Visite o Catetinho Palรกcio de Tรกbuas
Material Educativo
Acreditamos que cultura, política e patrimônio andam juntos Estar em contato com os museus e com a história que eles têm para nos contar é uma oportunidade de conhecer melhor o lugar em que vivemos. Conhecer a arquitetura, a paisagem, os objetos, as pessoas, os documentos e os testemunhos que fizeram parte da história de Brasília nos ajudam a pensar e encontrar soluções para uma cidade e para um mundo melhor, mantendo viva a energia que impulsionou a construção da Capital.
Boa viagem
Tríade Patrimônio Turismo Educação
A história que iremos contar é cheia de aventuras É como se fosse a trama de um tecido feito com várias linhas:
tem a história do Brasil, pessoas de diversas origens, “causos”, amizades, ousadia e muito trabalho.
Essas linhas se entrelaçam no início da construção da nova Capital
com a edificação da primeira sede de governo e moradia do presidente Juscelino Kubitschek, o Palácio de Tábuas.
Mas quem começou a tecer essa trama coletiva?
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Fala Juscelino! Juscelino Kubitschek, mineiro de Diamantina, formou-se médico e trabalhou nessa profissão até quando a vida na política permitiu. Parecia saber que tinha uma missão muito importante pela frente e isso pedia pressa. Em janeiro de 1956, com 47 anos, Kubitschek assumiu a Presidência da República. Já em 19 de setembro desse mesmo ano, a lei que fixava os limites da futura capital foi validada. A partir daí, a construção de Brasília estava para começar... E sobre isso, JK, como também o conhecemos, diz: “Embora fosse uma ideia em marcha, Brasília, àquela altura, não deixava de ser uma iniciativa abstrata. Nem ao menos dispunha eu ali de teto, sob o qual me abrigar. Nas minhas viagens de inspeção, ia e vinha, cobrindo um percurso de oito horas de voo e, por isso, só me restava uma estreita faixa para conversar com os pioneiros que ali já haviam começado a trabalhar.”
Histórias Paralelas JK ingressou na política em 1935, como deputado federal, quando tinha apenas 26 anos. E, com 31 anos, era prefeito de Belo Horizonte. No período em que foi presidente, o Brasil experimenta um governo de liberdade e progresso, a bossa nova encanta o mundo, o cinema novo nasce e a arquitetura brasileira ganha projeção mundial.
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No início, havia o Planalto Central, no interior do Brasil, no sertão, no Estado de Goiás Na vastidão do cerrado, é escolhido o local definitivo para o surgimento de Brasília Olhe o que JK disse sobre este território: “Tudo era grande na região. A planície infinita. Um carrascal que parecia não ter fim. O cerrado cobrindo a terra vermelha, só interrompido pelos cursos d’água, que corriam em diferentes direções.” E tudo isso sob um maravilhoso céu azul.
Histórias Paralelas A transferência da capital para o Planalto Central é determinada na primeira Constituição Brasileira de 1891. Uma comissão foi instituída em 1892 para pesquisar a região e determinar a área destinada à construção da futura Capital. A Missão Cruls, como ficou conhecida, realizou estudos inéditos sobre as particularidades deste território e posicionou no mapa do Brasil a localização do Distrito Federal. Depois dela, existiram outras comissões e estudos até a escolha definitiva da localização de Brasília.
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A aventura começa Um novo movimento em direção ao interior do Brasil
Histórias Paralelas Outubro de 1956: demarca-se a área que serviria como base para as obras. Ficou conhecida por “núcleo pioneiro”. Não era simples chegar ao coração do cerrado: o trajeto, de quem vinha do Rio de Janeiro, incluía viagem de avião teco-teco e jipe por meio de trilhas.
E, após a chegada, surgem as primeiras perguntas, básicas para a vivência em território tão distante dos grandes centros: Como se comunicar com o Rio de Janeiro, com o Palácio do Catete? E como chegar aqui mais rapidamente? É construída uma pista de pouso de aviões. Alô, alô! Começa a funcionar o serviço de rádio da Panair, um serviço de telecomunicações da aviação presente nas áreas mais remotas do país.
