A Hipertensão Arterial

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Guias do Paciente




Os Guias do Paciente são uma publicação EDUdigital Av. António Augusto de Aguiar, n.º 24, 3º 1050-016 Lisboa tel: +351 214391476 geral@edudigital.pt 2014. EDUdigital Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução desta obra por qualquer meio (fotocópia, offset, fotografia, etc.) Redação: Dr. Philippe Violon, neurologista Supervisão: Dr. M. Van Zandijcke, neurologista © Vivio Dr. M. Gonce, neurologista Tradução: Sofia Sondergaard 3DJLQD R H 'HVLJQ ) ELR 1HYHV

1.ª. Edição 2-009 2.ª Edição 2014 ISBN 978-989-97758-7-9


A HIPERTENSÃO ARTERIAL

Compreender e tratar


Índice Introdução O que é a tensão arterial? ................................ 7 A tensão arterial normal ................................... 10

Compreender O que é a hipertensão arterial?......................... 11 Como é que se mede a tensão arterial?.............13 Classificação da pressão arterial ...................... 14 As causas da hipertensão arterial..................... 19 Os fatores que favorecem a hipertensão arterial........................................... 20 As hipertensões arteriais essencial e secundária......................................................... 22 As consequências da hipertensão arterial.......... 25 Uma doença silenciosa...................................... 26 A hipertensão, um fator de risco cardiovascular entre outros....................................................... 33

Diagnóstico Balanço inicial de uma hipertensão................... 35 Porquê fazer um balanço da hipertensão?......... 36 O exame básico: explicações............................. 37 Os exames complementares.............................. 41 A monitoria ambulatória da pressão arterial...... 42


Ecografia cardíaca............................................. 43 Ecografia das artérias........................................ 45 Ecografia das artérias renais............................. 46 Análises hormonais........................................... 46

Tratar O tratamento da hipertensão arterial................. 47 Um modo de vida adaptado.............................. 51 O tratamento medicamentoso da hipertensão.... 54 O tratamento dos riscos associados.................. 59 10 recomendações aos pacientes hipertensos... 59 Testemunhos..................................................... 64

Na prática Algumas páginas da internet............................. 70 Glossário........................................................... 72


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Introdução

Introdução A hipertensão arterial é insidiosa. Ela é raramente responsável por sintomas, mas pode, no entanto, prejudicar a longo prazo e de maneira irremediável os órgãos como o coração, o cérebro ou os rins. Esse é o grande perigo da hipertensão arterial: não se repara nela, até que seja demasiado tarde… Muitos de nós estamos preocupados. Poderão ser mesmo subestimados, sendo que, perante a ausência de sintomas, muitas pessoas ignoram que sofrem de hipertensão. A probabilidade de se tornar hipertenso aumenta muito com o envelhecimento. Os médicos calculam, desde logo, que um homem com menos de 50 anos em cada três virá a sofrer de hipertensão. A hipertensão arterial atinge cerca de 70% das pessoas com mais de 70 anos de idade.


Introdução

Entre as pessoas que sabem que são hipertensas, muitas não são tratadas, enquanto outras não beneficiam de um tratamento ótimo. Perante a ausência de um controlo estrito da tensão arterial, os efeitos da hipertensão juntam-se aos efeitos dos outros fatores de risco, como por exemplo a diabetes e o excesso de colesterol, para precipitarem o surgimento de doenças cardiovasculares como por exemplo o enfarte do miocárdio (cardíaco), o acidente vascular cerebral… A despistagem da hipertensão e a aplicação de um tratamento eficaz são, por isso, fundamentais. A hipertensão arterial é mais frequente nas pessoas idosas, mas não constitui necessariamente um fenómeno normal e inevitável do envelhecimento. Tendo em conta a maior longevidade das mulheres, para além dos 65 anos, encontramos mais mulheres do que homens na população de hipertensos.

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Compreender


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O que ĂŠ a tensĂŁo arterial?

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Compreender A tensão arterial normal A tensão (ou pressão) arterial é a pressão exercida pelo sangue nas paredes das artérias. Esta pressão mede-se com a ajuda de um medidor de tensão (esfigmomanómetro em linguagem médica). Ela não é constante e muda de um batimento cardíaco para outro, como uma onda no mar. Esta onda é caracterizada por dois valores, o máximo (a tensão arterial sistólica, que representa a crista da onda) e o mínimo (a tensão arterial diastólica, que representa a curva da onda). Tensão sistólica Constitui o valor mais elevado. Corresponde à pressão existente nas artérias quando o coração se contrai, ou seja, quando o coração envia o sangue para o resto do corpo. Tensão diastólica Constitui o valor mais baixo. Corresponde à pressão existente nas artérias entre duas contrações cardíacas, quando o músculo cardíaco se descontrai e se enche novamente de sangue.


Compreender A tensão arterial exprime-se em milímetros (ex.: 140 para a tensão arterial sistólica / 90 para a tensão arterial diastólica) ou em centímetros de mercúrio (abreviação: Hg) (ex.: 14/9). Variações normais Num mesmo indivíduo, a tensão arterial varia de um dia para o outro e ao longo do dia. Assim, a tensão diminui geralmente durante o sono e volta a subir ao início da manhã. Ela aumenta sob o efeito de certas emoções (raiva, medo, dor, excitação).

O que é a hipertensão arterial ? Quando os valores da tensão se mantêm demasiado elevados de forma permanente, ou seja, quando a pressão sistólica é de > 140mmHg e/ou quando a pressão diastólica é de > 90mmHg, falamos de hipertensão arterial. Uma elevação anormal de apenas um dos dois valores é, por isso, suficiente para falar de hipertensão arterial. Imaginamos, muitas vezes erradamente, que ter um dos dois valores elevados é menos grave do que ter uma elevação simultânea da tensão arterial sistólica e diastólica.

