Novembro/2009 | R$ 19,90 | www.exame.com.br
Internacional
Por que os países participantes da Conferência de Copenhague não conseguem se entender
Brasil
Alguns governos estão adotando critérios verdes para fazer suas compras — e ganhando com isso
Gestão
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Empresas do mundo todo exigem que seus fornecedores sejam cada vez mais responsáveis
Negócios
A busca pela eficiência energética deu origem a um mercado que movimenta 1 bilhão de reais no país
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| Sumário 8 11
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Carta ao leitor Portal
Pesquisa
Apresentação A décima edição do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE ocorre às vésperas da maior discussão sobre o tema desde 1997 Resultados Apenas os projetos de sustentabilidade mais consistentes resistiram à crise financeira global 10 anos Em dez anos, o que era atividade filantrópica entrou para o centro da estratégia de negócios
Empresas-modelo
Walmart Com uma série de iniciativas, como a construção de lojas verdes, a rede varejista foi eleita a Empresa Sustentável do Ano AES Brasil Uma solução para a invasão de terras Alcoa Explorar minério exige diálogo com a sociedade Amanco Crédito facilitado para clientes de baixa renda Anglo American Como crescer com baixo impacto ambiental Bradesco O desafio de promover a inclusão bancária BRF À espera da integração entre a Perdigão e a Sadia Bunge Alimentos O esforço para estimular uma agricultura sustentável
62 64 66 70 72 74 76 78 82 84 86 88 94 98
104
Coelce O lixo reciclável gera desconto na conta de luz CPFL Carro elétrico para reduzir a emissão de carbono EDP A meta é engajar os funcionários nas decisões Fibria A união das boas práticas da VCP e da Aracruz Itaú Unibanco A agenda sustentável do novo banco Masisa Uma fábrica que é modelo em ecoeficiência Natura Radar ligado para as sugestões dos stakeholders Philips Investimento na produção nacional de equipamentos médicos Promon Projeto de engenharia envolve educação e cultura Serasa Experian Novo serviço avalia o risco socioambiental Suzano Papel ecológico vira um diferencial competitivo Tetra Pak Longa vida para a reciclagem de embalagens
Negócios globais
Copenhague O que esperar da conferência sobre mudanças climáticas que acontece em dezembro Filantropia A África nunca recebeu tanta ajuda. E isso não é uma boa notícia
Brasil
Gestão pública Minas Gerais dá o exemplo com seu programa de compras sustentáveis
108
112 116
120 126
130 134
Entrevista
Estratégia Para o consultor americano Andrew Winston, ecoeficiência não significa custo, mas oportunidade
Negócios
Legislação Os cuidados para não ferir as novas leis sobre contaminação de terrenos Energia Em 2009, a eficiência energética deve movimentar 1 bilhão de reais no Brasil
Gestão
Fornecedores Grandes empresas exigem práticas sustentáveis em toda a cadeia Governança Os conselhos de administração das empresas estão mais eficientes
Livros
Ideias Alternativas para um mundo sustentável
Artigo
Remuneração O consultor Felipe Rebelli analisa a regra da CVM que obriga companhias a divulgar os valores pagos ao alto escalão
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OS PRIMEIROS DEZ ANOS
E
stávamos às portas do novo milênio quando a ideia de lançar um guia sobre responsabilidade social empresarial surgiu na redação de EXAME. No já longínquo ano 2000, esse era um conceito ainda incipiente no Brasil. Mas, para nós, ficava cada vez mais claro que o mundo estava em meio a uma mudança sem precedentes e que as empresas — quaisquer que fossem — teriam de mudar e ganhariam um papel muito mais amplo do que jamais haviam tido. Atingir o lucro continuaria — e continuará — a ser o núcleo de sua essência. Sem ele não há negócio, não há emprego, produto, inovação, motivação, progresso econômico e social. O lucro, desde que obtido de forma lícita e ética, jamais será uma vergonha. A questão, portanto, nunca foi uma contestação à sua busca. O que a sociedade e os empresários começavam a se perguntar naquela época é se a competência de ganhar dinheiro seria suficiente para a sobrevivência de uma empresa. Companhias responsáveis do ponto de vista social e ambiental seriam mais bem-sucedidas do que negócios com foco exclusivamente financeiro? Viveriam por mais tempo? Seriam mais atraentes a um mercado financeiro que começava a se sofisticar no país?
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| Carta ao leitor
Naquela virada de milênio, nossa ambição era tentar responder a essa questão. Queríamos também ser pioneiros, visionários. Queríamos criar uma publicação inovadora, que jogasse luzes num tema emergente. E assim nasceu o GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE, na época batizado de GUIA DE BOA CIDADANIA CORPORATIVA, a primeira publicação no Brasil a tratar em profundidade o tema da responsabilidade social e ambiental das empresas. Neste ano, o guia chega à sua décima edição. Sua continuidade ao longo desses anos e sua constante renovação — com mudanças de conceitos, cobertura e metodologia de avaliação das companhias participantes — são uma demonstração contundente de que sustentabilidade não é mais um dos tantos modismos empresariais que surgem e desaparecem, às vezes sem deixar rastros. Os registros desses dez anos de guia também formam um retrato da evolução e do aumento da importância da sustentabilidade para as empresas brasileiras. Passamos do terreno das boas intenções — e é com elas que tudo começa — para o da estratégia. Passamos dos departamentos de responsabilidade social e das campanhas de doações para o centro do negócio. Hoje, às vésperas da Cúpula de Copenhague, o grande evento mundial para a discussão sobre o futuro do planeta, é importante olhar para trás e ver quanto conseguimos caminhar. Sem esquecer quanto ainda deveremos fazer daqui por diante.
Cláudia Vassallo • Diretora de Redação 8 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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Fundador: VICTOR CIVITA
(1907-1990) Editor: Roberto Civita Presidente Executivo: Jairo Mendes Leal Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente),
Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretora de Mídia Digital: Fabiana Zanni Diretor de Planejamento e Controle: Auro Luís de Iasi Diretora-Geral de Publicidade: Thais Chede Soares Diretor-Geral de Publicidade Adjunto: Rogerio Gabriel Comprido Diretor de RH e Administração: Dimas Mietto Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa
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Diretor Editorial: José Roberto Guzzo Diretor-Superintendente: Alexandre Caldini
COORDENAÇÃO Cristiane Correa ••• EDIÇÃO Ana Luiza Herzog, Cristiane Mano e Ernesto Yoshida ••• REPORTAGEM Adriana Carvalho, Alexandre Moschella, Denise Carvalho, Denise Ramiro, Eduardo Pegurier, Elaine Cotta, Fabrício Marques, Felipe Carneiro, Gustavo Magaldi, João Werner Grando, José Alberto Gonçalves, Juliana Borges, Lia Vasconcelos, Luci Gomes, Luís Artur Nogueira, Maurício Oliveira, Robson Viturino, Roseli Loturco, Tatiana Gianini, Ursula Alonso Manso ••• ASSESSORIA TÉCNICA Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Equipe Mario Monzoni (coordenação), Deborah Hubner, Rachel Biderman, Roberta Simonetti, Érica Gallucci e Veridyana César ••• ARTE Editor de Arte Ricardo Godeguez Designers Alessandra Silveira, Alexa Castelbranco e Rita Ralha Nogueira ••• FOTOGRAFIA Editor de Fotografia Germano Lüders Equipe Iara Brezeguello, Aline Rocha, Viviane Andrade ••• REVISÃO Coordenação Ivana Traversim Revisores Eduardo Teixeira Gonzaga, Maurício José de Oliveira, Regina Pereira, Rita de Cássia del Monaco, Ruth Figueiredo ••• TRATAMENTO DE IMAGEM Coordenação Leandro Fonseca Equipe André Chagas, Carlos Pedretti, Julio Gomes
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GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009 (EAN 789-3614-055077) é uma publicação anual da Editora Abril S.A. Edições anteriores: venda exclusiva em bancas, ao preço da última edição em banca mais despesa de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída no país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. EXAME não admite publicidade redacional.
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EXAME Fórum
RUMO A COPENHAGUE
ISTOCK
EXAME reuniu especialistas para discutir o impacto que a conferência climática da ONU de Copenhague terá no mundo e as perspectivas de negócios para as empresas brasileiras. Assista aos vídeos e às entrevistas realizadas durante o evento.
Pesquisa Em sua décima edição, o GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE realizou neste ano o mais completo levantamento de responsabilidade corporativa já feito no Brasil. De um total de 210 companhias inscritas, 142 participantes responderam a todo o questionário, que serviu de base para a escolha das 20 empresas-modelo, incluindo a Empresa Sustentável do Ano, o Walmart. Veja os gráficos e as tabelas dos principais resultados da pesquisa.
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A ESCOLHA DAS MELHORES
Winston: o valor da ecoeficiência
Hipermercado do Walmart: a Empresa Sustentável do Ano
Livros
LUCRO NA BASE DA PIRÂMIDE O indiano C.K. Prahalad acaba de lançar uma versão atualizada de seu clássico A Riqueza na Base da Pirâmide — Como Erradicar a Pobreza com Lucro. Na nova versão da obra, ele revela que muitas das companhias que se deram bem nesse mercado construíram um “ecossistema” — parcerias com empresas de médio e pequeno portes, microempreendedores, ONGs e até órgãos de governo. Leia trecho do livro.
POR QUE SER VERDE Um dos consultores de gestão ambiental mais celebrados do mundo, o americano Andrew Winston, autor do livro O Verde Que Vale Ouro, ensina às grandes empresas o que elas devem fazer para se adequar à economia de baixo carbono. Ouça a entrevista com Winston, que mostra como o mundo dos negócios pode aproveitar as oportunidades criadas pelos novos desafios ambientais.
SE VOCÊ COMPROU ESTA EDIÇÃO NA BANCA, PARA LER AS MATÉRIAS NO SITE, DIGITE A PALAVRA-CHAVE
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A ESCOLHA DAS MELHORES Em sua décima edição, a publicação do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009 ocorre às vésperas da maior discussão sobre o tema na última década | CRISTIANE MANO
14 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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Guia EXAME de Sustentabilidade chega à décima edição num ano emblemático para a discussão do tema em todo o mundo. Em dezembro, representantes de 192 países — entre os quais Brasil, China e Estados Unidos — estarão em Copenhague, na Dinamarca, para decidir novos padrões de controle e redução das emissões de gases de efeito estufa. Trata-se do maior evento para tentar conter o aquecimento global desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997 (leia reportagem sobre Copenhague na pág. 94). A cerca de um mês do evento, a maioria dos especialistas acredita que o encontro servirá mais como palco de discussões do que para uma definição concreta sobre o que o mundo fará para resolver o problema do aquecimento global.
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Pesquisa | Apresentação
Mesmo assim, Copenhague será o marco de uma nova fase em que o esforço conjunto dos países será vital para conter as mudanças climáticas. As páginas seguintes mostram que, pelo menos no que se refere à atitude de um seleto grupo de empresas, o Brasil avança cada vez mais nesse sentido. Essas companhias procuram, cada uma à sua maneira, trabalhar para reduzir seu impacto ambiental — e assim garantir a própria longevidade. Pela segunda vez consecutiva, o anuário definiu um destaque entre essas 20 empresas-modelo. Neste ano, a Empresa Sustentável do Ano
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BROOKS KRAFT/CORBIS
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Reunião da ONU sobre mudanças climáticas em Nova York: preparação para Copenhague, um novo marco no combate wao aquecimento global
é o Walmart — pela contundência de suas ações de sustentabilidade e pela velocidade com que tem promovido uma mudança drástica. O Walmart está longe da perfeição, mas percebeu que o mundo mudou — e agora persegue ferozmente um novo caminho. A escolha de todas as empresas destacadas no GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE segue a metodologia elaborada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. O GVces é responsável também pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bo-
vespa, que reúne as empresas listadas na bolsa que se destacam por seu alinhamento estratégico com questões relacionadas à sustentabilidade. A pesquisa — da qual participaram 210 companhias de grande e médio porte de todo o país — considera as principais referências de indicadores de sustentabilidade empresarial no Brasil e no mundo. A análise teve quatro etapas. Na primeira, as empresas participantes preencheram um questionário, dividido em quatro partes. A primeira aborda questões sobre compromissos, transparência, conduta e governança corporativa.
As outras três tratam de aspectos econômico-financeiro, social e ambiental. As respostas foram analisadas estatisticamente, de modo a selecionar as empresas que tiveram bom desempenho em todas as partes do questionário. Com base nessa análise, uma lista de 32 companhias foi submetida à decisão dos seis membros do conselho deliberativo do anuário (veja quadro), que selecionaram as 20 empresas-modelo desta edição. Finalmente, por meio de um julgamento editorial da redação de EXAME, foi apontada a companhia de maior destaque, a Empresa Sustentável do Ano.
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 15
Pesquisa | Apresentação A seleção passo a passo Primeira etapa As empresas preencheram um questionário disponível no Portal EXAME (www.exame.com.br), dividido em quatro partes de mesmo peso. As informações prestadas referiam-se ao retrato da empresa no dia 31 de março de 2009. O questionário foi elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e segue abaixo.
PESO Dimensão geral O que é 22 questões sobre os compromissos, o alinhamento, a transparência, a conduta e a governança corporativa (estas últimas elaboradas com o apoio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
PESO Dimensão econômica
25
O que é 18 questões sobre a
estratégia, a gestão e o desempenho da empresa.
PESO Dimensão social O que é 37 questões sobre os compromissos e a responsabilidade perante todas as partes interessadas (stakeholders) — público interno, fornecedores, clientes e consumidores, comunidade, além das relações com governo e sociedade.
25
PESO Dimensão ambiental O que é 49 questões sobre a política, a gestão e o desempenho ambiental — inclusive iniciativas da empresa em relação às mudanças climáticas, à biodiversidade, à conservação e ao uso sustentável de recursos naturais, entre outras.
•Com base nessa seleção, chegou-se a
•No total, 210 empresas se inscreve-
A lista de 32 empresas foi apresentada ao conselho deliberativo. Considerando as pontuações e a checagem, o conselho definiu a lista das 20 empresas-modelo.
25
ram. Destas, passaram para a etapa seguinte somente as 141 que preencheram todas as perguntas do questionário. As demais foram desclassificadas.
Segunda etapa
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uma lista de 32 empresas — submetidas a uma checagem jornalística das informações preenchidas do questionário.
Terceira etapa Aprovação do conselho
Quarta etapa
Análise do desempenho
Escolha da Empresa Sustentável do Ano
Foi calculado o desempenho das empresas em cada dimensão. Passaram para a etapa seguinte as companhias que obtiveram os melhores desempenhos consolidados em todas as dimensões.
Com base nas 20 empresas-modelo e seguindo um critério jornalístico, a redação de EXAME selecionou a empresa de maior destaque, que recebe o prêmio de Empresa Sustentável do Ano.
O perfil dos conselheiros
Quem são os integrantes do conselho deliberativo desta edição do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE
Cristina Montenegro Coordenadora no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
Helio Mattar Fundador e diretor-presidente do Instituto Akatu, ONG que incentiva o consumo consciente
Heloisa Bedicks
Diretora executiva do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
Pedro Mader Meloni
Principal advisor para a América Latina e o Caribe do International Finance Corporation (IFC), ramo do setor privado do Banco Mundial
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Painéis solares na China: corrida para modificar a matriz energética do país
16 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
Rosa Maria Fischer Coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FIA
Sidnei Basile
Vice-presidente de relações institucionais do Grupo Abril
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Preenchimento do questionário
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Pesquisa | Resultados
O GRANDE TESTE DE RESISTÊNCIA O GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009, maior levantamento de responsabilidade corporativa do país, mostra que as iniciativas mais consistentes resistiram à crise | FELIPE CARNEIRO
Parque eólico com equipamentos da Siemens, na Alemanha: a empresa trabalha para que produtos verdes correspondam a 40% de suas vendas até 2012
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PAUL LANGROCK/ZENIT/LAIF
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crise que derrubou de maneira repentina o mercado financeiro global em setembro do ano passado obrigou grandes empresas em todo o mundo a repensar suas estratégias para 2009. Não foi diferente no que diz respeito aos planos relacionados à sustentabilidade. A turbulência colocou na berlinda os investimentos referentes ao tema — e, obedecendo a uma lógica darwinista, apenas as iniciativas mais consistentes e ligadas diretamente à estratégia dos negócios persistiram. Ganharam espaço, por exemplo, projetos voltados para a ecoeficiência. Das 142 participantes que responderam a todo o questionário do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009 (dentro de um universo total de 210 empresas inscritas), 78% possuem critérios ambientais para todas as etapas do processo produtivo. Segundo o levantamento realizado no ano passado, apenas 63% das inscritas tinham a mesma preocupação. Chama a atenção, por exemplo, a proporção de empresas que possuem uma política de controle no consumo de recursos como água e energia — 84%. “A pesquisa mostrou que a dimensão ambiental está cada vez mais inserida na estratégia das empresas”, diz Roberta Simonetti, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, responsável pela metodologia do questionário utilizado por EXAME. Quem ganha com essa política são companhias como a alemã Siemens, que desde 2007 vem investindo no desenvolvimento de produtos com apelo verde. Trata-se de uma categoria que com-
Pesquisa | Resultados
preende desde produtos com eficiência energética significativamente superior à média até equipamentos de geração de energia renovável e novas tecnologias de limpeza de água e ar. As vendas dessa linha de produtos corresponderam a 25% do faturamento total da companhia em 2008, que somou 19 bilhões de euros em todo o mundo. Mesmo em meio à crise, a categoria avançou — e cresceu 30% nos últimos 12 meses. A expectativa da Siemens é que esse mercado responda por 40% da receita até o fim de 2012. “A crise trouxe mais austeridade aos negócios”, diz Newton Duarte, diretor-geral do setor de energia da Siemens Brasil. “E isso favoreceu a venda de produtos e serviços que, ao mesmo tempo, economizam recursos energéticos e reduzem custos.” Em alguns casos, essa busca por ecoeficiência exigiu investimentos altíssimos. A IBM, por exemplo, gastou 1 bilhão de dólares para substituir 3 900 servidores no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Japão e na Austrália por 30 mainframes nos últimos dois anos. O projeto, batizado
A companhia divulga relatório de sustentabilidade?
A companhia tem comitê de sustentabilidade?
Não
70% 30%
30% Sim
Se sim, o comitê se reporta à presidência?
Sim
Não
EXAME
39% 25%
estabelecem metas de melhoria de desempenho e prestam contas das metas anteriormente assumidas são auditadas sob todos os aspectos por empresa ou instituição independente
A política de remuneração de todos os executivos está vinculada a metas e em que dimensões?
82%
18% Sim
70%
Não
Usina da EDP, no Espírito Santo: a remuneração de seus 2 400 funcionários agora tem uma parcela variável vinculada a metas sociais e ambientais
O perfil das 142 empresas que responderam a todas as questões do GUIA
Dimensão geral
Caso divulgue, esses relatórios:
40%
foram elaborados com a participação livre das partes interessadas e incorpora suas manifestações e avaliações
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EXAME - EEXA - 20 - 12/11/09
de Big Green, já resultou numa economia de energia de 80% para a empresa no mundo todo. Em 2008, o Brasil recebeu uma fatia de cerca de 140 milhões de dólares desse investimento para substituir 200 servidores por um mainframe no Centro de Tecnologia de Hortolândia, no interior de São Paulo. A troca resultou numa economia de energia de 1 200 quilowatts por ano, o equivalente ao consumo de uma cidade de 8 000 habitantes. Além disso, evitou a emissão de 5 000 toneladas de gás carbônico, correspondentes à circulação de 1 700 carros durante um ano. “Não interrompemos o programa porque o retorno do investimento é garantido”, afi rma Roberto Diniz, gerente de otimização de TI da IBM do Brasil. Uma frente mais recente, o cálculo das emissões de gases de efeito estufa, também avançou. Hoje, 47% das empresas participantes deste guia avaliam formalmente a emissão de CO2 gerada por suas atividades — no ano passado, 39% declararam ter a mesma preocupação. A
Os destaques da pesquisa
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Composite
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ALESILVEIRA
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NESTE ANO, A MAIORIA DAS EMPRESAS PESQUISADAS AMPLIOU CONSIDERAVELMENTE PROJETOS VOLTADOS PARA A ECOEFICIÊNCIA
20 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
85%
Econômico-financeiras Ambiental Social Nenhuma das anteriores
44% 43% 19%
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DIVULGAÇÃO
05/11/09 -
Há um sistema de gestão de riscos que considere aspectos socioambientais de curto, médio e longo prazo?
Existem metodologias que avaliam o impacto da incorporação de aspectos socioambientais nos resultados financeiros da empresa?
Tal sistema prevê a quantificação do risco
71% 70% 65%
Não
Não
55% 54%
21%
38%
Liquidez
Crédito
Mercado
Reputação
Sim
Legal
79% Operacional
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Dimensão econômica
44%
56%
Sim
EXAME
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EXAME - EEXA - 21 - 12/11/09
EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 21
GERMANO LÜDERS
Os destaques da pesquisa Dimensão ambiental A empresa possui uma política corporativa de responsabilidade ambiental?
91%
9% Sim
Não
A companhia divulga no relatório de sustentabilidade
78% 81 % 75 % 58%
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ALESILVEIRA
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Pesquisa | Resultados
22 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
Todas as etapas do processo produtivo
Que ações voluntárias a empresa adota para reduzir seu impacto ambiental?
70%
66% 46%
Desenvolvimento de novos produtos e serviços
Seleção de fornecedores
Logística
Metas de redução no consumo de energia
Metas de redução no consumo de água
Metas de redução das emissões diretas de gases de efeito estufa
AmBev conseguiu reduzir 35% de suas emissões de gás carbônico nos últimos cinco anos com a substituição de geradores de energia a diesel por biomassa (no caso, casca de coco, lascas de madeira e casca de arroz) em oito fábricas da empresa em todo o Brasil. Hoje, 34% da energia consumida pela AmBev vem dessa fonte renovável. As vantagens não são só ambientais. Em Viamão, no Rio Grande do Sul, o investimento de 5 milhões de reais na usina de biomassa permitiu que a empresa fosse autorizada pelo governo brasileiro e pela ONU a entrar no mercado de créditos de carbono. “Investir na redução dos impactos ambientais, como nas usinas de biomassa, também é investir na redução dos custos. Está tudo atrelado”, diz Sandro Bacili, diretor de marketing institucional da AmBev. Os resultados da pesquisa mostram também que o discurso verde não fica só nas campanhas de marketing. É cada vez mais corrente a vinculação da remuneração variável de executivos a metas ambientais e sociais, além dos habituais objetivos financeiros. A questão econô-
mica ainda é a mais comum, sendo o principal critério de avaliação para a distribuição de bônus em 85% das empresas. No entanto, resultados ambientais e sociais já são recompensados por 44% e 43% das companhias participantes da pesquisa, respectivamente. A subsidiária brasileira da companhia de energia EDP, por exemplo, define quanto cada um de seus 2 400 funcionários (e não apenas os integrantes da diretoria) recebe de participação nos lucros com base em três critérios de peso igual: o Ebitda (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a cotação das ações da empresa em relação ao Índice Bovespa e, a partir deste ano, as metas socioambientais da companhia definidas pela norma ISO 14001. A recompensa, segundo o novo critério, passa a valer em 2010. “Substituímos uma meta estritamente interna, que era a motivação e o clima organizacional, para passar a valorizar a redução do impacto que causamos no mundo em que vivemos”, diz Miguel Setas, vice-presidente da operação brasileira da empresa portuguesa.
