mas de tudo o que o cerca. Por esses fatores, a Natura foi escolhida por EXAME a Empresa Sustentável do Ano em 2008, um título conferido pela primeira vez na história do guia e que será dado em todas as edições daqui para a frente. Nosso objetivo é que esse reconhecimento sirva, sobretudo, de inspiração para a construção de empresas mais responsáveis, mais eficientes e mais duradouras. SILVIA ZAMBONI

Linha de produção da Natura: a maior fabricante de cosméticos do país é uma das poucas empresas que conseguiram incorporar o conceito de sustentabilidade à sua estratégia

Cláudia Vassallo • Diretora de Redação

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Fundador: VICTOR CIVITA

(1907-1990) Presidente e Editor: Roberto Civita Vice-Presidente Executivo: Jairo Mendes Leal Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), José Roberto Guzzo Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretora de Mídia Digital: Fabiana Zanni Diretor de Planejamento e Controle: Auro Luís de Iasi Diretora-Geral de Publicidade: Thais Chede Soares Diretor-Geral de Publicidade Adjunto: Rogerio Gabriel Comprido Diretor de RH e Administração: Dimas Mietto Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa Diretor Editorial: José Roberto Guzzo Diretor-Superintendente: Alexandre Caldini

Diretora de Redação: Cláudia Vassallo Redator-Chefe: André Lahóz Editores Executivos: Cristiane Correa, Maurício Lima, Sérgio Ruiz Luz, Sérgio Teixeira Jr. Editores: Cristiane Mano, Daniel Hessel Teich, Eduardo Salgado, José Roberto Caetano, Marcelo Ragazzi Onaga, Maria Luisa Mendes, Tiago Lethbridge Subeditores e Repórteres: Ana Luiza Herzog, Camila Fusco, Carolina Meyer, Daniella Camargos, Denise Carvalho, Fabiane Stefano, Giuliana Napolitano, Larissa Santana, Luciene Antunes, Melina Costa, Roberta Paduan, Tatiana Gianini, Tiago Maranhão Sucursais: Angela Pimenta (Brasília), Suzana Naiditch (Porto Alegre), Malu Gaspar, Samantha Lima (Rio de Janeiro) Revisão: Ivana Traversim (chefe), Eduardo Teixeira Gonzaga, Regina Pereira

Coordenação Cristiane Correa

Edição Ana Luiza Herzog, Cristiane Mano e Ernesto Yoshida

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Reportagem Adriana Carvalho, Aline Lima, Celia Demarchi, Christiane Bueno Malta, Denise Ramiro, Fabiane Stefano, Flávio Viégas, Gabriela Mainardes, Guilherme Fogaça, Gustavo Magaldi, José Alberto Gonçalves, Juliana Garçon, Leandro Steiw, Lucas Amorim, Luci Gomes, Maurício Oliveira, Rafael Bresciani, Roberta Queiroz, Roseli Loturco, Serena Calejon, Suzana Naiditch, Tatiana Gianini, Tatiane Matheus, Téo Takar, Ursula Alonso Manso, Vladimir Brandão Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Equipe: Mario Monzoni (coordenação), Rachel Biderman, Roberta Simonetti, Érica Gallucci e Veridyana César

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Assessoria técnica

Arte Coordenação: Ricardo Godeguez Designers: Alessandra Silveira, Osmar Vieira e Rita Ralha Nogueira

Fotografia Coordenação: Germano Lüders Equipe: Pedro Stre lkow (subeditor), Vivian Pacheco (pesquisa)

Revisão Coordenação: Ivana Traversim Revisores: Eduardo Teixeira Gonzaga, Maurício José de Oliveira, Rachel Reis, Regina Pereira, Taís Salbé, Walter Farro, Wilca Rocha Nunes

Diretora de Arte: Roseli de Almeida Editora de Arte: Cláudia Calenda Designers: Jean Takada, Maria do Carmo Benicchio, Marta Teixeira, Simone Spitzcovsky Edições Especiais: Ricardo Godeguez (editor de arte), Alessandra Silveira, Rita Ralha (designers) Estagiária: Victoria Andreoli CTI: Leandro Almario Fonseca (chefe), André Chagas, Carlos Alberto Pedretti, Julio Gomes Fotografia: Germano Lüders (editor), Pedro Strelkow (subeditor), Iara Brezeguello, Natália Parizotto, Vivian Pacheco (pesquisadoras), Aline Rocha (estagiária) Portal EXAME Gerente de Produto: Osmar Lazarini Editor: João Sandrini Repórteres: Francine De Lorenzo, Márcio Juliboni, Peri de Castro Dioas Webdesigner: Fábio Teixeira Webmaster: Marcus Cruz www.exame.com.br Apoio Editorial: Bia Mendes Departamento de Documentação e Abril Press: Grace de Souza Diretoria de Arte: Carlos Grassetti Editoria de Infografia: Luiz Iria Treinamento Editorial: Edward Pimenta Publicidade Centralizada Diretores: Marcos Peregrina Gomez, Mariane Ortiz, Robson Monte, Sandra Sampaio Diretor de Publicidade Regional: Jacques Baisi Ricardo Diretor de Publicidade Rio de Janeiro: Paulo Renato Simões Gerente de Vendas: Edson Melo (RJ) Executivos de Negócio: Ana Paula Teixeira, Daniela Serafim, Eliane Pinho, Emiliano Hansenn, Karine Thomaz, Luciano Almeida, Marcelo Cavalheiro,

Marcelo Pezzato, Marcio Bezerra, Maria Lucia Strotbek, Pedro Bonaldi, Renata Mioli, Rodrigo Toledo, Selma Costa, Sueli Fender, Susana Vieira Publicidade Núcleo Negócios Gerente: Francisco Barbeiro Neto Executivos de Negócio: Adriana Nazaré, André Cecci, Edvaldo Silva, Jussara Dimes Costa, Marcela Orefece, Mauro Vandromel, Thais Alfaya Coordenadora: Christina Pessoa (RJ) Planejamento, Controle e Operações Gerente: Victor Zockun Consultor: Virginia Oshiro Processos: Agnaldo Gama, Clélio Antônio, Valdir Bertholin, Wagner Cardoso Eventos e Circulação Gerente de Marketing e Projetos Especiais: Antonia Costa Gerente Executiva de Eventos: Regina Bernardi Gerente de Eventos: Shirley Nakasone Gerente de Produto: Viviane Ribeiro Gerente de Circulação - Avulsas: Carmen Lúcia de Sá Gerente de Circulação - Assinaturas: Viviane Ahrens Assinaturas Diretor de Atendimento e Relacionamento com o Cliente: Fabian S. Magalhães Operações de Atendimento ao Consumidor: Malvina Galatovic Em São Paulo: Redação e Correspondência: Av. das Nações Unidas, 7221, 20o andar, Pinheiros, CEP 05425-902, tel. (11) 3037-2000, fax (11) 3037-2027 PUBLICIDADE São Paulo www.publiabril.com.br Classificados tel. 0800-7012066; Grande São Paulo, tel. 3037-2700 ESCRITÓRIOS E REPRESENTANTES DE PUBLICIDADE NO BRASIL: Central-SP: (11) 3037-2302 Bauru Gnottos Mídia e Representações Comerciais, tel. (14) 3227-0378, e-mail: gnottos@gnottosmidia.com.br Belém Xingu Consultoria, e-mail: neliopalheta@gmail.com Belo Horizonte Escritório tel. (31) 3282-0630, fax (31) 3282-0632 Representante Triângulo Mineiro F&C Campos Consultoria e Assessoria Ltda., telefax (16) 3620-2702, cel. (16) 8111-8159, e-mail: fmc.rep@netsite.com.br Blumenau M. Marchi Representações, tel. (47) 3329-3820, telefax: (47) 3329-6169, e-mail: mauro@mmarchiabril.com.br Brasília Escritório: tels. 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GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2008 (EAN 789-3614-055077) é uma publicação anual da Editora Abril S.A. Edições anteriores: venda exclusiva em bancas, ao preço da última edição em banca mais despesa de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída no país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. EXAME não admite publicidade redacional.

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Presidente do Conselho de Administração: Roberto Civita Presidente Executivo: Giancarlo Civita Vice-Presidentes: Arnaldo Tibyriçá, Douglas Duran, Marcio Ogliara, Mauro Calliari, Sidnei Basile www.abril.com.br

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Acesse o Portal EXAME e leia todas as reportagens e informações exclusivas para a internet que complementam o anuário.

Resultados

Panorama da

sustentabilidade maior levantamento sobre sustentabilida-

Pesquisa

Nem tão verdes assim Veja a íntegra da pesquisa realizada pelo instituto Quorum Brasil com exclusividade para o Guia EXAME de Sustentabilidade sobre o perfil do consumidor “verde”. O levantamento mostra que 70% dos brasileiros não compram produtos com selo ambiental caso custem mais do que similares sem certificação. Foram ouvidos 200 moradores da cidade de São Paulo — entre 20 e 50 anos e renda familiar mensal entre 5 000 e 10 000 reais.

Livros Entrevista

Estratégia ganha-ganha

DIVULGAÇÃO

Leia trecho do livro O Verde Que Vale Ouro, publicado neste ano pela editora Campus Elsevier. Os autores, pesquisadores da Universidade Yale, usam exemplos de grandes companhias mundo afora para mostrar que a adoção de estratégias ambientais não é apenas uma forma de conservar o planeta. É, antes de tudo, uma oportunidade para se diferenciar de concorrentes e assegurar a própria sobrevivência.

O lucro que vem da base da pirâmide Ouça trechos da entrevista com o americano Stuart Hart, co-autor do já histórico artigo Fortuna na Base da Pirâmide, escrito em 2002 com o indiano C.K. Prahalad. Professor da Universidade Cornell, Hart é hoje uma das maiores referências mundiais em estratégias empresariais para as populações de baixa renda.

Se você comprou esta edição na banca, para ler as matérias no site, digite a palavra-chave

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estatísticos elaborados com base nas respostas das 128 empresas de grande e médio porte que preencheram todo o questionário da pesquisa do Guia EXAME de Sustentabilidade em 2008 (no total, inscreveram-se 177 empresas). Existem dados a respeito de todas as dimensões avaliadas — e é possível compará-los com as respostas compiladas em 2007. As ferramentas de consulta também dão acesso às reportagens das oito edições anteriores do anuário.

ANTONIO MILENA

Ode entre empresas brasileiras está disponível no Portal EXAME. É possível ver os resultados

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A escolha das melhores

Em sua nona edição, o Guia EXAME de Sustentabilidade destaca, pela primeira vez, a Empresa do Ano entre as 20 empresas-modelo do país | Cristiane Mano

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Encontro do GRI, na Holanda: mais de 800 empresas discutem, todos os anos, padrões e indicadores de sustentabilidade

oucos temas dentro das empresas hoje são tão abrangentes e controversos quanto sustentabilidade. Ser sustentável é uma proposição que envolve desde a preocupação com o impacto ambiental até a responsabilidade de uma companhia perante funcionários, consumidores, fornecedores e investidores. Algumas dessas variáveis são mais (ou menos) críticas de acordo com o setor. Trata-se também de um termo em constante evolução, cujas métricas e indicadores são discutidos e rediscutidos todos os anos em instâncias como o Global Re-

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porting Initiative (GRI), organização com sede na Holanda que congrega mais de 800 grandes empresas de todo o mundo, como Microsoft e Unilever, e cujo objetivo é discutir padrões para a elaboração de relatórios de sustentabilidade. A complexidade e o dinamismo do tema exigem que o Guia EXAME de Sustentabilidade também acompanhe esses movimentos. Neste ano, a publicação se propôs a realizar uma das tarefas mais desafiadoras de sua história. Na nona edição, o Guia EXAME de Sustentabilidade destaca, pela primeira vez, uma de suas 20 empresas-modelo como a Em-

presa Sustentável do Ano. A escolhida é a fabricante de cosméticos Natura — presente entre as empresas-modelo em todas as edições do guia desde a primeira publicação, em 2000, ainda como Guia EXAME de Boa Cidadania Corporativa. Não se trata da escolha da empresa mais sustentável do país — não existe maneira de aferir tal comparação, até pela diversidade de setores participantes do guia. Trata-se, sim, de eleger uma empresa que se diferencia pela consistência, pelo comprometimento e sobretudo pela persistência na busca da sustentabilidade. O destaque — que se reflete numa reportagem mais longa e aprofundada nesta edição — permite descrever em mais detalhes essa trajetória. O relato pode ser inspirador tanto pelos acertos quanto pelos erros. Assim como a Natura, as outras empresas-modelo que compõem este anuário estão longe de ser empresas perfeitas. O que elas formam é o melhor retrato das grandes companhias brasileiras que estão conseguindo adaptar seus negócios aos novos tempos. Para a escolha das 20 empresas-modelo, o Guia EXAME de Sustentabilidade segue pelo segundo ano consecutivo a metodologia elaborada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, responsável também pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, que reúne empresas responsáveis listadas na bolsa. A pesquisa — da qual participaram 177 companhias de grande e médio porte de todo o país — considera as mais atuais referências em levantamentos sobre sustentabilidade empresarial em todo o mundo. A análise teve quatro etapas. Na primeira, as empresas participantes preencheram um questionário, dividido em quatro partes. Uma dessas partes aborda questões introdutórias sobre transparência e governança corporativa, elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). As demais tratam das dimensões econômico-financeira, social e ambiental. Critérios da dimensão ambiental receberam ponderações diferentes na avaliação final, dependendo do setor de atuação da empresa e de seu impacto no meio ambiente. As respostas foram analisadas estatisticamente, de modo a excluir empresas que tiveram desempenho abaixo da média em qualquer das dimensões do questionário.

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Pesquisa | Apresentação Com base nessa análise, uma lista de 35 empresas foi submetida à decisão dos sete membros do conselho consultivo do anuário (veja quadro ao lado), que elegeram as 20 empresas-modelo desta edição. Finalmente, a Empresa Sustentável do Ano foi escolhida, por meio de um julgamento editorial e jornalístico, pela redação da própria EXAME. Os principais resultados do levantamento de todas as empresas participantes e a reportagem sobre cada uma das 20 empresas-modelo estão nas próximas páginas. Veja mais detalhes sobre a escolha das melhores no esquema a seguir.

A seleção passo a passo Preenchimento do questionário As empresas preencheram um questionário disponível no Portal EXAME (www.exame.com.br), dividido em quatro partes. As informações prestadas referiam-se ao retrato da empresa no dia 31 de março de 2008. O peso de cada dimensão é absolutamente idêntico. O conteúdo foi definido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (GVces) e segue abaixo. PESO

25

Dimensão geral O que é: 21 questões sobre os

compromissos, o alinhamento, a transparência, a conduta e a governança corporativa (estas últimas foram elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). PESO

25

Dimensão econômica

O que é: 17 questões sobre a estratégia, a gestão e o desempenho. PESO

O que é: 45 questões sobre os

O que é: 41 questões sobre a polí-

◗ No total, 177 empresas se inscreveram — destas, porém, participaram da etapa seguinte somente as 128 que preencheram todas as perguntas apresentadas no questionário. As demais empresas foram desclassificadas.

Segunda etapa

Análise do desempenho A pontuação das participantes em cada dimensão foi ponderada com critérios estatísticos. Esta etapa excluiu as empresas que apresentaram desempenho abaixo da média tanto na soma dos pontos em todo o questionário como em cada uma de suas dimensões. Em seguida, acrescentou-se à avaliação outro critério de exclusão definido pelo conselho consultivo, composto de sete integrantes (veja quadro ao lado) — a existência de um comitê de sustentabilidade, a remuneração atrelada a critérios sociais e ambientais, a publicação de um relatório de sustentabilidade e a existência de política de combate à corrupção.

◗ Com base nessa seleção, chegou-se a uma lista de 35 empresas, cujas informações prestadas no questionário foram submetidas a uma aferição jornalística.

Terceira etapa

Aprovação do conselho A lista de 35 empresas foi apresentada ao conselho consultivo. Considerando as pontuações e as informações obtidas na aferição jornalística, o conselho definiu a lista das 20 empresas-modelo.

Quarta etapa

Definição da Empresa Sustentável do Ano

compromissos e a responsabilidade perante todos os stakeholders — fornecedores, funcionários, comunidade, clientes e consumidores, além das relações com governo e sociedade.

18 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO 2008

Apresentac a o4.indd 18

Dimensão ambiental

tica, a gestão e o desempenho ambiental — inclusive iniciativas da empresa em relação a mudanças climáticas, biodiversidade, conservação e uso sustentável de recursos naturais, entre outras.

-

25

Dimensão social

25

EXAME

EXAME - EEXA - 18 - 05/11/08

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Composite

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RGODEGUEZ

-

23/10/08

20:58

-

02_CAD

Primeira etapa

PESO

Com base nas 20 empresas-modelo e seguindo um critério jornalístico, a redação de EXAME definiu a Empresa Sustentável do Ano.

O perfil dos conselheiros Quem são os sete integrantes do conselho consultivo desta edição do Guia EXAME de Sustentabilidade

Clarissa Lins Diretora executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS)

Helio Mattar Fundador e diretor-presidente do Instituto Akatu, ONG que incentiva o consumo consciente

Heloisa Bedicks Diretora executiva do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

Pedro Mader Meloni Principal advisor para a América Latina e o Caribe do International Finance Corporation (IFC), ramo do setor privado do Banco Mundial

Ricardo Young Presidente do Instituto Ethos

Rosa Maria Fischer Professora titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da Fundação Instituto de Administração (Ceats-FIA)

Sidnei Basile Vice-presidente de relações institucionais do Grupo Abril

10/23/08 8:47:04 PM


EXAME

-

EXAME - EEXA - 19 - 05/11/08

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Composite

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AGNALDO

-

23/10/08

10:43

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03_CAD


Pesquisa | Resultados

O Guia EXAME de Sustentabilidade 2008, o maior levantamento de responsabilidade corporativa do país, mostra que as empresas brasileiras estão cada vez mais empenhadas em desenhar uma estratégia verde | Lucas Amorim

EXAME

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EXAME - EEXA - 20 - 05/11/08

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Composite

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RGODEGUEZ

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Ser sustentável é uma obrigação

Resultados.indd 20-21


03_CAD 20:58 23/10/08 -

LAILSON SANTOS

RGODEGUEZ Composite EXAME

EXAME - EEXA - 21 - 05/11/08 -

Centro de distribuição de rede da CPFL, no interior de São Paulo: investimento de 23 milhões de reais num programa de eficiência energética

OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 21

10/23/08 8:42:31 PM


MARCELO ARRUDA/SAMBAPHOTO

Pesquisa | Resultados

22 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO 2008

EXAME - EEXA - 22 - 05/11/08

-

Composite

-

RGODEGUEZ

-

23/10/08

21:28

-

N

de gases de efeito estufa. Em maio, o governo federal e 16 empresas aderiram ao GHG Protocol, medida internacional usada para administrar as emissões desses gases. Para Otavio Costa, gerente para a América do Sul da DNV, empresa especializada em auditar as emissões de gases, o movimento para reduzir os lançamentos de gases do efeito estufa está apenas começando a fazer parte do rol de prioridades das companhias brasileiras — mas deve crescer muito nos próximos anos. “O compromisso de reduzir as emissões pode se tornar obrigatório em países emergentes a partir de 2012, com a revisão do Protocolo de Kyoto”, afirma Costa. “Quem esperar até lá vai ficar para trás.” Os resultados da pesquisa realizada por EXAME apontam que 39% das empresas brasileiras já têm metas para reduzir suas emissões de carbono — ante 32% das empresas participantes do levantamento de 2007. Entre elas está a subsidiária brasileira da Unilever. A multinacional gerencia os danos causados por toda a sua cadeia produtiva — da fabricação à distribuição. Os caminhões que entregam os produtos, por exemplo, contam desde 2006 com um novo material de revestimento nas câmaras frigoríficas, que dispensa motores de refrigeração. Mais leves,

um momento em que se discute exaustivamente o aquecimento global, conceber novas maneiras de cuidar do meio ambiente virou obsessão de grandes companhias mundo afora. A pesquisa realizada para o Guia EXAME de Sustentabilidade 2008 mostra que as empresas brasileiras não fogem a essa tendência. Das 128 participantes que responderam a todo o questionário, 89% já têm política corporativa de responsabilidade ambiental (veja quadro na pág. 7). A maioria está dando apenas os primeiros passos, mas muitas já perceberam que critérios ambientais também oferecem oportunidade para cortar custos e se diferenciar da concorrência. “A evolução nos critérios ambientais mais importantes, como consumo de água e energia e emissões de gases, revela que as empresas brasileiras começam a ter ações mais claras para reduzir o impacto de suas atividades”, diz Roberta Simonetti, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, parceira de EXAME na elaboração da metodologia do questionário. Uma das novas fronteiras na busca por uma operação com menos impacto no meio ambiente é a redução das emissões

EXAME

03_CAD

Chaminés na Baixada Santista: 39% das empresas têm metas para reduzir emissões de carbono

Resultados.indd 22-23

Criança em Alagoas: 83% das empresas cobram uma postura responsável de fornecedores — como o banimento do trabalho infantil

os veículos consomem menos combustível. Além disso, divisórias flexíveis permitem o transporte de diversos produtos no mesmo caminhão, reduzindo o número de viagens. Apenas com essas medidas, a emissão de gás carbônico à atmosfera caiu 2 milhões de toneladas no ano passado. No quesito eficiência energética, as empresas brasileiras estão mais adiantadas. Das 128 avaliadas, 77% têm metas para reduzir o consumo — ante 72% em 2007. Algumas delas, como a companhia


Os destaques da pesquisa O perfil das 128 empresas que responderam a todas as questões do Guia EXAME de Sustentabilidade 2008

Dimensão geral

Dimensão econômica

A empresa possui uma política corporativa de responsabilidade ambiental?

Há um sistema de gestão de riscos que considere aspectos socioambientais de curto, médio e longo prazo?

66% 34% SIM

NÃO

30%

70% SIM

NÃO

A companhia divulga relatório de sustentabilidade?

83%

17%

SIM

NÃO

Tal sistema prevê a quantificação do risco:

-

Caso divulgue, esses relatórios(1):

21:28

03_CAD

65% 63%

34% 29% 34%

41%

23/10/08

Estabelecem metas de melhoria de desempenho e prestam conta das metas anteriormente assumidas

31%

Foram elaborados com a participação livre das partes interessadas e incorporam suas manifestações e avaliações

51%

Contemplam de maneira equilibrada aspectos positivos e negativos

elétrica CPFL, criaram projetos que envolvem até seus consumidores. Para melhorar a eficiência de sua distribuição, a CPFL investiu neste ano 23 milhões de reais num projeto com famílias de pouca renda, que começou pela Baixada Santista e foi ampliado a outras regiões de São Paulo. Técnicos visitam as casas de bairros carentes para regularizar ligações elétricas e também trocam lâmpadas, geladeiras e fiações antigas por equipamentos mais econômicos. Em oito meses, já foram

A política de remuneração de todos os executivos está vinculada a metas e em que dimensões?

Op era cio na l Le ga l Re pu taç ão Me rca do Cr éd ito Liq uid ez

-

DIDA SAMPAIO/AE

RGODEGUEZ

-

São auditados sob todos os aspectos, por empresa ou instituição independente

Composite EXAME - EEXA - 23 - 05/11/08 EXAME

52% 47%

Existem metodologistas que avaliam o impacto da incorporação de aspectos socioambientais nos resultados financeiros da empresa?

84% 52% 32%

29%

SIM

48% NÃO

16%

Econômico- Sociais Ambientais Nenhuma financeiras das anteriores (1) Múltipla escolha

OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 23

10/23/08 8:42:47 PM


MICHAEL URBAN/AFP PHOTO

24 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO 2008

EXAME - EEXA - 24 - 05/11/08

-

Composite

-

livro O Verde Que Vale Ouro, eles afirmam que tradicionais vantagens competitivas, como terceirização e acesso a matéria-prima de baixo custo, já estão disponíveis para qualquer empresa (veja resenha na pág. 134). “Quem quiser sobreviver deve encontrar novas maneiras de se diferenciar”, afirmam Esty e Winston. Nesse contexto, inovações que não agridam o meio ambiente podem se tornar um diferencial até mesmo para empresas tradicionalmente inovadoras. A gigante da indústria química DuPont, dona de marcas como Lycra e Nylon, por exemplo, estabeleceu em 2006 a meta de ampliar em 6 bilhões de dólares suas receitas com produtos ambientalmente corretos até 2015. Um dos lançamentos de maior impacto foi anunciado em abril,

instaladas, de graça, 13 000 geladeiras e 600 000 lâmpadas fluorescentes. A economia para a CPFL num ano chegou a 42 000 megawatts-hora — suficiente para abastecer por um ano uma cidade do porte de Cubatão, com 117 000 habitantes. Metas para reduzir o impacto ambiental não trazem apenas redução de custos. Podem se transformar também em fontes de receita. A maior parte das empresas que responderam ao questionário — 66% — adota critérios ambientais para o desenvolvimento de novos produtos ou serviços. Em 2007, eram apenas 46%. Aos poucos, as companhias brasileiras percebem a oportunidade que os pesquisadores da Universidade de Yale Daniel Esty e Andrew Winston chamam de “estratégia ambiental”. No recém-lançado

EXAME

RGODEGUEZ

-

23/10/08

21:04

-

03_CAD

Pesquisa | Resultados

Resultados.indd 24-25

na Alemanha — e já está disponível também no Brasil. É uma resina feita à base de amido, que substitui plásticos derivados de petróleo. Batizada de Biomax TPS, ela é biodegradável em contato com a água e pode ser usada em embalagens para produtos com baixa umidade, como chocolates e biscoitos — e já está em uso pela inglesa Cadbury. Os resultados da pesquisa apontam que a postura sustentável das companhias estende-se, cada vez mais, à cadeia de fornecedores. Das participantes da pesquisa de EXAME, 67% já monitoram o impacto ambiental de seus fornecedores. Em relação ao impacto social (como a não-utilização de trabalho escravo ou infantil), o percentual sobe para 83%. Dessas companhias, 58% já adotam ações


Os destaques da pesquisa Dimensão ambiental

Dimensão social

A empresa possui uma política corporativa de responsabilidade ambiental?

A empresa utiliza critérios sociais(1) para qualificação, seleção e monitoramento de seus fornecedores de bens e serviços?

89%

83% %

117%

SIM

NÃO

11% SIM

NÃO

EXAME

-

EXAME - EEXA - 25 - 05/11/08

-

Composite

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RGODEGUEZ

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23/10/08

21:04

-

03_CAD

Essa política prevê adoção de critérios ambientais para(2):

Obras de usina da sueca Vattenfall, na Alemanha: consulta a governo, fornecedores e população local antes de definir um novo projeto

concretas para encerrar contratos e até processar quem não se enquadre às exigências. Trata-se de uma mudança drástica — já que no ano passado apenas 5% previam essas medidas. Na Europa e nos Estados Unidos, essa tendência já é realidade. Em setembro deste ano, por exemplo, o Wal-Mart — maior varejista do mundo — pediu a todos os seus fornecedores que parassem de comprar algodão do Uzbequistão, país que produz 800 000 toneladas anuais do produto — por uso de trabalho forçado infantil na lavoura. No Brasil, o Wal-Mart integra o grupo de 32% das empresas que adotam critérios sociais, e de 29% das que têm metas ambientais, para remunerar seus executivos (veja matéria na pág. 116). “Essa demanda ainda é muito recente,

63% 66% 67% 46%

Todas as etapas do processo produtivo

Desenvolvimento de novos produtos e serviços

Seleção de fornecedores

Se sim, esses critérios são:

66% 69% 58%

Incluídos como cláusulas contratuais passíveis de monitoramento Divulgados previamente e de forma transparente nos processos de seleção

Prevêem medidas disciplinares e legais para situações de não-enquadramento

A empresa possui compromisso formal em relação à valorização da diversidade?

Logística

Que ações voluntárias a empresa adota para reduzir seu impacto ambiental?

77%

78%

76%

22% SIM

39%

NÃO

Esse compromisso está expresso por uma política corporativa específica?