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Compreender Efeito «da bata branca» A tensão pode estar elevada no momento da consulta médica, enquanto está normal em casa. Este fenómeno ocorre em cerca de 15% da população. Fala-se do efeito «da bata branca». A hipertensão «da bata branca» é certamente menos perigosa que uma hipertensão permanente e não necessita de tratamento com medicamentos. Ela justifica contudo a adoção de um modo de vida saudável e seguimento médico (risco mais elevado de desenvolver uma hipertensão permanente no futuro). Pode suspeitar-se que ela existe pela comparação entre as medições de tensão feitas pelo médico no consultório e pelo paciente em casa. O diagnóstico deve contudo ser confirmado por uma medição da tensão arterial em ambulatório (Mapa ou Holter da tensão arterial pg.15).


Compreender Como é que se mede a tensão arterial? Simples e sem dor A medição da tensão arterial é um exame rápido, fácil e sem dor, que deve ser realizado após pelo menos 5 minutos de descanso, em posição sentada, com uma braçadeira de tamanho adaptado ao diâmetro do braço. É preferível esperar trinta minutos depois de consumir café ou fumar. Não se deve falar durante a medição e o braço deve estar colocado à altura do coração. É necessário efetuar diversas medições ao longo da mesma consulta e ao longo de consultas sucessivas (com um mês de intervalo) antes de diagnosticar hipertensão. Uma medição isolada de uma tensão arterial demasiado elevada não constitui um elemento suficiente para o diagnóstico da hipertensão. Contudo, se você só vai ao médico raramente, não é preciso esperar 4 consultas com seis meses de intervalo para confirmar o diagnóstico e iniciar um tratamento. Como veremos, desde que é medido um valor de tensão arterial demasiado elevado, devem

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Compreender estar previstas medições repetidas da tensão e eventualmente dos exames complementares. O seu médico pode escolher entre diversos tipos de medidor de tensão O aparelho usado pode ser: • um medidor de tensão com manómetro de

agulha, graduado; • um medidor de tensão com coluna de mercúrio (com tendência para desaparecer progressivamente devido à legislação europeia que proíbe o uso de mercúrio por causa da sua toxicidade potencial); • um aparelho eletrónico automático com monitor que mostra as medições (este último não necessita do uso de um estetoscópio).

Classificação da tensão arterial A deteção e o tratamento da hipertensão têm por objetivo reduzir os riscos de doenças cardiovasculares e a mortalidade daí decorrente. É por isso que foi definida uma classificação da tensão arterial nos adultos.


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Uma definição que evolui A definição de tensão arterial normal evoluiu ao longo dos anos para alcançar valores cada vez mais baixos (tensão arterial <130/85 mmHg). Calcula-se atualmente que a tensão arterial ideal se situa nos 120/80 mmHg. Os valores situados entre a tensão normal e a hipertensão são qualificados como valores «normais altos». Três tipos de hipertensão Existem três tipos de hipertensão:

1. Hipertensão sistólica-diastólica: tanto a tensão arterial sistólica como a diastólica são excessivas (> 140/90 mmHg);

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Compreender 2. Hipertensão sistólica isolada: uma tensão arterial sistólica excessiva (> 140 mmHg) associada a um tensão arterial diastólica ótima, normal ou normal alta (< 90 mmHg). O tipo de hipertensão está geralmente associado à existência de uma diminuição da agilidade das artérias ligada ao envelhecimento. É muito frequente após os 60 anos de idade.

3. Hipertensão diastólica isolada: mais rara, encontra-se principalmente nos indivíduos jovens.

Automedição da tensão em casa (Feita pelo próprio paciente)

Os aparelhos eletrónicos também podem ser usados pelo paciente para medir a sua tensão no domicílio. A medição da tensão em casa permite nomeadamente suspeitar de uma hipertensão provocada pelo efeito «da bata branca» (valores elevados da tensão no consultório médico e mais normais no domicílio) e avaliar o nível de tensão antes e depois da introdução de um tratamento nas condições de vida habituais. Convém utilizar aparelhos validados segundo procedimentos bem definidos. É preferível usar aparelhos que medem a tensão arterial ao nível do braço do que os que a medem ao nível do pulso. De facto, os aparelhos que metem a pressão ao nível do pulso são em geral menos precisos.


Compreender Quando se descobre uma hipertensão, a tensão arterial deve ser medida de manhã e à noite, antes das refeições, durante uma semana. A frequência posterior das medições deve ser confirmada de acordo com o médico que trata o paciente. As condições de uma boa medição são as mesmas que as que ocorrem no consultório médico. A tensão arterial considerada normal em casa é inferior a 135/85 mmHg (em vez de 140/90 mmHg no consultório do médico). Em caso de diabetes, de doença renal ou de elevado risco cardiovascular (ver mais abaixo), é sem dúvida necessário alcançar valores ainda mais baixos. Em caso de medição demasiado elevada, é aconselhável medir a sua tensão arterial uma segunda ou terceira vez. Se a primeira medição for muito mais alta do que as seguintes, ela pode ser rejeitada. É fortemente desaconselhável medir a tensão arterial «de cada vez que se sente mal» e adaptar o seu tratamento sem aconselhamento médico em função dos valores obtidos em casa! A automedição da tensão não substitui o seguimento do médico que o trata, mas constitui uma abordagem complementar à medição da tensão no consultório médico.

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Causas da hipertensĂŁo arterial

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Compreender Os fatores que favorecem a hipertensão arterial Alguns fatores não são modificáveis, outros estão acessíveis ao nosso controlo. A hereditariedade Quando temos um pai/mãe hipertenso, o risco de desenvolver uma hipertensão é mais elevado. A idade Da mesma forma, o risco de desenvolver uma hipertensão aumenta com a idade. O sexo Os homens estão mais preocupados antes dos 60 anos de idade, enquanto as mulheres se preocupam mais a partir da menopausa. A origem As pessoas de raça negra são mais frequentemente hipertensas, por vezes quando ainda jovens, e arriscam-se mais a


Compreender desenvolver desgastes cardíacos e renais ligados à hipertensão.

