Guia EXAME de Sustentabilidade 2011

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2011

Novembro/2011 | R$ 29,90

exemplar de

assinante

guia exame 2011 | sustentabilidade

venda proibida

negócios

Grandes empresas impulsionam os pequenos negócios verdes

Brasil

5

e mais

temas cruciais na agenda do crescimento sustentável de 2012

Inovação e economia verde O futuro da água O desafio da superpopulação

Sustentabilidade 21

empresas-modelo A lista das em responsabilidade social corporativa no Brasil Unilever / A Empresa Sustentável do Ano


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Sumário Jose Fuste Raga/keystone

41

Vista do Rio de Janeiro: as cidades brasileiras apresentam baixos indicadores de sustentabilidade

10 Carta ao leitor 18 EXAME.com pesquisa

24 Resultados A sustentabilidade 32

está cada vez mais presente no dia a dia das empresas Inovação 91% das empresas do Guia incluem a inovação no seu planejamento estratégico

BRasiL 41 Agenda 2012 Cinco temas

66

cruciais: Rio+20, cidades, lixo, Código Florestal e ética Políticas públicas A política industrial brasileira está aquém dos modelos de outros países

gestão 74 Engajamento Um número

crescente de empresas incentiva os funcionários a adotar hábitos sustentáveis

empResas

negócios gLoBais 96 Demografia Lidar com

102

80 Indústria química Produtos

banidos no exterior são usados livremente no Brasil. Mas algumas fabricantes decidiram adotar restrições voluntárias

86 Empreendedorismo

Pequenos negócios que nasceram com o gene verde deslancham com a ajuda de sócios importantes

110

o explosivo crescimento da população mundial é um dos grandes desafios do século Combustíveis Com a exploração de reservas do subsolo, o mundo entra na era de ouro do gás natural Meio ambiente O fim da era de abundância de água gera novas oportunidades de negócios

aRtigo 116 Ideias A diluição do poder

no mundo cria a necessidade de uma nova governança


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96 Movimento de pessoas em Pequim: até o final do século, a população mundial deve passar de 10 bilhões

pesquisa 126 Critérios Como foi a escolha

das 21 empresas-modelo entre as 224 companhias inscritas na 12ª edição do Guia EXAME de Sustentabilidade

empresas-modelo

130 Unilever

A Empresa Sustentável do Ano influencia as boas práticas de 2 bilhões de consumidores espalhados por 182 países

138 Alcoa

146 Bunge

O combate à informalidade no campo envolve os fornecedores

148 Dow

Nova embalagem de plástico facilita a reciclagem

150 EDP

Medidor de energia eletrônico permitirá controlar o consumo

152 Elektro

Tecnologia de ponta melhora o atendimento a consumidores

154 Embraco

O gasto de energia do principal produto cai pela metade

na escolha do local da quinta fábrica no Brasil

164 Masisa

Muito perto de atingir a meta de 100% de energia renovável

166 Mexichem (Amanco)

Capacitação aumenta a renda dos instaladores hidráulicos

168 Natura

A linha Ekos ganha embalagem reciclável e diminui resíduos

170 Philips

Programa recolhe lixo eletrônico e aparelhos médicos obsoletos

172 Promon

Um diálogo permanente com a comunidade de Juruti, no Pará

156 Fibria

A fauna e a flora do cerrado preservadas em livros didáticos

158 Fleury

174 Suzano

A troca do carvão mineral pelo vegetal reduz o custo do aço

160 Itaú Unibanco

176 Sabin

A meta é ser líder global em química sustentável

162 Kimberly-Clark

140 Anglo American 142 Aperam

144 Braskem

Projetos para combater as críticas ao “deserto verde” Nova rede do grupo aposta em práticas sustentáveis O banco tenta mudar sua forma de vender produtos aos clientes A análise ambiental pesará

Nova empresa surge para oferecer projetos de infraestrutura mais sustentáveis

Conselheiros externos opinam sobre a estratégia de negócios

Expansão da rede apoiada na gestão de recursos humanos

178 Imagem

Gideon Mendel/Corbis/latinstoCk

Sumário


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Carta ao leitor Japão Filipinas

EUA

Dubai Rússia

AFP Photo/AP/reuters

Índia

Birmânia Os candidatos a bebê 7 bilhões: celebração e alerta Japão

Criar o futuro O dia 31 de OutubrO de 2011

foi marcado pela celebração e pelo alerta. Naquele dia, nascia, em algum ponto impreciso, o bebê que se transformaria no sétimo bilionésimo ser humano vivendo sobre a Terra. A explosão demográfica das últimas dé­ cadas é, inquestionavelmente, fruto de avanços extraordinários. Nunca na história vivemos por tanto tempo — nem tão bem. A tecnologia dilatou existências e encurtou distâncias. A ciência nos fez mais fortes. O bebê de número 7 bilhões — seja ele quem for e esteja onde estiver — é a prova de nossa vitória como espécie. Mas seu nascimento é também um sinal poderoso de que, mais uma vez, enfrentaremos a necessidade de adapta­ ção. Em 2050 — menos de quatro décadas à frente, portanto — seremos 9 bilhões de pessoas habitando um planeta incapaz de expandir sua oferta de recursos na mesma velocidade do aumento de nossa demanda. É fácil ver que a conta já não fecha. Não há aqui histeria ou catastrofismo em relação ao futuro. As coisas não se transformarão de um dia para o outro. E a humanidade já deu provas de seu grande poder de adaptação às mudanças, encontrando brechas em meio às crises, fazendo diferente, mudando padrões de comportamento. Estamos em meio a um processo, e não diante de um despenhadeiro. O mundo dos 7 bilhões exige inovação, desperta ansiedade, destrói zonas de conforto. Trata­se de um cenário que — de forma geral e especificamente para o

mundo dos negócios — pode ser visto como ameaça ou como incentivo. Não sejamos ingênuos: o caminho para os que decidem fazer diferente é cheio de riscos. Nem tudo dará certo em meio a esse cenário de rupturas. Mas a cada dia parece ficar mais eviden­ te que a paralisia e a negação da nova realidade são escolhas ainda mais peri­ gosas. Esta 12a edição do Guia EXAME de Sustentabilidade traz os exemplos de 21 empresas instaladas no Brasil que decidiram fazer parte do processo de mudança. Cada uma à sua maneira, elas tentam formas novas e mais sustentáveis de fazer negócios. Mesmo diante dos enormes riscos de navegar num am­ biente novo, essas empresas decidiram encarar o mundo do bebê 7 bilhões co­ mo um lugar de oportunidades para quem se dispõe a fazer diferente.

Cláudia Vassallo / Diretora de Redação 10/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011


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2011 Sustentabilidade Coordenação

Sérgio Teixeira Jr. Ana Luiza Herzog •••

Edição

Ernesto Yoshida Alexa Salomão

Fundador: VICTOR CIVITA

(1907-1990) Editor: Roberto Civita Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Elda Müller,

Fábio Colletti Barbosa, Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo, Victor Civita Presidente Executivo Abril Mídia: Jairo Mendes Leal Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretor Financeiro e Administrativo: Fábio d’Ávila Carvalho Diretor Digital: Manoel Lemos Diretora-Geral de Publicidade: Thais Chede Soares Diretor-Geral de Publicidade Adjunto: Rogerio Gabriel Comprido Diretora de Recursos Humanos: Paula Traldi Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa Diretor Editorial: José Roberto Guzzo Diretor-Superintendente: Alexandre Caldini

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Reportagem

Ana Santa Cruz, Andrea Vialli, Antonio Carlos Sil, Denise Brito, Eduardo Felipe Matias, Eduardo Nunomura, Gustavo Magaldi, José Alberto Gonçalves Pereira, Katia Simões, Maurício Oliveira, Vladimir Brandão •••

Assessoria técnica

Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP (GVces) Equipe Mario Monzoni e Roberta Simonetti (coordenação), Adriana Reis, Fernanda Macedo, Fernanda Rocha, Paula Peirão e Raquel Costa (pesquisa) •••

Arte

Editor de Arte Ricardo Godeguez Designers Alexa Castelblanco,

Rita Ralha Nogueira •••

Fotografia

Editor de Fotografia Germano Lüders Equipe Iara Brezeguello (coordenadora),

Gabriel Correa •••

Revisão

Coordenação Ivana Traversim Revisores Eduardo Teixeira Gonzaga,

Maurício José de Oliveira, Regina Pereira, Rosângela Anzzelotti, Tarcila Lucena •••

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www.exame.com Acesse EXAME.com e leia reportagens exclusivas para a internet que complementam o Guia de Sustentabilidade

A pegada hídrica do cotidiano

A premiação das empresas-modelo As 21 empresas-modelo do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011 receberam seus troféus em cerimônia realizada no dia 9 de novembro na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, em São Paulo. Veja uma galeria de fotos do evento, que destacou a Unilever como a Empresa Sustentável do Ano. http://abr.io/1WzL

Você é um consumidor consciente?

pedro kIrIlos/rIotur

você usa lâmpadas econômicas? separa o lixo em materiais recicláveis e orgânicos? descarta pilhas em pontos de coleta específicos? responda a um teste e descubra se você é um consumidor consciente e amigo do meio ambiente. http://abr.io/1WzE

Ciclistas no Rio: mobilidade

Istockphoto

Equipe da Unilever: a Empresa Sustentável do Ano

flavIo santana

O volume de água gasto na produção de diversos itens de consumo do dia a dia, como uma fatia de pão de forma e uma xícara de café. http://abr.io/1WzG

O capital humano na economia verde Em razão de seus atributos naturais, o Brasil tem potencial para se tornar um líder global da economia verde, afirma Fernando Monteiro, especialista em gestão de recursos naturais. Em artigo, ele analisa o perfil dos profissionais exigidos para o país alcançar essa posição nos próximos anos. http://abr.io/1WzJ

Sustentabilidade nas metrópoles brasileiras Veja os principais resultados de um estudo exclusivo que mostra os indicadores de sustentabilidade em quatro cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. http://abr.io/1WzN

18/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

Deixe o iPhone mais verde Você não vai salvar o mundo com o celular, mas pode baixar alguns aplicativos no iPhone e fazer a sua parte para uma vida mais sustentável. Veja uma seleção de oito aplicativos verdes, como o que permite calcular as emissões dos principais modelos de carros em circulação no país e o que ajuda o consumidor a conhecer o ciclo de vida de mais de 70 000 produtos. http://abr. io/1WzH


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PESQUISA Resultados Casas com aquecedor solar de água em Sorocaba, no interior paulista: economia de mais de 30% na conta de energia elétrica

Do discurso à A pesquisa com as empresas participantes do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011 revela que as práticas de responsabilidade corporativa estão, cada vez mais, presentes no dia a dia dos negócios denise brito


M DADO

Fernando CavalCanti

prática

chama a atenção quando se analisam as informações das empresas participantes do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011: 99% das companhias que responderam ao questionário neste ano se declararam formalmente comprometidas com o desenvolvimento sustentável. Dessas empresas, 91% incorporam esse compromisso em seu planejamento estratégico — 2 pontos percentuais acima do registrado no levantamento do ano anterior. A elevada proporção de empresas que incluem a sustentabilidade no planejamento estratégico indica que esse compromisso está deixando de ser apenas um discurso para tentar fazer parte do dia a dia dos negócios. “No início, as ações de responsabilidade corporativa se concentravam nas áreas de recursos humanos, comunicação e marketing”, diz Roberta Simonetti, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, responsável pela metodologia do questionário utilizado por EXAME. “O que se vê hoje é a migração do tema para as áreas de negócios e para a agenda do conselho de administração, numa evidência de que o assunto ganhou importância e um novo papel nas empresas.” É preciso, no entanto, ver esses números com a devida ressalva. O universo da pesquisa é formado por 158 empresas que estão na linha de frente das práticas sustentáveis no Brasil — num universo mais amplo e genérico, certamente o nível de compromisso com a sustentabilidade seria menor. Além disso, mesmo entre as companhias de vanguarda, ainda há muito que fazer. “É preciso diferenciar as ações que entram na agenda de sustentabilidade de forma pontual, periférica, daquelas que buscam atuar na realidade de fato e se aprofundar nas questões sociais, ambientais e econômicas”, diz Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Para ele, muitas companhias ainda investem em iniciativas sustentáveis mais preocupadas com a visibilidade 25

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


pesquisa Resultados da marca e com a repercussão na mídia do que com o conteúdo das ações e com os avanços que possam gerar. A “maquiagem” sustentável é cada vez mais percebida — e rejeitada — pelo mercado. É o que mostra uma pesquisa feita em 2011 pelo grupo francês de comunicação Havas em 14 países. Entre os quase 4 200 consumidores brasileiros entrevistados, 60% acreditam que grande parte das empresas tenta se mostrar responsável somente para melhorar a imagem. Apenas 26% avaliam que as companhias estão comunicando honestamente seus compromissos e suas iniciativas ambientais e sociais. Refletindo uma tendência global, os consumidores do país esperam um papel cada vez mais ativo das empresas na área de sustentabilidade. A pesquisa mostra que os brasi-

cresceu de 59%, em 2010, para 65%, em 2011. O índice de empresas que usam material reciclado em suas operações aumentou de 80% para 89%, numa evidência de que as companhias estão investindo mais em inovação e desenvolvendo tecnologias para reaproveitar resíduos que, no passado, seriam destinados a aterros sanitários. A questão ambiental se tornou o foco das atenções mesmo de empresas que, pela característica de seu negócio, geram um reduzido impacto na natureza. Um exemplo é a Caixa Econômica Federal. Em parceria com a GTZ, agência alemã de cooperação técnica, a Caixa passou a financiar sistemas de aquecimento solar de água em todas as linhas de crédito e a subsidiar a adoção desse equipamento em moradias populares — o sistema pode gerar uma

Uma pesquisa revela que a maioria dos consumidores acredita que cabe às empresas, e não ao governo, lidar com questões socioambientais leiros são mais preocupados com questões ambientais e sociais do que os consumidores na Europa e nos Estados Unidos — 72% dizem que esses assuntos têm um impacto negativo na qualidade de vida. Apenas 10% dos brasileiros acreditam que cabe ao governo, e não às empresas, lidar com problemas sociais e ambientais. Em pesquisa similar realizada há dois anos, 23% dos consumidores brasileiros atribuíam a responsabilidade maior nessas questões ao governo. A PEGADA AMBIENTAL

Entre as companhias participantes do Guia EXAME, nota-se um avanço nos compromissos com o desenvolvimento sustentável, em especial na área ambiental. A proporção de empresas que elaboram inventário de emissão de gases de efeito estufa, um indicador da preocupação com o impacto gerado por suas atividades no meio ambiente,

26/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

economia de mais de 30% na conta de luz, uma vez que o chuveiro elétrico é um dos itens de maior consumo de energia nas residências. Em 2010, a Caixa financiou a construção de mais de 43 000 habitações com aquecimento solar de água. “Nosso desafio é desenvolver mais projetos como esse e evoluir nas dimensões ambiental e econômica”, diz Sergio Pinheiro Rodrigues, vice-presidente da Caixa. Com a inovação sustentável incorporada à estratégia de negócios de um número cada vez maior de empresas (veja mais na pág. 32), um dos desafios é difundir essa cultura entre os funcionários. Na Intercement, fabricante de cimentos do grupo Camargo Corrêa, o terreno não parecia muito fértil para a inovação, uma vez que o setor possui processos de produção bastante consolidados. Mas a empresa identificou aí uma oportunidade de diferenciação no mercado e formou grupos de traba-

Fábrica da Intercement em Minas Gerais: a experiência mostrou que projetos de inovação exigem a participação de todos os envolvidos desde o início



pesquisa Resultados lho com funcionários de diversas áreas para discutir novas formas de fazer as coisas. No ano passado, esses grupos geraram mais de 900 ideias, 53 novas soluções e sete protótipos. Um dos protótipos criados foi um kit de cimento, areia e pedra para o preparo rápido de concreto em pequenas obras — basta acrescentar água à mistura antes do uso. A experiência gerou aprendizados úteis. “Cometemos o erro de envolver a área comercial no projeto apenas quando o protótipo precisava ser testado no mercado, e aí enfrentamos a resistência da equipe, que não estava convencida de que o produto seria capaz de gerar um bom resultado econômico”, diz Lívia Gandara Prado, coordenadora de inovação da Camargo Corrêa. “Aprendemos que é funda-

Os destaques da pesquisa

Em 2011, 158 empresas responderam a todas as questões do Guia dimensãO Geral A empresa, por meio de sua alta administração, está formalmente comprometida com o desenvolvimento sustentável?

Sim

Não 1%

99%

2011

De que maneira esse compromisso é manifestado? Visão e missão

87% 70

28/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

A política de remuneração variável de todos os executivos está vinculada ao cumprimento de metas de desempenho da empresa nas seguintes dimensões Ambiental

43%

2010

45

40%

25

0

2010

2011

Planejamento estratégico

mental envolver todas as áreas relacionadas ao projeto desde o início.” Além dos investimentos em inovação, outro tema em alta nas empresas é a inclusão social. Entre as que responderam ao questionário do Guia EXAME neste ano, 85% afirmaram que o planejamento estratégico inclui medidas para reduzir a pobreza e ampliar a inclusão social — ante 65% em 2010. “A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece no Rio em 2012, vai debater propostas que nos levem a uma economia verde, mais solidária e inclusiva, ou seja, propostas que vão além da agenda ambiental, com a participação da sociedade nas questões de pobreza, desigualdade e qualidade de vida”, diz Roberta Simonetti, da FGV. “No mundo empresarial, ainda são poucas as iniciativas nessa área. Mas esse quadro tende a mudar.”

Não 1%

2010

95

Medidas de inclusão social fazem parte do planejamento estratégico de 85% das empresas

Sim

99%

95

89%

91%

37%

2011

Econômica

90%

2010

84%

2011

70

Social 45

43%

2010 25

39%

2011

0

2010

2011

Documento público com objetivos e metas de longo prazo

2010 2011

70

45

Nenhuma das anteriores

55%

51%

25

2010

2011

4%

Não adota remuneração variável 2010

0

13%

2011

0% 11%

E


EXAME de Sustentabilidade. Veja a evolução das principais práticas em relação ao ano anterior Dimensão sociAl

Dimensão AmbientAl A empresa possui uma política corporativa de responsabilidade ambiental?

Sim

Não

90%

10%

A empresa elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa?

Não

Sim

59%

2010

41%

Não

Sim

12%

Não

Sim

35%

83%

2010

99%

2011

Não

Sim

69%

71% 90%

Sim

Não

63% 2011

Não

Sim

2011

66%

20%

2011

65%

O planejamento estratégico da empresa contempla

Inovações que reduzam os impactos negativos das operações 2010

90%

2011

91%

2010

Medidas para reduzir a pobreza e ampliar a inclusão social

Mitigação dos impactos das mudanças climáticas

48%

2011

Dimensão econômicA

A empresa utiliza materiais reciclados em suas operações para reduzir o consumo de recursos naturais?

80%

Não

16%

84%

37%

Proteção ou conservação da biodiversidade

42%

2010

Sim

Transparência e divulgação de informações

2011

18%

2010

97%

2010

Não

82%

31%

85%

2011

Garante a igualdade de tratamento entre funcionários e terceirizados?

Sim

Uso racional de insumos com foco na redução da emissão de resíduos 2010

Não

10% 2011

A empresa apoia a conservação e o uso racional da biodiversidade, como preconiza a ONU?

Uso sustentável de recursos naturais

2010

Sim

90%

2011

Quais são os temas abordados nessa política?

17% 2010

65%

2011

Não

Sim

83%

2010

88%

2010

A empresa usa critérios sociais para selecionar e monitorar fornecedores?

Não 11%

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2010 2011

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pesquisa Inovação

velhos problemas, novas soluções Noventa e um por cento das empresas participantes do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011 incluem no planejamento estratégico a busca por inovações verdes

i

novação e sustentabilidade

são dois conceitos praticamente inseparáveis. Para atingir suas metas de crescimento sustentável, as empresas devem buscar novas formas de fazer negócios, o que leva à ideia de inovação sustentável. Em um artigo publicado recentemente na revista Forbes, o americano Aron Cramer, presidente da Business Social Responsibility, consultoria com foco em sustentabilidade, afirma que as companhias que criam produtos e serviços para uma economia mais sustentável serão fundamentais para tirar os Estados Unidos do atual período de estagnação. “O próximo Steve Jobs será alguém que coloca a sustentabilidade no centro da estratégia de inovação de sua empresa”, diz Cramer. No Brasil, a pesquisa com as participantes do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011 revela a importância do tema: 91% delas incluem no planejamento estratégico a busca por inovações que reduzam os impactos de suas operações e aumentem seus benefícios sociais e ambientais. Cabe esclarecer que inovação não se restringe a avanços tecnológicos que criam algo inteiramente novo. Significa — também — novas formas de fazer as coisas. Pode ser uma mudança na gestão, uma melhoria no processo de produção, um aperfeiçoamento na logística ou novos modelos de negócios. “A inovação depende, sobretudo, da criatividade e do envolvimento dos funcionários”, diz Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos. “Ela conecta os recursos e o conhecimento disponíveis para chegar aos avanços.” A seguir, exemplos de empresas que encontraram soluções inovadoras em seus negócios.

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paulo vitale

votorantim metais

O problema virou negócio Na exploração de uma mina de zinco e chumbo na unidade de Morro Agudo, no município de Paracatu, em Minas Gerais, a Votorantim Metais gerava até recentemente um resíduo perigoso, o pó calcário industrial, que precisava ser descartado em um local apropriado. Para eliminar esse resíduo, a empresa iniciou há três anos melhorias em seu processo de produção. Investiu cerca de 300 000 reais em equipamentos e em treinamento da mão de obra e conseguiu reduzir os metais tóxicos presentes no pó calcário a níveis permitidos pela legislação. Com isso, transformou o pó calcário em um produto que pode ser usado para corrigir a acidez do solo e aumentar a produtividade das lavouras. Em julho de 2010, a Votorantim atingiu a meta de zerar a geração de resíduos na mina de Morro Agudo. Além dos benefícios ambientais, a iniciativa proporcionará uma receita anual de 8 milhões de reais com a venda do calcário agrícola e uma economia de 25 milhões de reais por ano com a eliminação dos custos de manejo dos resíduos.

33

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


pesquisa Inovação

vale

Telhas e tijolos feitos de sobras de mineração No processo de beneficiamento do minério de ferro, gera-se uma grande quantidade de lama, que é descartada como rejeito. A Vale encontrou uma solução para o uso sustentável desse material. Em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, onde tem uma mina de manganês e outra de minério de ferro, a empresa começou a aproveitar a lama de mineração para fabricar telhas e tijolos de baixo custo para a construção civil. A tecnologia desenvolvida dispensa o uso de argila e aproveita também resíduos de construção. A Vale requereu a patente da invenção e pretende doar a lama a associações comunitárias para que produzam telhas para a construção de casas populares.

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celulose IranI

Vá ao supermercado com sua própria embalagem

fabiano accorsi

Uma embalagem de papelão retornável, feita de material reciclado e biodegradável, para substituir as sacolas plásticas. É essa a ideia de uma embalagem criada neste ano pela gaúcha Celulose Irani e que começou a ser testada em um supermercado de Joaçaba, em Santa Catarina. Produzida com aparas de papelão ondulado, a embalagem foi projetada para ser facilmente montada e desmontada pelos próprios consumidores, sem uso de cola, grampo ou fita adesiva. Com isso, os consumidores podem reutilizar a mesma embalagem inúmeras vezes. Cada embalagem de papelão ondulado pode substituir cinco sacolas plásticas tradicionais.

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Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


PESQUISA Inovação

white martins

Reciclagem transforma o CO2 em gás do bem A White Martins, empresa que fornece gases para fins industriais e medicinais, está desenvolvendo novas aplicações para o gás carbônico, um dos vilões do efeito estufa. A companhia capta o CO2 que as indústrias lançariam na atmosfera, recicla o gás e o reaproveita no processo produtivo de diversas empresas. O CO2 reciclado pode ser usado, por exemplo, no tratamento de água e efluentes, na fabricação de espumas e na lavagem de polpa da indústria de celulose. Com a tecnologia desenvolvida pela White Martins, 320 000 toneladas de gás carbônico deixaram de ser lançadas na atmosfera em 2010.

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Brasil Agenda 2012

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O BRASIL DEVE SE tORnAR O cEntRO

mundial das discussões envolvendo o futuro do planeta em junho de 2012, quando o Rio de Janeiro sediará a conferência das nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável, a Rio+20. Entre os assuntos em pauta estão a economia verde e a nova governança global para o crescimento sustentável, os desafios das cidades para solucionar questões como a mobilidade urbana e a falta de saneamento básico, a execução da Política nacional de Resíduos Sólidos, o novo código Florestal e a busca por conciliação entre preservação ambiental e desenvolvimento do agronegócio, e as estreitas relações entre ética, negócios e sustentabilidade. todos esses temas são discutidos nas páginas a seguir. ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Rio+20 • Cidades • Lixo • Código Florestal • Ética

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temas cruciais para 2012


Brasil Agenda 2012

1

Rio+20 / José Alberto GonçAlves PereirA

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Uma nova Copenhague?