53% SIM Meta de redução no consumo de energia

47% NÃO

Meta Metas de redução de redução das emissões no consumo diretas de gases de água de efeito estufa

(1) Tais como: não-utilização de trabalho infantil, forçado ou compulsório; combate à corrupção; incentivo à contratação de fornecedores locais (2) Múltipla escolha

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DIVULGAÇÃO

Pesquisa | Resultados

26 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO 2008

EXAME - EEXA - 26 - 05/11/08

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Composite

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RGODEGUEZ

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23/10/08

21:07

-

mas em cinco anos deve virar prática comum entre as empresas”, diz Marcos Próspero, vice-presidente de capital humano do Wal-Mart. Na maior empresa de varejo do mundo, há três anos a sustentabilidade é uma das seis metas levadas em conta para o pagamento de bônus aos executivos — que pode chegar a um salário extra por ano. Já na Masisa, produtora de painéis de madeira para interiores, todos os 1 300 funcionários podem receber bônus equivalente a 15% do salário se a empresa bater suas metas de redução de consumo de água e de geração de resíduos. Para os executivos, o ganho pode chegar a 35%. Entre todos os indicadores da pesquisa de sustentabilidade, os resultados mais tímidos dizem respeito à transparência das empresas. O percentual de companhias com compromisso formal de combater a corrupção, por exemplo, chegou a 90% — no entanto, uma leitura mais cuidadosa do relatório revela que apenas 47% delas têm políticas específicas para a questão. Uma das exceções é o Itaú, que possui uma comissão superior de ética coordenada pelo próprio presidente da empresa e conta ainda com diversos comitês de ética. A estrutura está formada há oito anos. Todos os funcionários e fornecedores do banco precisam assinar

EXAME

03_CAD

Funcionários da Masisa: todos os 1 300 empregados recebem bônus ao cumprir metas de redução de consumo de água e de geração de resíduos

Resultados.indd 26

o código de ética e, de tempos em tempos, passar por avaliações sobre o tema. “As empresas que não colocarem a ética como pano de fundo de suas ações e que não deixarem muito claros seus valores terão dificuldades em breve”, diz Antonio Matias, presidente do comitê de ética do banco Itaú.

Mais transparência Tradicionalmente, esses valores são expressos nos relatórios de sustentabilidade — outro quesito em que as companhias brasileiras ainda dão seus primeiros passos e precisam evoluir nos próximos anos. Embora 83% divulguem relatório (ante 72% em 2007), apenas um terço delas observa critérios reconhecidos internacionalmente, como auditoria externa e metas de desempenho. Uma das saídas encontradas por algumas companhias para se comunicar com os diversos públicos interessados, os stakeholders, é marcar encontros periódicos. No Bradesco, funcionários organizam seis encontros anuais com clientes, ONGs e fornecedores para colher críticas e sugestões. Os temas mais comuns e relevantes são acrescentados ao relatório do ano seguinte. “É um sistema que se retroalimenta: ao ouvirmos

nosso público, direcionamos nossas ações, que por sua vez deixam o próximo relatório mais completo”, afirma Jean Philippe Leroy, diretor de relações com o mercado do Bradesco. Não é só no Brasil que a transparência está na linha de frente dos debates em relação à sustentabilidade. Em 2008, ela foi tema da conferência global da GRI (Global Reporting Initiative), organização que estabelece indicadores essenciais para relatórios ambientais e sociais. A estatal de energia sueca Vattenfall AB, cujo caso foi apresentado no encontro, chegou a usar os indicadores da GRI como base para reformular suas metas anuais para os negócios. Desde então, critérios internacionalmente reconhecidos de sustentabilidade norteiam as principais decisões dos executivos da empresa. A Vattenfall decidiu, por exemplo, adotar o diálogo aberto com os stakeholders antes de tomar qualquer decisão, como ouvir a população local, o governo e os fornecedores antes de decidir pela construção de uma usina eólica ou a carvão. Ao fim do ano, a empresa elabora um relatório único e todas as informações e os indicadores relacionados à sustentabilidade da companhia podem ser encontrados junto aos dados do desempenho financeiro. Nem sempre as informações precisam aparecer em relatórios caprichados, com capa dura e papel especial. Elas podem ser divulgadas por meio de iniciativas mais simples. A Natura, por exemplo, começou em 2007 a estampar uma tabela ambiental na embalagem de seus produtos. Em poucas linhas, revela a natureza dos ingredientes — se são de fontes renováveis ou não — e da embalagem — que pode ou não ser feita de material reciclado. De acordo com Mervyn King, presidente da GRI, informações claras e acessíveis, que contenham aspectos tanto positivos quanto negativos, serão cada vez mais valorizadas não só por empresas e fornecedores mas, principalmente, pelos consumidores. Quanto antes as empresas se derem conta, maiores as chances de competirem nesse novo cenário que se impõe.

10/23/08 8:43:30 PM


04_CAD 21:22 23/10/08 RGODEGUEZ Composite -

modelo Natura (Empresa Sustentável do Ano) • AES Tietê • Amanco • Anglo American • Basf • Bradesco • Coelba • CPFL • Elektro • Energias do Brasil • Itaú • Masisa • Perdigão • Philips • Promon • Real • Serasa • Suzano • Usiminas • Wal-Mart

EXAME

-

EXAME - EEXA - 27 - 05/11/08

Empresas-

Capinha EmpreModelo3.indd 3

10/23/08 9:10:54 PM


Empresa Sustentável do Ano | Natura

Uma questão de estratégia

28 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO 2008

E

NATURA EMPR do ANO2.indd 28-29

GERMANO LÜDERS

EXAME - EEXA - 28 - 05/11/08

-

Composite

-

RGODEGUEZ

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23/10/08

21:22

-

mbora não existam ainda muitas verdades absolutas quando o assunto é sustentabilidade, estudiosos do tema são unânimes quanto a um raciocínio: uma empresa só é capaz de ajudar a melhorar, de forma efetiva, o caos ambiental e social do planeta se levar os preceitos do desenvolvimento sustentável para o cerne de seu negócio. A teoria pode parecer simples, mas colocar essa associação em prática é algo extremamente difícil — e ainda raro. Prova disso é que o americano Michael Porter, um dos mais respeitados gurus de negócios do mundo, constantemente critica as grandes companhias por terem duas estratégias — uma econômica e uma de responsabilidade social — quando, na verdade, deveriam ter uma só. Neste ano, pela primeira vez desde seu lançamento, em 2000, o Guia EXAME de Sustentabilidade decidiu eleger, entre as 20 empresas-modelo, uma vencedora: a Empresa Sustentável do Ano. A escolhida foi a Natura, uma companhia que segue a premissa de Porter como poucas. Única empresa presente entre os destaques das nove edições do anuário, a Natura tem a preocupação com a sustentabilidade impregnada em sua estratégia desde a fundação, em 1969, quando lançou seus primeiros cosméticos feitos com ativos naturais. “Acreditamos que os desafios sociais e ambientais não são entraves ao nosso crescimento, mas alavancas para a inovação”, afirma o executivo Alessandro Carlucci, que assumiu a presidência da Natura em 2005, depois que seus fundadores — Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos

EXAME

04_CAD

Pioneira entre as empresas que adotaram o conceito de responsabilidade social no Brasil, a Natura enfrenta agora o desafio de atender à pressão do mercado de capitais sem perder sua essência | Ana Luiza Herzog


Em três frentes O desempenho econômicofinanceiro, social e ambiental da Natura — em números Receita (em bilhões de reais)

3,2

3,8

4,3

2005

2006

2007

Lucro líquido (em milhões de reais)

306,4 2005

468,8

462,3

2006

2007

04_CAD

(em reais)

-

Desempenho das ações desde o IPO

6

27,4

23/10/08 RGODEGUEZ

-

Investimentos em responsabilidade corporativa (em milhões de reais)

23,3

Composite

-

2005

38,1 2006

53

2007

Consumo de água por produto vendido (em litros)

0,53

2005

2006

-

0,58

Carlucci, presidente da Natura: para ele os desafios sociais e ambientais estimulam a inovação

0,42 2007

Porcentagem de refis sobre total de produtos vendidos 21,3 19,8 17,4 2005

2006

2007

EXAME

-

EXAME - EEXA - 29 - 05/11/08

16 17,5

25 /5 /2 00 4 de z/ 20 04 de z/ 20 05 de z/ 20 06 de z 20 /200 /10 7 /2 00 8

21:31

18,4 13,4

OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 29

10/23/08 9:05:49 PM


óleo mineral, de origem fóssil, foi substituído pelo vegetal em todos os óleos de corpo da marca. O principal desafio das trocas foi adequar as fórmulas dos produtos para que o novo ingrediente não os tornasse menos eficientes, seguros ou atraentes para o consumidor. A vegetalização do óleo Séve, por exemplo, um dos mais tradicionais e antigos da marca, consumiu um ano e meio de pesquisas. Para este ano, a meta é substituir o álcool normal por orgânico em todos os produtos. O álcool orgânico é mais caro que o convencional, mas a certificação dá à Natura a certeza de que ele foi produzido de acordo com boas práticas ambientais. Segundo a empresa, as mudanças nas fórmulas não aumentaram o preço dos produtos. Todas essas iniciativas ganharam relevância ainda maior em meados de 2007, quando a companhia anunciou um plano para se tornar “carbono neutro” até o final deste ano. Diferentemente do que o termo passou a significar para a maioria das empresas, a decisão da Natura não implica simplesmente sair plantando milhares de árvores — embora ela esteja financiando um projeto de reflorestamento para neutralizar parte de suas emissões. O que chamou a atenção dos especialistas foi o compromisso de reduzir 33%, até 2010, as emissões diretas não só de sua operação mas de toda a sua cadeia produtiva — da extração da matéria-prima ao descarte do produto. Uma das principais iniciativas da empresa nesse sentido foi colocar em funcionamento um projeto piloto de logística reversa nas cidades de Recife e São Paulo, em março de 2007. Na prática, a Natura está convencendo suas consultoras a ajudá-la numa tarefa complicada: coletar as milhares de embalagens da marca descartadas diariamente e encaminhá-las para cooperativas de reciclagem. Em 2007, o programa coletou cerca de 90 toneladas de resíduos

NATURA/PEDRO MARTINELLI

— deixaram o dia-a-dia da gestão para fazer parte do conselho de administração. A adoção de refis, ainda na década de 80, legitima a declaração de Carlucci. Hoje, cerca de 30% da linha de mais de 800 produtos da Natura tem refil. Essas embalagens consomem, em média, 30% menos matéria-prima que as regulares e responderam por 21,3% do total de itens vendidos pela empresa no ano passado. Em 2006, esse índice foi de 19,8%. O aumento de um ano para o outro não se deve apenas a um despertar de consciência por parte dos consumidores mas também aos esforços da empresa, que fez muitas promoções em 2007 para estimulá-los a optar pela embalagem. “Com promoções e descontos no preço, conseguimos aumentar as vendas do refil”, diz José Vicente Marino, vice-presidente de marketing e vendas da operação brasileira da Natura. O esforço dos executivos para aumentar as vendas desse tipo de produto é estimulado também pelo sistema de remuneração variável da Natura. Desde 2003, quando implantou um sistema de gestão da responsabilidade corporativa em todas as suas áreas, a companhia determinou o cumprimento de metas sociais e ambientais. Uma das metas de 2008, por exemplo, é que o percentual de refis vendidos seja equivalente a 18,5% do volume total da empresa (até o final de setembro, esse objetivo vinha sendo cumprido com folga). As metas “verdes” abrangem outras iniciativas relacionadas diretamente ao negócio. Uma delas, iniciada em 2005, foi batizada internamente de “vegetalização dos produtos”. Na época, a Natura substituiu a base dos sabonetes, de gordura animal, por uma de origem vegetal. A medida não só conferiu mais cremosidade aos produtos como cortou seu vínculo com o sacrifício de animais. O processo teve continuidade no ano passado, quando o

Colheita de cupuaçu em comunidade fornecedora da Natura em Rondônia: o uso de ativos naturais virou marca da empresa

Preocupação que vem de longe Desde sua fundação, em 1969, a Natura busca reduzir o impacto negativo de suas atividades. Algumas de suas iniciativas ao longo de sua trajetória em busca da sustentabilidade

1969

1983

1992

1995

• É fundada a Natura,

• Torna-se a pioneira

• Firma sua primeira

• Surge o programa social

então uma loja e um pequeno no laboratório, em Sãoo Paulo. Os produtos os usavam m ativos naturaiss vegetaiss

EXAME

-

EXAME - EEXA - 30 - 05/11/08

-

Composite

-

RGODEGUEZ

-

23/10/08

21:34

-

04_CAD

Empresa Sustentável do Ano | Natura

TUBRO 2008 30 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | OUTUBRO

NATURA EMPR do ANO2.indd 30-31

entre os fabricantes brasileiros de cosméticos a vender refis para alguns de seus produtos. Em média, para produzir essas embalagens, gasta-se 20% menos recursos naturais

parceria com uma ONG — prática que viria a se tornar ornar comum ao longo dos anos —, com m o objetivo de apoiar uma escola pública em m Itapecericaa da Serra, na Grande rande São Paulo, onde mantinha sua fábrica

Crer para Ver, que visa contribuir para a melhoria do ensino público no Brasil. A ação é financiada por parte do dinheiro obtido com a venda de uma linha de produtos


OPINIÃO DO ESPECIALISTA

04_CAD

A Natura prova que a Responsabilidade Social Empresarial não é um ônus para as empresas, mas, ao contrário, uma oportunidade. Incorporá-la à gestão aumenta a competitividade da empresa e gera benefícios para os acionistas, os empregados, os clientes e para toda a sociedade Oded Grajew,

EXAME

-

FOTOS: DIVULGAÇÃO

EXAME - EEXA - 31 - 05/11/08

-

Composite

-

RGODEGUEZ

-

23/10/08

21:22

-

presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos e integrante do Movimento Nossa São Paulo

1997

1998

2000

2001

• Substitui o

• Para fortalecer

nha • É criada a linha

• Torna-se

combustível da frota de veículos para a distribuição de produtos na capital paulista, até então movidos a gasolina e a diesel, por gás natural veicular (GNV), menos nocivo ao meio ambiente

sua governança corporativa, cria um conselho de administração com dois membros independentes

de produtoss Ekos, baseada ada no uso de ativos os da biodiversidade de brasileira, como omo cacau e andiroba diroba

• Guilherme Leal, um dos • Institui uma diretoria fundadores, participa da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

de responsabilidade bilidade social corporativa rativa (que substitui ui a antiga gerência ência de ação social) al)

a primeira empresa da América Latina a adotar as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) para elaborar um relatório de sustentabilidade e é responsável por trazer a iniciativa para o Brasil

OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 31

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— um volume ainda considerado desprezível pela empresa. Aos poucos, o projeto deverá ser expandido para todo o país, alcançando as 632 000 consultoras da Natura. Com isso, no futuro, a idéia é que seja possível descontar, no cálculo das reduções de emissões da empresa, as toneladas de embalagens recicladas. A dificuldade de levar a cabo o programa de logística reversa só é superada por outro desafio: tirar do papel os sonhos que a empresa tem para sua saboaria em Benevides, no Pará, única unidade industrial da Natura fora de São Paulo. Benevides, como é chamada internamente, começou a ser idealizada em 2003 com dois propósitos. O primeiro era marcar a presença da Natura na Amazônia, região de onde ela extrai grande parte dos ativos naturais usados em sua linha de produtos mais conhecida, a Ekos. Além disso, a presença no local daria à empresa a oportunidade única não só de ganhar dinheiro mas também de gerar renda para mais de 2 000 famílias carentes espalhadas em 27 municípios próximos à sua fábrica. Inicialmente, o plano previa que a Natura fizesse o noodle, a massa vegetal que responde por 90% da composição do sabonete da companhia, usando 100% de óleo de palma fornecido pela Agropalma, empresa sediada no Pará. A previsão era que, aos poucos, a matéria-prima da Agropalma fosse substituída pelos óleos de uma dezena de outros frutos, tais como o murumuru e a copaíba, que seriam fornecidos por famílias da região. “Benevides era o grande projeto de base da pirâmide da Natura”, afirma um exexecutivo da empresa. O que explica o uso do verbo no passado é o fato de que as coisas não caminharam exatamente como planejado. A entidade que seria o principal elo da companhia com as comunidades extrativistas, a Cooperativa Nova Amafrutas, faliu em novembro de 2006, seis meses antes de a Natura inaugurar a saboaria. Sem a parceira,

Leal, um dos fundadores da Natura e hoje no conselho de administração: decisão de abrir o capital não deve afetar o compromisso da empresa com a sustentabilidade

a empresa passou a se relacionar diretamente com as comunidades extrativistas para estruturar sua cadeia de fornecimento. Além disso, a sede abandonada da Nova Amafrutas, localizada num terreno ao lado do da Natura, passou a ser alvo de uma série de invasões. Para Guilherme Leal, co-presidente do conselho de administração da Natura e um de seus fundadores, o sonho de Benevides foi atropelado, mas não acabou. “É um projeto muito ambicioso, e não tenho dúvidas de que será bemsucedido no longo prazo”, afirma. A expectativa da companhia é que os primeiros resultados da inicia-

2002

2003

2004

2005

2006

• Assina o Pacto

• Cria o Sistema

• Abre o capital

• Começa a

• Firma um contrato

Global, da ONU, código de conduta relacionado ao combate da corrupção, à defesa dos direitos humanos, das condições de trabalho e do meio ambiente

de Gestão da Responsabilidade Corporativa. Com isso, todas as áreas passam a ter de cumprir não só metas financeiras mas sociais e ambientais

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Empresa Sustentável do Ano | Natura

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NATURA EMPR do ANO2.indd 32-33

no Novo Mercado — o mais rígido segmento da Bovespa em relação à governança corporativa

“vegetalização” de sua linha, processo de troca da gordura animal e do óleo mineral, de origem fóssil, por matériasprimas de origem vegetal na fórmula dos produtos

com a comunidade de São Francisco Iratapuru, no Amapá, fornecedora de matérias-primas da linha Ekos, como a castanha. Assim, passa a destinar à comunidade um percentual da receita da venda dos produtos


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GERMANO LÜDERS

que utilizam os óleos extraídos desses ativos FOTOS: DIVULGAÇÃO

• Elimina por completo o teste de seus produtos em animais

2007

2008

• Os rótulos dos

• Com iniciativas como

produtos passam am a conter uma tabela abela ambiental, que informa o percentual de material reciclado clado e de fontes renováveis usado, entre outros dados

• Começa a substituir

o álcool comum pelo orgânico nas linhas

de perfumaria e a usar o PET reciclado na produção das embalagens da linha Ekos

o uso de refil e a troca de matérias-primas, reduz 7% suas emissões relativas de CO2 em 2007 em comparação a 2006. O esforço é parte de um programa batizado de Carbono Neutro, que visa reduzir 33% as emissões da empresa até 2011 e

compensar os 67% restantes por meio de financiamento de projetos de reflorestamento e de produção de eenergia e g limpa p

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tiva comecem a aparecer em 2009. “A partir do ano que vem, vamos colocar no mercado sabonetes onetes especiais com óleos produzidos pelas famílias ias extrativistas de Benevides”, afirma Paulo Lalli,, vicepresidente de operações e logística da Natura. ra. Ainda que a atuação da Natura esteja permearmeada de ideais (ou, para usar o linguajar de seus us próprios executivos e funcionários, de “crençass e valores nobres”), a empresa não está protegida contra críticas relacionadas à sua estratégia de sustentabintabilidade. Muito menos a seu desempenho financeianceiro. Pelo menos por enquanto, o mercado dee capi-

tais está pouco interessado em saber sobre o andamento da unidade de Benevides ou sobre o percentual de material reciclado usado nas embalagens. “Não acompanho o desempenho socioambiental”, afirma a analista Daniela Bretthauer, do banco Goldman Sachs, que cobre a Natura. Para analistas como Daniela, o que interessa é saber se a Natura, que faturou 4,3 bilhões de reais em 2007, conseguirá cumprir a meta de aumentar em 23% sua margem Ebitda em 2008. O indicador é um dos mais usados pelo mercado para medir a rentabilidade de uma empresa — e o da Natura registrou queda nos últimos dois anos. Interessa também saber se a companhia será capaz de recuperar o vigor de seus papéis — nos últimos 24 meses, as ações da Natura caíram 32,7%. “Quem quer ser sustentável deve estabelecer limites para seu crescimento. E, uma vez no mercado de capitais, ela não vai conseguir fazer isso”, diz Giovanni Barontini, coordenador da filial brasileira do Carbon Disclosure Project, iniciativa internacional criada por investidores institucionais para incentivar as empresas a divulgar informações sobre suas políticas relacionadas às mudanças climáticas. A medida sugerida pelo consultor foi adotada, por exemplo, pela americana Patagonia, fabricante de roupas e acessórios para a prática de esportes radicais, como alpinismo e surfe, com faturamento anual de quase 300 milhões de dólares. O fundador da empresa e hoje presidente do conselho de administração, Yvon Chouinard, é categórico ao afirmar que não pretende abrir o capital da Patagonia. Apesar das críticas, Leal acredita que a abertura de capital foi uma decisão acertada e não atrapalhará os propósitos da Natura de espalhar as idéias que, até hoje, nortearam sua gestão. “Poderia tentar mudar o jogo estando fora do campeonato [fora do mercado de capitais], mas meu poder de influência seria menor.”

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Empresa-modelo | AES Tietê

A volta das matas nativas

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Após várias tentativas, a AES Tietê chegou à primeira metodologia brasileira para obtenção de créditos de carbono pelo reflorestamento de mata nativa. O dinheiro da venda desses créditos pode, no futuro, permitir que a empresa amplie a extensão de seu programa de reposição de florestas Marcos Fujihara, diretor do Instituto Totum

Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo. A escola atua nas etapas de seleção de espécies, produção de mudas e plantio de restauração. Segundo o coordenador de atividades de campo do projeto da Esalq, Eduardo Gusson, os modelos e as técnicas de plantio levaram em conta a biodiversidade de cada região. Parte das mudas virá de um viveiro que a AES Tietê mantém na cidade de Promissão, a cerca de 460 quilômetros da capital paulista. O restante terá origem em viveiros cultivados pela população local — o que beneficiará cerca de 5 000 pequenos produtores que moram em áreas próximas às de atuação da empresa. Após o término do projeto, parte das mudas cultivadas por esses produtores poderá ser vendida para outras companhias— o que estimulará a geração de renda na região. Essa não é a única maneira encontrada pela AES Tietê para monitorar e tentar diminuir o impacto de suas operações. Em 2007, a empresa investiu mais de 8 milhões de reais em projetos ambientais — neste ano, o orçamento aumentou cerca de 10%. Desde 2000, desenvolve programas de manejo pesqueiro com produção e soltura de 2,5 milhões de peixes por ano. Outra frente que ganhou espaço foi a de educação ambiental. No ano passado, a AES Tietê treinou mais de 10 000 habitantes das regiões próximas de suas operações para o consumo consciente de água e energia. Essa quase obsessão pela preservação do meio ambiente também foi levada para dentro da empresa. Há dois anos, a AES Tietê iniciou um programa para incentivar a redução de consumo de energia dentro dos escritórios. “No ano passado, economizamos 20% de energia elétrica. E queremos mais”, diz o vice-presidente de geração de gestão de energia, Jorge Luiz Busato.

GERMANO LÜDERS

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stima-se que a Grande São Paulo produza e lance na atmosfera 3 milhões de toneladas de carbono em um ano. A AES Tietê, geradora de energia elétrica que atua no estado de São Paulo, pretende compensar esse mesmo volume de emissões num período de cinco anos com o reflorestamento de 126 espécies diferentes de mata nativa em reservas no entorno de suas dez hidrelétricas localizadas no interior paulista. A metodologia criada pela AES, aprovada pela ONU em outubro de 2007 dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto, é uma das poucas no mundo que envolvem obtenção de créditos pela reposição de mata nativa — e até então inédita por aqui. O programa vai exigir que a AES Tietê invista cerca de 40 milhões de reais. No total, a empresa pretende reflorestar quase 5 700 quilômetros nas margens dos rios em que opera, com o plantio de 24 milhões de mudas até 2013. A estimativa é que a floresta compensaria a emissão de 6 milhões de toneladas de carbono ao longo de 30 anos. Considerando a cotação atual da tonelada do carbono no mercado europeu, esse volume de créditos poderia corresponder a cerca de 30 milhões de dólares. A medida também é importante para garantir a manutenção de seus reservatórios de água — e a própria atividade da companhia. Sem o reflorestamento, poderá ocorrer o assoreamento dos reservatórios, o que diminui a quantidade de água e, portanto, de energia produzida. “Como geradora de energia, a empresa garante sua longevidade com a preservação do meio ambiente”, diz o presidente do grupo AES do Brasil e diretorpresidente da AES Tietê, Britaldo Soares. Para tornar o projeto viável, Soares assinou em setembro um convênio com a Escola Superior de

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A AES Tietê iniciou neste ano um projeto de reflorestamento de mata nativa — que resultou numa metodologia para a obtenção de créditos de carbono inédita no país | Tatiane Matheus


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Soares, presidente da AES: a preservação do meio ambiente é essencial para a longevidade da própria empresa

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Empresa-modelo | Amanco

Além dos próprios muros

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A preocupação com o meio ambiente está cada vez mais presente também no desenvolvimento de novos produtos. É o caso da Ecocaixa, uma caixa de descarga que reduz em pelo menos um terço o consumo de água, e da linha de adesivos para conexões que contém menor quantidade de produtos prejudiciais à qualidade do ar. Para aumentar o interesse do público pelo uso de produtos ecologicamente corretos, a Amanco investe na conscientização dos encanadores, uma vez que são eles os intermediários entre a fabricante e o consumidor final. “Pesquisas demonstraram que na área da construção civil os prestadores de serviços influenciam as compras de seus clientes em 70% dos casos”, diz Bicudo. Os conceitos de sustentabilidade passaram a integrar o currículo do curso de aperfeiçoamento de encanadores oferecido gratuitamente pela empresa, pelo qual já passaram 10 000 profissionais neste ano. A mesma preocupação está presente no curso de formação de mão-de-obra que a Amanco patrocina, oferecido em 112 escolas do Senai espalhadas por todos os estados. Só neste ano, 7 000 jovens em busca do primeiro emprego receberam o treinamento. De todos os caminhos escolhidos pela Amanco para disseminar a mensagem em prol da sustentabilidade, talvez o mais difícil seja se sentar à mesa com outras grandes companhias para discutir estratégias em comum. A empresa foi uma das fundadoras no Brasil do Green Building Council, que concede certificação a construções ecologicamente corretas, e é uma das mantenedoras da ONG Trata Brasil, que tem o objetivo de acelerar os investimentos em saneamento no país. “A iniciativa privada precisa tomar a frente desse processo, provocando o poder público, a sociedade e o Terceiro Setor”, diz Bicudo.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Demonstrar preocupação com o uso racional da água e tentar influenciar a população a fazer o mesmo é uma das atitudes mais valorosas que uma companhia pode tomar. No caso da Amanco, é também uma questão de inteligência empresarial, pois o crescimento do negócio depende diretamente da disponibilidade de água João Alberto Viol, presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Saneamento

KIKO FERRITE

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urante vários anos, a operação brasileira da Amanco dedicou-se de forma quase obsessiva a implementar o conceito de ecoeficiência em suas fábricas de tubos e conexões. Graças a esse esforço, desde 2002 a empresa conseguiu economizar 3,8 milhões de dólares com programas de redução de consumo de água e energia, de reciclagem de lixo, de combate aos acidentes de trabalho e ao desperdício de matéria-prima. Subsidiária do grupo químico mexicano Mexichem, a companhia decidiu que é hora de ir além. Neste ano, uma das decisões estratégicas da Amanco em relação à sustentabilidade foi levar a aplicação desses conceitos para fora de sua sede, em São Paulo, e das quatro fábricas — duas em Joinville, em Santa Catarina, uma em Sumaré, no interior paulista, e outra em Suape, em Pernambuco. Uma das frentes de trabalho envolve o pessoal da casa, um grupo de 1 600 funcionários. Todos foram convocados a colocar em prática na vida “civil” o que aprenderam sobre ecoeficiência no ambiente de trabalho — e tentar influenciar parentes, vizinhos e amigos na mesma direção. Para que os empregados não abandonem a missão ao longo do ano, a Amanco tem promovido concursos e jogos que envolvem o tema. Palestras feitas pelos funcionários passaram a ser incluídas como uma das alternativas do programa interno de voluntariado. Quem se interessar pode se inscrever, passar por um treinamento e depois visitar escolas e comunidades para conscientizar crianças e adultos sobre a importância do consumo consciente de água — tema em que a empresa concentra a maior parte de seus esforços relacionados à sustentabilidade. “É algo que está no nosso DNA”, diz Marcos Bicudo, presidente da Amanco.