Modo de vida e medicamentos O modo de vida desempenha um papel importante. • O excesso de peso ou a obesidade; • o sedentarismo; • uma alimentação demasiado rica em sal; • o abuso do álcool; • os anti-inflamatórios; • as gotas nasais; • ou o alcaçuz facilitam o desenvolvimento de uma hipertensão, a sua manutenção quando ela existe e tornam mais difícil o seu controlo pelos tratamentos medicamentosos. Em geral, o stresse não é uma causa de hipertensão, mas pode contribuir para agravar uma hipertensão pré-existente.

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Compreender As hipertensões arteriais essencial e secundária Hipertensão essencial Na imensa maioria dos casos (95%), a hipertensão diz-se «essencial» ou primária. Isto significa que não podemos apontar uma causa única como estando na origem da hipertensão. Esta resulta na verdade do efeito combinado de fatores hereditários e de fatores ligados ao modo de vida descritos mais atrás (obesidade, ingestão de sal…), sem que se possa determinar com precisão a sua contribuição respetiva.


Compreender Hipertensão secundária Em 5% dos casos, a hipertensão deve-se a um problema médico claramente identificável. Falamos então de hipertensão secundária. As principais causas da hipertensão secundária são: • uma doença dos rins; • um estrangulamento das artérias renais; • um comprometimento das glândulas renais (adenoma de Conn, feocromocitoma); • uma constrição da aorta («coartação»); • as apneias do sono, que se encontram com mais frequência nos pacientes obesos e cuja frequência é provavelmente subestimada.

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As consequĂŞncias da hipertensĂŁo arterial

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Compreender Uma doença silenciosa Pode acontecer que a pressão aumente brutalmente (falamos então de «impulso hipertenso») e que traga consigo o aparecimento de sintomas como mal-estar, tonturas, dores de cabeça violentas e mesmo dificuldade em respirar ou perda de consciência. É então necessária uma intervenção médica rápida. Contudo, na maior parte dos casos, não sentimos que somos hipertensos, a hipertensão arterial é insidiosa e provoca desgastes de forma progressiva, silenciosa até ao dia em que… um grande incidente se manifesta, como por exemplo uma doença cardíaca cerebral…


Compreender Como saber que sou Hipertenso? Frequentemente, a hipertensão não é acompanhada de nenhum sintoma. Ela manifesta-se por vezes através de dores de cabeça (sobretudo na testa), zumbidos ou assobios nos ouvidos, impressão de ver moscas diante dos olhos, sangramentos do nariz ou ainda de uma respiração ofegante anormal durante o esforço. Contudo, estas sensações podem dever-se a outras causas e não ter a ver com a hipertensão. O único meio de saber se sou hipertenso é, por isso, a medição regular da tensão.

Um dos principais fatores de risco cardiovascular A hipertensão não constitui uma verdadeira «doença»: é um fator de risco de doença cardiovascular. Um dos perigos da hipertensão é que, a longo prazo, ela provoca um espessamento e um endurecimento das paredes das artérias, o que favorece o desenvolvimento da aterosclerose. Esta vai «bloquear» progressivamente as artérias. E como estas se tornam mais estreitas, a passagem do sangue é reduzida e não pode alimentar suficientemente os órgãos com oxigénio e substâncias nutritivas.

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A prazo, a hipertensão contribui de maneira importante para o risco de formação de coágulos sanguíneos nas artérias afetadas pela aterosclerose. Eis porque uma hipertensão arterial não tratada pode levar progressivamente ao desgaste dos órgãos vitais como o coração, o cérebro e ainda os rins.

O assassino silencioso Podemos, por isso, sofrer durante anos de um excesso de pressão arterial sem desenvolver o mínimo sintoma, até que um dia uma complicação se manifesta de forma brusca. Por essa razão, a hipertensão é por vezes chamada de «assassino silencioso».

O coração Quando uma artéria coronária (artéria que alimenta o músculo cardíaco) fica bloqueada por causa da hipertensão, o coração já não recebe sangue suficiente e, por isso, não recebe oxigénio suficiente que é indispensável ao seu funcionamento. Isto pode traduzir-se num sofrimento temporário do músculo cardíaco (= angina de peito) ou numa destruição de uma parte do músculo


Compreender cardíaco (é o enfarte e, eventualmente, a longo prazo, a insuficiência cardíaca, ou seja, a incapacidade de o coração bombear sangue suficiente). O cérebro

A consequência mais grave da hipertensão arterial ao nível do cérebro é o acidente vascular cerebral. Trata-se de uma paragem brusca da chegada do sangue a uma parte do cérebro que dá origem, caso dure mais de alguns segundos, à morte do tecido cerebral. A causa do acidente vascular cerebral pode ser:

• a rutura de uma artéria, provocando um sangramento no cérebro – é a hemorragia cerebral;

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• a obstrução de uma artéria cerebral por um coágulo sanguíneo – é a isquemia cerebral (referida como «trombose» na linguagem corrente). Os rins

A hipertensão favorece a insuficiência renal. Nesse caso, os resíduos produzidos pelo funcionamento do corpo não são suficientemente, ou melhor, de todo, eliminados e o equilíbrio na água do corpo pode ser perturbado (o corpo elimina menor quantidade da água que não ingere). Se a insuficiência renal for grave, pode necessitar de recorrer a um sistema de rim artificial, ou seja, a diálise renal, enquanto se espera por vezes um transplante.


Compreender Os olhos

A hipertensão pode afetar a retina e originar problemas oculares graves. Por isso, é fundamental detetar a hipertensão na fase mais precoce possível e tratá-la antes do aparecimento de possíveis danos aos órgãos. Nesta ótica de prevenção, depois dos 40 anos de idade, cada pessoa deve beneficiar de um controlo pelo menos anual da sua tensão arterial, a fim de detetar o aparecimento de uma eventual hipertensão arterial.