As grandes expectativas em torno da Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, podem gerar a mesma frustração da conferência do clima de 2009 ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

42 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE | Novembro 2011


veja como a Rio+20 poderá influenciar o mundo dos negócios nos próximos anos. O que será discutido na Rio+20? A conferência tem o objetivo de avaliar o progresso dos compromissos aprovados durante a Rio 92, encontro promovido pela ONU duas décadas atrás, impulsionar a transição para a economia verde e discutir propostas para colocar o tema do desenvolvimento sustentável no centro de todas as ações das agências internacionais multilaterais. Para as empresas, mesmo que não seja aprovado nada efetivo e mandatório, o encontro será fundamental para avaliar se os acordos sobre o meio ambiente nos próximos dez anos serão costurados por meio de instrumentos regulatórios globais ou por meio de acordos regionais, setoriais e no âmbito de blocos econômicos, tais como o G20.

Q. Sakamaki/Redux

O que será aprovado na Rio+20? Até o momento, a única decisão prevista para o encontro é uma declaração política, com efeito mais simbólico do que prático, que será assinada pelos chefes de Estado e de governo ao final da conferência. Existe a expectativa também de que a declaração mencione a necessidade de uma organização mundial do meio ambiente, com peso político similar ao da Organização Mundial do Comércio.

É difícil imaginar

que uma conferência de três dias possa avançar muito além das protocolares declarações políticas assinadas por chefes de Estado e de governo. Para evitar o fracasso diante das fortes expectativas criadas em torno da Rio+20 — a conferência que a ONU realizará de 4 a 6 de junho de 2012 no Rio de Janeiro —, organizações da sociedade civil e entidades ligadas às empresas correm para formular uma agenda pragmática para o evento. A perspectiva sombria para a economia global nos próximos meses — a exemplo do que ocorreu na conferência do clima de Copenhague, em dezembro de 2009 — poderá, contudo, virar um balde de água fria no evento das Nações Unidas caso a Europa e os Estados Unidos não consigam debelar a crise. A seguir,

Praia no Rio de Janeiro: duas décadas depois, a cidade sediará uma conferência para avaliar os progressos desde a Rio 92 e definir os próximos passos

Em que medida a declaração política da conferência influenciará os negócios? Para o segmento empresarial mais engajado com a sustentabilidade, uma declaração política genérica frustraria a forte expectativa depositada na conferência. “Não consigo ver um documento final sem metas e indicadores para avaliar seu cumprimento”, diz Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável. A entidade que representará a comunidade de negócios na Rio+20 — a Business Action for Sustainable Development 2012 — divulgou um documento em que recomenda a aprovação na conferência de um Mapa do Caminho da Economia Verde, com metas mensuráveis e prazos para acelerar a transição para uma economia mais sustentável e pouco intensiva em carbono. Uma “OMC do meio ambiente” teria peso político e regulatório similar ao do órgão que resolve diferenças comerciais? Existem hoje mais de 500 acordos ambientais multilaterais (MEAs, na sigla em inglês). Di-

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ferentemente do que ocorre na Organização Mundial do Comércio ou na Organização Mundial da Saúde, eles estão espalhados em inúmeros secretariados e agências da ONU. À parte sua dispersão e frágil implementação, os MEAs pecam pela falta de mecanismos para resolver controvérsias e penalizar quem não os respeita. Uma exceção é o bem-sucedido Protocolo de Montreal, de setembro de 1987, que conseguiu cumprir suas metas de eliminar a produção e o comércio de CFCs, gases refrigerantes responsáveis pela destruição da camada de ozônio. O que a conferência entende por crescimento econômico? Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) sobre economia verde, publicado em fevereiro, estima em 1,3 trilhão de dólares — menos de 2% do PIB global — o investimento anual necessário para transformar a economia marrom em verde entre 2011 e 2050. Esse valor inclui o desenvolvimento de tecnologias e processos de produção e consumo mais limpos. De acordo com o Pnuma, já em 2017 o crescimento do PIB global será mais elevado no cenário dos investimentos verdes do que no do “business as usual” (cenário dos negócios como de costume). Mais da metade dos investimentos verdes até 2050 deverá ser destinada à geração de energias renováveis e à eficiência energética. Como os subsídios aos combustíveis fósseis serão tratados na conferência? Se vingar a proposta do Mapa do Caminho da Economia Verde, o documento poderá incluir metas para a redução progressiva de subsídios aos combustíveis fósseis. Atualmente, segundo a Agência Internacional de Energia, cerca de 650 bilhões de dólares são injetados no mundo a cada ano para reduzir os preços da gasolina e do diesel e fomentar a produção de petróleo e carvão mineral. Em razão de preços artificialmente rebaixados por meio de subsídios, os combustíveis fósseis competem no mercado em condição mais favorável do que as tecnologias limpas, que demandam pesados investimentos em sua fase de maturação. Por isso, alguns especialistas defendem o uso de subsídios também para diminuir a desvantagem de custo das tecnologias verdes, sobretudo no estágio inicial de desenvolvimento. Mas, para não estimular a ineficiência, esses subsídios precisariam ter prazo determinado.

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Brasil Agenda 2012

Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre: algumas ações pontuais procuram melhorar a qualidade de vida nos maiores centros urbanos do país


a preocupação

2

Cidades / alexa salomão e Patrick cruz

com a busca de práticas mais sustentáveis não se restringe ao âmbito de atuação das empresas. Há um movimento global similar na gestão pública de centenas de cidades ao redor do mundo. Barcelona, por exemplo, implantou em 2000 uma lei de incentivo ao uso de energia solar térmica e, hoje, 60% da água em novas construções na metrópole espanhola é obrigatoriamente aquecida por painéis solares. Na mesma época, Copenhague, na Dinamarca, investiu na construção de parques eólicos, contribuindo para que, atualmente, 20% da eletricidade do país seja gerada por cata-ventos. Em Londres, uma experiência com a criação de um bairro ecologicamente correto mostra que é possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos grandes centros urbanos com o uso de novas tecnologias. Os moradores das 100 casas incluídas no projeto reciclam 60% dos resíduos, diminuíram em 64% a distância percorrida com seus carros, consomem 58% menos água e emitem 56% menos gases estufa que o cidadão médio inglês. E as cidades brasileiras, como estão nesse cenário? Para responder a essa pergunta, o Guia EXAME de Sustentabilidade 2011 avaliou quatro das maiores metrópoles do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. Os indicadores mostram que as maiores cidades brasileiras estão longe de ser sustentáveis — muito mais longe do que se imagina (veja quadro na próxima página). Um quarto da água tratada vaza por encanamentos envelhecidos ou pinga nas torneiras dos moradores de São Paulo, a maior

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Muito longe do ideal A sustentabilidade entrou na agenda das prefeituras de cidades em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas um levantamento exclusivo mostra que as maiores metrópoles brasileiras ainda não conseguem combater deficiências básicas, como a perda de água tratada e a poluição do ar

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Novembro 2011 | GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE |

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Brasil Agenda 2012 Despreparo urbano

Enquanto centenas de municípios ao redor do mundo investem na busca de alternativas para se Perda de água tratada

Concentração de material particulado no ar (1)

(% em relação ao total produzido)

Parcela das residências sem ligação à rede de esgoto

(em microgramas por metro cúbico)

(% em relação ao total)

Número de homicídios entre jovens de 15 a 29 anos (em 100 000 habitantes)

211

64

57

45

34

33 24

23

cidade da América Latina. Em Tóquio, esse desperdício compromete menos de 4% da água tratada. De acordo com as Nações Unidas, uma pessoa precisa de 110 litros de água por dia, mas, em razão do desperdício, o consumo médio do brasileiro chega a 200 litros diários. O volume de resíduos sólidos reciclados é constrangedor: não atinge 1% do total em São Paulo, Rio de Janeiro e até em Porto Alegre, que tem um dos sistemas de coleta seletiva mais organizados do país. Na cidade americana de São Francisco, o índice é de 77%. Essas três capitais brasileiras também convivem com índices perigosos de poluição do ar provocada pela emissão de veículos: 65% acima do nível recomendado pela

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ONU. Entre 8% e 18% da população das quatro metrópoles brasileiras avaliadas vive em favelas. O levantamento mostra que o ônus das disparidades regionais compromete ainda mais a sustentabilidade. Apesar do recente surto de crescimento econômico, Recife está muito aquém das demais cidades analisadas: tem a menor proporção de área verde (1,4 metro quadrado por habitante, ante o mínimo recomendado de 12 metros quadrados), o maior número de residências sem rede de esgoto (45% do total das casas) e o maior volume de perda de água tratada (64% do total). A base do estudo foram 300 indicadores de sustentabilidade urbana criados em agosto pelo


tornarem mais sustentáveis, as maiores cidades do país ainda apresentam deficiências arcaicas Parcela da frota com equipamento para atender pessoas com deficiência

Oferta de ciclovias

(em quilômetros de vias instaladas)

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Reciclagem de resíduo sólido

O Programa Cidades Sustentáveis lançou mais de 300 indicadores para ajudar os prefeitos a avaliar a qualidade de vida nos centros urbanos e traçar políticas públicas mais consistentes Programa Cidades Sustentáveis, uma iniciativa lançada por ONGs e empresas que defendem a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento econômico, social e ambiental mais sustentáveis. Os indicadores medem a qualidade de serviços como transporte, saúde, educação e bem-estar da população, por meio de

dados como o nível de poluição do ar e a oferta de parques e de áreas de lazer. A proposta é que os indicadores sejam usados como ferramentas para ajudar os prefeitos a colocar as cidades brasileiras em linha com os centros urbanos mais modernos do mundo. “Intuitivamente, percebemos que as cidades brasileiras não são

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recentes. São Paulo e Rio de Janeiro fizeram diagnósticos sobre emissões e adotaram medidas para reduzir a poluição gerada pelos veículos, que respondem por 40% da liberação dos gases de efeito estufa. Na capital paulista, a frota de ônibus começa a receber veículos movidos a etanol e estuda-se a volta dos elétricos. No Rio, o uso da bicicleta tem sido incentivado. A cidade está instalando uma rede de ciclovias e abrindo estacionamentos para que os cariocas possam fazer o trajeto da casa para o trabalho associando o transporte público e a bicicleta. Em Porto Alegre, foram plantadas 10 000 árvores por ano desde 2005 e deu-se início à descontaminação do rio Guaíba, o principal da cidade, com a meta de devolvê-lo aos banhistas até 2028. Em Recife, investe-se na ampliação de parques e praças. “Hoje está claro que a gestão pública precisa incluir os quatro fundamentos da sustentabilidade: ser economicamente viável, ecologicamente correta, socialmente justa e culturalmente diversa”, diz Marcelo Rodrigues, secretário de Meio Ambiente de Recife. Há entre os gestores públicos, no entanto, o consenso de que as ações ainda são limitadas, a velocidade das mudanças está longe do ideal e pode-se levar mais tempo do que o desejável

A falta de informações confiáveis e atualizadas impede uma leitura clara da realidade das cidades e limita a capacidade de ação dos governos sobre a oferta de leitos hospitalares são distorcidos: somam os públicos e os privados e não estão organizados por bairro, o que dá a falsa impressão de que o número de leitos disponíveis supera a demanda. Não se sabe quantas escolas têm quadra esportiva ou qual é o acervo de livros infanto-juvenis nas bibliotecas públicas. “A falta de informação, a defasagem na divulgação de números oficiais ou mesmo a distorção dos dados são problemas recorrentes mesmo nos maiores municípios”, diz Thomaz Assumpção, diretor da Urban Systems. “Essa carência não permite uma leitura clara da realidade e limita a capacidade das prefeituras de estabelecer ações mais eficientes.” Seria injusto dizer que o poder público tem sido apático diante dos desafios. Iniciativas pontuais importantes foram adotadas em anos

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para colocar as cidades brasileiras entre as mais sustentáveis. “Reconhecemos que há uma crise ambiental global e procuramos reverter seus efeitos, mas as mudanças não vão ocorrer da noite para o dia”, diz Eduardo Alves Sobrinho, secretário do Verde e do Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Na avaliação de Claudia Baggio, diretora da Deloitte, os municípios brasileiros têm uma oportunidade única para acelerar os investimentos. “A coleta seletiva, o tratamento do lixo, a adoção de energias e de transportes ambientalmente amigáveis pressupõem o uso de novas tecnologias e a criação de novos negócios”, diz Claudia. “Os investidores estrangeiros estão ávidos pelo Brasil e por oportunidades ligadas à sustentabilidade. Se as prefeituras se organizarem para aproveitar essa onda, podem recuperar o tempo perdido.”

Paulo Fridman/SambaPhoto/Getty imaGeS

sustentáveis, mas só com os indicadores poderemos fazer uma radiografia dos problemas e estabelecer metas para solucioná-los”, diz Oded Grajew, coordenador do Nossa São Paulo, uma das entidades envolvidas no Programa Cidades Sustentáveis. A pedido de EXAME, a Urban Systems, empresa especializada na formulação de estudos demográficos e de mercado com base em dados municipais, aplicou nas quatro metrópoles escolhidas 20 indicadores selecionados pela Nossa São Paulo, entre os mais de 300 existentes. Entre eles estão área verde por habitante, quilômetros de ciclovias, desperdício de água e percentual de residências ligadas à rede de esgoto. Contribuíram para a coleta de dados as entidades Rio Como Vamos, Porto Alegre Como Vamos e Observatório de Recife. Os resultados foram comparados com os números de metrópoles que são uma referência positiva e avaliados por técnicos do Programa Cidades, da consultoria Deloitte Touche Tohmatsu (veja quadro na página anterior). Uma deficiência identificada pelo levantamento é a falta de dados consistentes para elaborar os indicadores. São Paulo é a única cidade entre as quatro analisadas em que há informações sobre a demanda por creches. Os dados

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Brasil Agenda 2012

3


3 Lixo / Maurício oliveira

Aterro sanitário em São Paulo: a construção de instalações adequadas para receber os resíduos deve crescer com a proibição dos lixões a céu aberto

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Um impulso ao negócio do lixo A Política Nacional de Resíduos Sólidos começa a gerar novas oportunidades aos empresários, da reciclagem de materiais e logística reversa à construção e operação de aterros sanitários ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

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Joel Silva/FolhapreSS

Brasil Agenda 2012

A DorsAl,

empresa de Curitiba especializada em consultoria ambiental, viu a demanda por seus serviços disparar desde a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos em dezembro de 2010. Desde então, o número de contratos que fechou para elaborar planos de gestão de lixo cresceu 150%. Entre os clientes estão desde grandes empresas, como a rede varejista de pneus DPaschoal, até pequenos negócios, como restaurantes e oficinas mecânicas. “Todos estão preocupados em se adaptar à legislação”, diz o químico ambiental Renato Nakayama, um dos sócios da Dorsal, criada há três anos. “Eles temem perder o direito de continuar operando por falta de documentação ou por descumprir as novas exigências.” Um dos planos da consultoria é oferecer seus serviços a prefeituras, já que a maior parte dos municípios brasileiros não dispõe de equipe técnica preparada para atender às exigências da nova legislação — só os que cumprirem os requisitos, como a apresentação do plano municipal de gestão de resíduos até agosto de 2012, poderão disputar verbas públicas federais. Com a nova legislação, o Brasil finalmente ganhou um marco regulatório para o lixo, tema que se arrastou no Congresso Nacional por duas décadas. Abriu-se, dessa forma, espaço para o surgimento de novos negócios ou para

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a expansão dos existentes. Espera-se, por exemplo, que a reciclagem ganhe impulso agora que a lei estabelece uma distinção entre os conceitos de “resíduo” e “rejeito” — resíduo é todo lixo produzido pela população e pelas empresas, enquanto rejeito é a parte desse lixo que não pode ser reciclada com as alternativas técnicas disponíveis. Na situação ideal vislumbrada pela nova política, somente os rejeitos poderão ser descartados nos aterros sanitários. Essa determinação deverá levar à busca de soluções economicamente viáveis para a reciclagem de vários outros tipos de produto além das tradicionais latinhas de alumínio e garrafas PET, os dois únicos produtos, até agora, considerados bem-sucedidos no país, com elevados índices de reciclagem. Segundo uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o potencial dos benefícios econômicos e ambientais com o aproveitamento de resíduos que poderiam ser reciclados, mas hoje são enviados a aterros e lixões a céu aberto, chega a 8 bilhões de reais por ano. Outro nicho considerado promissor é a construção e operação de aterros sanitários. A nova legislação estabelece que os lixões a céu aberto — encontrados em metade dos municípios brasileiros — devem ser eliminados até 2014. Para erradicar os lixões, um estudo da

Caçambas para coleta de entulhos de obras de construção: a maior parte desse material, que hoje é desperdiçada, poderia ser usada na pavimentação de ruas


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Brasil Agenda 2012 Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP) estimou que seja necessário construir 256 aterros sanitários regionais e 192 de pequeno porte, com um investimento total de 2 bilhões de reais. Mas isso é só o começo. “A construção dos aterros é a primeira etapa. A fase mais delicada vem depois, com a necessidade de recuperar as áreas degradadas e de operar corretamente os aterros para evitar novas contaminações”, diz Ariovaldo Caodaglio, diretor da ABLP. Como os lixões são encontrados com mais frequência em cidades menores, que dispõem de menos recursos para investimentos, o governo federal estimula pequenos e médios municípios a se reunir em consórcios para construir aterros sanitários que atendam uma população de pelo menos 150 000 pessoas, o que possibilitará ganhos de escala e redução de custos. Como um incentivo aos projetos compartilhados de municípios, o governo definiu que os consórcios — com regras claras de divisão de responsabilidades entre os municípios — terão mais facilidade para obter financiamentos na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), que reservou 1,5 bilhão de reais para obras na área de resíduos sólidos. PPP do Lixo

Para tornar os projetos viáveis, a ABLP afirma que a melhor estratégia é formar parcerias público-privadas e entregar a construção e a gestão dos aterros à iniciativa privada. Nesse modelo, os custos da implantação seriam amortizados ao longo de 20 anos de duração do contrato — como ocorre, por exemplo, nas rodovias concedidas à gestão privada. A diferença é que, em vez do pedágio, a remuneração das empresas se daria com a cobrança da taxa do lixo, já existente em muitas cidades, mas quase sempre com arrecadação insuficiente para cobrir as necessidades de investimentos. Será preciso, no entanto, superar a mesma dificuldade enfrentada na concessão de rodovias: convencer a população de que vale a pena pagar valores mais altos por serviços de melhor qualidade. Uma atividade que deve ganhar força com o novo marco regulatório é a logística reversa, cuja função é assegurar o retorno dos resíduos à fonte que os gerou, para que sejam tratados ou reaproveitados. A logística reversa já é aplicada em produtos como pneus, pilhas e embalagens de agrotóxicos, mas agora deve ser ampliada para outros setores, como o de ele-

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troeletrônicos. O aproveitamento das sobras de construções e reformas tem grande potencial. Esse tipo de material é desperdiçado na maior parte das cidades brasileiras — poucas têm programas de aproveitamento de entulhos. “Se as prefeituras assegurassem uma compra mínima dos entulhos reciclados para utilizá-los em suas próprias obras de pavimentação, muita gente poderia apostar em empreendimentos nessa área”, afirma Vanderley John, especialista em reciclagem de materiais de construção e professor de engenharia da Universidade de São Paulo. Os novos negócios do lixo devem exigir o desenvolvimento de tecnologias para modernizar e aumentar a eficiência dos processos de coleta e reciclagem dos resíduos. Em algumas cidades do Rio Grande do Sul — entre elas Santa Maria, Caxias do Sul e Rio Grande —, parte do lixo nas ruas já é recolhida pelo próprio motorista do caminhão, que opera um braço telescópico para fazer a coleta, sem necessidade da ajuda de outros funcionários. O processo de separação do lixo para reciclagem também tem muito a evoluir — já há tecnologia para que praticamente tudo seja executado de forma automática. “Quem fizer primeiro esse tipo de investimen-

Para construir os aterros sanitários que vão substituir os lixões a céu aberto, será preciso investir 2 bilhões de reais to no Brasil vai ficar muito à frente dos concorrentes”, diz o consultor Fernando Altino. Como ocorre em todos os setores em transformação, o mais difícil na área dos resíduos sólidos é encontrar o momento certo de empreender — nem cedo demais, a ponto de dar um tiro n'água, nem tarde demais, a ponto de chegar atrasado à disputa por um novo nicho. A enorme distância entre o que ocorre na prática e o que está escrito na nova legislação abre a perspectiva de uma imensidão de negócios. “É como se a lei determinasse que todo mundo terá de usar black-tie num país onde metade da população ainda vive sem roupa”, diz Altino, referindo-se ao fato de que metade dos municípios brasileiros ainda despeja seus resíduos em lixões a céu aberto. Cabe aos empreendedores encontrar o traje certo para fazer parte dessa festa.


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Código Florestal / Vladimir Brandão

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Ocabo deguerra das florestas O novo Código Florestal tem o desafio de conciliar a preservação da natureza com o desenvolvimento do agronegócio. Mas o embate entre os ambientalistas e os produtores rurais está longe do fim

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RodRigo Baleia/latinContent/getty images

Um dOs mais

Queimada em área agrícola próxima à mata preservada em Mato Grosso: o Congresso Nacional discute a lei que vai regular a exploração da terra no Brasil

importantes temas atualmente em tramitação no Congresso Nacional, o novo Código Florestal pretende resolver uma questão crucial: conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento da agropecuária. Isso não deveria ser tão complicado no Brasil, um país que possui 520 milhões de hectares de áreas preservadas, o correspondente a 61% de seu território, ao mesmo tempo que se tornou uma potência global do agronegócio ocupando apenas 28% da área com a atividade. No entanto, mais de 90% dos 5,2 milhões de produtores brasileiros estão atualmente fora da lei, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). De algum modo, eles não cumprem o código em vigor, estabelecido em 1965 e, desde então, modificado por vários decretos, portarias e medidas provisórias. A situação chegou a esse ponto devido ao descaso de produtores, à dificuldade de cumprir determinações pouco razoáveis e à incapacidade do Estado de realizar a fiscalização devida. Por anos o governo prorrogou por decreto o prazo para a adequação às normas, até que a revisão da legislação se impôs como prioridade. “A atualização do código trará segurança jurídica aos produtores rurais”, diz a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA. Mais que dar segurança a agricultores e pecuaristas, a qualidade da lei produzida e a capacidade de adequação do setor ao novo marco legal a partir de 2012 dirão ao mundo se o Bra-

sil possui, de fato, um agronegócio sustentável e mecanismos modernos para gerir seu patrimônio natural. O ponto de partida dos grupos que buscam influenciar o novo código é a legislação atual. Sobre ela, uns dizem tratar-se de um arcabouço ultrapassado e inaplicável, uma ameaça não apenas ao crescimento da produção mas também à sua manutenção nos patamares atuais, além de ineficaz para proteger os recursos naturais. Para outros, entretanto, trata-se de uma das legislações ambientais mais modernas do mundo, que foi simplesmente ignorada pelo avanço da agropecuária — e agora, em vez de se buscar cumpri-la, optou-se por afrouxar as regras e apagar os erros do passado. Assim se delineou uma polarização feroz entre produtores rurais e ambientalistas. Posto nesses termos, o primeiro round foi vencido pelos produtores. O projeto de lei do deputado e atual ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB-SP), aprovado com folga pela Câmara dos Deputados em maio, flexibilizou as regras para a ocupação de áreas de proteção e reservas florestais nas propriedades rurais, entre outras mudanças polêmicas que dão margem a interpretações contraditórias. “O texto aprovado atende à demanda dos produtores, principalmente os pequenos, ao mesmo tempo que mantém os instrumentos de conservação do código atual”, diz Rodrigo Lima, gerente-geral do Icone, instituto especializado na análise do agronegócio. Para Lima, a maior virtude do código aprovado na Câmara é a pos-

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pois, os deputados voltam a analisar o texto. Em seguida, o código vai para a sanção da presidente Dilma Rousseff, o que pode acontecer até o fim do ano. Até o fechamento desta edição, a expectativa era que o Senado ajustasse alguns pontos do texto aprovado na Câmara, como a possibilidade aberta à consolidação de qualquer atividade agropecuária em APPs, e incluísse aspectos relativos ao ordenamento urbano, assunto praticamente ignorado pela Câmara. “Também precisamos adotar mecanismos econômicos para premiar quem cumpre a lei e para incentivar a recuperação e a conservação”, diz Raul do Valle, do Instituto Socioambiental. Ele se refere ao conceito de pagamento por serviços ambientais, cujo princípio é o de que a natureza presta serviços fundamentais, como regulação do clima e retenção de carbono, e quem a protege deve receber por isso. Essa é uma agenda positiva, que converge interesses de ambientalistas e produtores rurais. Ainda assim, a aprovação do código não significará o fim do embate. “Para sairmos dessa guerra, todo mundo tem de ganhar, senão todos saem perdendo”, diz Lima, do Icone. Se o texto não for equilibrado a ponto de atender aos anseios dos interessados, poderá haver

Se tudo correr bem, começa em 2012 o desafio de implantar o novo código. Uma das tarefas do governo é criar um cadastro ambiental confiável renos sensíveis, como margens de rios, encostas íngremes e topos de morros —, beneficiando quem descumpriu a lei e punindo, portanto, quem cumpriu. O texto também isenta um grande número de propriedades da recuperação da reserva legal, área destinada à manutenção de vegetação natural e que varia de acordo com o bioma — ela deve ocupar 80% das propriedades na Amazônia, 35% no cerrado e 20% em outros biomas. O novo texto abre, por exemplo, a possibilidade de compensar reserva legal em outra área, ainda que distante, desde que no mesmo bioma — por exemplo, o dono de uma fazenda em Goiás poderá arrendar uma área no sul do Maranhão, também no cerrado, e mantê-la como reserva. O Senado deve colocar o texto do novo código em votação no plenário em novembro. De-

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uma enxurrada de ações judiciais que atravancarão o processo. Se tudo correr bem, começa em 2012 o desafio de implantação da nova legislação. O poder público precisará se estruturar para criar um cadastro ambiental que forneça informações fidedignas sobre a situação de APPs e reservas legais em cada propriedade, peça-chave para uma gestão eficiente do espaço rural. Os governos federal e estaduais deverão estabelecer regras de programas de regularização ambiental para que as propriedades possam aderir e se enquadrar na nova legislação, e fontes de recursos terão de ser criadas para o pagamento por serviços ambientais. Já os produtores deverão realizar as mudanças necessárias à regularização das propriedades. “A aprovação do código é só o primeiro passo para o ordenamento do setor”, diz Lima.