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Fábrica de software da IBM, no interior de São Paulo: 1 bilhão de dólares para substituir mainframes por modelos mais eficientes em todo o mundo
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ALESILVEIRA
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MAIS EMPRESAS PASSARAM A FAZER O INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA E A IMPOR METAS PARA REDUZI-LAS Dimensão social A empresa utiliza critérios sociais(1) para qualificação, seleção e monitoramento de seus fornecedores de bens e serviços? Não
23%
77%
Sim
Se sim, esses critérios são:
62% 60% 55%
incluídos como cláusulas contratuais passíveis de monitoramento
divulgados previamente e de forma transparente nos processos de seleção
preveem medidas disciplinares e legais para situações de não enquadramento
A empresa possui compromisso formal com relação à valorização da diversidade? Sim Não
87% 13%
Esse compromisso está expresso por uma política corporativa específica? Não
43%
57%
Sim
EXAME
(1) Tais como: não utilização de trabalho infantil, forçado ou compulsório; combate à corrupção; incentivo à contratação de fornecedores locais
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 23
Pesquisa | Resultados
RICARDO CORREA
24 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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APENAS 39% DAS PARTICIPANTES DECLARAM ESTABELECER METAS CLARAS EM SEU RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
Os números mostram que a questão da sustentabilidade está evoluindo no Brasil, mas o caminho a percorrer ainda é longo. A pesquisa aponta algumas falhas que as empresas cometem — e uma delas está diretamente ligada à maneira como divulgam seus indicadores socioambientais. Se por um lado 70% das companhias que participaram da pesquisa afirmam publicar relatório de sustentabilidade, apenas 39% delas estabelecem metas de melhoria de desempenho e prestam contas dos compromissos assumidos no ano anterior. Outros 25% submetem o trabalho à auditoria de uma instituição independente. “Não se pode dizer que existe uma gestão voltada para a sustentabilidade se não existem metas e resultados apresentados de maneira transparente no relatório”, diz Ernesto Cavasin, gerente executivo de sustentabilidade da consultoria PricewaterhouseCoopers. Uma das empresas que buscam integrar metas relacionadas a critérios sustentáveis com o próprio negócio — e torna os resultados públicos em seu relatório de sustentabilidade — é a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool. A empresa publicou seus primeiros balanços sociais no Brasil nos anos 90 (quando
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Fábrica da Whirlpool, no interior de São Paulo: a empresa se prepara para começar a publicar seu relatório de sustentabilidade todos os anos a partir de 2009
o grupo ainda se chamava Brasmotor). O primeiro relatório de acordo com as normas GRI (Global Reporting Initiative), o único modelo aceito mundialmente para a publicação de relatórios de sustentabilidade, foi divulgado no biênio 2007 e 2008. Neste ano, a Whirlpool prepara a primeira edição anual — o que deve virar regra daqui para a frente. “O relatório de sustentabilidade é um instrumento de gestão para nós. Ele mostra o que avançou, mas também o que ainda precisa melhorar”, diz Paulo Vodianitskaia, gerente de sustentabilidade da Whirlpool. Outra medida ainda restrita a um pequeno grupo de empresas é o vínculo entre os comitês de responsabilidade e a presidência das empresas. Segundo a pesquisa, 70% das companhias ouvidas por EXAME possuem um comitê de sustentabilidade. Apenas 18% deles, no en-
tanto, têm relação formal com a presidência. É o caso da operação brasileira da americana 3M. Desde 2007, o comitê de sustentabilidade reúne, a cada dois meses, os diretores de cinco áreas da empresa. Hoje, os assuntos discutidos ainda chegam ao presidente Michael Vale de maneira informal. “Como há representantes de cada área, temos autonomia para levar adiante por nós mesmos as decisões tomadas pelo comitê”, diz Afonso Chaguri, diretor de manufatura e membro do comitê. “Para nós, já foi um grande passo envolver todas as áreas da companhia na discussão.” Para os especialistas, esse tipo de integração é crucial. “Quando não existe essa ligação, a empresa passa um sinal de que o assunto está afastado do objetivo de negócio da organização”, diz Gláucia Térreo, representante do GRI no Brasil.
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AGNALDO
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26 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
O GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE retrata
como o tema deixou de ser uma questão de filantropia e chegou ao centro da estratégia das empresas ao longo dos últimos dez anos | JOÃO WERNER GRANDO
GERMANO LÜDERS
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UM SALTO EM APENAS UMA DÉCADA
m 1992, quando instalou uma fábrica em Mucuri, no sul da Bahia, a fabricante de papel e celulose Suzano iniciou uma série de medidas para melhorar a vida de centenas de famílias pobres das redondezas. A empresa ergueu moradias, escolas e até um hospital. Sem metas nem acompanhamento, porém, a iniciativa se resumia a um conjunto de ações pontuais com poucos resultados. Ao longo de toda a década de 90, a Suzano não seguiu propriamente uma estratégia de sustentabilidade. “Fazíamos tudo e ao mesmo tempo não fazíamos nada”, diz Luiz Cornacchioni, diretor de relações institucionais da Suzano. O momento da virada aconteceu quando a empresa obteve, em 2004, a certificação de suas florestas de eucalipto pelo Forest Stewardship Council (FSC), principal órgão mundial na área de manejo florestal. A partir daí, com a ajuda do FSC, incentivou outros pontos da cadeia a aderir à certificação — como as 27 gráficas que compram seus produtos e 12,5% de seus fornecedores de eucalipto (o objetivo é incluir todos até 2012). O contato com o FSC também ajudou a definir um foco para os programas com as comunidades. Todos passaram a centrar na educação — do reforço pedagógico em escolas fundamentais à formação técnica nas fábricas. A guinada coincide com a estreia da Suzano, em 2004, entre as empresas de destaque do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE. Desde então esteve presente nos anos seguintes, numa marca de seis participações em dez edições. “Agora escolhemos os projetos que geram mais resultados para a comunidade e que estão mais próximos do negócio”, diz Cornacchioni.
01_CAD 22:41 05/11/09 ALESILVEIRA Composite EXAME - EEXA - 27 - 12/11/09 EXAME
Plantação de eucaliptos da Suzano: a partir de 2004, a atuação em responsabilidade corporativa se aproximou do negócio
Como o conceito de responsabilidade corporativa avançou no Brasil e no mundo
• Nasce o GUIA EXAME DE BOA CIDADANIA CORPORATIVA. O Instituto Ethos — criado dois anos antes com a associação de 11 empresas — divulga indicadores de responsabilidade social que servirão de base para a metodologia do guia nos anos seguintes.
• No mundo, começa a repercutir a ideia de triple bottom line, criada pelo sociólogo inglês John Elkington, em 1998, com a tese de que todo negócio deve observar seus impactos ambientais, sociais e econômicos. Em 1999, é lançado o Pacto Global, pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e as Metas do Milênio, em 2000, com compromissos de desenvolvimento sustentável.
EXAME
28 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
2001
2000
Evolução constante
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Especial | 10 anos
Empresas brasileiras começam a adotar a certificação ISO 14001, relacionada a práticas de gestão ambiental, criada pela mesma organização que já definia padrões para gestão da qualidade. O número de certificadas passa de cinco no primeiro ano para 478 empresas atualmente.
EXECUTIVOS E EMPRESÁRIOS BUSCAM MEIOS PARA TRANSFORMAR A SUSTENTABILIDADE EM OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS A trajetória da Suzano simboliza as mudanças pelas quais passaram todas as empresas que incluíram a sustentabilidade em sua estratégia de negócios. Desde que a primeira edição do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE foi publicada, em 2000 (ainda com o nome de GUIA EXAME DE BOA CIDADANIA CORPORATIVA), as companhias brasi-
FABIANO ACCORSI
Fábrica da Natura, em Cajamar: uso de refis e recolhimento de embalagens para neutralizar suas emissões de carbono
2004
O Carbon Disclosure Project, criado por 35 fundos internacionais, faz a primeira consulta a grandes empresas para conhecer suas ações sobre mudanças climáticas. O objetivo é realizar investimentos na área. Hoje, o CDP reúne 2 200 empresas — 60 delas no Brasil. Os investidores chegam a 385 (41 no Brasil), que controlam 57 trilhões de dólares em investimentos.
O GLOBO
Três empresas no país aderem ao Global Reporting Initiative (GRI), metodologia para a publicação de relatórios de sustentabilidade criada cinco anos antes, na Holanda. Uma versão chamada de G3, lançada em 2006, consolida-se como padrão global. Hoje, 78 empresas adotam a G3 no Brasil e 3 500 no mundo.
2003
2002
nesta década O indiano
C.K. Prahalad, professor da Universidade de Michigan, lança o livro A Riqueza na Base da Pirâmide — Como Erradicar a Pobreza com Lucro, que demonstra o potencial dos bilhões de consumidores de baixa renda. Desde então, vender para esse público tornou-se uma obsessão para as companhias de diversos setores.
EXAME
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ALESILVEIRA
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leiras atravessaram pelo menos três estágios. Primeiro foi a era da filantropia, com ênfase em investimentos sociais, como doações e voluntariado. Logo a conversa passou a envolver a ética e a transparência no relacionamento com as partes interessadas — os chamados stakeholders, que incluem de acionistas a consumidores. Mais recentemente, questões ambientais, que sempre foram marginais, afinal passaram a ser cada vez mais conectadas à estratégia. Hoje, o que se vê por toda parte são executivos e empresários discutindo como transformar a sustentabilidade em oportunidade de negócios. “Dez anos costuma ser um período quase irrelevante no que se re-
fere à alteração de tendências sociais e econômicas”, afirma Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. “Mas a última década foi um período de transição quase revolucionária para a responsabilidade socioambiental.” Uma releitura das dez edições do guia dá uma medida dessa mudança profunda a que Young se refere. Quando o anuário foi publicado pela primeira vez, a discussão sobre o tema apenas começava a ganhar eco em todo o mundo. Um dos marcos foi a publicação de um artigo, em 1998, em que o sociólogo inglês John Elkington lançava a ideia do triple bottom line, com a tese de que todo negócio deve observar seus impactos sociais, ambientais e econômicos (e não apenas os financeiros) — o conceito só começaria a repercutir dentro das empresas depois de alguns anos. Iniciativas como o Pacto Global e as Metas do Milênio, lançadas pela ONU em 1999 e 2000, respectivamente também contribuíram para o engajamento de governos e empresas com relação à sustentabilidade dali para a frente. No Brasil, esse movimento se refletiu em articulações que criaram entidades como o próprio Instituto Ethos, em 1998, com 11 empresas fundadoras. Desde então, o instituto expandiu sua rede para as atuais 1 300 companhias associadas. Existem diversos fatores que impulsionaram as grandes empresas a tratar da sustentabilidade como algo prioritário, como a crescente pressão de investidores, ONGs e consumidores pelo comportamento mais responsável das empresas. Mas nada aumentou o senso de urgência tanto quanto o alarme das mudanças cli-
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 29
A CRIAÇÃO DE PADRÕES COMO O GRI AJUDOU A PROPAGAR O CONCEITO E AS PRÁTICAS NAS COMPANHIAS locou em funcionamento um projeto piloto de logística reversa nas cidades de Recife e São Paulo em março de 2007. Na prática, está convencendo suas consultoras a executar uma tarefa complicada: coletar as milhares de embalagens da marca descartadas diariamente e encaminhá-las para cooperativas de reciclagem. Em 2008, o programa coletou cerca de 118 toneladas de resíduos. Com isso, no futuro, a ideia é que seja possível descontar, no cálculo das reduções de emissões da empresa, as toneladas de embalagens recicladas. A incorporação de processos verdes na Natura demonstra uma mudança de postura fundamental — medidas sustentáveis cada vez mais deixam de ser vistas como custo e passam a ser encaradas como oportunidade. É um raciocínio descrito em detalhes pelo americano Michael Porter, um dos maiores especialistas em estratégia empresarial da atualidade, num artigo publicado pela Harvard Business Review em dezembro de 2006. Segundo ele, o conceito de susten-
LERT/SIPA
máticas, que disparou com a publicação, em outubro de 2006, de um relatório elaborado pelo economista inglês Nicholas Stern, por encomenda do governo britânico. A análise do ex-economista-chefe do Banco Mundial, com mais de 700 páginas, demonstrava que o acúmulo de gás carbônico é a principal causa do aquecimento terrestre e traçava uma correlação direta entre as mudanças climáticas e a economia global. O texto apontava também que, se as emissões de CO2 continuassem a crescer no ritmo das últimas décadas, o planeta correria sérios riscos de sofrer tragédias ambientais de proporções bíblicas: secas, inundações, furacões e epidemias. No pior cenário traçado por Stern, até 2050 as perdas econômicas do aquecimento global poderiam custar até 20% do PIB mundial — ou 10 trilhões de dólares, num cálculo que leva em consideração os dados de 2009. Nem todas as empresas esperaram as previsões apocalípticas do relatório Stern para rever sua estratégia. É o caso da Natura, que esteve presente como destaque em todas as edições deste guia (exceto em 2006). A empresa adotou o uso de refis, por exemplo, ainda na década de 80. Hoje, cerca de 30% dos quase 800 produtos da Natura têm refil. Essas embalagens consomem, em média, 30% menos matéria-prima que as regulares e responderam por mais de 20% do total de itens vendidos pela empresa no ano passado. Recentemente, a companhia vem fazendo um esforço para se tornar “carbono neutro”. Em vez de apenas compensar suas emissões com o plantio de árvores, a Natura co-
na cidade de Kyoto, no Japão, o protocolo entra em vigor com a meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos países ricos em 5% até 2012. O protocolo, que teve adesão de 180 países, cria o mercado de créditos de carbono, responsável por movimentar 120 bilhões de dólares em 2008.
• No Brasil, a Bovespa lança o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), inspirado na metodologia do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, criado em 1999, em Nova York. Anualmente, 40 empresas entre as que possuem as 150 ações mais negociadas na bolsa são escolhidas para compor o ISE.
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30 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
Sob encomenda do governo britânico, o economista
Nicholas Stern publica um relatório de mais de 700 páginas sobre mudanças climáticas. Ex-economista-chefe do Banco Mundial, Stern propõe um corte pela metade das emissões globais de CO2, a um custo anual de 2% do PIB mundial (cerca de 1 trilhão de dólares) para o desenvolvimento de matrizes energéticas limpas.
FOTOS: AFP
• Após ser criado em 1997,
2006
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Evolução constante
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Especial | 10 anos
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A mudança vai além do nome: o guia ganha uma nova metodologia, desenvolvida pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
• O guru Michael Porter é premiado por artigo que propõe a integração da sustentabilidade à estratégia das empresas, como fez a Toyota com o Prius, carro híbrido lançado em 1997.
Empresas brasileiras aderem ao Protocolo de Gases do Efeito Estufa (GHG Protocol), programa em vigor no mundo desde 2001 que estabelece uma metodologia para medição de emissões. Após treinamentos, ao longo de um ano, 22 companhias nacionais publicam seus inventários.
2009
GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE.
2008
2007
• O anuário passa a se chamar
Em dezembro, representantes de 192 empresas vão se reunir em Copenhague, a Dinamarca, para decidir um novo pacto para conter as mudanças climáticas. Será o maior encontro sobre o tema desde o Protocolo de Kyoto.
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Turbina em fábrica da General Electric na França: com o aquecimento global, os produtos verdes ganharam espaço no portfólio da empresa
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 31 N
Fábrica no interior de São Paulo: com 226 projetos reconhecidos pela ONU, o Brasil é o terceiro no ranking de iniciativas para gerar créditos de carbono
32 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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tabilidade deve ser visto como uma oportunidade de negócio e ser levado ao centro da estratégia das companhias. Empresas como a japonesa Toyota foram uma das primeiras a ocupar esse novo espaço. O modelo Prius, lançado em 1997, com motor que funciona com um sistema híbrido de eletricidade e gasolina, conseguiu não apenas diminuir a emissão de gases tóxicos como também garantir à montadora uma enorme vantagem competitiva. Outras empresas anunciaram estratégias semelhantes nos anos seguintes, como a americana GE e a alemã Siemens. A subsidiária brasileira da Philips também anunciou que pre-
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Especial | 10 anos
tende dobrar, até 2012, para 30% a participação nas vendas de seus produtos chamados verdes — com características como baixo consumo de energia, peso reduzido e sem componentes tóxicos em sua estrutura. Atualmente, 25% das vendas da Philips no país já vêm de produtos verdes. “Estamos próximos de atingir a meta”, afirma Daurio Speranzini Jr., vice-presidente de cuidados com a saúde e sustentabilidade da Philips para a América Latina. Tão importante quanto desenvolver estratégias sustentáveis tem sido encontrar maneiras de padronizá-las. “Como se trata de um assunto em constante evo-
lução, é importante tanto para as empresas como para as partes envolvidas ter uma referência de avaliação da estratégia de sustentabilidade das companhias”, afirma Roberta Simonetti, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas. Nenhuma outra ferramenta cumpriu esse papel de maneira tão eficiente como a criada pela Global Reporting Initiative (GRI), organização com sede na Holanda que congrega mais de 800 empresas em todo o mundo e desenvolve padrões para a elaboração de relatórios de sustentabilidade. Trata-se hoje do único formato mundialmente aceito para a
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MARCOS PERONI/KINO
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NA SUÉCIA E NA DINAMARCA, EMPRESAS COMEÇAM A SER OBRIGADAS A PUBLICAR SUAS AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE publicação de balanços na área. Fundada em 1997, a GRI lançou suas primeiras diretrizes para relatórios quatro anos mais tarde. “Nos primeiros relatórios as empresas falavam quase só sobre suas fundações e trabalhos sociais. Hoje, a tendência é que elas comecem a tocar em temas relacionados ao impacto de seu negócio”, afirma Glaucia Terreo, coordenadora das atividades da GRI no Brasil. Em 2008, 78 empresas brasileiras publicaram relatórios baseados na GRI. No mundo já são 3 500. Para a Serasa, a adoção das diretrizes da GRI é considerada um marco na estruturação de sua área de responsabilidade social corporativa. Há dez anos, as primeiras iniciativas da empresa na área se concentravam, sobretudo, em ações de voluntariado e de inclusão de deficientes físicos na empresa. Em 2005, ao aderir às diretrizes da GRI, a Serasa começou a refletir sobre sua visão e suas
Sustentabilidade em números
Indicadores que mostram o papel do Brasil na discussão global sobre o tema
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empresas brasileiras possuem a certificação SA 8000, referente a boas condições de trabalho. O Brasil é o quarto no mundo em empresas com a certificação, atrás de Itália, Índia e China.
226 417 projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), iniciativas que podem gerar créditos de carbono para ser vendidos no mercado internacional, estão em andamento no país, que é o terceiro no mundo em número de projetos, atrás de China e Índia.
empresas brasileiras são signatárias do Pacto Global, o que coloca o país na quarta posição mundial, atrás de França, Espanha e México, entre os que aderiram a compromissos de direitos humanos, meio ambiente e combate à corrupção, propostos pela ONU em 1999.
políticas para sustentabilidade. Após debates com funcionários e outras partes interessadas, o foco de atuação foi redefinido. Na relação com o público externo, as ações passaram a ser mais próximas da área de atuação da empresa. Assim, a Serasa começou a concentrar seu voluntariado na educação financeira, com um programa de aulas sobre o assunto em escolas públicas, por exemplo. “Ao darmos foco à responsabilidade social, aproximamos as ações de nosso negócio e daquilo que sabemos fazer melhor”, afirma Tomás Carmona, gerente de sustentabilidade da Serasa. Segundo especialistas, deve se tornar cada vez mais frequente que empresas envolvam seus stakeholders na elaboração da estratégia de sustentabilidade. A Natura, por exemplo, realiza dois encontros anuais com stakeholders, desde 2007, para falar do assunto e do relatório anual. No ano passado, aumentou a frequência das discussões ao criar um portal que permite a contribuição do público pela internet, de forma semelhante ao que é feito na enciclopédia virtual Wikipédia. Nos chamados wikishops, a empresa faz debates com grupos de partes interessadas previamente cadastradas. Em dezembro deste ano, a Natura planeja iniciar uma grande discussão nesses moldes, aberta a todo o público, para falar do seu próximo relatório de sustentabilidade — a ideia é identificar assuntos que os stakeholders gostariam que a empresa abordasse em seu relatório anual. Em alguns países mais avançados nessa questão, a transparência começa a virar lei. Na Dinamarca, a partir de 2010, as 1 100 maiores empresas do país terão de incluir em seus relatórios financeiros as ações de responsabilidade corporativa. Caso não tenham nenhuma, devem deixar isso claro. Na Suécia, desde o ano passado, todas as empresas estatais são obrigadas a publicar relatórios usando a metodologia da GRI. “De forma forçada ou mais espontânea, a sustentabilidade cada vez mais integra o negócio das empresas”, afirma Rosa Maria Fischer, professora da USP e membro do conselho consultivo do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE. “O ideal seria que daqui a dez anos não precisássemos mais desse tipo de diretriz, mas isso dependerá da nova geração de executivos que estará à frente das empresas.”