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Depois de consolidar internamente a cultura de combate ao desperdício de recursos, a Amanco usa seus funcionários para disseminar as práticas sustentáveis fora da empresa | Maurício Oliveira


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Bicudo, presidente da Amanco: economia de 3,8 milhões de dólares desde 2002 graças à melhoria da ecoeficiência das fábricas

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Empresa-modelo | Anglo American

Um plano contra a dependência

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A Anglo American poderia criar sua própria fundação, como faz a maioria das empresas, para manter sob seu controle a aplicação dos recursos doados. No entanto, ela optou por debater com a sociedade as formas de usar o dinheiro. É um processo mais demorado e caro, mas muito mais transparente Markus Brose, diretor executivo da Care Brasil, ONG que desenvolve programas de combate à pobreza

verba de 6 milhões de reais doada pela mineradora. Esses recursos devem ser gastos em projetos que incentivem o desenvolvimento sustentável. Além disso, a Anglo American destinou 3 milhões de reais para que a prefeitura invista em infra-estrutura, sobretudo na construção de escola, creche e aterro sanitário. A empresa vai injetar ainda 1 milhão de reais em uma unidade do Sesi, onde funcionará um programa de capacitação profissional. No total serão investidos na comunidade 10 milhões de reais. “Como sabemos que vamos ficar em Barro Alto por apenas 30 anos, o objetivo é reduzir a dependência da população em relação à empresa, apoiando trabalhos sustentáveis que não girem em torno da mineração”, diz De Simoni. Atividades como mineração e metalurgia estão entre as que trazem mais risco para os trabalhadores. Neste ano, a Anglo American Brasil teve quatro acidentes que resultaram no afastamento de funcionários, após mais de dois anos sem ocorrências. Para enfrentar o problema, a empresa criou uma forma de incentivo que age direto no bolso — os funcionários que não alcançarem as metas de segurança deixam de receber parte da participação nos lucros da companhia. Além de buscar reduzir os acidentes a zero, um desafio é aumentar o número de contratações de mulheres e portadores de deficiência. Trata-se de um objetivo dificultado pelas próprias características da mineração — um trabalho pesado e de risco. Atualmente, as mulheres representam apenas 7% do total de 4 200 funcionários da empresa no país. “Hoje já temos algumas engenheiras metalúrgicas e mulheres motoristas de caminhões especiais para minas. Além disso, treinamos neste ano 30 portadores de deficiência para funções administrativas”, afirma De Simoni.

CRISTIANO MARIZ

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extração mineral é, por essência, uma atividade agressiva à natureza. E sua prática implica alto risco para os trabalhadores. Diante desses dois fatos, a Anglo American, um dos maiores grupos de mineração do mundo, tem procurado reduzir os impactos de sua operação com a aplicação de conceitos de desenvolvimento sustentável. “Qualquer atividade causa impactos, em maior ou menor grau. O que procuramos fazer é mitigá-los de forma que o balanço da implantação de um projeto seja positivo”, afirma Walter de Simoni, presidente da subsidiária brasileira da Anglo American, companhia sediada em Londres. A exploração de uma mina tem como agravante o fato de ser uma atividade com data para começar e acabar — fator que depende do tamanho de cada reserva. Por essa razão, a companhia tem se preocupado com os efeitos causados às comunidades no entorno de suas unidades. O maior exemplo disso no Brasil envolve o projeto de produção de níquel no município de Barro Alto, no interior de Goiás. Com investimento total de 1,5 bilhão de dólares, a nova unidade começou a ser construída em janeiro de 2007 e deve iniciar suas operações no final de 2009. A mina deverá empregar 780 pessoas e produzir 36 000 toneladas anuais de níquel durante cerca de 30 anos. “Temos consciência do efeito que um projeto desse porte provoca em uma cidade como Barro Alto, que possui apenas 5 000 habitantes. No pico da obra, teremos lá um número de operários igual ao da população da cidade”, diz De Simoni. Depois de realizar estudos para avaliar o impacto socioeconômico da mina sobre a cidade, a Anglo American decidiu criar uma fundação em parceria com a prefeitura local para gerenciar uma

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Antes mesmo de abrir sua nova mina de níquel, no interior de Goiás, a Anglo American prepara a comunidade local para não viver exclusivamente em torno de um negócio que tem prazo para acabar | Téo Takar


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De Simoni, presidente da Anglo American: 6 milhões de reais para fazer uma fundação em parceria com a prefeitura de Barro Alto, em Goiás

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ma tendência que ganha força na era da sustentabilidade é a criação de espaços formais de consulta e diálogo entre uma empresa e seus stakeholders — fornecedores, clientes, consumidores, associações de classe e organizações nãogovernamentais interessadas ou afetadas pelos negócios. A subsidiária brasileira da Basf, maior companhia química do mundo, iniciou neste ano um processo formal para permitir que públicos estratégicos se engajem em sua política de sustentabilidade. De agora em diante, cada uma das dez áreas de negócios da empresa deverá levar em conta em seu planejamento as opiniões desses grupos. As consultas começaram em março, inicialmente com o objetivo de conhecer as expectativas sobre a atuação da empresa na área de inovação em produtos e tecnologias socioambientalmente responsáveis. A escolha desse tema não se deu por acaso. “O espírito inovador é o conceito-chave para implementar a política de sustentabilidade”, diz Rolf-Dieter Acker, presidente da Basf para a América do Sul. Na primeira etapa das consultas, encerrada em outubro, as preocupações mais citadas pelas 27 entidades ouvidas pela Basf foram a gestão de resíduos e a economia de energia. “Pudemos confirmar que as soluções que desenvolvemos estão em acordo com as necessidades e as expectativas da sociedade”, afirma Ana Lúcia Suzuki, gerente de responsabilidade social corporativa da Basf. Na área de gestão de resíduos, por exemplo, a empresa aproveita a resina das garrafas PET na produção de tintas, recolhe embalagens vazias de agrotóxicos e participa de estudos para a coleta e a reciclagem de latas de tinta usadas. Na de gestão de energia, também obteve resultados graças a

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O desempenho ambiental da Basf vai além do exigido pela legislação e pode — e deve — servir de exemplo. Porém, falta dar mais atenção aos mecanismos previstos no Protocolo de Kyoto. Se a empresa conduzisse melhor essa questão, poderia obter ganhos em sua reputação corporativa Marco Fujihara, diretor do Instituto Totum

Linha direta com a comunidade A Basf inicia um processo de consultas formais aos públicos estratégicos para seus negócios. O objetivo é trocar informações e aprimorar sua política de sustentabilidade | José Alberto Gonçalves

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investimentos de 9 milhões de reais em automação de caldeiras e melhorias de processos entre 2002 e 2007. No período, o consumo elétrico por tonelada produzida diminuiu em 25% e o de gás natural em 20%. A Basf também cortou um terço de seus gastos com eletricidade ao migrar para o mercado livre em 2005 e estuda gerar vapor e eletricidade a partir de 2010 com bagaço de cana e restos de madeira. Um dos exemplos práticos do resultado desse diálogo com os stakeholders foram as mudanças na área de tintas decorativas. Uma das entidades ouvidas pela Basf foi a Sustentax, consultoria que trabalha com empreendimentos sustentáveis. A empresa recomendou à Basf que diminuísse a poluição causada por adesivos e impermeabilizantes e desenvolvesse tecnologias dentro dos padrões do selo Leed, criado nos Estados Unidos para a certificação de prédios verdes. Graças a essa orientação, em agosto, 14 tintas da marca Suvinil, da Basf, receberam o selo de qualidade da Sustentax (que incorpora normas do Leed). Para conquistar a certificação, a companhia teve de provar que as tintas possuem níveis reduzidos de compostos orgânicos voláteis — substâncias irritantes e perigosas para a saúde humana. Apesar do bom desempenho ambiental e da tentativa de criar canais formais para se relacionar com a comunidade, uma fragilidade da companhia é a ausência de um relatório anual de sustentabilidade sobre a operação brasileira, com descrição de metas, evolução das ações e de indicadores e políticas específicas (a Basf dispõe apenas de um relatório mundial, publicado em alemão e em inglês). Segundo os especialistas, para uma empresa que pretende se aproximar das partes interessadas, esse é um ponto que deveria receber mais atenção.

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MONTAGEM SOBRE FOTOS FELIPE RUSSO/AMANAJÉ FOTOGRAFIA E CORBIS

Empresa-modelo | Basf


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Acker, presidente da Basf: inovação é o conceito-chave para tornar uma empresa sustentável

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o final do ano passado, o Bradesco, maior banco privado do país, lançou uma iniciativa que batizou de Banco do Planeta. O objetivo era unificar suas ações socioambientais e criar novos produtos e serviços relacionados ao conceito de sustentabilidade — tudo isso respaldado por uma campanha publicitária com alcance nacional. Não que a empresa não tivesse projetos significativos na área socioambiental. Uma de suas contribuições mais antigas e conhecidas é o programa desenvolvido por meio da Fundação Bradesco na área da educação, que em dez anos beneficiou mais de 2 milhões de pessoas. Agora, a instituição quer ir além. “Estamos diversificando nossas ações, que vão do financiamento sustentável à criação da Fundação Amazonas Sustentável, cujo objetivo é preservar 17 milhões de hectares de florestas”, diz Márcio Cypriano, presidente do Bradesco. Um dos pontos que merecem a atenção do banco hoje é o sistema de concessão de crédito. Desde 2004 o Bradesco adota os Princípios do Equador, conjunto de critérios que condicionam a concessão de crédito a projetos corporativos à avaliação dos riscos socioambientais do empreendimento. No ano passado, o Bradesco financiou 11 projetos seguindo essas regras, no total de 7 bilhões de reais. Além disso, o banco concedeu 2,3 bilhões de reais em outras modalidades de créditos sustentáveis — desde o financiamento do capital de giro de empresas comprometidas com o meio ambiente até linhas para a compra de máquinas e equipamentos que emitam menos gases causadores do efeito estufa. Esse volume é praticamente o dobro dos recursos liberados quatro anos atrás. Para o especialista em finanças sustentáveis Gustavo Pimentel, a carteira de cré-

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O Bradesco vem melhorando seu posicionamento em relação a práticas socioambientais, sobretudo após o compromisso assumido com a campanha Banco do Planeta. No entanto, deveria ter mais empenho e estrutura para aumentar a concessão de crédito para projetos sustentáveis Gustavo Pimentel, especialista em finanças sustentáveis

Da educação para o crédito O Bradesco amplia o volume de financiamento de projetos responsáveis e diversifica suas ações para garantir a preservação do meio ambiente | Roseli Loturco

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ditos sustentáveis do Bradesco é expressiva, mas ainda é quase nada em relação ao montante total de empréstimos concedidos pelo banco, que atingiu 161,4 bilhões de reais no ano passado. “Só agora o Bradesco está levando mais a sério essa questão”, diz Pimentel. Outro pilar da estratégia verde do banco é a Fundação Amazonas Sustentável, criada no ano passado pelo Bradesco em parceria com o governo do Amazonas. Em cinco anos, o banco deverá repassar à fundação 70 milhões de reais, provenientes da comercialização de novos produtos de crédito sustentável que serão atrelados a esse programa, como cartões de crédito e títulos de capitalização. O principal desafio da fundação é preservar 31 unidades de conservação ambiental do Amazonas, onde vivem 8 500 famílias. Há dois anos, o Bradesco foi a primeira instituição financeira no país a lançar um programa para neutralizar sua produção de carbono. O banco já conseguiu neutralizar todas as emissões diretas e indiretas de dióxido de carbono em sua sede, na Cidade de Deus, em Osasco, na Grande São Paulo, onde trabalham 10 000 de seus 84 000 funcionários. Além disso, o Bradesco custeou o plantio de 38 000 árvores nativas na mata Atlântica. O próximo passo é neutralizar as emissões de toda a organização. O desafio é enorme, pois o Bradesco terá de multiplicar por 20 as ações que implantou em sua sede. Apesar das dificuldades, o banco decidiu que investirá numa campanha para que seus 1 500 fornecedores também se comprometam com práticas socioambientais sustentáveis. “Esse já vem sendo o critério de desempate na hora da decisão da compra. Acabamos de aplicá-lo na aquisição de 50 000 computadores”, afirma Cypriano.

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Empresa-modelo | Bradesco


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Cypriano, presidente do Bradesco: programas que vão do plantio de árvores para neutralizar a emissão de carbono a linhas de crédito sustentáveis

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Empresa-modelo | Coelba

Por um consumo mais consciente

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O melhor exemplo de atuação sustentável da Coelba é o programa pelo qual a companhia busca ensinar a população carente a usar a energia elétrica de forma mais racional. Não é uma parceria assistencialista, pois ganha a comunidade, com uma conta mais barata, e ganha a empresa, com a redução da inadimplência Clarissa Lins, diretora executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS)

a 103 projetos de responsabilidade social. Desse total, 82,5 milhões de reais foram investidos no programa Luz para Todos, cujo objetivo é levar energia elétrica a comunidades do meio rural e que no ano passado beneficiou 81 000 famílias. Segundo a Coelba, 98% das obras do Luz para Todos foram feitas com baixo impacto ambiental, por meio da escolha dos traçados adequados às redes, beirando estradas e desviando-se da vegetação nativa. Um dos projetos mais recentes da companhia é o Vale Luz, lançado em dezembro de 2007 e que oferece ao cliente de baixa renda a possibilidade de ter descontos na conta de energia em troca da entrega de lixo doméstico reciclável. Até agora a Coelba conseguiu recolher 10 toneladas de material, convertidas em 3 000 reais de créditos para 200 famílias de Salvador e arredores. As primeiras ações sociais da Coelba datam de 1997, quando tudo era feito ainda desordenadamente. Sete anos depois, o que vinha sendo realizado pelos departamentos foi organizado de acordo com o código de ética da companhia. Era a semente do Energia para Crescer, programa de responsabilidade social que até hoje orienta a administração da Coelba. O passo mais firme na direção da sustentabilidade foi dado no ano passado, quando o grupo Neoenergia aderiu ao Pacto Global das Nações Unidas, uma rede mundial da qual fazem parte cerca de 3 800 empresas — 200 delas brasileiras. Isso significa que a companhia concorda, voluntariamente, em respeitar dez princípios de direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção. Também em 2007, pela primeira vez em sua história, a Coelba publicou um relatório de sustentabilidade seguindo o padrão GRI. “Mas ainda temos muito a evoluir”, diz Corrêa.

MARCELO CORRÊA

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primeira vista, parece contrasenso uma empresa incentivar seus clientes a gastar menos. Mas quando o que está em jogo é um sistema de produção que causa impacto à natureza, como a energia elétrica, o consumo desenfreado se transforma em inimigo a ser combatido — simplesmente porque pode ameaçar a continuidade do negócio no longo prazo. É essa a lógica por trás das ações da Coelba, distribuidora de energia que atua na Bahia e que faturou 4,4 bilhões de reais em 2007. Parte do grupo Neoenergia, que tem entre seus acionistas a espanhola Iberdrola, a Previ e o Banco do Brasil, a Coelba definiu quatro pilares para sua política de sustentabilidade: adequação do consumo, educação, cultura e meio ambiente. Um dos exemplos mais visíveis da política de consumo responsável incentivada pela Coelba foi a troca de 15 000 geladeiras velhas da população de baixa renda da região metropolitana de Salvador por modelos novos, com o selo Procel de eficiência energética, e a readequação das instalações elétricas das casas — iniciativas que exigiram investimento de 5,6 milhões de reais da companhia e que obedecem ao programa de eficiência energética da Aneel, agência que regulamenta o setor. Como a geladeira representava 70% do consumo de energia nessas comunidades, o gasto por residência chegou a cair 40% com os novos aparelhos. “Além de ganhar uma geladeira nova, as famílias ajudam a preservar o ambiente”, afirma Marcelo Corrêa, presidente do grupo Neoenergia. Desde 2004, a Coelba tem um comitê de responsabilidade social que se reúne periodicamente. Cabe a esse comitê definir como e onde a empresa fará seus investimentos em sustentabilidade. Em 2007, a companhia destinou 386 milhões de reais

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Ao mesmo tempo que investe na universalização da energia elétrica na Bahia, a distribuidora Coelba adota medidas que levam consumidores a diminuir em até 40% a conta de luz | Leandro Steiw


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Corrêa, presidente da Neoenergia, controladora da Coelba: investimento de 5,6 milhões de reais para trocar geladeiras da população carente

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Empresa-modelo | CPFL

Um negócio em que todos ganham

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A CPFL está no grupo de empresas que, de fato, estão tomando iniciativas inovadoras com foco na sustentabilidade no Brasil. Um exemplo é o incentivo a novas maneiras de gerar energia limpa e renovável, com a compra das sobras de energia das usinas de cana-de-açúcar Paulo Augusto Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos

dencial de uma cidade de cerca de 3 milhões de habitantes. O objetivo é que a produção de energia de biomassa represente, até 2010, 20% da capacidade de geração da CPFL. Além de ser bom negócio, a produção de biomassa gera créditos de carbono, certificados emitidos quando uma companhia promove a redução de emissão dos gases que causam o efeito estufa. No ano passado, a CPFL se tornou a primeira companhia de energia do Brasil a se enquadrar no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e obter créditos de carbono negociados pelo Protocolo de Kyoto. Para tanto, a empresa investiu 111 milhões de reais para substituir e modernizar o maquinário de 14 de suas 32 pequenas centrais hidrelétricas. Depois desse esforço, deixou de emitir 120 000 toneladas de gases de efeito estufa. “Passamos a produzir 40% mais energia sem nenhum dano ao meio ambiente”, afirma Ferreira Júnior. A venda de créditos rendeu à CPFL cerca de 12 milhões de reais até agora. Na busca da disseminação do conceito de sustentabilidade, a CPFL está mudando detalhes de sua rotina. Neste ano, por exemplo, passou a imprimir em papel reciclado os 5 milhões de contas de energia enviadas a consumidores todos os meses. Pelos cálculos da empresa, a medida poupa 6 240 árvores. O programa Rede Valor, que existe há seis anos, promove encontros periódicos com a rede de 3 000 fornecedores. O objetivo é envolvê-los em programas de responsabilidade social. Para continuar trabalhando para a CPFL, os terceiros assumem compromissos como não promover o trabalho infantil e manter os impostos em dia. “Com essa estratégia, conseguimos gerar mais resultados para a companhia”, diz Ferreira Júnior.

LIA LUBAMBO

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CPFL, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, sempre apoiou suas operações em hidrelétricas — num total que chega hoje a quatro grandes usinas e 32 pequenas centrais espalhadas pelo país. Neste ano, entrou para a lista de prioridades da companhia um novo negócio. Com investimento de 100 milhões de reais, a CPFL fechou em agosto a primeira parceria para instalação e modernização de equipamentos como caldeiras e turbinas para geração de energia com bagaço de cana — material que até pouco tempo atrás era simplesmente descartado no ambiente ou queimado dentro das usinas. O contrato, o primeiro da nova divisão CPFL Bioenergia, foi fechado com a usina de cana Baldin, de Pirassununga, no interior de São Paulo. O início da operação está previsto para abril de 2010, quando a CPFL passa a garantir a compra do excedente de eletricidade gerada pela usina — 25 megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade com 155 000 habitantes. “Nosso objetivo é fechar mais 20 negócios como esse no prazo de dois anos”, diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL, que não revela os investimentos na área. A meta de fechar em média quase um novo contrato por mês indica o quanto a empresa acredita que o negócio seja promissor. Produzir energia com biomassa é mais rápido e mais barato que construir uma usina tradicional. Uma hidrelétrica leva cerca de cinco anos para ser construída e gera em média 800 megawatts — como a Campos Novos, que abastece parte do estado de Santa Catarina. Já a Bioenergia, divisão criada pela CPFL para fechar contratos de geração de energia com biomassa, deverá chegar em apenas dois anos a 500 megawatts, o equivalente ao consumo resi-

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Com produção de energia a partir de bagaço da cana, a CPFL deverá acelerar seus negócios — e reduzir o impacto que os usineiros causariam ao meio ambiente | Roberta Queiroz


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Ferreira Júnior, presidente da CPFL: a biomassa deve representar 20% da capacidade de geração da empresa até 2010

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Empresa-modelo | Elektro

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Muitas empresas investem em ações sociais ou ambientais que têm pouco a ver com seu próprio negócio. Não é o caso da Elektro. Todas as ações da empresa estão relacionadas de alguma maneira com sua atividade principal — a distribuição de energia Newton Figueiredo, fundador da consultoria SustentaX

Decisão compartilhada Sem perder o foco nas ações estratégicas, a distribuidora de energia Elektro envolve todas as áreas da companhia na escolha de seus programas de responsabilidade social e ambiental | Celia Demarchi

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estudantes também participam da rotina da Elektro, a fim de se familiarizar com o ambiente corporativo e ganhar empregabilidade. Até agora, 29 deles foram contratados por empresas da região após a conclusão das aulas. Apesar do empenho no instituto, os maiores investimentos da Elektro em sustentabilidade estão relacionados ao consumo consciente de energia. Um exemplo é o projeto Energia Comunitária, lançado em 2006 na favela da Maré Mansa, no Guarujá, cidade do litoral paulista. Seu objetivo é reduzir ligações elétricas clandestinas (conhecidas como “gatos”), que implicam perda de receita para a companhia e trazem riscos de segurança para as comunidades. Em parceria com prefeituras, ONGs e empresas, a Elektro regulariza instalações elétricas, promove cursos de eletricista, reforma áreas comunitárias e distribui lâmpadas e refrigeradores de consumo eficiente para substituir modelos antigos. Na Maré Mansa, onde a empresa investiu 650 000 reais e atendeu 600 famílias, o número de ligações clandestinas caiu e as perdas da companhia foram reduzidas em 65%. Projetos de eficiência energética como o da favela Maré Mansa — obrigatórios pela legislação do setor — vão exigir da Elektro em 2008 quase 12,6 milhões de reais (o equivalente a 0,5% de seu faturamento líquido em 2007). “O escopo de nossa atuação, porém, não está restrito à determinação legal e investimos também na melhoria da geração de renda da população de baixa renda”, diz Ferreira. Neste ano, o programa foi ampliado de modo a atender novas regiões do país. Com isso, serão incluídas 700 famílias de cinco municípios mato-grossenses nos quais a empresa opera e outras 5 405 famílias em nove cidades paulistas.

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GERMANO LÜDERS

odas as semanas o paulista Carlos Ferreira, presidente da distribuidora de energia Elektro, controlada pelo grupo americano AEI, se reúne com seus seis diretores para discutir resultados — e rever o plano de ação da companhia. É também durante esses encontros que, de tempos em tempos, as medidas para tornar sua operação mais sustentável são discutidas. Uma das decisões mais importantes do grupo nesse sentido foi tomada há dois anos: ampliar a área de atuação do Instituto Elektro, que havia sido criado em 2004 apenas para promover programas educacionais. Assim, desde 2006, o instituto abriga também os temas de preservação ambiental e estímulo ao voluntariado, até então dispersos em outras áreas da empresa. No mesmo ano, a Elektro adotou outra medida para organizar suas atividades e dar mais transparência ao processo — tornou-se uma das mais de 50 empresas brasileiras a publicar um relatório de sustentabilidade segundo os padrões internacionais do Global Reporting Initiative (GRI). “Estávamos atirando para todos os lados e percebemos que faltava estratégia. Decidimos centralizar as ações e fazer com que elas estivessem interligadas”, afirma Ferreira. No ano passado, os investimentos do instituto somaram cerca de 3,5 milhões de reais. Um dos projetos do instituto é a Escola Formare, fundada pela Elektro próximo à sede da empresa, em Campinas, no interior de São Paulo, e que atua na capacitação profissional de jovens moradores de baixa renda da região. Os 212 professores que lecionam ali são funcionários da Elektro que se ofereceram como voluntários para a função. A escola já formou 74 alunos em cursos como inglês, matemática financeira e contabilidade. Durante o tempo de duração dos cursos, os


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Ferreira, da Elektro: funcionários voluntários ajudam a formar jovens de baixa renda que moram nas proximidades da sede da empresa, no interior de São Paulo

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ajadas de vento soam como música aos ouvidos dos executivos da Energias do Brasil, holding de empresas de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica controlada pela Energias de Portugal (EDP), uma das maiores operadoras européias do setor. Em junho deste ano, o grupo iniciou sua investida no mercado eólico brasileiro ao adquirir, por 51 milhões de reais, duas usinas no município de Água Doce, no norte de Santa Catarina. As imensas hélices dos parques geradores Horizonte e Água Doce, que transformam vento em eletricidade e têm capacidade atual para produzir 14 megawatts, simbolizam, de uma só vez, três prioridades da empresa: aumentar sua participação no mercado de geração, investir em fontes limpas e realizar projetos de baixo impacto. “Uma empresa de energia só é sustentável se fizer esforços diários para controlar os impactos de suas operações”, afirma António Pita de Abreu, engenheiro português que assumiu, no início deste ano, a presidência da Energias do Brasil. “Uma usina eólica tem pouquíssimos efeitos negativos no meio ambiente e na vida das pessoas, e o potencial para esse tipo de energia é enorme no Brasil.” Embora apresente grande potencial — estimado em 143 000 megawatts, o equivalente a dez Itaipus —, o mercado eólico nacional não passa, hoje, de uma leve brisa. Há apenas 17 usinas desse tipo em operação no país, que respondem por 0,3% da energia elétrica gerada no Brasil. Para ajudar a mudar esse quadro, a Energias do Brasil conta com a tecnologia de sua controladora, atualmente a quarta maior produtora de energia eólica do mundo. A meta da Energias do Brasil é ter, até 2012, capacidade de geração superior a 1 000 megawatts em energias renováveis, distri-

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O impacto potencial de uma empresa geradora de energia, do ponto de vista socioambiental, é muito grande caso a empresa não saiba fazer a gestão adequada. A Energias do Brasil é, sem dúvida, diferenciada nesse aspecto. Seu desafio agora é usar os mesmos critérios responsáveis na seleção de seus fornecedores Ernesto Cavasin, gerente da consultoria PricewaterhouseCoopers

Em busca do menor impacto Para a Energias do Brasil, investir em fontes renováveis é o melhor caminho para atender à demanda da sociedade sem abrir mão da sustentabilidade | Gustavo Magaldi

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buídos por pequenas centrais hidrelétricas, usinas de biomassa e parques eólicos. “Queremos atuar de forma estruturada e competitiva no campo das energias renováveis”, diz Abreu. Os investimentos em fontes limpas devem trazer ainda uma receita extra para o grupo. Até 2012, a companhia prevê levantar algo em torno de 30 milhões de reais com a venda de créditos de carbono — como os projetos de energia limpa da empresa vão reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, a companhia receberá créditos que poderá vender a terceiros. A Energias do Brasil promete destinar parte desses recursos a programas socioambientais nas comunidades do entorno das usinas. Os esforços em busca de uma operação de baixo impacto estão ancorados em políticas internas, grande parte delas desenvolvida recentemente. Em 2007, a empresa formalizou uma política de sustentabilidade, aderiu ao Pacto Global (iniciativa da ONU, de caráter voluntário, que estabelece compromissos de responsabilidade corporativa) e lançou o Instituto Energias do Brasil, que desenvolve e coordena as ações ambientais e socioculturais do grupo. A estrutura da área de sustentabilidade conta com uma vicepresidência específica, uma superintendência corporativa e o comitê de sustentabilidade, presidido por um membro externo à organização — o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. O próximo desafio é disseminar a visão de sustentabilidade por todos os níveis hierárquicos das empresas do grupo. “Temos muito a fazer ainda para aprofundar a incorporação da sustentabilidade, incluindo a gestão da ética, a educação dos funcionários e o relacionamento transparente com nossos acionistas”, afirma Abreu.

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Empresa-modelo | Energias do Brasil


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Pita de Abreu, presidente da Energias do Brasil: projetos de usinas de biomassa, PCHs e energia eรณlica

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Empresa-modelo | Itaú

Apoio ao microcrédito

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O Itaú tem aprimorado as práticas de sustentabilidade de seu negócio. Um destaque foi o lançamento de sua política socioambiental de crédito para empresas. Com ela, o banco pode avaliar melhor o impacto de seus clientes e, em conseqüência, gerenciar sua própria exposição aos riscos dessa natureza Cássio Trunkl, sócio-diretor da consultoria Finanças Sustentáveis

em condições especiais não era suficiente. Por isso, em setembro, lançou um guia para criação de instituições de microcrédito, com informações sobre a estrutura mínima para funcionamento, plano de negócios e modelos possíveis de entidades. Para 2009, o Itaú já aprovou a participação de mais cinco entidades no programa. “O terreno mais fértil para essa modalidade de crédito é a periferia de grandes centros urbanos, onde a exclusão econômica é patente”, diz Antonio Matias, vice-presidente do Itaú. Até hoje, 40 000 microempreendedores foram beneficiados por esse tipo de empréstimo do Itaú. O reforço à área de microcrédito está amarrado a outras iniciativas. Lançados em 2007 com a proposta de destinar 30% da taxa de administração a projetos de redução de emissões de carbono de organizações não-governamentais, os fundos Itaú RF e DI Ecomudança atingem hoje um patrimônio de 120 milhões de reais. Com isso, serão repassados pouco mais de 180 000 reais a cinco iniciativas selecionadas em parceria com o Instituto Ekos Brasil. O fundo Excelência Social, lançado em 2004 e que transfere a projetos sociais metade da taxa de administração, está em fase de aperfeiçoamento. Até o ano passado, cada um dos 25 projetos eleitos recebia uma verba de até 250 000 reais. A partir de agora, além do dinheiro, eles receberão treinamento em gestão para que possam, por exemplo, aferir os resultados dos investimentos. “O repasse de recursos é importante, mas deve ser acompanhado de capacitação, gestão e acompanhamento”, diz Setubal. “Como somos um banco, consideramos não só natural como mandatório compartilharmos nosso conhecimento em gestão financeira com nossos parceiros e com a sociedade.”