5 Silvia Zamboni\FolhapreSS

sibilidade de adequar o ordenamento jurídico à realidade do país — algo que seria hoje impossível, como sugere o descumprimento da lei em larga escala. “Aumentar as exigências sem considerar aspectos socioeconômicos dos produtores, como tem sido feito nos últimos anos, não trouxe resultados práticos para a conservação”, afirma Lima. Agora está em curso o segundo round do embate. O Senado se debruça sobre o texto aprovado na Câmara, revisando seu conteúdo em comissões e analisando novas propostas. Nessa etapa, espera-se que sejam incorporadas algumas demandas dos ambientalistas. “Ainda dá para salvar o código no Senado, mas com o coração partido pelas perdas irreversíveis. Perdemos a oportunidade de criar uma lei inovadora e moderna”, diz Miriam Prochnow, da ONG catarinense Apremavi, uma das coordenadoras do Comitê em Defesa das Florestas, frente que reúne a Ordem dos Advogados do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e diversas ONGs. Os ambientalistas veem no texto da Câmara um enorme retrocesso, pois, entre outras coisas, ele admite a consolidação de atividades agropecuárias em áreas de proteção permanente, as APPs — ter-

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Eduardo Giannetti da Fonseca no jardim de sua casa: “Precisamos de indicadores de progresso que não sejam a métrica monetária cega”

Ética / Eduardo NuNomura / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / /

Economicamente incorreto

Para o escritor Eduardo Giannetti da Fonseca, o meio ambiente não é tratado de forma ética porque a natureza é vista como um bem de consumo sem ônus ou custo algum

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O ecOnOmista,

filósofo e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca não tem carro, vai a pé até a padaria, pensa duas vezes antes de pedir uma sacola plástica no supermercado e tem a meta de reduzir o consumo de carne a ponto de virar vegetariano. Mas está convencido de que, por mais ações éticas que os indivíduos pratiquem no seu dia a dia, elas são insuficientes para equacionar a distorção no atual sistema de preços, que não leva em conta os custos ambientais no valor da mercadoria. A natureza é consumida como se não tivesse um ônus. E não se pode esperar, segundo Giannetti, pelas decisões políticas de curto prazo, já que as soluções devem ser pensadas no horizonte de algumas décadas à frente. Mineiro de Belo Horizonte e professor do Ibmec São Paulo, Giannetti reflete na entrevista a seguir sobre as questões éticas que o tema da sustentabilidade provoca — ou deveria provocar — na sociedade. O relatório final da Rio 92 dizia que o modelo hegemônico de desenvolvimento na época era “ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”. O relatório da Rio+20 parece já estar pronto... O que há de errado, seriamente errado, com o modelo econômico vigente? Ele está calcado no sistema de preços, o grande balizador para produtores e consumidores, determinando o que vale e o que não vale a pena fazer. O sistema de preços é extraordinariamente eficiente como alocador de recursos, direcionando-os para setores nos quais sejam mais demandados. E se mostrou enormemente superior ao modelo de planejamento central, adotado na União Soviética durante 80 anos e com resultado desastroso. No entanto, o que se percebe hoje é que o sistema de preços padece de uma falha muito séria, porque deixa de sinalizar de maneira adequada os custos reais envolvidos nas nossas escolhas tanto ao produzir quanto ao consumir. É um modelo economicamente incorreto? Sim. Se uma comunidade possui água potável em abundância e não precisa trabalhar para adquiri-la, isso não entra no sistema de preços e na contabilidade econômica. Se essa comunidade polui todas as fontes de água e passa a ter de purificá-la, engarrafá-la, distribuí-la, o que acontece com o PIB? Aumenta. Os consumidores vão ter de remunerar os fatores de produção, trabalhar um pouquinho mais para ter água potável, e o PIB cresce. Mas é um crescimento

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com sinal errado, porque a qualidade de vida piorou. Tem algo errado na contabilização. Precisamos de indicadores de avanço e progresso que não sejam essa métrica monetária cega. Indicadores que não mascarem custos como se eles não existissem. Aí você está chegando ao ponto. Vamos supor que estou na China, e o país precisa consumir mais eletricidade, porque a demanda é explosiva. Tenho duas opções: uma termelétrica a carvão ou uma eólica renovável. O preço do quilowatt-hora da termelétrica é cerca de 70% menor que o da energia eólica. Evidentemente, os chineses vão fazer a termelétrica a carvão. Mas e todo o CO2 emitido pela queima do carvão nessa termelétrica? O sistema de preços não sinaliza o impacto ambiental dessa escolha. Pensando na origem do problema, na perspectiva da história econômica, por que o ambiente nunca é tratado de forma ética? Porque a natureza é tratada como um bem livre que, portanto, pode ser consumida à vontade, sem ônus e custo algum. Quando pego um avião para cruzar o Atlântico, estou emitindo mais CO2 do que um indiano no meio rural durante um ano. Estou pagando equipamento, combustível, serviço de bordo, aeroporto, mas o custo ambiental não está no preço da passagem.

É muito complicado aceitar fazer sacrifícios agora pelo bem de gerações futuras. Somos a primeira geração a ter de pensar seriamente nisso


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Brasil Agenda 2012 O que aconteceria se recalculássemos os preços levando em conta o ambiente? Os preços relativos vão mudar. Talvez a energia eólica, dependendo do valor que você atribuir para o CO2 emitido, seja mais interessante para a sociedade do que a termelétrica a carvão. Se for proibitivamente caro eu pegar meu carro para andar dois quarteirões, vou pensar duas vezes e posso preferir caminhar ou pegar minha bicicleta. A economia regida pelo sistema de preços revelou uma fragilidade que talvez seja da mesma ordem de gravidade que as falhas do modelo de planejamento central.

Quanto vale a pena a atual geração se sacrificar pelo bem das gerações futuras? Alguns argumentam que as gerações futuras serão muito mais ricas que nós e, portanto, não faz sentido incorrermos no sacrifício agora porque ele não é necessário. Muita gente aposta que a tecnologia vai avançar e dar respostas em tempo hábil para os dilemas e as armadilhas de hoje. Considero esses dois argumentos perigosos e temerários. Estamos numa trajetória que põe em risco o bem-estar de gerações futuras, a biodiversidade e a própria viabilidade do ecossistema planetário. Eu não apostaria na tecnologia como a tábua de salvação. Mas é muito complicado aceitar sacrifícios agora em nome de gerações futuras e situações hipotéticas. A humanidade nunca teve de fazer esse exercício. A primeira geração que teve de pensar seriamente nisso é a nossa, e não estamos acostumados a pensar num horizonte de 50 a 100 anos à frente. No entanto, a tecnologia de que já dispomos e os danos que já causamos cumulativamente nos obrigam a pensar nesse horizonte de tempo.

O fato de a escassez provocar o desenvolvimento de novos produtos que geram aumento do PIB não faz com que os governos considerem isso uma solução e não um problema? Estamos perigosamente perto de uma ruptura no equilíbrio ambiental do planeta. A imagem que tenho usado é a de um fumante inveterado que descobre que tem um enfisema pulmonar. Ou ele muda enquanto é tempo ou isso vai virar um câncer com sequelas dramáticas. A humanidade está nesse limiar. Ou muda de vida ou então vai caminhar para uma situação sem retorno. De certa maneira, parece que estamos apostando no câncer... Esse modelo ocidental não é transitivo. Aí existe um problema de equidade internacional. Com que autoridade vamos bloquear o acesso a esses confortos da vida moderna que foram vendidos há séculos para países emergentes como sendo a modernidade e o bem-estar? A boa notícia é que os estudos sobre bem-estar, a partir de um nível de renda médio, indicam que não há nenhuma evidência de que acréscimos da renda per capita se traduzam em ganhos de bem-estar subjetivos. Quando você parte de baixo, até chegar a certo patamar, o crescimento da renda per capita é acompanhado de um aumento do bem-estar subjetivo. A partir desse ponto, a renda per capita continua crescendo, mas o bem-estar subjetivo para de crescer. Não faz sentido apostar no crescimento do bem-estar ilimitado. Com o agravante de que continuar nesse caminho coloca em risco o equilíbrio ambiental do planeta. Seu livro O Valor do Amanhã criticava a lógica de que “antecipar custa e retardar rende”, que faz com que nos orientemos pelas questões imediatas, muitas vezes danosas ao ambiente. Por que agimos assim?

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O senhor parece sugerir que façamos uma escolha ética, em que a maximização dos lucros no menor espaço de tempo não paute as economias. Isso é possível? Infelizmente, não podemos contar com a boa vontade para corrigir o sistema de preços. Isso vai ter de ser feito de maneira geral. Há uma experiência muito interessante da companhia aérea British Airways, que, a certa altura do clamor na Inglaterra sobre a questão das mudanças climáticas, resolveu oferecer aos clientes a opção de pagar pela compra do crédito de carbono correspondente ao trajeto do bilhete adquirido. Isto é, você paga para que seja compensada a emissão de CO2. A adesão foi de 3%, muito baixa. Por quê? É um pouco a história de Agostinho nas Confissões, quando ainda não era santo: "Dai-me, Senhor, a castidade e a virtude, mas não já". Não podemos contar com a boa vontade, a boa consciência das pessoas. O Paradoxo de Jevons: em alguns países da Europa, a proibição do fornecimento de sacolas plásticas em lojas e supermercados aumentou seu consumo

Lentamente, vemos empresas incentivando a redução do consumo de sacolas plásticas, o uso de madeira certificada... Essa é uma questão complicada. Fui a um evento de embalagens e um especialista europeu disse que a proibição do fornecimento de sacolas plásticas por lojas e supermercados em alguns países na Europa aumentou o consumo do produto. Antes as pessoas usavam as


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Brasil Agenda 2012 tou 20%, mas o consumo médio por aparelho subiu 37%. Ficou tão barato que as pessoas deixam ligado. Só o ar-condicionado domiciliar equivale hoje ao consumo de eletricidade da economia americana inteira do fim dos anos 50. Essa conta não fecha. A China está entrando hoje nisso e já produz um terço dos aparelhos de ar condicionado do planeta. Você pode aplicar isso a automóvel, geladeira...

O ar-condicionado ficou mais eficiente em consumo de energia, mas o gasto médio por aparelho aumentou. Ficou tão barato que todos deixam ligado

sacolas para colocar lixo e para guardar coisas. Com a proibição, tiveram de comprar as sacolas. É o chamado Paradoxo de Jevons, do fim do século 19, criado pelo economista britânico Willian Stanley Jevons. O argumento dele: se a eficiência energética na produção siderúrgica melhorasse, no século 19, o que iria acontecer? Você precisaria de menos carvão por tonelada de minério de ferro, mas aumentaria o consumo total de carvão. Por quê? Quando se melhora a eficiência energética, cai o custo de produzir ferro. Ao cair esse custo, aumenta a rentabilidade da siderúrgica. Isso vai atrair mais capital para o setor, o que vai aumentar a capacidade de produção e a oferta, o que fará o preço cair e a demanda por ferro aumentar. É uma lógica perversa, porque o desenvolvimento se torna vilão da sociedade. Quer ver um exemplo atual acachapante disso? Ar-condicionado. Em 1960, 80% dos domicílios americanos não tinham ar-condicionado. Hoje, 84% das casas têm ar-condicionado e a maior parte é central. Entre 1993 e 2005, a eficiência energética do ar-condicionado aumen-

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As lutas ecológicas parecem restritas à esfera do Estado e à do mercado. Mas muitos não acreditam que os políticos tenham capacidade de lidar com essas grandes questões. Esse é o problema da democracia representativa. O horizonte do político é a próxima eleição e o incentivo dele é maximizar as chances de sucesso eleitoral. É uma visão muito estreita para o tipo de problema que estamos discutindo. Assim como no sistema de preços, a democracia como arranjo institucional não é mais adequada para oferecer as respostas. Como vamos mudar os incentivos para que os políticos mirem as soluções de longo prazo que são relevantes? Não tenho a resposta. Em seu outro livro, Nada É Tudo, o senhor falava em investir melhor no bem-estar do futuro. Isso pressupõe tomar decisões difíceis hoje. Do ponto de vista da ética, quais decisões teriam de ser tomadas já? Corrigir o sistema de preços é fundamental. É fundamental ter um bom Código Florestal, que compatibilize o crescimento do agronegócio com a preservação do patrimônio ambiental. Seria ótimo contar com consumidores eticamente mais capazes de viver à altura em termos de prudência e responsabilidade ambiental. Muitas vezes, a pessoa tem para si uma boa consciência, mas seu comportamento não corresponde ao que ela imagina. No dia a dia, ela pega o automóvel, come carne, usa saco plástico à vontade, joga lixo na rua, pega avião. E como o senhor age pessoalmente? Dentro dos meus limites, tento pautar minhas ações pelo que acredito ser o melhor. Penso duas vezes antes de pedir um saco plástico no supermercado. Não tenho carro e gosto de andar a pé. Estou diminuindo muito meu consumo de carne, não virei vegetariano, mas pretendo caminhar para isso. Estou trazendo o meu dia a dia mais para perto do que considero ideal. Sempre sabendo que, por mais que eu melhore, ainda vai faltar.


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germano lüders

BRASIL Políticas públicas

Linha de produção de carros da Nissan: os incentivos tributários poderiam ter como contrapartida os investimentos em eficiência de combustíveis

A menos de um Ano de sediAr

a Rio+20, conferência das Nações Unidas que tratará de temas como a economia verde e o desenvolvimento sustentável, o Brasil ainda tem dificuldades para colocar questões ligadas à sustentabilidade no centro de suas políticas setoriais. Um exemplo contundente foi o anúncio, em agosto, da nova política industrial brasileira. Batizado de Plano Brasil Maior, o pacote de estímulo à competitividade na indústria frustrou aqueles que esperavam por incentivos à inovação com foco em tecnologias limpas, no uso sustentável da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas. Contemplados em linhas de crédito voltadas para a inovação, esses pontos estão longe de ser o motor da política industrial do governo de Dilma Rousseff.

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O pacote traz medidas como a desoneração da folha de pagamentos para setores fragilizados em razão do câmbio valorizado e da concorrência com a China, como as indústrias de calçados, confecções, móveis e software. Contempla também reduções tributárias que devem atingir 25 bilhões de reais nos próximos dois anos — está prevista a prorrogação da redução do IPI sobre bens de capital,


Oportunidade perdida? Apesar de tocar pontualmente em inovação e sustentabilidade, a nova política industrial brasileira está aquém dos modelos bem-sucedidos de outros países AndreA ViAlli

material de construção, caminhões e veículos comerciais leves. No campo da inovação, as principais medidas são a concessão de crédito do BNDES à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no valor de 2 bilhões de reais, com taxas de 4% a 5% ao ano, e a criação de programas no âmbito do Fundo Clima — uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e o BNDES para finan-

ciar projetos que reduzam as emissões de gases de efeito estufa. “São boas ações”, diz Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Mas elas não anulam o caráter restritivo do plano. A sustentabilidade não entrou no DNA da política industrial.” É um caminho diferente do percorrido por países como a Alemanha, uma

das nações pioneiras no fomento à economia verde, um movimento intensificado sobretudo a partir das décadas de 80 e 90. Leis ambientais rigorosas e o apoio governamental, na forma de subvenções, estimularam o nascimento de uma sólida indústria de tecnologias ambientais. Os alemães também adotaram critérios de sustentabilidade nas compras governamentais, o que

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BRASIL Políticas públicas

AndiA/AlAmy

lee Jin-mAn/AP Photos

Painéis de energia solar no Parlamento alemão, em Berlim: o uso de critérios ambientais nas compras do governo incentivou a indústria de energias renováveis

ajudou a garantir escala para indústrias como a de painéis solares, desenvolvimento de tecnologias de despoluição de água, filtros para indústrias pesadas e tratamento de resíduos sólidos. Na área de energias renováveis, a Alemanha se tornou uma potência em energia solar fotovoltaica e em eólica graças a um sistema de incentivos que inclui, entre outros pontos, financiamentos a juros baixos e as chamadas tarifas feed-in — mecanismo que permite ao produtor vender energia renovável a um preço fixo garantido em contrato por um período determinado.

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Maquete de uma cidade projetada para gastar menos energia: tecnologia ambiental é uma das áreas de pesquisa prioritárias na Coreia do Sul

O KfW, banco de desenvolvimento alemão, é a instituição que mais financia energias renováveis no país, com taxas de juro inferiores às do mercado financeiro e com prazos para pagamento entre dez e 20 anos. Beneficiam-se dessas condições os empreendimentos voltados para a geração de energia solar fotovoltaica, biomassa, biogás, energia eólica, hidrelétrica e geotérmica. O salto alemão nesse setor se deu graças a uma visão pragmática do investimento em tecnologias verdes: os alemães acreditam que essa indústria será a grande força motriz da economia na

próxima década. Um estudo da consultoria Roland Berger calcula que, em 2020, 14% do PIB da Alemanha virá da indústria de tecnologias ambientais. Na área da inovação, recentemente, a política industrial alemã estabeleceu estratégias para 17 “campos de futuro” — setores que devem nortear a indústria nos próximos anos, como biotecnologia, nanotecnologia e biocombustíveis, incluindo o etanol de segunda geração, produzido de resíduos. No mesmo caminho da Alemanha está a Dinamarca. O país nórdico vem se destacando por colocar em prática


da, a Lei de Ciência e Tecnologia, criada em 2001, estabeleceu o ramo de tecnologia ambiental — que inclui as atividades de saneamento, tratamento de efluentes e resíduos sólidos e controle de poluição — como um dos dez prioritários para pesquisa no país. Mais recentemente, os sul-coreanos elegeram quatro áreas como foco de pesquisa e desenvolvimento nos próximos anos: biotecnologia, nanotecnologia, software e bioindústria. IncentIvos sem contrapartIda

No Brasil, o uso de instrumentos econômicos, como a desoneração fiscal, poderia estimular a indústria a produzir bens com melhor desempenho ambiental. “O sistema poder ser aplicado, por exemplo, à indústria automobilística”, diz Almeida, do Iedi. As montadoras de automóveis instaladas no Brasil têm planos para ampliar a produção dos atuais 4,3 milhões de veículos por ano para 6,3 milhões de unidades anuais até 2015, um aumento de 46%. As medidas anunciadas no Plano Brasil Maior mencionam, para o setor, a concessão de “incentivos tributários como contrapartida ao investimento, agregação de valor, emprego, inovação e eficiência”, mas não fornecem detalhes de como isso será feito. “O Brasil oferece vantagens a setores tradicionais, como a indústria automobilística, sem exigir uma contrapartida em inovação ou de eficiência energética”, diz Ricardo Abramovay, professor da Faculdade

Um estudo da consultoria Roland Berger estima que, em 2020, a indústria de tecnologias ambientais será responsável por 14% do produto interno bruto alemão o que se convencionou chamar de “ecologia industrial”, que tem como meta o fim da geração de resíduos e da poluição. Um exemplo é o centro industrial localizado na cidade de Kalundborg, onde sete companhias se associaram para funcionar como um polo sustentável — uma fábrica aproveita o resíduo

gerado por outra para introduzi-lo em seu processo industrial como matériaprima ou para gerar energia elétrica ou térmica. Para incentivar iniciativas como o polo de Kalundborg, o governo dinamarquês garante isenção de impostos. Na Coreia do Sul, um dos países que mais investem em pesquisa aplica-

de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. “A política industrial seria um importante vetor para estimular avanços nessa indústria. Não é o que está acontecendo.” Uma forma óbvia de incentivar o desenvolvimento de tecnologias ambientais pelas montadoras seria a re-

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BRASIL Políticas públicas dução definitiva do IPI para veículos com maior eficiência energética e menos poluentes. A medida chegou a ser discutida em 2010 com representantes do setor, depois que o Ministério da Fazenda retirou os incentivos tributários que as fabricantes receberam durante a crise financeira internacional de 2008. Na mesma época, o governo vinculou a redução de impostos para eletrodomésticos da linha branca ao grau de eficiência energética dos aparelhos, uma decisão considerada positiva para estimular o consumo sustentável. Agora, medidas parecidas envolvendo a produção de automóveis voltam a ser discutidas. O governo está finalizando um plano de redução do IPI para veículos menos poluentes, exigindo como contrapartida das montadoras a realização de investimentos em tecnologia para desenvolver motores mais eficientes e que emitam menos gases de efeito estufa.

Refinaria de petróleo em Kalundborg, na Dinamarca: o polo industrial foi planejado de forma que uma fábrica possa aproveitar o resíduo gerado por outra

Há pontos do Plano Brasil Maior que, se forem bem conduzidos, poderão estimular a inovação com foco em sustentabilidade, segundo os especialistas ouvidos por EXAME. O plano fixou dez metas a ser atingidas até 2014. Uma delas prevê que as indústrias produzam mais gastando menos energia e gerando menos gases de efeito estufa. “Reduzir a intensidade energética e de carbono da produção

Mikkel Ostergaard/panOs

Política de comPensações

Uma das metas da nova política industrial brasileira é elevar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos atuais 0,59% para 0,90% do PIB até 2014 industrial é um caminho necessário, até porque países em desenvolvimento, como a Índia e a China, já estão fazendo isso”, diz Abramovay, da USP. Outra meta que consta da nova política industrial é elevar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos atuais 0,59% para 0,90% do PIB até 2014. Além disso, o programa do

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governo pretende aumentar a participação no PIB da indústria intensiva em conhecimento. Atualmente, 30,1% do que é produzido pela indústria entra nessa classificação. Até 2014, a meta é elevar essa proporção para 31,5%. Essas metas são factíveis? Para o economista Almeida, do Iedi, é preciso começar agora para colher os

resultados no longo prazo. “O Brasil não vai se transformar em uma economia inovadora da noite para o dia”, diz Almeida. “Isso só será realidade quando sanarmos nossas deficiências no campo da educação e quando a inovação for vista como determinante para o sucesso e a competitividade dos setores produtivos.”