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Compreender O que é que chamamos de fatores de risco Cardiovascular? Os fatores de risco são comportamentos, características individuais ou anomalias biológicas que aumentam a probabilidade de doença cardíaca ou cerebral ligada a um dano causado aos vasos sanguíneos. O risco de desenvolver uma doença cardiovascular aumenta quantos mais fatores de risco existirem. Por isso, é importante investigá-los e controlá-los tanto quanto possível.


Compreender A hipertensão, um fator de risco cardiovascular entre outros Existem inúmeros fatores de risco cardiovascular. Eis os principais: Idade: o risco é mais elevado acima dos 55 anos para os homens e acima dos 65 anos para as mulheres. O sexo masculino está predisposto aos incidentes cardiovasculares. As mulheres estão mais protegidas até à menopausa. Hereditariedade: uma história de doença cardíaca precoce, ou seja, antes dos 65 anos no caso da mãe ou de uma irmã, ou antes dos 55 anos no caso do pai ou de um irmão, aumenta o risco de acidente cardíaco. • Uma hipertensão arterial. • O tabagismo. • Uma taxa elevada de colesterol. • Diabetes. • Obesidade abdominal, dita androide, ou seja, obesidade essencialmente centrada no ventre e não ao nível das coxas e da nádega perímetro abdominal > 102 cm no homem, > 88 cm na mulher).

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Compreender A Síndrome Metabólica A hipertensão é frequentemente associada a diversas perturbações metabólicas, como por exemplo:

• a obesidade abdominal; • uma anomalia das gorduras no sangue (diminuição do colesterol HDL «bom», subida dos triglicéridos); • e uma intolerância à glucose («prédiabetes») ou a existência de diabetes. Falamos então de síndrome metabólica. O número de casos de síndrome metabólica aumenta de forma constante nos países industrializados. A maior parte deles estão ligados a um estilo de vida sedentário e a um má alimentação. Calcula-se habitualmente que a presença de uma síndrome metabólica aumenta de maneira importante o risco de enfarte do miocárdio e mais geralmente de doenças cardiovasculares.


Diagnรณstico

Balanรงo inicial de uma hipertensรฃo

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Diagnóstico Porquê realizar um exame de hipertensão? Quando se confirma a hipertensão (pressão arterial > 140/90 mmHg após diversas medições), é realizado um exame sistemático. Isto faz-se com três objetivos:

• Investigar uma causa da hipertensão (mesmo que, em 95% dos casos, a causa permaneça desconhecida); • Avaliar os desgastes da hipertensão ao nível dos diferentes órgãos; • Investigar a existência de outros fatores de risco cardiovascular que, associados à hipertensão, aumentem o risco cardiovascular e cuja presença possa modificar a responsabilização (intensificação do tratamento) ou orientar a escolha do tipo de tratamento para a hipertensão.


Diagnóstico O exame básico: explicações O exame básico inclui uma série de exames: Um exame clínico Um exame clínico completo que inclua uma auscultação cardíaca e pulmonar, a medição da altura, do peso (procura de um excesso de peso) e da largura da cintura (procura de uma obesidade abdominal…), palpação dos pulsos e auscultação dos trajetos de certas artérias.

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Diagnóstico Eletrocardiograma O eletrocardiograma (ECG) mede a atividade elétrica do coração com a ajuda de elétrodos colocados sobre a pele em diferentes locais do tórax. Este exame totalmente indolor permite:

• avaliar a regularidade do ritmo cardíaco; • investigar a existência de uma hipertrofia (um aumento do tamanho) de certas partes do coração (em particular do ventrículo esquerdo, cujo trabalho é contrariado pela hipertensão) e/ou de sinais de má irrigação do músculo cardíaco ligado a um estreitamento das artérias que irrigam o coração (artérias coronárias).


Diagnóstico Recolha de sangue Uma recolha de sangue para realizar uma dosagem:

• de creatinina (um resíduo do funcionamento muscular). O seu nível é um bom reflexo do funcionamento dos rins (se a função dos rins estiver alterada, o nível de creatinina no sangue aumenta); • de certos iões sanguíneos (potássio, sódio…). O equilíbrio entre os diferentes iões pode de facto ficar perturbado em caso de insuficiência renal;

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Diagnóstico

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• da taxa de açúcar no sangue em jejum (glicemia), a fim de detetar uma eventual diabetes (que aumenta drasticamente o risco de incidente cardiovascular); • do colesterol no sangue (colesterol total, LDL e colesterol HDL) e dos triglicéridos, que contribuem para a aterosclerose. Exame à urina Um exame rápido à urina (trata-se de urinar para uma tira estreita), para garantir a ausência de proteína ou de sangue na urina (problemas renais).


Diagnรณstico

Os exames complementares

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Diagnóstico Por vezes, são prescritos outros exames, seja para confirmar o diagnóstico de hipertensão, seja para investigar uma causa ou detectar uma complicação da hipertensão,

A monitoria ambulatória da pressão arterial Ainda se dá o nome de medição ambulatória da pressão arterial (MAPA) ou holter da tensão. Trata-se do registo da pressão arterial durante 24 horas, onde um aparelho de registo recebe, a cada quarto de hora durante o dia e a cada meia hora durante a noite, as informações de uma braçadeira de medição da tensão que se insufla automaticamente. Os dados relativos à tensão são depois analisados. Este exame permite, nomeadamente:

• confirmar (ou não) o diagnóstico de hipertensão colocado no consultório, eliminando a possibilidade de efeito «da bata branca» (ver pág. 12).


Diagnóstico • verificar a existência de uma diminuição noturna da pressão arterial. De facto, a ausência de uma diminuição da pressão arterial durante a noite ou a fortiori uma hipertensão noturna aumentam o risco de doenças cardiovasculares.

• avaliar a importância das variações de tensão arterial ao longo das 24 horas. • garantir a eficácia dos tratamentos medicamentosos ao longo das 24 horas. • explicar eventuais mal-estares (picos de tensão ou, pelo contrário, quebras de tensão demasiado importantes sob tratamento ou aquando da passagem brusca da posição de pé).