Fontes: ONU e SA 8000
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MODELO Walmart (Empresa Sustentável Wal-Mart t (Empresa Sustentáveldo doAno) Ano) AES Brasil • Alcoa • Amanco • Anglo American • Alcoa••Bradesco AES Amanco• Brasil BRF • Bunge•Alimentos • Coelce • CPFL • EDP • • Bunge Alimentos Anglo Bradesco American Fibria • Itaú Unibanco • Masisa • Natura • Philips • Promon • • EDPExperian • Itaú Unibanco • Masisa Coelce • CPFLSerasa • Suzano • Tetra Pak
Natura • BRF • Phillips • Promon • Serasa Experian Suzano • Tetra Pak • Votorantim
A VITÓRIA DO PRAGMATISMO Como a subsidiária brasileira do Walmart se tornou um exemplo para a matriz ao perceber que o aquecimento global é uma ameaça à perpetuação do próprio negócio | ANA LUIZA HERZOG
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a primeira semana de outubro, um auditório da Fundação Getulio Vargas de São Paulo sediou um evento que seria impensável tempos atrás. Para discutir o avanço do agronegócio na Amazônia, foram convidados participantes que historicamente sempre tiveram posições antagônicas. De um lado estavam defensores do agronegócio, como Blairo Maggi, governador de Mato Grosso e um dos maiores produtores de soja do país, e empresários dos maiores frigoríficos brasileiros, como Marcos Molina, presidente do Marfrig, e José Batista Júnior, ex-presidente e conselheiro da JBS-Friboi, hoje a maior empresa de carne do planeta. Do outro, as principais lideranças de uma das ONGs mais temidas pelo setor privado — o Greenpeace —, além de representantes de dezenas de outras entidades ambientalistas. A despeito da rivalidade dos dois grupos, naquele dia não houve bate-boca. Surpreendentemente, os dois lados chegaram a um acordo. Em meio a discursos quentes, mas civilizados, os frigoríficos selaram com o Greenpeace o compromisso de seguir uma série de critérios mínimos para operar na Amazônia. O objetivo é colocar ordem na atividade pecuária, hoje considerada a maior responsável pelo desmatamento na região. Sentada na plateia da FGV estava a paulista Daniela Di Fiori, vice-presidente de sustentabilidade do Walmart, terceira maior rede de supermercados do país. Ela acompanhava a movimentação no palco com interesse redobrado — e uma ponta de orgulho. Foi graças a um movimento encabeçado pelo Walmart meses atrás que aquele acordo seria finalmente fechado. Tudo começou no dia 1o de junho, quando o Greenpeace divulgou para o mundo todo um documento intitulado A
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Farra do Boi na Amazônia. O extenso relatório, resultado de três anos de investigações, trata do papel da pecuária no desmatamento ilegal da região, revela como a atividade é muitas vezes financiada pelo próprio governo brasileiro — por meio de entidades como o BNDES — e mostra, em detalhes, seu vínculo direto com o produto final de mais de uma dezena de empresas globais, como Adidas, Nike, Kraft, Unilever, Carrefour e o próprio Walmart. Logo que o relatório veio à tona, o cubano Héctor Núñez, presidente da subsidiária brasileira do Walmart, e Daniela reagiram. “Eles nos procuraram para dizer que não queriam ser parte do problema e que fariam tudo para envolver todo o setor na causa”, diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace no Brasil. Desde então, o varejista se dedica a convencer os concorrentes a fazer pressão sobre os frigoríficos. Um dos resultados
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Núñez, em um dos hipermercados verdes do Walmart:
“Não vamos mudar o mundo porque somos legais, mas porque essa é a estratégia mais inteligente”
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Empresa Sustentável do Ano | Walmart Algumas das
1 1. Janelas de vidro cobertas com película especial privilegiam a luz natural e inibem a entrada de calor 2. Claraboias no teto permitem a entrada de luz e as lâmpadas usam sensores para regular, de acordo com a claridade do dia, o volume de eletricidade necessário 3. Na entrada do estacionamento, um poste movido a energia solar ilumina a entrada dos carros 4. Refrigeradores usam LEDs, em vez de lâmpadas fluorescentes, e, por meio de sensores, permanecem ligados apenas na presença de consumidores 5. Jardins externos, regados com água coletada da chuva, inibem a concentração de calor no prédio
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Por dentro de uma loja ecoeficiente
desse esforço foi o embargo, por cerca de 13 dias, dos maiores varejistas do país — Carrefour, Pão de Açúcar e o próprio Walmart — a qualquer carne proveniente do Pará, um dos focos da atividade ilegal. Além disso, hoje a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), da qual o Walmart é associado, está à frente de um programa para criar uma espécie de certificação para a carne bovina do país. O plano é que o tal selo, a ser lançado em meados de 2010, seja conquistado pelos frigoríficos depois de muitas auditorias e dê aos supermercados a certeza de que a carne fornecida por eles nada tem a ver com o desmatamento da Amazônia. “O Walmart conseguiu mobilizar o setor e fez com que esse movimento se desencadeasse num ritmo surpreendente”, diz Furtado. O protagonismo do Walmart nessa questão é um dos motivos que levaram o GUIA EXAME DE SUSTENTABILI38 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
DADE a elegê-lo, entre as 20 empresas-modelo, como a Empresa Sustentável do Ano. Hoje a empresa conta com iniciativas que vão da construção de lojas verdes a programas de conscientização de funcionários (veja quadro na pág. 40). Em 2008, a área de sustentabilidade da empresa investiu 17 milhões de reais — outros aportes foram feitos também por outros departamentos, como comercial, construções e recursos humanos. Enquanto companhias como Natura e Promon, veteranas no guia, carregam a bandeira ambiental desde a fundação, há mais de 30 anos, o Walmart só acordou para esse assunto em 2005. Naquele ano, Lee Scott, então presidente mundial da rede (hoje à frente do conselho de administração), declarou publicamente sua angústia em relação ao futuro do planeta e decidiu que o maior varejista do mundo iria começar a agir — naquela
iniciativas adotadas para diminuir o consumo de energia e água nos hipermercados do Walmart
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EM JULHO, O WALMART REUNIU MAIS DE 300 FORNECEDORES EM SÃO PAULO PARA QUE ELES ASSINASSEM UM PACTO PELA SUSTENTABILIDADE
época o Walmart era duramente criticado não apenas pela aparente falta de preocupação com o meio ambiente mas sobretudo pelas práticas draconianas com fornecedores e pelo descaso com as condições de trabalho de seus funcionários. A declaração de Scott foi o ponto zero da saga verde da empresa, ancorada em três metas: reduzir a zero a geração de lixo em sua operação, ter 100% do suprimento de energia vindo de fontes renováveis e só vender produtos que não ameacem o meio ambiente. “O Walmart é uma daquelas poucas empresas para quem a ficha de que o mundo mudou caiu”, afirma Furtado, do Greenpeace. Vale dizer que, mesmo depois dessa guinada, a empresa continua recebendo algumas críticas nos Estados Unidos, sobretudo por causa de suas políticas de recursos humanos. Em meados do ano passado, por exemplo, o The Wall Street Journal NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 39
Empresa Sustentável do Ano | Walmart
PARA CADA SACOLA PLÁSTICA QUE O CLIENTE DEIXA DE USAR, A REDE DÁ DESCONTO DE 3 CENTAVOS
Uma estratégia Desenvolvimento de pequenos fornecedores Mais de 4 000 produtores rurais — em sua maioria com faturamento mensal de até 9 000 reais — fornecem hoje diretamente para o Walmart. Eles têm apoio de um agrônomo da empresa e, livres dos intermediários, passaram a ganhar mais pelas mercadorias que vendem para a rede
Menos sacolinhas plásticas Para diminuir em 50% o uso da embalagem até 2013, a empresa dá um desconto de 3 centavos para cada sacola que o cliente deixa de usar na hora da compra. Hoje o programa está nas regiões Sul e Nordeste e já distribuiu 360 000 reais em descontos — o que evitou o uso de 12 milhões de sacolas
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revelou que executivos da rede estavam se reunindo com subordinados para “adverti-los” sobre os perigos de uma provável vitória do candidato democrata Barack Obama nas eleições presidenciais. A questão era particularmente delicada porque os democratas são favoráveis a leis que facilitariam uma possível filiação de empregados a sindicatos — e o Walmart detesta esse tipo de agremiação. Passados quatro anos desde que Scott teve seu momento de iluminação, fica claro que a operação brasileira abraçou as premissas da matriz. “Todas as nossas operações no mundo estão caminhando, mas os ritmos são diferentes”, afirma Núñez. “Progredimos rápido e, por isso, já estamos subindo a barra das exigências.” Das 388 lojas que a empresa tem no Brasil, 140 se encontram num estágio de gestão do lixo avançado. Isso significa que, além de destinar para reciclagem resíduos como papéis, vidros, plásticos e metais, esses pontos de venda deixaram de mandar para os aterros o lixo orgânico — ele é enviado a fazendas que transformam o resíduo em ração para os animais ou para usinas de compostagem que o transformam em adubo. O Walmart também colocou em prática programas de redução de consumo de energia e água. Em dezembro de 2008, inaugurou, no
bairro de Campinho, na zona norte do Rio de Janeiro, seu primeiro hipermercado “ecoeficiente”. Nele, e em outros dois abertos desde então, foram instaladas mais de 60 iniciativas verdes que permitem uma economia média de 25% de energia e 40% de água em relação aos hipermercados tradicionais da rede. No pacote de medidas estão, por exemplo, o uso de claraboias no teto e muitas janelas de vidro para permitir a entrada de luz natural — todas cobertas com uma película especial que inibe a entrada de calor —, iluminação à base de luz solar, lâmpadas fluorescentes supereficientes e LEDs e até vasos sanitários que funcionam a vácuo e dispensam o uso de água. Uma das iniciativas de maior fôlego dentro das lojas diz respeito à redução do consumo das polêmicas sacolas plásticas. Para diminuir em 50% até 2013 o uso das sacolinhas, a rede iniciou um programa em suas lojas do Nordeste no ano passado: um desconto de 3 centavos para cada sacolinha que o consumidor deixar de usar na hora da compra (o cálculo médio é de uma sacola para cada cinco itens adquiridos). Trata-se de uma solução muito diferente da encontrada por varejistas no exterior. Na China, as redes foram simplesmente proibidas pelo governo de distribuir as sa40 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
Apoio ao social O braço para investimento social da empresa, o Instituto Walmart, investiu 7,5 milhões de reais em 2008 para apoiar 40 projetos nas áreas de desenvolvimento local, cultura e cidadania, geração de renda e profissionalização de jovens em 17 estados do país
Destino certo para o lixo Das 388 lojas do Walmart no país, 140 já encaminham diferentes tipos de resíduos para reciclagem e transformam lixo orgânico em adubo e ração para animais
em dez frentes
As principais ações de sustentabilidade do Walmart
Conscientização de funcionários
DIVULGAÇÃO
Em dezembro de 2008 a rede inaugurou a primeira loja com esse modelo, que prevê economia de 25% de energia e 40% de água em relação aos hipermercados tradicionais. Hoje existem três lojas ecoeficientes e mais duas serão inauguradas até o final do ano
Exemplo para o setor Em junho deste ano o Walmart reuniu 300 fornecedores para selar um pacto pela sustentabilidade. Presidentes de 20 grandes empresas, como Unilever e Nestlé, assinaram, na presença de dezenas de ONGs, uma série de compromissos, como o de não comercializar produtos ligados ao desmatamento ilegal. A empresa também encabeçou recentemente um movimento para que o setor supermercadista se recusasse a comprar carne procedente de áreas desmatadas da Amazônia
Incentivo aos produtos verdes A empresa incentiva o desenvolvimento de produtos feitos com resíduos. O sabão em barra TopMax, por exemplo, é feito com óleo descartado pelas próprias lojas. A rede também conseguiu fazer com que os fornecedores das marcas próprias fizessem reduções nas embalagens de mais de 20 itens, economizando matéria-prima
Preservação da Amazônia Em uma parceria com a ONG Conservation International, a empresa investirá 2,5 milhões de reais até 2013 para elaborar um plano de manejo sustentável para a Floresta Nacional do Amapá — área de 412 000 hectares que, se preservada, evitará a emissão de 458 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera
Serviços para a população Algumas lojas Maxxi e Todo Dia — bandeiras voltadas para as classes populares — oferecem aos clientes uma galeria de serviços: banco, emissão de documentos, acesso à internet, consultas médicas, palestras e cursos profissionalizantes
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Construção de lojas verdes
Com a ajuda do Instituto Akatu, cerca de 72 000 funcionários do Walmart já fizeram um curso sobre consumo consciente e sustentabilidade. Agora, os funcionários são incentivados a criar um projeto pessoal para a sustentabilidade e torná-lo público na intranet. Cerca de 42 000 empregados participam do programa, inclusive o presidente, que escolheu como bandeira o consumo racional da água
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Daniela, vice-presidente de sustentabilidade (à frente), e sua equipe: empenho para que
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o setor varejista se posicionasse contra o desmatamento na Amazônia arrancou elogios até do Greenpeace
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Empresa Sustentável do Ano | Walmart
colas. Na Inglaterra e na Itália, a opção para coibir o uso foi cobrar por elas. “Achamos que, para sair da inércia e mudar de comportamento, o consumidor precisava de um empurrãozinho”, diz Christiane Urioste, diretora de sustentabilidade do Walmart. O programa já foi estendido para a Região Sul e começa ainda neste ano a ser implantado no Sudeste. Como resultado até agora, o Walmart distribuiu 360 000 reais em descontos e deixou de usar 12 milhões de sacolinhas plásticas. A rede ainda incentiva o uso de sacolas retornáveis de pano e promove campanhas institucionais que são veiculadas nas TVs das lojas. Para estimular todos os funcionários a participar dos projetos, foi preciso promover uma mudança cultural. Nos últimos dois anos, com a ajuda do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, 72 000 empregados passaram por treinamentos — a rede tem hoje 77 000 profissionais. “A ideia foi sensibilizá-los individualmente. Só depois de pensar no impacto que as questões relacionadas à sustentabilidade tem sobre a própria vida é que as pessoas vão pensar na empresa”, afirma Hélio Mattar, presidente do Akatu. Com o mesmo propósito, os funcionários também passaram a ser incentivados a ter o que o Walmart batizou de PPS — ou Projeto Pessoal de Sustentabilidade — e torná-lo público na intranet da empresa. Hoje, cerca de 42 000 pessoas têm um PPS, inclusive o presidente. Núñez escolheu como bandeira o consumo racional de água e se empolgou de tal maneira com a ideia que, no
início de 2008, vestiu uma fantasia azul para gravar um vídeo que foi exibido para cerca de 3 000 pessoas durante um evento da empresa. “Eu era o Capitão Água”, diz ele, em tom de brincadeira. A participação de Núñez nesse processo de mudança, porém, vai muito além do discurso — e da cara-de-pau para vestir uma fantasia. Em agosto deste ano, o executivo se ausentou por quatro dias da sede da empresa, em Osasco, na Grande São Paulo, para levar um grupo de executivos internacionais da rede até Roraima. Entre eles estava o americano Doug McMillan, responsável por todas as operações internacionais do Walmart. O objetivo era mostrar ao pessoal a Floresta Nacional do Amapá (Flona), uma área de 412 000 hectares que a empresa ajudará a conservar pelos próximos cinco anos, em parceria com a ONG ambientalista americana Conservation International. “O desmatamento na Amazônia é o principal emissor de gases de efeito estufa do país”, diz Núñez. “Por isso, entendemos que preservar as florestas é uma das melhores maneiras de combater as mudanças climáticas.” O presidente também se encarrega diretamente de pressionar — ou “convencer”, como ele insiste em dizer — os fornecedores da rede a desenvolver produtos mais verdes. De 2005 para cá, muito já foi feito em relação às marcas próprias, área na qual a empresa tem total ingerência. Um exemplo é que mais de 20 itens já tiveram suas embalagens reduzidas, gerando economia de dinheiro e de recursos naturais. Em julho, a rede reuniu mais de 300 fornecedores em São Paulo para que eles assinassem um pacto pela sustentabilidade. Na prática, isso significa que eles terão prazos para cumprir uma série de compromissos. Os fabricantes de produtos de limpeza, por exemplo, terão até 2011 para diminuir em 70% o fosfato nas fórmulas de seus produtos. Banida em vários países, a substância é responsável por provocar nos rios a chamada eutrofização — proliferação exagerada de algas, que consomem o oxigênio e provocam a morte dos peixes. “Não somos pretensiosos ao acreditar que podemos mudar o mundo. Nós podemos mesmo”, diz Núñez. “E não vamos fazer isso porque somos legais, mas simplesmente porque essa é a estratégia de negócios mais inteligente.”
Check-list da sustentabilidade
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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CERCA DE 42 000 FUNCIONÁRIOS, INCLUSIVE O PRESIDENTE, TÊM UM PROJETO PESSOAL DE SUSTENTABILIDADE
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados
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Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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Empresa-modelo | AES Brasil
UMA SAÍDA NEGOCIADA Para resolver o problema gerado pela invasão de pescadores em uma de suas áreas, a AES optou por uma saída diplomática, que vai incluir os invasores nos programas sociais da companhia | ELAINE COTTA
afirma Britaldo Soares, presidente da AES Brasil. O próximo passo será reflorestar o trecho desmatado para evitar novas invasões e incluir os pescadores e seus filhos nos programas sociais e de educação ambiental da empresa. Entre eles está a Casa de Cultura e Cidadania, o principal projeto de responsabilidade social da AES Brasil. Lançado em março de 2008, o programa conta com uma verba de 14 milhões de reais neste ano. Atende 4 500 crianças e adolescentes em cinco cidades paulistas, além de possuir uma unidade móvel, que visita locais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano. A Casa de Cultura e Cidadania unifica as diversas ações de responsabilidade social da AES Brasil. Mas cada empresa do grupo desenvolve programas próprios. Na AES Eletropaulo, por exemplo, o foco são os projetos de eficiência energética, nos quais devem ser investidos 60 milhões de reais neste ano. O valor inclui a substituição de lâmpadas em escolas e vias públicas por modelos mais econômicos e a regularização de 320 000 instalações elétricas, beneficiando 1,3 milhão de pessoas na Grande São Paulo. A troca dos chamados “gatos” por redes mais seguras tem como objetivo reduzir a perda de energia, mas tem também um cunho social. “Pode parecer uma coisa boba, mas, para muitas pessoas, ter uma conta no próprio nome, comprovando onde moram, abre as portas para a obtenção de crédito e até para conseguir um trabalho”, diz Soares.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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o início da década, um grupo de pescadores se instalou no município paulista de Botucatu, às margens do rio Tietê, dentro de uma área de concessão da AES Tietê, uma das sete empresas do grupo AES Brasil, que atua no setor de energia. Os pescadores montaram 70 barracos no bairro de Porto Said e passaram a viver da pesca de tilápias. Tornaram-se um problema para a cidade, que tinha Porto Said como um de seus pontos turísticos, e também para a AES, responsável por cuidar do local, que fica numa área de preservação permanente. Para resolver o impasse, a AES optou por um caminho longo e trabalhoso — que em breve terá um desfecho definitivo. Em vez de entrar com um pedido de reintegração de posse da área, articulou um plano com a prefeitura de Botucatu, ONGs e Ministério Público e garantiu que os pescadores tenham aonde ir quando desocuparem a área. Com o apoio da empresa, será construída na cidade uma vila de pescadores. Serão 70 casas de alvenaria com água encanada e tratamento de esgoto, beneficiando mais de 300 pessoas. O projeto prevê a instalação de câmaras frigoríficas, galpão para limpeza do pescado, acesso a postos de saúde e escola para as crianças da comunidade. A área ainda está em processo de desapropriação, mas a meta é que tudo esteja pronto em 2010. “Para preservar aquela área, tivemos de olhar o problema de todos os ângulos, e o mais urgente nesse caso era o social”,
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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o próximo passo é incluir os pescadores que invadiram terreno da companhia em um programa de educação GERMANO LÜDERS
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Britaldo Soares, presidente da AES Brasil:
Empresa-modelo | Alcoa
UM DESAFIO PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS A Alcoa, que inaugurou em setembro uma mina de bauxita no interior do Pará, aprende que a gestão sustentável do negócio depende do diálogo com a sociedade pelo tempo que durar o empreendimento — ou até mais | ALEXANDRE MOSCHELLA
para criar a Escola Juruti de Sustentabilidade. A ideia dos cursos, que começaram em abril, é informar membros de ONGs, professores e funcionários governamentais sobre os desafios da convivência com a exploração do minério e ensiná-los a conceber e a buscar apoio para projetos que beneficiem a região e permitam seu desenvolvimento sem depender da companhia. Apesar dos cuidados da Alcoa, nem tudo saiu como o previsto. No início de setembro, poucos dias antes da inauguração da mina, o Ministério Público do Pará começou a apurar uma possível contaminação do lençol freático na área das comunidades de Jabuti e Santo Hilário, no município de Juruti. Segundo os moradores da região, a construção de uma rodovia e de uma ferrovia pela Alcoa contaminou os igarapés e tornou a água imprópria para consumo. A empresa admite que as obras deixaram as águas turvas, mas questiona o alcance da contaminação e comprometeuse a fazer a recomposição do solo e o reflorestamento das margens dos igarapés, entre outras medidas de proteção ambiental. Esse incidente deixa claro que os desafios da gestão sustentável de Juruti não terminam com a simples inauguração da mina, como reconhece Franklin Feder, presidente da Alcoa para a América Latina e o Caribe. “O diálogo precisa continuar durante os 50, 70 anos em que vamos explorar a mina”, afirma Feder.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 48 - 12/11/09
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ocalizado no oeste do Pará, Juruti não passava de um vilarejo perdido na selva Amazônica até pouco tempo atrás. A situação do município de 34 000 habitantes começou a mudar em 2005, quando a subsidiária brasileira da Alcoa iniciou a construção de um de seus projetos mais ambiciosos: uma mina para explorar as reservas de bauxita da região. Além da alta qualidade do minério (utilizado como matéria-prima para a produção de alumínio), Juruti impressiona pelo tamanho. São 700 milhões de toneladas métricas de bauxita — e a previsão inicial é explorar 2,6 milhões de toneladas por ano. Ao planejar a obra, que demorou cerca de três anos para ser erguida e exigiu investimentos de 3 bilhões de reais, a Alcoa procurou envolver a comunidade da área. Uma das ações foi a criação, em 2007, do Conselho Juruti Sustentável, que reúne três representantes do poder público, três do setor empresarial e nove da sociedade civil. As discussões nessa associação resultaram na elaboração de um plano que prevê investimentos de 50 milhões de reais em ações como conservação da flora e da fauna, educação ambiental, serviços de saúde, segurança pública, valorização e resgate da cultura local e obras de infraestrutura, como a construção, ainda em andamento, do Hospital Comunitário de Juruti. Neste ano, a Alcoa fechou uma parceria com o Instituto Peabiru, uma ONG de Belém,
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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MARCIO VASCONCELOS
EXAME - EEXA - 49 - 12/11/09 EXAME
Franklin Feder, presidente da Alcoa:
investimentos de 50 milhões de reais em ações definidas com a comunidade
Empresa-modelo | Amanco
OPORTUNIDADE PARA TODOS
Para facilitar a compra de material de construção por consumidores de baixa renda, a Amanco cria um programa em que todos — o cliente, a loja e a indústria — saem ganhando | JOÃO WERNER GRANDO negócio. A Amanco havia verificado que o aumento das vendas no mercado de autoconstrução, formado por pequenos consumidores, responsáveis por 80% do faturamento da empresa, esbarrava nas restrições de crédito enfrentadas por esse tipo de cliente, em sua maioria das classes C e D. Para superar o obstáculo, decidiu se envolver diretamente na questão. Após consultar dois bancos, que propuseram taxas e exigências acima do que os clientes poderiam bancar, a Amanco fechou uma parceria com a processadora de cartões de loja DM Card e com a financeira Omni. Além de juros mais baixos, ficou acertado que a taxa de administração cobrada do lojista seria de no máximo 3% (no mercado chega a 5%). “Com o cartão, resolvemos o problema de falta de crédito agindo de maneira sustentável, envolvendo todo o ciclo do negócio”, afirma Marise Barroso, presidente da Amanco no Brasil. “É o tipo de solução boa para todos os participantes da cadeia.” O próximo passo da Amanco é ajudar fornecedores e clientes a adotar conceitos de ecoeficiência. Com os programas de redução do uso de água e energia, de reciclagem de lixo e de combate ao desperdício, a empresa calcula que, nos últimos oito anos, tenha conseguido economizar cerca de 20 milhões de dólares. “Dentro da empresa estamos bem”, afirma Marise. “Mas, para a frente e para trás na cadeia, ainda podemos avançar muito.”
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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á cerca de um ano, a Minhocão Tem Tudo, uma pequena loja de material de construção de Cachoeira Paulista, município de 30 000 habitantes no interior de São Paulo, começou a oferecer crédito barato e sem burocracia aos clientes, principalmente os de baixa renda. Qualquer pessoa que queira construir, reformar ou ampliar a casa pode solicitar o CredConstrução, cartão de crédito criado e operado pela fabricante de tubos e conexões Amanco, e parcelar as compras em até 24 vezes, a juros de 3,9% a 6,9% ao mês — abaixo dos 8% cobrados, em média, no mercado. Os clientes, em sua maioria profissionais autônomos, não precisam comprovar renda e o limite do cartão pode chegar a 3 000 reais. “Muitos deles não possuem conta em banco e, por isso, não conseguem crédito nas financeiras”, afirma Ana Silvia Sima, proprietária da Minhocão Tem Tudo, que já emitiu 600 cartões. “Com o impulso dado pelo CredConstrução, nossas vendas cresceram 30%.” Desde o lançamento do programa, em outubro do ano passado, 2 300 lojas aderiram ao CredConstrução em todo o país. Até agora foram emitidos 115 000 cartões, totalizando uma oferta de 40 milhões de reais em crédito. O resultado para a Amanco foi um aumento de 20% nas vendas. O CredConstrução é um exemplo de como a empresa busca embutir os princípios da sustentabilidade em seu
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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GERMANO LÜDERS
EXAME - EEXA - 51 - 12/11/09 EXAME
Marise Barroso, presidente da Amanco,
em uma loja de material de construção: o cartão de crédito criado pela empresa obteve a adesão de 2 300 lojistas e contribuiu para um aumento de 20% nas vendas NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 51
Empresa-modelo | Anglo American
O ÚNICO JEITO DE CRESCER
Para ampliar suas operações no país, a Anglo American assume compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa | ALEXANDRE MOSCHELLA esforços para melhorar o tratamento dos efluentes, a unidade diminuiu o consumo de água em 40% e o descarte em 50%, entre 1997 e 2008. O projeto foi escolhido entre os dez melhores exemplos de gestão ambiental pelo Ranking Benchmarking Ambiental Brasileiro 2009, elaborado por uma comissão de acadêmicos e especialistas em sustentabilidade ligados a diversas instituições brasileiras e internacionais, como o Banco Mundial. Agora, a meta da Anglo é elevar o índice de reúso da água a 100% na fábrica de Barro Alto. Ali, toda a água captada e usada deverá ser tratada e reaproveitada. Isso será feito com a construção de um reservatório de resfriamento e recirculação de água da área industrial, que será abastecido também com a água da chuva. A fábrica de Barro Alto, município de apenas 7 000 habitantes, pretende ser modelo para as outras operações da Anglo não só na preservação ambiental mas também no incentivo ao desenvolvimento socioeconômico. Em 2008, foi estabelecida no local uma base da Care, uma das maiores ONGs do mundo, para executar um plano que inclui a formação de empreendedores e o incentivo à diversificação das atividades econômicas. O objetivo é garantir que a cidade continue a se desenvolver mesmo depois do esgotamento do minério, previsto para daqui a 30 anos. Um dos planos da Care é montar bancos comunitários para facilitar o crédito aos interessados em iniciar novos negócios.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 52 - 12/11/09
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á dois anos, a mineradora Anglo American começou a construir no município de Barro Alto, em Goiás, seu principal empreendimento no Brasil: uma fábrica de beneficiamento de níquel, que será inaugurada em 2011 e exigirá um investimento de 1,8 bilhão de dólares. Como ocorre em todos os investimentos na área de mineração, os impactos ambientais são grandes — e lidar com eles hoje é parte do negócio. “O grande desafio de nossa geração são as mudanças climáticas”, afirma Walter De Simoni, presidente da subsidiária brasileira da Anglo American. “Preservar os recursos naturais é necessário não só do ponto de vista ético mas também é um imperativo econômico.” Para atacar o problema, a Anglo está investindo em várias frentes. Uma delas é a participação na fundação do Programa Brasileiro de Inventário Corporativo de Gases de Efeito Estufa, criado em 2008. Os participantes do órgão devem não apenas elaborar seus inventários de emissões, mas também estabelecer metas de redução. O objetivo da Anglo é diminuir, até 2014, as emissões em 15% em relação aos níveis de 2004. Outro esforço da companhia diz respeito ao melhor aproveitamento da água. Um exemplo é o projeto de reúso que a Anglo mantém na cidade paulista de Cubatão, onde produz fertilizantes à base de fosfato. Com campanhas de conscientização para evitar o desperdício e
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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o programa de reúso de água na fábrica de Cubatão, em São Paulo, foi reconhecido como um bom exemplo de gestão ambiental
LIA LUBAMBO
EXAME - EEXA - 53 - 12/11/09 EXAME
Walter De Simoni, presidente da Anglo American:
Empresa-modelo | Bradesco
O CRÉDITO VAI À BAIXA RENDA
Com a ajuda do chamado banco postal, o Bradesco acelera a concessão de empréstimos para a população da base da pirâmide | ROSELI LOTURCO crocrédito — empréstimos no valor de até 1 200 reais, a juros que não podem passar de 2% ao mês. Os números do Bradesco — e os de todos os outros bancos — ficam muito aquém do estabelecido pelo BC. No ano passado, o Bradesco deveria ter concedido mais de 550 milhões de reais em microcrédito, mas sua carteira nesse tipo de operação não passou de 22 milhões de reais. Em contrapartida, as operações de microfinanças (aquelas com valor de até 1 500 reais, tomadas a juros de mercado) vêm crescendo rapidamente. No ano passado, foram 7 milhões de contratos com clientes de baixa renda, totalizando 5,3 bilhões de reais. Neste ano, até setembro, foram 10,2 milhões de transações, no total de 7,6 bilhões de reais. Entre os tomadores de crédito nessa categoria, 93% ganham até três salários mínimos por mês. Há outras operações em que o Bradesco tem avançado. Por exemplo, as que seguem os Princípios do Equador, que condicionam o financiamento de projetos corporativos à avaliação dos riscos socioambientais do empreendimento. Em 2007, seguindo esse critério, o banco financiou 11 projetos, avaliados em 7 bilhões de reais. No ano passado, foram 14 projetos, no total de 26,3 bilhões de reais. “O que falta agora é mostrar como a aplicação dos Princípios do Equador melhorou o empreendimento e seu entorno”, diz Clarissa Lins, diretora executiva da Fundação Brasileira do Desenvolvimento Sustentável.