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GESTÃO Engajamento

Ideias por toda parte Um número cada vez maior de empresas incentiva os funcionários a adotar hábitos sustentáveis — às vezes, eles próprios dão o primeiro passo AndreA ViAlli

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Ao reAlizAr

fabiano accorsi

O engenheiro Amauri Zini, do CPqD: sua iniciativa deve resultar na coleta de 6 toneladas de lixo eletrônico até o final de 2011

seu inventário de emissões de gases de efeito estufa, a Algar Telecom, empresa do Grupo Algar, que atua nas áreas de telecomunicações, agronegócio, turismo e serviços, descobriu que os meios de transporte utilizados por seus funcionários eram o segundo maior fator de emissões de gás carbônico da empresa, atrás apenas do consumo de energia. Além de sobrecarregar o trânsito, o uso massivo do transporte individual pelos funcionários para se deslocar até o local de trabalho contribui para o aquecimento global. Para reduzir o problema, a Algar Telecom, com sede em Uberlândia, em Minas Gerais, passou a incentivar seus funcionários a compartilhar o carro com colegas que moram na mesma região. Batizada de Clube de Caronas, a iniciativa oferece uma vantagem a quem se compromete a dar carona a outros funcionários: uma vaga fixa no estacionamento. O clube começou com três grupos em agosto de 2010. Hoje são 12 grupos. Com isso, 36 veículos deixaram de circular diariamente — cada motorista divide o carro com até três colegas. O número pode ser pequeno, mas ilustra uma tendência: cada vez mais empresas estimulam seus funcionários a adotar hábitos mais sustentáveis no dia a dia. “Os funcionários percebem que o trabalho não serve apenas para dar o sustento. Eles estão contribuindo para uma causa maior”, diz Cristiane Maziero, especialista em RH da consultoria Allure Desenvolvimento Humano, que realiza treinamentos com foco em sustentabilidade. As caronas da Algar Telecom também ajudaram a aproximar funcionários de departamentos diferentes. “Miramos na proteção do meio ambiente e acabamos acertando na melhoria dos relacionamentos no ambiente de trabalho”, diz Sther Machado, coordenadora de sustentabilidade e desenvolvimento da empresa. O programa atinge todos os níveis hierárquicos. “Já vi três altos executivos chegando juntos, de carona”, afirma Sther, que agora quer criar

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GESTÃO Engajamento um programa de incentivo ao uso de bicicletas. O programa de caronas, somado a outras práticas de sustentabilidade, ajudou a Algar Telecom a melhorar seu desempenho nas questões ambientais: em um ano, a empresa conseguiu diminuir as emissões de dióxido de carbono em 22%. Lixo no armário

A geógrafa Evanilda Castro, da Vale em Minas Gerais: produção de sacolas retornáveis com o aproveitamento de retalhos de banners reciclados

O programa de caronas, somado a outras práticas de sustentabilidade, ajudou a Algar Telecom a diminuir suas emissões de dióxido de carbono em 22% em um ano CPqD, o antigo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, hoje uma fundação que desenvolve tecnologias em telecomunicações para o mercado. Incomodado com a crescente bagunça doméstica, Zini teve a ideia de sugerir ao CPqD a formação de um mutirão para recolher o lixo eletrônico de seus 1 300 funcionários e promover o descarte correto. O CPqD fez uma parceria com a Oxil, empresa de Paulínia, no interior de São Paulo, que realiza a coleta, a desmontagem e o reaproveitamento dos materiais no-

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bres. A previsão inicial era arrecadar 2 toneladas de sucata, mas o cálculo foi subestimado. “Até o final do ano, devemos coletar mais de 6 toneladas”, diz Zini. Ele aproveitou o mutirão no CPqD para se livrar de um computador velho, duas impressoras, cinco celulares e três videocassetes. recicLagem de banners

Há casos em que o engajamento de um funcionário provoca efeitos que reverberam por toda a empresa. Funcionária da mineradora Vale em Sabará, em

PEDRO SILVEIRA

Programas de coleta seletiva de lixo não são mais uma novidade nas companhias. Mas são poucas as que oferecem uma estrutura para a coleta do lixo eletrônico — um problema crescente no país. De acordo com as Nações Unidas, o Brasil é o país que mais produz esse tipo de lixo entre as economias emergentes, em volume per capita — só de computadores, cada brasileiro produz, em média, 500 gramas de sucata por ano, ante 400 gramas dos chineses, por exemplo. A casa do engenheiro Amauri Zini aparecia como uma amostra dessa nova realidade. “Os equipamentos velhos se acumulavam nos armários”, diz Zini, gerente de engenharia e serviços do

Minas Gerais, há 31 anos, a geógrafa Evanilda Castro ficava incomodada sempre que via o desperdício de sacolas plásticas nas ruas. Ao receber uma sacola retornável feita de retalhos de antigos banners, teve um estalo. “Uma empresa como a Vale realiza muitos eventos ao longo do ano. Banner é o que não falta”, diz ela. Evanilda iniciou uma campanha para arrecadar o máximo de banners e transformá-los em sacolas retornáveis. Pediu à área de comunicação da Vale que passasse a fornecer os banners usados em eventos e levou o material recolhido para a cidade vizinha de Itabira, onde uma microempresa formada por seis costureiras se encarrega de transformá-los em sacolas. Neste ano, serão produzidas 1 200 delas, para distribuição entre os funcionários do Centro de Pesquisas e Conservação da Biodiversidade do Quadrilátero Ferrífero, uma antiga mina de ferro que es-


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GESTÃO Engajamento

Marcelo alMeida

Patricia Tavares, gerente do HSBC: 12 dias na Mata Atlântica em busca de informações sobre a biodiversidade

tá em processo de recuperação. “Hoje, ninguém na minha unidade usa sacolas plásticas para ir ao supermercado”, diz Evanilda. A Vale encampou a ideia. Em 2012, a empresa deve reciclar banners também em outras unidades, como Vitória e Linhares, no Espírito Santo, e em São Luís, no Maranhão. medindo árvores na mata

O que leva uma executiva a se enfiar numa floresta, sem telefone ou acesso à internet, para medir o tamanho de troncos, galhos e folhas e a altura das árvores? Foi essa a rotina de Patricia Tavares, gerente de operações de um dos centros administrativos do HSBC em Curitiba, durante os 12 dias que passou em uma área remanescente da Mata Atlântica em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. A aventura de Patricia é parte de uma iniciativa batizada de Climate Partnership, na qual fun-

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cionários do banco — de caixas a executivos do alto escalão — são selecionados para participar de um treinamento sobre mudanças climáticas. Em uma das fases do curso, os funcionários são levados a campo para auxiliar na coleta de dados sobre as árvores, para que os cientistas possam avaliar se elas estão crescendo dentro de seu padrão natural. O programa, fruto de uma parceria entre o HSBC e quatro organizações ambientais, está realizando um estudo sobre os possíveis efeitos do aquecimento global nas florestas, nos mananciais, na biodiversidade e nas grandes metrópoles. No Brasil, Patricia e outros 140 funcionários do HSBC foram a campo para ajudar nas pesquisas envolvendo a Mata Atlântica. “Os voluntários levantaram dados de mais de 20 000 árvores em quatro anos”, diz Claudia Malschitzky, executiva de sustentabi-

lidade do HSBC. “Além da ajuda com a pesquisa científica, eles são desafiados a implantar projetos em suas unidades com foco em sustentabilidade.” Na Mata Atlântica, Patricia teve um contato íntimo com a natureza. Tomou um susto ao ver cascavéis enroladas nos galhos das árvores, avistou uma jaguatirica e seguiu pegadas de uma onça-parda. “Você volta de uma experiência dessas e começa a repensar sua vida e seu papel para manter essa natureza preservada”, diz. Uma das primeiras consequências práticas do período na floresta apareceu em casa. Patricia começou a separar o lixo para reciclagem. Depois, fez o mesmo no centro administrativo do HSBC. “Desenvolvemos um trabalho para conscientizar 2 700 funcionários da importância da coleta seletiva. Hoje, ainda encontramos coisas nas lixeiras erradas, mas o avanço foi enorme.”


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empresas Indústria química

Território livre Várias substâncias químicas banidas ou com uso controlado no exterior são empregadas livremente no Brasil. Mas algumas fabricantes saem na frente e adotam restrições voluntárias José Alberto GonçAlves PereirA


Em várias árEas, o Brasil

segue passo a passo os países ricos. No setor de informática, por exemplo, novos modelos de computador desembarcam no país pouco tempo depois de ser lançados nos Estados Unidos ou no Japão. No setor químico, porém, o país está a anosluz do mundo desenvolvido. Várias substâncias e produtos químicos banidos ou sob cerrado controle na Europa e nos Estados Unidos circulam livremente por aqui — como o formaldeído, presente em resinas utilizadas em painéis de madeira, os solventes usados em tintas e vernizes e alguns agrotóxicos empregados no controle de pragas. A boa notícia é que, enquanto os controles oficiais sobre diversas substâncias químicas perigosas continuam frouxos no Brasil, algumas empresas resolveram sair na frente das concorrentes e já oferecem produtos que seguem as regras das legislações mais rigorosas dos países desenvolvidos. É o caso da chilena Masisa, que pos- como a látex. A Europa (desde 1999) e sui duas fábricas de painéis de madeira a Califórnia saíram na frente nessa área, para a indústria moveleira no Brasil. impondo limites tão rigorosos para os Para fazer painéis de MDF, material VOCs que praticamente levaram os faque barateia a produção de móveis, as bricantes a abandonar o uso dos solvenfabricantes costumam misturar fibras tes. Segundo a Agência de Proteção de madeira a uma resina que endurece Ambiental dos Estados Unidos, os graças à presença de formaldeído, clas- VOCs podem acarretar graves estragos sificado em junho de 2004 como subs- no organismo humano, desde irritação tância cancerígena pela Agência Inter- nos olhos e na garganta e dor de cabeça nacional para Pesquisa em Câncer. até câncer e danos ao fígado, aos rins e Desde que iniciou suas atividades no ao sistema nervoso central. Brasil, em 2001, a Masisa produz paiO Brasil não possui legislação espenéis segundo o padrão europeu E1, que cífica para controlar o uso dos VOCs em limita o teor de formaldeído a 8 mili- produtos como tintas e vernizes, mas gramas por 100 gramas de painel. Nes- uma empresa se destaca por voluntase padrão, que é um dos mais restritivos riamente produzir tintas com baixo do mundo, o forte odor causado pelo teor ou sem essas substâncias tóxicas. formaldeído praticamente desaparece, A americana PPG, que tem uma fábrica diminuindo substancialmente os riscos em Sumaré, no interior de São Paulo, à saúde. No Brasil, boa parte das fábri- lançou em 2009 a tinta acrílica Zero, cas de painéis de madeira usa 30 mili- sem VOCs. A empresa pretende lançar gramas de formaldeído por 100 gramas outras tintas, esmaltes e vernizes com de painel, o que explica o mau cheiro baixíssimo ou nenhum teor de VOCs comum em fábricas e marcenarias. até 2013 para atender aos critérios da “Ter uma indústria de painéis cuja mé- certificação americana Liderança em dia de presença do formaldeído se Energia e Design Ambiental (Leed). equipara ao que os países mais desen- “Poder usar uma tinta que preserva o volvidos usavam na década de 70 é co- planeta, mas que atende às necessidamo se nossa indústria automobilística des técnicas e de beleza final, faz a diproduzisse hoje o Corcel II”, diz Jorge ferença na hora de o consumidor escoHillmann, diretor-geral da Masisa, ci- lher o produto”, afirma Ivan Rigoletto, tando um modelo de carro que deixou gerente de meio ambiente da PPG. de ser fabricado em 1986. No setor de tintas, esmaltes e verni- PERIGO NO CAMPO zes, o principal problema ambiental e Mais controverso é o tema dos agrotóde saúde pública são os compostos or- xicos. O Brasil é mundialmente conhegânicos voláteis, mais conhecidos como cido pela facilidade com que substânVOCs, sua sigla em inglês. Eles estão cias proibidas nos países desenvolvidos presentes nos solventes, sobretudo em são fabricadas, importadas e aplicadas tintas esmalte ou verniz, mas também na agricultura e nas regiões urbanas. residualmente em tintas à base de água, Desde 2008, a Anvisa, agência regula-

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empresas Indústria química dora do setor de saúde, realiza uma ampla reavaliação de 14 agroquímicos considerados perigosos ou cujo volume de venda os tornaram de alto risco para a saúde de agricultores e comunidades vizinhas às plantações. Esse é o caso dos herbicidas glifosato e paraquate, vendidos, respectivamente, sob os nomes comercias Roundup, da Monsanto, e Gramoxone, da Syngenta. Dos 14 produtos sob análise da Anvisa, oito foram banidos na União Europeia ou nos Estados Unidos e quatro só podem ser usados na lavoura americana por aplicadores certificados. Em sua reavaliação, a Anvisa já aprovou a retirada, do mercado nacional, de quatro produtos — os inseticidas triclorfom, cihexatina, metamidofós e endossulfam. Uma das justificativas da agência para proibir a produção e a venda da cihexatina — que pode causar malformações cerebrais e ósseas — no Brasil é que o inseticida já saiu do mercado em países como Estados Unidos, Canadá e Japão. O paraquate, um dos quatro produtos sob exame, é um dos mais controversos. Estima-se que suas vendas globais girem em torno de 1 bilhão de dólares por ano — o Brasil é um dos maiores mercados. Cerca de 60 países proíbem ou restringem o uso do produto, que pode provocar lesões no pulmão. Apesar das restrições no exterior, a Syngenta afirma que o paraquate é seguro se os agricultores seguirem as normas de segurança, como o uso do equipamento de proteção individual. Segundo a empresa, sua formulação inclui três componentes de segurança: um corante azul para diferenciá-lo de outros líquidos, um agente de alerta com odor desagradável e uma substância para induzir o vômito no caso de sua ingestão. “Às vezes, um defensivo é muito tóxico, mas o aplicador não se expõe diretamente a ele caso utilize corretamente o equipamento de proteção”, afirma Guilherme Guimarães, gerente de regulamentação federal da Andef, que representa as grandes fabricantes de agrotóxicos. O problema é que o Brasil, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, conta somente com cerca de 80 profis-

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O número de técnicos no Brasil que trabalham na avaliação de riscos dos agrotóxicos é um décimo do utilizado nos Estados Unidos

sionais para avaliar esses produtos nos três ministérios que cuidam do tema (Agricultura, Meio Ambiente e Saúde) — um décimo do contingente de técnicos existente na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos na área de avaliação de risco de agroquímicos. “Nossa equipe é muito reduzida, o que dificulta nosso trabalho de avaliação dos riscos”, diz Luiz Claudio Meirelles, gerente-geral de toxicologia da Anvisa. Enquanto essa situação não muda, o país segue sendo um território livre para o uso desse tipo de produto.


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empresas Empreendedorismo

parceria verde Com o empurrão dado por sócios capitalistas ou grandes clientes, empreendedores prosperam com pequenos negócios que nasceram com o gene da sustentabilidade AndreA ViAlli

Emtodoomundo,abusca

por uma economia mais sustentável transformou-se numa das grandes esperanças de retomada do crescimento. Novas tecnologias terão de ser criadas, métodos de produção terão de ser revistos e é possível que a forma com que lidamos com os recursos naturais passe por uma mudança radical. De onde a inovação brotará? Difícil dizer. Se o exemplo da revolução tecnológica se repetir, muitas das novidades virão de empresas nascentes, geradas por empreendedores visionários. É isso, além de outros fatores, que vem unindo pequenas companhias com apelo sustentável e grandes negócios, interessados em melhorar seus próprios indicadores de desempenho nas áreas social e ambiental. “O apoio de grandes companhias a empreendedores com esse perfil, seja na forma de aporte de recursos, seja no incentivo a determinada tecnologia, tem sido um dos caminhos para tornar esses novos negócios viáveis”, diz Marcelo Torres, coordenador do programa New Ventures, uma iniciativa internacional da ONG World Resources Institute, que incentiva o empreendedorismo sustentável. Desde que foi criada, em 1999, a entidade ajudou 346 pequenos negócios verdes a ganhar escala em seis países — Brasil, México, Colômbia, China, Índia e Indonésia. “O mundo está mudando, e as oportunidades de negócio refletem isso. Hoje, entre os negócios inovadores, a maioria traz benefícios sociais e ambientais.” Nas próximas páginas, você verá quatro histórias que misturam pequenas e grandes empresas e inovação em sustentabilidade.


Riqueza na floresta Especializada em produtos com apelo gourmet beneficiados da castanha colhida por comunidades amazônicas, a Ouro Verde atraiu o interesse e o capital do Grupo Orsa

Ana Riva e Luiz Fernando Laranja, da Ouro Verde Amazônia: beneficiamento da castanha-do-pará sem abrir mão da preservação ambiental

alexandre battibugli

Criar um negóCio

na Amazônia que contribuísse para manter a floresta em pé era o sonho de Luiz Fernando Laranja, agrônomo e ex-professor da USP. Em 2002, ele largou uma promissora carreira acadêmica em São Paulo para tentar transformar o sonho em fato. Mudou com a mulher e sócia, Ana Riva, para o município de Alta Floresta, em Mato Grosso, e lá fundou a Ouro Verde Amazônia. Seu modelo de negócios consistia em realizar parcerias com comunidades locais que fazem o extrativismo da castanha-do-pará, beneficiar a matéria-prima e transformála em produtos com apelo gourmet, como o azeite extravirgem de castanha e o creme e a farinha feitos com a polpa da castanha. Como a extração da noz é feita sem que a castanheira seja derrubada, Laranja mantinha a floresta em pé e ajudava a gerar renda para os trabalhadores locais. Em 2009, a Ouro Verde atraiu como sócio-investidor o Grupo Orsa, do setor de papel e celulose. Em troca de uma injeção de capital de 1,5 milhão de reais, o Orsa recebeu uma participação no negócio. “A entrada de um grupo como o Orsa no negócio permitiu o aumento da escala de produção e garantiu apoio estratégico e administrativo”, afirma Laranja. Atualmente, a Ouro Verde Amazônia trabalha com 300 fornecedores e distribui seus produtos para grandes redes do varejo, como Walmart e Zaffari. Neste ano, seu faturamento deve atingir 4 milhões de reais. Segundo Laranja, em 2012, com o lançamento de novos produtos, as vendas devem quase dobrar.


empresas Empreendedorismo

Um cliente que fez a diferença A cAndeiA,

árvore nativa da mata Atlântica, fornece um óleo essencial rico em alfa-bisabolol, um anti-inflamatório natural com potencial de uso na indústria farmacêutica e de cosméticos. A candeia é também um problema ambiental: boa parte de sua extração ocorre de forma descontrolada, o que coloca as empresas que usam seu óleo em posição vulnerável diante de um consumidor cada vez mais consciente. Em busca de uma solução ambientalmente correta, o biólogo Eduardo Roxo e a ex-executiva de marketing Cristina Saiani criaram, em 2004, a Atina, empresa cujo foco é produzir o óleo de candeia com certificação FSC, selo verde que atesta que a exploração de espécies florestais é feita de modo sustentável. O processo de transformação da árvore em óleo essencial exige o corte total da candeia. O rendimento é baixíssimo: 1 tonelada de madeira resulta em apenas 10 quilos de óleo essencial, que contém 7% de alfa-bisabolol. “É por isso que a sustentabilidade no processo é muito importante”, diz Roxo. A Atina tem uma fábrica no município mineiro de Pouso Alegre e três fazendas para a produção de matéria-prima em Carrancas, também em Minas Gerais. Atualmente, seis empresas produzem óleo essencial de candeia no Brasil, totalizando 100 toneladas por ano. Ape-

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nas a Atina possui a certificação FSC e o selo Ecocert, de produto orgânico. O empenho da empresa em buscar um meio de produção mais sustentável chamou a atenção da Natura, maior fabricante brasileira de cosméticos, que passou a usar o óleo de candeia em uma linha de cosméticos e produtos pósbarba. Sozinha, a Natura compra hoje 25% das 20 toneladas de óleo essencial que a Atina produz ao ano. “É também a única empresa que paga um valor justo pelo produto certificado”, diz Roxo. Os negócios com a Natura não evitaram que a Atina passasse por períodos difíceis. A empresa fechou as portas de outubro de 2009 a maio de 2010. Ressurgiu com a entrada de um sócio no negócio, a JGP, empresa responsável pela gestão de impactos ambientais de obras como a duplicação da rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. Para voltar a crescer, a Atina tenta agora diversificar os negócios. “Para não depender da candeia, estamos investindo em outros ativos da biodiversidade brasileira, como o babaçu”, diz Roxo. Também vem abordando diretamente fabricantes de cosméticos premium, como Chanel, Clarins e Estée Lauder. “Ainda não encontramos um distribuidor disposto a pagar um preço mais alto pelo ativo com selo verde”, diz Roxo.

Gustavo Lourenção

A Atina produz um ingrediente natural para as indústrias farmacêutica e de cosméticos. Sua maior cliente é a Natura, responsável pela compra de 25% da produção


Eduardo Roxo, sócio da Atina: uma das principais dificuldades é conseguir clientes dispostos a pagar mais por produtos com certificação ambiental


empresas Empreendedorismo

O lucro veio do lixo

A Celulose Reciclada inovou com uma nova tecnologia para aproveitar resíduos de papéis siliconados — e a americana Johnson&Johnson deu o apoio que faltava

Leo CaLdas

No iNício da década de 80,

o técnico papeleiro Daniel Lauzid, que trabalhou por vários anos na indústria de papel e celulose, começou a desenvolver uma tecnologia para a reciclagem de papéis siliconados, mais conhecidos como liners. Esses papéis são a base dos materiais autoadesivos, como os rótulos e as etiquetas presentes em produtos como curativos. Embora esses papéis façam parte do cotidiano de muitos consumidores, seus resíduos ainda são pouco reciclados. O processo desenvolvido por Lauzid permite que os liners sejam convertidos novamente em celulose, matéria-prima para a fabricação de papéis. Em 2004, com a tecnologia de reciclagem do liner patenteada, Lauzid saiu em busca de um investidor. Conseguiu o apoio da Celulose Reciclada, empresa de reciclagem de papéis de Paulista, na região metropolitana de Recife. “A reciclagem de papéis siliconados é um trabalho que só nós fazemos no Brasil. É um processo inovador e com grande potencial”, afirma Ailton Alves, diretor da Celulose Reciclada. A tecnologia atraiu o interesse da Johnson&Johnson, uma das maiores empresas de produtos de cuidados pessoais do mundo, que viu nela uma saída para a destinação do liner de produtos como o Band-Aid. “A Johnson&Johnson foi a primeira a acreditar no projeto e a encaminhar os resíduos para a reciclagem”, diz Alves. Todos os meses, a empresa envia de 50 a 60 toneladas de liner para reciclagem. Com capacidade para processar 1 500 toneladas de resíduos por mês, a Celulose Reciclada ainda opera com ociosidade: o volume transformado é da ordem de 300 toneladas mensais. Mas outros grandes clientes, como Unilever e Colgate-Palmolive, começam a chegar. “Neste ano, devemos crescer 40% em relação a 2010”, diz Alves. “A Johnson&Johnson, que já foi responsável pela compra de quase 100% de nossa matéria-prima, hoje representa 20%.” Com a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada em 2010, Alves enxerga novas perspectivas para o crescimento de seus negócios. “Com a nova legislação, as empresas passarão a se preocupar mais com a destinação de seus resíduos”, diz ele.


Daniel Lauzid e Ailton Alves , sócios da Celulose Reciclada: um processo inédito para reaproveitar resíduos de papéis da indústria de higiene pessoal


empresas Empreendedorismo

Cliques sustentáveis O carioca Marcos Wettreich foi um dos pioneiros da internet no Brasil. Sua nova empreitada, o comércio eletrônico verde, tem como sócio o banco Santander

Marcos Wettreich, do site Greenvana Greenstore: mais de 2 000 produtos com atributos verdes, como eletroeletrônicos que consomem menos energia

marcelo correa

A trAjetóriA

do empreendedor carioca Marcos Wettreich, de 47 anos, confunde-se com a história do comércio eletrônico no Brasil. Wettreich foi um dos fundadores do site Booknet (que depois se transformaria no Submarino.com) e criou o iBest, prêmio para os melhores da internet brasileira. Vendeu as empresas, ficou milionário e, em novembro de 2010, decidiu fundir tecnologia e sustentabilidade num novo negócio. Assim nascia o Greenvana Greenstore, o primeiro site de comércio eletrônico de produtos sustentáveis do país. “Nosso objetivo é atender o desejo cada vez maior dos consumidores por produtos ambientalmente corretos”, diz Wettreich. No site, estão à venda mais de 2 000 itens com atributos verdes — de lâmpadas que economizam energia a eletroeletrônicos ecoeficientes. Os produtos passam por uma avaliação de seu grau de compromisso ambiental e só então são oferecidos. Em nove meses, o Greenvana se tornou uma das marcas brasileiras com maior número de fãs no Facebook — mais de 400 000 pessoas. O barulho chamou a atenção do banco Santander, que, em junho deste ano, comprou uma participação minoritária na empresa de Wettreich. A mais nova empreitada dos sócios é o Greenforma, site de comércio eletrônico com foco em produtos e tecnologias para reforma e construção sustentáveis, eficiência energética e economia de água. A ideia é usar a sinergia com o Santander para oferecer esses produtos com condições especiais de financiamento.


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negócios globais Demografia

Lidar com o crescimento da população do planeta — 96/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011


Randy OlsOn/natiOnal GeOGRaphic sOciety/cORbis

Movimento de passageiros de trens em Mumbai, na Índia: uma economia menos dependente do carbono vai exigir uma cooperação global sem precedentes

e com as inevitáveis tensões geopolíticas — será o grande desafio deste século sérgio teixeira jr., de Nova York


negócios globais Demografia

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delfim martins

O PRIMEIRO

bilhão veio no começo do século 19. O segundo levou bem menos tempo: cerca de 120 anos. Nos últimos 50 anos, o crescimento da população da Terra começou a acelerar de vez. Os 3 bilhões de 1959 tornaram-se 4 bilhões em 1974, 5 bilhões em 1987 e 6 bilhões em 1998. Neste ano, a marca chegou aos 7 bilhões. Com o enriquecimento das populações e a urbanização, o ritmo vem diminuindo, mas ainda assim o planeta deve passar dos 10 bilhões de ocupantes até o final deste século. Um cenário malthusiano de fome generalizada e esgotamento dos recursos naturais não parece razoável, embora haja quem ainda tome as ideias do inglês como um prenúncio. O desafio de lidar com números dessas proporções já é considerado uma das maiores — se não a maior — questões ligadas à sustentabilidade. O que teremos de fazer para que todos os habitantes do planeta possam levar uma vida produtiva e próspera é a chave, diz Jeffrey Sachs, professor de economia da Universidade Columbia, em Nova York. São dois os pontos principais, aponta Sachs. O primeiro é uma mudança tecnológica que reduza o impacto ambiental de todas as atividades humanas. Isso significa tornar realidade uma economia menos dependente do carbono. Nas palavras do próprio Sachs, “isso vai exigir uma cooperação global sem precedentes”. Mas é o segundo ponto que é o mais controverso: estabilizar o crescimento populacional. “A redução das taxas de natalidade deveria ser incentivada nos países po-

Metade do planeta sobrevive com 2 dólares ou menos por dia. O cenário descrito há dois séculos por Malthus é uma ameaça que persiste


Plantação de algodão no Cerrado matogrossense: menos da metade da produção mundial de grãos é usada como alimento humano

bres. Uma rápida e voluntária redução na natalidade já foi e pode ser alcançada nesses países”, escreveu Sachs num artigo recente. O cenário descrito por Thomas Malthus há dois séculos, afirma Sachs, é uma ameaça que persiste, mas deve ser tomada como um aviso, não como algo inevitável.

Há inúmeros dados para levar esse alerta a sério. Metade do planeta sobrevive com 2 dólares ou menos por dia. Mais de 800 milhões de pessoas vivem em favelas. Um número semelhante não foi alfabetizado. Quase 1 bilhão de pessoas não têm garantias de que poderão se alimentar ou sofrem de desnutrição.