Ecografia cardíaca A ecografia cardíaca ou ecocardiografia baseia-se na utilização de ultra-sons (segundo o mesmo princípio das ecografias realizadas para a gravidez). Ela permite: • visualizar o coração;

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Diagnóstico • garantir o bom funcionamento das válvulas (válvulas anti-retorno que impedem o sangue de refluir entre duas contrações); • e detetar um eventual aumento da espessura (hipertrofia) do músculo cardíaco. Em caso de hipertensão, o músculo cardíaco deve de facto fornecer um esforço suplementar para enviar o sangue para os vasos sanguíneos. Tal como um bíceps, ele aumenta então de volume.

Prova de esforço A prova de esforço é um registo da tensão e eletrocardiográfico (ECG) realizado num momento de esforço padronizado, sobre uma bicicleta ergométrica ou sobre um tapete rolante. Faz parte do exame cardíaco e pode ser pedido em caso de prática ou retoma desportiva ou ainda em caso de sintomas suspeitos de dano às artérias que alimentam o coração, as artérias coronárias (angina de peito).


Diagnóstico Ecografia das artérias Um ecodoppler (ecografia associada a uma análise do fluxo sanguíneo baseada no efeito Doppler) ao nível das artérias do pescoço, da aorta abdominal ou das artérias dos membros inferiores permite localizar lesões de aterosclerose (estreitamentos das artérias devido a uma degenerescência das suas paredes com importantes depósitos de colesterol). Este exame é geralmente pedido às pessoas que acumulam diversos fatores de risco (tabagismo, hipercolesterolemia, diabetes…). Neste caso, os ultra-sons servem para quantificar o fluxo sanguíneo e a sua velocidade.

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Diagnóstico Ecografia das artérias renais Este mesmo exame pode ser realizado ao nível das artérias renais para pesquisar um possível estreitamento de uma ou duas artérias renais, o qual pode dar origem à hipertensão. A existência de um estreitamento pode ser confirmada por uma arteriografia das artérias renais (exame radiológico após opacificação das artérias renais por injeção intravenosa de um produto de contraste). Em certos casos, o estreitamento pode ser tratado ao mesmo tempo por dilatação da artéria através de um pequeno balão pela colocação de um stent («mola» expansível que permite manter a artéria aberta após dilatação). Análises hormonais As análises hormonais seguidas, em caso de imagens das glândulas suprarenais (scanner…), serão realizadas se houver suspeitas de uma hipertensão ligada a um problema das hormonas implicadas na regulação da tensão arterial (hiperaldosteronismo, feocromocitoma, síndroma de Cushing…).


Tratar

O tratamento da hipertensĂŁo

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Tratar

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A decisão de começar um tratamento para combater a hipertensão e a escolha do tipo de tratamento dependem do nível de pressão

Condições de iniciação e natureza PRESSÃO Outros fatores de risco e antecedentes médicos

Normal PAS 120-129 ou PAD 80-84

Normal alta PAS 130-139 ou PAD 85-89

Nenhum outro fator de risco

Sem intervenção sobre a PA

Sem intervenção sobre a PA

Nenhum outro fator de risco

Medidas higiénicodietéticas

Medidas higiénicodietéticas

3 ou mais fatores de risco ou danos dos órgãos alvo ou diabetes

Medidas higiénicodietéticas

Tratamento medicamentoso e medidas higiénicodietéticas

Patologias associadas

Medidas higiénicodietéticas

Tratamento medicamentoso e medidas higiénicodietéticass

PAS = pressão arterial sistólica PAD = pressão arterial diastólica. São necessárias medições repetidas da PA para a estratificação.


Tratar

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arterial sistólica e diastólica e do nível global de risco cardiovascular.

de um tratamento anti-hipertensivo ARTERIAL (mmHg) Grau 1 PAS 140-159 ou PAD 90-99

Grau 2 PAS 160-179 ou PAD 100-109

Grau 3 PAS ≥ 180 PAD ≥ 110

Medidas higiénicodietéticas durante vários meses, depois tratamento medicamentoso, caso o paciente prefira e disponha de meios financeiros

Medidas higiénicodietéticas durante vários meses, depois tratamento medicamentoso

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas

Medidas higiénicodietéticas durante vários meses, depois tratamento medicamentoso

Medidas higiénicodietéticas durante vários meses, depois tratamento medicamentoso

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas

Tratamento medicamentoso e medidas higiénicodietéticas

Tratamento medicamentoso e medidas higiénicodietéticas

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas

Tratamento medicamentoso imediato e medidas higiénico-dietéticas


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Tratar Iniciação e natureza de um tratamento anti-hipertensivo O tratamento da hipertensão repousa sobre 3 pilares: 1. A adaptação do modo de vida (= tratamento não medicamentoso); 2. O tratamento medicamentoso da hipertensão; 3. O tratamento dos fatores de risco cardiovascular associados (diabetes, tabagismo, excesso de colesterol…).

Os objetivos do tratamento da hipertensão são: Obter uma redução máxima do risco cardiovascular global. • Tratar não apenas a hipertensão arterial, mas também todos os fatores de risco cardiovascular reversíveis (tabagismo, excesso de colesterol, diabetes…) e as doenças a eles associadas. • Fazer passar as pressões arteriais sistólica e diastólica para baixo de 140 e 90 mmHg, respetivamente.


Tratar • Obter valores inferiores a 130/80 mmHg nos diabéticos, em caso de mau funcionamento dos rins ou nas pessoas que já viveram um enfarte, uma trombose ou uma hemorragia cerebral.