FABIANO ACCORSI

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uando o indiano Muhamed Yunus iniciou a primeira operação de microcrédito do mundo, na década de 70, muitos críticos acreditavam que aquele era um negócio sem futuro. Três décadas depois, Yunus provou que os céticos estavam errados. Seu banco, o Grameen, tem uma carteira de quase 7,5 milhões de clientes e soma mais de 7 bilhões de dólares em empréstimos distribuídos ao longo de 30 anos. Em grande medida, é no exemplo de Yunus que instituições financeiras de todo o mundo hoje se inspiram para estimular suas próprias operações de microcrédito. O brasileiro Itaú é uma delas. O banco começou a desenvolver programas de microcrédito em 2005 e desde o ano passado mantém uma área dedicada exclusivamente à concessão de recursos para a população de baixa renda, estimulando o empreendedorismo entre pessoas que normalmente enfrentam dificuldade para obter empréstimos. “Acreditamos que o microcrédito é um poderoso instrumento de inclusão e de transformação social alinhado a nosso negócio. Por isso, nos empenhamos em criar as condições para que a modalidade ganhe escala no país”, diz Roberto Setubal, presidente do Itaú. Para oferecer microcrédito à população carente, o banco aposta em parcerias com cinco organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), que têm autorização para atuar como instituições de microcrédito, selecionando e gerenciando a contratação dos financiamentos para quem precisa de recursos mas não passa pelo filtro das avaliações tradicionais. O total de empréstimos liberados por meio das Oscips atingiu 12 milhões de reais em 2007. Como as entidades preparadas para atuar nesse setor ainda são escassas no Brasil, o banco verificou que entregar linhas de crédito

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O Itaú aposta em parcerias com entidades da sociedade civil para ampliar a oferta de empréstimos à população de baixa renda e incentivar o empreendedorismo | Juliana Garçon


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Roberto Setubal, presidente do Itaú: o repasse de recursos para projetos socioambientais deve ser acompanhado da capacitação dos gestores

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Empresa-modelo | Masisa

Pelo fim do desperdício

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A indústria florestal se estruturou no uso de grandes áreas de florestas. Nesse modelo, as fabricantes ficam com toda a renda gerada pelo setor. Uma parceria com pequenos proprietários rurais vai permitir uma distribuição mais justa dessa renda. É o que a Masisa começa a fazer Roberto Gava, coordenador do Conselho Temático de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Federação das Indústrias do Paraná

madeira, assim como a disposição final de resíduos. A fábrica de painéis em Ponta Grossa, no Paraná, destaca-se por ser uma unidade “seca” — toda a água usada na fábrica volta para o sistema de distribuição. As iniciativas para a redução de emissões de poluentes levaram a empresa a ingressar, em 2007, no Chicago Climate Exchange (CCX), primeira bolsa multissetorial de intercâmbio de créditos de carbono do mundo. Ao entrar no CCX, a Masisa assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 6% até 2010, em comparação com a média dos anos de 1998 a 2001. Essa redução significará 400 000 toneladas a menos de dióxido de carbono na atmosfera — o equivalente a tirar de circulação cerca de 140 000 carros durante um ano, segundo a empresa. Embora os programas ambientais tenham forte ênfase na Masisa, a companhia não se descuida de outras dimensões da sustentabilidade. No aspecto social, uma das metas é incentivar a atividade florestal nas regiões onde estão suas fábricas, contribuindo para a geração de renda para as comunidades locais. A idéia é fazer parcerias com pequenos proprietários rurais para que plantem pínus e eucalipto e forneçam madeira à Masisa — um processo que está em fase de implantação. Outra iniciativa que está sendo colocada em prática é o desenvolvimento de uma linha de móveis populares, voltada para consumidores de baixa renda. Essas peças são montadas por desempregados que passam por um programa de capacitação profissional oferecido pela empresa, o Marcenaria-Escola, criado no ano passado e que até agora formou 55 pessoas. “É preciso ter criatividade para desenvolver ações inovadoras”, diz Fausto Amadigi, coordenador de responsabilidade social e ambiental da Masisa.

MARCELO ALMEIDA

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ontrolada pelo grupo chileno Nueva, a Masisa é a maior fabricante de painéis de madeira da América Latina, com faturamento de cerca de 400 milhões de reais e 1 300 funcionários. De suas três fábricas instaladas no país, no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, saem todos os anos mais de 520 000 metros cúbicos de peças que são usadas pela indústria moveleira e de construção civil e estão presentes na casa de milhões de brasileiros na forma de mesas, estantes e portas. Produzir essa infinidade de painéis sem destruir florestas indiscriminadamente é um dos maiores desafios da Masisa. Por isso, a companhia utiliza espécies florestais de crescimento rápido, como o pínus e o eucalipto. Além disso, aproveita resíduos decorrentes de outros processos madeireiros, como os descartes do processamento de toras em serrarias, que antes eram considerados um passivo ambiental. Há outros bons exemplos da atuação sustentável da Masisa. Todas as suas fábricas possuem as certificações ISO 14001 (de gestão ambiental) e OHSAS 18001 (de saúde e segurança industrial). Suas florestas contam com a certificação FSC, do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. Além disso, a Masisa é a única fabricante no Brasil que produz 100% dos painéis com a certificação européia E-1. Isso significa que no processo de fabricação há baixa emissão de formaldeído, substância prejudicial aos funcionários que manipulam os produtos. “Seguimos esses padrões não só para cumprir uma exigência dos mercados internacionais mas também porque valorizamos a saúde dos trabalhadores”, diz Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa no Brasil. Cada unidade fabril da Masisa mede mensalmente seu consumo de água, energia e fibra de

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Com iniciativas como o reaproveitamento de resíduos no processo de fabricação, a Masisa mostra que é possível conciliar metas industriais com a preservação ambiental | Gabriela Mainardes


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Hillmann, diretor-geral da Masisa no Brasil: fábricas com certificação de gestão ambiental e cuidados com a segurança dos trabalhadores

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Empresa-modelo | Perdigão

O desafio do crescimento

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te para atender uma cidade de meio milhão de habitantes durante um ano. Em 2008, as ações de economia de energia deverão poupar 600 megawatts-hora, suficientes para abastecer 11 000 casas. Em todas as 36 unidades há auditorias ambientais permanentes. Os cuidados, porém, não protegeram completamente a empresa contra problemas ambientais. Em setembro de 2007, um acidente na maior das unidades, a de Rio Verde, em Goiás, arranhou a imagem da Perdigão. Detritos da fábrica vazaram para o córrego das Abóboras, cuja água é captada para o abastecimento da cidade. A Perdigão assumiu a culpa e firmou um acordo com o Ministério Público para resolver a questão. Nas dez empresas compradas ao longo da gestão de Secches, o trabalho de torná-las sustentáveis é ainda mais complexo do que nas unidades novas, recém-construídas pela própria Perdigão. “Não é fácil colocar empresas antigas no estado da arte”, diz Secches. É o caso da Eleva, empresa gaúcha de forte atuação em lácteos e carnes, adquirida no ano passado por 1,7 bilhão de reais. Ajustá-la aos moldes da Perdigão é a prioridade da companhia. Outro desafio é garantir a saúde do atual sistema produtivo, formado por mais de 8 000 pequenos produtores que fornecem aves e suínos à Perdigão — e considerado fator-chave para a perenidade do negócio. Um dos maiores problemas nesse caso é conseguir manter os produtores — e sobretudo seus herdeiros — no campo. Para evitar uma debandada dos jovens, em 2005 a Perdigão criou o projeto Semear, um curso de gestão de propriedades rurais com três anos de duração. As aulas são dadas por contadores, economistas, veterinários e outros profissionais da própria Perdigão. O projeto envolveu até agora 160 alunos em Santa Catarina, e a primeira turma se formou em 2007.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A grande questão que envolve a Perdigão é a dos produtores integrados, que fornecem suínos e frangos. As pequenas propriedades onde os animais são criados nem sempre adotam as melhores práticas ambientais. O desafio é fomentar as medidas sustentáveis entre esses fornecedores Ricardo Arcari, diretor da Socioambiental Consultores Associados, de Santa Catarina

ALEXANDRE BATTIBUGLI

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anter o crescimento é um desafio para qualquer empresa, mas especialmente crítico para uma companhia com o perfil, o porte e as ambições da Perdigão. Nos últimos anos, sua velocidade de expansão foi espantosa — média de 14% ao ano desde 1995, taxa que a consolidou como uma das maiores indústrias de alimentos do país. Seu faturamento cresceu mais de 15 vezes desde então, atingindo 7,8 bilhões de reais em 2007, e o plano é continuar multiplicando as cifras. A responsabilidade decorrente desse crescimento acelerado é enorme. O sistema produtivo da companhia, baseado na criação de aves e suínos, tem grande potencial poluidor e se desenvolve em algumas regiões pobres do país. Além disso, suas fábricas utilizam grandes volumes de água e energia. As bases que permitiram a expansão foram edificadas por Nildemar Secches, que assumiu a direção da companhia há 14 anos. “Para nos tornarmos uma empresa de grande porte, uma mudança cultural era necessária. Conseguimos isso com tempo e persistência”, diz Secches, que no final deste mês passa a presidência executiva da Perdigão a José Antonio Fay, atual diretor-geral da unidade de negócios (Secches permanecerá à frente do conselho de administração). Os princípios da sustentabilidade na Perdigão começaram a ser difundidos em 1995 pelos comitês de qualidade das fábricas. Depois, as ações passaram a ser sistematizadas em programas, como o de economia de energia, que começou em 1994, e o de reúso de água, iniciado há cinco anos. Em 2006, foi criado o Instituto Perdigão de Sustentabilidade para integrar essas e outras ações. Hoje, 40% da água consumida nas fábricas é reutilizada. O volume anual de água economizado é suficien-

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Uma das maiores indústrias de alimentos do país, a Perdigão busca manter seu ritmo de expansão enquanto se esforça para replicar suas ações sustentáveis em todas as 36 unidades de produção | Vladimir Brandão


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Secches, presidente do conselho de administração da Perdigão: dez empresas compradas em pouco mais de uma década

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Empresa-modelo | Philips

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A Philips foi uma das pioneiras a cobrar, de verdade, uma postura dos fornecedores em relação a ações de sustentabilidade. Porque pedir para que o parceiro assine um protocolo é uma coisa, mas fazer um sistema de cobrança e ter certeza de que ele está adotando as medidas propostas é outra bem diferente Rubiana Enz Vitor, gerente da SGS, empresa de consultoria, inspeção e certificação

A disseminação de boas práticas A Philips realiza auditoria em seus fornecedores, aponta os ajustes necessários e tenta envolver toda a cadeia produtiva no esforço em prol de negócios sustentáveis | Rafael Bresciani

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mês para os itens de tolerância zero (como o uso de trabalho infantil), três meses para os de tolerância limitada (como não dispor de equipamentos de proteção adequados para os trabalhadores) e nove meses para os demais (como a ausência de kits de primeiros-socorros para os funcionários). “O objetivo é estabelecer um alinhamento com os fornecedores, de modo que todos tenham a mesma estratégia em relação à sustentabilidade”, diz Daurio Speranzini, vice-presidente de sustentabilidade da Philips para a América Latina. Até agora, a Philips auditou 98% de seus principais fornecedores, incluindo 67 empresas no Brasil. O envolvimento dos fornecedores em sua estratégia de sustentabilidade é uma iniciativa que está longe de terminar. Para 2009, a companhia criou um projeto piloto de treinamento com 15 cursos de temas variados, um deles ligado a sustentabilidade. O curso será oferecido a funcionários (embora não seja obrigatório, quem não fizer perderá pontos em sua avaliação de desempenho), fornecedores e até mesmo clientes. “Queremos difundir nosso conhecimento em toda a cadeia”, diz Speranzini. Trata-se de um conhecimento que vem sendo acumulado, sobretudo nas últimas duas décadas, quando a Philips começou a estabelecer metas de redução de consumo de água e energia em suas fábricas. Mais recentemente, em 1998, a companhia lançou um programa mundial para desenvolver uma linha de produtos mais “limpos”. Hoje, esses produtos que levam uma espécie de selo verde representam 20% das vendas mundiais da Philips. “Aqui, sustentabilidade não é algo que corre paralelo. É parte integrante da própria forma de fazer negócio”, diz Marcos Magalhães, presidente do conselho consultivo da companhia.

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m janeiro de 2007, a fabricante paulista de embalagens Nilpel passou por uma vistoria inédita em sua história. Durante três dias, auditores fizeram um pente-fino para avaliar não apenas questões financeiras mas também socioambientais. A investigação mostrou que a Nilpel cometia uma infração grave: não estava respeitando o limite legal de horas extras trabalhadas nem o descanso semanal dos funcionários. Para eliminar a sobrecarga de trabalho, a empresa decidiu adotar medidas que vinha postergando havia algum tempo, como a aquisição de novos maquinários e a ampliação de seu quadro de funcionários em 10%, passando a contar com 640 empregados. A investigação foi encomendada pela subsidiária brasileira da Philips, empresa da qual a Nilpel é fornecedora. Depois de feitas as correções, a Nilpel foi aprovada em uma nova auditoria, realizada em fevereiro deste ano. No decorrer do processo, a companhia incluiu questões relativas à sustentabilidade nos contratos com seus próprios fornecedores. “Uma empresa não vai se manter no mercado se não incorporar a seu cotidiano a sustentabilidade”, diz Anderson Dalcin, analista de relações institucionais da Nilpel. A investigação na fabricante de embalagens faz parte de um projeto iniciado pela Philips em 2003, quando a matriz na Holanda traçou a meta global de fazer auditoria de processos de seus principais fornecedores nos 150 países onde atua. Os fiscais visitam as empresas e avaliam 83 itens relacionados a condições de trabalho, saúde e segurança e questões ambientais. Os problemas detectados são classificados em três grupos: tolerância zero, tolerância limitada e menor risco. Os prazos para a correção dos problemas são rigorosos: um


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Speranzini, vice-presidente de sustentabilidade da Philips: 67 fornecedores no Brasil tiveram auditadas suas prรกticas trabalhistas e socioambientais

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presidente da Promon, Luiz Ernesto Gemignani, tem uma definição peculiar para sustentabilidade. Para ele, esse conceito é sinônimo de “olhar o todo”. Na empresa de engenharia que Gemignani comanda, especializada no desenvolvimento de projetos e soluções de grandes obras de infra-estrutura, a sustentabilidade mora nos detalhes e faz parte do dia-a-dia dos cerca de 1 000 funcionários — desde a oferta de vans e ônibus fretados para estimular os empregados a deixar o carro em casa até os cuidados com aspectos socioambientais nos grandes projetos de engenharia. Trata-se de uma preocupação antiga na companhia. Nos anos 70, a Promon elaborou a Carta de Campos do Jordão, um documento que já previa conceitos de sustentabilidade e que dita os rumos do grupo até hoje. Um dos itens da carta define a Promon como uma empresa que tem o objetivo de criar condições para a realização profissional e humana dos funcionários. A maior expressão nesse sentido é o modelo acionário, que permite a todos os funcionários ter participação no capital da companhia e escolher seus principais dirigentes. Nos últimos cinco anos, porém, o conceito de sustentabilidade ganhou ênfase dentro da Promon — e é nos canteiros de obras que boa parte das novas ações foi implementada. É o caso do programa Prato Limpo, criado em 2002. Em palestras para os operários, a empresa os orienta a se alimentar corretamente, não só no trabalho mas também em casa, mostrando os alimentos que fazem bem à saúde e aqueles que devem ser evitados. O programa ensina também a evitar o desperdício, estimulando o funcionário a colocar no prato apenas o que vai comer — daí

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

As empresas que já têm modelos de sustentabilidade consistentes, como é o caso da Promon, ajudam a difundir esse conceito entre seus fornecedores. Essas empresas costumam ser as mais sólidas. Nem uma crise da magnitude como a que estamos vivendo agora é capaz de desmontar tudo o que foi construído Alexandre Heinermann, sócio-diretor da consultoria KPMG

Um conceito que está nos detalhes Do uso de papel reciclado nos escritórios a um programa para orientar a alimentação dos operários nas obras, a Promon mostra que a preocupação com a sustentabilidade faz parte do dia-a-dia da empresa | Denise Ramiro

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o nome da campanha. Até hoje, mais de 600 operários já participaram. Em todos os seus projetos de engenharia, a Promon promove a coleta seletiva de resíduos sólidos e cuida para que o material coletado — cerca de 8 toneladas por mês — tenha a devida destinação, sendo entregue a empresas ou cooperativas recicladoras locais. Em algumas áreas de construção, são instaladas também caixas de captação de água pluvial com capacidade para 10 000 litros cada uma. A água captada é utilizada em descargas sanitárias e para regar jardins, por exemplo. “O conceito de sustentabilidade da empresa visa olhar de forma integrada o lado social e ambiental dentro do econômico”, diz Ivan Cozaciuc, diretor de sistemas de gestão da Promon. Em alguns casos, o próprio cliente prevê no contrato ações de sustentabilidade. Na obra que realiza desde o ano passado para a Petrobras na Refinaria do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, a Promon já entrou no canteiro com várias metas a cumprir: redução de gases tóxicos, reúso da água de chuva e restrição a fornecedores que não trabalham no regime da CLT. São práticas que fazem parte da rotina da Promon, que também monitora de perto a atuação dos cerca de 3 000 fornecedores com os quais trabalha, exigindo que eles também adotem práticas sustentáveis nos negócios. Trata-se de uma trajetória ainda não concluída, como admitem os próprios executivos da empresa. “Na área de engenharia, o máximo da sustentabilidade social seria nenhum trabalhador fazer hora extra. No caso ambiental, a maior conquista seria reutilizar todas as sobras de material de uma construção”, diz Cícero Facciolla, diretor de projetos da Promon.

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Empresa-modelo | Promon


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Gemignani, presidente da Promon: ônibus fretados para que os funcionários deixem o carro em casa

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Empresa-modelo | Real

Um discurso que afeta o caixa

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ajudar a encurtar a jornada de outras empresas rumo à sustentabilidade”, afirma Barbosa. Um exemplo de como essa cultura está arraigada no jeito de fazer negócios do Real é o desenvolvimento de um método de rating ambiental dos clientes, que levará, pelo menos, mais um ano para ser concluído. A idéia é que cada empresa que pedir um empréstimo seja avaliada pelos riscos que oferece em questões ambientais. “Empresas com problemas socioambientais tendem a ter também problemas econômico-financeiros”, diz Christopher Wells, superintendente de risco socioambiental do Real. A intenção do banco é que o rating ambiental se some a outros componentes para analisar se uma empresa merece crédito — e em que condições. Segundo Wells, estão sendo desenvolvidos um rating genérico para as empresas e um específico para os setores de ferro-gusa e papel e celulose. “O Real é uma das poucas empresas que tentam incluir sustentabilidade como estratégia, e não como fato isolado”, diz Amadeu Rodrigues, diretor da Sustentax, que presta consultoria na implantação de empreendimentos sustentáveis. Desde 2002, a avaliação de crédito dos clientes do Real já leva em conta um parecer a respeito das práticas socioambientais. Desde então, 49 clientes tiveram o crédito recusado, incluindo 22 madeireiras que apresentavam problemas com licenças ambientais e oito que eram acusadas de utilizar trabalho escravo. “Certamente, ganhamos muito mais clientes do que os que perdemos”, afirma Wells. “Para uma madeireira que tem certificação ambiental, por exemplo, é vantajoso trabalhar com um banco que faz diferenciação de verdade entre as empresas sustentáveis e as demais, garantindo uma linha de crédito a custos mais baixos para quem faz uma boa gestão ambiental.”

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O Real seguiu à risca a cartilha para implantar uma gestão sustentável. Falta agora ganhar escala, expandindo as políticas socioambientais para outros tipos de crédito e produtos de investimento. Também poderia pressionar as empresas clientes para que elas monitorem e reduzam suas emissões de carbono Gustavo Pimentel, especialista em finanças sustentáveis

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m outubro do ano passado, quando a compra do banco Real pelo Santander foi anunciada, logo surgiram dúvidas sobre a continuidade dos programas de sustentabilidade desenvolvidos pela instituição adquirida pelos espanhóis. Afinal, o Santander, conhecido como um banco comercialmente agressivo, tem uma cultura que alguns analistas consideram incompatível com a do Real, pioneiro em práticas de sustentabilidade entre instituições financeiras no Brasil. Porém, a escolha do executivo paulista Fábio Barbosa, que desde 1998 ocupava a presidência do Real, para comandar a integração entre os dois bancos mudou essa avaliação. A decisão foi entendida como um sinal de que o Santander reconhece na imagem do Real algo a ser preservado — foi a primeira vez na história do Santander que o presidente do banco comprado foi mantido no cargo. “Não estamos perdendo nada com essa integração. Estamos somando”, diz Barbosa, que assumiu oficialmente o comando do grupo Santander no Brasil há três meses. “O tema sustentabilidade já começa a avançar e encontra bastante receptividade por parte do Santander. Estou animado com as possibilidades.” Para Barbosa, quanto mais pessoas compreenderem a importância e a viabilidade das práticas sustentáveis, mais atrativo será o negócio do banco. “Isso exige um trabalho diário, que fazemos por meio do relacionamento com nossos clientes, na oferta de produtos e serviços, e por meio de ações de comunicação, entre outras iniciativas”, diz o executivo. Com o objetivo de difundir essa cultura, a instituição criou, em dezembro de 2007, o Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade, um portal na internet onde clientes e fornecedores podem compartilhar suas práticas. “O objetivo é

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Ao levar em conta a política socioambiental de seus clientes na concessão de empréstimos, o Real mostra que as práticas sustentáveis estão incorporadas, de fato, à sua estratégia de negócios | Luci Gomes


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Barbosa, presidente do grupo Santander, controlador do Real: crédito negado para 22 madeireiras que tinham problemas com licenças ambientais

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Empresa-modelo | Serasa m outubro deste ano, a Serasa, empresa especializada em informações para decisões de crédito, obteve um reconhecimento pelo trabalho que desenvolve para promover a inclusão de portadores de deficiência no mercado de trabalho. Ele veio sob a forma de uma parceria com a Secretaria de Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo para transferir para o governo seu conhecimento nessa área. O objetivo é qualificar portadores de deficiência física, visual ou auditiva por meio de aulas de informática, matemática financeira, contabilidade básica e outras disciplinas. A primeira turma, composta de 107 alunos, deverá estar pronta para ingressar no mercado de trabalho em fevereiro de 2009. A idéia é aproveitar essas pessoas não somente na Serasa mas também em uma das 16 empresas parceiras que apóiam a iniciativa, como Accor, Itaú, Safra e Goodyear. No total, essas companhias vão destinar 1 milhão de reais para bancar o projeto e se comprometem a contratar profissionais qualificados pelo programa. “Essa parceria é mais uma prova de que a sustentabilidade é uma preocupação constante da nossa gestão”, afirma Francisco Valim, presidente da Serasa. Com faturamento anual da ordem de 860 milhões de reais, a Serasa, que desde junho do ano passado é controlada pelo grupo britânico Experian, emprega atualmente 90 portadores de deficiência, de um total de quase 2 500 funcionários. Em 2003, o edifício onde funciona sua sede, em São Paulo, recebeu da Fundação Carlos Alberto Vanzolini o certificado de primeira construção adaptada às pessoas com necessidades especiais. O Ministério do Trabalho considera a

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A Serasa dá chance às pessoas com deficiência de trabalhar e, sobretudo, de trabalhar bem. Em razão da lei de cotas para portadores de deficiência, apareceram muitos movimentos, mas sem essa filosofia de dar oportunidade para as pessoas se capacitarem. A maioria só quer atender à lei João César Lima, sócio e responsável pela área de RH da consultoria PricewaterhouseCoopers

A Serasa promove o ingresso de portadores de deficiência no mercado de trabalho, incentiva o voluntariado dos funcionários e busca ampliar sua atuação responsável | Christiane Bueno Malta

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Oportunidades para todos

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Serasa uma referência em empregabilidade de pessoas com deficiência e costuma indicá-la como exemplo a ser observado. Desde 2004, a Serasa registrou a visita de 328 empresas, ONGs, universitários e professores interessados em aprender como a empresa consegue integrar portadores de deficiência ao dia-a-dia do negócio. “Com o aumento da procura, estabelecemos um dia fixo na semana para receber os interessados em conhecer nossa metodologia”, diz Valim. Além da inclusão de portadores de deficiência, outra frente de atuação da Serasa é o incentivo ao trabalho voluntário dos funcionários — que são estimulados a convidar também seus familiares e amigos. Um exemplo é o projeto Magia do Riso, criado em 2001 por um time de voluntários que se vestem de palhaço para levar a arte do circo a crianças e idosos em creches, asilos e hospitais. A equipe conta atualmente com 40 voluntários, que dedicam em média 18 horas por mês ao projeto — eles negociam com suas chefias o melhor horário para desempenhar as atividades como voluntários durante a jornada normal de trabalho. No total, o programa de voluntariado da Serasa tem a adesão de 2 650 pessoas. No segundo semestre de 2007, a empresa deu um passo para incorporar a sustentabilidade à sua atividade-fim e passou a oferecer a seus clientes uma nova ferramenta, o Relatório de Responsabilidade Ambiental, que inclui a dimensão ambiental na avaliação do risco global dos negócios. A Serasa não informa quantos clientes já utilizam esse serviço. Mas, segundo Valim, o potencial de uso da ferramenta é grande. “Cada vez mais empresas estão definindo seus parceiros e fornecedores conforme a evolução de seus processos de sustentabilidade”, afirma o executivo.


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Valim, presidente da Serasa: voluntรกrios do projeto Magia do Riso levam alegria a creches e hospitais

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Empresa-modelo | Suzano

A luta pelo mercado global

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Além de seguir padrões ambientais rigorosos, a Suzano está levando as mesmas práticas a seus clientes e fornecedores. Mas ainda falta transparência em seu relatório em relação a temas importantes, como o uso de produtos químicos na fabricação de celulose Ricardo Valente, consultor de sustentabilidade da KeyAssociados

com exceção da unidade de Suzano, no interior de São Paulo, que gera metade da energia necessária (e depende de uma usina hidrelétrica construída em consórcio entre a própria Suzano, a Vale, a Votorantim e a Cemig para suprir suas necessidades). A fábrica de Mucuri, no sul da Bahia, garante 100% de fonte renovável de energia por meio da queima de licor negro — um resíduo tóxico do cozimento da madeira — e da biomassa que resta do processo de produção de papel. Outro ganho diz respeito a emissões de gás carbônico. Atualmente, a Suzano tem 3 milhões de toneladas em créditos de carbono em estoque para comercializar no mercado internacional, já que absorve quase quatro vezes mais do que emite. A empresa começou o processo de certificação desses créditos pelas regras do mercado voluntário da bolsa de Chicago. Até 2010, a companhia pretende acumular 5 milhões de toneladas em crédito — o equivalente a cerca de 25 milhões de dólares, segundo a cotação atual nos Estados Unidos. Para garantir o ciclo econômico sustentável, a Suzano já estabeleceu metas até 2015. A proposta é mais que dobrar as vendas — numa expansão que custará 6,6 bilhões de dólares. “Vamos ampliar a produção de celulose em torno de 150%”, diz Maciel. Para alcançar o resultado, a empresa pretende inaugurar três linhas de produção e ampliar as fábricas de Mucuri e de Suzano. Apesar da crise financeira internacional, segundo Maciel os planos estão mantidos — ainda que os reflexos da crise já comecem a afetar a Suzano. O primeiro sinal se deu na metade de outubro, quando a Suzano comunicou a redução temporária na produção de no mínimo 30 000 toneladas de celulose na fábrica de Mucuri. A redução da jornada de trabalho deverá durar pelo menos três meses.