As calorias dos grãos produzidos no planeta seriam suficientes para alimentar de 9 bilhões a 11 bilhões de pessoas, mas menos da metade da produção foi usada como comida. Animais domésticos e usos industriais ficam com boa parte desse montante. Diante de números assim, fica difícil de acreditar que

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AlAn Schein PhotogrAPhy

negócios globais Demografia

Táxis congestionam rua de Nova York: um dos desafios é conciliar os interesses dos países ricos e dos pobres

Programas de planejamento familiar custariam cerca de 6,7 bilhões de dólares por ano. É menos do que os americanos gastam no feriado do Halloween haja alguém otimista. Mas eles existem. “O mundo é capaz de prover de comida, abrigo e prosperidade todos os seus habitantes”, diz Joel Cohen, do laboratório de populações da Universidade Rockefeller e da Universidade Columbia. Cohen aponta que o crescimento populacional médio é metade do que se registrava nos anos 60, assim como foi reduzida a 50% a média de filhos por mulher, de cinco para 2,5, desde 1950. Entre 1820, no início da Revolução Industrial, e 2008, a produção econômica per capita aumentou 11 vezes, aponta Cohen. Equacionar esses dois lados da questão num concerto global será o grande desafio. Como mostrou o exemplo da cúpula de Copenhague em 2009, cos-

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turar os interesses de quase 200 países é uma tarefa quase impossível. Os países ricos, maiores responsáveis pelo consumo de energia, não querem impor o custo da transformação a seus cidadãos, seja na forma de mais impostos, seja em eventuais medidas que reduzam o nível de conforto que americanos e europeus vieram a aceitar como um dado da realidade. Igualmente, chineses e indianos não aceitam pisar no freio do desenvolvimento econômico. POLARIZAÇÃO

Não é apenas no consumo de energia que as tensões geopolíticas tendem a se acentuar. O crescimento das populações dos países pobres ou em desen-

volvimento, muitas delas com problemas crônicos de acesso a recursos essenciais, pode intensificar a polarização entre os que têm e os que não têm. Os custos, aponta Cohen, não são tão altos quanto possam parecer. Programas de planejamento familiar para pessoas necessitadas custariam cerca de 6,7 bilhões de dólares por ano — menos que os americanos gastam no feriado do Halloween. Prover educação primária e secundária universal custaria entre 35 bilhões e 70 bilhões de dólares anuais. Não é pouco, ainda mais considerando a guinada em direção à austeridade que está em curso nos países ricos. Mas é um preço pequeno para pagar diante do desafio que se impõe.


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negócios globAis Combustíveis

A era dourada do gás natural

A exploração de reservas subterrâneas de gás nos Estados Unidos segue firme — assim como a queda de braço com os ambientalistas sérgio teixeira jr., de Nova York

no relatório anual

que delineia os cenários energéticos globais, divulgado em novembro, a Agência Internacional de Energia (AIE) apontou algumas dúvidas importantes. A mais contundente delas diz respeito ao futuro das usinas nucleares. Embora a AIE não tenha redu­ zido suas previsões de crescimento para o uso dessa fonte energética nas próxi­ mas décadas, ainda há muitas dúvidas sobre o comprometimento dos países que dominam a tecnologia em continuar investindo nessa opção. O motivo, é claro, foi o acidente ocorrido na usina Fukushima Daiichi, no Japão. Uma comissão da AIE estuda as consequências de uma eventual redução da participação dos rea­ tores nucleares no mix mundial de energia. “Ao mesmo tempo que haveria um

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impulso no uso de renováveis, essa de­ saceleração aumentaria as preocupa­ ções com a segurança energética e tor­ naria mais caro e mais difícil o comba­ te à mudança climática”, diz o relatório. Na sequência, vem uma das principais certezas da agência: o futuro do gás natural é muito mais garantido. Na es­ timativa da AIE, o mundo está entran­ do na “era dourada do gás”.


Daniel acker/Getty imaGes

Extração de gás natural na Pensilvânia: riqueza gigantesca no subsolo dos Estados Unidos

Não faz muito tempo que o gás natural era considerado o primo pobre dos combustíveis. Mas a demanda crescente de energia pelos grandes emergentes, as incertezas políticas nos países árabes e uma onda de inovação tecnológica têm causado um interesse jamais visto pelas reservas espalhadas pelo planeta. Mais que isso: a combinação de bons preços com novos mé-

todos de extração tem gerado uma corrida pela exploração do gás em áreas pouco convencionais e consideradas pouco atraentes do ponto de vista econômico. A mesma Agência Internacional de Energia estima que os investimentos em exploração de gás natural vão chegar a 20 trilhões de dólares até 2035. Parte vai ser investida na exploração da camada do pré-sal,

na costa brasileira. Mas existem outras reservas ainda maiores no subsolo dos Estados Unidos — e são esses poços que têm causado uma das maiores controvérsias ambientais do país nos últimos anos. “O potencial dessas reservas não convencionais é desconcertante”, diz Andrew Leach, da Universidade de Alberta, no Canadá. “Estamos falando de um volume que pode

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negócios globais Combustíveis

Alfredo CAliz/pAnos

Plataforma de petróleo no Rio de Janeiro: parte dos investimentos de 20 trilhões de dólares previstos até 2035 deve ser destinada à camada do pré-sal na costa brasileira

Até 2020, metade do gás natural nos Estados Unidos deve vir do subsolo. Mas o método para extrair esse gás está sob o ataque de ambientalistas ser de dez a 12 vezes maior que todo o petróleo consumido na história.” A conta também incluiu reservas de óleo, como as areias betuminosas canadenses. Mas, com uma preocupação cada vez maior em garantir o acesso a fontes de energia, as reservas de gás espalhadas pelos Estados Unidos vêm sendo consideradas um elemento es-

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sencial na política energética do país. Estima-se que, até 2020, metade do gás natural usado no país venha de fontes subterrâneas. O problema é que a exploração está sob ataque de ambientalistas. O método que vem sendo usado é conhecido como fratura hidráulica, abreviado para fracking, em inglês. Essencialmente, o processo

consiste em perfurações horizontais sob a terra e injeções de água e agentes químicos em altíssima pressão para a liberação dos gases. Pelo modelo que vem sendo adotado até agora, as empresas arrendam as terras (que muitas vezes pertencem a pequenos produtores rurais) em troca do direito de exploração. Apesar da renda extra, o custo para os proprietários dos terrenos tem sido alto, segundo os ambientalistas. As substâncias usadas para expelir os gases podem criar contaminação de lençóis freáticos. O documentário Gasland, indicado ao Oscar neste ano, mostra cenas em que os moradores de propriedades on-


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negócios globais Combustíveis de há exploração de gás natural acendem um isqueiro junto à torneira, e a água, literalmente, pega fogo. O filme tornou-se um dos pontos centrais dos movimentos contrários ao uso do fracking. Mas Robert Bryce, jornalista especializado em energia e pesquisador sênior do Manhattan Institute, diz que a verdade pode ser um pouco diferente. “O que o documentário não diz

tivas. Uma delas é a substituição do uso de líquidos por gel de propano. O gel tem o mesmo efeito da água — ajudar a expelir o gás das formações rochosas profundas —, mas apresenta uma diferença fundamental: o calor e a pressão fazem com que ele evapore e volte à superfície na forma de gás. O propano pode ser então recapturado e reaproveitado. A solução já foi testada

ma, nomeou uma comissão parlamentar para estudar o impacto da exploração no subsolo do país. O trabalho foi concluído em agosto. Não houve recomendações específicas, apenas um alerta para a indústria: tomem cuidado, ou a produção pode ser ameaçada. “O impacto ambiental tem de ser reduzido”, disse o presidente da comissão, John Deutch, professor do Mas-

Cena de Gasland, indicado ao Oscar: segundo o documentário, beber água virou um perigo em áreas de exploração de gás

é que existem inúmeros casos de contaminação de água em todo o país que não têm nada a ver com a exploração do gás natural”, diz Bryce. Como os defensores da tecnologia, ele aponta que as perfurações são feitas em profundidades muito maiores do que as que poderiam causar esse tipo de dano. Mas os problemas da extração do gás não param aí. No Reino Unido, onde a exploração ainda está nos estágios iniciais, a Cuadrilla, empresa responsável por um projeto de perfuração, admitiu ser responsável por dois pequenos terremotos sentidos no país no começo do ano. O motivo dos tremores seria a injeção de água no subsolo. Neste caso, existem soluções alterna-

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Com a economia patinando, os Estados Unidos terão de buscar um delicado equilíbrio entre as demandas dos ambientalistas e as das indústrias no Canadá e nos Estados Unidos, mas ainda depende de testes em maior escala para que tenha sua viabilidade técnica e econômica comprovada. A queda de braço entre ambientalistas e a indústria do petróleo não dá sinais de arrefecimento — afinal de contas, não se pode ignorar uma fonte de energia barata e produzida em casa. O presidente americano, Barack Oba-

sachusetts Institute of Technology. Mas a solução é muito mais complicada do que uma declaração como essa. Com a economia patinando e uma necessidade urgente de gerar empregos — e a possibilidade de tornar-se um dos maiores produtores de gás do mundo —, os Estados Unidos vão ter de encontrar um delicado equilíbrio para entrar de vez na era do gás.


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negócios Meio ambiente

Líquida e incerta A era da abundância de água parece estar com os dias contados e gera novas oportunidades de negócios — do reúso de recursos hídricos ao aproveitamento da água do mar AndreA ViAlli

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JÁ SE FALA EM CRISE MundIAL

de abastecimento de água há muitos anos. A população do planeta segue crescendo (o número atingiu os 7 bilhões no final de outubro). O enriquecimento dos países emergentes leva a mais consumo de produtos e serviços — e quase nada acontece sem que uma fonte de água esteja por perto. Peguemos o exemplo de um prosaico par de calças jeans da marca Levis: ao longo de sua vida útil, da plantação do algodão às repetidas lavagens, quase 3 500 litros de água serão consumidos. São dados assim que fazem os especialistas especularem que, em poucas décadas, a água possa ser alçada à condição de uma commodity como o petróleo, com preços regulados no mercado internacional. Esse dia ainda pode estar distante, mas a ideia de dar um preço à água começa a se sofisticar muito além da conta mensal que todos conhecemos. No Brasil, esse novo cenário começou a ganhar corpo com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. A taxa foi instituída em 2001, inicialmente na bacia do rio Paraíba do Sul, que abrange os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Trata-se de uma nova modalidade de cobrança. O preço reflete o que os grandes consumidores de água — como os produtores rurais, as indústrias e as companhias de saneamento — pagam para captar e descartar a água nos rios. Hoje, essa taxa é cobrada em 20 bacias hidrográficas em todo o país, atingindo indiretamente o bolso de mais de 40 milhões de pessoas. Em 2010, a cobrança pelo uso da água gerou uma arrecadação de 106 milhões ETEs, fornecendo 20 000 metros cúde reais, recursos que devem ser apli- bicos mensais a uma fabricante de cados na despoluição e na melhoria das material de costura. Na época, o segcondições das bacias hidrográficas. mento era quase irrelevante. Hoje, a De acordo com os princípios que Sabesp tem 53 clientes, entre empreorientaram a instituição da taxa, quan- sas e prefeituras, que consomem 1,6 to mais poluída é a água devolvida aos bilhão de litros de água de reúso por rios, maior é o valor cobrado, o que ano em atividades como limpeza, irtem levado os grandes consumidores rigação de áreas verdes, descargas a investir cada vez mais no tratamen- sanitárias e processos industriais. to, no reúso e na gestão da água — um O negócio deve crescer de forma signegócio globalmente em expansão. No nificativa em 2012, quando entra em final da década de 90, a Sabesp, com- operação o projeto Aquapolo, uma aspanhia de água e saneamento contro- sociação entre a Sabesp e a Foz do Bralada pelo governo de São Paulo, pas- sil, empresa de tecnologia ambiental sou a vender a água tratada de suas do grupo Odebrecht. Com investimenestações de tratamento de esgoto, as tos de 364 milhões de reais, o projeto

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negócios Meio ambiente

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fornecerá água de reúso às indústrias do polo petroquímico de Capuava, em Mauá, na região metropolitana de São Paulo. O empreendimento prevê a construção de uma adutora de 17 quilômetros para levar a água de reúso da estação de tratamento, localizada na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, até o polo em Mauá. No total, o Aquapolo deve produzir 1 000 litros de água de reúso por segundo, dos quais 65% já estão contratados por empresas petroquímicas. “Será um salto sem precedentes nessa área, e esperamos fazer o mesmo com outras indústrias na região metropolitana”, diz Dilma Pena, presidente da Sabesp. A água é também uma nova fronteira de negócios para a Haztec, empresa carioca que atua nas áreas de engenharia ambiental, resíduos sólidos, gestão de água e efluentes. Seus primeiros projetos de reúso começaram há 20 anos, para empresas de papel e celulose que buscavam economizar água em seus processos industriais, e ganharam força com a cobrança da taxa de uso da água e com o maior rigor das leis ambientais. Hoje, o mercado de águas e efluentes representa um terço do faturamento de 1 bilhão de reais da Haztec e vem crescendo a taxas entre 15% e 20% ao ano. A empresa também está envolvida em grandes projetos de despoluição, como o do Canal do Fundão, no Rio de Janeiro. “Há vários fatores impulsionando esse mercado, como os investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, além do crescimento industrial nos setores de papel e celulose, petróleo e gás e mineração”, diz Reinaldo Macedo, executivo da Haztec.

Linha de produção da empresa paulista Aquamare: nanotecnologia para produzir água do mar dessalinizada

AlexAndre BAttiBugli

Um negócio qUe caiU do céU

As grandes indústrias e o agronegócio são os maiores consumidores de água do planeta — e é nesses setores que o desenvolvimento da tecnologia para o uso mais inteligente do recurso deve se concentrar. Mas o apelo ambientalmente correto também tem impulsionado a adoção de inovações em seto-

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negócios Meio ambiente

MARCELA BELTRÃO

Estação de tratamento de esgoto do ribeirão Anhumas, em Campinas: investimentos na despoluição do rio para melhorar o abastecimento de água

torneira aberta

A maior parte da água no Brasil é consumida no campo. Veja as atividades que mais utilizam esse recurso (em %)

69 Irrigação 12 Pecuária 10 Uso urbano* 7 Indústrias 2 Uso rural em geral *Inclui o consumo doméstico Fonte: Agência Nacional de Águas

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res como o de construção civil. “As construtoras perceberam que há compradores dispostos a pagar mais pela sustentabilidade do empreendimento”, diz Allan Sarev, diretor da Acquasys, de São Paulo. Anos atrás, após fazer parcerias nos Estados Unidos e na Europa, a empresa trouxe para o Brasil um sistema de captação e reutilização de água da chuva em condomínios residenciais e comerciais. A água da chuva é armazenada em caixas-d’água e passa por um equipamento chamado hidrociclone, que separa o líquido dos resíduos sólidos, como folhas e outros detritos. Depois,

dependendo do tipo de uso que será dado à água, é feita a desinfecção com produtos químicos. O crescimento do número de empreendimentos imobiliários que buscam selos ambientais, como a certificação americana Leed, é um dos fatores que têm impulsionado o crescimento anual de 20% no faturamento da Acquasys. Países com graves problemas de falta de água, como Israel e Chipre, já tratam grandes volumes de água do mar para que ela se torne potável. Analistas preveem que a falta de água potável será uma das grandes fragilidades da China num futuro próximo. Diante desse cenário de crescente escassez, a água do mar dessalinizada passa a ser uma alternativa. Em Bertioga, no litoral norte de São Paulo, a Aquamare desenvolveu um equipamento que utiliza nanotecnologia para tratar a água salgada. Após a purificação, a água mantém 63 tipos de mineral, número superior ao das águas minerais vendidas no mercado brasileiro. A tecnologia é 100% brasileira, mas a Aquamare começou a vender suas garrafas de água dessalinizada com a marca H2Ocean para os Estados Unidos em 2008. No mercado interno, esbarrou na falta de regulamentação da Anvisa sobre o tema. “Não podíamos vender no Brasil porque ainda não existe no país uma classificação para água do mar tratada para beber”, diz Rolando Viviani Junior, diretor da Aquamare. A saída para contornar a falta de legislação foi fazer uma adaptação. De posse de laudos atestando a qualidade da água, a Aquamare buscou alternativas — como a adição de bicarbonato de sódio — para atender às normas brasileiras. À venda em grandes redes varejistas do país desde março deste ano com a marca Aqua+, a Aquamare está investindo agora em marketing para se tornar conhecida do consumidor brasileiro. A empresa também optou por posicionar sua água no nicho de produtos saudáveis, em razão da alta concentração de sais minerais. Como se vê, quanto mais escassa se torna a água, maiores são as oportunidades de inovação.


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ARTIGO Ideias

Jarbas Oliveira/FOlhapress

Zona rural de Gilbués, no Piauí: o município sofre um rápido processo de desertificação, um dos possíveis efeitos das mudanças climáticas


A nova governança global

Com o poder do Estado diluído pela globalização, a agenda do crescimento sustentável depende cada vez mais da atuação de outros níveis de influência, como as empresas transnacionais, as organizações não governamentais e os blocos regionais de países, e de ações e coalizões que promovam um ciclo virtuoso de sustentabilidade Eduardo FElipE Matias


ARTIGO Ideias

Para que o encontro traga resultados positivos, alguns problemas precisam ser superados. O primeiro deles é que o malabarismo diplomático necessário para chegar a um consenso em negociações multilaterais envolvendo quase 200 governos nacionais — nas quais a discordância de um único país pode impedir o acordo — costuma resultar em textos vagos e pouco efetivos. Logo, para os que acreditam que a Rio+20 deveria gerar um tratado que estabeleça obrigações a todos os países, impondo mecanismos de fiscalização de seu cumprimento e sanções para os que o desrespeitarem, as notícias não são boas. Esse tipo de acordo provavelmente não virá durante a conferência. E, se viesse, dificilmente seria ratificado por todos os países. O segundo problema é a definição dos objetivos do encontro. Muito se tem falado sobre metas de redução de emissões, mas pouco sobre como alcançá-las. Na formação do preço dos produtos e dos serviços, o livre mercado não considera os custos sociais e ambientais das emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa na atmosfera. Se considerasse, forneceria aos produtores e consumidores sinais claros que os induziriam a optar por produtos baseados em tecnologias de baixo carbono. Sem esses sinais, o que se tem é um círculo vicioso de produção e consumo insustentáveis. Reverter esse quadro é uma condição essencial para o desenvolvimento de uma “economia verde”, como a Rio+20 pretende discutir. A atribuição de um preço ao carbono pode gendo um grupo reduzido de países, a exemplo ocorrer de diversas maneiras, tanto por meio do G20, ou os acordos de integração regional. É de mecanismos de comércio de licenças de inevitável que, para não perder competitividade, emissões quanto pela criação de impostos. Es- esse grupo adote algum tipo de ajuste tarifário sas medidas não agradam a alguns países po- para as importações dos demais países. Internaluidores, o que dificulta sua aplicação univer- mente, isso garantiria o apoio dos que temem que sal. Por outro lado, governos que as adotem a política de redução de emissões afete sua renda individualmente correm o risco de ser acusa- e seu emprego. E, no plano internacional, essa dos de prejudicar a competitividade nacional. iniciativa teria o potencial de provocar um efeito Como resolver esse impasse? dominó: empresas de países fora desse acordo A resposta está relacionada à estrutura insti- poderiam perder mercado, passando a pressionar tucional para promover o desenvolvimento sus- seus governos a aderir às metas de redução de tentável, um dos focos da Rio+20. A globalização emissões, o que provocaria o ingresso de novos diluiu o poder entre diversos atores que rivali- países no acordo ou a criação de acordos semezam e interagem com os Estados, compondo o lhantes. Uma vez que esse potencial estaria direcomplexo sistema chamado de “governança tamente relacionado à magnitude desses ajustes global”. Nele, importam os governos nacionais, tarifários, algum tipo de acerto teria de ser feito mas têm papel relevante também as empresas envolvendo a Organização Mundial do Comércio, transnacionais, as organizações não governa- a quem cabe julgar se essas barreiras não causam mentais, os municípios, os blocos regionais e um protecionismo indevido. vários outros diferentes níveis de autoridade com Essa ideia se aplica também às empresas. As capacidade de emitir regras que são seguidas por que estão na vanguarda do movimento pela susseus membros, muitas vezes voluntariamente. tentabilidade devem se unir e pressionar os governos para que lhes assegurem condições para Coalizões pela sustentabilidade avançar rumo a modelos de negócios mais susPara levar adiante um plano de precificação do tentáveis, sem perder sua capacidade de comcarbono — ou outra medida que leve a um corte petir. Governos comprometidos com o desenmais significativo de emissões —, é possível que volvimento sustentável, por sua vez, devem tenhamos de nos valer de outros níveis globais oferecer vantagens a negócios com base em tecde autoridade, como é o caso de arranjos abran- nologias de baixo carbono, estimulando um

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Peter essick/AurorA Photos/other imAges

Em 2012,a cidadEdoRio dE JanEiRo vai sEdiaR a confERência das naçõEs Unidas sobRE dEsEnvolvimEnto sUstEntávEl, a Rio+20.


Usina a carvão nos Estados Unidos: muito se tem falado sobre metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, mas pouco sobre como alcançar essas metas

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ARTIGO Ideias

Aurora boreal vista do norte da Noruega: refletir a luz solar de volta para o espaço é uma das ações emergenciais estudadas contra o aquecimento global

número cada vez maior de empresas a se mover nessa direção e permitindo que a balança comece a pender para o lado de políticas mais agressivas de redução de emissões. Esses são apenas alguns exemplos de ações que criariam um ciclo virtuoso do desenvolvimento sustentável, para o qual a Rio+20 poderia contribuir. Aí surge o terceiro problema a ser enfrentado na conferência: a definição de um foco. Este não deveria se concentrar na ação direta dos governos nacionais, mas na indução e na regulação dos comportamentos dos outros integrantes da sociedade global por meio de incentivos e controles adequados. Claro que essas ações podem levar tempo para surtir efeito, razão pela qual o foco das discussões deve ir além. Evitar as mudanças climáticas

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exige transformações profundas e rápidas na matriz energética, nos transportes e nos hábitos mundiais, um “tudo ao mesmo tempo agora” improvável que nos leva a refletir sobre o que fazer caso a redução das emissões não ocorra em tempo suficiente. Há três ações possíveis e complementares: inovação, geoengenharia e adaptação. O caminhO da inOvaçãO

A substituição do petróleo e do carvão por fontes de energia renováveis é complicada e cara. Seu sucesso depende, em grande parte, de inovações que aperfeiçoem e barateiem as tecnologias existentes, e talvez só seja possível com a invenção de novas tecnologias, radicalmente diferentes das utilizadas hoje. Por esse motivo, os governos devem investir pesado em pesquisa


MARTIAL TREZZINI/KEysToNE/CoRbIs

geoengenharia, nome que se dá a intervenções em larga escala para tentar esfriar o clima terrestre — o que inclui ações para refletir a luz solar de volta ao espaço ou capturar e armazenar carbono, entre outras ideias que parecem ter saído da ficção científica. Caso tenhamos de utilizar a geoengenharia como último recurso, é melhor que suas alternativas mirabolantes sejam objeto de uma discussão internacional séria, pois demandam pesquisas e testes, além de coordenação em sua eventual aplicação. Por fim, como não podemos estar certos de que a geoengenharia funcionará, devemos desde já organizar a adaptação às mudanças climáticas, evitando o colapso de algumas sociedades e os conflitos decorrentes. Esse, pelo menos, é um tema ao qual as negociações internacionais passaram a dar atenção, aprovando programas de ajuda aos países mais vulneráveis. Não se sabe, entretanto, se esse auxílio sairá do papel em tempos de crise financeira mundial. Por isso, a discussão de fundo extrapola a questão do clima. Ela abrange toda a nossa economia — e a nossa vida. A crise ambiental e a crise financeira são faces da mesma moeda. Os mesmos incentivos e motivações equivocados que levaram a uma nos conduziram à outra. Ambas resultam de vivermos acima de nossas possibilidades, quer econômicas — causando déficits fiscais de difícil correção —, quer ambientais — levando-nos a uma situação em que a demanda por recursos naturais supera a capacidade de regeneração do planeta. Há quem considere que esses dois déficits podem ser empurrados para as gerações futuras. No entanto, tanto a crise ambiental quanto a

EDUArDo FELIpE MATIAS

É advogado, doutor em direito internacional pela USP, com pós-doutorado pela Iese Business School, na Espanha, autor do livro A Humanidade e Suas Fronteiras: do Estado Soberano à Sociedade Global twitter

@EduFelipeMatias

As crises ambiental e financeira são duas faces da mesma moeda. Os mesmos incentivos equivocados que levaram a uma nos conduziram à outra e desenvolvimento, agindo de forma coordenada e envolvendo as empresas nesse esforço. Tecnologias mais em conta facilitam a vida dos governos que desejam aprovar cortes de emissões, ao tornarem essas medidas mais palatáveis. É preciso considerar, no entanto, a possibilidade de que as inovações tecnológicas não surjam na velocidade adequada — novas tecnologias levam tempo para ser completamente implementadas. Por isso, não podemos descartar o recurso da

financeira mostram que a geração hoje no poder irá sofrer de imediato as consequências dos exageros cometidos. Não se trata mais de trocar o bem-estar futuro pelo bem-estar presente. Nossos erros estão nos causando mal-estar aqui e agora. A sustentabilidade, antes vista como utopia, transformou-se em necessidade. Ainda há tempo de reverter esse quadro, criando o ciclo virtuoso que poderá evitar o declínio de nossa civilização. Mas precisamos nos apressar.