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E inicia a construção da primeira obra de Brasília, a residência provisória do presidente JK, o CATETINHO!
O Catetinho foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e construído pelo engenheiro Juca Chaves. E tudo realizado, é claro, com a preciosa ajuda dos operários. O ritmo de trabalho era intenso! Foram dez dias de muito trabalho. Afinal, a meta era construir Brasília em três anos! O grupo de operários encarregados da construção acomodou-se na Fazenda do Gama e, sob a sombra de uma árvore conhecida por “pau de vinho”, de densa folhagem e flores amarelo-dourado, montaram sua oficina de carpintaria. A situação era precária e a serra funcionava à base da energia que provinha de um jipe. Um pequeno gerador trouxe a luz elétrica, com o auxílio de um trator. Tudo isso foi feito no dia da chegada! E havia ainda muito a ser feito. As obras não podiam parar.
Histórias Paralelas Foi no Juca’s Bar ou em pleno ar? A história do Catetinho, como outras histórias, está cercada de narrativa. Estas apresentam em comum a vontade de JK em acompanhar de perto a construção. Em uma delas, diz-se que foi no Juca’s Bar, no Rio, de propriedade do engenheiro José Ferreira de Castro Chaves, o Juca Chaves, que nasceu a ideia do Catetinho, como local de trabalho e residência do presidente. Em outra versão, conta-se que o Catetinho nasce durante um dos voos do presidente e de sua comitiva, envolvendo o mesmo grupo que frequentava o Juca’s Bar.
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Os candangos Se o Catetinho era a residência do presidente, onde moravam os que vieram construir Brasília? De onde eles vinham? Em torno do local previsto para ser a Capital, estavam os habitantes de cidades como Luziânia, Formosa e Planaltina, que vieram trabalhar nas obras. Mas o movimento de migração era intenso e trouxe pessoas vindas de várias partes do Brasil. Estes trabalhadores foram morar na Vila Operária, depois Candangolândia, e no Núcleo Bandeirante, que recebeu o nome de “Cidade Livre”, onde também funcionava o comércio e eram identificados os que chegavam aqui. Era o point da época.
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e os habitantes locais Por que Cidade Livre? Havia duas razões para que a cidade recebesse esse nome. Imaginava-se que ela teria três anos de existência, tempo estimado de duração da construção da Capital. Nesse período, os comerciantes podiam fazer uso do terreno, sem custos, e também não precisavam pagar impostos.
Histórias paralelas Povoando o oeste do Brasil O desejo de povoar o interior do Brasil é ideia antiga. Já no século XIX, Hipólito José da Costa escrevia sobre o assunto em matérias do antigo Correio Braziliense.
Em seu acervo, encontram-se objetos relacionados aos imigrantes que vieram para colaborar com a construção e que acabaram por fixar residência na Capital. Esses imigrantes ficaram conhecidos como “candangos”, palavra de origem africana.
Já o movimento das pessoas para ocupar o sertão goiano passa a ocorrer, com mais intensidade, na década de 1930, quando Goiânia é construída e se torna a nova capital goiana, substituindo Goiás, cidade colonial.
Fica na via EPIA Sul, perto do Zoológico e em frente à entrada principal do Núcleo Bandeirante. Lá encontramos, preservados, alojamentos e a sede do primeiro hospital de Brasília, o HJKO, inaugurado em 1957.
Em 1940, a migração para o sertão do país é um fato consumado.
Que tal visitar também o Museu Vivo da Memória Candanga?