FOTO: KIKO FERRITE/ILUSTRAÇÃO: VICTORIA ANDREOLI

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os últimos quatro anos, a Suzano Papel e Celulose, maior empresa do setor, dobrou sua capacidade de produção para o atual 1,9 milhão de toneladas por ano. As vendas anuais cresceram de 2,6 bilhões para 3,4 bilhões de reais no mesmo período. Segundo Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, o salto se deve a um planejamento que alia as metas de expansão dos negócios com equilíbrio ambiental e social. “Hoje, isso é fundamental para competir no mercado global”, diz ele. Os cada vez mais exigentes consumidores de papel e celulose de mercados como o europeu rejeitam empresas que não possuem florestas certificadas por entidades como o Forest Stewardship Council (FSC), o selo verde hoje mais reconhecido em todo o mundo. A Suzano obteve essa certificação em 2006. Hoje, são cerca de 230 000 hectares de floresta plantada e 100% certificada — o equivalente a 75% das florestas totais da empresa. O próximo passo é impor o mesmo padrão a toda a cadeia de fornecedores — 1 200 pequenos e médios produtores de eucalipto, que terão de atestar como interagem com o meio ambiente, os funcionários e as comunidades vizinhas. Cerca de 500 deles, no sul da Bahia, já estão passando por uma triagem e devem receber a primeira auditoria com o selo verde entre novembro deste ano e janeiro de 2009. Em paralelo, a empresa também está estendendo a meta a outra ponta da cadeia — os clientes. A medida já começou a envolver gráficas, que passaram a prestar contas de sua atuação trabalhista e da utilização de resíduos. Até agora foram certificadas 25 gráficas. O uso de energia renovável está entre os pilares da sustentabilidade da Suzano. Suas cinco fábricas já são auto-suficientes na produção de energia —

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A Suzano, maior empresa de papel e celulose do país, ganha espaço no mercado global ao perseguir a expansão de seus negócios com equilíbrio social e ambiental | Roseli Loturco


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Maciel Neto, presidente da Suzano: o próximo desafio da fabricante de celulose é exigir a certificação de florestas de toda a cadeia de fornecedores

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esde que o engenheiro Marco Antônio Castello Branco se tornou presidente da Usiminas, em junho deste ano, ele se dedica a colocar em prática um plano de expansão sem precedentes. Com faturamento de 7,9 bilhões de reais em 2007, a companhia prevê um investimento de mais de 12 bilhões de dólares até 2012 — o maior já anunciado por uma única empresa do setor no país. Boa parte dos recursos destina-se à construção de uma usina de laminados capaz de acrescentar 5 milhões de toneladas à atual produção anual de 9,5 milhões de toneladas. A expansão está sendo realizada em suas usinas instaladas em Ipatinga, em Minas Gerais, e em Cubatão, no litoral paulista. O plano, segundo Castello Branco, deve seguir rígidas regras ambientais. O empenho da companhia em aumentar a ecoeficiência da fábrica e reduzir a quantidade de resíduos eliminados no meio ambiente a ajudou a obter novamente neste ano a certificação do Índice Dow Jones Global de Sustentabilidade, conquistada pela primeira vez em 2007. “Submetemos um novo projeto a avaliações rigorosas levando em conta seu impacto, inclusive com parceiros externos, antes de aprová-lo”, diz Castello Branco. Hoje, os gases e combustíveis líquidos gerados pelos processos de produção são armazenados e reutilizados em outras etapas de produção. O reaproveitamento desses gases corresponde a aproximadamente 30% da demanda das usinas de Ipatinga e Cubatão. O percentual deverá aumentar neste ano. Com investimentos de 255 milhões de reais, uma nova central termelétrica instalada na usina de Ipatinga deverá entrar em operação até dezembro deste ano — e vai aumentar a capacidade de geração própria de energia dos atuais 26%

Uma rota para o futuro Com investimentos de 12 bilhões de dólares, a Usiminas prepara o maior plano de crescimento de sua história — sem perder de vista o impacto ambiental de suas operações | Flávio Viégas

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para 53% do consumo total. Todos os resíduos de aço da produção também são reaproveitados. A maior parte — cerca de 60% — é vendida para empresas, como fabricantes de cimentos. Um dos principais desafios ambientais da Usiminas neste momento envolve a construção de um terminal no porto de Sepetiba, no litoral do OPINIÃO DO Rio de Janeiro. Em junho, a siderúrgica comprou ESPECIALISTA um terreno para construir um terminal de embarque marítimo para escoamento de seus produtos. A siderurgia Um terço do terreno está contaminado com proprovoca dutos tóxicos, resultado da operação da antiga um impacto Companhia Mercantil e Industrial Ingá, que faliu ambiental e social significativo. nos anos 90 (o principal poluente é o zinco, produzido pela indústria química quando estava em A Usiminas, operação). Para limpar o terreno, a Usiminas decom tradição em verá investir 40 milhões de reais, mais da metade desenvolvimento do valor dedicado à compra da área — 72 milhões de tecnologia de reais. A previsão é que o terminal comece a dentro de casa, operar em 2012, paralelamente ao plano de exassocia novas pansão de produtos siderúrgicos e de minério de técnicas para ferro da Usiminas. aumentar sua De acordo com Castello Branco, a siderúrgica eficiência e mitigar planeja investir na geração de energia eólica. A riscos ambientais. empresa deverá se associar a algum grupo que já Um exemplo é o reaproveitamento atue na área como investidora e fornecedora até de gases liberados o final deste ano. A lógica por trás da decisão é aproveitar a expansão desse tipo de energia — na produção para cujas usinas são grandes consumidoras de placas gerar energia, de aço para as hélices e parte das torres que proreduzindo as emissões de gases duzem a energia. A Usiminas já atua na área como fornecedora. Por meio de sua subsidiária de mede efeito estufa talurgia, a Usimec, fechou contrato de 50 milhões de reais com a Siif Énergies do Brasil para a venCarlos Henrique Delpupo, diretor da de 15 000 toneladas de aço jateado, que serão da KeyAssociados utilizadas na montagem de 107 torres eólicas no Ceará até o final de 2008.

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Empresa-modelo | Usiminas


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Castello Branco, presidente da Usiminas: 40 milhões de reais para recuperar uma área contaminada no porto de Sepetiba

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Empresa-modelo | Wal-Mart

A construção de uma imagem

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OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Depois de anos sob críticas, o Wal-Mart decidiu incluir a preocupação com a sustentabilidade em sua missão e em seus valores. Com isso, a empresa saiu ganhando, já que muitas ações reduzem os custos e aumentam a produtividade. É um grande incentivo para que outras empresas façam o mesmo Alberto Serrentino, sócio da consultoria de varejo Gouvêa de Souza

padrões que promovam a ecoeficiência. Isso inclui, por exemplo, o uso de materiais reciclados, a redução do consumo de energia e o reaproveitamento da água da chuva. Ao elaborar um novo projeto, a equipe de construções deve consultar uma lista de 58 idéias sustentáveis, que levam em conta tecnologias disponíveis no mercado. Segundo Hector Nuñez, presidente do Wal-Mart no Brasil, o objetivo é que todas as 312 unidades da rede adotem todos os critérios. É uma meta ainda longe de ser alcançada. Até agora, a loja mais avançada nesse aspecto, localizada na Grande São Paulo, implantou menos da metade dos itens sustentáveis. “Devemos inaugurar ainda neste ano uma unidade no Rio de Janeiro que terá até mais do que esses 58 itens”, diz Nuñez. No lado social, um de seus pontos historicamente mais críticos, o Wal-Mart também tem feito avanços. Desde julho deste ano, as funcionárias têm direito a seis meses de licença-maternidade. Além disso, a empresa implantou o Programa Pessoal de Sustentabilidade (PPS), que incentiva a implementação de ações individuais. Mais de 30 000 funcionários — de um total de quase 68 000 — já fizeram seu projeto pessoal. “Cada um escolhe o tema social ou ambiental com que deseja trabalhar. Para alguns, o plano é simplesmente parar de fumar”, diz Nuñez, que tem um PPS relacionado à economia de água. Segundo o executivo, todas essas ações são uma resposta aos que insistem em recordar a má fama da empresa em um passado não muito distante. “Não comento as críticas ao Wal-Mart nos Estados Unidos”, diz Nuñez. “No Brasil, respondemos com os fatos: oferecemos salários competitivos, benefícios acima da média do setor e dividimos nossos lucros com todos os funcionários.”

MONTAGEM SOBRE FOTOS VALÉRIA GONÇALVEZ/AE E ISTOCKPHOTO

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aior rede de varejo do mundo, o Wal-Mart fatura mais de 300 bilhões de dólares por ano com suas 7 200 lojas espalhadas por 15 países. É também o maior empregador do planeta, com cerca de 1,9 milhão de funcionários. A expansão desse gigante ocorreu sob uma agressiva política de preços baixos e, segundo seus críticos, à custa também de salários aviltantes pagos a seus empregados. Nos Estados Unidos, o grupo é alvo de uma série de ações trabalhistas. No ano passado, foi condenado em dois estados americanos a pagar mais de 300 milhões de dólares de indenização a ex-funcionários que não tinham o direito a intervalos para descanso e refeições. Além da fama de mau empregador, o Wal-Mart era até recentemente visto como uma rede pouco preocupada com os impactos sociais e ambientais de seu negócio. Tudo isso começou a mudar em 2005, quando Lee Scott, presidente mundial do Wal-Mart, estabeleceu metas a ser perseguidas pela rede. Pela primeira vez, o grupo traçou objetivos globais de redução de resíduos, aumento da eficiência energética, diminuição de gases de efeito estufa e estímulo a produtos sustentáveis. Assumiu também o compromisso de melhorar as condições de trabalho de seus empregados. “O Wal-Mart abraçou a causa da sustentabilidade e transformou essa questão num pilar de sua estratégia global”, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria de varejo Gouvêa de Souza. “Agora, a companhia está transformando o discurso em prática.” O programa de sustentabilidade do Wal-Mart no Brasil é estruturado em dez frentes de trabalho em diversas áreas da companhia. Entre as iniciativas de destaque estão as construções sustentáveis. Todas as novas lojas da rede devem obedecer a

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Atuando em várias frentes para cumprir metas globais do grupo, o Wal-Mart tenta apagar a fama de empresa pouco preocupada com questões socioambientais | Adriana Carvalho


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Nuñez, presidente do Wal-Mart: meta de tornar ecoeficientes as 312 lojas que a rede mantém no Brasil

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A páginas As á i a seguir i mostram t os desafios que empresas de todo o planeta estão enfrentando em razão de uma nova ordem mundial. Mais que colocar em prática ações socioambientais, essas companhias têm a missão de incorporar a sustentabilidade à sua estratégia de negócios — e ganhar dinheiro continuamente com isso

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Tão valiosa quanto A falta de água no mundo está criando um mercado bilionário que atrai grandes empresas, como GE, Siemens e Dow | Tatiana Gianini

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m diversas regiões do planeta, a escassez de água está se tornando uma das maiores preocupações — não só para ambientalistas como também para políticos, empresários e executivos. Em maio deste ano, a pior seca que atingiu a Espanha em décadas obrigou Barcelona a encomendar navios carregados com milhões de litros de água da vizinha França. Na Austrália, a situação é tão alarmante que quase todas as cidades têm medidas de restrição de consumo. Nos Estados Unidos, algumas prefeitu-

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ras da Califórnia impuseram neste ano, pela primeira vez, um racionamento de água à população a fim de garantir que o fornecimento não fosse interrompido. Cerca de 70% dos rios e lagos da China estão poluídos e mais da metade das cidades tem problemas de abastecimento. Esses casos recentes são exemplos de um problema de proporções gigantescas. Segundo o último relatório das Nações Unidas sobre o tema, a escassez de água atinge 20% da população mundial. Até 2025, a parcela deve chegar a 33% — pela conjunção de fatores como des-


A commodity do século 21 Hoje, quase 20% da população mundial — mais de 1 bilhão de pessoas — não tem acesso a água potável. A escassez está valorizando cada vez mais esse recurso

350 bilhões de dólares

é o total da venda global de serviços e equipamentos relacionados à água em 2007 — e deve atingir 530 bilhões de dólares em 2016

Rio com resíduos químicos na China: a poluição e o consumo crescente estão levando à falta de água em diversos países

325 bilhões de dólares foram investidos nas áreas de serviços de fornecimento de água e tratamento de esgoto em todo o mundo em 2007

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91 bilhões de dólares é o total das vendas mundiais de água engarrafada em 2007

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foi a valorização do World Water Index, índice da agência Bloomberg, que reúne 11 empresas do setor, de setembro de 2004 a setembro de 2008. No mesmo período, o S&P 500, índice das ações das maiores empresas americanas, caiu 0,75%

o petróleo perdício, falta de planejamento, descaso ambiental, mudanças climáticas e aumento da demanda. Graças a esse cenário, o fornecimento de água limpa tem se tornado um desafio — e um negócio bilionário para grandes empresas. Em janeiro deste ano, durante o Fórum Econômico Mundial, o presidente da gigante americana química Dow, Andrew Liveris, afirmou que “a água é o petróleo deste século”. Como o petróleo, a água é um combustível fundamental da economia global e vem se tornando uma mercadoria valiosa.

Trata-se de um mercado estimado atualmente em 350 bilhões de dólares — valor que deve crescer em média 4,7% ao ano e atingir 530 bilhões de dólares em 2016. Atentas a isso, grandes corporações, como a americana General Electric, a alemã Siemens e as francesas Veolia e Suez, já investem bilhões de dólares em novos negócios que envolvem o tratamento de água para indústrias e municípios em todo o mundo. Um dos negócios mais prósperos é o de dessalinização — uma maneira de aproveitar a maior fonte do recurso exis-

tente na Terra, os oceanos, que concentram 97,5% da água potável do mundo. Embora conhecida há muito tempo, até recentemente a tecnologia para a dessalinização era considerada cara e pouco eficiente. A primeira usina do gênero surgiu em 1928, na ilha de Curaçao, no Caribe. Na época, para tornar a água potável, usava-se o processo de destilação para evaporar a água do mar. Nas últimas décadas, uma enorme evolução tecnológica permitiu a expansão do negócio. “O valor para instalação das usinas caiu substancialmente e, por causa

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da modernização dos equipamentos, hoje elas precisam de menos energia para operar”, afirma Lisa Henthorne, presidente da Associação Internacional de Dessalinização, que reúne pesquisadores de 58 países. No fim de 2007, existiam 13 080 usinas de dessalinização em todo o mundo, 47% mais do que há dez anos. O custo médio do metro cúbico de água produzida hoje fica entre 1 e 1,5 dólar — de 15% a 20% menor que há uma década. Trata-se de um novo nicho para corporações tradicionais, como a GE, que fundou o braço GE Water em 2005. A tecnologia de dessalinização da companhia é usada em mais de 1 500 usinas pelo mundo (a empresa não divulga o faturamento da divisão). Um dos principais projetos foi inaugurado em fevereiro deste ano, na Argélia. A usina Hamma Seawater Desalination Plant é capaz de fornecer água potável a quase um terço dos 3,5 milhões de pessoas da capital Argel. O investimento de 250 milhões de dólares foi realizado num formato típico de uma parceria público-privada: a GE Water entrou com 70% do valor e ganhou um contrato para manter e operar a usina por 25 anos, e a estatal Algerian Energy Company bancou o resto. “Esse projeto é um grande exemplo de

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era mais caro e de uso restrito até pouco tempo atrás. Na última década, porém, houve um rápido desenvolvimento de tecnologias de ponta que permitem a aplicação em larga escala. Um dos melhores exemplos está em Orange County, a cerca de 100 quilômetros ao sul de Los Angeles. Em janeiro, o governo local abriu a maior usina de reciclagem do mundo, com investimentos de 480 milhões de dólares. A unidade, que usa o sistema de filtragem da Siemens Water Technologies, consegue reaproveitar diretamente quase toda a água utilizada por indústrias, plantações de laranja e habitantes da região — sem ter de recorrer a reservas de água tradicionais. Outros projetos

mundo afora deverão fazer com que, nos próximos anos, a capacidade global instalada para tratar água para reúso quase triplique, para 55 milhões de metros cúbicos em 2015 — o equivalente a 0,5% do uso global de água hoje. Na China, essa capacidade vai aumentar dez vezes no período. “A reciclagem tem um potencial enorme, porque permite que você deixe a água doce para o consumo humano e faça um uso mais eficiente do recurso na indústria”, afirma Alfredo Lorenzo, gerente-geral de negócios da Siemens Water Technologies para a América do Sul. Para crescer, grandes empresas passaram a adquirir concorrentes — sobretudo com a intenção de ampliar o pró-

BILL BACHMANN/ALAMY

como PPPs podem ajudar a solucionar as necessidades urgentes de água”, diz Jeff Garwood, presidente da GE Water, durante a inauguração da unidade. Agora, a GE Water investe num projeto em San Diego, na Califórnia. Em parceria com três outras empresas do ramo, a divisão trabalha desde o ano passado na criação de uma usina de dessalinização de água do mar de Carlsbad, que abastece a cidade. Será o maior projeto de dessalinização de água do mar da América do Norte e está previsto para funcionar em 2010. Existem novos negócios milionários também no reaproveitamento de água usada. O processo de “reciclagem”, assim como o de dessalinização, também

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Em janeiro deste ano, no Fórum Econômico Mundial, o presidente da americana química Dow, Andrew Liveris, afirmou que “a água é o petróleo deste século”

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Os novos negócios da água As duas principais atividades que estão sendo desenvolvidas pelas grandes empresas

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Usina em Israel: novos projetos se concentram na Austrália, nos Estados Unidos e no Oriente Médio

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No fim de 2006, o mundo tinha capacidade global de produzir 42,7 milhões de metros cúbicos de água por dia por meio da dessalinização. Estima-se que essa capacidade deva saltar para 106,6 milhões de metros cúbicos por dia em 2016. As usinas hoje se concentram no Oriente Médio, na Austrália e nos Estados Unidos. Exemplo A americana GE criou uma divisão para produzir equipamento de dessalinização em 2005 e hoje é a maior fornecedora dessas usinas no mundo. Em fevereiro, a companhia inaugurou uma unidade na Argélia, a maior da África, que exigiu investimento de 250 milhões de dólares.

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Reciclagem

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A capacidade de purificar água já utilizada — iniciativa antes mais voltada para operações industriais e agrícolas — se expande para o uso do consumidor final. A região de Orange County, na Califórnia, inaugurou neste ano uma usina de reciclagem de água orçada em 480 milhões de dólares. Cingapura também tem projeto semelhante.

Fazenda na Califórnia: a região abriga a maior usina de reciclagem de água do mundo

Exemplo A francesa Veolia Water vai construir na Austrália o primeiro processo privado de reciclagem de água do mundo para uma rede de indústrias. O contrato de 20 anos deve gerar um faturamento de 170 bilhões de dólares para a empresa no período.

prio alcance geográfico. Em agosto de 2004, a Siemens deu um grande passo no mercado de água ao adquirir, por 993 milhões de dólares, a US Filter, empresa líder no setor de água e esgoto, que agrupa 49 empresas e três associações ao redor do mundo e fatura mais de 1 bilhão de dólares por ano. Em 2005, foi a vez de a americana 3M entrar no ramo, investindo 1,3 bilhão de dólares na compra da americana Cuno, que fabrica equipamentos para filtração de gases e líquidos. No ano passado, a Suez Environment, braço da Suez, comprou por 190 milhões de dólares 33% da espanhola Aguas de Valencia, uma das quatro maiores empresas do setor de água da Espanha. “Queremos impulsionar o crescimento da Aguas de Valencia com o nosso conhecimento”, afirma Jean-Louis Chaussade, presidente da Suez Environment. No fim de julho, a Suez Environment abriu seu capital nas bolsas de Paris e de Bruxelas a fim de obter recursos para investir em seus negócios de água — iniciativa que, com a atual crise mundial, poderá ser abalada. Para avançar nesses novos mercados, é preciso investir — e muito — em novas tecnologias. No último mês de julho, a Dow Water Solutions, unidade de negócios de água da Dow, anunciou 15 milhões de dólares em investimentos para construir um Centro de Desenvolvimento de Tecnologia de Água na unidade da empresa na cidade de Tarragona, na Espanha. O centro terá 25 pesquisadores e uma área de demonstração de produtos de última geração, e deve ser inaugurado no fim de 2009. “É um passo importante em nossa estratégia de oferecer tecnologias inovadoras para lidar com o maior desafio da comunidade global no século 21”, afirma Ian Barbour, gerente-geral da Dow Water Solutions. A alemã Siemens divulgou que daqui a dois anos deverá lançar um processo inédito de dessalinização, com o consumo de metade da energia do processo mais usado atualmente. Sigiloso, o projeto está sendo desenvolvido na unidade da empresa em Cingapura, em parceria com o governo local. “A água é o negócio do futuro”, afirma Alfredo Lorenzo, da Siemens Water Technologies. “E ainda há muito o que avançar nos próximos anos.” OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 87

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Uma geração nova e engajada

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A crescente pressão sobre produtores brasileiros está provocando uma mudança na maneira tradicional de fazer negócios no setor | Fabiane Stefano

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Azevedo, produtor gaúcho de arroz: ele utiliza mais de 2 000 marrecos-de-pequim no combate a pragas na lavoura. A técnica permite a aplicação de menos defensivos agrícolas

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carioca Marcelo Vieira, sócio e diretor da Adecoagro, dedicou boa parte de seu tempo nos últimos 24 meses a acompanhar a construção da recém-inaugurada usina Angélica, em Mato Grosso do Sul. Sócio do investidor húngaro George Soros desde 2006, Vieira vai erguer outras duas usinas na região até 2012. O projeto deverá consumir 1,2 bilhão de dólares e poderá se tornar um dos maiores pólos de etanol do estado. A construção da usina, porém, marca algo mais do que a agressiva fase de expansão da Adecoagro. Em sua concepção, o projeto segue regras solenemente ignoradas pelo setor sucroalcooleiro até pouco tempo atrás. Questões como manejo socioambiental, proteção de recursos hídricos e conservação de ecossistemas foram tão importantes quanto aspectos de engenharia da estrutura industrial da nova unidade da empresa. Mais que investir em boas práticas socioambientais, a usina Angélica foi concebida para atender a regras de sustentabilidade que ainda nem existem no setor — mas que podem ser estabelecidas no futuro. Uma das preocupações de Vieira foi construir a usina numa área que permitisse 100% de colheita mecanizada, evitando assim a contratação de mão-deobra temporária na lavoura — por isso, foi escolhida uma área com topografia plana, adequada para receber grandes máquinas. O objetivo é que a usina sulmato-grossense seja uma das primeiras a receber a certificação de etanol no Brasil, selo que deverá ser lançado em 2009 pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). “Essas exigências serão cada vez mais comuns, porque o consumidor dos países ricos quer saber como foi feito aquele produto”, diz Vieira, de 56 anos.

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Integrante da terceira geração de produtores de café e cana no interior de Minas Gerais, Vieira é um dos exemplos de uma nova geração de empresários do agronegócio brasileiro que levam em conta demandas sustentáveis na hora de arquitetar a expansão de suas empresas. Se no passado o uso de queimadas e acusações de trabalho escravo eram corriqueiras, hoje elas são duramente condenadas pelo mercado. Esse novo grupo entendeu a mudança e agora prega que as boas práticas socioambientais são o

principal passaporte para conquistar investidores, clientes em outros países e até mesmo valorizar suas marcas dentro do mercado local. Trata-se de uma geração que passou a ver a sustentabilidade, sobretudo, como uma forma de gestão de risco. “O investidor estrangeiro não colocará seu dinheiro em um empreendimento que pode ser tachado de nãosustentável”, diz Luis Fernando Guedes Pinto, secretário executivo do Imaflora. Um dos primeiros redutos do agronegócio em que é possível encontrar


Responsabilidade no campo A receita da nova geração de produtores rurais para lidar com problemas socioambientais históricos do setor:

Uso de menos defensivos agrícolas Produtores estão reavaliando a quantidade de defensivos agrícolas que despejam no solo. Nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul, por exemplo, alguns já utilizam marrecos-de-pequim no combate a pragas — e reduzem o consumo de produtos químicos. A medida evita a contaminação do solo e dos recursos hídricos

Aposta na mecanização

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Boa parte das novas usinas de cana-de-açúcar já é concebida para trabalhar com a colheita mecanizada. A técnica dispensa a queima da lavoura e a contratação de temporários — fonte de problemas trabalhistas e sociais. Novas usinas, como as do grupo Adecoagro, já prevêem uma colheita 100% mecanizada

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Cobrança por mais reservas legais Vieira, diretor da Adecoagro: o usineiro acabou de inaugurar uma unidade industrial em Mato Grosso do Sul concebida para atender a regras ambientais que ainda não se tornaram obrigatórias no país

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Em regiões como Mato Grosso, as próprias associações de produtores de soja e criadores de gado estão mapeando as fazendas para identificar quem está descumprindo a lei que determina que cada agricultor deve resguardar uma parte da propriedade agrícola para preservar a vegetação nativa

empresários voltados para os lucros da sustentabilidade é o de cafés especiais. A produção de bebidas consideradas gourmet começou a adotar há pouco mais de uma década técnicas de manejo que utilizam menos defensivos em campo e, portanto, agridem menos o meio ambiente. A Ipanema Coffees, de Minas Gerais, já detém quatro certificações ambientais que a habilitam a comercializar seus grãos nos mercados mais exigentes. A empresa é uma das maiores produtoras de cafés especiais, com ven-

das de 35 milhões de dólares em 2007. É também a única fornecedora brasileira da rede de cafeterias americana Starbucks. “Fazemos até os fertilizantes para ter a garantia do que estamos colocando no solo”, diz o engenheiro Washington Rodrigues, presidente da Ipanema, empresa na qual trabalha há 20 anos. Sem terras para expandir sua atuação, a Ipanema Coffees fechou parcerias com quatro fazendas da região para negociar seus cafés no exterior. O acordo prevê que as propriedades sigam os mesmos

padrões de sustentabilidade adotados pela empresa. “As novas gerações de cafeicultores estão mais abertas a essas práticas”, diz Rodrigues, que exporta 90% do café produzido. Aos poucos, essa nova maneira de pensar no agronegócio começa a se espalhar por várias regiões do país. Um exemplo é um grupo de pequenos produtores gaúchos de arroz, que seguem um conjunto de regras para que a lavoura tenha o menor impacto ambiental possível. Tradicionalmente, o cultivo de

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arroz é um voraz consumidor de recursos hídricos. No passado recente, eram necessários 3 litros de água para produzir cada quilo do grão. Hoje, essa equação está mais equilibrada: 1 litro para cada quilo colhido. Os arrozeiros do litoral norte gaúcho querem ir além. Para isso, eles já contam com um fator favorável — as características do clima local. “O vento constante nessa região diminui a incidência de fungos na planta, exigindo assim menores doses de fungicidas”, diz o produtor Geraldo Azevedo, que faz parte da terceira geração de uma família de produtores de arroz. Ele cultiva 1 500 hectares do grão na cidade de Mostardas e testa há um ano uma inusitada técnica de manejo — 2 000 marrecos-de-pequim percorrem a plantação com a missão de combater pragas e plantas invasoras, fazendo com que menos defensivos agrícolas sejam usados no campo. A técnica milenar foi criada na China e importada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz. Azevedo e outros 500 produtores da região pleiteiam agora um certificado de origem do produto. O selo avaliará apenas a qualidade final do grão, mas o processo de cultivo traz implícitas características ambientais que podem garantir um atrativo extra ao produto, hoje vendido apenas no mercado interno.

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ROBERTO SETTON

A experiência dos produtores de arroz do litoral norte gaúcho derruba um mito: a agricultura sustentável sempre envolve custos mais altos que a tradicional. Segundo Azevedo, o custo de produção por saca é praticamente o mesmo do cultivo tradicional — embora eles gastem um pouco mais com funcionários, economizam com defensivos. “Boa parte das soluções sustentáveis é simples e não custa nada”, diz o produtor. Azevedo acredita, no entanto, que o certificado de origem permitirá que os agricultores gaúchos briguem pelo mercado de exportação e, conseqüentemente, por preços melhores. “Temos qualidade e valor ambiental para vender”, afirma. O agronegócio cada vez mais desperta para a necessidade de vender suas qualidades ambientais. “Existem muitas ações fragmentadas nos mais diversos segmentos, mas é importante articular e mostrar essas iniciativas”, diz Meire Fer-

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O custo é o mesmo

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reira, superintendente do Instituto para o Agronegócio Sustentável (Ares), entidade fundada há cerca de um ano. O próprio Ares está desenvolvendo um grande banco de dados sobre os temas considerados mais sensíveis ao setor, como a questão de reservas legais e agricultura na Amazônia. Quem está instalado nessas regiões — e sente de perto o calor da pressão — tem corrido para se enquadrar nas novas demandas. Inspirada no exemplo da cidade de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, que promoveu a

regularização ambiental de todos os seus produtores rurais, a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) pretende replicar o modelo nos 6 milhões de hectares dedicados à cultura do grão no estado. A entidade diagnosticou que 35% dos fazendeiros já procuraram a Secretaria do Meio Ambiente e têm interesse em corrigir as falhas de suas propriedades. Um trabalho semelhante deverá ocorrer entre os pecuaristas mato-grossenses, que, no momento, estão levantando os dados sobre a atividade. A


Em favor do etanol O setor sucroalcooleiro sai em defesa do álcool combustível — uma resposta às acusações que o produto vem recebendo mundo afora os últimos dois anos, os usineiros brasileiros vivem uma batalha diária em defesa do etanol nacional. Todos os dias surgem estudos científicos e declarações de ambientalistas — sobretudo europeus — que questionam o caráter socioambiental do biocombustível produzido no país. Boa parte das vezes o etanol brasileiro recebe por tabela críticas direcionadas a outros combustíveis verdes, como o etanol de beterraba e o biodiesel de colza, produzidos na Europa e bem menos eficientes do ponto de vista ambiental. Para conter os estragos da contra-propaganda, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) abriu um escritório em Bruxelas, capital da União Européia, no começo de 2008. No ano anterior, a entidade já havia designado o consultor Joel Velasco, que foi assessor do ex-vicepresidente americano Al Gore, para representá-la em Washington. Os dois escritórios atuam junto à mídia internacional, às ONGs e aos governos locais, em reuniões e eventos que debatem a sustentabilidade do etanol em relação a outros biocombustíveis. “A discussão deixou de ser técnica e migrou para o campo político. Por isso, temos de atuar em diferentes frentes”, diz Márcio Nappa, assessor técnico da Unica. Uma das frentes mais visíveis dessa movimentação é uma inédita campanha global em favor do álcool combustível, que

Rodrigues, presidente da Ipanema Coffees: quatro certificações ambientais permitem a exportação de café especial para os mercados mais exigentes

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Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) contratou uma consultoria para fazer o mapeamento por satélite de toda a área dedicada à criação de gado. “Não sabemos a dimensão do impacto ambiental da pecuária na região, mas a idéia é corrigir o que está errado”, diz Luciano Vacari, superintendente da Acrimat. Os dados levantados também vão ajudar a associação a tentar se proteger das críticas que o setor recebe diariamente. “Estamos na linha de tiro e, por isso, precisamos nos defender”, afirma Vacari.