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Empresas-modelo Unilever Empresa Sustentável do Ano • Alcoa • Anglo American • Aperam • Braskem • Bunge • Dow • EDP • Elektro • Embraco • Fibria • Fleury • Itaú Unibanco • Kimberly-Clark • Masisa • Mexichem (Amanco) • Natura • Philips • Promon • Suzano • Sabin/PME


pesquisa Critérios

A escolha das melhores Como foi o processo de definição das empresas-modelo em sustentabilidade entre as 224 companhias inscritas

seja pela pressão

do mercado, seja pelo desejo de adotar uma atitude proativa, um número cada vez maior de empresas está assumindo o compromisso de fazer negócios de forma sustentável. Uma evidência disso é o aumento do número de participantes do Guia EXAME de Sustentabilidade 2011. No total, 224 empresas se inscreveram na edição deste ano, 10% mais do que no ano anterior. Outro dado relevante, que mostra a crescente

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importância do tema na estratégia de negócios, é que 60 empresas participaram do processo pela primeira vez. Todas as companhias inscritas responderam a um questionário para detalhar suas práticas nas dimensões geral, social, econômica e ambiental. As 158 empresas que responderam a todas as questões tiveram seu desempenho avaliado, recebendo uma pontuação em cada dimensão. Chegou-se, então, a uma lista de 39 empresas com os melhores desempenhos.


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pesquisa Critérios Essa lista foi submetida a um conselho deliberativo independente, a quem coube escolher as 20 empresas-modelo, com base na análise da consistência das informações. Para estimular as práticas sustentáveis entre pequenos e médios negócios, foi escolhida neste ano uma empresamodelo entre aquelas com faturamento anual de até 150 milhões de reais — o Laboratório Sabin, de Brasília. Por fim, com base no julgamento editorial de EXAME, foi escolhida

a Empresa Sustentável do Ano: a Unilever. A multinacional anglo-holandesa tem a meta de dobrar seu faturamento no mundo até o final da década, sem elevar o impacto ambiental de suas atividades. Fabricante de mais de 700 produtos no país, a Unilever está presente em 100% das casas brasileiras e tem um capital formidável: com negócios em 182 países, é capaz de influenciar os hábitos sustentáveis de 2 bilhões de pessoas — 28% da população mundial.

a Seleção PaSSo a PaSSo Primeira etaPa Preenchimento do questionário

As empresas preencheram um questionário disponível no Portal EXAME (www.exame.com.br), dividido em quatro partes de mesmo peso. O questionário foi elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, e segue abaixo. PeSo

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Dimensão geral

O que é 23 questões sobre os

compromissos, a maneira como a empresa trata o tema da sustentabilidade internamente, a transparência e a governança corporativa (estas últimas elaboradas com o apoio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Dimensão 25 econômica

PeSo

O que é 16 questões sobre a estratégia, a gestão e o desempenho da empresa. PeSo

25

Dimensão social

O que é 39 questões sobre os compromissos e a responsabilidade perante todos os públicos que se relacionam com a empresa (stakeholders) — funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, comunidade, governo e organizações da sociedade civil. PeSo

25

Dimensão ambiental O que é 48 questões

sobre a política, a gestão e o desempenho ambiental — inclusive iniciativas da empresa em relação

à biodiversidade, às mudanças climáticas, à conservação e ao uso sustentável de recursos naturais etc. No total, 224 empresas se inscreveram. Destas, passaram para a etapa seguinte somente as 158 que responderam a todas as perguntas do questionário.

o Perfil DoS coNSelheiroS Quem são os integrantes do conselho deliberativo desta edição do Guia EXAME de Sustentabilidade

Cristina Montenegro

SeGUNDa etaPa Análise do desempenho

Consultora em temas ambientais e de sustentabilidade

Foi calculado o desempenho das empresas em cada dimensão. Passaram para a etapa seguinte as companhias que obtiveram os melhores desempenhos consolidados em todas as dimensões.

Graziella Maria Comini

Com base nessa seleção, chegou-se a uma lista de 39 empresas — submetidas a uma checagem jornalística das informações preenchidas no questionário.

terceira etaPa

Aprovação do conselho A lista de 39 empresas foi apresentada ao conselho deliberativo. Considerando as pontuações e a checagem, o conselho definiu a lista de 20 empresas-modelo. Adicionalmente, foi escolhida uma empresa-modelo na categoria de pequenas e médias empresas (com faturamento anual de até 150 milhões de reais).

QUarta etaPa

Escolha da Empresa Sustentável do Ano Com base nas 21 empresas-modelo e seguindo um critério jornalístico, a redação de EXAME selecionou a empresa de maior destaque, que recebe o prêmio de Empresa Sustentável do Ano.

Coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FIA

Helio Mattar

Fundador e diretor-presidente do Instituto Akatu, ONG que incentiva o consumo consciente

Heloisa Bedicks

Diretora executiva do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

Marcelo Sodré

Professor de direito do consumidor e direito ambiental da PUC de São Paulo

Pedro Mader Meloni

Principal conselheiro para a América Latina e o Caribe do International Finance Corporation (IFC), ramo do setor privado do Banco Mundial

128

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


895242-EXAME NACIONAL-1_1-1.indd 129

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O argentino Fernando Fernandez, presidente da Unilever no Brasil “Um produto sustentável não pode custar mais caro”

empresa sustentável do ano

130/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011


A escala faz a diferença Ao considerar a sustentabilidade como parte de seu negócio, a Unilever passou a influenciar 2 bilhões de pessoas em 182 países a comprar, usar e descartar produtos de forma mais racional alexa salomão

germano lüders

você sabe o que é uma lâmpada de led?”

Esta pergunta, sugerindo o uso desse produto para economizar energia elétrica, está numa mensagem publicada na versão brasileira do Facebook da anglo-holandesa Unilever. Lá também é possível encontrar milhares de outras dicas ligadas à sustentabilidade e à qualidade de vida: consumir ricota para combater o colesterol “ruim”, trocar o carro pela bicicleta ou pelo transporte coletivo, usar sacolas biodegradáveis de amido de milho para substituir a sacolinha de plástico do supermercado. Diferentemente de outras páginas corporativas na rede social, há poucas referências aos mais de 700 produtos de 26 marcas que a Unilever fabrica no Brasil. A empresa não produz lâmpadas, ricota nem sacolas de amido de milho, muito menos bicicletas e ônibus. A sugestão de uso desses e outros produtos alheios a seus negócios faz parte do Plano Global de Sustentabilidade da Unilever. Lançado em 2010, ele tem como meta dobrar o tamanho da empresa no mundo até 2020 sem elevar o impacto ambiental. Maior empresa de bens

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Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Unilever

empresa sustentável do ano Linha de produção do Comfort concentrado: o uso de novas tecnologias diminuiu em quase 80% o consumo de água na fabricação

de consumo do mundo, com um faturamento global de 44 bilhões de euros, a Unilever está presente em praticamente 100% dos lares brasileiros com marcas como Omo, Comfort, Lux, Kibon, Knorr e Maizena. Apesar da magnitude dos negócios, a tarefa de produzir mais com o mesmo — ou com menos —, na avaliação da Unilever, não depende apenas da adoção de novos processos de produção e de distribuição. É preciso desenvolver produtos inovadores, que economizem matérias-primas. E, acima de tudo, é fundamental convencer os consumidores a mudar seus hábitos. “Nos últimos

132/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

15 anos, fizemos um trabalho interno, reduzindo o consumo de energia, água e insumos”, diz o argentino Fernando Fernandez, presidente da Unilever no Brasil. “Agora, queremos incentivar o consumo responsável em nossa cadeia global de fornecedores, clientes e consumidores.” Na frente do consumidor, o Facebook, por sua influência, tornou-se uma das principais ferramentas da Unilever para estimular as pessoas a adotar uma nova relação com o consumo. O grande poder de fogo da companhia, no entanto, é a cadeia global à qual Fernandez se refere. A Uni-


Para fazer mais com menos

Como os recursos naturais são limitados, a Unilever tem a meta de crescer sem aumentar o consumo de matérias-primas. Um exemplo é o Comfort concentrado, que desde 2008 vem substituindo o Comfort líquido tradicional. Veja os ganhos obtidos com a mudança Na linha de produção

-78 %

-58 %

de água

de plástico

A nova fórmula permite uma economia de 50 milhões de litros de água por ano, o suficiente para encher 31 piscinas olímpicas

No transporte

-52

% de

papelão

Por ocupar menos espaço, a nova embalagem permite uma economia anual de 52 milhões de caixas de papelão

O uso de uma embalagem menor reduz o consumo de 990 toneladas de plástico por ano

-67 %

de emissão de gases de feito estufa

3 500 caminhões deixam de circular

por ano, evitando a emissão de 186 000 toneladas de gás carbônico

No supermercado

-20 %

no preço ou mais

O líquido custa em média 7 reais, enquanto o concentrado sai por cerca de 5 reais

-60%

A embalagem do produto concentrado permite aproveitar melhor a área

-67 %

de área de estoques

Na casa do consumidor Economia mensal de 900 litros de água na lavagem, volume suficiente para suprir o consumo de uma família de quatro pessoas por um mês e meio

Uma a cada três famílias no mundo,espalhadas por 182 países, usa produtos da Unilever

Reciclagem 103 pontos de coleta de material reciclável foram instalados em supermercados

Fonte: Unilever

133

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/

ilustração alexa castelblanco

marcela beltrao

de espaço nas prateleiras


⁄Unilever

empresa sustentável do ano lever entra na casa de 2 bilhões de pessoas em 182 países. Uma em três famílias em algum lugar do planeta usa suas marcas. No Brasil, a cada segundo são vendidos 200 produtos da empresa. Se tiver êxito em sua meta de inovar em seus processos de produção e de persuadir os consumidores a preferir produtos ambientalmente corretos, a Unilever pode criar algo inimaginável há bem pouco tempo: a economia de matérias-primas em escala global a partir da massificação do consumo consciente. “Por ser uma empresa internacional de produtos de consumo, a Unilever consegue influenciar na compra, no uso e no descarte dos produtos”, diz Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. É justamente o enorme potencial de fazer a diferença, graças à escala e à proximidade que mantém com milhões de consumidores, que fez com que a Unilever fosse apontada como Empresa Sustentável do Ano pelo Guia EXAME de Sustentabilidade 2011. esforço concentrado

A decisão da Unilever de incorporar a sustentabilidade à sua estratégia de negócios levou em consideração as projeções de crescimento da demanda global. Atualmente, os 7 bilhões de habitantes do planeta consomem 60 bilhões de toneladas de matérias-primas básicas por ano — entre produtos agrícolas, minerais, combustíveis fósseis e material de construção. Mas a distribuição é desigual. Um canadense, por exemplo, consome cerca de 25 toneladas por ano, enquanto um indiano consome 4. Com a acelerada urbanização e o aumento da renda em países emergentes, essa diferença começa a se estreitar. Já se sabe, porém, que o planeta não tem condições de dar ao 1 bilhão de indianos ou aos muitos milhões de emergentes chineses o mesmo padrão de consumo dos 33 milhões de canadenses na forma como ele é pratica-

O Facebook tornou-se uma ferramenta para incentivaras pessoas a adotar uma nova relação com o consumo do hoje. “O desafio dos próximos anos será criar meios mais eficientes de utilizar as matérias-primas, ampliar a reciclagem de materiais, combater o desperdício e estabelecer formas mais racionais de consumo”, diz o economista Ricardo Abramovay, coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental da Universidade de São Paulo. No Brasil, segundo mercado da Unilever no mundo, depois dos Estados Unidos, o trabalho da empresa para promover o consumo consciente começou em 2001, quando foi firmada uma parceria com o Pão de Açúcar para criar pontos de coleta de materiais recicláveis nos supermercados da

134/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

Cooperativa de catadores em São Paulo: a Unilever ajudou a criar e a manter 103 centros de reciclagem em 24 cidades de oito estados


Fabiano accorsi

135

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Unilever

empresa sustentável do ano rede varejista. Inaugurava-se, assim, o conceito de “responsabilidade compartilhada”, que une a indústria, o varejo, a comunidade e o poder público para gerenciar o descarte e a reutilização de resíduos. Hoje, a parceria mantém 103 estações de reciclagem em 24 cidades de oito estados, doando a cooperativas de catadores o material entregue pelos consumidores. Mas os grandes impactos só são atingidos por corporações do tamanho da Unilever se seus produtos se transformarem. Recentemente, a Unilever lançou versões ambientalmente mais amigáveis de dois de seus produtos mais populares: o sabão em pó Omo e o amaciante Comfort. Ambos passaram a ter a versão concentrada. No caso do Comfort, lançado em maio de 2008, houve uma redução de quase 80% no consumo de água na linha de produção (veja quadro na pág. 133). No Omo, a mudança da caixa de papelão para o recipiente de plástico, em julho de 2010, possibilitou a economia de espaço no transporte e, consequentemente, passou a exigir um número menor de veículos para fazer as entregas. Cerca de 80% das famílias brasileiras consomem Omo. Se todas migrassem para a versão concentrada, seria possível evitar a emissão de 130 000 toneladas de gás carbônico na atmosfera — seria como retirar 37 000 carros de circulação durante um ano.

Segundo Fernandez, a adesão dos consumidores aos novos produtos tem surpreendido a Unilever. Em três anos, a versão concentrada passou a responder por 20% das vendas do amaciante Comfort. Em apenas um ano, o lava-roupas líquido já representa 10% das vendas de Omo. “O consumidor brasileiro é sensível aos temas ambientais”, afirma Juliana Nunes, diretora de assuntos corporativos da Unilever. “Ele leva o produto para casa e testa porque tem vontade de dar sua contribuição. Ao constatar a qualidade, passa a usar a nova versão.” Essa mudança de hábito, no entanto, depende do empenho da empresa para que os produtos ambientalmente corretos sejam acessíveis — uma das maneiras de fazer com que o tema da sustentabilidade seja encampado pelo maior número de pessoas e perca seu viés de assunto caro ao topo da pirâmide social. O preço sugerido do Comfort concentrado ao varejo, por exemplo, é 20% menor do que o da versão tradicional. “Os consumidores não estão preparados para pagar mais caro só porque o produto é sustentável”, diz Fernandez. “Eles devem ter o mesmo preço ou ser até mais baratos que os produtos convencionais.” Espera-se que, também nesse ponto, a opção da gigante Unilever se torne um padrão para o mercado de consumo.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 12 bilhões de reais

• SETor Bens de consumo

• FUNcIoNárIoS 12 000

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* responsabilidade ambiental

Gestão de fornecedores

8,1

UNILEvEr

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

4,4

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• A política corporativa de responsabilidade ambiental contempla o uso sustentável de recursos naturais e de insumos com foco na redução da emissão de resíduos, a conservação da biodiversidade e a prevenção à poluição e aos impactos ambientais decorrentes das operações

milhões de reais

investidos em 2010 para capacitar pequenas empresas da cadeia de fornecedores

59% 52

da energia consumida pela empresa provém de fontes renováveis, como bagaço de cana, etanol e cavaco de madeira

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

136/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

10

5,4

• Utiliza critérios sociais para qualificar, selecionar e monitorar seus fornecedores de bens e serviços. Esses critérios incluem a não utilização de trabalho infantil ou forçado, o combate à discriminação e à corrupção e o incentivo à contratação de fornecedores locais

A Unilever em números

3,2

8,7

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

milhões de reais

foram investidos em ações ambientais, como tratamento de resíduos e redução de emissões

11,7

milhões de reais

foram investidos em projetos sociais em 2010 com recursos diretos ou por incentivos fiscais


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⁄Alcoa

empresa-modelo

O diálogo levado a sério Ao traçar seu plano de sustentabilidade depois de ouvir o que a comunidade de Juruti, no Pará, tinha a dizer, a Alcoa se torna uma referência na área de mineração

Ao chegar

a Juruti Velho, no oeste do Pará, para explorar uma das maiores jazidas de bauxita do mundo, a Alcoa tinha um grande desafio pela frente: lidar com cerca de 2 000 famílias, distribuídas em 40 comunidades agrícolas locais. “Não queríamos repetir na Amazônia o erro que cometemos em 2005, na usina hidrelétrica de Barra Grande, quando erguemos um projeto de milhões de dólares que quase se transformou num monumento à falta de engajamento com a comunidade”, afirma Franklin Feder, presidente da Alcoa. Para fazer diferente desta vez, a mineradora elaborou um estudo sobre os impactos do projeto de assentamento extrativista de Juruti Velho. Toda a avaliação foi feita com participação comunitária. O resultado foi a definição de 37 pontos de impactos causados pela mina de

Juruti sobre a comunidade. Desse total, 29 foram considerados negativos, e apenas oito, positivos. Entre elas estão a interferência na caça e na pesca, a disponibilidade de recursos hídricos e vegetais, o manejo da biodiversidade, o sentimento de insegurança, o aumento do custo de vida e a criação de novas oportunidades de renda. Os dados permitirão à mineradora, até o final deste ano, calcular, entre outras coisas, qual será o valor da indenização a ser paga. O ressarcimento inclui até mesmo a perda do canto de pássaros em determinadas casas, por causa da derrubada de árvores. “Mas o trabalho não se encerra com o estabelecimento dos valores. Por ser muito inovador, com foco humano, o exercício é diário”, diz Feder. “Precisamos estar sempre abertos a ouvir e a dialogar, sem barreiras.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Siderurgia e metalurgia

• FATUrAMENTo EM 2010 2,8 bilhões de reais

• FUNcIoNárIoS 3 501

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Gestão ambiental

Gestão de fornecedores

8,5

ALcoA

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,8

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Adota critérios ambientais na seleção de fornecedores e observa se eles, na prática, fazem mais do que o mínimo exigido por lei • Possui mecanismo de monitoramento e verificação de conformidade legal para garantir que não haja operações sem as devidas licenças ambientais

A Alcoa em números

3,8

milhões de reais

51%

dos funcionários dedicaram, doados pela empresa em 2010 em 2010, pelo menos 50 horas para 75 projetos comunitários de atividade voluntária em 39 municípios do país fora do horário de trabalho * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

138/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

9,110

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,4

• Utiliza critérios sociais para qualificar, selecionar e monitorar seus fornecedores de bens e serviços. Esses critérios incluem a não utilização de trabalho infantil ou forçado, o combate à discriminação e o incentivo à contratação de fornecedores locais

95% 25%

dos resíduos industriais de Juruti são reaproveitados como adubo, material de construção ou outros fins

de redução no volume de resíduos enviados para aterros nas unidades de São Luís (MA) e Poços de Caldas (MG)


Daniela Toviansky

Franklin Feder, presidente da Alcoa: a avaliação dos impactos de projeto de mineração contou com a participação da comunidade

139

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Anglo American

empresa-modelo

A preservação das raízes A Anglo American mapeia a fauna e a flora do cerrado goiano, transforma suas descobertas em material didático e compartilha o conhecimento com as comunidades locais

Como as futuras

gerações dos moradores dos municípios de Barro Alto, Niquelândia e Catalão, em Goiás, iriam proteger a fauna e a flora do cerrado se a maioria desconhecia o ambiente onde nasceu? A questão, levantada no final dos anos 90, quando a mineradora Anglo American iniciou os estudos do impacto ambiental de suas atividades na região, gerou o desafio de reverter esse cenário. Mais do que fazer um levantamento detalhado da flora e da fauna local, a ideia era compor um acervo científico e histórico do cerrado goiano, educar crianças e jovens e compartilhar conhecimento com a comunidade. Assim nasceu o projeto Biodiversidade Vai à Escola, uma parceria com a Universidade Federal de Goiás que resultou em uma coleção de sete livros didáticos — sobre plantas, insetos, peixes, an-

fíbios, répteis, aves e mamíferos da região —, lançada em 2010. Os estudos confirmaram a presença de várias espécies em extinção, como a jaguatirica e a onça-parda, e até a descoberta de uma nova espécie de rã, a Scinax skaios. Professores incorporaram os livros ao conteúdo de ensino das escolas locais. O projeto será replicado em todas as unidades da Anglo American no país, sempre com o objetivo de compartilhar conhecimento e provocar o menor impacto possível à região das minas. “Isso significa abrir acessos com menor desmatamento possível, criar corredores ecológicos e contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades”, diz Walter De Simoni, presidente da Anglo American. “Extraímos muito mais do que minério. Extraímos — e plantamos — raízes. Daí a nossa grande responsabilidade.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 695 milhões de reais

• SETor Mineração

• FUNcIoNárIoS 5 600

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Transparência ANGLo AMErIcAN

9,5

indicadores ambienTais

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

4,8

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• O relatório de sustentabilidade é verificado por uma instituição independente, incorpora manifestações das partes interessadas, estabelece metas de melhoria de desempenho nas dimensões ambiental, social e econômica e presta contas das metas assumidas no período anterior

10 9,6

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7

• Mais de 80% dos processos são cobertos por sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho certificados • Mais de 80% da produção é oriunda de processos cobertos por sistemas de gestão ambiental monitorados por empresa certificadora

A Anglo American em números

15300 35 hectares

, o tamanho de 1 960 campos de futebol, é a área preservada pela mineradora em Goiás

milhões de reais

investidos em 2010 na conservação da fauna e da flora no cerrado goiano

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

140/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

83% 1,2

da água consumida na manutenção das operações da empresa em 2010 foi reciclada e reutilizada

milhão de reais

investidos no monitoramento das emissões e na recuperação de áreas degradadas


germano lüders

Walter De Simoni, presidente da Anglo American: livros para despertar a consciência de como preservar a biodiversidade

141

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Aperam

empresa-modelo

Aço mais verde e mais rentável Com a troca do carvão mineral pelo vegetal, a Aperam reduz o custo de produção de aço e deixará de emitir 700 000 toneladas de dióxido de carbono por ano

Para produzir

1,4 bilhão de toneladas de aço em 2010, siderúrgicas de todo o planeta lançaram milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. A boa notícia é que várias indústrias produtoras de aço vêm trabalhando para reduzir o dano ambiental de suas atividades. Um exemplo no Brasil é a Aperam, nome adotado neste ano pelo braço de aço inoxidável da ArcelorMittal. Em setembro, a Aperam, que tem uma usina no município mineiro de Timóteo, passou a operar inteiramente com carvão vegetal extraído de florestas de eucalipto plantadas e manejadas pela própria empresa. O carvão vegetal substituiu o carvão mineral, mais poluente. “Vamos reduzir nossa emissão de dióxido de carbono pela metade, ou cerca de 700 000 toneladas por ano”, afirma Clênio Guimarães, presidente da

Aperam da América do Sul. “A solução do uso de carvão vegetal na siderurgia é bem brasileira”, diz o executivo. “Ela é viável em razão da grande extensão das florestas de eucalipto que podemos plantar no Vale do Jequitinhonha, onde a topografia ajuda no desenvolvimento dessas áreas de plantio.” A substituição do carvão mineral pelo vegetal exigiu um investimento de 95 milhões de dólares. Desse valor, 60 milhões foram gastos com o plantio de eucalipto numa área de 126 000 hectares. Além dos benefícios ambientais, a Aperam levou em conta as vantagens econômicas. Com o carvão vegetal, a empresa estima que economizará 150 dólares por tonelada de aço produzido. A usina de Timóteo tem capacidade de produção de quase 900 000 toneladas ao ano – e está trabalhando a todo vapor, sem capacidade ociosa.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Siderurgia e metalurgia

• FATUrAMENTo EM 2010 3,6 bilhões de reais

• FUNcIoNárIoS 2 719

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* uso de recursos naturais APErAM

9,2

Gestão de fornecedores

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,1

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui um programa para monitorar o consumo de água, papel, energia elétrica e combustíveis e tem metas de redução desses insumos • Monitora o consumo de madeira e recursos minerais e tem metas de redução desses insumos

9,10 7

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,5

• Utiliza critérios sociais para qualificar, selecionar e monitorar seus fornecedores de bens e serviços. Esses critérios são incluídos como cláusulas contratuais passíveis de monitoramento e abrangem mais de 90% do volume de negócios realizados com os fornecedores

A Aperam em números

89% 22,5 95% 100 milhões de reais

dos resíduos gerados em 2010 tiveram reaproveitamento foram investidos em gestão econômico, como para ambiental em 2010, a produção de energia 92% mais que em 2009 * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

142/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

da água utilizada na manutenção das operações em 2010 foi reciclada e reaproveitada

mil pessoas

beneficiadas por investimentos de 4,4 milhões de reais em educação, cultura e ação social


Daniela Toviansky

Clênio Guimarães, presidente da Aperam: redução de emissões e economia de 150 dólares por tonelada de aço produzida

143

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Braskem

empresa-modelo

A revolução do plástico verde Com a inauguração de uma fábrica de polietileno verde no Rio Grande do Sul e um novo projeto na área de plásticos renováveis, a Braskem mira a liderança global em química sustentável