Um modo de vida adaptado Perder peso Emagrecer, mesmo moderadamente (5 a 10% do peso do corpo), permite fazer baixar os valores da pressão arterial. Mesmo que essa perda de peso não seja sempre suficiente para normalizar a tensão, ela permite muitas vezes aliviar o tratamento (redução do número de medicamentos e/ou da sua dose). Modificar a sua alimentação: menos gorduras e sal, mais frutas e legumes Uma alimentação saudável pode ajudar a controlar a tensão e a perder peso. É aconselhável consumir alimentos com poucas gorduras, sobretudo se sofremos de hipercolesterolemia, e privilegiar as frutas e os legumes. Para além disso, é importante pôr sal moderadamente quando

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se cozinha e não colocar o saleiro à mesa (máximo 6g de sal por dia ao todo). Os condimentos e, salvo em caso de insuficiência renal, o «falso» sal (cloreto de potássio, KCl) substituir-se-ão com vantagem ao sal de mesa. Convém também limitar o consumo de álcool (mínimo 2 copos/dia para os homens, 1 para as mulheres), pois ela aumenta a tensão arterial e contribui significativamente para o aumento do peso.

Deixar de fumar Deixar de fumar apenas tem um impacto fraco na tensão arterial, mas reduz de forma importante o risco de doença cardiovascular.


Tratar Fazer exercício físico Uma atividade física regular mantém uma boa forma física, combate o stresse da vida quotidiana e permite diminuir a tensão arterial e o risco cardiovascular (e também prevenir outras doenças como a osteoporose). A atividade física ajuda, se não a perder peso, pelo menos a estabilizá-lo. Não é necessário criar uma situação de esforço físico importante: uma atividade física, mesmo que moderada, de cerca de 30 minutos por dia, 5 dias por semana já é benéfica para a saúde. Por exemplo, caminhar a um ritmo sustentado, andar de bicicleta, nadar…

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Ação Perder peso

Queda esperada da pressão arterial (MMHG) 5-20 mmHg/10kg de peso corporal perdido

Praticar uma atividade física regular

4-9 mmHg

Reduzir o consumo de sal

2-8 mmHg

Limitar o consumo de bebidas alcoólicas

2-4 mmHg

Comer fruta – reduzir as gorduras saturadas

8-14 mmHg

O tratamento medicamentoso da hipertensão Benefícios do tratamento medicamentoso Inúmeros estudos mostraram que os tratamentos da hipertensão (= medicamentos que baixam a pressão arterial) reduzem o risco de morte, bem como a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais e cardíacos. Estes benefícios foram postos em evidência junto dos


Tratar pacientes com uma hipertensão arterial sistólica-diastólica e dos pacientes com uma hipertensão arterial sistólica isolada. Em particular, o tratamento da hipertensão permite reduzir cerca de 20 a 25% o risco de enfarte e 35 a 40% o risco de acidente vascular cerebral. Os resultados que comprovam estes valores foram obtidos através do conjunto das grandes classes terapêuticas de antihipertensivos: • os diuréticos; • os betabloqueadores; • os inibidores cálcicos; • os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IEC); • e os antagonistas dos recetores da angiotensina II.

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Tratar Os grandes princípios do tratamento O tratamento medicamentoso deve ser introduzido progressivamente, a fim de alcançar o valor-alvo (< 140/90 mmHg, ou < 130/80 mmHg em caso de diabetes, doença renal ou risco cardiovascular elevado). No entanto, vai-se tentar alcançar esse valor o mais depressa possível assim que a hipertensão seja grave ou o risco cardiovascular demasiado elevado. Mais de metade dos pacientes deverá estar tratada através de uma associação (= combinação) de diferentes antihipertensivos, para alcançarem os valores de tensão arterial desejados. O tratamento pode ser iniciado com um único medicamento (= monoterapia) ou com uma associação entre dois medicamentos. Como o tratamento medicamentoso não «cura» a hipertensão, mas faz baixar a tensão arterial para valores normais, deve ser tomado para o resto da vida, sem interrupções e em boas doses. O tratamento completa as medidas higiénicodietéticas, mas não as substitui!


Tratar Monoterapia: um único medicamento As 5 grandes categorias de anti-hipertensivos não diferem em nada no plano da sua eficácia anti-hipertensiva, mas distinguem-se pelo seu mecanismo de ação, pelos seus efeitos secundários e pelo seu impacto sobre certas patologias associadas. Quaisquer que sejam as propriedades particulares de cada classe de medicamentos, o essencial dos benefícios permanece ligado à diminuição da tensão arterial propriamente dita.

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Tratar Frequentemente pelo menos dois medicamentos As principais classes terapêuticas de anti-hipertensivos são igualmente usadas para iniciar um tratamento e para o seu seguimento. A abordagem que consiste em usar preferencialmente uma classe terapêutica é cada vez menos atual, pois é frequentemente necessário aplicar pelo menos dois medicamentos para alcançar o centro da tensão. Ou seja, a experiência mostra que, por razões de eficácia e de respeito do tratamento, é preferível adaptar a escolha do medicamento a cada paciente. A associação de 2 medicamentos pode por vezes ser proposta em lugar de um mesmo comprimido.


Tratar Os tratamentos medicamentosos para a hipertensão envolvem muitas vezes maiores contrariedades do que a própria hipertensão, raramente sintomática. Para ser respeitado a longo prazo, o tratamento escolhido deverá por isso implicar o menor número possível de efeitos secundários, mas também deverá ser eficaz, de aplicação prática e ter um custo aceitável.

Tratamento dos riscos associados O controlo da hipertensão implica também o tratamento dos fatores de risco associados (diabetes, hipercolesterolemia, tabagismo…) que contribuem para aumentar o risco cardiovascular.

Resumindo, 10 recomendações para os pacientes hipertensos*

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Tratar Pergunte ao seu médico quais os riscos da hipertensão Um paciente hipertenso não tratado corre um risco acrescido, em relação a uma pessoa que não tem hipertensão, de sofrer um acidente cardiovascular grave, como por exemplo um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral. Arrisca-se igualmente a desenvolver uma insuficiência cardíaca ou renal. Trate a sua hipertensão arterial Um tratamento eficaz reduz claramente os riscos de acidente cardiovascular. O objetivo é regressar a uma tensão tão próxima possível da normal. Para isso, deve adotar um modo de vida mais saudável e, muitas vezes, tomar um ou mais medicamentos anti-hipertensivos.