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inclui anúncios nos Estados Unidos (na Califórnia e na Flórida) e na Europa. No Brasil, a Unica também lançou campanhas publicitárias direcionadas ao consumidor local. Por aqui, a idéia é conscientizar a população do valor ambiental do etanol — boa parte dos motoristas só utiliza o álcool quando o preço da gasolina dispara.“O objetivo da campanha é convencer o consumidor brasileiro que, ao usar etanol, ele estará contribuindo para a preservação do meio ambiente”, diz José Eustáquio, vice-presidente da Talent, agência que elaborou as peças publicitárias. A Unica também atacou no campo acadêmico. No começo de outubro, uma missão de cientistas brasileiros foi bater às portas das principais instituições européias para apresentar estudos que mostram que o etanol de cana não desmata a floresta Amazônica e ainda reduz a emissão de gases de efeito estufa.“A idéia é que os dados gerados no Brasil influenciem os cientistas e ativistas europeus em relação ao etanol brasileiro”, diz André Nassar, diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, que apresentou um trabalho sobre a expansão do cultivo de cana. A missão ocorreu justamente na fase final de discussões dos critérios de sustentabilidade para a importação de biocombustíveis pela União Européia. A proposta deverá ser lançada até o final de 2008.

Protesto contra o etanol em Londres: polêmica global

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Entrevista | Tendência

Só a base da pirâmide salva em menos afeito a holofotes que seu amigo indiano C.K. Prahalad, com quem escreveu o já histórico artigo Fortuna na Base da Pirâmide, em 2002, o americano Stuart L. Hart é hoje uma das maiores referências mundiais em estratégias empresariais para as populações de baixa renda. Professor da Universidade Cornell, Hart tornou-se uma sumidade ao ajudar a revelar para as empresas as imensas oportunidades de negócios escondidas nas populações de baixa renda — e, sobretudo, por ser um crítico voraz à maneira como as companhias vêm lidando com esses consumidores ao longo das décadas. Para Hart, as empresas não têm demonstrado preocupação com os impactos ambientais e sociais de suas investidas. Com isso, estão perdendo a chance não só de ganhar dinheiro mas também de ajudar o planeta a resolver parte de seus dilemas. Em entrevista a EXAME, ele explica por que é importante que as empresas integrem a seu modelo de negócios as duas grandes revoluções hoje em curso — a da base da pirâmide e a das tecnologias limpas — e por que isso representa uma oportunidade de negócios ainda maior do que a que ele preconizou no início desta década.

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para falar sobre o assunto, mas o ritmo de aceitação ainda era lento. O grande salto aconteceu mesmo nos últimos cinco anos. Hoje, centenas de empresas têm iniciativas para a base da pirâmide.

foram os primeiros a escrever sobre os negócios na base da pirâmide e sua relação com o movimento de responsabilidade social corporativa, há dez anos. De lá para cá, como o assunto evoluiu? STUART L. HART É curioso, mas quando eu e Prahalad escrevemos nosso primeiro artigo sobre o tema, em 1998, e ele começou a circular na internet, fomos vistos como pesquisadores “underground”, e nossas idéias, como alternativas demais. Dois anos depois, já estávamos ocupadíssimos, sendo requisitados

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Para o especialista Stuart L. Hart, as tecnologias limpas só ajudarão a salvar o planeta se ganharem escala com as populações de baixa renda | Ana Luiza Herzog

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Mesmo com esse salto, o senhor não acha que a maioria das empresas continua separando o conceito de sustentabilidade dos negócios para a base da pirâmide? Sim. Nos últimos oito anos, vimos o desabrochar de duas revoluções: a da base da pirâmide e a das tecnologias limpas. Esses dois movimentos, igualmente cru-

ciais para a busca da sustentabilidade, caminharam até agora de maneira isolada. O desenvolvimento de tecnologias que produzem menos impactos no meio ambiente esteve até agora muito voltado para o topo da pirâmide. Além disso, pensou-se muito no aspecto da tecnologia e muito pouco no modelo de negócios, ou seja, em como comercializar essas inovações. Só nos Estados Unidos, o setor de venture capital e dezenas de empresas privadas estão despejando milhões de dólares nesse mercado, mas ninguém sabe ainda como essas tecnologias chegarão aos consumidores. Enquanto isso, o movimento de negócios para a base da pirâmide ganhou corpo sem muita preocupação com o meio ambiente, adotando o que chamo de “estratégia do empurra”. Ou seja, as empresas pegaram os produtos que possuíam, estudaram como poderiam oferecê-los em embalagens menores ou mais baratas e estenderam os canais de distribuição para que eles chegassem até as classes mais pobres. Essa “estratégia do empurra” foi muito criticada. Qual a sua opinião sobre ela? Chamo essa primeira fase vivida pelas empresas de “base da pirâmide 1.0”. Ela


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É muito improvável que tecnologias verdes revolucionárias sejam aceitas com facilidade nos mercados desenvolvidos, nos quais os consumidores já estão acostumados com o conforto e a facilidade das tecnologias tradicionais

é legítima. A crítica foi que muitas empresas estavam simplesmente colocando produtos em embalagens diferentes e tentando vendê-los aos pobres — precisassem eles ou não daquilo —, tirando o pouco de dinheiro que eles possuíam. Tenho de concordar que essa análise não é totalmente descabida. Para que uma estratégia de base da pirâmide seja bemsucedida no longo prazo, ela deve ter uma abrangência maior. Não há nada de errado em adaptar produtos para vendêlos aos pobres. O que a empresa deve considerar, no entanto, é o impacto que aquele produto provocou na comunidade. Ele permitiu que as pessoas tivessem mais tempo livre para o lazer? Que elas ficassem mais saudáveis? Que elas melhorassem de vida? Não acredito que apenas vender por vender seja uma estratégia sustentável no longo prazo. Existem riscos nas duas revoluções que o senhor comentou (a da base da pirâmide e a das tecnologias limpas)? Sim. No caso das tecnologias limpas, o risco é termos mais uma bolha se não conseguirmos encontrar boas maneiras de comercializá-las. Já no movimento da base da pirâmide o risco é de colapso ambiental. Afinal, se o único objetivo das

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Hart: “Os pobres são mais do que consumidores, são parceiros de negócios”

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Entrevista | Tendência na base da pirâmide e, somente depois, levá-los para o topo.

Criança indiana estuda em ambiente iluminado por lanterna de LED movida a energia solar, da Cosmos Ignite: tecnologia limpa para a população de baixa renda

volvidas e testadas, de maneira ambientalmente correta, na base da pirâmide. Como convencê-las a fazer isso? O argumento é simples: trata-se do melhor ambiente para tirar do papel essas tecnologias. É muito improvável que tecnologias verdes revolucionárias sejam aceitas com facilidade nos mercados desenvolvidos, nos quais os consumidores já estão acostumados com o conforto e a facilidade das tecnologias tradicionais. A receita para que os negócios muito inovadores vinguem é incubá-los

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empresas continuar a ser gerar mais atividade econômica e consumo na parte inferior da pirâmide de renda, assim como fizemos no topo, iremos ainda mais rápido ladeira abaixo em termos ambientais e veremos o fim do jogo. E qual é a saída? Promover uma grande convergência desses dois movimentos. Trata-se de um desafio colossal, mas também de uma oportunidade sem precedentes para as empresas. Elas precisam entender que essas tecnologias limpas devem ser desen-

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O senhor pode dar exemplos de empresas que estão conseguindo fazer isso? Eu citaria a Cosmos Ignite, uma empresa privada, com sede em Nova Délhi, criada por empreendedores da Índia e da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ela fatura apenas 1 milhão de dólares, mas nasceu em 2004 e está crescendo num ritmo absurdo. Ela fabrica uma espécie de lanterna de LED que é movida a energia solar e pode ser facilmente transportada. O equipamento custa cerca de 50 dólares no varejo, é financiado por um período de até cinco anos e está disponível em países como Índia, Guatemala e Afeganistão. As famílias pagam cerca de 5 dólares por mês — bem menos do que elas gastariam com querosene para lampiões, velas ou outros esquemas mambembes. Pense no potencial de crescimento que uma empresa como essa tem, já que as estimativas são de que existam ainda 2 bilhões de pessoas no mundo sem acesso a eletricidade.

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Suponho que a Cosmos Ignite já esteja na fase que batizou de “base da pirâmide 2.0”, certo? Sim. Trata-se de uma fase na qual é preciso enxergar os pobres não só como consumidores mas também como parceiros de negócios. A fase 2.0 significa ruptura. Afinal, produtos e serviços inovadores para a base da pirâmide só surgirão se as empresas adotarem mudanças radicais em seu modelo de negócios. Em vez de optar por essas rupturas, muitas empresas apostam em projetos de ecoeficiência, buscando a redução do consumo de energia e água, por exemplo. Qual o limite desse modelo? Não prego que as empresas deveriam parar de pensar em melhorias contínuas, mas parar de adotar a idéia de que não é possível abraçar nenhuma outra lógica. A ecoeficiência é pautada pela idéia de melhoria contínua, e é ótimo que as empresas sejam ecoeficientes. Mas as companhias não vão garantir a sustentabilidade do planeta simplesmente fazendo de um jeito melhor aquilo que já fazem hoje. Precisamos mais do que isso.

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Como a indústria do aço — o produto mais reciclado do mundo — cada vez mais do material em parte de sua estratégia | Suzana Naiditch

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transforma o reaproveitamento

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KIKO FERRITE

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O diretor Bergamini em usina de sucata da Gerdau: 70% do aço fabricado é de material reaproveitado

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té pouco tempo atrás, boa parte da atenção dos principais executivos do grupo Gerdau, um colosso com faturamento de 34 bilhões de reais em 2007, estava concentrada em fazer novas aquisições mundo afora. Apenas em 2007, o grupo entrou em quatro países — México, Venezuela, República Dominicana e Índia — e fez a maior compra de sua história ao arrematar a americana Chaparral Steel por mais de 4 bilhões de dólares. Agora, essa expansão internacional levou o grupo a encarar outra tarefa tão importante quanto fazer compras certeiras: exportar para suas novas operações o jeito Gerdau de fazer negócios. Um dos exemplos mais recentes disso aconteceu no início de outubro, quando a empresa levou para a Colômbia, país em que estreou com a compra da Diaco, em 2004, seu programa de capacitação de sucateiros. Trata-se de uma réplica de um programa que a Gerdau mantém no Brasil e em outros dois países — Chile e Uruguai. O projeto consiste em organizar cooperativas em parceria com o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), entidade mantida por 25 grandes companhias brasileiras — e que também vai ajudar a siderúrgica na Colômbia. No Brasil, pelo trabalho de coleta, os catadores recebem, em média, 500 reais por mês e fazem o trabalho em lugares como escolas, casas, condomínios e empresas. “A idéia

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é difundir programas como esse em todos os países nos quais atuamos”, diz André Johannpeter, presidente da Gerdau. No caso da Gerdau, a formação de redes de cooperados em diversos países não se resume a uma atitude para diminuir o impacto ambiental ou ampliar a própria atuação social — mas representa parte fundamental do negócio. Quase 70% do aço do grupo gaúcho é fabricado com sucata, o equivalente a mais de 18 milhões de toneladas de carros e eletrodomésticos velhos, resíduos de construção civil, latas e outros produtos de aço usados por ano. A Gerdau utiliza a sucata como matéria-prima em 42 de suas 45 usinas espalhadas por 14 países. Isso faz da siderúrgica a maior recicladora de sucata de ferro da América Latina e uma das maiores do mundo. O principal ganho está no consumo de energia — bem inferior ao necessário para produzir aço com minério de ferro (a Gerdau não divulga a economia). “É uma cadeia em que todos ganham”, diz Heitor Bergami-

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Usina da ArcelorMittal no Espírito Santo: sobras da produção agora viram dinheiro

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ni, diretor de suprimentos metálicos da Gerdau Aços Longos Brasil e responsável pelo programa de coleta de sucatas no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a produção à base de sucata exige apenas um quarto da energia necessária para fabricar o aço que utiliza o minério de ferro como matériaprima. Por esse cálculo, o reaproveitamento de materiais resulta numa economia para todo o país de 112 000 gigawatts por ano, o equivalente ao consumo anual do estado de São Paulo.

Novos fornecedores A Gerdau não é exatamente uma novata no aproveitamento de lixo. A empresa absorve sucata desde o início de sua entrada na siderurgia, nos anos 40, com a Siderúrgica Riograndense, localizada em Porto Alegre. Os programas de reciclagem estruturados com o apoio de cooperativas, porém, só começaram em 2006. A idéia era aumentar a oferta do

material que a empresa já obtinha de ferros-velhos — que ainda representam a principal fonte de sucata para a empresa. Mas as cooperativas, formadas por uma rede de coleta e processamento como a que a Gerdau está levando para a Colômbia, têm ganhado espaço. Hoje, a rede da empresa possui 13 cooperativas, que reúnem 580 coletadores pelo país, em cidades nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Ceará, Pernambuco e São Paulo. Neste ano, oito novos cooperados juntaram-se à empresa. A Gerdau mantém cerca de dez funcionários para descobrir novas cooperativas e ajudar a equipe do Cempre a manter o relacionamento com cada uma delas. A siderúrgica já investiu 300 000 reais na compra de ferramentas, maquinário, uniformes e equipamentos de proteção para o pessoal das cooperativas. Todo o material coletado é enviado a uma das sete usinas de processamento de sucata que a empresa tem em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.


De volta à origem O volume de aço produzido por meio de reciclagem cresce no mundo... (em milhões de toneladas) Produção total Aço produzido com material reciclado

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HUMBERTO CAPAI/USINADEIMAGEM.COM.BR

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Fontes: Instituto Brasileiro de Siderurgia e WorldSteel

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da reciclagem: a disponibilidade de sucata. Em países desenvolvidos, os ciclos acelerados de consumo e descarte de produtos permitem índices maiores de reciclagem. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde o consumo per capita é superior a 420 quilos de aço por ano, 60% da produção é feita com sucata. No Brasil, segundo dados do IBS, o consumo está em torno de 130 quilos por habitante por ano. Por isso, apenas 24% dos 33,7 milhões de toneladas de aço produzidos no país no ano passado foram fabricados à base de sucata. “Exportamos quase metade do aço que produzimos e ele vira sucata em outro lugar”, diz Maria Cristina Yuan, superintendente do IBS. Na busca por uma produção mais eficiente, alguns fabricantes encontraram uma maneira de aproveitar os resíduos gerados pelo próprio processo produtivo. A operação brasileira da ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, montou um modelo para transformar em dinheiro 3,7 milhões de toneladas de resíduos gerados anualmente por sua produção. Só neste ano, a siderúrgica deve superar 100 milhões de dólares em receita com sua gestão de resíduos industriais, que geram mais de 30 co-produtos, como o cimento. Todos

Até mesmo a CSN, dona de cobiçadas reservas de minério de ferro, utiliza cerca de 180 000 toneladas anuais de sucata, que compra de empresas de reciclagem Nos últimos anos, o surgimento espontâneo de cooperativas organizadas ampliou esse tipo de coleta para a Gerdau. Curiosamente, uma dessas novas fontes está na concorrente CSN, do empresário Benjamin Steinbruch. Em 2001, a Metalic Nordeste, fabricante de latas de aço do grupo CSN, lançou o programa Reciclaço, que tem o objetivo de recolher embalagens vazias. Desde então, mais de 100 000 toneladas de latas foram coletadas. Como a CSN não tem usinas na região, ela revende o material para a unidade da Gerdau em Pernambuco. “O custo para transportar essa sucata do Nordeste para o Sudeste, onde temos usinas, é muito alto”, diz Márcio Guimarães Lins, assessor de projetos especiais e controle de desempenho da CSN.

Para suprir a própria demanda de sucata, a CSN compra de outras empresas de reciclagem localizadas no Sudeste. A siderúrgica utiliza cerca de 180 000 toneladas anuais de sucata — o equivalente a cerca de 18% de sua produção. A partir de 2010, quando deve entrar em operação sua nova unidade de fabricação de aços longos no Rio de Janeiro, haverá um aumento bastante significativo no consumo de sucata pela empresa — que deve quintuplicar, para 600 000 toneladas anuais. “Os ganhos com energia compensam o esforço e, para isso, pensamos em ampliar o alcance do modelo de coleta do Reciclaço para outras regiões”, diz Lins. Apesar dos planos das siderúrgicas, o Brasil tem uma restrição ao aumento

foram desenvolvidos pela unidade da empresa em Tubarão, no Espírito Santo, em parceria com mais de uma dezena de universidades de todo o país, com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o IBS e o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Entre as criações da usina de Tubarão, destacam-se dois novos materiais: a acerita e o revisol, usados na pavimentação rodoviária em substituição à brita, com custo 15% inferior. Hoje, a usina brasileira serve de exemplo para outras da ArcelorMittal na busca por uma gestão adequada dos resíduos. “Descobrimos mais aplicações para os resíduos que qualquer outra operação do grupo no mundo”, diz Paulo Lana, gerente de vendas da ArcelorMittal Tubarão.

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Negócios | Estratégia urante décadas, a indústria química foi considerada por especialistas uma das maiores vilãs ambientais do planeta. Recentemente, porém, o setor começou a ensaiar uma reação. As empresas do setor tentam agora provar que podem ser aliadas estratégicas nos esforços para combater o aquecimento global e que têm capacidade para desenvolver produtos mais limpos. A tarefa é penosa e complexa, sobretudo por se tratar de um mercado muito associado à poluição e a acidentes traumáticos, como o vazamento de um gás tóxico na fábrica da Union Carbide em Bhopal, na Índia, em dezembro de 1984, que matou entre 15 000 e 30 000 pessoas e

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Para mudar a imagem de vilãs ambientais, as grandes indústrias do setor químico investem no desenvolvimento de produtos mais limpos e na ecoeficiência de suas fábricas | José Alberto Gonçalves provocou seqüelas em outras 570 000 — até hoje lembrado como um dos piores desastres ambientais da história. Apesar disso, a busca por uma química “verde” já entrou no centro das estratégias de sustentabilidade das maiores empresas do setor. “A gestão do ciclo de vida, incluindo os processos de desenvolvimento, produção, uso, reúso e descarte dos produtos, é crucial para nós. Nossos produtos precisam ser sustentáveis”, diz Wolfgang Entrup, diretor mundial de meio ambiente e sustentabilidade da alemã Bayer. Ainda são raras as empresas que estabeleceram metas para ampliar a participação dos produtos químicos mais sustentáveis em suas vendas. Uma delas

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mudanças climáticas ocupam posição de destaque. A alemã Bayer é uma das mais agressivas nessa área. Até 2010 vai investir 1 bilhão de euros em seu programa de clima — o equivalente a 3% de sua receita em 2007. Com esse volume de recursos, a empresa planeja ampliar a oferta de produtos amigáveis ao clima e construir fábricas que consumam menos energia. Parte desses produtos tem como alvo um dos principais clientes da indústria química, as montadoras, ávidas por materiais mais leves para seus veículos (que diminuem o uso de combustíveis). Entre as soluções nesse campo estão os policarbonatos que a Bayer desenvolveu para substituir o vidro de janelas e tetos panorâ-

Elas querem apagar o passado

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é a americana DuPont, que faturou 29 bilhões de dólares no ano passado. A companhia definiu metas bem específicas para 2015 — entre as quais dobrar para 8 bilhões de dólares suas receitas com produtos fabricados a partir de recursos renováveis em relação a 2005. Outro objetivo da DuPont é adicionar a seu faturamento anual ao menos 2 bilhões de dólares em vendas de produtos mais eficientes no consumo de energia e que reduzam substancialmente as emissões de gases de efeito estufa. Mesmo as empresas que ainda não têm metas declaradas de faturamento com produtos verdes investem para aumentar seu portfólio. É o caso da Basf, maior empresa química do mundo, com ven-

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das de 57 bilhões de euros em 2007. Hoje, um terço do orçamento de pesquisa e desenvolvimento da empresa — algo em torno de 1,4 bilhão de euros — é investido em tecnologias inovadoras para a proteção climática e o aumento da eficiência energética. Graças a esses investimentos, em 2007 a Basf lançou um plástico que combina material biodegradável com amido de milho e pode ser aplicado em sacolas e embalagens para cosméticos. “Concentramos nossos investimentos em inovações que não agridam o meio ambiente e a saúde”, afirma Rui Goerck, vice-presidente da Basf para a América do Sul. Na estratégia de sustentabilidade das principais empresas químicas, as

micos nos automóveis, com diminuição em 30% a 50% no peso. Resinas de náilon da DuPont tomaram o lugar do aço nos sistemas de exaustão da plataforma do modelo Golf, da Volkswagen, com redução de quase 50% no peso. Já a alemã Basf desenvolveu um material à base de poliamida e náilon que substitui diversas partes do carro feitas de metais, como maçanetas e bases do espelho retrovisor. Outra frente de batalha das empresas químicas é tentar apagar suas próprias “pegadas” — em outras palavras, não apenas desenvolver tecnologias limpas para os clientes mas também diminuir o impacto de sua própria atividade. As companhias que se encon-


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Pesquisador da DuPont trabalha no desenvolvimento de novos biocombustíveis: parcerias com empresas petrolíferas para buscar novas fontes de energia renovável

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ambientalmente amigável. Ele precisa ser economicamente viável”, diz José Magalhães Fernandes, presidente da subsidiária brasileira da Rohm and Haas. Cresce rapidamente, também, a demanda das indústrias automotiva, calçadista e moveleira por adesivos aquosos, que não contêm solvente. Nos últimos quatro anos, a Bayer dobrou as vendas no país de adesivos feitos com poliuretano e policloropreno de base aquosa, um produto menos agressivo às pessoas e ao meio ambiente (não tem o cheiro forte e a aparência viscosa da tradicional cola de sapateiro). “A Bayer desenvolveu a matéria-prima há uma década e, des-

DANIEL ARATANGY

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tram na vanguarda da química verde jogam em várias frentes ao mesmo tempo. Procuram reduzir a quantidade de matéria-prima, água e energia nas fábricas, aumentar o uso de insumos renováveis, eliminar ou diminuir substâncias com alto risco tóxico para seres humanos e o meio ambiente, atenuar os potenciais impactos sobre ecossistemas sensíveis, reduzir a geração de lixo e resíduos perigosos e desenvolver biocombustíveis. Uma das iniciativas nesse sentido é um inusitado programa de reciclagem de coletes à prova de bala lançado no Brasil em agosto pela DuPont. Com a fibra de aramida dos coletes, a empresa vai produzir uma polpa para a fabricação de pastilhas de freio na indústria automotiva. Como a aramida não contém elementos tóxicos, essa matéria-prima pode ser um excelente substituto para o amianto. Em busca de soluções mais seguras ambientalmente, o setor químico acabou criando novas linhas de negócios, como tintas, esmaltes e adesivos que utilizam água em vez de solventes para diluir seus componentes. Uma das empresas mais bem-sucedidas nesse novo negócio é a americana Rohm and Haas, comprada em julho pela Dow. A empresa desenvolveu uma formulação de tintas de sinalização rodoviária sem solventes que se tornou um sucesso entre as principais concessionárias de rodovias no Brasil. Embora o preço do produto seja 40% mais alto que o das tintas com solventes, o custo final fica 30% menor porque essa tinta dura dois anos — o dobro da vida útil da convencional. “Não adianta fazer um produto apenas

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Da redução do consumo de água e energia nas fábricas ao aumento do uso de insumos renováveis, as indústrias químicas buscam atenuar o impacto ambiental de sua atividade

As principais linhas de atuação O que as indústrias químicas estão fazendo para reduzir o impacto de sua atividade no meio ambiente Área

Tendência

Matérias-primas renováveis

Substituição de derivados de petróleo por óleos vegetais na produção de espumas e plásticos

Solventes

Uso de água no lugar de solventes na fabricação de tintas, esmaltes e adesivos, para diminuir riscos à saúde humana e ao meio ambiente

Riscos ambientais

Eliminação de substâncias perigosas, como metais pesados em tintas para pintura de navios, nocivos à vida marinha

Biocombustíveis

Parcerias com indústrias petrolíferas e usinas sucroalcooleiras na pesquisa de novos combustíveis à base de vegetais

Plásticos verdes

Substituição gradual de nafta por etanol de cana e outras matérias-primas vegetais na produção de resinas plásticas


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de o início, o Brasil foi um dos focos devido à importante indústria calçadista existente no país”, diz Eckart-Michael Pohl, diretor de comunicação corporativa da Bayer Brasil.

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Movimento de veículos na via Dutra: a tinta ecológica utilizada na pintura das faixas elimina o uso de solventes e dura o dobro de tempo do produto convencional

Energias alternativas O Brasil é parte importante desse movimento verde não apenas pelo tamanho do seu mercado consumidor mas também porque é um celeiro de recursos renováveis. A indústria química vem atuando intensamente no ramo de energias alternativas, tanto na pesquisa de opções mais baratas ao silício para as células solares como no desenvolvimento de biocombustíveis. Atenta à demanda por biodiesel derivado de plantas que não concorram com o mercado de alimentos, a Bayer pesquisa o uso de pinhão-manso, que contém mais de 30% de óleo e é

cultivado em diversos países, incluindo o Brasil. Como o desenvolvimento de novas fontes de energia renovável depende de muita pesquisa e da sinergia entre diferentes áreas de negócios, proliferam as parcerias entre companhias químicas, de biotecnologia, petrolíferas e usinas sucroalcooleiras. É o caso do acordo firmado em 2006 entre a DuPont e a petrolífera britânica BP para desenvolver o biobutanol, processado a partir de beterraba, milho, trigo e cana-de-açúcar (caldo ou bagaço). No início deste ano, testes revelaram que o biobutanol pode ser misturado à gasolina comercializada na Europa a uma proporção de 16% — acima, portanto, do limite de 10% do etanol. Por possuir quatro átomos de carbono, em vez de dois como no etanol, o biobutanol tem maior potencial energético e não absorve água. “O biobutanol ajudará o Brasil a superar a barreira para

expandir a exportação de biocombustíveis à Europa. Será possível transportar o biobutanol nos mesmos dutos utilizados para a gasolina sem que seja necessário investir em infra-estrutura adicional”, diz Eduardo Wanick, presidente da DuPont América Latina. Segundo Wanick, o biobutanol de cana deve ser lançado até 2012, mas antes terá de superar dificuldades no processo de fermentação, que requer a produção em laboratório de microorganismos geneticamente modificados. Apesar dos enormes desafios tecnológicos pela frente, os bilhões de dólares que as empresas do setor vêm investindo no desenvolvimento de produtos inovadores mostram que a química verde é mais do que um modismo passageiro — e pode dar uma valiosa colaboração a outros setores da economia que correm contra o tempo para tornar sua produção mais limpa.