Após a compra

de concorrentes no Brasil e nos Estados Unidos em 2010, a Braskem tornou-se a maior petroquímica das Américas. A empresa é precursora, em escala industrial, na produção de biopolímeros, mais conhecidos como plásticos verdes, que substituem a nafta, derivado do petróleo, por matéria-prima renovável — a canade-açúcar. Em setembro de 2010, a Braskem inaugurou sua fábrica de eteno derivado do etanol em Triunfo, no Rio Grande do Sul. O projeto consumiu 500 milhões de reais e alçou a empresa à posição de maior fabricante mundial de polietileno verde, usado na fabricação de sacolas, filmes e embalagens para indústrias. Agora a Braskem dá mais um passo na área de biopolímeros. Nos próximos meses, deve anunciar o local em que vai construir uma fábrica de polipropileno

verde, uma resina com ampla aplicação em embalagens flexíveis e rígidas, na indústria automobilística e na agroindústria. A nova fábrica deve receber investimentos de 100 milhões de dólares e terá capacidade de produzir mais de 30 000 toneladas por ano de polipropileno. O empreendimento reforça o plano da Braskem de se tornar a líder mundial em química sustentável, uma meta traçada em um documento que descreve a visão da empresa para o ano de 2020. “Além da liderança em biopolímeros, queremos ser referência em eficiência e segurança das operações”, diz Carlos Fadigas, presidente da Braskem. “Essa diretriz foi amplamente divulgada para que oriente os planos de ação de nossos funcionários e, assim, a sustentabilidade passe a ser cada vez mais central em nossa atuação.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 21,8 bilhões de reais

• SETor Química e petroquímica

• FUNcIoNárIoS 6 750

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Transparência BrASkEM

9,5

GesTão ambienTal

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

4,8

• O relatório de sustentabilidade apresenta aspectos positivos e negativos das atividades da empresa nas dimensões ambiental, econômica e social, presta contas de suas metas, estabelece novas metas e incorpora manifestações das partes interessadas

A Braskem em números

4%

6%

de redução no volume de de redução no consumo emissão de gases de efeito estufa de energia elétrica por em 2010 em relação aos níveis tonelada produzida em 2010 registrados no ano anterior em relação ao ano anterior * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

144/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

8,3

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,8

• Adota critérios ambientais na seleção de fornecedores e exige que eles demonstrem ter padrões que ultrapassam os requisitos mínimos legais • Possui seguro contra degradação ambiental decorrente de acidentes em suas operações, incluindo ampla cobertura para a poluição

240 70%

pesquisadores

do etanol utilizado em trabalhavam em várias unidades 2010 foi fornecido por usinas da Braskem em 2010, número comprometidas formalmente 26% maior do que em 2009 com práticas sustentáveis


Daniela Toviansky

Carlos Fadigas, presidente da Braskem: investimento de 100 milhões de dólares na nova fábrica de plásticos renováveis

145

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Bunge

empresa-modelo

O fim dos boias-frias A Bunge melhora as condições de trabalho dos cortadores de cana, exige a mesma atitude de seus fornecedores e suspende os que não cumprem os requisitos legais

Maior empresa

de agronegócio do Brasil, a Bunge tornou-se o terceiro maior produtor de açúcar e etanol do país após adquirir o grupo Moema, em 2010, com cinco usinas em São Paulo e Minas Gerais, e inaugurar neste ano a usina de Pedro Afonso, em Tocantins. Ao ampliar sua atuação nesse setor, a Bunge iniciou um esforço para elevar as práticas trabalhistas das usinas aos padrões globais da companhia. Assim eliminou a figura dos boias-frias, cortadores de cana que trabalhavam em condições precárias, oferecendo conforto e oportunidades aos trabalhadores, que agora têm participação nos lucros. Os que chegam de outras regiões moram em alojamentos com refeitório e água quente nos chuveiros. Nas frentes de trabalho, eles dispõem de alimentação balanceada e participam de reuniões diárias de

segurança — os acidentes caíram 70% no primeiro ano. Na entressafra, os trabalhadores são treinados para operar máquinas agrícolas. Mais de 90% da colheita é mecanizada, e a meta é chegar aos 100% sem causar desemprego. Até 2016, a Bunge planeja investir 2,5 bilhões de dólares para aumentar em 50% a capacidade de suas usinas, absorvendo novos trabalhadores. Os fornecedores da Bunge também tiveram de elevar seus padrões. Ao longo de 2011, mais de 2  000 produtores de cana, soja e outros produtos — de um total de quase 40 000 fornecedores — tiveram seus contratos com a Bunge suspensos por pendências trabalhistas ou ambientais. “Todas as empresas precisarão se adaptar para atrair trabalhadores e garantir a penetração em mercados cada vez mais exigentes”, diz Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 29 bilhões de reais

• SETor Agronegócio

• FUNcIoNárIoS 19 530

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Gestão de riscos

10

BUNGE

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,5

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• A política de gestão de riscos inclui critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo, monitorados periodicamente • Tem planos de contingência que preveem ações para evitar e gerenciar crises de natureza ambiental, social e econômica

A Bunge em números

73

mil horas

de treinamento oferecidas aos 3 500 trabalhadores das usinas na entressafra 2010/11

81%

da energia consumida nas unidades do grupo em 2010 foi gerada por biomassa, uma fonte renovável

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

146/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

Gestão e sustentabilidade

10 10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,4

• Tem um comitê de sustentabilidade formalmente estabelecido que se reporta ao conselho de administração • A política de remuneração variável de todos os executivos está vinculada a metas de desempenho nas dimensões ambiental, econômica e social

5%

foi a redução da emissão de gases de efeito estufa por tonelada de alimentos produzida em 2010

260

mil quilos

de óleo vegetal foram coletados nos pontos de consumo em 2010 para reciclagem


GERMANO LüDERS

Pedro Parente, presidente da Bunge: suspensão de contratos com 2 000 fornecedores por pendências trabalhistas ou ambientais

147

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Dow

empresa-modelo

Saco vazio para em pé Pesquisadores brasileiros da Dow desenvolvem nova embalagem de plástico que facilita a reciclagem e permite reduzir os gastos com o transporte

Por desenvolver

materiais a partir de novas combinações de substâncias, a indústria química está entre as mais inovadoras. Na americana Dow, uma das gigantes do setor, com fábricas em 35 países, boa parte desse potencial é direcionada à busca de soluções sustentáveis. “Precisamos desenvolver coisas novas. Não dá para superar os grandes desafios da humanidade com o que temos hoje”, diz Pedro Suarez, presidente da Dow América Latina. Em busca do novo, a subsidiária brasileira da Dow, que até há pouco tempo se limitava a replicar tecnologias trazidas de fora, agora faz parte da cadeia de pesquisa e desenvolvimento da corporação. “Hoje os países emergentes oferecem muitas oportunidades para inovar, e o que fazemos aqui ganha o mundo”, afirma Suarez. Um exemplo de desenvolvi-

mento local com potencial para exportação é a embalagem flexível conhecida como stand up pouch (“saco que fica em pé”), assim chamada porque, com sua base sanfonada, ela fica na posição vertical nas gôndolas, o que aumenta sua visibilidade. É usada para acondicionar de molhos de tomate a produtos de limpeza. O produto desenvolvido pela equipe brasileira da Dow é feito 100% de polietileno, diferentemente das embalagens tradicionais, que usam várias resinas em sua composição, dificultando a separação e a reciclagem dos materiais. Por ser mais leve que as embalagens de lata, o stand up pouch permite uma economia de combustível no transporte. Outro projeto da Dow no Brasil é o desenvolvimento do plástico de etanol. “A ideia é produzir embalagens para o mercado mundial”, diz Suarez.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 5,6 bilhões de reais

• SETor Química e petroquímica

• FUNcIoNárIoS 2 132

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Gestão de riscos

10

Dow

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,5

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• A gestão de riscos considera critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo e contempla aspectos financeiros e legais • O plano de contingência prevê ações para evitar ou mitigar efeitos negativos de crises de natureza ambiental, social e econômica

A Dow em números

350 25

mil toneladas

será a capacidade de produção anual da fábrica de plástico verde em Minas Gerais

mil horas

de trabalho voluntário para ensinar inglês e finanças em comunidades em 2010

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

148/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

clientes e consumidores

8,8

10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

8,1

• Monitora o desempenho do serviço de atendimento aos clientes. Mais de 80% das reclamações recebidas por esse canal, envolvendo queixas sobre produtos ou serviços oferecidos, são solucionadas • Tem política que incorpora preceitos éticos no marketing de produtos

100

engenheiros

30%

do faturamento anual da — 5% do total de funcionários — empresa é obtido com produtos trabalham em laboratórios de desenvolvidos há menos pesquisa e desenvolvimento de cinco anos


Daniela Toviansky

Pedro Suarez, presidente da Dow: uma das metas da empresa ĂŠ fornecer embalagens ecoeficientes para o mercado mundial

149

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄EDP

empresa-modelo

A rede elétrica inteligente vem aí A EDP desenvolve um medidor eletrônico que vai permitir o monitoramento do gasto de energia em tempo real. A instalação começa em 15 000 residências no interior de São Paulo

Acompanhar

em tempo real o consumo diário de energia de cada eletrodoméstico vai se tornar rotina nos próximos anos para os clientes residenciais de 98 municípios atendidos pela Bandeirante e pela Escelsa, distribuidoras de eletricidade de São Paulo e do Espírito Santo controladas pela holding EDP no Brasil. Nas casas desses clientes será instalado um medidor eletrônico, que fornecerá informações sobre o consumo de energia dos aparelhos. O projeto piloto dessa iniciativa deve ser implantado neste ano em Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, escolhida pela EDP para ser a primeira cidade do país a contar com uma rede elétrica inteligente. O desenvolvimento do medidor eletrônico — o primeiro modelo nacional homologado pelo Inmetro — exigiu um investimento de

10 milhões de reais da EDP. A previsão inicial é instalar 15 000 medidores eletrônicos em Aparecida do Norte. Com esse embrião de rede inteligente, a EDP pretende facilitar a gestão da conta de luz pelos clientes, evitando que essa despesa pese demais no orçamento e cause inadimplência. Do lado da empresa, a nova tecnologia deve permitir maior eficiência operacional e maior controle sobre os fluxos de energia. Os medidores eletrônicos são apenas uma das novidades planejadas pela EDP, que elaborou um pacote de iniciativas sustentáveis até o ano 2020. “O objetivo é sair na frente e tornar-se uma referência no setor”, diz António Pita de Abreu, presidente da EDP no Brasil. “Queremos mostrar que é possível criar e agregar valor em uma atividade altamente regulada, gerando benefícios a todos.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 7,9 bilhões de reais

• SETor Energia

• FUNcIoNárIoS 2 395

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Compromisso Com a sustentabilidade

10

EDP

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,7

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Está comprometida com a sustentabilidade por meio de um documento público, que apresenta metas de desempenho socioambiental de longo prazo • Tem programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, voltado para funcionários, clientes e fornecedores

investimentos soCiais

milhões de reais

investidos em programas de eficiência energética em 2010, beneficiando 300 000 famílias

83% 18%

das contratações de produtos de redução nas emissões e serviços foram feitas diretas de gás de efeito com fornecedores locais, estufa em 2010 em relação ou 722 milhões de reais ao ano anterior

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

150/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

6,2

• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável na comunidade do entorno • Os investimentos sociais contam com mecanismos para a geração de receita ou com um percentual fixo sobre o faturamento da empresa que assegurem sua continuidade no longo prazo

A EDP em números

25

10 10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

29

milhões de reais

investidos em programas ambientais, incluindo a recuperação de 720 hectares


GERMANO LüDERS

António Pita de Abreu, presidente da EDP: investimento de 10 milhões de reais para criar o primeiro medidor eletrônico nacional

151

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Elektro

empresa-modelo

Troca de postes em 15 minutos Com investimentos em tecnologia de ponta e numa equipe própria de eletricistas, a concessionária Elektro aumenta a eficiência no atendimento aos consumidores

No início de 2010,

as cidades históricas paulistas de Cunha e São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, foram arrasadas por temporais e chuvas que deixaram um grande número de desabrigados. O impacto da tragédia poderia ter sido ainda maior se não fosse a rápida mobilização da Elektro, distribuidora de energia elétrica na região. Com a ajuda de tecnologias até então inéditas no país, a empresa restabeleceu o fornecimento de energia em uma semana, um trabalho que normalmente levaria um mês. Cada poste destruído foi trocado em 15 minutos, um quarto do tempo que se gastaria com métodos convencionais. O ganho de produtividade foi proporcionado por investimentos de 100 milhões de reais em tecnologia de ponta, incluindo um sistema móvel que associa uma perfuratriz e um guindaste,

operados por um único eletricista. A decisão de adotar um padrão de trabalho mais moderno havia sido tomada em 2009, quando a Elektro resolveu formar seu próprio corpo de eletricistas. A prova de que a estratégia foi correta veio com a intervenção bem-sucedida no Vale do Paraíba. “É uma atitude inovadora no setor e, sem dúvida, mais sustentável”, diz Marcio Fernandes, presidente da Elektro. Para fazer o trabalho de 2 000 eletricistas tercerizados, a companhia passou a contar com 600 profissionais treinados e auxiliados por tecnologia. Com o aumento da eficiência, a Elektro reduziu sua taxa de frequência de interrupções no fornecimento de energia para 5,75 em 2010, quase metade da média do setor. “Esse ganho de eficiência representa um benefício aos consumidores”, diz Fernandes.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 5 bilhões de reais

• SETor Energia

• FUNcIoNárIoS 3 525

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* desempenho socioeconômico ELEkTro

8,9

relações de trabalho

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Adota indicadores socioambientais na avaliação de seu resultado econômico-financeiro • Calcula o indicador “equilíbrio do crescimento” para avaliar a adequação do nível de receitas em relação aos recursos disponíveis. O objetivo é crescer sem comprometer a saúde financeira

8,8

10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6

• Possui compromisso formal para a erradicação do trabalho infantil, por meio de política específica, código de conduta e adesão formal a iniciativas voluntárias • Adota procedimentos com o objetivo de eliminar a discriminação relacionada ao emprego, incluindo os processos de seleção, remuneração e promoção

A Elektro em números

43,6 56500 46,5 300

milhões de reais clientes

beneficiados investidos em 2010 em em 2010 por programas programas de universalização de substituição de lâmpadas de energia elétrica e geladeiras mais econômicas * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

152/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

milhões de reais

foram investidos em 2010 em diversas iniciativas de preservação ambiental

mil horas

de treinamento dos funcionários em 2010 em novas tecnologias e processos


GERMANO LüDERS

Marcio Fernandes, presidente da Elektro: tecnologias inéditas para restaurar a eletricidade em região castigada por temporais

153

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Embraco

empresa-modelo

Mais refrigeração, menos gastos Com investimentos contínuos em pesquisa, a catarinense Embraco reduziu o consumo de energia de seu principal produto pela metade em duas décadas

Especializada

na fabricação de compressores — o coração dos refrigeradores —, a catarinense Embraco mantém uma equipe de 450 pesquisadores que já lhe renderam mais de 1 000 patentes. O número coloca a Embraco entre as cinco empresas brasileiras que mais depositaram patentes nos últimos seis anos. O principal objetivo dos pesquisadores é aumentar a eficiência energética, ou seja, obter o mesmo nível de resfriamento gastando cada vez menos energia. O impacto disso é considerável, pois, segundo a empresa, 15% da energia elétrica consumida no mundo é destinada à refrigeração. O avanço nessa área tem sido notável. A versão 2011 do Embraco Mini, o carro-chefe da companhia, responsável por metade das vendas, consome 50% menos energia que o modelo fabricado duas décadas

atrás. “Na busca por mais eficiência, percebemos outras oportunidades, que incorporamos aos novos produtos”, diz João Carlos Brega, presidente da Embraco. A tecnologia mais promissora é o VCC, um compressor com sensores eletrônicos que monitoram a temperatura interna do refrigerador. O equipamento permanece ligado e se ajusta para funcionar de acordo com a demanda de refrigeração. Por evitar o liga e desliga dos compressores convencionais, o VCC gasta até 50% menos energia que os modelos convencionais. Desde que foi lançado, no fim dos anos 90, vendeu 7 milhões de unidades no mundo. “Se todas as geladeiras do Brasil usassem esse compressor, a energia economizada seria capaz de abastecer todas as residências da cidade de São Paulo por mais de dois anos”, afirma Brega.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 Não divulgado

• SETor Eletroeletrônico

• FUNcIoNárIoS 10 400

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* uso de recursos naturais EMBrAco

8,8

investimentos sociais

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,1

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui programa e indicadores específicos para monitorar o consumo de água, energia elétrica, papel e combustíveis fósseis e tem metas de redução • Dos materiais usados nas operações, 30%, em média, são provenientes de reciclagem

do faturamento líquido anual da empresa é destinado a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos

9,1% 92%

foi a economia média de energia na produção de cada compressor em 2010 em relação ao ano anterior

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

154/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

6,2

• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável na comunidade do entorno, levando em consideração as peculiaridades locais • O investimento social é precedido de consultas às comunidades envolvidas, para identificar as necessidades e fortalecer a organização comunitária

A Embraco em números

3%

10 10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

dos 400 fornecedores diretos adotam o código de conduta de práticas socioambientais elaborado pela Embraco

25

mil pessoas

foram beneficiadas por projetos sociais desenvolvidos pela empresa em 2010


GERMANO LüDERS

João Carlos Brega, presidente da Embraco: 450 pesquisadores e mais de 1 000 patentes para desenvolver produtos mais eficientes

155

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Fibria

empresa-modelo

O combate ao deserto verde Para acabar com a imagem de vilã dos eucaliptos, a Fibria estimula a produção de alimentos — de mel a mandioca — em suas áreas de florestas

O eucalipto,

planta nativa da Austrália, costuma causar arrepios nos ambientalistas pela forma avassaladora com que ocupou extensas áreas no Brasil para abastecer a indústria de celulose e papel. Por seu impacto no ambiente, como a redução da biodiversidade, a cultura do eucalipto deu origem até mesmo à expressão “deserto verde”. A Fibria, maior produtora mundial de celulose branqueada, usada na fabricação de diversos tipos de papel, tenta combater essa imagem negativa com projetos de geração de renda para as comunidades vizinhas às plantações. A ideia é proporcionar segurança alimentar e renda. “Queremos acabar com a imagem de que o eucalipto só serve para a produção de celulose”, diz Marcelo Castelli, que assumiu a presidência da Fibria em julho. Uma das frentes de atuação

é a apicultura. Em todo o país, 584 criadores de abelha produzem mel em florestas de eucalipto da Fibria. Na unidade paulista de Jacareí, no interior de São Paulo, só neste ano foram obtidos 46 000 quilos de mel com o selo do IBD, que garante a procedência orgânica do produto. Em outros 4 000 hectares, 230 famílias produzem alimentos como milho, feijão e frutas em consórcio com o eucalipto. Hoje, em cada safra, uma família de agricultores pode colher até 100 quilos de feijão, 150 quilos de milho e 4 000 quilos de mandioca no meio hectare que a Fibria cede aos participantes do projeto. “Dá para ganhar dinheiro com preservação ambiental. Mas não podemos pensar em preservar e ficar só olhando a mata”, diz Castelli. “Precisamos fazer com que a floresta gere uma renda para as famílias.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 4,3 bilhões de reais

• SETor Papel e celulose

FUNcIoNárIoS

5 028

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Governança corporativa FIBrIA

riscos para a sociedade

8,1

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui uma área de auditoria interna, que se reporta ao conselho de administração, e um sistema de controle interno, revisto periodicamente • O planejamento e a gestão da empresa consideram os interesses de outras partes interessadas além dos sócios, incluindo os funcionários e os clientes

A Fibria em números

25% 140

de redução na emissão de gases causadores de efeito estufa em 2010 em relação ao ano anterior

milhões de reais

investidos na melhoria da eficiência ambiental de quatro fábricas em 2010

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

156/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

10 10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

8,9

• Publica informação completa a respeito dos valores, dos candidatos e dos partidos que receberem contribuições da empresa para campanhas políticas • Participa de esforços para a elaboração de políticas públicas por meio de propostas ou posicionamentos formalmente assumidos

750 14

ideias

de inovação apresentadas em 2010 pelos funcionários, das quais 190 foram colocadas em prática

reais

é o retorno de cada real investido em processos de inovação relacionados à sustentabilidade


Fabiano accorsi

Marcelo Castelli, presidente da Fibria: incentivo à agricultura familiar para gerar renda às comunidades vizinhas das florestas

157

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Fleury

empresa-modelo

Aquisições sustentáveis O Grupo Fleury unifica suas marcas para as classes B e C em uma nova rede, a a+, que nasce com 94 unidades de atendimento comprometidas com práticas sustentáveis

Um dos maiores

grupos do setor de saúde no Brasil, a rede de laboratórios de análises clínicas Fleury obteve grande parte de seu crescimento nos últimos anos por meio de aquisições de concorrentes. Foram 25 as marcas regionais compradas desde 2002. Após tantas aquisições, o grupo tinha um problema a resolver, mas também ótimas oportunidades. De um lado, passou a ter laboratórios com processos diferentes, o que dificultava a gestão. De outro, surgiu a chance de diminuir os custos. A solução foi criar uma nova marca, a rede a+ Medicina Diagnóstica, lançada neste ano. A nova rede integra 13 das 16 bandeiras do grupo e nasceu com 94 unidades de atendimento em seis estados, com foco nas classes B e C. Para consolidar a nova marca, o Fleury aposta em práticas sustentáveis. “Queremos

incorporar a sustentabilidade a nosso dia a dia”, diz Omar Hauache, presidente do Grupo Fleury. “A principal preocupação foi treinar os 2 000 funcionários da nova rede para que os clientes percebam a diferença no nosso jeito de atuar.” As diferenças começam nos espaços físicos. Todas as unidades da a+ possuem móveis exclusivamente de madeira certificada, lâmpadas de maior eficiência energética e pintura com tintas à base de água. A reciclagem de materiais é estimulada de diversas formas, como a instalação de pontos de coleta de resíduos de saúde — como medicamentos vencidos e exames de raios X —, para que tenham a destinação correta. “Nosso próximo desafio é fazer com que a sustentabilidade seja praticada de maneira consciente em toda a nossa cadeia de valor”, diz Hauache.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 935 milhões de reais

• SETor Serviços

• FUNcIoNárIoS 5 500

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Compromisso Com a sustentabilidade

10

FLEUry

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,7

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Está comprometida com a sustentabilidade por meio de documento público que apresenta metas de desempenho socioambiental de longo prazo • Possui um programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, com recursos, cronograma, metas e responsabilidades definidas

Clientes e Consumidores

9,310

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

8,1

• Tem procedimentos implantados que garantem o uso adequado e consentido das informações coletadas de terceiros, como clientes e fornecedores • Estimula o uso do canal de atendimento aos consumidores, estabelece prazos de resposta e monitora seu cumprimento

O Fleury em números

5%

da remuneração variável de todos os funcionários está atrelada a indicadores ambientais e sociais

80% 100% 200

dos funcionários participaram em 2010 de um curso oferecido via internet para promover a ideia da sustentabilidade

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

158/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

do mobiliário da rede a+ utiliza madeira certificada pela FSC, que assegura práticas sustentáveis

ações sustentáveis

foram desenvolvidas em 2010, como medidas para a redução de energia, água e outros insumos


Daniela Toviansky

Omar Hauache, presidente do Grupo Fleury: instalação de pontos de coleta de medicamentos vencidos e de exames de raios X

159

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Itaú Unibanco

empresa-modelo

Chega de empurrar seguros Ao mudar a forma de vender seus produtos e ao ser mais transparente com os clientes, o Itaú Unibanco busca incorporar a sustentabilidade na essência de seu negócio

O Itaú Unibanco

pôs em prática em 2010 uma série de iniciativas com o objetivo de manter uma relação sustentável com seus mais de 60 milhões de clientes. “Isso implica uma mudança na forma de vender os produtos”, afirma Roberto Setubal, presidente executivo do Itaú Unibanco. “Significa oferecer ao cliente o que ele realmente precisa, a preço justo, sem oportunismo ou exploração.” Como exemplo, Setubal cita o redesenho, no ano passado, do seguro de vida, que agora é oferecido apenas a quem realmente está interessado. “As vendas caíram 20%, mas os índices de cancelamento e seus custos foram reduzidos em 40%”, diz Setubal. Ao contrário do que ocorria no passado, hoje os títulos de capitalização não são mais apresentados como investimento, mas como um produto de sorte. A forma

de analisar a liberação de financiamentos na área empresarial também não é mais a mesma. Além da viabilidade de pagamento e de crescimento do negócio, as equipes do banco procuram analisar os impactos do projeto no meio ambiente. Se forem acima dos considerados aceitáveis, o financiamento não será concedido. Além disso, o Itaú Unibanco adotou uma linguagem mais acessível nos contratos, substituiu termos técnicos em extratos e faturas, passou a encaminhar alertas por SMS sobre movimentação no cartão de crédito e mensagens no caixa eletrônico e na internet avisando o cliente que ele entrará no cheque especial se prosseguir com a transação. “Crescimento, resultado e sustentabilidade podem caminhar juntos”, diz Setubal. “Não há como pensar em futuro sem resolver essa equação.”

