Carta Aos Professores do DAU-UFES pelos 40 anos de sua história

Carta Aos Professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFES (DAUUFES) pelos 40 anos de sua história.

Vitória, 28/11/2019

Meus queridos Mestres,

Venho por meio desta, de coração aberto e franco, declarar os meus sinceros agradecimentos a vocês, professores do DAU-UFES, de forma coletiva e de forma individual.

De formar coletiva, expresso minha gratidão por tudo que aprendi sobre os meandros da arquitetura e da cidade, e gratidão por aprender a lutar pela cidade como um Arquiteto-Urbanista!

Nos bancos dessa Escola, e principalmente nos corredores conformados por nosso pequeno, mas acolhedor, pátio central, vários foram os momentos de aprendizagem que escapavam das salas de aula em longas conversas sobre arquitetura, urbanismo, a vida e a sociedade.

Sou devedor de tudo o que aprendi com vocês, e como forma de pagamento, compartilho todo esse conhecimento com as gerações de alunos, me pondo agora no lugar de professor, pois como sempre digo, o que sei não me pertence, e em meu papel como professor de Arquitetura e Urbanismo, cabe-me dividir esse saber com os futuros Arquitetos-Urbanistas.

De forma individual, por sua vez, e se me permitirem, expresso minhas reverências a cada professor do DAU-UFES que passou por minha vida, sabendo de antemão do risco de esquecer alguém por descuido meu. Assim, aos meus Mestres com carinho, eu agradeço1: - Ao Prof. André Abe, Sensei de todos nós, por sua paciência e dedicação em nos ensinar a cidade como se fosse uma conversa sobre as coisas da vida, sobre o passado, o presente e o futuro com sua fala tranquila e sempre cheia de sabedoria. É sempre um prazer encontrá-lo para uma longa conversa ou um chope regado a um “causo” que remete à conversa. Obrigado, Professor!

- Ao Prof. Augusto Alvarenga, que foi o único professor de projeto que me deixou de prova final (risos), merecidamente deixo aqui bem claro, me ensinando a importância dos prazos, sejam os do meio acadêmico ou profissional, pois eles têm custos que não devem ser desejados. Obrigado, professor!

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. Os nomes do Professores foram colocados em ordem alfabética.

- À Prof.ª Clara Miranda, por ter me ensinado, já no primeiro semestre nas aulas de estética, a importância da leitura na vida do arquiteto e na construção de sua arquitetura. Clara, que sempre está um passo à nossa frente, é uma grande inspiração no campo da teoria e da política, principalmente ao demonstrar que a luta ainda é possível e necessária. Obrigado, Professora!

- À Prof.ª Cristina Engel de Alvarez, que me mostrou enquanto estudante, que o Arquiteto não tem a obrigação de saber tudo, mas tem a obrigação de pesquisar. As pesquisas de Cristina levaram a Arquitetura e o Urbanismo para fora do tecido urbano, extrapolaram a cidade, alcançando alhures e nos mostrando o quão somos importantes para o mundo. Obrigado, Professora!

- Ao Prof. Eduardo Barbosa, por suas longas conversas sobre os programas de necessidades de cada projeto que desenvolvemos em sala de aula, pautados por sua longeva experiência como Arquiteto-Urbanista, ensinando-nos como funcionam os espaços, suas relações e como dimensioná-los (suas aulas sobre espaços de restaurantes foram clássicas). Obrigado, Professor!

- À Prof.ª Eneida Mendonça, por me mostrar que uma intervenção urbana deve ser pautada na criatividade, com responsabilidade, mas não presa à simplificação imposta pelo mercado, e além disso, por me abrir os olhos aos conceitos da paisagem, principalmente ao longo do Mestrado, ensinamento esse que hoje compartilho com meus alunos. Obrigado, Professora!

- Ao Prof. Jose Francisco Bernardino, o “Chico”, que fez o favor de desconstruir meu projeto de pesquisa no Mestrado (risos), mas prontamente o reconstruiu em um belo tema pelo qual me apaixonei. Obrigado, Professor!

- Ao Prof. Kleber Frizzera, que em minha juventude enquanto estudante de arquitetura, perguntei-o o que eu precisava ler para ser um arquiteto melhor, me respondendo de pronto: “vá ler filosofia, meu filho!”. Foi o que fiz, Professor! E ainda leio para meus alunos. Obrigado, Professor!

- À Prof.ª Luciene Pessotti de Souza, colega de pesquisas que muito me ajudou, primeiramente com seus textos em minha dissertação de Mestrado e em minhas pesquisas acadêmicas, principalmente a que desenvolvi sobre o Distrito de Itapina, em Colatina. O acolhimento ao meu trabalho e equipe e o compartilhamento de seu próprio trabalho foram fundamentais para o caminhar dessa bela pesquisa que desenvolvi, entre os anos de 2017 e 2018. Obrigado, Professora!

- Ao Prof. Marco Romanelli, o “Roma”, pelas longas conversas no corredor ou sentados na cantina de Dona Elza e seu Zé, contando histórias sobre Arquitetura e em 2016, na Premiação do IAB-ES, pela melhor crítica que eu poderia ter recebido por um projeto meu. Obrigado, Professor!