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Marketing | Consumo

O problema é o preço

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Menegocci: apelo ecológico dos produtos não é tudo

GERMANO LÜDERS

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pesquisa revela, por exemplo, que 70% dos entrevistados desistem de comprar produtos com selo ambiental caso eles custem mais do que similares sem a certificação verde. Além disso, 47% dos consumidores afirmam que não deixam de comprar um produto mesmo sabendo que ele é prejudicial à natureza. Os números indicam que a consciência ambiental é fortemente influenciada pelo fator preço. No entanto, na análise do consultor William Horstmann, sócio do Quorum Brasil e responsável pelo levantamento, só esse elemento não explica a contradição entre o discurso e a prática do consumidor. “O preço é um fator inibidor, claro, mas não o suficiente para uma pessoa decidir se leva ou não para casa determinada marca”, diz. “Se o consumidor não age de acordo com o que diz, é porque falta informação sobre o assunto.” Um dado revelador dessa falta de divulgação é o baixo número de marcas citadas espontaneamente pelos entrevistados quando o assunto é o meio ambiente — apenas nove marcas foram lembradas e a mais citada foi a fabricante de cosméticos Natura, mencionada por 18% dos entrevistados. O levantamento do Quorum Brasil confirma os resultados de uma pesquisa similar realizada no ano passado pela consultoria McKinsey em oito países

O gerente comercial Rodrigo Bassi Menegocci, de 24 anos de idade, se lembra bem de um anúncio que viu tempos atrás na televisão, em que um fabricante de sabão em pó prometia plantar uma árvore para cada caixa vendida do produto. Embora Menegocci tenha ficado entusiasmado com o apelo ecológico, nem sempre ele opta por levar para casa aquele sabão em pó — ou qualquer outro produto menos agressivo ao meio ambiente. “Quando vou fazer compras, levo em consideração o aspecto ambiental, mas é preciso que o produto tenha qualidade e o preço seja honesto”, diz. Menegocci é o típico consumidor verde “pragmático”, perfil detectado em uma pesquisa realizada pelo instituto Quorum Brasil com exclusividade para o Guia EXAME de Sustentabilidade. O levantamento, realizado em setembro, ouviu 200 moradores da cidade de São Paulo — homens e mulheres com idade entre 20 e 50 anos e renda familiar mensal entre 5 000 e 10 000 reais. De acordo com o levantamento, 74% dos entrevistados consideram-se consumidores preocupados com questões ambientais e 59% afirmam que produtos com apelo ecológico influenciam sua decisão de compra. Apesar das boas intenções, na prática o comportamento desse grupo é outro. A

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A maioria dos consumidores se diz preocupada com questões ambientais, mas apenas um terço pagaria mais por um produto ecologicamente correto | Aline Lima


Barreira econômica Segundo especialistas, no Brasil a disseminação do consumo consciente depende, sobretudo, do aumento do poder aquisitivo da classe C. “Essa camada da população está encantada com o poder de consumo recém-adquirido”, diz Thiago Lopes, gerente de planejamento da agência de publicidade Talent, que acaba de concluir um estudo no qual detectou nesse público certa indiferença em relação ao consumo orientado por valores responsáveis. “Não surte efeito algum falar em sustentabilidade quando o que essas pessoas querem, no momento, é realizar o sonho de ter um carro na garagem”, diz Lopes. Apesar da barreira econômica, seria arriscado para qualquer empresa ignorar a parcela de consumidores que seguem a cartilha do consumo responsável — um terço da população entrevistada pela pesquisa do Quorum Brasil. Entre os principais motivos citados por esses consumidores para a compra de produtos com apelo ecológico estão a preservação da natureza e a preocupação com o futuro da próxima geração. “A tendência é que o número de pessoas dispostas a assumir tais valores aumente”, diz Heloísa Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, organização não-governamental que promove o con-

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(Alemanha, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia e Reino Unido). Nessa sondagem, 87% dos entrevistados se declararam preocupados com os impactos ambientais e sociais dos produtos que compram. No entanto, apenas 33% dos consumidores disseram que compraram ou pretendem comprar produtos socioambientalmente corretos. Um dos produtos que conseguiram furar essa barreira foi o Prius, lançado pela japonesa Toyota em 1997. Primeiro carro híbrido do mundo (combina o uso de energia elétrica com o de gasolina), o Prius custa 50% mais do que um Corolla, modelo básico da mesma fabricante. Mesmo assim, mais de 1 milhão de unidades já foram vendidas em todo o mundo.

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Marketing | Consumo Quem é o consumidor verde

(1)

Entrevistados valorizam produto com apelo ecológico, desde que não tenham de pagar mais por isso 18%

Que marca vem à cabeça quando se fala em preocupação com o meio ambiente?(2)

6%

5%

Natura Banco Real Sabesp Você se considera um consumidor preocupado com questões ambientais?

26%

74%

NÃO

4%

3%

Nestlé

Vale

Avon

3%

61%

3%

Coca-Cola Bradesco Tetra Pak Produtos com apelo ecológico influenciam em sua decisão de compra?

Você se considera bem informado sobre o tema “preocupação ambiental”?

39%

59%

NÃO

SIM

3%

41% NÃO

SIM

Quais são os principais motivos para comprar produtos com apelo ecológico? Não prejudicam/preservam/ cuidam do meio ambiente Incentivam a pensar no futuro da próxima geração

40% 20%

15% 12%

Incentivam a reciclagem Para preservar as reservas naturais

Ao fazer uma compra... ...dá preferência a produtos feitos com material reciclável

61%

...deixa de comprar um produto se souber que ele é prejudicial à natureza 53% ...dá preferência a produtos orgânicos

Se um produto com selo ambiental for mais caro, você compra mesmo assim?

Costuma comprar produtos com selos ambientais?

40%

41% SIM

45%

NÃO

30% SIM

70% NÃO N

Comprou algum produto orgânico nos últimos três meses?

49% SIM

46% NÃO

5% NÃO CONHECE

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19% NÃO CONHECE (1) Pesquisa realizada em setembro com 200 paulistanos entre 20 e 50 anos e renda entre 5 000 e 10 000 reais mensais (2) Respostas espontâneas Fonte: Quorum Brasil

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sumo consciente. Em pesquisa realizada há dois anos, a entidade verificou que 33% dos consumidores brasileiros são conscientes — têm um bom grau de percepção dos impactos coletivos ou de longo prazo em suas decisões de consumo e não se atêm aos aspectos econômicos ou aos benefícios pessoais imediatos. De olho nesse tipo de consumidor, muitas empresas têm se esforçado para colocar nas prateleiras produtos ecologicamente corretos. É o caso da rede varejista Wal-Mart, que pretende transformar sua linha de marcas próprias em modelo de sustentabilidade. Já é possível, por exemplo, encontrar nas gôndolas do varejista cereais matinais com embalagens que levam o selo FSC, certificado ambiental do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, e cobertores produzidos com fio de poliéster feito 100% de fibra de PET. Além disso, a rede negocia com seus fornecedores o desenvolvimento de embalagens que reduzam a quantidade de material utilizado. “Até 2009, nossa meta é ter 100% das embalagens dos produtos de marca própria sustentáveis”, diz Daniela de Fiori, vice-presidente de assuntos corporativos e sustentabilidade do Wal-Mart. Para Mariana Cogswell, diretora de planejamento da agência Talent, o consumidor verde é, necessariamente, mais crítico e seu comportamento tende a influenciar cada vez mais o modo de produção das empresas. “Contribuir para o desenvolvimento sustentável não é mais uma questão de escolha da companhia, e sim obrigação”, diz ela. A HP, uma das maiores fabricantes de equipamentos eletrônicos do mundo, percebeu isso há muito tempo. Na década de 90, o trabalho de recolhimento e reciclagem de cartuchos da empresa virou referência no setor. Agora, a HP se prepara para dar um passo adiante: em vez de doar os cartuchos coletados a uma empresa de reciclagem, em novembro a própria companhia deve começar a reciclar o material. Após passar por um processo de limpeza e moagem, o material plástico produzido será usado na fabricação de novos cartuchos. “Queremos criar uma cadeia produtiva autorenovável”, diz Kami Saidi, diretor de operações da HP para o Mercosul. “À medida que aumenta a conscientização, o consumidor leva em conta essas iniciativas na sua decisão de compra.”

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Quando fazer o bem engorda o bolso As empresas brasileiras começam a vincular metas socioambientais à remuneração variável de seus executivos | Denise Ramiro

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tabilidade. Das 128 companhias que responderam a todas as perguntas do questionário, 29 declararam vincular a remuneração variável simultaneamente aos resultados econômicos, sociais e ambientais — o que significa 23% das empresas analisadas. “É um bom sinal, pois representa quase um quarto do universo. Mas ainda há um longo caminho a percorrer”, diz Aron Belinky, secretário executivo do

trelar a remuneração variável de executivos não só ao cumprimento de metas econômicas mas também a objetivos socioambientais é uma tendência que vem começando a ganhar espaço nas empresas brasileiras nos últimos anos. Um termômetro desse movimento é a análise das empresas que participaram desta edição do Guia EXAME de Susten-

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Gestão | Recursos humanos

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Grupo de Articulação das ONGs Brasileiras (GAO) na ISO 26000, a futura norma internacional de responsabilidade social. Uma das pioneiras nessa área é a subsidiária brasileira da Unilever, que em 2001 adotou a política de vincular a remuneração variável a resultados socioambientais. As metas que servem de parâmetro para o cálculo da remuneração são definidas no planejamento estratégico anual da


Remuneração de resultados O quadro abaixo mostra o que as 128 empresas que foram avaliadas no Guia EXAME de Sustentabilidade levam em conta na hora de definir a bonificação de seus executivos

84%

Desempenho econômico Desempenho social Desempenho ambiental Desempenho econômico, social e ambiental

32% 29% 23%

giu suas metas nesse período ganhou, em média, um bônus correspondente a 22% de seu salário anual. Quem excedeu as metas recebeu o dobro. “Nos últimos anos, os aspectos sociais e ambientais ganharam cada vez mais peso no cálculo da remuneração variável da companhia”, diz Marcelo Willians, vice-presidente de recursos humanos da Unilever no Brasil.

Escola para todos LIA LUBAMBO

Funcionários da rede Dry Wash: bônus para os gerentes que estimulam os empregados a voltar para a escola

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Fonte: FGV-SP

companhia. O programa se desdobra em dois conjuntos de objetivos: metade está vinculada ao resultado financeiro e se aplica a todos os funcionários; e a outra metade, que vale apenas para os executivos, inclui metas socioambientais. No aspecto social, um dos projetos que estão sendo levados em conta neste ano é o Infância Protegida, que visa coibir o trabalho infantil nas lavouras de tomate que seus fornecedores mantêm em cinco municípios goianos — quanto mais crianças na escola e menos na lavoura, mais pontos ganham os executivos responsáveis pela fábrica da Unilever da região. Além disso, a remuneração variável depende da redução do impacto no meio ambiente nas áreas em que a empresa atua. O programa já trouxe avanços, como a queda de 32% no consumo de água e de resíduos sólidos nas fábricas da companhia entre 2002 e 2007. Com isso, um gerente de fábrica que atin-

A adoção de uma política de remuneração variável atrelada ao desempenho socioambiental não é exclusividade das grandes empresas. Com faturamento anual em torno de 27 milhões de reais, a rede paulistana Dry Wash, especializada em lavagem de carros a seco, começou a implantar esse sistema em outubro de 2007. Para o primeiro ano, ficou estabelecido que os gerentes das nove lojas próprias da rede receberiam uma bonificação equivalente a um salário mensal caso cumprissem a meta social de colocar nas salas de aula 20% dos funcionários que ainda não tivessem concluído o ensino fundamental e médio. Como esse objetivo já foi cumprido — no total, 43 funcionários retomaram os estudos —, os executivos vão receber o bônus no fim deste ano. No plano ambiental, a meta traçada pela empresa é reciclar 100% dos panos usados na lavagem dos carros — uma montanha de 189 000 panos por mês nas nove lojas próprias. Esses tecidos são enviados a uma indústria de reciclagem, que transforma o material em feltros, utilizados pela indústria automobilística no acabamento de carros. O cumprimento desse objetivo não rende nenhum bônus extra aos gerentes, mas, se não for alcan-

çado, os executivos serão penalizados. “Nesse caso, eles são multados em 20% do valor total do programa de participação nos resultados que é distribuído mensalmente”, diz Roseli Santos Perez, sócia e gerente de operações da rede. Segundo ela, a decisão de vincular a remuneração a metas socioambientais foi tomada em razão de uma visão de longo prazo da empresa. “Acreditamos na sustentabilidade. No lado social, só o desenvolvimento das pessoas é capaz de garantir o sucesso do negócio. No lado ambiental, cuidamos da natureza para poder lavar carros a vida inteira”, diz Roseli. Para o consultor Leonardo Salgado, da Hay Group, assessoria especializada em remuneração de executivos, nem todas as empresas que adotam metas ambientais também traçam objetivos sociais. Nos planejamentos de remuneração que a consultoria faz para grandes empresas, por exemplo, a questão ambiental é sempre uma preocupação. “É uma forma de as companhias prevenirem acidentes ambientais, sujeitos a multas altíssimas”, diz Salgado. Já no quesito social, a situação é diferente. “Como ainda é muito difícil mensurar os resultados sociais, traçar metas de remuneração fica também complicado”, afirma. Embora a política de remuneração atrelada a questões socioambientais tenha tomado impulso nos últimos anos, essa não é uma preocupação nova. Desde os anos 80, há indústrias que premiam seus executivos pela redução do consumo de água e energia, por exemplo. “A diferença é que essa questão ganhou relevância e visibilidade. O que antes era uma simples meta industrial virou hoje uma preocupação estratégica para a companhia”, diz Salgado.

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Gestão | Sociedade

O fim da atividade de mineração sempre causa enorme impacto na população do entorno. As maiores empresas do setor começam a se mexer para amenizar o problema | Serena Calejon

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quando a mineradora se retirar, não haja uma derrocada econômica”, afirma a bióloga Maria Sulema Pioli, da consultoria internacional ERM, especializada em recursos ambientais. Até pouco tempo atrás, quando a atividade mineradora acabava, as empresas simplesmente iam embora. Um exemplo é a vila das minas do Camaquã, no município de Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul. Operada desde 1942 pela Companhia Brasileira do Cobre (CBC), a mina teve suas atividades encerradas em 1996 e toda a estrutura existente — casas, hotel, cinema, clube — foi simplesmente abandonada. “Hoje as empresas são obrigadas pela legislação a reparar as áreas degradadas, ou seja, têm de deixar o terreno o mais próximo possível do que era antes”, diz o engenheiro de minas Victor Eilers, também consultor da ERM. Como o terreno resultante da mineração é muito pobre, recuperá-lo é uma atividade trabalhosa. Pela legislação, o plano de recuperação ambiental de áreas degra-

dadas deve ser traçado antes mesmo do início das operações — e é um requisito para obter o licenciamento. “As companhias mais preocupadas com sua imagem têm feito o chamado plano social de fechamento, que, além da questão ambiental, leva em conta os aspectos socioeconômicos do encerramento da atividade”, diz Eilers. Um dos exemplos mais notáveis é o projeto de implantação de um complexo urbano na extinta mina de Águas Claras, no município de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Durante 30 anos, a mina foi explorada pela MBR, empresa controlada pela Vale. No início de 2003, a mina foi fechada — após a retirada de quase 300 milhões de toneladas de minério de ferro ao longo de três décadas. Em seu auge, na década de 80, a mina empregou 2 000 trabalhadores. Na época de seu fechamento, esse número havia se reduzido a 500. A estimativa da empresa era que o fim da atividade de mineração iria afetar a vida de quase 200 000 moradores do entorno.

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HENRY GEORGI

Brasil é um dos países com maior potencial de mineração do planeta. Suas terras abrigam mais de 50 tipos de minerais de valor comercial, como o ferro, o manganês e a bauxita, dos quais o país possui a segunda maior reserva mundial. Em 2007, o setor de mineração movimentou 70 bilhões de dólares no país, o equivalente a pouco mais de 5% do PIB. Apesar da pujança, essa atividade econômica tem um lado sombrio — que aparece, sobretudo, quando se esgota a exploração de uma mina. Não raro, grandes minas são o maior pólo de atratividade de uma região. Cidades inteiras passam a viver em função da atividade mineradora, que gera empregos, moradias, escolas, saneamento básico, iluminação, estradas e, não menos importante, impostos. Quando a mina se exaure e é desativada, os impactos econômicos e sociais no entorno são enormes. “É preciso fazer uma análise global do fechamento e estudar as questões críticas da região para que,

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Estação de esqui na cidade de Kimberley, no Canadá: depois de ser explorada por quase um século, a mina de zinco virou um resort e hoje atrai turistas

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Gestão | Sociedade

Em vez de esperar o prazo se esgotar para então definir o que fazer, a MBR decidiu se antecipar. O primeiro passo foi dado em 1999, quando a empresa contratou o consultor e professor da Fundação Dom Cabral Michel Abras para coordenar um estudo que identificasse maneiras de reduzir os impactos do fechamento da mina. O trabalho envolveu 40 profissionais de diversas áreas — de consultorias ambientais a escritórios de arquitetura e urbanismo. O resultado é um plano que prevê a transformação da antiga mina de Águas Claras em uma minicidade, com áreas residenciais e comerciais, hospital, museu, parques e um centro de pesquisa. Com essa infra-estrutura, a idéia é transformar a região num pólo de eventos. “A antiga mina está localizada numa área interessante da região metropolitana de Belo Horizonte e é capaz de atrair eventos que normalmente seriam realizados no tradicional eixo Rio–São Paulo”, diz Abras. “Outro fator que pesou na nossa decisão é que, nesse tipo de atividade, 95% da renda gerada fica na própria comunidade.”

PEDRO MOTTA

Gerais. Atualmente, a mineradora possui vários escritórios de administração espalhados em Belo Horizonte. O plano é reunir tudo em uma sede própria a ser erguida na antiga mina. Esse deverá ser o único empreendimento bancado integralmente pela empresa. O restante da execução deverá ocorrer em um sistema de permuta — a Vale cederá o terreno a incorporadoras interessadas em investir em projetos na área. A mineradora espera gerar pelo menos 20 000 postos fixos de trabalho com os novos empreendimentos. A estimativa é que o produto interno bruto do município de Nova Lima cresça 20% graças à iniciativa. A conclusão de todo o empreendimento deve levar 20 anos. Embora projetos como o de Águas Claras ainda sejam exceção na história da mineração brasileira, lá fora os exemplos começam a se multiplicar. Em 2001, a canadense Teck Cominco apresentou um programa que se tornou referência em todo o mundo: o fechamento da mina de zinco, chumbo e prata que a empresa mantinha na cidade de Kimberley, na província de Colúmbia Britânica, e que fora explorada por quase um século. Com o apoio do governo local, o terreno foi vendido para uma incorporadora e trans-

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Saindo do papel

A pressão da sociedade força as mineradoras a realizar mais do que o exigido pela legislação ambiental

Só agora, depois que toda a burocracia envolvendo a obtenção de licenças para a recuperação da área foi resolvida, é que as obras vão de fato começar. O primeiro passo para a implantação do complexo de Águas Claras é a construção de um centro administrativo regional da Vale em Minas

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Área onde até 2003 funcionava a mina de Águas Claras, em Minas Gerais: o plano é construir uma minicidade no local

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formado em estação de esqui. Hoje, a maior vocação econômica da cidade é o turismo: além da estação de esqui, Kimberley ganhou três campos de golfe e atrai visitantes de várias regiões. Depois da iniciativa da Teck Cominco, o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM, na sigla em inglês), que reúne as principais empresas e associações do setor no mundo, decidiu publicar um guia oficial para o fechamento de minas. Entre outras recomendações, o manual sugere a participação da comunidade nas decisões sobre o futuro aproveitamento de uma mina desativada. A mineradora anglo-australiana BHP Billiton possui seu próprio guia de padronização de fechamentos desde 2004. A Vale e a Alcoa atualmente estão editando seus manuais — sinal evidente de que a preocupação com a vida pós-mineração já atinge as principais companhias do setor. “Apesar de a legislação brasileira exigir apenas o mínimo, as partes interessadas no assunto, como acionistas, clientes e funcionários, exercem pressão suficiente sobre o setor para as empresas se organizarem espontaneamente”, diz a consultora Maria Sulema. “Nenhuma delas mais quer ser vista como vilã.”

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A multiplicação das regras Os selos verdes, que atestam se um produto ou processo segue normas sustentáveis, proliferam no mercado. Até que ponto eles são eficientes? | Luci Gomes

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explicação é simples: o prédio fica em plena marginal Pinheiros, próximo à avenida Rebouças, uma das regiões de maior tráfego na capital paulista. Andar de bicicleta nas imediações é uma aventura arriscada — tanto pelo intenso movimento de carros, caminhões e motocicletas quanto pelas condições inadequadas do asfalto e pela ausência de ciclovias na região. Atualmente, o bicicletário do edifício da Gafisa não recebe mais do que dez bicicletas por dia — número ínfimo, levando-se em conta que ali trabalham cerca de 4 000 pessoas.

FERNANDO MORAES/FOLHA IMAGEM

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quais ter um plano de controle de poluição, diminuir em14% o consumo de energia, não utilizar refrigeração à base de CFC (gás causador de efeito estufa) e ter uma área destinada à reciclagem. A partir daí, o empreendedor pode definir os demais itens que vai atender. No caso da Gafisa, uma das escolhas foi ter um bicicletário para que os usuários do condomínio deixassem o carro em casa e optassem por um meio de transporte menos poluente. Na teoria, a proposta parecia ótima. Mas, passado quase um ano de sua inauguração, o bicicletário vive às moscas. A

naugurado pela construtora Gafisa em dezembro de 2007, o edifício Eldorado Business Tower, localizado em São Paulo, nasceu com a ambição de ser considerado “verde”. Por isso, ainda enquanto erguia o prédio, a Gafisa entrou com um pedido de certificação americana Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida pelo Green Building Council Brasil (GBCB) a edifícios sustentáveis. Para obter esse selo, é preciso cumprir 26 dos 69 itens estabelecidos. Desses, sete são obrigatórios, entre os

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Madeira para produção de celulose e papel: a certificação ajuda a melhorar a imagem da empresa e a abrir novos mercados, mas não é fácil cumprir todas as exigências

A Gafisa não é a única empresa a buscar uma certificação verde. Atualmente, há cerca de 1 000 prédios com a certificação Leed no mundo. Três desses edifícios verdes estão no Brasil — a agência do banco Real na Granja Viana, em Cotia, região metropolitana de São Paulo; uma unidade do laboratório Delboni Auriemo na capital paulista; e o escritório do Morgan Stanley, também em São Paulo. Esse número deve crescer bastante nos próximos anos, uma vez que há 68 empreendimentos no Brasil que já entraram com pedido de certificação. O problema é que, por se tratar

de um terreno ainda novo por aqui, nem sempre as ações adotadas têm efeito prático na vida da comunidade, como demonstra o exemplo do bicicletário. Por essa razão, começa a surgir uma dúvida entre especialistas: até que ponto as certificações comprovam que as empresas estão adotando medidas capazes de reduzir, de fato, o impacto ambiental e beneficiar a sociedade? Afinal, as exigências para obter os selos de maior credibilidade são estabelecidas com base na realidade de outros países e nem sempre são as mais adequadas às condições do Brasil.

Existem outros requisitos da certificação Leed que perdem sentido se considerados isoladamente, como mera formalidade para obter o selo. Por exemplo, um empreendimento que utilize madeira produzida na própria região onde está sendo erguida a obra ganha pontos na avaliação. A idéia aqui é desestimular o gasto excessivo de combustíveis com o transporte de longa distância. Mais uma vez, a teoria faz todo o sentido. No entanto, se a madeira produzida nessa região foi tratada com substâncias agressivas ao meio ambiente,

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como veneno contra cupim, a chuva pode levar essas substâncias para os rios da região, anulando toda a vantagem de escolher um fornecedor próximo à obra. “Se não houver uma análise do ciclo de vida dos materiais, não se pode garantir um benefício real para a sociedade”, diz a arquiteta Vanessa Gomes, coordenadora do Centro de Pesquisa em Construção Civil e Meio Ambiente da Unicamp. Atualmente, uma comissão do Green Building Council Brasil estuda a possibilidade de “tropicalizar” as normas da certificação Leed para adaptá-las à realidade brasileira. Uma das idéias é mudar o sistema de pontuação com o objetivo de estimular a adoção de práticas sustentáveis mais inovadoras. O número de pontos que um prédio ganha por reduzir o consumo de energia, por exemplo, poderá ser reduzido, uma vez que o Brasil já utiliza amplamente a energia hidrelétrica, uma fonte não poluente. Recentemente, o Brasil ganhou o primeiro selo adaptado para o mercado local da construção civil. Trata-se do Aqua (Alta Qualidade Ambiental), inspirado na certificação francesa HQE e adaptado por aqui pela Fundação Vanzolini. Em vez de fixar padrões de conduta, o Aqua avalia os projetos desde sua concepção. A maior dificuldade nesse

caso é que cabe ao próprio empreendedor encontrar alternativas para alcançar os resultados pretendidos e demonstrar a eficácia de seu projeto.

Obstáculos no caminho Os selos para a construção civil não são os únicos a ter limitações. O FSC, certificação feita pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal e uma das que têm maior credibilidade no mercado, também apresenta restrições. A principal delas é que, para conseguir o FSC, as empresas precisam antes obter uma licença ambiental — algo que no Brasil, ao contrário do que acontece em países desenvolvidos, é um processo burocrático, difícil e demorado. “O ideal é que houvesse um sistema que permitisse aos produtores se adaptar às normas de forma gradual”, diz Ernesto Cavasin, gerente de sustentabilidade empresarial da consultoria PricewaterhouseCoopers. “Esse sistema de tudo ou nada acaba mantendo muita gente na informalidade.” O mesmo tipo de ressalva é feito à certificação internacional SA 8000, que estabelece normas para as práticas sociais no emprego. Ela é bastante rigorosa em relação ao cumprimento de horas extras dos funcionários,

o que nem sempre atende aos interesses dos trabalhadores. Em algumas situações, seria conveniente que houvesse uma jornada de trabalho mais flexível. “Um exemplo é quando operários vão trabalhar numa obra de construção longe da cidade onde moram. Quanto antes o trabalhador puder terminar a obra e voltar para casa, melhor para ele e para a empresa”, diz a consultora Nísia Werneck, pesquisadora do núcleo de gestão responsável para a sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. Parte da busca quase obsessiva por selos verdes pode ser explicada pelos ganhos de imagem que eles trazem para as empresas certificadas. Mas os especialistas recomendam cautela. “Há muitas empresas querendo buscar selos que dizem pouca coisa”, afirma Maurício Moura Costa, diretor regional da EcoSecurities, que estrutura e negocia projetos no mercado de créditos de carbono, certificados emitidos quando ocorre a redução da emissão de gases de efeito estufa. Para que a certificação não se torne apenas um atestado para enfeitar a parede, com poucos resultados concretos, é preciso que a empresa saiba claramente para que serve o selo e por que deseja obtê-lo — caso contrário, corre-se o risco de acabar com outros “bicicletários” vazios por aí.

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Bicicletário do edifício Eldorado Business Tower: o espaço é subutilizado, mas conta pontos para certificação

ANTONIO MILENA

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Finanças | Governança

Os acionistas

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A pressão dos minoritários

os últimos quatro anos, o país ingressou num novo nível de capitalismo com uma corrida sem precedentes à bolsa de valores. A cada nova oferta de ações, não faltavam interessados em trocar suas economias por participações nas estreantes do mercado. Abriu-se assim, pela primeira vez no Brasil, uma via expressa para que dezenas de empresas financiassem seus projetos com recursos de pequenos investidores. Agora, depois de um período em que essa união parecia perfeita, os dois lados — investidores e empresas — tomaram seu primeiro choque. A atual crise financeira mundial trouxe desvalorização das ações e efeitos colaterais, como os prejuízos das empresas Sadia e Aracruz com contratos especulativos de câmbio futuro — movimento que está colocando à prova as regras desse relacionamento. Com o susto, os investidores passaram a acompanhar os passos das companhias abertas mais de perto e a exigir mais transparência de quem pisasse em falso. “Há investidores destrinchando os números das empresas com lupa para verificar o efeito que a conjuntura adversa pode ter nos resultados”, diz Eliane Lustosa, conselheira do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Com a pressão de sócios mais participativos, as empresas são empurradas a melhorar seu canal de comunicação com os investidores e a elevar o nível de governança. As companhias que estão vivendo de forma mais intensa essa cobrança dos investidores são a Sadia e a Aracruz. Em setembro, ambas anunciaram prejuízos

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Após grandes perdas geradas pela crise, os acionistas querem mais transparência e menos riscos. Veja o que eles estão exigindo das empresas:

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Detalhar as informações financeiras da companhia, incluindo dados como o valor total de operações sujeitas à variação cambial e as aplicações que a empresa faz no mercado financeiro com os recursos disponíveis em caixa

2

Reduzir a autonomia dos administradores para tomar decisões que possam trazer prejuízos ao caixa da empresa. Uma medida estudada é diminuir o limite de risco máximo que o diretor financeiro pode correr em cada operação e determinar que ele submeta as decisões mais arriscadas ao presidente ou ao conselho de administração da empresa

3 4

Ter uma comunicação mais freqüente com os acionistas para deixá-los por dentro das estratégias da empresa

Responsabilizar pessoalmente os administradores que tomarem decisões imprudentes e receber ressarcimento no caso de perdas

milionários por apostar alto em operações de derivativos cambiais. No caso da Sadia, as perdas somaram 760 milhões de reais. No da Aracruz, a estimativa é de 2,2 bilhões de reais. Poucos dias depois de tornar público o rombo, a Sadia recebeu uma exigência atípica: o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), que tem 7,3% de participação no capital da empresa, solicitou a convocação de uma assembléia extraordinária para esclarecer os detalhes que levaram ao prejuízo. O objetivo da Previ é decidir se os responsáveis serão processados judicialmente. “Pedimos a contratação de uma auditoria externa para avaliar os acontecimentos”, diz Joilson Ferreira, diretor de participações da Previ. Alguns acionistas individuais, com pequenas participações nas empresas, também decidiram agir. É o caso do investidor Alexandre Dantas Fronzaglia, dono de 20 000 ações da Aracruz e de 14 000 da Sadia — menos de 1% de participação no capital total de cada uma delas. No início de outubro, Fronzaglia encaminhou um processo à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regulamenta o mercado de capitais, para identificar os acionistas controladores das empresas e pedir indenização. “Quando comprei as ações, não imaginava que as empresas estivessem aplicando de maneira arriscada em derivativos”, diz. Assim como ele, a tendência é que os acionistas não queiram responsabilizar a empresa em si, mas seus administradores e controladores. “Ao processarmos a empresa, perderíamos duas vezes, pois os custos seriam pagos por uma companhia da qual somos sócios”, afirma Fronzaglia.