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Check-list da sustentabilidade
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urante quase duas décadas, a feirante Maria do Rosário, de 51 anos, percorreu as ruas de Autazes, a 140 quilômetros de Manaus, para vender frutas que transportava em um carrinho de mão. Em 2002, Maria do Rosário obteve um empréstimo de 500 reais em uma microagência do Bradesco, conhecida como banco postal, instalada dentro de uma unidade dos Correios. O dinheiro foi usado na compra de uma barraca no mercado municipal. A partir daí, o relacionamento da feirante com o Bradesco não parou. Hoje, ela possui duas bancas de frutas e três casas modestas — para ela e os dois filhos casados —, que construiu com os recursos levantados por meio de dez empréstimos e com a expansão do próprio negócio. Clientes como Maria do Rosário fazem parte de um segmento eleito pelo Bradesco como prioritário em sua estratégia de expansão para os próximos anos. “Nascemos emprestando para a baixa renda e temos o compromisso de concluir essa expansão, agora mais do que nunca. O crescimento sustentável do banco se dará desse modo estratégico”, afirma Luiz Carlos Trabucco Cappi, presidente do Bradesco. “O banco vive de captação e concessão de crédito. E emprestar para os pequenos e médios depositantes é o que dá maior estabilidade ao nosso negócio, mitigando os riscos.” Pelas regras do Banco Central, todos os bancos devem destinar 2% dos depósitos à vista a operações de mi-
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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Luiz Carlos Trabucco Cappi, presidente do Bradesco,
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ALEXANDRE BATTIBUGLI
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em uma das mercearias que atuam como banco postal: aumento da capilaridade para atingir clientes excluídos do sistema bancário
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Empresa-modelo | BRF
A CAMINHO DA INTEGRAÇÃO
À espera da aprovação do Cade, a BRF se prepara para aproveitar as melhores práticas de sustentabilidade da Perdigão e da Sadia | LUÍS ARTUR NOGUEIRA criar uma cultura de responsabilidade nos motoristas”, afirma Fay. “Não basta produzirmos bem. Precisamos também entregar os produtos da forma mais eficiente possível.” Todos os 6 400 veículos que prestam serviços à BRF passam por vistorias diárias dos equipamentos de refrigeração e do rastreador. Além disso, a cada seis meses, os caminhões são submetidos à verificação dos índices de fumaça e dos itens de segurança. A frota terceirizada da companhia tem idade média de cinco anos, bem abaixo da média brasileira, de 16 anos. Nessa área, a Sadia, que não tem controle da idade média de seus veículos, poderá reproduzir as melhores práticas da BRF. Atualmente, uma das maiores preocupações da BRF na área ambiental é aumentar o índice de reutilização de água consumida em suas fábricas. Para permitir o reúso, os efluentes são separados em razão da qualidade e, após o tratamento, a água resultante do processo é reutilizada na limpeza de caminhões e pátios, na irrigação de jardins e na refrigeração de bombas a vácuo. O processo já está implantado em todas as fábricas, gerando uma economia de 9,4 milhões de metros cúbicos de água por ano — o suficiente para abastecer durante um ano uma cidade de 180 000 habitantes, como Araçatuba, no interior de São Paulo. A BRF chegou a alcançar um índice de reúso de água de 40%, mas a incorporação das fábricas da Eleva, empresa gaúcha adquirida no final de 2007, diminuiu o índice para 30%.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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riada a partir da compra da Sadia pela Perdigão, anunciada em maio, a BRF — Brasil Foods nasceu como a maior produtora e exportadora mundial de carnes processadas e a segunda maior indústria alimentícia do país (atrás apenas da JBS-Friboi). Enquanto o Cade não aprova a fusão dos negócios, as duas companhias mantêm suas operações totalmente separadas. Analistas estimam, no entanto, que a futura integração das atividades das duas companhias proporcionará ganhos com sinergias que devem variar de 2 bilhões a 4 bilhões de reais. Na área de sustentabilidade, a expectativa também é que as experiências da BRF (nova denominação social já adotada pela Perdigão) e da Sadia, ambas reconhecidas por suas boas práticas, beneficiem a nova companhia. “A união de esforços deve começar ainda neste ano, extraindo o que cada empresa tem de melhor”, diz José Antônio do Prado Fay, presidente da BRF. Uma das sinergias esperadas é no que se refere à logística — setor em que as companhias procuram não apenas aumentar sua eficiência como também desenvolver projetos de responsabilidade social. A BRF, que terceiriza todo o transporte, desenvolve um trabalho educativo junto às transportadoras para treinar os motoristas. Fazem parte do projeto cursos de direção defensiva, além de palestras para reduzir o índice de acidentes e melhorar os cuidados com a manutenção dos veículos. “Procuramos
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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José Antônio Fay, presidente da BRF:
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PAULO VITALE
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práticas antigas da Perdigão na área de transportes, como a renovação periódica da frota e o treinamento dos motoristas, devem ser ampliadas na nova empresa
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Empresa-modelo | Bunge Alimentos
AÇÃO EM CADEIA
Como a Bunge Alimentos está convencendo seus milhares de fornecedores de grãos a preservar o meio ambiente e a respeitar os direitos trabalhistas dos empregados | JULIANA BORGES sado esse prazo, quem não tomar as devidas providências será eliminado da lista de fornecedores. A preocupação se justifica porque qualquer deslize cometido por um fornecedor da Bunge pode manchar sua imagem, como ocorreu recentemente. Entre 2007 e 2008, a companhia foi denunciada quatro vezes por comprar soja de fazendas que estão na lista suja de trabalho escravo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de propriedades acusadas de desmatamento ilegal pelo Ibama. Em todos os casos, a Bunge alegou que já tinha rompido com os fornecedores antes de eles entrarem na lista de propriedades irregulares ou que a compra de soja foi feita para quitar débitos de financiamentos aos produtores. Para evitar novos problemas desse tipo, a área de tecnologia da Bunge criou uma ferramenta que bloqueia automaticamente qualquer contrato de fazendas que estejam em situação irregular no Ibama ou na OIT. Além disso, todos os contratos de aquisição de produtos agrícolas têm cláusulas de rompimento unilateral no caso de descumprimento da legislação ambiental ou trabalhista. Para o presidente da Bunge, além do trabalho com seus fornecedores, outro desafio da empresa é aumentar a eficiência de alguns processos, reduzindo o uso de água e energia, por exemplo. “Já temos índices muito bons nessa área, mas queremos ir além”, diz Waldrich.
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Check-list da sustentabilidade
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o ano passado, a subsidiária brasileira da Bunge Alimentos comprou 19 milhões de toneladas de produtos agrícolas de 20 000 fornecedores espalhados por todo o país. Engajar esse batalhão de produtores rurais em questões como preservação do meio ambiente e melhoria das relações trabalhistas é o maior desafio da companhia. “Dos quatro pilares de nossa política de sustentabilidade — efeitos climáticos, dietas saudáveis, disposição de resíduos e agricultura sustentável —, este último é o único sobre o qual não temos controle direto”, diz Sergio Waldrich, presidente da Bunge. “Por isso é o elo mais sensível.” Mudar as práticas de produtores rurais é crítico para a preservação da imagem — e do negócio — da própria Bunge. A empresa iniciou há seis anos um programa que desenvolve seus fornecedores. Uma equipe de quase 1 000 técnicos, entre agrônomos e engenheiros, percorre anualmente todo o país para realizar mais de 900 encontros e visitas a propriedades, levar informações sobre boas práticas agrícolas (como uma cartilha feita em parceria com o Ministério do Meio Ambiente sobre leis ambientais), tirar dúvidas e auxiliar os produtores a avançar nos pontos falhos. Ao todo, 58 000 agricultores e 300 000 hectares de terra já foram envolvidos no projeto, entre fornecedores da Bunge Alimentos e clientes da Bunge Fertilizantes. Esse pessoal tem de três a quatro anos para corrigir os eventuais problemas. Pas-
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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EDUARDO MARQUES/TEMPO EDITORIAL
EXAME - EEXA - 61 - 12/11/09 EXAME
Sergio Waldrich, presidente da Bunge:
a equipe técnica da empresa visitou 58 000 produtores para levar informações sobre boas práticas agrícolas e verificar o cumprimento de normas
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 61
Empresa-modelo | Coelce
COMO TRANSFORMAR LIXO EM ENERGIA
A Coelce investe em programas para reduzir a conta de luz de seus clientes de baixa renda e recebe reconhecimento internacional pela iniciativa | URSULA ALONSO MANSO deste ano, a companhia concedeu 749 000 reais em créditos nas contas de energia de seus clientes como pagamento por aproximadamente 6 000 toneladas de resíduos recicláveis (papel, plástico e vidro). O Ecoelce foi eleito em 2008 um dos dez vencedores em todo o mundo do World Business and Development Awards, entregue pela Organização das Nações Unidas às empresas que mais contribuíram para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Cerca de 100 projetos de sustentabilidade de 44 países concorreram à premiação. Graças à projeção internacional, o Ecoelce começou a ser reproduzido em outras regiões do Brasil. “As concessionárias de energia elétrica da Grande Rio, da Bahia e de Pernambuco já implantaram projetos semelhantes, inspiradas em nosso exemplo”, afirma José Nunes, diretor institucional da Coelce. No esforço para multiplicar as ações sustentáveis, a Coelce investiu 27 milhões de reais em meio ambiente em 2008, 30% acima do valor gasto no ano anterior. Parte do dinheiro foi destinada a uma pesquisa sobre o uso de óleo vegetal em transformadores elétricos, um projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Ceará. “Queremos substituir o óleo combustível utilizado nos transformadores por óleo vegetal obtido da castanha de caju, da mamona e de outras oleaginosas ecologicamente mais amigáveis”, afirma Rochinha.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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EXAME - EEXA - 62 - 12/11/09
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erceira maior distribuidora de energia da Região Nordeste, a Coelce atende à população de 184 municípios do Ceará. Do total de 2,8 milhões de clientes, 57% são consumidores de baixa renda, com contas de energia mensais que não passam de 20 reais. Levando em consideração esse perfil, a companhia elegeu como prioridade em termos de sustentabilidade a criação de programas sociais em comunidades carentes. Uma de suas iniciativas é a reforma de instalações elétricas das casas dos clientes e a substituição de lâmpadas e refrigeradores por modelos que consomem menos energia, um programa que exigiu um investimento de 5,8 milhões de reais em 2008. Desde que iniciou a troca de geladeiras por modelos mais econômicos, há dois anos, a Coelce beneficiou mais de 20 000 famílias. “São consumidores que poderiam ficar inadimplentes e agora conseguem pagar pela energia que consomem, o que diminui a inadimplência”, diz Abel Rochinha, presidente da Coelce. Entre as ações da empresa voltadas para comunidades de baixa renda, uma das mais inovadoras é a Ecoelce, programa que incentiva a troca de lixo reciclável por descontos na conta de luz. Por meio da coleta seletiva, o material levado pelos clientes até os locais credenciados é pesado e transformado em bônus na conta de energia elétrica. De fevereiro de 2007, quando o Ecoelce foi lançado, a junho
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
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Abel Rochinha, presidente da Coelce:
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EXAME - EEXA - 63 - 12/11/09
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a entrega de 6 000 toneladas de papel, plรกstico e vidro resultou em 749 000 reais de desconto nas contas de luz dos clientes
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME โ ข SUSTENTABILIDADE | 63
Empresa-modelo | CPFL
UMA CARONA PARA O FUTURO
A CPFL desenvolve um modelo de carro elétrico para reduzir as emissões de carbono e investe em alternativas para diversificar as fontes de energia | FABRÍCIO MARQUES te. Os protótipos que serão testados na CPFL têm capacidade de transportar até 350 quilos, além de conduzir motorista e passageiro. A velocidade máxima é de 80 quilômetros por hora, e a autonomia de suas baterias, de 90 a 120 quilômetros. O conceito de carro elétrico é atraente para as empresas de geração de energia por diversas razões. A mais evidente é que ele implica o desenvolvimento de um novo tipo de cliente — os donos de automóveis. A CPFL também investe num cardápio mais amplo de matrizes energéticas. Recentemente, entrou no mercado de energia eólica e anunciou que vai participar de um leilão que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizará no final de novembro. Para disputar o leilão, comprou, em setembro, por 31,6 milhões de reais, os direitos de exploração de um parque eólico no Rio Grande do Norte. “Uma série de avanços tecnológicos dobrou a produtividade das turbinas e reduziu os custos de produção. Por isso acreditamos que a energia eólica vá crescer no Brasil”, diz Ferreira Júnior. Outra frente é a exploração de energia gerada por bagaço de cana em usinas de açúcar e álcool. Em abril de 2010, a CPFL começará a comprar 25 megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade com 155 000 habitantes, que é o excedente de eletricidade gerado pela Usina Baldin, de Pirassununga, no interior paulista. A parceria exigiu investimentos de 100 milhões de reais.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 64 - 12/11/09
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té janeiro de 2010, quatro pequenos carros elétricos chegarão à sede da CPFL Energia, em Campinas, no interior de São Paulo, e serão usados pelos funcionários para transportar cargas leves, como malotes e equipamentos. Equipados com baterias de lítio, os utilitários foram desenvolvidos ao custo de 1 milhão de reais pela Edra, uma empresa de Rio Claro, no interior de São Paulo, em parceria com engenheiros da CPFL. A frota elétrica integra um conjunto de iniciativas para reduzir as emissões de carbono nas dependências da empresa e também simboliza o investimento da CPFL, o maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, num mercado emergente. “Vamos testar esses protótipos, analisar o tipo de infraestrutura necessária para abastecê-los e ajudar a aperfeiçoá-los. O objetivo é adotar esse tipo de veículo para o transporte de carga na empresa”, diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL, que avaliou pessoalmente o carro da Edra. “Não vamos nos tornar uma montadora de automóveis, mas queremos mostrar a viabilidade do conceito de carro elétrico.” O desenvolvimento do carro elétrico é o passo mais recente de uma estratégia de dois anos da CPFL. Nesse período, a empresa integrou à sua frota scooters elétricas chinesas e um Fiat Palio com motor elétrico desenvolvido pela Itaipu Binacional. Seu novo carro, porém, é um projeto original, não uma adaptação de um veículo já existen-
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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ALEXANDRE BATTIBUGLI
EXAME - EEXA - 65 - 12/11/09 EXAME
Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL:
no futuro, a companhia poderá ter um novo tipo de cliente, os donos de automóveis elétricos
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 65
Empresa-modelo | EDP
UMA FILOSOFIA QUE CHEGA À BASE
A EDP faz uma reestruturação para aumentar sua eficiência operacional e estimular os funcionários a incorporar a sustentabilidade ao dia a dia dos negócios | GUSTAVO MAGALDI esses quesitos. Para garantir que o programa dê resultados, a empresa abriu um processo de seleção interna de 50 “embaixadores de sustentabilidade”, profissionais de todas as áreas e níveis hierárquicos que serão responsáveis por liderar ações de ecoeficiência. O maior envolvimento dos funcionários nos rumos da empresa também é perseguido por meio de programas de educação para a sustentabilidade, como o Chronos, um curso virtual sobre desenvolvimento sustentável elaborado pela Universidade de Cambridge e pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Neste ano, 100% dos cerca de 2 300 empregados passarão por esses treinamentos. Para os executivos da alta direção, os esforços vão além. Eles são avaliados com base em indicadores sociais e ambientais, além de financeiros — e suas remunerações variáveis estão atreladas a essa avaliação. Para assegurar que a condução estratégica da companhia leve em conta os potenciais impactos socioambientais das operações, as decisões de investimento são acompanhadas pela área de sustentabilidade e pelo Instituto EDP, responsável pelo relacionamento com os públicos de interesse da empresa. “Estaremos completos quando deixarmos de ter uma diretoria específica para sustentabilidade e todos os nossos funcionários tiverem assimilado o conceito”, diz Abreu. “O objetivo é envolver também, cada vez mais, a cadeia de fornecedores estratégicos.”
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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crise financeira internacional teve impactos diretos nas operações da subsidiária brasileira da portuguesa EDP, holding de empresas de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica. A queda no nível de atividade das indústrias brasileiras no início deste ano afetou o consumo de eletricidade — e a receita da companhia. No primeiro semestre de 2009, a EDP faturou 4,4% menos que no mesmo período do ano anterior. Levada pelos resultados, a empresa iniciou uma reestruturação com medidas diretamente ligadas à sua sustentabilidade. O plano é controlar os gastos gerenciáveis, como as despesas envolvendo materiais e serviços de terceiros, já reduzidas em mais de 10% em relação a 2008. “Para a companhia sobreviver, temos de buscar a eficiência operacional e mudar a forma de nossos funcionários atuarem”, diz António Pita de Abreu, presidente da EDP no Brasil. O programa Econosco, por exemplo, foi iniciado em setembro de 2008, logo após o estopim da crise, para promover a redução do consumo de água, energia elétrica, combustíveis e papel, além de incentivar a reciclagem e a utilização do conceito de pegada ecológica — que calcula o impacto ambiental de indivíduos, organizações e populações. A expectativa é que a conscientização dos funcionários sobre esses temas ajude a empresa a atingir as metas estabelecidas para
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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GERMANO LÜDERS
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António Pita de Abreu, presidente da EDP:
os programas de educação para a sustentabilidade, como o Chronos, que apresenta conceitos de desenvolvimento sustentável aplicados aos negócios, já envolveram todos os 2 300 empregados
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 67
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Empresa-modelo | Fibria
O DESAFIO DO RECOMEÇO
Resultado da união entre a VCP e a Aracruz, a Fibria busca a partir de agora aliar as melhores práticas de sustentabilidade das duas empresas | GUSTAVO MAGALDI cia da Aracruz na gestão ambiental. Com isso, a Fibria espera eliminar o que Penido classifica como mito do setor. Ele se refere à percepção de que a produção de celulose e papel seria prejudicial ao meio ambiente, uma visão que considera equivocada porque toda a celulose é extraída de florestas plantadas para esse fim — a Fibria mantém, além disso, 461 000 hectares dedicados à conservação de ecossistemas nativos em seis estados do país. O grande passo da Fibria na área ambiental, porém, é ter se tornado a primeira empresa brasileira do setor a obter a certificação Carbon Footprint (“pegada” de carbono), concedida pela auditoria alemã BRTÜV em setembro. Para obter o selo, que pode render negócios em mercados mais exigentes como o europeu, a empresa mapeou a emissão de carbono em toda a sua cadeia, do cultivo de mudas nos viveiros à chegada da celulose aos portos de destino. O estudo feito pela Fibria mostra que, em 2008, para cada tonelada de celulose entregue a seus clientes, as fábricas de Jacareí, em São Paulo, Aracruz, no Espírito Santo, e Guaíba, no Rio Grande do Sul (unidade vendida em outubro para a chilena CMPC), promoveram o sequestro de 3,87 toneladas de dióxido de carbono (CO2), um dos gases que causam o efeito estufa. Num momento em que o mundo inteiro discute como conter os efeitos do aquecimento global, trata-se de um belo cartão de visita para a mais nova gigante do setor de celulose.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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riada em setembro, como resultado da incorporação da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), a Fibria nasceu como líder mundial na produção de celulose de eucalipto. Com capacidade produtiva anual de 6 milhões de toneladas de celulose e papel, a nova companhia tem seis fábricas, emprega 15 000 pessoas, administra uma área florestal de 1,3 milhão de hectares e tem receita anual de quase 6 bilhões de reais. “Estamos nascendo de novo. A Fibria atingirá um estágio que as duas empresas separadas nunca conseguiriam”, afirma José Luciano Penido, ex-presidente da VCP que assumiu a presidência do conselho de administração. A integração das duas empresas é um processo que deve levar até cinco anos, com sinergias que podem chegar a 4,5 bilhões de reais, considerando principalmente as áreas de logística, produção florestal, suprimentos e pessoal. O quadro de funcionários já foi reduzido, com a demissão de 200 profissionais. Entre os desafios mais urgentes da integração está resolver a gigantesca dívida de 13 bilhões de reais, resultado sobretudo das perdas da Aracruz com operações de derivativos e do endividamento da VCP para a compra da concorrente. Na área socioambiental, o plano é manter as melhores práticas das duas empresas. A intenção é reforçar os laços com as comunidades no entorno de suas unidades (um aspecto em que a VCP se destaca) e aproveitar a experiên-
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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do cultivo de mudas nos viveiros à entrega da celulose aos clientes, toda a emissão de carbono foi mapeada
DANIELA TOVIANSKY
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José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria:
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 71
Empresa-modelo | Itaú Unibanco
A CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA COMUM Depois da fusão que criou o maior banco do país, o Itaú Unibanco trabalha para incorporar a sustentabilidade à cultura da instituição | ROSELI LOTURCO
ano, um canal batizado de Banco de Ideias Sustentáveis, que incentiva os funcionários a dar sugestões de novas estratégias que possam ser adotadas. Até meados de setembro, a iniciativa havia resultado em 1 339 sugestões nas categorias ecoeficiência, redução do consumo de recursos esgotáveis, uso consciente de produtos e serviços bancários, educação financeira e financiamento consciente. Um ponto polêmico da atuação do Itaú Unibanco diz respeito às operações de financiamentos sustentáveis. Em 2008, o banco analisou 29 projetos com investimentos próximos de 11 bilhões de reais sob os critérios dos Princípios do Equador, que obedece a um conjunto de normas que condicionam a concessão de crédito a projetos corporativos à avaliação dos riscos socioambientais do empreendimento. Apesar disso, alguns ambientalistas acusam o banco de financiar projetos com alto impacto ambiental. “O projeto da usina hidrelétrica do rio Madeira é bastante discutível. O Itaú é um dos patrocinadores dessa obra que desrespeita o meio ambiente e a comunidade local, algo inconcebível para um signatário dos Princípios do Equador”, afirma Roland Widner, da ONG Amigos da Terra. “Reconheço que é necessário corrigir as deturpações que possam existir no processo. Mas é preciso dizer também que a energia de uma hidrelétrica é uma das mais limpas que podem ser geradas em grande escala”, diz Setubal.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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ogo após a fusão entre o Itaú e o Unibanco, em novembro do ano passado, criando o maior banco em ativos do país, os executivos da nova instituição tinham uma série de tarefas a ser cumpridas. Cuidar da integração de dois grandes bancos, com culturas diferentes e operações que se sobrepõem, é um processo complexo, que pode levar meses (às vezes, anos). Há desafios tecnológicos, logísticos, humanos. E, para os controladores, há também o desafio da sustentabilidade. “Não queremos pensar o banco de forma oportunista, mas sim em um futuro longo e sustentável”, afirma Roberto Setubal, presidente executivo do Itaú Unibanco. Ainda no final de 2008, os dois bancos colocaram seus principais executivos e conselheiros para discutir e criar uma agenda comum, que foi apresentada a um grupo de stakeholders no início de 2009. A nova agenda apoia-se em nove temas: transparência, governança, satisfação do cliente, critérios socioambientais, diversidade, mudanças climáticas, educação financeira, microfinanças e engajamento de stakeholders. Para garantir que esse direcionamento seja de fato incorporado ao processo decisório do Itaú Unibanco, a área de sustentabilidade ganhou força, estruturando-se em grupos que contemplam todos os níveis hierárquicos da instituição, inclusive o conselho de administração. Como forma de estimular a participação de todos, o banco criou, em abril deste
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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RICARDO CORRÊA
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Pedro Moreira Salles, presidente do conselho, e Roberto Setubal (ao fundo), presidente executivo do Itaú Unibanco: a área de sustentabilidade ganhou força na estrutura do novo banco
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 73
Empresa-modelo | Masisa
UMA FÁBRICA PARA SERVIR DE EXEMPLO
Do uso de energia renovável à reciclagem de embalagens, a Masisa busca novas tecnologias para provar que é possível produzir painéis de madeira de forma sustentável | MAURÍCIO OLIVEIRA empresas e pequenos proprietários da vizinhança. Até agora há mais de 150 cadastrados, que estão sendo avaliados pela empresa. “Tudo o que poderia ser feito em termos de sustentabilidade está nessa fábrica”, afirma Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa no Brasil. Algumas das características da nova fábrica já haviam sido testadas em uma unidade mais antiga da Masisa, localizada na cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Um exemplo é o desenvolvimento de emulsão parafínica (insumo utilizado para aumentar a resistência dos painéis de madeira à água) da reciclagem de embalagens longa vida. Como cada tonelada de emulsão produzida dessa forma aproveita 10 000 embalagens, a adoção dessa tecnologia pela Masisa significará que 15 milhões de embalagens longa vida deixarão de ir para o lixo todos os anos, com benefícios ambientais e sociais, já que se trata de uma alternativa para os derivados do petróleo, e os catadores de papel estarão diretamente envolvidos no processo. A experiência no Paraná também mostra que adotar uma gestão ecoeficiente pode ser bom não apenas para o meio ambiente como também para o caixa da empresa. Ao usar resíduos como combustível para sua caldeira, por exemplo, a Masisa faz uma economia de quase 8 milhões de reais por ano. “Essas iniciativas contribuem para disseminar a visão de que a responsabilidade ambiental pode, sim, estar associada ao lucro”, afirma Hillmann.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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O
dia 23 de maio de 2009 foi um marco para a subsidiária brasileira da chilena Masisa. Nessa data entrou em operação a fábrica da empresa em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Produtora de painéis de madeira, a companhia tem 12 unidades espalhadas pela América Latina, mas nenhuma delas tão avançada em questões de ecoeficiência quanto a gaúcha. Para chegar lá, 11% do investimento total feito pela Masisa na fábrica — algo em torno de 30 milhões de reais — se refere a aspectos ligados à sustentabilidade. A matriz energética da fábrica é 99% renovável, proveniente do reaproveitamento de resíduos como o pó e as cascas de madeira, que até então se transformavam em passivo ambiental. Toda a água utilizada no processo industrial provém da chuva ou da reciclagem dos efluentes. Para isso, a fábrica conta com um reservatório de 3 hectares (área equivalente a três campos de futebol), com capacidade para 170 000 metros cúbicos de água, volume suficiente para quatro meses de consumo. A nova fábrica incorporou também uma caldeira com tecnologia “flex” — pode ser 100% abastecida com biomassa, totalmente movida a gás natural ou usar qualquer combinação entre as duas alternativas. Para assegurar o suprimento de matéria-prima para a produção da biomassa, a fábrica não vai se limitar ao uso de resíduos próprios. Os executivos da Masisa estão à procura de fornecedores entre
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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a fábrica de painéis de madeira em Montenegro, no Rio Grande do Sul, inaugurada em maio, recebeu cerca de 30 milhões de reais de investimentos específicos em tecnologias sustentáveis
TAMIRES KOPP
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Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa:
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Empresa-modelo | Natura
COM O RADAR LIGADO
Para detectar falhas, buscar soluções e renovar suas ideias, a Natura investe no contato estreito e colaborativo com seus stakeholders | ROBSON VITURINO stakeholders”, afirma Carlucci. Como o negócio tem crescido de forma surpreendente (após uma expansão de 14% nas receitas no ano passado, a Natura foi eleita a Empresa do Ano na edição de 2009 de MELHORES E MAIORES, de EXAME), tornou-se um desafio manter o radar captando o que se passa fora de Cajamar, na Grande São Paulo, onde fica a sede da empresa. Por isso, Carlucci e seu time desenvolveram um projeto com base no contato estreito e periódico de seus executivos com seis públicos definidos como estratégicos — consumidores, consultoras, funcionários, fornecedores, comunidades extrativistas e imprensa. Por meio de sites ou encontros, os “donos dos públicos”, como são chamados os responsáveis por cada grupo, têm a missão de recolher as opiniões dos stakeholders sobre assuntos importantes para a Natura, como desenvolvimento sustentável, biodiversidade e venda porta a porta. Essa forma de trabalho mais colaborativa já é utilizada pela área de pesquisa e desenvolvimento da Natura há alguns anos. Hoje, mais de 50% de toda a inovação da empresa nasce do Open Innovation (Inovação Aberta), programa de estímulo à pesquisa em conjunto com universidades de várias partes do mundo. O objetivo agora é estender essa fórmula a outros centros nervosos do negócio. “Se consigo captar demandas que surgirão no futuro, posso inovar. E essa é uma fonte de diferencial competitivo”, afirma Carlucci.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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m outubro, a Natura colocou nos catálogos de seu quase 1 milhão de consultoras a linha Clássicos — série de produtos lançados originalmente a partir de 1984 e que estavam fora de circulação havia algum tempo. A volta desses itens ao mercado foi resultado de uma votação da qual participaram funcionários, consultoras e consumidores. Em um site criado especialmente para isso, 9 500 pessoas de várias partes do Brasil indicaram um cosmético que gostariam que fosse relançado. O nome da linha também foi uma escolha democrática, que contou com a participação de mais de 2 000 pessoas de 239 cidades de diversos estados. A ação faz parte de um programa criado no final de 2007 com o objetivo de envolver os públicos considerados estratégicos pela Natura — os chamados stakeholders — nas iniciativas da empresa. “É preciso descer do salto alto e ver que não é possível fazer tudo sozinho”, diz Alessandro Carlucci, presidente da Natura. Única companhia a fazer parte das dez edições do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE e considerada a Empresa Sustentável do Ano em 2008, a Natura é reconhecida há tempos por seu esforço em aprimorar as relações com os públicos que vivem em sua órbita. No entanto, esse contato era feito de forma intuitiva, quase desestruturada. “Não havia nada sistemático. Quando a empresa era menor, bastava que os executivos estivessem em contato com os
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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a equipe de executivos mantém contato periódico com públicos estratégicos, como consumidores e consultores, para se antecipar às demandas que vão surgir no futuro
LIA LUBAMBO
EXAME - EEXA - 77 - 12/11/09 EXAME
Alessandro Carlucci, presidente da Natura:
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 77
Empresa-modelo | Philips
QUANDO A SAÚDE ENCONTRA O LUCRO
Ao investir na produção nacional de equipamentos médicos, a Philips reduz os custos dos produtos em até 40% e promove a modernização de hospitais públicos | ADRIANA CARVALHO Além de baratear os custos dos equipamentos médicos, a Philips patrocina pesquisas científicas que visam reduzir a incidência de doenças e melhorar a qualidade de vida. Em 2008, a empresa fechou convênios com universidades como a USP e a Unicamp para realizar estudos sobre a epilepsia, doença que atinge 3 milhões de brasileiros. Os investimentos da Philips nessas pesquisas estão avaliados em 500 000 dólares. Inicialmente, o programa deverá durar até 2012, mas, segundo a própria companhia, tem possibilidade de ser renovado. Os produtos do setor de saúde são um dos negócios mais promissores para a Philips no mundo. De janeiro a setembro de 2009, a participação desses produtos no faturamento global da companhia chegou a 34%, ante 27% no mesmo período do ano passado. Enquanto isso, a participação dos produtos de consumo, como televisores e equipamentos de áudio, caiu de 42% para 35% das receitas totais da empresa no mesmo período. Os produtos de iluminação permaneceram estáveis, com uma fatia de 29%. A Philips não divulga os números específicos do mercado brasileiro. “Temos o compromisso de buscar soluções que melhorem a vida das pessoas e que sejam ambientalmente corretas”, diz Bicudo. “Nossa meta é investir 30% de nosso faturamento em produtos verdes. Atualmente, já investimos 25%. O objetivo é atingir esse percentual até 2012.”