- À Prof.ª Martha Campos, minha eterna orientadora, por tudo que você me ensinou, pela paciência e pela defesa de meu trabalho e escritos, e por fim, por ser essa pessoa por quem me espelho nas orientações, agora enquanto Professor. Mesmo sem ter sido

seu aluno em sala de aula, Professora, suas orientações (no Projeto de Graduação e no Mestrado) foram e são as referências para minhas próprias orientações com meus alunos de Graduação e, ao longo desses anos, em todos meus artigos, ensaios e relatórios escritos. Professora, muitíssimo obrigado!

- Ao Prof. Milton Esteves, que mesmo sendo meu Professor somente no Mestrado, me proporcionou ótimos debates teóricos sobre a cidade e o contemporâneo, o que estendo aos meus alunos, é lógico! Obrigado, Professor!

- Ao Prof. Nelson Porto, o qual também somente fui conhecer no Mestrado, pelas suas aulas de história da Arquitetura, suas orientações fundamentais para minha dissertação e pelos importantes apoios com seus textos nas pesquisas acadêmicas que desenvolvo.

Seus livros, que os tenho com muito carinho, são fontes de pesquisas e referências aos quais sempre volto. Obrigado, Professor!

- Ao Prof. Paulo Vargas, do qual, depois de formado me lembro de duas passagens importantes ao encontrá-lo: primeiro, em uma palestra onde discutíamos sobre a arquitetura sustentável e em uma simples frase resumiu tudo: “a boa Arquitetura já é sustentável!”. E isso, é um fato que esquecemos nas últimas décadas. E a última, uma longa conversa sobre o ensino da Arquitetura e do Urbanismo e da importância de nós professores de outras escolas em unir no ensino a prática e a teoria, fato próprio de nosso perfil profissional. Nesses últimos dez anos, Professor, eu venho lutando por isso, a exemplo de vários de meus colegas que dividem o dia-a-dia do trabalho do ArquitetoUrbanista com o ensino. Obrigado, Professor!

- À Prof.ª Renata Hermanny, pela melhor reprimenda que eu poderia receber, já no Mestrado e com meus cabelos brancos (risos). Foi aquela sacudida que te faz abrir os olhos, buscar lá no seu interior exatamente o que você queria dizer e te dar o gancho que precisava para desenvolver toda sua pesquisa. Como falo com meus alunos, às vezes a gente precisa de uma chacoalhada na vida para nos colocar no prumo. E naquele momento, ela foi fundamental! Obrigado, Professora!

- Ao Prof. Roberto Simões, o “Bubu” que em poucas palavras, durante a primeira etapa de desenvolvimento de meu Projeto de Graduação, lá pelos idos de 1996-1997, me mostrou que o caminho que eu estava seguindo estava correto. Projeto esse, teórico, mas que pautou toda minha vida profissional e meu pensar a cidade e sua arquitetura.

Obrigado, Professor!

- Ao Prof. Rogerio Almenara, que também, mesmo eu não sendo seu aluno, foi o primeiro a dar os parabéns pelo meu primeiro artigo publicado, em 1999, na Revista Imagem Urbana da amiga Ana Paula Lyra, mostrando que eu estava no caminho certo em escrever o que pensava. E eu continuei, Professor! E, obrigado por isso.

- E, por último, mas não menos importante, meus agradecimentos ao Prof. Tarcísio Bahia, por me mostrar, mesmo eu ainda sendo um jovem estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFES, nas disciplinas de Projeto de Arquitetura, que por mais bonito que a gente ache nossos projetos, por mais belos sejam os desenhos que a gente faça, de

nada vale tudo isso se o edifício não conseguir ficar em pé. As estruturas são parte fundamentais de nossos projetos, parte de nossa tectônica e das Firmitas de Vitruvius, e essa experiencia vivida em sala de aula, com você Professor, eu compartilho com meus alunos. Obrigado, Professor!

Obrigado queridos Mestres, pois essas memórias que carrego de cada um de vocês, moldaram minha Arquitetura, meu pensar a cidade e o caráter de minha produção e de meu ensino. Pode parecer piegas, mas escrevo essas palavras sobre lágrimas, pela honra que tive em ser seu aprendiz.

Reflito em sala de aula um pedaço de cada um de vocês e dos ensinamentos passados, que repito, não me pertencem. As experiencias vividas nos bancos dessa Escola de Arquitetura e Urbanismo são as que almejo ensinar, reinterpretadas em novas experiências para meus alunos.

A vivência, a troca e os ensinamentos que recebemos são coisas que não podem ser tomadas de nós. Entramos em uma segunda década do Séc. XXI onde até as obviedades incontestes estão sendo contestadas por um mar de ignorâncias, crueldades e ódios. O que me pauta a vida, o pensar e o pé no chão das fantasias atuais deve-se, em boa medida, o que aprendi com vocês.

Sigo em frente resoluto de meus ideais de uma Arquitetura e de uma Cidade mais justa, formada de lugares democráticos e coletivos, onde a cooperação será a palavra final, e não a competição. Defendo o ensino que tive nessa Escola, bem como o papel fundamental das Universidades Públicas para o futuro do Brasil, pois, sem elas hoje, nós professores de outras escolas não poderíamos exercer essa nobre, antiga e hoje atacada atividade que é o ensinar.

Que esses 40 anos se perpetuem nas gerações vindouras. Que os ensinamentos dos Mestres, além de suas próprias existências, sejam nossos referenciais éticos e morais para essa cidade e sociedade do séc. XXI. E por fim, obrigado e obrigado!

X Fabiano Vieira Dias, Msc Arquiteto-Urbanista e Professor