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Diante das perdas milionárias de empresas como Sadia e Aracruz, os minoritários abrem os olhos para os riscos que podem estar escondidos dentro das empresas — e exigem mais transparência | Guilherme Fogaça


Corretores apreensivos na bolsa de Nova York: a crise deve ajudar as empresas brasileiras a subir um degrau na escala de transparência de suas operações

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Finanças | Governança O anúncio das perdas com derivativos provocou uma reação em cadeia entre diversos investidores. Receosos de que mais companhias pudessem apresentar prejuízos pelos mesmos motivos, eles passaram a cobrar esclarecimentos de todo o mercado. “Foi um efeito dominó. Os cotistas dos fundos nos ligavam querendo explicações enquanto nós entrávamos em contato com as empresas para saber se mais prejuízos poderiam vir”, diz André Vainer, chefe da área de gestão de fundos da gaúcha XP Gestão de Recursos. Segundo ele, assim que as perdas de Sadia e Aracruz foram divulgadas, a XP teve de entrar em contato com mais de 20 empresas para pedir informações. O episódio

no uso do caixa das companhias veio para ficar. Os olhos dos investidores — antes focados apenas nos dados relacionados ao desempenho, como vendas e lucro — agora também passam a buscar informações sobre os riscos dos investimentos. “Os investidores entenderam que não adianta ter uma operação boa se a empresa perde mais do que ganha em aplicações financeiras”, diz Catarina Pedrosa, chefe do departamento de análise da corretora do Banif. A pressão para divulgar essas informações não vem apenas de baixo para cima. Em 17 de outubro, a CVM determinou que as companhias abertas devem divulgar detalhadamente todas as operações

mostra que os acionistas de hoje não se contentam com relatórios divulgados trimestralmente — eles querem uma comunicação cada vez mais freqüente com as empresas em que investem, especialmente em um momento de crise mundial. “Quando o avião entra em uma turbulência, o piloto logo informa o que está acontecendo para inspirar segurança. Esse diálogo constante também é fundamental com os investidores”, diz Marcello Klug Vieira, advogado da área de mercado de capitais da NSM Advogados. Por mais que pareça uma reação pontual, a cobrança por maior transparência

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As empresas brasileiras passam por uma situação semelhante à das americanas nos anos 90

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Walter Fontana Filho, ex-presidente do conselho da Sadia: após perdas, a estrutura de governança mudou

nos anos 90. Na época, as empresas americanas também enfrentaram dificuldades por causa de especulação com derivativos. Um dos principais exemplos é o da gigante de bens de consumo Procter&Gamble, que, na época, teve um rombo de 150 milhões de dólares no caixa devido ao uso imprudente dessas operações. Como não havia um padrão para divulgar essas informações, os investidores dificilmente conseguiam enxergar os riscos que as empresas estavam correndo. Após essa seqüência de prejuízos, porém, o Financial Accounting Standards Board (Fasb), principal órgão regulador da contabilidade americana, determinou que as companhias deveriam passar a considerar as operações de derivativos como ativos ou passivos do balanço — se os valores aumentassem, seriam ativos da empresa, se diminuíssem, seriam passivos. A resposta das empresas à crescente pressão do mercado vai além da divulgação de números. As companhias diretamente envolvidas também começam a corrigir falhas em sua estrutura de governança. No caso da Sadia, o diretor financeiro passará a responder ao presidente da empresa, Gilberto Tomazoni, e não ao presidente do conselho de administração, como acontecia até a operação com derivativos vir à tona. A estrutura anterior era um resquício do antigo modelo de gestão da companhia e era condenável segundo as boas regras de governança. A alteração foi anunciada após a saída de Walter Fontana Filho do comando do conselho e a

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financeiras envolvendo derivativos a partir do terceiro trimestre deste ano. Mesmo as companhias que já publicaram seus resultados relativos a esse período terão de reapresentá-los para incluir as informações e permitir que os acionistas consigam avaliar os riscos aos quais estão expostos. “Queremos munir o investidor de todos os dados necessários para que ele possa tomar suas decisões de investimento”, diz Elizabeth Machado, superintendente de relações com empresas da CVM. O aprendizado pelo qual as companhias brasileiras estão passando é semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos

chegada de seu primo, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Luiz Fernando Furlan. Mesmo que o aprendizado esteja ocorrendo de maneira mais dura — com insatisfação dos investidores e grandes prejuízos —, a crise ajudou as empresas brasileiras a subir mais um degrau na escala da transparência. “A lição que fica é que nenhuma companhia está proibida de investir em nada, desde que os riscos assumidos sejam devidamente comunicados aos investidores”, diz o advogado Thomas Felsberg, do escritório Felsberg e Associados.

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Um caminho longo e ainda incerto A busca por energias limpas deve atrair investimentos de 30 bilhões de reais em novas usinas até 2010 — mas o ritmo poderia ser ainda mais acelerado | José Alberto Gonçalves

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Parque eólico na praia do Porto das Dunas, em Aquiraz, no Ceará: o potencial do mercado brasileiro vem atraindo investidores, mas o custo de geração ainda é muito alto

m 2002, quando o governo brasileiro lançou o Proinfa — um dos mais ambiciosos programas do mundo de incentivo a fontes alternativas de energia —, a meta era colocar 144 usinas em operação até o final de 2006, totalizando 3 300 megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 6,6 milhões de residências. Boa parte desse plano grandiloqüente, porém, ainda não saiu do papel. Até o início de setembro, apenas 52 empreendimentos haviam entrado em operação, com potência instalada de 1 274 megawatts — 39% da meta traçada inicialmente. Dificuldades de financiamento e mudanças de regras durante o percurso levaram o governo a adiar o prazo do início das operações de dezenas desses projetos. Apesar dos percalços, uma mudança é perceptível: as fontes alternativas de energia deixaram de ser olhadas com ceticismo por investidores e companhias energéticas, como ocorria até pouco tempo atrás. Nos últimos cinco anos, a energia gerada por pequenas centrais hidrelétricas, as chamadas PCHs, usinas de biomassa (bagaço de cana, madeira, casca de arroz e biogás) e parques eólicos aumentou sua participação de 5% para 7% no total de energia elétrica produzida no país. Até 2010, a estimativa é que 30 bilhões de reais sejam investidos na instalação de um parque de energia renovável de quase 12 000 megawatts formado por PCHs, fábricas de biomassa e usinas eólicas. Será uma potência pouco inferior à da usina binacional de Itaipu (14 000 megawatts), a maior do mundo em funcionamento, e equivalente a 10% da capacidade instalada de geração elétrica do país. Um indicador do aumento dos investimentos em energias renováveis é a carteira do BNDES. Somente para PCHs, usinas de biomassa e parques eólicos, o banco prevê desembolsar neste ano 3,1

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bilhões de reais, mais que o dobro do 1,4 bilhão de reais de 2007. Como o BNDES financia no máximo 75% do valor do investimento, para cobrir os 25% restantes, os geradores estão captando dinheiro de fundos de investimento em participação, os private equities. Um dos fundos mais ativos na área de energias renováveis é o InfraBrasil, formado em 2006 por iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento e administrado pelo banco Real. O InfraBrasil conta com recursos de vários fundos de previdência, como Petros, Previ e Funcef. Dos 940 milhões de reais disponíveis para investimentos em participações e financiamentos, metade é destinada a projetos de energia, principalmente renovável. “Pelos impactos socioambientais que causam, está cada vez mais difícil colocar de pé grandes hidrelétricas”, diz Geoffrey Cleaver, superintendente executivo do InfraBrasil. “A expansão das fontes renováveis por meio de projetos pequenos é uma tendência que veio para ficar, não é um modismo.”

A aposta nas PCHs Nenhuma fonte de energia renovável tem despertado tanto interesse no Brasil quanto as PCHs. Até o final do ano, mais de 3 000 megawatts deverão ser gerados por essas pequenas centrais hidrelétricas, potência quatro vezes maior que a disponível há dez anos. “A perspectiva para a próxima década é que o Brasil triplique sua geração em PCHs, com investimentos superiores a 40 bilhões de reais”, diz Ricardo Pigatto, presidente da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica. O que pode atrapalhar esse plano é a demora na autorização para o funcionamento de novas hidrelétricas. “A decisão sobre investimentos no setor dependerá da agilidade da

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Tecnologia | Energia

O lento avanço das energias alternativas As fontes alternativas representam ainda uma pequena parcela da energia elétrica produzida no Brasil, mas sua participação no total aumentou nos últimos cinco anos

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Pequena central hidrelétrica no Espírito Santo: alternativa com baixo impacto ambiental

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(1) Inclui usinas hidrelétricas, gás, derivados de petróleo, carvão mineral e nuclear (2) Inclui pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, eólica e solar

Aneel, a agência reguladora, em desobstruir o gargalo das novas autorizações”, afirma Pigatto. Os investimentos em PCHs estão em rota ascendente principalmente porque são projetos de execução rápida. Enquanto a construção de hidrelétricas de médio e grande porte leva de cinco a dez anos, as obras de uma pequena hidrelétrica duram de dois a três anos e causam menos impacto ao meio ambiente. Pela legislação, além de ter sua potência limitada a 30 megawatts, uma

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PCH não pode alagar mais do que 3 quilômetros quadrados para formar seu reservatório, o que diminui bastante a necessidade de deslocamento da população local e eventuais conflitos com ambientalistas devido a prejuízos para a flora e a fauna. Uma das empresas que estão apostando firme nessa área é o braço de energia do grupo canadense Brascan. A companhia ampliou sua carteira de PCHs de três pequenas hidrelétricas em 2003 para 27 neste ano, com um investimento estima-

Fonte: Aneel/Cogen

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Fontes convencionais(1) Fontes alternativas(2)

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do em 1,5 bilhão de reais. Nem o difícil momento atual deve mudar os planos da empresa. “Não fizemos nenhuma alteração na nossa programação de investimento por causa da crise internacional”, diz Ricardo Renha, presidente da Brascan Energética. “A demanda por energia limpa vem crescendo a cada ano e é preciso ocupar esse espaço.” O avanço rápido das PCHs, porém, não se repete em outras fontes de energia, como a eólica. Até pouco tempo atrás, três problemas emperravam o crescimento desse segmento. O primeiro deles era a dificuldade de importar aerogeradores — no início de 2007, no entanto, o governo zerou a alíquota de importação de equipamentos para usinas eólicas, bara-

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A energia solar é a fonte alternativa que mais cresce no mundo em potência instalada, mas no Brasil não conta com apoio oficial

Usina de produção de etanol: grandes empresas do setor investem na geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana

GERMANO LÜDERS

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gastos com equipamentos e do período pequeno de funcionamento das turbinas (só é possível ter ventos com boa velocidade em cerca de um terço do ano), o custo para gerar energia eólica é de 200 a 230 reais o megawatt-hora, acima dos preços pagos às PCHs e às usinas de biomassa nos leilões e no mercado livre (de 150 a 180 reais). O preço alto também atinge a energia solar, que custa o triplo da energia hidrelétrica. Em termos de potência instalada, essa fonte alternativa é a que mais cresce no mundo — perto de 50% ao ano. No Brasil, o uso de células fotovoltaicas, que convertem a radiação solar em eletricidade, é pouco significativo e restrito a comunidades isoladas do Norte e do Nor-

teando as importações. O segundo é que até agosto deste ano havia apenas um fabricante de aerogeradores no Brasil, a empresa alemã Wobben, que exporta quase tudo que produz, em virtude da explosão na demanda por equipamentos eólicos em países como os Estados Unidos, a China e a Índia. No início de setembro, a Impsa, controlada pelo grupo argentino Pescarmona, inaugurou uma fábrica de aerogeradores no porto de Suape, em Pernambuco — e a expectativa é que agora, finalmente, os projetos de energia eólica comecem a decolar no país. A princípio, a fábrica produzirá 211 aerogeradores para os 13 parques eólicos que a Impsa implantará no Ceará e em Santa Catarina até 2009, com capacidade de gerar 317 megawatts. Com tal potência instalada, a empresa argentina deverá se tornar a maior operadora de energia dos ventos no país. Somente na fábrica e nos dois parques eólicos, a Impsa investirá perto de 2 bilhões de reais. “O Brasil é o melhor mercado para energia eólica na América Latina”, afirma Luis Pescarmona, diretor-geral da Impsa no Brasil. O terceiro problema — e o mais difícil de ser resolvido — é o alto custo da energia eólica. Por causa dos elevados

deste. O que vem aumentando rapidamente é a utilização de coletores solares para o aquecimento de água em residências, clubes e hotéis. Segundo Carlos Faria Café, diretor da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), as vendas de coletores solares devem crescer em torno de 30% neste ano, repetindo o desempenho do ano anterior. Em 2007, o aquecimento solar propiciou ao país uma economia de 650 gigawatts-hora, energia suficiente para abastecer 350 000 residências durante o ano todo. Atualmente, apenas 1,5% das casas no Brasil possuem coletores solares — em Israel, por exemplo, onde esse tipo de energia é amplamente utilizado, o índice atinge 90%. Parte da baixa popularidade da energia solar no Brasil pode ser explicada pelo fato de essa fonte não fazer parte do Proinfa. Em 2007, o Ministério de Minas e Energia anunciou planos de lançar um programa nacional de apoio ao aquecimento solar da água, mas a idéia continua na gaveta. “É o momento certo para o governo lançar um programa solar sustentável, que envolva não somente os aquecedores solares mas também o uso da energia solar fotovoltaica”, diz Café.

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Sinal amarelo para 6,6 bilhões de pessoas

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os 6,6 bilhões de habitantes da Terra não sobra escolha a não ser encarar um fato: todos dividem o mesmo des-

tino em um planeta superpovoado. Por isso, a atual idéia de nações em constante disputa por mercados e recursos terá de ficar para trás. Em seu lugar, deverá emergir uma cooperação internacional. Para Jeffrey Sachs, consultor especial das Nações Unidas para as Metas de Desenvolvimento do Milênio e um dos economistas mais influentes da atualidade, essa é a única forma de fazer com que toda essa multidão — que deve chegar a 9 bilhões em 2050 — conviva e progrida em conjunto. Em seu novo livro, CommonWealth — Economics for a Crowded Planet (“Bem comum — economia de um

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planeta superpovoado”, numa tradução livre), ele argumenta que estabilizar a população global e proteger o meio ambiente são questões importantes demais para ser deixadas ao humor das forças do mercado e da competição geopolítica. “A atual trajetória ecológica, demográfica e econômica do mundo é insustentável”, afirma Sachs. Ídolo de estrelas socialmente engajadas, como o cantor Bono Vox e a atriz Angelina Jolie, Sachs segue no livro o mesmo raciocínio de sua obra anterior, O Fim da Pobreza. Sua tese é que qualquer país abandonado acaba comprometendo o progresso mundial. A visão de uma união internacional pode parecer utópica, mas Sachs garante que a cooperação global já teve sucesso no


Rua comercial na Índia: apesar do avanço econômico, a pobreza ainda não foi resolvida

Num mundo habitado por 6,6 bilhões de pessoas, encontrar uma maneira de conviver pacificamente e sem esgotar os recursos naturais do planeta se tornou um dos desafios mais prementes da agenda de políticos, empresários e executivos. Como conciliar crescimento e preservação? Como incentivar o livre comércio sem ampliar ainda mais o abismo que separa pobres de ricos? Como transpor os problemas decorrentes do aquecimento global de modo a garantir a sobrevivência de empresas e nações? EXAME selecionou cinco livros lançados em 2008 que procuram, cada um à sua maneira, dar respostas a essas e outras perguntas que desafiam os líderes de hoje e de amanhã | Lucas Amorim

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Calor, falta de água e superpopulação

Common Wealth — Economics for a Crowded Planet Editora Penguin Books, 400 págs. Autor Jeffrey A Sachs

passado e ajudou muitos mercados emergentes, como Coréia, China e Índia. O autor apresenta dados que sustentam sua argumentação. O preço de superar os grandes problemas do novo milênio, em suas contas, seria de 2,4% do PIB dos países desenvolvidos. Sachs reconhece também a importância das grandes empresas nesse movimento — e não apenas daquelas com sede na Europa e nos Estados Unidos. “Contribuições financeiras e idéias terão de vir de muitos lugares, incluindo mercados emergentes, como Brasil, China, Índia, África do Sul e Nigéria”, diz. Essa é a única forma, segundo Sachs, de os 60 trilhões de dólares produzidos anualmente em todo o mundo chegarem aos mais isolados rincões e realmente beneficiarem a todos. OUTUBRO 2008 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 135

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Livros | Idéias Um projeto verde para os Estados Unidos

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o incensado livro O Mundo É Plano, de 2005, Thomas Friedman mostra

fiscais para implantar um sistema que crie e desenvolva fontes de energia limpas e mais eficientes, junto com uma ética de conservação”, diz ele. A redução da dependência de combustíveis fósseis, argumenta Friedman, é questão de segurança nacional. Para o jornalista, ao importar petróleo de países como Irã e Venezuela, os Estados Unidos dão fôlego a governos ditatoriais e são forçados a ampliar barreiras dentro e fora de seu território. O autor reserva um capítulo à China, nação que já teria iniciado esforços para buscar tecnologias limpas e que poderia ganhar certa “vantagem sustentável” nas próximas décadas. “A habilidade para projetar, construir e exportar tecnologias verdes para produzir água limpa, ar limpo e comida

A importância de parcerias globais dustrial. No século 18, as mudanças foram impulsionadas pelo advento da máquina a vapor. Agora, o que estimula o progresso é a busca por tecnologias menos agressivas à natureza — desenvolvidas em conjunto por empresas, governos e organizações. A análise norteia o novo livro do guru empresarial Peter Senge, The Necessary Revolution — How Individuals and Organizations Are Working Together to Create a Sustainable World (“A revolução necessária — como pessoas e organizações trabalham juntas para criar um mundo sustentável”, numa tradução livre), com lançamento previsto para novembro no Brasil, pela editora Campus Elsevier. Chefe do centro de aprendizagem organizacional do MIT, Senge e outros quatro co-autores exploram a mesma linha de pensamento de seu best-seller A Quinta Disciplina, lançado em 1990. Na obra, ele ressalta a importância de uma organização voltada para o aprendizado, em que todas as pessoas são estimuladas a ultrapassar seu campo de atuação. Des-

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mundo vive hoje uma fase semelhante ao início da Revolução In-

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como a globalização provoca profundas mudanças nas relações econômicas, políticas e sociais entre as nações. Agora, o colunista do The New York Times e três vezes vencedor do prêmio Pulitzer de jornalismo está convencido de que outras duas forças também mudam o planeta de forma definitiva: o aquecimento global e o crescimento populacional. Essa é a tese de sua nova obra, Hot, Flat, and Crowded — Why We Need a Green Revolution and How It Can Renew America (em português, algo como “Quente, plano e superpopuloso — por que precisamos de uma revolução verde e como ela pode renovar os Estados Unidos”), que

está no topo da lista de obras de não-ficção mais vendidas do The New York Times, com lançamento previsto para 2009 no Brasil, pela editora Objetiva. De acordo com Friedman, seu país deveria tomar a frente na solução desses grandes problemas mundiais — por ser o único com poderio econômico e político para encampar tal desafio — e, de quebra, reencontrar o próprio caminho, perdido após os atentados de 11 de setembro. Vale destacar que Friedman escreveu seu livro antes do aprofundamento da atual crise financeira. O autor defende a criação de um projeto batizado de “código verde”, cujo ponto de partida é um forte estímulo à inovação. “Precisamos de um programa de políticas governamentais e incentivos

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The Necessary T Th N R Revolution l ti Editora Doubleday, 406 págs. Autor Peter Senge

ta vez, Senge vai além dos muros das empresas e prega que toda a sociedade precisa se envolver na busca de saídas para o problema ambiental. “As soluções precisam ser construídas com trabalho conjunto em todos os níveis, em equipes que reúnam indústrias, comunidades e cadeias de abastecimento globais”, afirma. O autor cita, por exemplo, a decisão do governo americano de estimular a produção de etanol à base de milho como forma de reduzir a dependência de petróleo importado. O mais indicado, em sua visão, seria firmar parcerias com empresas e universidades para buscar uma alternativa realmente sustentável. Senge explica que seu livro é destinado aos líderes de amanhã. Para inspirálos, cita diversos exemplos de organizações e pessoas que conseguiram ampliar seu campo de visão e encontrar soluções sustentáveis. Entre elas está a Coca-Cola, que fez uma parceria de cinco anos com a ONG WWF para racionalizar o uso de água em todas as suas unidades. “Apenas levar as fábricas em dificuldade para uma área com mais água não resolveria o problema”, diz.


As vantagens ambientais saudável e abundante será a moeda de poder na nova era”, diz Friedman. Isso, em breve, se tornará óbvio para todos, segundo o autor. Como um americano de 55 anos que viu seu país tomar as rédeas das maiores inovações do século 20, ele afirma, em tom patriótico, torcer para que Washington desperte e faça a história se repetir com as tecnologias limpas. A cor verde, nesse contexto, deveria levar a políticos, empresários e pesquisadores americanos a mesma motivação que o vermelho soviético trouxe durante a Guerra Fria.

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Editora Farrar, Straus and Giroux, 438 págs. Autor Thomas L. Friedman

O que fazer para evitar o pior bal e Manter as Luzes Acesas, eles citam exemplos como o de Darfur e diversas timas décadas palco de um dos provas científicas para demonstrar que o maiores conflitos da humanidade, em que aquecimento global não é obra de ficção 400 000 civis já foram mortos. O que al- — e que pode mudar o clima e as relaterou o equilíbrio entre pastores e fazen- ções sociais em todo o planeta. De acordo com os autores, controdeiros da região foi uma abrupta redução no volume de chuvas e, conseqüentemen- lar as emissões de gases de efeito estufa custaria somente 1% do te, na quantidade de terras PIB mundial por ano. Os férteis. O confronto é um países desenvolvidos tedos mais alarmantes riam de bancar a parte exemplos de como o maior da conta — o que aquecimento global já alacaba criando um impasterou as relações sociais se. “Caberia aos países no mundo. Inúmeras ouricos arcar com cerca de tras mudanças estão em 1,8% de seu PIB, soma curso e outras tantas são que corresponde a mais inevitáveis nas próximas de sete vezes o orçamento décadas, segundo garananual do mundo para astem a jornalista especialisistência humanitária”, zada em meio ambiente explicam eles. O fiel da Gabrielle Walker e o cienbalança seria um grupo tista David King, principal formado por China, Ínassessor científico do godia, Brasil, África do Sul verno britânico entre 2000 O Tema Quente e 2007. No livro O Tema Editora Objetiva, 286págs. e México — responsáveis Quente — Como Com- Autores Gabrielle Walker pelos maiores aumentos bater o Aquecimento Glo- e David King nas emissões de CO2.

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historicamente pacífica região de Darfur, no Sudão, tornou-se nas úl-

m meados da década de 90, o esgotamento do volume de peixes nos ocea-

nos forçou a gigante de bens de consumo Unilever a agir. Com a linha de congelados ameaçada, seus executivos passaram a financiar a prática da pesca sustentável ao redor do mundo. “Não somos ambientalistas. Mas, se não fizermos nada, vamos acabar fechando as portas”, disse um gerente da empresa a Daniel C. Esty e Andrew S. Winston, no livro O Verde Que Vale Ouro — Como Empresas Inteligentes Usam a Estratégia Ambiental para Inovar, Criar Valor e Construir uma Vantagem Competitiva. Os autores, pesquisadores da Universidade de Yale, usam exemplos como o da Unilever para mostrar que a adoção de estratégias ambientais é, antes de tudo, uma oportunidade para se diferenciar dos concorrentes e assegurar a própria sobrevivência. Após entrevistar mais de 300 executivos de 100 grandes empresas, os autores listam aquelas que embarcaram na chamada onda verde e contam como já conseguiram lucrar com isso. Um dos principais exemplos do livro é a British Petroleum (BP). Na virada deste século, o então presidente da empresa, Lord John Browne, se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Investiu inicialmente 20 milhões de dólares para alterar processos de extração de petróleo mais poluentes e, nos seis anos seguintes, economizou 1,5 bilhão de dólares. “Para essas empresas, as considerações ambientais nem sempre são a palavra final no que diz respeito à estratégia, mas sempre são levadas em conta”, afirmam Esty e Winston.

O Verde Que Vale Ouro Editora Elsevier, 347 págs. Autores Daniel C. Esty e Andrew S. Winston

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RENATO FROGAL

Artigo | Comportamento

Aron Belinky é secretário executivo do Grupo de Articulação das ONGs Brasileiras (GAO) na ISO 26000 (a futura norma internacional de responsabilidade social). E-mail: aron@ecopress.org.br

O poder das palavras

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ustentabilidade ou responsabilidade social empresarial? Mas por que apenas social? Não deveria ser responsabilidade socioambiental? E onde foi parar o desenvolvimento sustentável? Essas e outras perguntas parecidas têm rondado as conversas e os pensamentos de muita gente, sinalizando uma perigosa confusão. Cada um desses conceitos tem um importante valor, e o que significam vai muito além dos modismos de gestão ou de comunicação. É fácil errar quando uma empresa ou seus dirigentes não têm clareza sobre o que de fato significam as bonitas palavras que estão em suas missões e valores ou em seus relatórios e peças de marketing. Infelizmente, não passa um dia sem vermos claros sintomas de confusão. O que dizer de uma empresa que mal começou a praticar coleta seletiva e já sai por aí se intitulando “sustentável”? Ou da que anuncia sua “responsabilidade social” divulgando em caros anúncios os trocados que doou a uma creche ou campanha de solidariedade? Na melhor das hipóteses, elas não entenderam o significado desses conceitos. Ou, se formos um pouco mais críticos, diremos tratar-se de oportunismo irresponsável, que não só prejudica a imagem da empresa mas — principalmente — mina a credibilidade de algo muito sério e importante. Banaliza conceitos vitais para a humanidade, reduzindo-os a expressões efêmeras, vazias. Hoje, vejo empresas criando áreas de “sustentabilidade” em paralelo com seus departamentos de “responsabilidade social” ou simplesmente rebatizando as áreas que já tinham. Vejo tratarem “responsabilidade social” como uma idéia fora de moda, envelhecida frente à atualíssima “sustentabilidade”. Isso já seria grave pela confusão que cria entre seus funcionários. Porém, ainda mais grave é a dúvida transmitida ao mercado e aos demais stakeholders:

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Conceitos como “sustentabilidade” e “responsabilidade social corporativa” não devem ser encarados pelas empresas como meros modismos de gestão e de marketing

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O que dizer de uma empresa que mal começou a praticar coleta seletiva e sai por aí se intitulando “sustentável”? Ou da que anuncia sua “responsabilidade social” divulgando em caros anúncios os trocados que doou a uma creche? Na melhor das hipóteses, elas não entenderam o significado desses conceitos

qual o real compromisso da empresa? É com a construção de um mundo socialmente justo, ecologicamente viável e economicamente próspero? Ou é com seu desejo de parecer atualizada e sintonizada com as prioridades de momento? A questão não é a precisão técnica das palavras utilizadas: é o que a maneira de usá-las revela sobre quem realmente somos e sobre o que de fato desejamos. É bom que as empresas queiram ser sustentáveis e socialmente responsáveis. É ótimo que comecem a fazer algo nesse sentido. Mas é péssimo quando, ao tentar fazer isso, elas reforçam os argumentos de quem deseja jogar a responsabilidade social empresarial na vala comum das espertezas marqueteiras. Para concluir, um lembrete prático: sustentabilidade é a qualidade do que é sustentável, ou seja, da situação que pode se manter continuamente, pois não exaure os recursos de que necessita. É a situação que a humanidade almeja para não correr o risco de sua auto-extinção. Desenvolvimento sustentável é o modelo de progresso econômico e social que permitirá que todos os seres humanos atinjam boas condições de vida — sem comprometer nossa sustentabilidade. Finalmente, ter responsabilidade social empresarial (ou corporativa) é conduzir uma empresa de forma que ela contribua para o desenvolvimento sustentável (incluindo assim tanto os aspectos ligados ao meio ambiente como os ligados às condições sociais e às relações saudáveis com consumidores, trabalhadores e demais stakeholders). Em suma, não são modas novas versus antigas ou conceitos que se substituem indiscriminadamente: são faces de um mesmo processo. Peças do mesmo quebra-cabeça que — juntos — estamos aprendendo a montar.

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