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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m setembro, o hospital e maternidade Dr. Christóvão da Gama, em Santo André, no ABC paulista, adquiriu novos equipamentos de raio X, ultrassom e tomografia computadorizada. Investiu também na compra de um sistema de digitalização da radiografia, tornando-se o primeiro hospital da região a contar com a tecnologia de arquivamento e distribuição de imagens de diagnóstico totalmente digital. A compra desses equipamentos, todos fornecidos pela Philips, custou cerca de 5 milhões de reais e faz parte do projeto de modernização do hospital, que espera diminuir seus custos em 20% e aumentar suas receitas em 30%. A exemplo do Dr. Christóvão da Gama, centenas de hospitais brasileiros já contam com aparelhos da Philips, fabricados no país com tecnologia nacional. “Essa é uma das principais ações de sustentabilidade da empresa no Brasil. Ao investir no desenvolvimento da produção local, conseguimos baratear de 5% a 40% o custo dos equipamentos em relação ao preço de similares importados”, diz Marcos Bicudo, presidente da subsidiária brasileira da Philips. Um aparelho de raio X, por exemplo, pode ser comprado hoje por 60 000 reais, menos de um terço do preço do equipamento importado. “Dessa forma, colaboramos para que os hospitais públicos possam oferecer condições melhores de tratamento aos pacientes. Essa é uma forma de inclusão social”, afirma Bicudo.
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
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ALEXANDRE BATTIBUGLI
EXAME - EEXA - 79 - 12/11/09 EXAME
Marcos Bicudo, presidente da Philips:
a participação de produtos médicos, como aparelhos de ultrassom e raio X, chegou a 34% no faturamento global da companhia
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 79
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EXAME - EEXA - 80 - 12/11/09
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Empresa-modelo | Promon
SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO
Responsável por grandes projetos de infraestrutura em todo o país, a Promon leva programas educacionais para as comunidades afetadas pelas obras | LIA VASCONCELOS ção, o Instituto Razão Social vai treinar esses funcionários para transformá-los em “agentes multiplicadores”. O objetivo é mostrar aos moradores a importância de acompanhar de perto as atividades das escolas e cobrar resultados. “A Promon está presente em comunidades em desenvolvimento e entendemos que nenhum desafio pode ser superado no Brasil se não atacarmos a questão da educação”, diz Luiz Ernesto Gemignani, presidente da Promon Gemignani. Outro esforço da Promon é fazer com que os aspectos socioambientais sejam cada vez mais levados em consideração em todas as suas obras. Hoje, antes de começar uma construção, o departamento de análise de riscos da Promon avalia os possíveis impactos socioambientais e pode até recusar um projeto se o cliente não aceitar suas recomendações. Desde o ano passado, dois empreendimentos foram recusados por esse motivo (a Promon prefere não detalhar as circunstâncias). “Queremos dar um passo além e criar um sistema objetivo de rating, que leve em conta indicadores sociais, ambientais e econômicos”, diz Gemignani. A ideia é criar um “sustentômetro”, uma ferramenta para medir o grau de sustentabilidade (ou insustentabilidade) dos projetos por meio de técnicas que variam de acordo com o tipo de projeto, a demanda e seu escopo. “Esse é um degrau fundamental que devemos atingir em 2010. O que não é medido não pode ser gerenciado”, afirma Gemignani.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
EXAME
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 82 - 12/11/09
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m 2006, a Promon, empresa paulista especializada em projetos de obras de infraestrutura, participou do desenvolvimento da nova linha de produção de papel e celulose da companhia Suzano em Mucuri, no sul da Bahia. Além da complexidade do projeto, a Promon teve de lidar com outra preocupação: como deixar um legado positivo para a cidade, que inevitavelmente sofreria impactos por se tornar, do dia para a noite, moradia temporária de milhares de operários? A saída foi buscar no Instituto Razão Social, entidade criada pela Promon em 2002 e hoje apoiada também pela Gerdau e pela Camargo Corrêa, um projeto educacional que contribuísse para o sistema público de ensino de Mucuri. Entre 2007 e 2008, um laboratório de inclusão digital foi instalado na cidade e livros foram doados à Secretaria Municipal de Educação. As iniciativas beneficiaram 1 200 alunos de 15 escolas rurais e 21 escolas de educação infantil. Após a experiência de Mucuri, a Promon decidiu repetir a iniciativa em Araucária, no Paraná. Ali, a companhia está prestes a iniciar um projeto, com duração prevista de seis anos, para reduzir a emissão de enxofre de uma refinaria da Petrobras. Em Araucária, a ideia é escolher alguns dos 3 000 funcionários da obra para atuar como uma espécie de ponte entre a empresa e a comunidade. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e com o Ministério da Educa-
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
82 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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o laboratório de inclusão digital beneficiou 1 200 alunos de 36 escolas do interior da Bahia
FABIANO ACCORSI
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EXAME - EEXA - 83 - 12/11/09
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Luiz Ernesto Gemignani, presidente da Promon,
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 83
Empresa-modelo | Serasa
OS BONS (E OS MAUS) PAGADORES
A Serasa Experian lança relatórios de análise de risco social e ambiental de empresas — as mais responsáveis devem conseguir melhores condições de crédito | DENISE RAMIRO econômico-financeira do tomador de empréstimo, avaliar os riscos socioambientais envolvidos na concessão de crédito. Para quem faz a lição de casa nas áreas social e ambiental, os empréstimos tendem a ser mais baratos e com melhores condições. As empresas privadas comprometidas com práticas sustentáveis também podem se valer dos relatórios para a seleção de seus fornecedores e parceiros. “Os produtos de análise de risco e vulnerabilidade socioambiental, quando apresentados em conjunto com os de análise de risco econômico-financeiro, geram mais valor para o cliente”, afirma Francisco Valim, presidente da Serasa Experian. O projeto ganhou o apoio do grupo empresarial irlandês Experian, que comprou a Serasa no final de 2007 e delegou à companhia brasileira o comando dos assuntos ligados à sustentabilidade. “Hoje estamos exportando nossas iniciativas”, diz Tomás Carmona, responsável pela área de sustentabilidade na Serasa. Um dos projetos reproduzidos em outros países é um programa de educação financeira que ajuda pais e professores da rede pública de ensino a ter uma vida financeira mais saudável, evitando a inadimplência e estimulando o empreendedorismo. O curso tem 20 horas de duração e é ministrado por 22 voluntários da Serasa nos fins de semana. “Queremos contribuir para formar jovens mais conscientes de suas possibilidades e mais capazes de tirar proveito dos ganhos que o trabalho propicia”, diz Carmona.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
EXAME
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 84 - 12/11/09
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ualquer empresário que busca crédito sabe que precisa comprovar sua saúde financeira para conseguir a liberação do dinheiro. Até pouco tempo atrás, essa era a única análise que as instituições faziam antes de conceder o empréstimo. Mas esse modelo começa a ser questionado em uma sociedade cada vez mais preocupada com as questões socioambientais — e as boas práticas de sustentabilidade das empresas agora podem servir de moeda de troca nas operações de financiamento. As mudanças na percepção do mercado, ainda que gradativas, levaram a Serasa Experian, companhia especializada em informações para decisões de crédito, a criar uma área de riscos socioambientais para dar forma a dois produtos pioneiros no mundo: um relatório ambiental e outro social, ambos lançados em março deste ano. No relatório ambiental são avaliados itens como cumprimento das disposições legais e regulamentares, gerenciamento de riscos, preocupação com o uso racional de água e energia e certificações ambientais. O social identifica aspectos como abolição do trabalho infantil, prevenção do trabalho forçado e liberdade de associação. A meta da Serasa Experian é, dentro de um ano, conseguir que seus relatórios sejam utilizados pelos principais bancos e pelas 100 maiores empresas do país. Com base neles, os bancos podem, paralelamente à tradicional análise
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
84 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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meta de oferecer os relatórios socioambientais para os principais bancos e às 100 maiores empresas do país
GERMANO LÜDERS
EXAME - EEXA - 85 - 12/11/09 EXAME
Francisco Valim, presidente da Serasa Experian:
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 85
Empresa-modelo | Suzano
PARA GANHAR HOJE — E AMANHÃ
Do desenvolvimento de novos produtos à venda de créditos de carbono, a Suzano traça uma estratégia de longo prazo para aproveitar a economia verde | JULIANA BORGES 40 000 pés de eucalipto. Além disso, a substituição de óleo diesel por gás natural na fábrica de Mucuri, no sul da Bahia, fez com que 3,2 milhões de toneladas de gás carbônico deixassem de ser lançadas na atmosfera. A companhia agora começou a negociar esses créditos. A preocupação com o aquecimento global faz parte das discussões do plano de expansão da Suzano. Até 2014, a empresa deve inaugurar três novas fábricas — no Maranhão, no Piauí e em um terceiro local que será definido até o final deste ano. Em todas elas, 40% da área será destinada à conservação ambiental (a legislação exige 20%) e haverá os chamados corredores ecológicos — áreas contínuas de preservação, que possibilitam o livre trânsito de animais e a dispersão de sementes. Com as novas unidades e a ampliação da capacidade da fábrica de Mucuri, a Suzano pretende aumentar sua produção de celulose em 35%, atingindo 4,3 milhões de toneladas anuais. Para isso, seus executivos trabalham para difundir práticas sustentáveis entre seus fornecedores. Uma das metas é que, até 2012, toda a cadeia de fornecedores, composta de 1 200 pequenos e médios produtores de eucalipto, responsáveis por 20% da madeira usada pela Suzano, obtenha a certificação FSC. “Para nós, sustentabilidade é a capacidade de replicar ciclos de sucesso e crescimento da empresa com performance financeira, social e ambiental”, diz Maciel.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
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o fim do ano passado, a Suzano Papel e Celulose lançou um papel sulfite idêntico ao normal, mas com preço 5% mais alto. A diferença devese ao fato de o novo produto, batizado de Report Carbono Zero, ter todo o gás carbônico emitido no processo de produção neutralizado por meio do plantio de floresta nativa — uma iniciativa com impacto direto no custo e no preço. Para cada tonelada fabricada são plantadas 5,3 árvores de mata ciliar do rio Faxinal, localizado no município de Porto Feliz, no interior de São Paulo. Segundo Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, as boas vendas desse papel — foram comercializadas 970 toneladas em 2009, gerando receita de cerca de 2,2 milhões de reais — são uma prova de que a sustentabilidade é hoje, de fato, uma vantagem competitiva para a companhia. “Esse papel é um complemento de outras ações, como a certificação de 100% de nossas florestas com o FSC, o selo verde mais conhecido do mundo, que nós temos desde 2006”, afirma Maciel. Além do desenvolvimento de produtos verdes, a Suzano há tempos vem se dedicando a aproveitar outras oportunidades de negócios surgidas na economia de baixo carbono. Desde 2006, vendeu 20 000 toneladas de créditos de carbono na bolsa de Chicago, que movimentaram cerca de 80 000 dólares. Até 2010, serão 3 milhões de toneladas do principal gás causador do efeito estufa capturadas em floresta com
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
86 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano:
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FABIANO ACCORSI
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EXAME - EEXA - 87 - 12/11/09
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novo papel sulfite “carbon free” custa 5% mais que o tradicional, mas significa um diferencial competitivo para a companhia
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 87
Empresa-modelo | Tetra Pak
VIDA LONGA AOS NEGÓCIOS
Ao atuar na reciclagem das embalagens que produz, a operação brasileira da Tetra Pak se torna referência para outras unidades do grupo | LUCI GOMES No ano passado, a companhia reciclou cerca de 52 000 toneladas de embalagens longa vida. O processo integra as diferentes partes da cadeia de produção. “Desenvolvemos recicladores e os aproximamos das cooperativas de catadores”, diz Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak. Hoje, 32 recicladores compram matériaprima de aproximadamente 500 cooperativas de catadores às quais a Tetra Pak dá suporte. A empresa também dá apoio na área de educação ambiental e social às cooperativas, distribui folhetos explicativos e fornece equipamentos de segurança. O orçamento destinado a ações socioambientais da Tetra Pak será de quase 9 milhões de reais neste ano — e boa parte dele vai para iniciativas ligadas à reciclagem. Graças a todos esses investimentos, a taxa de reciclagem dos resíduos sólidos da empresa passou de 15%, há oito anos, para 27%, no ano passado. Para cuidar de suas iniciativas na área de sustentabilidade, a Tetra Pak conta com uma equipe de dez profissionais, todos pós-graduados ou doutorados no assunto. Além de buscar novos métodos e tecnologias, essas pessoas têm a missão de difundir o conhecimento dentro da empresa. Uma das consequências dessa iniciativa é que, no período de 2005 a 2010, a empresa deve diminuir em 10% a emissão de CO2. “Esse resultado demonstra que a preocupação ambiental já está incorporada à vida dos funcionários”, afirma Nigro.
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Publica e audita Relatório de Sustentabilidade no Brasil A remuneração dos executivos está vinculada a metas de desempenho econômico, ambiental e social
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Check-list da sustentabilidade
EXAME - EEXA - 88 - 12/11/09
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subsidiária brasileira da fabricante de embalagens longa vida Tetra Pak começou a incorporar a preocupação socioambiental a seus negócios em 1996, quando assumiu o compromisso de dar um destino ambientalmente correto às embalagens descartadas pelos consumidores. Na época, a empresa passou a incentivar a coleta seletiva e a investir na reciclagem de suas embalagens. Pouco mais de uma década depois, a subsidiária brasileira tornou-se uma referência na área no país e passou a exportar esse conhecimento para outras unidades da Tetra Pak, multinacional de origem sueca presente em 165 mercados. “Nesse assunto, o Brasil já está ditando regras”, afirma Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak Brasil. Um exemplo é a construção de uma fábrica de reciclagem de embalagens longa vida em Piracicaba, no interior paulista, em 2005. A fábrica, primeira do gênero no mundo, utiliza um forno de plasma, tecnologia que permite a separação total do alumínio e do plástico que compõem a embalagem. Com isso, além de aproveitar o papel, que representa 75% da composição total da embalagem, é possível extrair também o plástico (20%) e o alumínio (5%), com baixo consumo de energia. A tecnologia, desenvolvida em parceria com a Klabin, a Alcoa e a TSL Ambiental, já foi transferida para outras operações da companhia em países como República Dominicana, Peru, Argentina, Guatemala e África do Sul.
Como a empresa se comporta em relação a alguns dos itens mais importantes analisados pela pesquisa do Guia EXAME
Possui auditoria interna que se reporta diretamente ao conselho de administração O planejamento estratégico adota medidas para a redução da pobreza O planejamento estratégico adota medidas para a redução da corrupção Identifica, monitora e estabelece metas para reduzir os impactos indiretos de sua operação Elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas atividades no Brasil Tem metas de redução das emissões Responsabiliza-se pela saúde, segurança e qualidade de vida dos terceirizados Monitora os fornecedores quanto a seu envolvimento com trabalho forçado ou compulsório
88 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak:
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RICARDO CORRÊA
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EXAME - EEXA - 89 - 12/11/09
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tecnologia para reaproveitamento total do material descartado no lixo
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 89
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03_CAD 20:53 04/11/09 ALESILVEIRA Composite EXAME - EEXA - 93 - 12/11/09 EXAME
A ECONOMIA
VERDE
Às vésperas da Conferência de Copenhague, a maior discussão global sobre sustentabilidade desde o Protocolo de Kyoto, empresas e governos de todo o mundo têm uma certeza: quem não se adaptar às mudanças climáticas corre o risco de ficar fora do jogo. As próximas páginas mostram as questões mais prementes — e quem está conseguindo ganhar nesse novo cenário.
Negócios globais | Copenhague
VAI FICAR SÓ NO BLÁ-BLÁ-BLÁ? efeito estufa. O plano é que esse acordo histórico fosse selado em Copenhague, na Dinamarca, numa conferência que ocorreria na primeira quinzena de dezembro de 2009. Nessa data, representantes de 192 países se reuniriam para definir um sucessor para o Protocolo de Kyoto, um tratado assinado em 1997 que estabeleceu pela primeira vez limites para as emissões de países ricos. Hoje, porém, a menos de 30 dias da realização do evento, o clima é de desconfiança, para dizer o mínimo. Para muitos ambientalistas e representantes dos governos que participarão das discussões, as chances de assinatura de um acordo abrangente em Copenhague não são muito promissoras. “É realista dizer que não seremos
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capazes de estabelecer um tratado e que o melhor que podemos esperar dessa reunião é que consigamos definir uma base para futuras negociações”, disse a chanceler alemã Angela Merkel em 30 de outubro, ao fim de um encontro de dois dias com lideranças europeias. Parte da dúvida sobre a eficácia do encontro recai, ironicamente, sobre a atuação dos Estados Unidos. Num espaço de 12 meses, o país que surgia como um líder potencial na cruzada contra as mudanças climáticas tornou-se um entrave para as negociações. A explicação para isso pode soar um tanto quanto mesquinha aos olhos de ambientalistas altruístas, mas ilustra bem a dinâmica das relações entre os países: todos esperavam
Eles não se entendem
JOHN ANGELILLO-POOL/GETTY IMAGES
H
á um ano, o mundo vivia uma fase de otimismo em relação aos planos para combater uma de suas maiores ameaças: o aquecimento global. Essa disposição era explicada, sobretudo, pela eleição de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos. Afinal, ao contrário de seu antecessor, o republicano George W. Bush, o democrata acredita nas evidências científicas das mudanças climáticas — e isso já parecia ser um avanço. Além disso, Obama alardeava que cabia a seu país, o mais rico e poderoso do mundo, assumir a liderança de um movimento que, em última instância, definiria um acordo global de redução de emissões de gases causadores do
Às vésperas da reunião da ONU sobre clima, há ainda muita incerteza sobre o que alguns dos países e das regiões envolvidos na CHINA
ESTADOS UNIDOS
UNIÃO EUROPEIA
Há dois anos como o maior emissor de CO2 do mundo, o país iniciou uma cruzada verde e vem se transformando no queridinho dos ambientalistas. Até 2020, a China quer obter 15% de sua energia de fontes renováveis, o que fará com que tenha uma das maiores indústrias de energia eólica e solar do mundo. A despeito dos avanços, o país se recusa a estabelecer uma meta de redução das emissões.
Segundo maior emissor de CO2 do planeta, o país era o favorito para ser a estrela de Copenhague, graças às promessas feitas por Barack Obama durante a campanha presidencial. A legislação climática que ele tenta aprovar no Senado, porém, prevê uma meta de redução de emissões até 2020 de apenas 3% em relação a 1990 — e há uma chance remota de que ela seja votada antes da reunião, em dezembro.
A região quer liderar o processo de combate ao aquecimento global e foi a primeira a se comprometer em diminuir em 20% as suas emissões de CO2 na atmosfera até 2020 e em 95% até 2050. Suas lideranças anunciaram que estão dispostas a aumentar a meta para 30% até 2020 se outros países igualmente ricos, como os Estados Unidos, também assumirem o mesmo compromisso.