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 60,9 bilhões de reais

• SETor Finanças

• FUNcIoNárIoS 108 587

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Governança corporativa ITAú UNIBANco

9,4

Gestão de fornecedores

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui compromisso formal para combater todas as formas de corrupção, envolvendo sua relação com os clientes, com os fornecedores, com os distribuidores e com os agentes públicos • O planejamento e a gestão da empresa consideram os interesses de outros públicos além dos sócios

8,8

10

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,4

• Usa critérios sociais para qualificar, selecionar e monitorar seus fornecedores de bens e serviços. Esses critérios incluem a não utilização de trabalho infantil ou forçado, a valorização da diversidade, o combate a todas as formas de discriminação e o incentivo à contratação de fornecedores locais

O Itaú Unibanco em números

5,2

14,9 1 142 241

bilhões de reais milhões de reais sugestões de adoção

de investimentos em projetos contratados em 2010 após análise do risco socioambiental

concedidos em operações de microcrédito em 2010, 12,7% mais que em 2009

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

160/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

de práticas sustentáveis nas diversas áreas do banco foram feitas pelos funcionários em 2010

milhões de reais

foi o valor destinado pela instituição em 2010 a projetos nas áreas social e cultural


fabiano accorsi

Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco: as vendas de seguros de vida caíram 20%, mas os cancelamentos diminuíram 40%

161

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Kimberly-Clark

empresa-modelo

Critério sustentável O tamanho do impacto ambiental é um dos itens avaliados pela americana Kimberly-Clark para escolher onde ficará sua quinta fábrica no Brasil

A americana

Kimberly-Clark, fabricante de produtos de higiene pessoal, concentra hoje sua operação brasileira nas regiões Sudeste e Sul do país — tem duas unidades em São Paulo, uma em Santa Catarina e outra no Rio Grande do Sul. Mas é no Nordeste que o mercado de consumo vem crescendo mais rápido. Para atender a região, a Kimberly vai investir 250 milhões de reais na construção de uma nova fábrica e de um centro de distribuição, que deverão ficar prontos em 2012. Infraestrutura e incentivos fiscais — como de praxe — ajudarão a definir o local exato da instalação das novas unidades. A novidade no processo é a introdução da avaliação dos impactos ambientais gerados pela operação. A empresa mapeou seus fornecedores e fez uma projeção da quantidade de gás carbônico que seria emi-

tida em diferentes cenários no transporte das matériasprimas até a fábrica e, depois, na transferência dos produtos até os centros de distribuição. Quanto menores os impactos, maiores as chances de uma determinada localidade receber os investimentos. (A definição deve ocorrer até o final de 2011.) A preocupação com a sustentabilidade das novas unidades segue a meta da Kimberly de diminuir em 5% suas emissões de gases estufa até 2015. Avanços já foram feitos na área de desenvolvimento de produtos. Um exemplo são os papéis higiênicos com rolos compactos, que ocupam 20% menos espaço nos caminhões, o que significa menos combustível consumido e menos emissões no transporte. “Estamos investindo em processos que nos tornem mais sustentáveis e competitivos”, diz o presidente João Damato.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Bens de consumo

• FATUrAMENTo EM 2010 2,4 bilhões de reais

• FUNcIoNárIoS 3 288

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* deSempenHo KIMBErLy-cLArK

9,5

TranSparência

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

MéDIA Por que SE DESTAcoU

4,8

• O relatório de sustentabilidade incorpora manifestações e avaliações das partes interessadas, estabelece metas de melhoria de desempenho nas dimensões social, ambiental e econômica e é verificado em todos os seus aspectos por uma instituição independente

10 9,9

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,8

• Adota critérios ambientais na hora da seleção de fornecedores e observa se eles, na prática, fazem mais do que o mínimo exigido por lei • Avalia e monitora sistematicamente suas unidades ou instalações e pode garantir que não possui passivos ambientais

A Kimberly-Clark em números

2 160 2

toneladas

milhões de reais

15,5% 1,6

de redução no consumo de resíduos de água na produção de papel foi a receita obtida em 2010 industriais foram usadas como combustível nas caldeiras com subprodutos da reciclagem em 2010 em relação ao volume do ano anterior de resíduos industriais das fábricas em 2010 * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

162/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

milhão de dólares

foi o investimento em programas de educação para jovens de comunidades carentes


GERMANO LüDERS

João Damato, presidente da Kimberly-Clark: investimento em produtos que reduzem as emissões e os gastos com transporte

163

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Masisa

empresa-modelo

Campeã em energia limpa A chilena Masisa está muito perto de alcançar 100% de uso de energia renovável na linha de produção de suas duas fábricas de painéis de madeira no Brasil

O Fórum Econômico

Mundial divulgou em setembro um estudo sobre os “campeões em sustentabilidade” nas economias emergentes. Após analisar mais de 1 000 empresas, o estudo apontou 16 delas como exemplos por aliar bons resultados financeiros e políticas sólidas de sustentabilidade. Uma dessas empresas é a chilena Masisa, fabricante de painéis de madeira que possui duas unidades industriais no Brasil. As duas fábricas dão prioridade ao uso de energia de fontes renováveis. Na fábrica de Montenegro, no Rio Grande do Sul, 99% da energia térmica consumida no processo de produção provém de fontes renováveis — principalmente da biomassa resultante de resíduos como cascas e galhos de madeira. Neste ano, a mesma tecnologia foi adotada na fábrica de Ponta Grossa,

no Paraná. Embora a caldeira a gás natural ainda estivesse em plena vida útil, a Masisa decidiu investir 4,5 milhões de dólares para substituí-la por uma alternativa ambientalmente correta, a caldeira a biomassa. Com a mudança, 870 toneladas de dióxido de carbono deixam de ser emitidas a cada mês — o correspondente à poluição provocada por 12 000 carros percorrendo o trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro. A participação das fontes renováveis de energia na fábrica de Ponta Grossa subiu de 85% para 97%. O uso de combustíveis de origem fóssil ficou limitado a 3% — trata-se do gás que precisa ser utilizado na linha de impregnação de papéis, etapa ainda sem alternativa economicamente viável. “Mas vamos trabalhar para chegar a 100% de energia limpa”, diz Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa Brasil.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 593 milhões de reais

• SETor Indústria da construção

• FUNcIoNárIoS 650

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Gestão e sustentabilidade MASISA

9,3

desempenho socioeconômico

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

5,4

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• A remuneração variável de todos os executivos está vinculada a metas de desempenho nas dimensões econômica, ambiental e social • Busca engajar as partes interessadas nas atividades e nas decisões da empresa, desde a concepção de novos produtos até situações de crise

9,210

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6

• Incorpora aspectos socioambientais na avaliação do resultado econômico-financeiro da empresa • Calcula o indicador “equilíbrio do crescimento”, que busca conciliar a expansão dos negócios com a saúde financeira da empresa, e divulga esse dado para o público interno

A Masisa em números

27% 90% 27411 2000

foi a redução no consumo de energia elétrica na linha de produção em 2010 em relação a 2009

hectares

dos 50 tipos de resíduos sólidos de áreas gerados pela fábrica em próprias, dos quais quase 50% Ponta Grossa, no Paraná, têm são reservas nativas como destino a reciclagem destinadas à conservação

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

164/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

marceneiros

foram capacitados em cursos técnicos oferecidos em parceria com o Senai em 2010


GERMANO LüDERS

Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa: exemplo de sustentabilidade em países emergentes, segundo o Fórum Econômico Mundial

165

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Mexichem (Amanco)

empresa-modelo

Contra o apagão da mão de obra Ao investir na capacitação dos profissionais que lidam com seus produtos nas obras, a Mexichem reforça sua marca e contribui para aumentar a renda dos trabalhadores

O apagão

da mão de obra na construção civil é uma das grandes preocupações dos empresários do setor, que cresceu quase 11% no Brasil em 2010 e mantém boas perspectivas de expansão nos próximos anos. Uma das razões para a escassez de profissionais qualificados é o nível médio de escolaridade dos trabalhadores do setor, ainda muito baixo. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, 80% deles não completaram o ensino fundamental e 72% nunca receberam nenhum treinamento formal. A Amanco, produtora de tubos e conexões do grupo químico mexicano Mexichem, criou um programa para capacitar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, reforçar a marca entre os encanadores, categoria que lida diretamente com seus produtos. Em parceria com o Senai, desenvolveu um

curso técnico de instalador hidráulico que já formou 32 000 profissionais e, somente neste ano, deve formar mais 10 000. Metade dos participantes nunca havia atuado na área. “Antes da criação desse curso, quem quisesse seguir a profissão no Brasil não encontrava muitas alternativas a não ser aprender na própria obra ou com algum amigo ou parente”, diz Marise Barroso, presidente da Mexichem Brasil (novo nome da Amanco Brasil). A empresa encomendou uma pesquisa para medir o retorno da iniciativa. O resultado mais significativo foi a melhora na remuneração — 41% dos trabalhadores passaram a ganhar mais depois do curso. Além disso, 72% dos alunos disseram ter aprendido a usar mais racionalmente os recursos hídricos nas obras — o que é bom não somente para as empresas mas para toda a sociedade.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Indústria da construção

• FATUrAMENTo EM 2010 1 bilhão de reais

• FUNcIoNárIoS 1 969

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* planejamento estratégico

10

MEXIchEM

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• O planejamento estratégico contempla a busca do uso mais eficiente de recursos naturais, a redução da emissão de gases de efeito estufa e o desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para a inclusão social e para a redução da pobreza

indicadores ambientais

9,110

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7

• Mais de 80% da produção da empresa é oriunda de processos cobertos por sistemas de gestão ambiental certificados • Possui programas para gerenciar ou reduzir impactos ambientais no transporte de produtos e materiais utilizados em suas operações

A Mexichem em números

58% 6,8% 90% 75%

de aumento no volume de dos lucros da empresa financiamentos com o cartão em 2010 foram distribuídos CredConstrução em 2010 aos funcionários, ante 5,8% em relação o ano anterior no ano anterior * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

166/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

dos contratos firmados em 2010 continham cláusula específica sobre restrições ao trabalho infantil

do volume total de resíduos gerados na linha de produção em 2010 foram destinados à reciclagem


germano lüders

Marise Barroso, presidente da Mexichem, que controla a Amanco: parceria com o Senai vai formar 10 000 encanadores em 2011

167

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Natura

empresa-modelo

A obsessão de fazer mais A Natura adota embalagem 100% reciclável e reduz a emissão de gases de efeito estufa e a geração de resíduos na produção de cosméticos da linha Ekos

Não basta

engajar-se no tema da sustentabilidade — é preciso ter a obsessão de praticá-la. Na fabricante de cosméticos Natura, nada ilustra melhor esse lema do que a linha Ekos, que em dez anos consolidou sua imagem de produtos ambientalmente corretos com itens como xampus e sabonetes ligados à biodiversidade brasileira e que geram benefícios para as comunidades produtoras dos insumos. Para completar o ciclo, faltava dar um jeito na embalagem plástica, uma das vilãs na geração de resíduos. A solução veio com a adoção do plástico verde, 100% reciclável, que tem as mesmas características do plástico petroquímico, mas com redução de 71% na emissão dos gases estufa. Feito de etanol de cana, o polietileno verde começou a ser usado nos refis de alguns produtos da

linha Ekos. E, mesmo custando 40% mais que o plástico comum, não houve repasse nos preços ao consumidor. Outra mudança foi a substituição de antigos refis por sachês, o que reduzirá em 83% o uso de plástico, em 97% a geração de resíduos e em 77% a emissão de gases estufa. Mais novidades devem vir por aí. Para avançar na prática sustentável em seus negócios, a Natura criou neste ano o Programa Amazônia, que prevê investimentos de 1 bilhão de reais e o envolvimento de 10 000 a 20 000 famílias da região até 2020. A meta é aumentar a participação de insumos amazônicos dos atuais 10% para 30% das compras totais em nove anos. “Muitas empresas olham a sustentabilidade como um pedágio”, diz Alessandro Carlucci, presidente da Natura, “Para nós, ela é fonte constante para a inovação”.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 7,1 bilhões de reais

• SETor Bens de consumo

• FUNcIoNárIoS 7 037

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* planejamento estratégico NATUrA

9,6

indicadores ambientais

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• O planejamento estratégico contempla a inovação de produtos e serviços, para reduzir os impactos negativos das operações e aumentar os benefícios sociais e ambientais, bem como a formação de líderes para consolidar a cultura de sustentabilidade na empresa

21% 10% 140 de redução no consumo de água, que atingiu a média de 0,47 litro por produto fabricado em 2010

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

168/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

7

• Mais de 80% da produção da empresa é oriunda de processos cobertos por sistemas de gestão ambiental certificados • Possui programa de gerenciamento ou de minimização de impactos ambientais na etapa pós-consumo para todos os seus produtos

A Natura em números de redução na emissão degases causadores do efeito estufa em 2010 em relação ao volume do ano anterior

9,410

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

milhões de reais

foram investidos em projetos de inovação relacionados à sustentabilidade em 2010

8,7

milhões de reais

pagos em 2010 a comunidades fornecedoras de matériasprimas, 57% mais que em 2009


Daniela Toviansky

Alessandro Carlucci, presidente da Natura: investimento de 1 bilhão de reais até 2020 para ampliar o uso de insumos da Amazônia

169

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Philips

empresa-modelo

Com a mão no lixo A Philips incentiva os consumidores a devolver equipamentos antigos para reciclagem. Em um ano, recolheu 160 toneladas de lixo eletrônico e 113 equipamentos médicos sucateados

A cada ano,

estima-se que 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico — como computadores, televisores e outros equipamentos — sejam geradas no mundo. Trata-se de um problema ambiental que cresce à medida que milhões de pessoas ao redor do mundo ingressam no mercado de consumo — e que tende a pressionar cada vez mais os fabricantes desses produtos. Em 2010, a operação brasileira da Philips criou um programa de incentivo para que seus consumidores entreguem equipamentos velhos da marca em postos de coleta localizados em sua rede de assistência técnica, num processo conhecido como logística reversa. O projeto antecipou em mais de um ano a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que obriga empresas como a Philips a dar um destino adequado aos produtos descarta-

dos. Desde seu início, o programa Ciclo Sustentável recolheu 160 toneladas de eletroeletrônicos e eletroportáteis em 25 cidades. Em junho deste ano, a Philips estendeu a iniciativa para equipamentos hospitalares. Clínicas e hospitais que entregaram máquinas obsoletas tiveram condições especiais na compra de produtos mais modernos, que consomem menos energia e possuem maior quantidade de peças recicláveis. Em dois meses, o programa, batizado de Ação Verde, coletou 113 equipamentos médicos antigos ou fora de linha. Os produtos recolhidos são encaminhados para uma usina de reciclagem em Campinas, no interior paulista. “Num país como o Brasil, é mandatório que sejamos pioneiros em práticas que se antecipem às políticas públicas”, diz Marcos Bicudo, presidente da Philips.

Sobre a empresa • Quando foi premiada • SETor Eletroeletrônico

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 1,2 bilhão de reais(1)

• FUNcIoNárIoS 3 422

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* uso de recursos naturais PhILIPS

9,3

relações de trabalho

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,1

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui programas e indicadores específicos para monitorar o consumo de água, papel, energia elétrica e combustíveis fósseis de sua operação e tem metas de redução • Dos materiais utilizados nas operações, em média 30% são provenientes de reciclagem

A Philips em números

12% 17%

foi a participação da linha de “produtos verdes” no faturamento total da empresa em 2010

foi a redução das emissões de CO2 na manufatura de produtos em 2010 em relação a 2009

6

• Tem procedimentos para eliminar a discriminação no trabalho, envolvendo seleção e contratação, remuneração, promoção e acesso a treinamento • Possui processos de ouvidoria para acolher, responder e esclarecer as críticas e sugestões do público interno, assegurando a confidencialidade dos autores

40% 1000

foi a redução no gasto de energia com PCs e monitores em 2010 em relação ao ano anterior

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado 1. Estimativa de MElhORES E MAiORES

170/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

9,410

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

funcionários,

cerca de 25% do total, atuaram como voluntários em projetos desenvolvidos em 2010


Daniela Toviansky

Marcos Bicudo, presidente da Philips: iniciativa pioneira no país para coletar e substituir equipamentos hospitalares obsoletos

171

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Promon

empresa-modelo

A aposta verde Com a compra de participação em três empresas da área ambiental, o Grupo Promon prepara-se para a era dos projetos de infraestrutura sustentáveis

Entre abril

e novembro de 2010, os dirigentes da Promon traçaram as diretrizes para os negócios do grupo nos próximos dez anos a partir de uma linha mestra: o tema ambiental deve fazer parte de todo projeto que sair de suas pranchetas. As obras de infraestrutura, uma das principais áreas de atuação do grupo, envolvem geralmente intrincadas questões ambientais, demográficas e regulatórias que exigem soluções integradas. Como parte da preparação para essa nova fase do setor, a Promon concluiu, em julho deste ano, a aquisição de 30% de participação em três empresas do grupo Brandt: a Brandt Meio Ambiente (que produz estudos de impacto ambiental), a Terravision (que faz geoprocessamento) e a Verti (que desenvolve tecnologias ambientais). “A questão ambiental será dominante nos pró-

ximos dez anos ou mais, um caminho inevitável a ser seguido”, diz Luiz Fernando Rudge, presidente do Grupo Promon. Um empreendimento de grande porte, na maioria das vezes, exige estudos de impacto ambiental e levantamento das condições geológicas do solo. Com a Promon Meio Ambiente, nova empresa criada a partir da parceria com as três companhias da área ambiental, o projeto oferecido aos clientes já incluirá esses serviços. Hoje, os projetos desenvolvidos pela Promon já preveem o reúso de água e o uso de iluminação e ventilação naturais, medidas que reduzem o consumo de água em até 40% e de energia elétrica em até 15%. A ideia é dar um passo adiante. “Vamos poder oferecer soluções que considerem a ecoeficiência desde a concepção dos projetos”, diz Moisés Falco, diretor executivo do grupo.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Indústria da construção

• FATUrAMENTo EM 2010 1,3 bilhão de reais

• FUNcIoNárIoS 1 040

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* planejamento estratégico ProMoN

relações de trabalho

8,3

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• O planejamento estratégico contempla a inovação de produtos e serviços, o uso eficiente de recursos naturais, a redução dos impactos negativos das operações, a adoção de medidas de combate à corrupção e a formação de líderes para consolidar a cultura de sustentabilidade na empresa

2,1% 40% 1,6 de redução no consumo de água por meio de reúso e aproveitamento da água de chuva em obras

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

172/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

10

6

• Possui ouvidoria para acolher, registrar, responder e esclarecer todas as críticas e sugestões dos funcionários e atendê-las quando procedentes • Assegura igualdade de tratamento e de condições de trabalho entre os funcionários da empresa e os trabalhadores terceirizados

A Promon em números da receita operacional de 2010 foi destinada à gestão ambiental, o correspondente a 2,9 milhões de reais

8,8

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

milhão de reais

investidos em programas de educação e cultura em 2010, 33% mais que em 2009

14

milhões de reais

para a capacitação dos funcionários, ou 22% dos investimentos totais de 2010


Daniela Toviansky

Luiz Fernando Rudge, presidente do Grupo Promon: estrutura para realizar estudos de impacto ambiental dos projetos

173

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Suzano

empresa-modelo

Um conselho, por favor Para aprimorar sua estratégia de sustentabilidade, a Suzano forma um grupo com conselheiros independentes externos

No último dia

29 de julho, seis “intrusos” ouviram o executivo Antônio Maciel Neto, presidente da fabricante de papel e celulose Suzano, apresentar o plano diretor de sustentabilidade da empresa. Como estavam ali para dar palpites, recomendaram que o plano, lançado neste ano com diretrizes em seis áreas críticas — ambiental, social, econômica, governança, inovação e comunicação —, tivesse ligação mais direta com o negócio, para cumprir sua meta de incorporar a sustentabilidade nas decisões estratégicas. Na verdade, os “intrusos” haviam sido convidados a integrar, ao lado de oito funcionários da Suzano, o conselho consultivo de sustentabilidade da empresa. O órgão se reunirá a cada quatro meses para debater como a companhia lidará com os principais impactos econômicos, sociais e am-

bientais de suas atividades. “Crescemos 120% nos últimos seis anos”, diz Maciel. “E, como planejamos crescer muito nos próximos anos, sentimos necessidade de incluir a voz externa em nossa estratégia, para opinar sobre o que já fizemos e como devemos atuar daqui para a frente.” Os conselheiros externos, que são remunerados por reunião, foram escolhidos no mundo acadêmico, no terceiro setor e em outras empresas. Entre os integrantes estão o agrônomo Carlos Cerri, especialista em emissões de gases de efeito estufa na agricultura, e Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto Ethos. Todas as sugestões e críticas dos conselheiros são registradas em ata, para que não fiquem sem resposta. “Não tenho dúvida de que iremos atender à maior parte das recomendações do novo conselho”, diz Maciel.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 • FATUrAMENTo EM 2010 5,2 bilhões de reais

• SETor Papel e celulose

• FUNcIoNárIoS 4 622

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* Gestão de riscos SUzANo

9,4

investimentos sociais

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

5,5

• A política de gestão de riscos adota critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo, monitorados periodicamente • Possui um plano de contingência que prevê ações para evitar e gerenciar crises de natureza ambiental, social e econômica

A Suzano em números

42

256

milhões de reais mil hectares

foram investidos em 2010 são destinados à preservação em projetos comunitários de ambiental, 40% da área total educação, cultura e agricultura de propriedade da empresa * Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

174/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

10 9,7

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,2

• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável na comunidade do entorno, levando em conta as peculiaridades locais • Os investimentos sociais realizados pela empresa têm verba definida em orçamento anual, geridas de acordo com critérios preestabelecidos

175% 87%

de aumento nos investimentos dos funcionários ambientais em 2010 em participaram em 2010 de um relação ao valor destinado treinamento para divulgar no ano anterior o código de conduta da empresa


Daniela Toviansky

Antônio Maciel Neto, presidente da Suzano: críticas e sugestões de fora vão ajudar a definir os próximos passos da empresa

175

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


⁄Sabin

empresa-modelo ⁄⁄⁄categoria PME ⁄⁄⁄

A família está crescendo O desafio do Sabin é expandir sua rede de laboratórios sem perder a qualidade da gestão de recursos humanos que foi uma de suas marcas nos últimos anos

O laboratório Sabin,

de Brasília, começou há 27 anos com quatro funcionários. Hoje tem quase 1 000 empregados, é a maior empresa do setor na Região Centro-Oeste, mas mantém características de uma empresa familiar. Um exemplo é o programa Eu cuido dos meus pais, criado há dois anos. Ele permite que cada funcionário, no mês de seu aniversário, ofereça um check-up de saúde completo aos pais, sem custo. Há várias outras iniciativas como essa que fortalecem a ligação entre a empresa e os funcionários, desde auxílio-casamento até gratificações por tempo de serviço — com 20 anos de trabalho, o funcionário ganha um carro zero-quilômetro. Outra peculiaridade do Sabin é que as mulheres representam 74% do quadro de funcionários. “Somos uma empresa com alma

feminina, e as mulheres costumam ser mais preocupadas com o bem-estar dos outros”, diz Sandra Costa, diretora técnica e uma das fundadoras da empresa, ao lado da sócia Janete Vaz. A preocupação com a qualidade de vida se estende à comunidade, com vários projetos nas áreas de saúde, educação e esporte. Com a rápida expansão dos últimos anos — o faturamento deve crescer 60% neste ano —, o desafio é manter a qualidade da gestão de pessoas que faz a empresa figurar, há sete anos, no guia Melhores Empresas para Você Trabalhar, publicado por Você S/A e EXAME. O Sabin possui hoje 70 unidades no Distrito Federal, Goiás, Bahia, Amazonas e Minas Gerais. Até 2020, o plano é estar presente em todos os estados. “O maior desafio é crescer sem perder as nossas características”, diz Sandra.

Sobre a empresa • Quando foi premiada

2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011

• SETor Serviços

• FATUrAMENTo EM 2010 145 milhões de reais

• FUNcIoNárIoS 936

Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa* planejamento ambiental SABIN

9,2

investimentos sociais

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

7,2

MéDIA Por qUE SE DESTAcoU

• Possui programas para o gerenciamento do desempenho ambiental, tendo como metas o uso sustentável de recursos naturais, a redução da emissão de resíduos, a produção mais limpa, a busca da ecoeficiência, a prevenção à poluição e a conservação da biodiversidade

O Sabin em números

19%

do faturamento é gasto com os funcionários, incluindo salários, benefícios e participação nos resultados

388

mil reais

foram investidos em 2010 em patrocínios de projetos culturais, sociais e esportivos

* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado

176/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011

9,310

0 |||||||||1 |||||||||2 |||||||||3 |||||||||4 |||||||||5 |||||||||6 |||||||||7 |||||||||8 |||||||||9 |||||||||1 0

6,2

• Os investimentos sociais são precedidos de consultas às comunidades afetadas pela iniciativa e levam em conta o potencial de autossuficiência financeira dos projetos e a aprendizagem gerada pela iniciativa para a formulação e o aprimoramento de políticas públicas

10% 480

dos funcionários receberam ajuda financeira em 2010 para cursos técnicos, de graduação ou pós-graduação

projetos

de saúde e educação realizados em 2010 por meio do Instituo Sabin, mantido pelo laboratório


Daniela Toviansky

Sandra Costa, diretora técnica do Sabin: incentivos aos funcionários incluem um carro zero-quilômetro após 20 anos de serviço

177

Novembro 2011/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/


Sven Torfinn

IMAGEM Infraestrutura

Os sem-energia Moradores de Offaka, no interior de Uganda, estudam sob a luz de um sistema de energia solar desenvolvido pela Philips. Mais de um século depois da invenção da lâmpada incandescente pelo americano Thomas Alva Edison, ainda há 1,4 bilhão de pessoas — 20% da população mundial — sem acesso regular à energia elétrica em suas casas. São pessoas que sofrem de “pobreza de energia”, segundo relatório divulgado no início de novembro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Um dos grandes desafios nos próximos anos é promover o necessário acesso desses indivíduos à energia elétrica sem aumentar ainda mais os danos ao meio ambiente — a eletricidade e a geração de calor são responsáveis por 40% das emissões globais de gás carbônico.

178/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2011


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14/11/2011 11:35:37


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