Tratar Compreenda a importância de tratar a sua tensão diariamente A hipertensão arterial não tem cura, mas é possível fazer baixar os valores da tensão graças à toma contínua e regular dos medicamentos anti-hipertensivos. Não se esqueça nunca de tomar os seus medicamentos para a tensão Para evitar esquecimentos, é bom ganhar hábitos ligando a toma do ou dos comprimidos às atividades quotidianas sistemáticas que ocorrem sempre à mesma hora: lavagem dos dentes, refeições, leitura do jornal, etc. Tome-os a horas fixas Por um lado para criar hábitos, mas também para evitar uma diminuição da taxa do medicamento no sangue (e, por isso, uma eficácia menor ou nula sobre a tensão arterial) em caso de intervalo demasiado importante entre duas tomas.

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Tratar Informe o seu médico sobre eventuais efeitos secundários Todo o medicamento ativo, ou seja, eficaz pode ter efeitos secundários. É importante falar ao seu médico sobre isso, em vez de interromper o tratamento. Este será adaptado em função disso (dose ou natureza do medicamento).

Se o seu médico achar que é necessário, aceite tomar vários medicamentos antihipertensivos ou mudar o tratamento Pode ser necessária uma associação de diversos medicamentos se a tensão não baixar o suficiente com um único anti-hipertensivo, ou imediatamente se a hipertensão for grave e/ou o risco cardiovascular for elevado. Pode ser necessária uma mudança no tratamento quando o primeiro medicamento for ineficaz ou realmente mal tolerado.


Tratar Adapte o modo de vida à sua patologia Coma alimentos com pouco sal, adote um regime alimentar rico em frutas e legumes e pobre em gorduras, faça regularmente exercício, tente manter a calma em todas as situações… e deixe de fumar! Estes comportamentos são benéficos para obter um melhor controlo da hipertensão arterial e para a sua saúde em geral. Não corra o risco de não tomar os medicamentos Garanta que tem um stock suficiente de medicamentos! Consulte regularmente o seu médico Qualquer pessoa deve medir a sua tensão arterial pelo menos uma vez por ano, sobretudo a partir dos 40 anos de idade. Se você for hipertenso, são necessárias medições mais frequentes.

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Testemunhos


Tratar Elizabete, 57 anos

Há seis anos, Elizabete teve uma primeira trombose (um coágulo obstruía um dos vasos sanguíneos que levava ao cérebro). A sua tensão arterial media nesse momento 18/11 (180/110 mmHg). O acidente vascular cerebral manifestou-se por um problema de fala (afasia) e de fraqueza do braço direito. Elizabete recuperou parcialmente. Contudo, não achou que fosse necessário tratar a sua hipertensão, apesar da insistência dos médicos. Elizabete teve recentemente uma segunda trombose da qual, infelizmente, guardou sequelas importantes.

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Diogo, 48 anos

Há dez anos, foi detetada uma tensão arterial elevada em Diogo quando fez um exame de rotina pelo seu médico. Ao contrário de Elizabete, Diogo tinha antecedentes familiares de hipertensão. O seu pai e o seu tio morreram os dois de enfartes quando tinham cerca de cinquenta anos de idade. O irmão de Diogo também teve um enfarte. Diogo era um fumador imparável e consumia 3 a 4 pacotes de cigarros por dia. O seu médico explicou-lhe os riscos de uma hipertensão arterial não tratada. Motivado pelos seus problemas de tensão arterial e pela história da sua família, Diogo decidiu então deixar de fumar. Adaptou igualmente o seu modo de vida: redução drástica do consumo de sal (e substituição por um produto que não continha sódio),


Tratar diminuição dos molhos e das gorduras na alimentação… Aceitou também realizar um tratamento contra a hipertensão arterial. Uma vez por ano, Diogo beneficia de um controlo médico. Este inclui uma análise ao sangue e à urina, bem como um eletrocardiograma e uma ecografia ao coração. Diogo sabe que deverá tomar um medicamento para o resto da vida, mas isso é muito pouco em troca de ter boa saúde. Filipe, 73 anos

Filipe é diabético há mais de 15 anos. Ele próprio admite que tem um apetite feroz e que adora queijos, carnes vermelhas e artigos de pastelaria. A sua taxa de colesterol estava elevada, a sua tensão

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Tratar arterial media regularmente 170/100, mas… nada disso o inquietava verdadeiramente… até à ocorrência de um enfarte, há 6 anos, que felizmente pôde ser tratado a tempo. Depois de um bypass necessário devido ao mau estado das suas artérias coronárias (as artérias que alimentam o coração), Filipe decidiu voltar a ter controlo sobre a sua vida: regime alimentar mais equilibrado, tratamento medicamentoso contra o colesterol, a diabetes e a hipertensão. Atualmente, todos os seus fatores de risco estão controlados e Filipe vê o futuro com bons olhos.


Na prรกtica

Na prรกtica

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Na prática Algumas páginas da internet http://www.sphta.org.pt/pt/default.asp A Sociedade Portuguesa de Hipertensão é uma associação de médicos especializados cuja vocação é contribuir para um melhor controlo da hipertensão em Portugal. http://www.spc.pt/spc/ e http://www.fpcardiologia.pt/ A Sociedade Portuguesa de Cardiologia e a Fundação Portuguesa de Cardiologia têm por objetivos promover a prevenção cardiovascular no nosso país e incentivar a reinserção social e profissional dos doentes cardíacos. É nesse sentido que ela interessa à hipertensão arterial. Direção Geral de Saúde http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ ficheiros/i006254.pdf Trabalho iniciado e desenvolvido desde a década de oitenta, no âmbito do combate à Hipertensão Arterial, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) estabelece, no uso das suas competências técnico-normativas, os procedimentos desejáveis a adoptar pelos profissionais de saúde, de forma a melhorar