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Há menos de um mês da Conferência de Copenhague, os principais países que vão participar da reunião ainda não conseguiram se entender — e o encontro corre o risco de naufragar | ANA LUIZA HERZOG
94 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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discussão irão propor. Saiba qual é, até agora, o posicionamento de alguns deles BRASIL
JAPÃO
ÍNDIA
Até agora, o compromisso público assumido pelo governo foi que o país diminuirá em 80% o desmatamento na Amazônia até 2020 — o corte e a queima de florestas respondem por 60% de nossas emissões. Há, porém, pressão de ONGs e do setor privado para que o país leve a Copenhague uma meta concreta de redução das emissões. Até o fechamento desta edição, o governo brasileiro não havia se pronunciado sobre o assunto.
A eleição do democrata Yukio Hatoyama para primeiro-ministro, em setembro, mudou a postura do país frente ao aquecimento global. Hatoyama declarou que estava disposto a ampliar a meta de redução de emissões para 2020 de 15% para 25%. Recentemente, porém, o governo revelou que pode afrouxar a meta se outras nações não se comprometerem com números semelhantes em Copenhague.
Entre os emergentes, é o país que mais reluta em aceitar uma meta de redução de suas emissões. O argumento dos governantes é que, embora esteja entre os maiores emissores de CO2 do mundo em volume absoluto, sua emissão per capita é uma das mais baixas. Isso significa que boa parte da população não emite porque não tem nem mesmo acesso a energia elétrica.
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Obama e Jintao, presidentes dos Estados Unidos e da China: cabe às duas maiores potências do mundo liderar o combate ao aquecimento global, mas nenhuma delas quer assumir o papel
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 95
Negócios globais | Copenhague até 2050. O que faz despertar uma centelha de esperança em quem vem acompanhando as discussões pré-Copenhague é que o Japão e a União Europeia declararam que estão dispostos a encarar o desafio. A eleição do democrata Yukio Hatoyama para primeiro-ministro do Japão, em setembro, teve efeitos imediatos — o país decidiu que a redução de emissão de CO2 até 2020 será de 25%, ante os 15% anunciados até então. Já a Europa prometeu aumentar a meta para 30% se pares igualmente poderosos endossarem o mesmo número. “Colocamos as nossas cartas na mesa. Agora queremos que os outros façam o mesmo”, disse Ed Miliband, ministro de Energia e de Clima da Inglaterra. Ao exigir que outros países se mexam, Miliband, uma das figuras públicas que mais têm se esforçado para que Copenhague não naufrague, está se referindo não
ENQUANTO UM CIDADÃO AMERICANO EMITE, EM MÉDIA, 25 TONELADAS DE CO2 POR ANO, UM BRASILEIRO CONTRIBUI COM CERCA DE 5 TONELADAS Senado americano uma legislação climática, mas a chance de que ela receba sinal verde antes de Copenhague é quase nula. Mesmo que a tal legislação fosse votada, ela é tão tímida que sua repercussão em Copenhague seria mínima. Ela prevê uma meta de redução de emissões até 2020 de 3% em relação a 1990. Pode ser muito para os Estados Unidos, mas é pouquíssimo para o planeta.
Há hoje um consenso entre os cientistas, e também entre os governantes, de que a temperatura média da Terra não pode subir mais do que 2 graus centígrados até o final deste século. Se o termômetro ultrapassar essa marca, as ameaças à vida aqui se tornarão imprevisíveis. Para respeitar esse limite, países ricos, como os Estados Unidos, teriam de se comprometer com reduções de emissões de, no mínimo, 20% até 2020 e 80%
96 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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Centelha de esperança
só aos países desenvolvidos. O recado é também para os emergentes Índia, Brasil e China. Durante muito tempo, o discurso clássico entoado por esses países foi que eles não eram culpados pelo aquecimento global e que seria injusto envolvêlos na solução do problema. Justo ou não, alguns dos emergentes parecem ter entendido que o problema é uma ameaça global e que só o esforço dos ricos não será suficiente para solucioná-lo. O Brasil assumiu publicamente o compromisso de diminuir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020. A medida é relevante, porque é o corte e a queima de florestas que dão ao país o título de quarto maior emissor de gases causadores de efeito estufa do mundo. Há, porém, muita pressão por parte de ONGs e do setor privado para que o Brasil leve para Copenhague uma meta concreta de redução de suas emissões. Para se comprometer globalmente com um número razoável,
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que os Estados Unidos dessem o exemplo e se comprometessem com uma meta de redução de emissões agressiva. Aí, o caminho natural seria segui-lo e definir objetivos igualmente ambiciosos. Essa lógica de raciocínio está fundamentada no simples fato de que os americanos são o segundo maior emissor de CO2 per capita do planeta (no topo da lista está a Austrália, cuja economia, fortemente baseada no agronegócio, já começou a sofrer os efeitos da mudança climática). Enquanto um cidadão americano emite, em média, 25 toneladas de CO2 por ano — muitas vezes impulsionado pelo consumo de diesel de um utilitário esportivo beberrão —, um europeu contribui com cerca de 10 toneladas para o aquecimento global. Um brasileiro emite, em média, 5 toneladas. Obama continua fazendo discursos inflamados de combate ao aquecimento e está tentando aprovar no
Painéis solares no Japão: o primeiro-ministro Yukio Hatoyama anunciou que o país quer diminuir em 25% a emissão de CO2 até 2020
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YURIKO NAKAO/REUTERS
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o país teria basicamente de deixar árvores em pé — algo bem mais barato, por exemplo, que trocar termelétricas movidas a carvão por parques eólicos e painéis solares, medidas que os europeus e os chineses terão de adotar. Até o fechamento desta edição, porém, o governo brasileiro não havia se pronunciado sobre uma proposta concreta para a reunião. “É claro que o país ajudaria se fizesse uma proposta mais agressiva, mas não tem protagonismo suficiente para transformar Copenhague num sucesso”, afirma Eduardo Viola, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília. Se o Brasil não tem força para mudar radicalmente as regras do jogo (e se esquiva sempre que pode), outro emergente toma o lugar de protagonista nessa discussão — a China. Tão importante quanto os Estados Unidos em termos de poderio econômico e capacidade de emitir CO2 (a China é hoje o maior emissor do mundo em termos absolutos), o país deu início recentemente a uma cruzada verde. Hoje é o maior produtor mundial de painéis solares e tem o quinto maior parque eólico do mundo. Tudo isso para cumprir um objetivo definido pelo governo de, até 2020, suprir 15% da demanda de energia do país com fontes renováveis. Agora, o país precisa que sua postura nas negociações internacionais pelo clima reflita essa transformação. O presidente chinês, Hu Jintao, adotou o discurso sobre a urgência do combate ao aquecimento, mas se recusa a estabelecer uma meta de redução para suas emissões ou definir o ano em que elas atingirão seu pico. “Como Obama não se mexeu até agora, Jintao teme dar o primeiro passo e ficar em desvantagem”, diz Viola. Ainda em novembro, Obama deve fazer uma visita à China, e há uma expectativa de que os dois países discutam o tema e possam até mesmo firmar um acordo bilateral de ações contra o aquecimento — medida que não é vista com bons olhos pelo resto do mundo, porque enfraqueceria a reunião de Copenhague. Até agora, no entanto, o que fontes oficiais do governo americano vêm dizendo é que o assunto não deve entrar na pauta. Em meio a tantas dúvidas há apenas uma certeza. “Nos últimos 20 anos, essa é, sem sombra de dúvida, a negociação mais necessária e complexa a ser feita na arena internacional”, afirma Viola. GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 97
Negócios globais | Filantropia
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GUERCHOIS DAMIEN/GAMMA
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Mãe carrega criança na favela de Kibera, a maior do Quênia: 25% das doações não chegam a quem realmente precisa
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NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 99
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a África Subsaariana, uma das regiões mais pobres do planeta, quase metade da população — equivalente a mais de 400 milhões de africanos — vive com menos de 1 dólar por dia. Nos 47 países que compõem a área, cerca de 40% dos habitantes não têm acesso a água potável e um em cada 25 adultos tem o vírus HIV. Em vários países, a maioria da população é analfabeta e o desemprego atinge um terço dos cidadãos. Para tentar reduzir a miséria numa região dominada por conflitos políticos e étnicos, a única saída parece ser a ajuda internacional, certo? Seguindo esse raciocínio, países ricos e filantropos fazem doações cada vez mais vultosas — e o dinheiro repassado a nações africanas atingiu patamares recordes nesta década. As doações ao continente passaram de 15,5 bilhões de dólares em 2000 para 38,7 bilhões em 2007, último dado divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A cifra deve continuar ascendente. No ano passado, os líderes do G8, cúpula que reúne os oito países mais ricos do mundo, confirmaram o compromisso de dobrar sua ajuda à África até 2010. Isso significa que, sozinhos, eles enviarão à região 37,6 bilhões de dólares. “Todos os países do G8 estão determinados a fortalecer a ajuda ao desenvolvimento do continente”, disse, na ocasião, o então ministro das Relações Exteriores do Japão, Masahiko Komura. Parte dessa motivação se deve a alguns avanços percebidos na África. A mortalidade infantil caiu de 229 para 146 por 1 000 habitantes entre 1970 e 2007. No mesmo período, os alfabetizados passaram de 27% da população para 62%. “A ajuda teve, sim, um papel importante nisso”, afirmou recentemente o economista americano Jeffrey Sachs, um dos mais fervorosos apoiadores das doações ao continente. Apesar do apoio internacional, a estratégia para diminuir as agruras africanas com cheques cada vez mais polpudos começa a encontrar um número crescente de opositores. Grandes especialistas em África, como o professor da Universidade de Nova York William Easterly, autor de diversos livros e estudos sobre o assunto, e líderes regionais, como o presidente de Ruanda, Paul Kagame, clamam aos quatro cantos que o dinheiro
A AJUDA NÃO AJUDA? A África nunca recebeu tanto dinheiro. Para muitos analistas, isso está longe de ser uma boa notícia — o auxílio internacional não trouxe o progresso e desestimula o empreendedorismo local TATIANA GIANINI
Doações em alta O valor da ajuda internacional para a África mais que dobrou nesta década (em bilhões de dólares) (1)
EXAME - EEXA - 100 - 12/11/09 EXAME
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Negócios globais | Filantropia
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2000
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2002
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2003
2004
2005
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Distribuição do dinheiro entre os países do continente (em bilhões de dólares)
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Sudão
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Nigéria
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Camarões 1,9
(1) Os dados correspondem aos valores repassados como ajuda oficial para o desenvolvimento (ODA — Official Development Assistance) em 2007
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de fora produz mais efeitos negativos do que positivos. Em janeiro de 2009, o coro foi reforçado pela economista africana Dambisa Moyo, que publicou o polêmico livro Dead Aid (“Ajuda morta”, numa tradução livre), sobre como o auxílio externo vem sendo prejudicial à África. Na opinião desses especialistas, os recursos vindos de fora fomentam a corrupção, paralisam o desenvolvimento de indústrias nacionais e nem de longe acabam com a pobreza. Mais: esse assistencialismo ajuda a construir uma política pró-esmola que, gradativamente, pode arruinar a responsabilidade dos governos africanos de fornecer saúde, educação e infraestrutura de qualidade
transferidos de países ricos para a África em doações e empréstimos. Mesmo com essa ajuda colossal, nenhuma das nações beneficiadas eliminou a pobreza. Ao contrário. Alguns indicadores até pioraram. Segundo a economista Dambisa Moyo, entre 1970 e 1998, quando os fluxos de capital para a África estavam em seu pico, a pobreza saltou de 11% para 66% da população. “Isso é cerca de 600 milhões do 1 bilhão de africanos sendo lançados à miséria”, escreveu ela em seu livro. A renda per capita em muitos dos países ajudados não deu grandes saltos — quando não retraiu. Na Zâmbia, o PIB per capita cresceu mero 0,1% ao ano entre 1990 e 2007. Em países como Níger, a situação é ainda mais crítica: o PIB per capita sofreu uma retração média de 0,6% por ano no mesmo período.
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Angelina Jolie num campo de refugiados em Serra Leoa: em boa parte dos países, a filantropia funciona como band-aid, que não altera os problemas estruturais
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Ilegalidade
Um dos principais problemas que neutralizam o efeito positivo da ajuda é a corrupção. Boa parte do dinheiro doado é desviada por meio de manobras como superfaturamento de contratos de obras públicas e uma folha de pagamentos do governo inflada. Estima-se que, dos 525 bilhões de dólares que o Banco Mundial emprestou para países em desenvolvimento desde 1946, pelo menos 25% simplesmente se perderam na ilegalidade. Segundo o especialista em corrupção Daniel Kaufmann, da americana Brookings Institution, um dos mais tradicionais centros de estudos independentes de Washington, há dezenas de bilhões de dólares de transações corruptas na Áfri-
dinheiro. Em Uganda, a estimativa é que, na década de 90, o governo tenha desviado 80% das doações que afirmava ter investido em melhorias de educação. O mau uso do dinheiro não é o único problema. Se não for bem estruturada, a filantropia pode desencadear efeitos colaterais perigosos — como uma cultura de dependência e desestímulo ao empreendedorismo. É o caso das roupas usadas que chegam às toneladas aos países da África, com doações de países ricos e com a importação por governos de peças de segunda mão por preços módicos. O volume das peças é tão grande que está acabando com indústrias têxteis locais, incapazes de competir com o custo pequeno ou zero das peças de segunda mão. Na Nigéria, que tem um dos setores têxteis mais tradicionais do continente, foram fechadas mais de 150 empresas do ramo entre 1987 e 2007. Entre 1992 e 2006, mais de meio milhão de postos de trabalho da área foram perdidos. Hoje, o país tem cerca de duas dezenas de empresas têxteis, com 20 000 empregados. Há também doadores que falham ao ignorar a realidade dos países que querem ajudar. Um caso emblemático ocorreu em 1971. Na época, o governo da Noruega investiu 22 milhões de dólares no desenvolvimento de um projeto para incentivar a pesca para exportação no lago Turkana, no Quênia, o que previa até uma fábrica para o congelamento dos peixes. O problema é que a tribo turkana, que habita a região, é nômade e sem tradição alguma de pesca. A fá-
DESDE OS ANOS 40, CERCA DE 1 TRILHÃO DE DÓLARES FORAM DOADOS À ÁFRICA. MESMO COM A AJUDA COLOSSAL, NENHUMA DAS NAÇÕES BENEFICIADAS ELIMINOU A POBREZA — e até o empreendedorismo da região. “Em boa parte dos países, a ajuda acaba sendo só um band-aid, que não contribui para o desenvolvimento”, disse a EXAME Andrew Rogerson, especialista em desenvolvimento da OCDE. O raciocínio é polêmico, mas baseia– se em dados. Desde os anos 40, aproximadamente 1 trilhão de dólares foram
ca Subsaariana por ano. Na República Democrática do Congo (antigo Zaire), durante os 32 anos em que o ditador Mobutu Sese Seko governou o país (de 1965 a 1997), o país recebeu mais de 12 bilhões de dólares em ajuda internacional. De acordo com a entidade anticorrupção Transparência Internacional, Seko roubou pelo menos um terço de todo esse
brica foi erguida e operou por alguns dias, mas rapidamente fechou as portas, porque a energia necessária para manter os filés de peixe congelados na região semidesértica era cara demais. Até hoje, a construção está abandonada. Um dos países africanos que mais têm criticado o papel da ajuda internacional como propulsora do desenvolvi-
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Negócios globais | Filantropia
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mento é Ruanda. Recentemente, o presidente Paul Kagame afirmou que as nações pobres não devem depender das doações para prosperar. “O ciclo de ajuda e pobreza é durável: quanto mais os países pobres estiverem focados em receber ajuda, mais eles não trabalharão para melhorar sua economia”, escreveu Kagame em um artigo no jornal inglês Financial Times, em maio. Na opinião dele, o melhor modo de cessar a ajuda é com estímulo ao empreendedorismo. O argumento ganha força porque o país vem conseguindo se livrar da dependência das doações e aumentar a exportação de produtos nacionais, como café e chá, além de estimular o turismo. Ainda que quase metade do orçamento nacional seja financiada por doações, esse número vem caindo. Há dez anos chegou a 85%. O próprio Kagame tem buscado parcerias internacionais voltadas para o desenvolvimento dos negócios em Ruanda. Uma delas é com a empresa americana Starbucks, que se tornou uma das principais clientes do café ruandês.
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Conserto de celulares em Gana: o estímulo ao empreendedorismo pode dispensar necessidade de ajuda
De acordo com organizações de assistência e especialistas, a doação precisa ser mais bem conduzida. Os caminhos para isso são muitos. Um dos problemas mais antigos, que precisam ser corrigidos, é a prática da ajuda vinculada, quando o país doador requer que uma parte da doação seja gasta em seu próprio território. Isso aumenta a ineficiência e encarece as operações, porque quem recebe ajuda fica preso à compra de produtos dos países doadores, pelo preço que os fornecedores deles acharem interessantes, sem o livre mercado. Essa ajuda é criticada ainda por atrelar os interesses comerciais das nações aos programas de auxílio.
Novo modelo
Na metade da década de 90, duas empresas japonesas doaram o equivalente a 3 milhões de dólares ao Malawi para a compra de milho argentino. Apenas 800 000 dólares foram gastos em milho, o restante foi usado em custos extras, como transporte e seguro. Se o Malawi
pudesse usar o valor para comprar de um produtor africano, o mesmo dinheiro teria rendido três vezes a quantidade de milho. Segundo a organização não governamental ONE, a ajuda não vinculada é 30% mais efetiva do que os pacotes que vinculam o uso da verba em serviços ao país doador. A boa notícia é que, de acordo com dados da OCDE, isso está mudando. Em 2002, 43% da ajuda oficial era não vinculada. Esse número, em 2006, já havia aumentado para 53%. “A recomendação é que toda ajuda seja não vinculada, porque ela dá mais valor ao dinheiro e é mais efetiva”, diz Andrew Rogerson, da OCDE. Mesmo que haja correções, os especialistas são unânimes em afirmar que, num futuro ideal, o continente africano não deve receber doações. “A ajuda não é a resposta para acabar com a pobreza e garantir a igualdade e os direitos humanos”, disse a EXAME Caroline Pearce, especialista em África da ONG inglesa Oxfam. “Mas, por enquanto, ela ainda tem um papel a desempenhar.”
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UM CHOQUE VERDE NO GOVERNO
Os resultados do programa de compras sustentáveis no estado de Minas Gerais representam um dos melhores exemplos brasileiros de uma tendência que cresce em todo o mundo | EDUARDO PEGURIER
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propalado choque de gestão capitaneado pelo governo de Minas Gerais fez com que o estado saísse de um déficit de 2,4 bilhões de reais em 2003 para um saldo positivo de 3,6 bilhões de reais em 2008. Boa parte dessa reversão foi resultado de um rigoroso corte de custos na máquina pública. Um lado menos conhecido desse programa, porém, começa agora a apresentar resultados. Nos últimos três anos, além de criar critérios de compras com o objetivo de reduzir preços e desperdícios, Minas criou especificações para fazer também as chamadas “compras sustentáveis”. Um dos exemplos mais contundentes é o do uso de asfalto-borracha, feito em parte com pneus velhos reciclados e aproveitados sobretudo na pavimentação de rodovias. A utilização do material passou de apenas 3% em 2008 para 12% do total do material aplicado em novas pavimenta-
referência nesse sentido é a Inglaterra, que em 2006 estabeleceu diretrizes que estão sendo absorvidas pelos governos locais. Em Londres, por exemplo, todos os prédios públicos são submetidos a uma avaliação de eficiência energética. O resultado é exibido numa placa na entrada de cada um deles. Há também normas rígidas de compra de materiais para obras públicas, como as do estádio que vai abrigar a Olimpíada de 2012, em que os fornecedores têm de apresentar um inventário de emissões de gases de efeito estufa. “A iniciativa do setor público o legitima a cobrar o mesmo das empresas e dos cidadãos, além de garantir mercado para produtos verdes que impulsionam a inovação nessa área”, diz Laura Valente, diretora para a América Latina e Caribe do Iclei, associação internacional criada em 1990 e que engloba 1 105 cidades e estados com iniciativas verdes no mundo todo.
O avanço do programa mineiro
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Como evoluíram as compras sustentáveis em Minas Gerais nos últimos três anos
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Asfalto feito com pneu reciclado
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(1) Estimado Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão do governo do estado de Minas Gerais
Estrada em Minas Gerais: o uso do pneu reciclado para pavimentação ajudou a economizar 37 milhões de reais em 2008
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Total de PCs com baixo consumo de energia
ções no estado neste ano. A troca do material, em conjunto com a centralização de compra de asfalto na estrutura de governo, possibilitou uma economia de 37 milhões de reais em 2008. No mesmo período, o governo mineiro também ampliou o uso de papel reciclado, além de trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes, que consomem menos energia (veja quadro). “O impacto do estado ao criar critérios sustentáveis para fazer suas compras pode ser transformador”, diz a secretária de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, Renata Vilhena. A iniciativa mineira é um dos melhores exemplos brasileiros de uma tendência que cresce em todo o mundo — a preocupação de governos com a sustentabilidade de suas atividades. A grande
No Brasil, a primeira iniciativa do Iclei se deu em 2005, numa parceria firmada com o Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas para criar um programa para a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Apesar do pioneirismo, o efeito concreto desses projetos em São Paulo ainda é tímido. Um dos principais resultados até agora é a criação do selo Cadmadeira, um cadastro criado em 2008 que certifica empresas que vendem madeira legal — até hoje, porém, o governo não consegue mensurar a participação desses fornecedores certificados nos materiais comprados no estado. “Uma vantagem do programa de Minas foi ficar concentrado na Secretaria de Planejamento e Gestão”, diz Laura, do Iclei. “Em geral, esse tipo de
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DAVID ROSE/PANOS
Prefeitura de Londres: desde 2002, todos os prédios públicos da cidade passam por uma avaliação de eficiência energética
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PRODUTOS VERDES CUSTAM ATÉ 15% MAIS. MESMO ASSIM, O INVESTIMENTO COMPENSA
programa é desenvolvido pelos órgãos de meio ambiente, que não possuem ascendência imediata nas áreas de compras.” No caso da iniciativa mineira o que chama a atenção não é apenas a abrangência dos projetos como também a velocidade com que eles foram executados. O programa começou em 2006 com uma família restrita de produtos — material de escritório, computadores e pavimentação — com potencial de oferecer maior retorno no curto prazo. Em 2007, Minas utilizava apenas 2% de papel reciclado. Em 2008, o total chegou a 23%, e hoje já alcança 34%. Para ampliar o programa, nem sempre é possível seguir o preceito básico das compras públicas de sempre privilegiar preços mais baixos em licitações. As compras sustentáveis estão ancoradas no conceito de ciclo de vida do produto, que leva em conta não apenas seu preço à vista mas todos os custos ao longo de sua vida útil. “O que parece caro de início pode ser bem mais barato no decorrer do tempo se, por exemplo, consumir menos energia elétrica”, afirma Moema Parreiras, coordenadora do pro-
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Brasil | Gestão pública
grama. É o que explica, por exemplo, a substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Embora as fluorescentes custem cerca de 15% mais caro, a economia de energia compensa a diferença. A construção de prédios públicos verdes também significa pagar mais agora para ganhar depois. Mesmo com custo 15% maior, o retorno desse investimento chega rápido. Em Varginha, no sul de Minas Gerais, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente começou a construir em setembro um novo conjunto de prédios que seguem esse princípio. Os materiais usados na construção são bons isolantes térmicos e as janelas protegidas por brises, quebra-sol que reduz o calor mas deixa a luz passar. As lâmpadas serão de LED, que consomem 70% menos energia que a comum. Os postes de luz externos
e o aquecimento da água nos vestiários serão movidos a energia solar. Segundo os cálculos do governo de Minas, o retorno virá em apenas 18 meses. Até o final do ano, o governo pretende incluir outras cinco categorias de produtos nas regras de compras verdes, como a frota de veículos oficiais e material hospitalar. No entanto, não existem até agora metas estabelecidas para nenhuma delas. Hoje também não existem — nem no caso mineiro nem no paulista — relatórios públicos que discriminem os ganhos e estabeleçam metas para as ações empreendidas. Sem métricas, o risco é que o programa se perca — em especial no momento de troca de governo. “Eis aí um aspecto em que todas as iniciativas brasileiras ainda têm muito a melhorar”, diz Laura, do Iclei.
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Winston: “Muitos executivos americanos ainda acham que o aquecimento global é um embuste”
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Entrevista | Estratégia
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Para o consultor americano Andrew Winston, as empresas que pretendem adotar políticas verdes devem, em primeiro lugar, entender que ecoeficiência não é custo | ANA LUIZA HERZOG
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COMO LUCRAR COM A NOVA ECONOMIA
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americano Andrew Winston não é um acadêmico renomado ou um empresário poderoso. Mesmo assim, seus conselhos têm sido ouvidos atentamente por empresas como HP, Boeing e Ikea. Formado em economia pela Universidade Princeton, nos Estados Unidos, e mestre em gestão ambiental por Yale, Winston é hoje um dos consultores “verdes” mais celebrados do planeta. O que o torna atraente aos olhos das empresas que o contratam é o fato de que, com uma linguagem simples, ele ensina às grandes corporações o que elas devem fazer para se adequar à economia de baixo carbono. Trata-se de um discurso que privilegia o pragmatismo em detrimento da utopia. Em O Verde Que Vale Ouro, por exemplo, livro lançado em 2006 com o professor da Universidade de Yale Daniel C. Esty, Winston detalha como as companhias podem se aproveitar dos desafios ambientais para se diferenciar dos concorrentes. Neste ano, na esteira da crise econômica mundial, ele lançou Green Recovery (“A retomada verde”, ainda sem tradução para o português). A obra é nova, mas a ideia central é praticamente a mesma do livro anterior: a conversão à causa verde traz lucro para as empresas — e isso pode ser particularmente oportuno num momento em que o capital está escasso. De seu escritório, em Connecticut, Winston concedeu a seguinte entrevista a EXAME.