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Entre o Catete e o Catetinho E por que Catetinho? Por que Palácio de Tábuas? Antes de Brasília ser inaugurada e ganhar sua sede definitiva – o Palácio do Planalto –, uma construção provisória serviu como espaço residencial e de despachos para o presidente: o Catetinho, também conhecido como Palácio de Tábuas, por ser uma edificação simples, feita de madeira. Recebeu o nome de Catetinho, dado pelo músico Dilermando Reis, em homenagem ao Palácio do Catete. O Palácio do Catete, sede do Poder Executivo quando a capital era o Rio de Janeiro, é desativado como espaço político e transforma-se no Museu da República. Isso ocorre, oficialmente, em 1960, mesmo ano da inauguração de Brasília.
Histórias paralelas Dilermando Reis era violonista e compositor paulista. Acompanhou JK na empreitada de construir Brasília. Foi, junto com o compositor José Fortuna, o autor da valsa Sob o céu de Brasília, que foi entoada no dia da inauguração. “…Tuas noites são lindas e no céu anil forrado de estrelas o Cruzeiro brilha…” JK gostava tanto de serestas e dança que foi apelidado de “pé de valsa”. Dilermando Reis
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Bernardo Sayão desbravador do sertão Entre as pessoas que se instalaram no Planalto Central antes da mudança da capital para a região, estava Bernardo Sayão, engenheiro agrônomo, que conhecia muito bem as terras goianas. Foi ele que recebeu a primeira visita de JK e sua comitiva para visitar o local onde seria construída a Capital. Sayão era energia pura. Estava sempre bem disposto, mesmo quando estava envolvido em tarefas difíceis e arriscadas. Sobre ele, JK dizia: “era bom por natureza e bravo por instinto”. Ele foi fundamental para alavancar as obras da nova Capital. Seu empenho e prontidão para o trabalho o posicionaram como um dos diretores da Novacap, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil.
Histórias paralelas A família de Sayão foi a primeira a morar em Brasília. Como gostava de ficar próximo aos canteiros de obras, foi morar na Vila Operária ou Vila dos Candangos, agora conhecida como Candangolândia.
O dia em que a cidade parou Em 17 de janeiro de 1959, Brasília era erguida em ritmo frenético, as obras aconteciam a todo vapor. Eis que um fato trágico, a morte de Bernardo Sayão, na construção da Belém – Brasília, toma conta da cidade. As obras em Brasília param pela primeira vez e milhares de candangos, que com ele conviveram e trabalharam desde 1956, acompanham seu sepultamento.
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Oscar Niemeyer o inventor das formas Niemeyer vem para o Centro-Oeste, quando a obra do Catetinho principiava. E, sobre esse momento inicial, o arquiteto escreve: “Gostava de ficar conversando com o Rochinha (Emídio Rocha), depois do almoço, ambos deitados em redes debaixo das mangueiras, integrados naquela santa paz do Planalto que até a natureza, quieta e seca, parecia respirar. Como dois meninos, ríamos de tudo, contando anedotas, falando do Rio e dos amigos, como se o tempo tivesse voltado atrás, como se a meninice de novo nos envolvesse num recreio permanente, sem os problemas que já adultos nós muitas vezes provocamos.”
Histórias paralelas Quando a história encontra a arquitetura Na arquitetura, podemos perceber traços da história dos povos. E em Brasília isso fica bem evidente. Niemeyer, quando projeta o Catetinho, pensa em estruturas simples e claras, já expressando as ideias sobre a nova Capital, antenada com os novos tempos, modernos. Sabe quais são as duas partes do Catetinho que caracterizam a arquitetura como moderna? Os pilotis, ou o conjunto de colunas que sustentam o prédio, deixando livre a parte térrea, e o pavimento superior, em forma de retângulo.
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O cerrado inspira a arte: sons da construção Sabe-se que um dos fatores decisivos para a demarcação da área onde ficaria o Catetinho foi a presença de uma fonte chamada Olhos d’água, que na época abastecia a Fazenda do Gama. E, da fonte, que é de onde a água brota, brotou Água de Beber, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Uma música que relaciona o amor à água fresca e corrente. E camará? O que é? Era uma forma abreviada que o povo da região usava para falar “camarada”... JK convidou Tom e Vinícius para comporem a Sinfonia da Alvorada, a música para a inauguração da Capital. Simpatizantes do movimento modernista, os dois aceitam o desafio e embarcam para o Planalto. Hospedam-se no Catetinho e lá embarcam no clima da construção da Capital. Foram dez dias de inspiração, música e poesia.