Exame Em seu segundo livro, lançado recentemente, o senhor fala muito sobre a importância de as empresas abraçarem a ecoeficiência, conceito criado na década de 80. Não é uma ideia um pouco batida? Andrew Winston Você tem razão e seria bom se eu não precisasse mais falar sobre isso. O que vejo, porém, é que poucas empresas estão fazendo tudo que podem em relação à ecoeficiência. Existe uma espécie de senso comum de que, ao se tornar “verde”, uma companhia economiza dinheiro, mas a mentalidade ultrapassada de que a adoção de práticas ambientalmente corretas custa caro ainda não desapareceu por completo. Por isso, acho importante continuar batendo nessa tecla. Mas o que há de novo nessa área? Ainda há muito para ser feito, dezenas de medidas de ecoeficiência que as empresas podem reputar como investimento rápido e certo, e não como custo. Um exemplo é a demanda por energia decorrente do uso de tecnologia da infor-
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Entrevista | Estratégia o problema está aí e que, quanto mais rapidamente um marco regulatório for definido, melhor. Somente assim as inovações serão impulsionadas — porque já existe um certo sentimento de que estamos ficando para trás em relação à China e à Alemanha. Ou seja, não diria que 100% das empresas têm esse posicionamento, mas muitas estão, sim, trabalhando para isso.
Nos últimos meses, empresas brasileiras começaram a se movimentar para influenciar a posição que o governo levará para a reunião climática de Copenhague, em dezembro. Como tem sido o posicionamento das empresas americanas em relação a esse tema? Um movimento está acontecendo em relação à Câmara Americana de Comércio, que faz lobby para o livre comércio
OS FUNCIONÁRIOS SÓ VÃO PENSAR EM DESENVOLVER PRODUTOS E SERVIÇOS VERDES SE A EMPRESA INCLUIR METAS DESSE TIPO EM SUAS POLÍTICAS DE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL ou para qualquer outra coisa que beneficie as companhias. De setembro para cá, empresas, como Nike, Apple e as concessionárias de energia Exelon, Pacific Gas & Electric e PNM, deixaram a entidade porque são contra seu posicionamento retrógrado em relação às mudanças climáticas. Elas querem que uma legislação seja aprovada, a Câmara é contra. Há também a United States Climate Action Partnership, que reúne mais de duas dezenas de grandes empresas e prega a urgência da aprovação de uma legislação. Há desde companhias como a GE e a Siemens, que querem lucrar vendendo turbinas eólicas, até outras que simplesmente sabem que
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Tornar os produtos e os serviços de fato mais “verdes” é mais difícil para as empresas do que adotar medidas de ecoeficiência, como trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes ou fazer reúso de água. Há uma maneira de fazer com que essa mudança seja mais fácil? Mexer na essência de produtos e serviços exige um nível diferente de comprometimento. Por isso recomendo que as empresas deem pequenos passos. Não dá para simplesmente entrar numa empresa e dizer que ela precisa repensar inteiramente seu negócio. O primeiro passo é adotar a ecoeficiência para abandonar a ideia de que tornar a companhia verde representa custo. Para isso, é possível começar fazendo uma reforma nos prédios para diminuir em 60% os gastos com iluminação, mexendo na frota, na estrutura de TI. Só então deve-se propor mudanças mais estruturais na área de pesquisa e desenvolvimento. Há outras duas razões para começar dessa maneira. A primeira é que você ganha tempo para que as pessoas adquiram conhecimento para trabalhar com o tema. É importante lembrar, porém, que os funcionários só vão pensar em produtos e serviços verdes se tiverem liberdade e tempo para isso. Não basta dizer que isso tem de acontecer e não inserir como meta nos processos ou nas políticas de remuneração variável. A segunda razão é que, ao adotar essas medidas, a empresa ganhará mais dinheiro para investir — porque algumas iniciativas verdes vão demandar mesmo grandes aportes de capital num primeiro momento.
que está tentando implantar o que batizaram de Planeta Mais Inteligente. A ideia é usar a tecnologia para fazer com que cidades, empresas e comunidades funcionem de forma mais eficiente e com menos desperdício. Há também companhias como a Toyota, que desenvolveu produtos importantes, como o Prius, um veículo híbrido. A propósito, esse exemplo diz muito sobre como as montadoras japonesas estão mais preparadas que as americanas para aderir à onda verde.
Em seu livro há muitas menções ao Walmart e à GE. Há outras empresas americanas às quais devemos prestar mais atenção? Há dezenas de empresas de todos os tamanhos fazendo coisas interessantes, mas eu faço mesmo muitas menções ao Walmart. Nunca trabalhei pra eles, mas é impossível não prestar atenção no que a empresa está fazendo. Há também a IBM,
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mação, que aumentou muito rapidamente nos últimos anos. Hoje, um data center pode ser 15% mais eficiente do que há três anos. Por isso, a competição entre os fornecedores de TI para ajudar as empresas a reduzir gastos com energia tem crescido tanto.
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É mesmo verdade que o senhor ainda esbarra em executivos que não acreditam no aquecimento global? Sim, um monte. Pelo menos metade das pessoas com que lido nas empresas acredita que a mudança climática é uma invenção dos cientistas. Isso acontece mesmo nas empresas supostamente verdes. Não acho que seja assim em outros países, mas aqui muito dinheiro já foi gasto para fazer com que as pessoas acreditem que o aquecimento global é um embuste. De qualquer maneira, isso tem pouca importância agora. Acreditando ou não, a realidade do mundo dos negócios já é outra, e as empresas terão de se adaptar a ela.
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Negócios | Legislação
UM PROBLEMA CARO E INVISÍVEL 19:53 04/11/09 ALESILVEIRA Composite EXAME - EEXA - 112 - 12/11/09
FERNANDO MORAES
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ficará pronto apenas em 2012, com quase três anos de atraso.” A demora na concessão de licença pela Cetesb no caso do terreno da WTorre resulta de uma legislação que se tornou mais rígida nos últimos anos no que se refere ao gerenciamento de áreas contaminadas. Desde o final da década de 90, apenas as empresas potencialmente poluidoras tinham de passar seus projetos por uma avaliação ambiental. Hoje, todas as construtoras precisam submeter suas obras a uma avaliação das condições do solo antes de iniciá-las. As regras ficaram ainda mais severas em São Paulo, com a aprovação de uma nova lei em julho de 2009. Para empresas como a WTorre, lidar com esse rigor é novidade — e motivo de preocupação (veja quadro). “Vai ficar cada vez mais difícil para as empresas tentar se isentar de responsabilidade”, diz a advogada Ana Luci Limonta Esteves Grizzi, sócia do escritório Veirano. “As companhias deverão ter mais cautela na aquisição de terrenos e antigas fábricas, pois serão responsáveis por contaminações passadas.” A fiscalização mais intensa levou a um aumento significativo dos registros de novos casos de contaminação. Em 2002, a Cetesb divulgou pela primeira vez uma
á pouco mais de dois anos, o paulista Walter Torre Junior planejava iniciar no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo, a maior obra da história de sua construtora, fundada há 29 anos. Numa área de 50 000 metros quadrados, a WTorre projetou erguer um hipermercado com a bandeira Walmart e seis edifícios, entre escritórios e condomínios residenciais, que deveriam ficar prontos no final de 2009. O projeto exigiria um investimento de 500 milhões de reais. No entanto, até agora as obras nem começaram. A razão está na contaminação do solo da área, que abrigou por mais de 40 anos uma antiga fábrica de sorvetes da Kibon, comprada pela Unilever em 1997. Desde o anúncio do complexo, a construtora está às voltas com estudos e relatórios para obter a autorização da Cetesb, companhia de licenciamento ambiental do estado de São Paulo, e começar a construção. A solução do problema poderá custar até 10 milhões de reais. Torre Junior estima que as obras serão iniciadas em junho de 2010. “Já sabíamos do problema ao comprar o terreno. Mas o caso está se mostrando mais tortuoso do que prevíamos”, diz ele. “O projeto
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Novas leis sobre a contaminação de terrenos se transformam no mais recente risco ambiental a ser administrado pelas empresas | DENISE CARVALHO
As novas regras As principais mudanças que a nova lei exige das empresas que atuam no estado de São Paulo a respeito das áreas contaminadas GARANTIA BANCÁRIA Ao identificar a contaminação de um terreno, a empresa proprietária deverá apresentar uma garantia bancária equivalente a 125% do custo estimado para a solução. O valor será usado caso a empresa descumpra o cronograma inicial.
Como era antes As empresas não precisavam dar nenhuma garantia antecipadamente, apenas arcar com eventuais custos da descontaminação de áreas afetadas.
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A Cetesb passa a ter poder para aplicar multas de até 50 milhões de reais por infrações ambientais e desrespeito às regras da lei. Ainda não houve pagamentos de multas de acordo com a nova legislação.
Como era antes O valor das
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multas era limitado a 158 500 reais para casos graves de impacto no meio ambiente.
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COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
Shopping Iguatemi, em São Paulo: 2 milhões de reais para eliminar a contaminação do subsolo descoberta durante uma obra de expansão em 2007
A lei prevê a formação de um fundo de prevenção a ser pago por empresas com atividade potencialmente causadora de contaminação, destinado ao gerenciamento de áreas contaminadas. A definição do valor ainda está em estudo. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente levará em conta o porte do empreendimento, o grau de risco do negócio e a tecnologia usada para a redução do potencial de contaminação.
Como era antes Não havia cobrança prévia de compensação ambiental, tampouco uma taxação das empresas de acordo com sua atividade e seu potencial causador de contaminação.
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Posto de gasolina em São Paulo: o setor é responsável por 80% dos solos contaminados em todo o estado
lista desse tipo. Na época, havia apenas 255 terrenos com problemas. Até o final de 2009, a conta deve chegar a 3 000 terrenos. As áreas de maior incidência de contaminação são aquelas próximas a postos de gasolina. Donos de tanques que armazenam óleos, derivados de combustíveis e solventes no subsolo, os postos são responsáveis por 80% dos solos contaminados no estado de São Paulo. Desde 2001, uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) passou a obrigar os postos de gasolina de todo o país a obter licença de instalação da Cetesb local. “A norma obrigou empresas a investigar seu passivo ambiental”, diz Rodrigo Cunha, coordenador do grupo gestor de áreas contaminadas da Cetesb. “Apertamos o cerco contra o mau uso de terrenos e as irregularidades no gerenciamento de áreas contaminadas.”
aconteceu em Jurubatuba, bairro que concentra um polo industrial na região sul de São Paulo. Em 2001, a Gillette descobriu uma contaminação num terreno preparado para a construção de uma nova fábrica. Desde então, o terreno permanece praticamente intocado — a atual proprietária é a Procter&Gamble, que adquiriu a Gillette em 2005. Depois da Gillette, outras oito empresas instaladas na região descobriram um passivo ambiental abaixo do solo, contaminado por solventes químicos nocivos à saúde. Em conjunto, elas pretendem criar um projeto de descontaminação para dividir os custos — que ainda não foram estimados. “O que podemos dizer é que a empresa tem investido muitos milhões de dólares nesse processo”, afirma o americano Franklin Legall, gerente de projetos para questões ambientais da P&G.
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solução milionária
Dar um destino adequado aos resíduos tóxicos é um desafio caro. Os controladores do Shopping Iguatemi gastaram cerca de 2 milhões de reais para gerenciar uma contaminação nas imediações do empreendimento, em São Paulo. Parte do investimento foi aplicada na remoção de 4 500 toneladas de terra e dois tanques de gasolina do subsolo, operados por um posto há 20 anos. O material foi encontrado durante as escavações para as obras de expansão do shopping, em 2007. A segunda fase previa a perfuração de ruas próximas para identificar o alastramento da contaminação. As dificuldades de obter autorizações na prefeitura, no entanto, atrasaram o cronograma das obras, e o shopping foi multado pela Cetesb em 8 000 reais. “A empresa faz reservas para contingência, mas esse problema não estava previsto”, afirma Maristela Garcia, gerente jurídica do Iguatemi. Para evitar problemas com áreas contaminadas, os especialistas orientam as empresas a tomar alguns cuidados simples antes de comprar terrenos: investigar a área, conversar com antigos
ATÉ O FINAL DE 2009, O NÚMERO DE ÁREAS CONTAMINADOS EM SÃO PAULO CHEGARÁ A 3 000
Em alguns casos, a identificação de contaminação do solo por uma empresa pode ser indício de que outras companhias, situadas em locais próximos, podem ter o mesmo problema. Foi o que
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funcionários e vizinhos e levar porções de solo e água para análise em laboratório. Hoje, há mais de 120 consultorias especializadas em auditorias ambientais que fazem estudos de impactos e calculam o custo de gerenciamento das áreas contaminadas. Há uma década, apenas dez empresas faziam esse trabalho. “A crescente preocupação das empresas com os terrenos contaminados triplicou nosso faturamento desde 2005”, diz Cristina Knapp, diretora da consultoria Environ Arquipélago, uma das maiores do setor. “Antes desistir da compra de um terreno do que comprometer o futuro do negócio por causa de uma análise malfeita”, diz o advogado Jorge Alex Athias, especializado em meio ambiente, do escritório Silveira, Athias, Soriano de Mello, Guimarães, Pinheiro e Scaff, sediado em Belém, no Pará.
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EFICIÊNCIA É O N Preocupações ambientais e a necessidade de cortar custos impulsionam os projetos de conservação de
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lizar a produção de vapor, a fábrica deve economizar neste ano aproximadamente 6 milhões de reais em eletricidade e gás natural. Isso representa uma redução de 10% em relação aos gastos que tinha antes de colocar em prática as medidas de eficiência energética. O valor da economia obtida em um único ano é cerca de três vezes superior ao investi-
o final de 2007, a fábrica de poliéster e viscose da Vicunha na cidade de Americana, no interior paulista, iniciou a execução de um programa para reduzir o consumo de energia. Depois de realizar ajustes e a troca de equipamentos na sala de compressores de ar comprimido e raciona-
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Negócios | Energia
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mento que a Vicunha fez nos projetos — 1,7 milhão de reais, além de 650 000 reais custeados pela CPFL, que é obrigada, como todas as distribuidoras de energia, a destinar 0,5% de sua receita a projetos do Programa de Eficiência Energética, criado pela Aneel, agência que regula o setor. “Todo mundo na empresa ficou feliz com esses números”,
ILUSTRAÇÃO ALEXA CASTELBLANCO
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NOME DOJOGO energia. No Brasil, esse mercado deve movimentar 1 bilhão de reais em 2009 afirma o engenheiro Valmir Calef, que coordenou o programa na Vicunha. Em um dos projetos de eficiência energética implantados, a empresa têxtil contou com a ajuda da MGD, empresa paulistana especializada em serviços de conservação de energia. Esse tipo de empresa — conhecida como “esco”, do inglês energy services company — auxilia outras
companhias a reduzir os gastos com energia e água e é comum no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Lá, o negócio da eficiência energética ganhou força após as duas crises do petróleo, na década de 70, e até o ano passado já acumulava investimentos de 20 bilhões de dólares. No Brasil, as primeiras escos surgiram no fim dos anos 80, mas só deslancharam nos
| JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
últimos anos, diante da crescente preocupação das empresas com o impacto ambiental de seus negócios e da necessidade de cortar custos. O faturamento das escos brasileiras vem crescendo acima de 20% ao ano desde 2005 e deve cravar seu primeiro bilhão de reais neste ano, segundo estimativa da Abesco, associação que reúne 57 consultorias dessa área. “Numa
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Negócios | Energia O Brasil ficou para trás
Entre as maiores economias mundiais, o Brasil é o único país que não obteve avanços no uso racional de energia nas duas últimas décadas. Veja o aumento do consumo de energia e da eficiência energética entre 1991 e 2007 Variação no consumo de energia(1) Alemanha
Ganho de eficiência energética(2)
22%
-1%
BRASIL
68%
-5%
Estados Unidos
20%
26% 127%
Índia Japão
44%
176%
China
19% 9%
16%
estimativa conservadora, o potencial de mercado para a eficiência energética no país é de 17 bilhões de reais ao ano”, diz Maria Cecília Amaral, diretora executiva da Abesco. Sua afirmação se apoia no atual estágio da eficiência energética no Brasil. Entre 1991 e 2007, o consumo de energia no país aumentou 68%. Mas, no mesmo período, houve uma perda de eficiência energética de 5%. Em bom português, isso significa que o Brasil passou a gastar 5% mais energia para produzir a mesma riqueza — situação muito diferente da observada em outros países emergentes. Na China, no mesmo período, houve um ganho de eficiência energética de 44%. Na Índia, a eficiência cresceu 19% (veja quadro).
de performance para executar ações de eficiência energética em teles como Oi, Embratel, Claro e Telefônica. “Os sinais são muito promissores nesse mercado de eficiência”, diz Marco Antonio Donatelli, superintendente da Light Esco, que deve faturar perto de 140 milhões de reais neste ano, 40% mais que em 2008. O contrato com a Oi — o primeiro fechado pela empresa — estipula que a EBL invista 5,3 milhões de reais na troca dos sistemas de iluminação e ar-condicionado em 41 prédios da companhia. Só o ar-condicionado, essencial numa central telefônica, representa quase 60% do gasto das teles com energia elétrica. Até 2012, a meta da Oi é diminuir em 5% o consumo de eletricidade, o que deverá ser alcançado com
Atraídos pela perspectiva de crescimento, recentemente fundos de investimento, empresas de energia e fabricantes de produtos que poupam energia começaram a procurar escos brasileiras para negociar aportes de capital, associações e parcerias estratégicas. É o caso da EBL, sociedade que reúne a BR Distribuidora e duas escos — a Ecoluz, de Salvador, e a Light Esco, do Rio de Janeiro. Criada em abril de 2008, a EBL já negocia contratos
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O POTENCIAL DE MERCADO PARA A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO PAÍS É ESTIMADO EM 17 BILHÕES DE REAIS AO ANO
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(1) Considera a energia primária, disponível na natureza (petróleo, gás natural, biomassa, energia hídrica, eólica e solar) (2) Relação entre o consumo de energia e o PIB no período Fonte: Energy Information Administration (EIA), do governo dos Estados Unidos
melhorias na eficiência em metade de seus 800 prédios. “Eficiência energética é um item nobre de nossa política de sustentabilidade”, diz Eduardo Michalski, diretor de suprimentos da Oi. Há, basicamente, duas maneiras de as escos lucrarem com a eficiência energética: o cliente paga pelo serviço após a conclusão do projeto, como ocorreu no caso da Vicunha, ou negocia-se um contrato de performance. Por esta última modalidade de contrato, o cliente paga à consultoria uma fração da economia de energia gerada pelo projeto durante o prazo do contrato (que geralmente não passa de cinco anos). Após esse prazo, a economia obtida fica integralmente com a empresa contratante do serviço. O projeto geralmente começa com o diagnóstico do desperdício de energia e água, prossegue com modificações nos sistemas de iluminação, ar-condicionado, ar comprimido e vapor e termina com o monitoramento dos ganhos de eficiência previstos. Também podem ser incluídos no contrato projetos de créditos de carbono no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) de Kyoto. Se no setor de comércio e serviços as escos encontram terreno fértil para emplacar seus contratos de performance — como o fechado entre a EBL e a Oi —, na indústria a situação é mais complicada. O principal obstáculo é o volume de investimento exigido. Enquanto nos setores de comércio e serviços os projetos costumam exigir das escos um aporte inferior a 1 milhão de reais, na área industrial os números são muito mais elevados, podendo atingir 20 milhões de reais — e nem sempre as escos têm caixa para bancá-los. Falta também uma política pública consistente para incentivar as indústrias a investir em conservação de energia. O Ministério de Minas e Energia promete anunciar até o final de 2009 uma estratégia nacional de eficiência energética visando cortar 10% do consumo elétrico até 2030. A estratégia poderá contemplar incentivos fiscais, leilões para selecionar projetos de eficiência e o fortalecimento do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), hoje focado principalmente nos selos de eficiência. O Brasil se orgulha de ter uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta — mas é hora de aprender a usar melhor esse recurso.
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FAÇAM O QUE FAÇO
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da calça continuará imenso”, diz Cady. “Por isso, precisamos diminuir o consumo nas fazendas para nos considerarmos verdadeiramente sustentáveis.” Em busca de uma solução para o problema, a Levi’s fez uma parceria com a ONG Better Cotton Initiative (Iniciativa para um Algodão Melhor), cujo objetivo é disseminar técnicas sustentáveis na produção do algodão — o que inclui a redução do uso de água e pesticidas, a preservação da biodiversidade e o respeito às normas de proteção aos trabalhadores. Durante sua visita ao Brasil, Cady foi acompanhado por Allan Williams, coordenador técnico ambiental da BCI. Ambos se reuniram com produtores para promover o método de plantio sustentável. Atualmente, a Levi’s não tem nenhum controle sobre a origem do algodão utilizado. Até 2015, a meta é empregar, no mínimo, 5% de algodão sustentável em todas as suas roupas. A companhia discute com seus fornecedores uma forma de rastrear e com-
executivo americano Sean Cady, diretor mundial de sustentabilidade da fabricante de jeans Levi’s, esteve no Brasil em setembro para tratar de um assunto que virou uma de suas principais preocupações nos últimos tempos: o plantio de algodão. Há três anos, um estudo sobre o ciclo de vida do modelo 501 — a primeira calça jeans lançada pela empresa, há mais de um século — revelou que cada peça consome mais de 3 000 litros de água em dois anos, considerando-se os gastos no cultivo da matéria-prima, na fabricação do tecido e nas lavagens feitas pelo consumidor. Quase metade desse consumo ocorre nas fazendas. A Levi’s não compra algodão dos agricultores — o tecido é adquirido diretamente das tecelagens. Para obter uma redução significativa no consumo de água, porém, era preciso atacar o problema na origem. “Podemos zerar nosso consumo de água em nossas fábricas, escritórios e lojas, mas o impacto ambiental
provar o uso do algodão produzido com boas práticas. A mesma iniciativa está sendo desenvolvida na Índia e no Paquistão, outros grandes fornecedores de tecidos da fabricante de roupas. Mudar as práticas do fornecedor é uma das estratégias mais avançadas usadas hoje pelas empresas para estimular o desenvolvimento sustentável. Essa nova abordagem é a evolução de um processo que vem ocorrendo há anos no Brasil e no mundo. O caminho natural das empresas é começar com iniciativas isoladas de responsabilidade socioambiental, depois estruturar um programa mais coeso e incorporar essa questão ao plano de negócios. Mais recentemente, a tendência é que as empresas comecem a disseminar a preocupação social e ambiental em toda a cadeia de produção. “Uma empresa realmente comprometida com a sustentabilidade não pode olhar só para o próprio umbigo”, diz Flávia Moraes, sócia da consultoria de sustentabilidade Gestão Origami. “A companhia precisa ter uma
ALEXANDRE MARCHETTI
Por que algumas grandes empresas estimulam — e até mesmo exigem — a adoção de práticas sustentáveis em toda a cadeia de fornecedores | FELIPE CARNEIRO
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Sean Cady, diretor mundial de sustentabilidade da Levi’s, em Porto Alegre: meta de empregar 5% de algodão sustentável em seus produtos até 2015
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Produção de arroz na Índia: uma nova técnica de cultivo incentivada pela Pepsico pode economizar o equivalente a toda a água usada por suas três fábricas no país
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visão ampla, que envolva fornecedores, clientes, acionistas, terceiro setor e até o governo. A sociedade exige isso.” Nesse sentido, calcular o gasto de água durante o ciclo do produto para reduzir o consumo, como fez a Levi’s, é um bom começo. A Pepsico tem uma iniciativa semelhante com a redução do consumo de água no cultivo de arroz na Índia, equivalente a todo o consumo de suas três fábricas de salgadinho no país. Outra medida é incluir no contrato com os fornecedores regras rígidas de conduta em relação aos trabalhadores e ao meio ambiente, monitorando tudo de perto. É o que fazem, por exemplo, as empresas Vale, Tetra Pak e Bunge. “As empresas precisam assumir sua liderança, já que têm os recursos financeiros, tecnológicos e humanos para
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Gestão | Fornecedores
gerar uma mudança concreta. Elas têm o poder de agir como impulsionadoras desse processo”, afirma Flávia. Em casos extremos, essa postura mais atenta em relação aos fornecedores pode criar situações que beiram o conflito. Foi o caso do recente boicote promovido pelas três maiores redes de supermercados do país — Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar — aos produtores de carne do Pará, denunciados pelo Ministério Público Federal por desmatar a floresta Amazônica para a criação de gado, e aos frigoríficos que negociam com esses pecuaristas. A medida, chancelada pela Associação Brasileira dos Supermercados em junho, é considerada um marco para o setor. Foi a primeira vez que os três concorrentes se uniram em torno de uma
causa em comum. “Já vínhamos conversando com os fornecedores para alinhar o discurso e as práticas sustentáveis. O boicote mostrou que estávamos falando sério”, afirma Marcelo Penna, vice-presidente comercial do Walmart no Brasil. Se alguma das três redes furasse o bloqueio, ela certamente conseguiria obter a carne a preços bem inferiores aos das demais concorrentes — e o boicote se tornaria inviável. “O melhor de tudo foi ver que a sociedade nos apoiou, mesmo sabendo que talvez a carne ficasse um pouco mais cara”, diz Paulo Pompilio, diretor de responsabilidade socioambiental do grupo Pão de Açúcar. Como resultado do boicote, os 11 frigoríficos notificados pelo MPF se comprometeram a não mais comprar carne
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JACOB SILBERBERG
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Além do próprio umbigo
Como grandes empresas estão tentando reduzir o impacto ambiental e social de suas cadeias de fornecimento Atenção ao fornecedor Tolerância zero A multiplicação do fornecedor do bom exemplo É cada vez mais comum
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Algumas empresas começam a olhar o impacto ambiental e social de toda a cadeia, até mesmo os fornecedores dos fornecedores.
que empresas criem padrões inflexíveis de conduta social e ambiental para banir fornecedores que não as cumprem.