Você sabia?
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Água de Beber (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) Eu quis amar, mas tive medo E quis salvar meu coração Mas o amor sabe um segredo O medo pode matar o seu coração
Água de beber, água de beber, camará
Eu nunca fiz coisa tão certa Entrei pra escola do perdão A minha casa vive aberta Abri todas as portas do coração
Água de beber, água de beber, camará
Eu sempre tive uma certeza Que só me deu desilusão É que o amor é uma tristeza Muita mágoa demais para um coração
Água de beber, água de beber, camará
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10 de novembro de 1956: o Catetinho é inaugurado!
“A recepção foi festiva. Do aeroporto provisório, segui diretamente para o Catetinho, onde grande número de pioneiros me aguardavam. Um temporal desabou sobre o local nesse momento, fazendo com que a festa, que teria lugar ao ar livre, fosse realizada no interior do Palácio de Tábuas. Serviu-se um almoço, com mesinhas espalhadas pela casa inteira, inclusive na varanda. E, em seguida, realizei ali o meu primeiro despacho. À noite, depois do jantar, teve lugar uma serenata com os pioneiros – a palavra candango ainda não havia sido criada – entoando o ‘Peixe-Vivo’ e o ‘Canto da Nova Capital’ (música de Dilermando Reis e letra de Bastos Tigre). O Catetinho foi, pois, um símbolo. Foi ele a flama inspiradora que me ajudou a levar à frente, arrastando o pessimismo, a descrença e a oposição de milhões de pessoas, a ideia de transferência da sede do Governo.”
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Você sabia? O Catetinho passou por mudanças depois de sua inauguração. Sim, uma nova edificação foi construída, nos moldes da primeira, em madeira e suspensa por pilotis, porém maior, mais confortável e junto à mata. Ficou conhecida como segundo Catetinho. Hoje essa edificação não existe mais, ela foi desmontada e levada para outro local. Imagine como seria bacana se pudéssemos visitar os dois Catetinhos…
JK tinha mesmo uma visão futurista. A pedido dele, o Catetinho é tombado em 1959. E, assim, a memória do lugar e desse momento fundamental da construção de Brasília é perpetuada para as gerações futuras.
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Imagens utilizadas nesta publicação Capa: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Autor Mario Fontenelle Catetinho, Brasilia-DF, 1956-1960. Página 5: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Construção do Catetinho, Engenheiro Juca Chaves, Brasília-DF, 1956. Página 6: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Operários de Obras na Esplanada dos Ministérios, Brasília-DF, 1957. Página 7: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Autor Mario Fontenelle, Operários próximo ao Congresso Nacional Brasília-DF, 1959. Página 9: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Catetinho, Cesar Prastes, Brasília-DF, 1956. Página 11: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Autor Mario Fontenelle, Oscar Niemeyer, 1958. Página 15: Foto Arquivo Público do Distrito Federal, Inauguração do Catetinho, Brasília-DF, 1958.
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Direção Márcio Menezes
Coordenação do Programa Educativo Patricia Herzog Tatiana Petra
Direção Musical Mateus Ferrari
Curadoria e Textos Renata Azambuja Produção Executiva Nísia Ribeiro Sacco Acessoria de Comunicação e Imprensa Taís Salbé Identidade Visual e Projeto Gráfico Rafael Oops - Criolina Audiovisual e Internet TMTA Comunicação Revisão de Conteúdo Histórico Jarbas Silva Marques Revisão de Texto Cida Taboza Taís Salbé
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Agradecimentos Criolina Equipe do Catetinho: Aurentino Costa Claudia Rachid Machado Geraldo Correia de Araújo José Marinho de Espíndola Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal Jarbas Silva Marques Luisa Villa-Verde Superintendência do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (SUPHAC)
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