Para muitas empresas, as boas práticas socioambientais não devem ser guardadas como um segredo interno — e sim disseminadas.
Exemplo: A Levi’s não compra algodão diretamente dos produtores. Mesmo assim, ao perceber que grande parte do consumo de água necessário para produzir suas calças jeans está nas fazendas, a empresa associou-se à ONG Better Cotton Initiative para disseminar técnicas mais sustentáveis no plantio de algodão em todo o mundo.
Exemplo: Empresas como a
Exemplo: Desde 2006, o Bradesco
fabricante de artigos esportivos Nike e as três maiores redes de supermercados do Brasil — Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour — se uniram no início deste ano para deixar de comprar couro e carne de fornecedores de gado criado em áreas desmatadas da floresta Amazônica.
organiza encontros semestrais com alguns de seus principais fornecedores para debater assuntos relacionados à sustentabilidade. Além de palestras com especialistas de diversos temas, os representantes de fornecedores bem-sucedidos sobem ao palco para dividir suas experiências.
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vel da produção de couro. Além disso, a Nike fez uma ameaça: se um sistema de rastreamento da origem do gado não for implantado até julho de 2010, a companhia vai estender a restrição à compra de couro para toda a Amazônia Legal, que engloba nove estados brasileiros. Antes de adotar soluções radicais como a das varejistas e a da Nike, a maioria das empresas prefere usar o convencimento para fazer com que seus fornecedores adotem práticas sustentáveis. O Bradesco, por exemplo, organiza, a cada seis meses, um evento para fornecedores com palestras de especialistas em sustentabilidade. Muitas vezes, os próprios fornecedores assumem o papel de palestrantes, compartilhando suas experiências. No último encontro, por exemplo, a fa-
proveniente de áreas desmatadas. Além disso, a ação das redes varejistas inspirou outras empresas. A fabricante de material esportivo Nike, seguindo uma orientação da organização ambientalista Greenpeace, decidiu suspender as compras de couro dos fornecedores paraenses denunciados pelo MPF. “Estamos no meio de um processo de reestruturação de nossa política de sustentabilidade, mas essa era uma questão que não podíamos deixar para depois”, afirma Claudio Kehrwald, gerente de sustentabilidade da operação brasileira da Nike. A empresa exige que até o final de 2009 todos os seus fornecedores de couro se associem ao Leather Working Group, grupo internacional de empresas e pesquisadores voltados para a criação de um protocolo para o manejo sustentá-
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Criação de gado na Amazônia: o boicote imposto pelas três maiores redes de supermercados do país forçou 11 frigoríficos a não comprar mais carne produzida em áreas desmatadas
bricante de produtos de impressão Lexmark mostrou como conseguiu diminuir o consumo de tinta, papel e energia, além de gastos com manutenção, com a substituição, em seus escritórios, de 21 600 máquinas de fotocópia, scanners e impressoras por 10 000 equipamentos multifuncionais. Desde 2006, quando o Bradesco criou seu programa de palestras, cerca de 600 companhias já participaram do evento. Até o final de 2010, o banco pretende atrair para o encontro todos os seus 1 800 fornecedores. Para verificar se seus fornecedores adotam práticas socioambientais compatíveis, as empresas podem utilizar diversas formas de monitoramento. A fabricante de embalagens longa vida Tetra Pak, por exemplo, segue diferentes mé-
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RICARDO AZOURY/TYBA
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MUDAR AS PRÁTICAS DO FORNECEDOR É UMA DAS ESTRATÉGIAS MAIS AVANÇADAS USADAS HOJE PELAS EMPRESAS PARA ESTIMULAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL todos, dependendo da importância da empresa na cadeia de produção das embalagens. No caso dos parceiros com os quais tem contratos de menor valor (cerca de 600 empresas, que fornecem desde material de almoxarifado até uniformes dos funcionários), basta um simples relatório — o custo de um acompanhamento mais criterioso seria muito elevado em relação ao baixo impacto ambiental. Com
os maiores fornecedores, basicamente os de papel, alumínio e polietileno, a empresa é bem mais rigorosa: exige certificados como o ISO 14001 (gestão ambiental) e o FSC (manejo florestal), que pressupõem auditorias independentes periódicas. Nos fornecedores considerados médios, a Tetra Pak realiza inspeções periódicas. Um time de 15 funcionários dos departamentos de suprimento, qualidade, segu-
rança e saúde e meio ambiente se incumbe de fazer as visitas, de acordo com a necessidade. “Embora não cause o mesmo impacto dos nossos maiores fornecedores de matéria-prima, setores como os de tinta e de transportes têm um enorme potencial de estrago no meio ambiente. Por isso, acompanhamos muito de perto essas empresas”, afirma Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak.
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MIRIAN FICHTNER/PLUF FOTOGRAFIAS
Fábrica da Marcopolo, em Caxias do Sul: o comitê de risco foi fundamental para manter a empresa longe dos derivativos
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CADA VEZ MAIS PRODUTIVO E PERTO DO DIA A DIA Segundo um levantamento do GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE, a maioria dos conselhos de administração das empresas brasileiras está mais compacta e ganhou mais comitês — sobretudo para acompanhar a gestão de risco e de pessoas | ROBSON VITURINO
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m setembro de 2008, quando eclodiu a crise econômica mundial, os executivos da fabricante de ônibus gaúcha Marcopolo respiraram aliviados. Não que eles não temessem o cenário de incertezas que começava a se configurar mundo afora. Assim como praticamente todas as companhias do planeta, a Marcopolo também temia o futuro. Mas, em meio a previsões apocalípticas, pelo menos com um problema a companhia não precisava se preocupar. Cerca de dois anos antes, a Marcopolo havia cogitado investir em operações arriscadas no mercado futuro de câmbio. Ao contrário de companhias
como Sadia e Aracruz, que mais tarde pagariam um alto preço por isso, a Marcopolo recuou antes de fazer a aposta. A decisão de evitar a especulação financeira e manter o foco na expansão orgânica do negócio se deu no comitê de risco, há quatro anos ligado ao conselho de administração. Sua principal atribuição é prever todo tipo de adversidade que possa causar prejuízo ao desempenho da empresa. “Havia uma inclinação de alguns executivos para atrair resultados ‘fáceis’. Nesse momento, foi fundamental o comitê de risco reforçar que nosso negócio não estava no mercado financeiro, mas sim na produção e nas vendas de ônibus no Brasil e fora da-
qui”, afirma Carlos Zignani, diretor de relações com o investidor e membro do comitê de risco da Marcopolo. O exemplo da Marcopolo indica a importância do amadurecimento observado nos conselhos de administração em empresas instaladas no país. Segundo o levantamento realizado pelo GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2009, 64% das 141 companhias que res-
ponderam a todas as questões do guia possuem conselhos de administração. Desse grupo, 67% declararam ter algum tipo de comitê para aprofundar assuntos específicos e auxiliar o trabalho dos conselheiros — um avanço significativo em relação ao ano anterior, quando o
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Um olhar mais atento Os conselhos de administração das empresas brasileiras agora têm menos integrantes, seguindo as práticas mais recomendáveis de governança... Quantidade
Até 4 De 5 a 9 De 10 a 11 12 ou mais
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7% 43% 26% 24%
14% 57% 14% 15%
Empresas com comitês de auditoria
Empresas com comitês ligados ao conselho
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Fonte: GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2008 e 2009
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...sobretudo para acompanhar auditoria e remuneração
...e existem mais comitês ligados a eles para acompanhar a gestão...
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Curado, presidente da Embraer: o comitê de recursos humanos coordena todo o plano de sucessão da companhia
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O INCHAÇO DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO NO PAÍS TEM SIDO EVITADO ATÉ MESMO EM CASOS DE FUSÃO, COMO NA INTEGRAÇÃO DO ITAÚ COM O UNIBANCO EM 2008
time das empresas com pelo menos um comitê ligado ao conselho era de 59%. Os mais comuns são os de auditoria, que tratam de assuntos fiscais e estão presentes em 51% das empresas que possuem um comitê. Em seguida, com 35%, estão os comitês de remuneração, que discorrem sobre os salários e os benefícios de conselheiros, executivos e, em alguns casos, a política salarial de todos os funcionários (veja quadro ao lado). Em geral, eles são compostos tanto de executivos da empresa como de membros do conselho e especialistas externos. “Os números demonstram que existe uma evolução no que diz respeito às práticas de governança no país”, afirma Heloisa Bedicks, secretária-geral do Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC). “Ainda há muito trabalho a ser feito, mas estamos trilhando o caminho certo.” Na fabricante de aeronaves Embraer, com sede na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, a criação de um comitê para discutir remuneração, formação de executivos e sucessão data de 2004. Seu surgimento ocorreu cerca de dois anos antes do processo de sucessão da presidência da companhia anunciado em agosto de 2006. Até hoje, a substituição de Maurício Botelho, que há 11 anos estava à frente da empresa, por Frederico Fleury Curado, atual presidente, é vista pelo mercado como um caso exemplar de troca de comando. Para que todos os clientes, funcionários e fornecedores tivessem tempo de assimilar a novidade, a mudança foi anunciada nove meses antes de Curado sentar definitivamente na cadeira que pertencera a seu antecessor. “O comitê surgiu da necessidade de tratarmos esses assuntos com mais cuidado”, afirma Luiz Carlos Aguiar, vice-presidente de finanças e membro do comitê de recursos humanos da Embraer. Segundo Aguiar, além de pavimentar o caminho para as alterações que irão ocorrer no curto prazo, esse grupo procura identificar e treinar os executivos que apresentam potencial para assumir cargos de liderança nos próximos 15 anos. “O comitê é o foro adequado para alimentarmos o conselho com informações sobre os melhores talentos em desenvolvimento dentro da empresa”, afirma Aguiar. A criação de comitês foi acompanhada de outra mudança estrutural nos conselhos de administração das empresas — a redução no número de participantes,
em sintonia com a recomendação dos especialistas. Geralmente, a quantidade indicada de conselheiros fica entre cinco e oito integrantes. “Conselhos inchados resultam quase sempre da busca de uma solução política para acomodar mais gente, o que nem sempre contribui para a qualidade das discussões”, diz Heloisa, do IBGC. Das companhias que possuem conselhos, 15% declaram atuar com 12 ou mais membros. Em 2008, o número era maior — 24%.
Mais compactos
O inchaço tem sido evitado até mesmo em casos de fusão, como aconteceu após a integração das operações do Itaú com as do Unibanco, em novembro de 2008. Menos de um ano antes da negociação, o Itaú tinha 17 conselheiros. Após a união das duas instituições, a quantidade de integrantes foi reduzida. O conselho do novo banco passou a trabalhar com 14 membros — número ainda acima do recomendado, porém mais próximo das melhores práticas. “Buscamos dar ênfase à proximidade e ao envolvimento dos conselheiros com os assuntos estratégicos, o que fica difícil em um grupo tão numeroso”, afirma o presidente do conselho do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles. No início, segundo ele, o desafio foi “quebrar o gelo” entre os conselheiros das duas instituições. Superada essa barreira inicial, foram criados comitês de estratégia, risco, pessoas (recursos humanos) e governança corporativa. “Uma estrutura mais reduzida permitirá que a internacionalização do banco e outros passos para o futuro possam ser acompanhados de perto pelos conselheiros”, diz Moreira Salles.
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Livros | Tendências
IDEIAS PARA UM MUNDO ´ SUSTENTAVEL Do incensado Nicholas Stern, execonomista-chefe do Banco Mundial, ao sociólogo inglês Anthony Giddens, pai do conceito da Terceira Via, o espectro de especialistas dedicado a encontrar uma saída sustentável para o planeta é cada vez mais variado. EXAME selecionou cinco livros lançados em 2009 que aprofundam a discussão sobre o tema e até tentam apontar soluções | FELIPE CARNEIRO
130 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
The Politics of Climate Change EDITORA Polity,
264 págs.
AUTOR O
sociólogo inglês Anthony Giddens
A TERCEIRA VIA VERDE
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entor do ex-ministro britânico Tony Blair, o cientista social inglês Anthony Giddens ficou conhecido há 15 anos por criar a Terceira Via, conjunto de ideias que tentam ser uma alternativa ao socialismo e ao liberalismo. Giddens agora se dedica a analisar como a política pode salvar o meio ambiente. No recém-lançado The Politics of Climate Change (“A política de mudanças climáticas”, numa tradução livre), ele afirma que a solução para os problemas climáticos não está numa revolução tecnológica nem na multiplicação das ONGs. A única maneira de fazer as transformações necessárias para evitar os problemas resultantes do efeito estufa está na política. Giddens defende a necessidade de uma coordenação entre países para uma mudança ampla em todo o mundo. O primeiro passo que os governos devem tomar, segundo o autor, é incentivar de maneira articulada o empreendedorismo verde para tornar os negócios sustentáveis viáveis. Para ele, cabe ao Estado puxar a economia para um novo patamar, e para isso os governantes não devem se valer de ameaças de cataclismos. “É preciso ser prático. Martin Luther King não tocou as pessoas com um discurso de ‘Eu tenho um pesadelo’. Medo e ansiedade não são bons motivadores”, diz. O discurso também deverá tocar os cidadãos comuns. “Como os perigos colocados pelo aquecimento global não são visíveis no dia a dia, por mais extraordinários que eles sejam, a maioria não faz nada a respeito. Ainda esperam que eles se tornem aparentes para se mexer, quando, por definição, será tarde demais”, afirma Giddens.
Livros | Ideias A Blueprint for a Safer Planet EDITORA The Bodley Head, 246 págs.
AUTOR O economista inglês Nicholas Stern
1 TRILHÃO DE DÓLARES PARA SALVAR O PLANETA
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EDITORA UIT
Cambridge, 369 págs.
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om o livro Sustainable Energy — Without the Hot Air (“Energia sustentável — sem fumaça”, numa tradução livre), o inglês David MacKay pretende, em suas próprias palavras, “acabar com as emissões de tolices” quando o assunto for energias renováveis. Professor de física na Universidade de Cambridge, MacKay se propõe a questionar matematicamente a viabilidade das alternativas de energia limpa. A maior polêmica gira em torno da crítica à energia eólica e de sua defesa da energia nuclear. “Não me entendam mal, não estou tentando ser pró-nuclear. Sou apenas pró-aritmética”, afirma o autor, que oferece uma versão gratuita do livro no site www.withouthotair.com. O ponto de MacKay é que o mundo precisaria de um número irreal de usinas
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“Um projeto para um planeta mais seguro”). Para evitar o pior, segundo ele, as emissões globais de gases de efeito estufa devem cair à metade até 2050. A boa notícia é que, do ponto de vista econômico, o trabalho é perfeitamente viável. Stern acredita que um investimento de 2% do PIB global por ano — equivalente a 1 trilhão de dólares — seja suficiente para bancar pesquisas para desenvolver as tecnologias necessárias para atingir a meta. “Parece caro, mas outra maneira de ver a situação é que esse custo adiaria só por seis meses o atingimento do mesmo
nível de renda que alcançaríamos em 2050 sem esses investimentos”, diz. O livro fala pouco do Brasil, mas adverte que o desmatamento da Amazônia é o grande desafio da política ambiental no país. A pressão internacional para controlar o problema, segundo ele, só vai crescer. Mais animadora é a análise de Stern sobre a situação da China, recordista mundial em emissão de gases causadores do efeito estufa. Segundo ele, os chineses sabem que nenhum acordo global faz sentido sem sua presença, por isso estão se preparando para fazer concessões.
físico inglês David MacKay
de energias renováveis para continuar funcionando no ritmo atual. Embora o autor se concentre nos problemas do Reino Unido, as ideias do livro interessam também a outros países. MacKay começa explicando que o consumo médio de energia por pessoa por dia em seu país (e na Europa em geral) é de 125 quilowatts por hora. Isso significa que todo o território britânico teria de ser coberto de turbinas eólicas para que essa forma de geração de energia garantisse o atual padrão de vida de seus cidadãos. E não é com a filosofia de que “se cada um fizer sua parte, nós vamos chegar lá” que o problema será resolvido. “Se todos fizerem um pouco, vamos conseguir apenas um pouco”, diz. Se as fontes renováveis têm uma capacidade limitada de substituir os combustíveis fósseis, os ingleses precisam diminuir
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CAÇADOR DE MITOS
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Sustainable Energy — Without the Hot Air
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oi a pedido do então ministro das Finanças da Inglaterra, Gordon Brown, que o ex-economista-chefe do Banco Mundial Nicholas Stern fez o mais abrangente estudo sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta. Em 2006, o Relatório Stern foi publicado e imediatamente se tornou a maior referência no mundo sobre o impacto econômico de uma espécie de pane ambiental. Agora, três anos depois, Stern adaptou o relatório para uma linguagem mais acessível no livro A Blueprint for a Safer Planet (em português,
seu consumo de energia em 40%. Mesmo assim, o país ainda teria de mudar sua matriz energética para uma combinação de diferentes tipos de energia renovável. MacKay deixa claro que as soluções precisam ser encontradas já.
A Empresa Verde EDITORA Õte,
A consultora francesa Élisabeth Laville
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AUTOR
404 págs.
RESPONSABILIDADE CORPORATIVA 2.0
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ioneira na discussão da sustentabilidade corporativa na França, a consultora Élisabeth Laville apresenta uma série de exemplos de empresas que, com uma boa gestão socioambiental, aumentaram suas receitas e também obtiveram economias. “As companhias são uma força de mudança social, sem dúvida a mais poderosa de nossa época. E elas têm tudo a ganhar ao assumir esse papel”, diz em seu livro A Empresa Verde, lançado neste ano no Brasil pela editora Õte. Há mais de
uma década à frente de projetos de sustentabilidade em companhias de setores tão diversos como bancos e construção civil, Élisabeth descreve a história da questão socioambiental desde o início da década de 80, quando as empresas se limitavam a promover ações filantrópicas. Nos anos 90, começaram as práticas de ecoeficiência e divulgação de relatórios. Hoje, a autora comemora a chegada gradual do que chama de Responsabilidade Empresarial 2.0, que se caracteriza por três traços fundamentais.
O primeiro e mais importante é a introdução do desenvolvimento sustentável no objetivo das companhias, o que significa uma mudança profunda na cultura de cada empresa. “Esse é o mais formidável desafio proposto à humanidade no início do século. Um desafio que nos pede, em primeiro lugar, que imaginemos o mundo em que queremos viver no futuro”, diz. Em segundo lugar, vem a aproximação e a colaboração das corporações com ONGs. Um exemplo surgiu quando a fabricante de bens de consumo Unilever percebeu que o bacalhau congelado que vendia estava acabando no mar. A solução foi buscar uma parceria com a organização ambientalista World Wildlife Fund (WWF), que a ajudou a desenvolver um projeto de pesca sustentável. Finalmente, o terceiro aspecto é a preocupação quase obsessiva em identificar o impacto ambiental e social de toda a cadeia produtiva, desde a extração das matériasprimas mais básicas até a maneira como o consumidor lida com o produto. É nesse novo contexto que Élisabeth quer ver o surgimento de uma nova maneira de avaliar as empresas: não apenas pelos lucros e pela qualidade da mercadoria mas também por sua relação com as pessoas e com o planeta.
A Riqueza na Base da Pirâmide EDITORA Bookman,
398 págs.
AUTOR O indiano C.K. Prahalad, professor da Universidade de Michigan
CONSUMIDORES EMERGENTES
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professor C.K. Prahalad acaba de lançar uma versão atualizada de seu clássico A Riqueza na Base da Pirâmide — Como Erradicar a Pobreza com Lucro. Lançado há cinco anos, tornou-se um dos mais influentes livros de negócios do início do século. Prahalad viu antes o que, hoje, é óbvio: os bilhões de consumidores de baixa renda representam um tesouro ignorado. Na nova versão da obra, o autor constata que muitas companhias que se deram bem nesse mercado construíram o que ele chama de “ecossistema” — parcerias com empresas de médio e pequeno porte, ONGs e até órgãos de governo. Além de descrever as lições aprendidas pelas empresas, Prahalad adicionou à nova versão do livro uma história de sucesso. Trata-se da indiana Jaipur Rugs, que usa uma rede de cerca de 28 000 tecelões e 12 000 trabalhadores para fabricar tapetes típicos. Em 2008, a Jaipur Rugs faturou 21 milhões de dólares. Até 2011, a expectativa da empresa é que essa cifra mais que dobre. As outras 12 histórias são as já descritas no livro anterior, mas cada uma delas foi atualizada.
NOVEMBRO 2009 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | 133
Artigo | Remuneração Felipe Rebelli
É sócio-gerente da área de remuneração da consultoria de recursos humanos Towers Perrin
QUANTO VALE A TRANSPARÊNCIA
A CVM exige que as empresas brasileiras listadas na Bovespa divulguem a partir de 2010 quanto ganham os altos executivos e os membros de conselhos — e essa é uma ótima notícia
134 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | NOVEMBRO 2009
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s empresas brasileiras se preparam para uma mudança radical no que se refere à transparência de sua política de remuneração. Uma nova instrução a ser emitida em dezembro pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que deverá vigorar para os balanços publicados em 2010 (sobre os resultados de 2009), exigirá que as companhias de capital aberto divulguem dados até agora sigilosos sobre os valores pagos a seus executivos. A legislação até agora impunha apenas a publicação da soma da remuneração de seus administradores, sem a obrigatoriedade de detalhamento. Depois de analisar a possibilidade de exigir a divulgação da remuneração de cada um dos executivos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, a CVM decidiu estabelecer que as empresas publiquem a maior e a menor remuneração individual — além da média — em cada uma das três instâncias da alta administração (diretoria, conselhos de administração e fiscal). Para tomar essa decisão, a CVM levou em consideração comentários recebidos ao longo de nove meses de audiência pública encerrada em outubro deste ano. O assunto é polêmico. Como especialista e colaborador voluntário dessa discussão, acompanhei a manifestação de quem era contra e de quem era a favor. De um lado, o grupo dos defensores, em especial fundos de investimento, com a opinião de que só assim será possível analisar as estratégias de remuneração com a transparência necessária. No outro extremo, o dos opositores à ideia, empresas (e seus administradores) alegam sobretudo questões de risco à segurança pessoal. Para esse grupo, exigir tanta transparência no Brasil seria, no mínimo, temerário.
A NOVA REGRA PERMITE QUE O MERCADO VERIFIQUE EXCESSOS NO VALOR QUE AS EMPRESAS PAGAM AO ALTO ESCALÃO
A despeito do embate, o mais importante é reconhecer que a mudança representa um avanço necessário no capitalismo brasileiro. Num contexto em que cada vez mais empresas pulverizam ou dividem seu controle na bolsa, medidas que forçam a transparência devem mesmo ganhar importância. Informação às claras é ferramenta de governança indispensável para os investidores. Pode-se argumentar que a medida pode ter efeitos adversos. É verdade. Um deles resulta do fato de que as empresas de capital fechado, isentas da obrigação de publicar as remunerações, teriam certa vantagem na atração e retenção de talentos — com a chance de formular pacotes mais atrativos do que as concorrentes com capital aberto. Além disso, os executivos poderiam ver a confidencialidade de seus rendimentos como uma vantagem em empresas de capital fechado. Como resultado, as companhias abertas tenderiam a aumentar seus pacotes para se proteger, criando um inchaço na remuneração do mercado. A solução nesse caso é, de novo, a criação de mecanismos eficientes de governança. É importante que, em cada empresa, entre em ação um comitê de remuneração capaz de regular parâmetros entre ela e seus pares, de modo a não criar falsas paridades com setores e portes diferentes com a intenção deliberada de inflar salários e bônus. Talvez a abertura da remuneração individual de cada executivo fosse mesmo um passo grande demais neste momento. Do estágio atual, em que praticamente inexistem regras de divulgação de remuneração de administradores, já está sendo feito um avanço significativo que dá ao mercado a chance de identificar casos de desalinhamento entre a política de remuneração e as boas práticas de governança.
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EXAME - EEXA - 136 - 12/11/09
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