Na prática o Diagnóstico, Tratamento e Controlo da Hipertensão Arterial (HTA). A presente Circular, conta com o aval científico da Associação Portuguesa de Hipertensão e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Os que não têm problemas em ler em inglês podem também consultar as seguintes páginas de referência na internet: http://www.worldheart.org (World Heart Federation) http://www.eshonline.org (ESH: European Society of Hypertension) http://www.ash-us.org (ASH: American Society of Hypertension) http://www.worldhypertensionleague.org (WHL: World Hypertension League)

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Na prática

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Glossário Acesso hipertensivo (ou tensional): crise durante a qual a tensão arterial se eleva brutalmente, alcançando valores demasiado elevados – muitas vezes superiores a 200 mmHg de tensão sistólica. Acidente vascular cerebral (AVC): comummente conhecido como «ataque», este acidente grave resulta da interrupção da circulação sanguínea por um coágulo ou uma hemorragia ao nível do cérebro. A hipertensão é um fator importante de risco de AVC. Angina de peito: sofrimento cardíaco ligado a uma redução da alimentação sanguínea do coração pelas artérias coronárias. O estado ulterior, a morte celular, é o enfarte. Cumprimento: igualmente conhecido como observação ou «adesão terapêutica», designa o respeito pelo tratamento (os medicamentos, o seu horário de toma e a sua dosagem) por parte do paciente. Condiciona o sucesso terapêutico, pois mesmo o melhor medicamento do mundo apenas pode funcionar se for tomado!


Na prática Diabetes: perturbação do metabolismo dos açúcares ligado a um defeito de produção de insulina e/ou ao desenvolvimento de uma resistência à sua ação. É geralmente acompanhada de perturbações do metabolismo das gorduras, tendo por consequência um aumento importante do risco de doença cardiovascular. Ecografia cardíaca: técnica de imagiologia baseada nos ultra-sons. Permite visualizar as diferentes partes do coração e quantificar as suas dimensões e a espessura do músculo cardíaco. A tecnologia doppler mede, além disso, os fluxos sanguíneos. Esta tecnologia também se aplica às artérias quando queremos assegurar a sua permeabilidade. Eletrocardiograma (ECG): exame indolor que regista a atividade elétrica do coração. Permite apreciar a regularidade do ritmo cardíaco, investigar uma hipertrofia de certas partes do coração e/ou sinais de isquemia (= insuficiência circulatória) do miocárdio ligada a um retrocesso das artérias que irrigam o coração (artérias coronárias).

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Na prática Enfarte: interrupção da circulação sanguínea que conduz à morte dos tecidos da região em causa. Pode afetar o coração (= enfarte do miocárdio), o cérebro (= acidente vascular cerebral) ou outra parte do corpo totalmente diferente. Esfigmomanómetro: sinónimo de medidor da tensão. Fator de risco cardiovascular: comportamento, característica individual ou anomalia biológica cuja presença aumenta a probabilidade de acidente cardiovascular (angina de peito, enfarte, AVC). Hipertensão «da bata branca»: nesse caso, a tensão é normal em casa e mais elevada no consultório médico. Esta diferença poderia explicar-se pelo stresse gerado pela presença do médico. Hipertensão arterial essencial: na imensa maioria dos casos (95%), não se encontra uma afetação bem definida que esteja na origem da hipertensão arterial. Falamos então de hipertensão essencial ou primária. Hipertensão arterial secundária: numa minoria dos casos (5%), a hipertensão


Na prática arterial encontra a sua origem num outro problema médico. Pode nomeadamente tratar-se de uma doença dos rins, de um estreitamento de uma ou duas artérias renais, de uma perturbação dos sistemas hormonais implicados na regulação da pressão arterial ou ainda de uma síndroma das apneias do sono. Holter da tensão: registo da tensão arterial durante 24 horas através de uma braçadeira comandada por um dispositivo de gravação colocado à cintura. Serve nomeadamente para detetar a hipertensão resultante do efeito «da bata branca». Insuficiência cardíaca: estádio avançado da degradação cardíaca em que o coração não chega a assumir adequadamente o seu papel como bomba. Insuficiência renal: diminuição da capacidade dos rins de eliminar de forma seletiva a água, o sal e os resíduos produzidos pelo funcionamento do corpo. Na fase final do seu desenvolvimento, obriga à diálise (= rim artificial) ou ao transplante. Constitui além disso um fator de risco cardiovascular.

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Na prática Medidas higiénico-dietéticas: modificações da higiene de vida que visam no caso presente baixar a tensão arterial e, de maneira mais global, reduzir o risco de doença cardiovascular. Principais medidas higiénico-dietéticas: perda de peso, limitação do consumo de sal, álcool e gorduras, prática de exercício físico, aumento do consumo de frutos e legumes, e paragem do tabagismo. As medidas higiénico-dietéticas devem ser postas em prática com todos os pacientes hipertensos. Obesidade abdominal: diz-se de uma obesidade predominante ao nível do abdómen, com acumulação de gordura sob a pele e à volta das vísceras. Esta tem repercussões metabólicas prejudiciais à saúde cardiovascular. Objetivo tensional: são os valores da tensão que é preciso tentar alcançar, através da melhoria do tipo de vida e, se necessário, da toma quotidiana e permanente de medicamentos anti-hipertensivos. Órgãos-alvo: insidiosamente, a hipertensão faz um trabalho que deteriora certos órgãos (as artérias, o cérebro, o coração, os rins e os olhos).


Na prática Proteinúria: proteínas reencontradas nas urinas em quantidade excessiva. Sinal da presença de uma doença renal. Prova de esforço: este teste, realizado sobre uma bicicleta ergonómica ou mais raramente sobre um tapete rolante, com o objetivo de avaliar a resposta do sistema cardiovascular ao esforço e, assim, a pôr em evidência as anomalias cardíacas silenciosas em repouso (sintomas ou anomalias no ECG). Permite detetar uma má irrigação sanguínea numa parte do coração em esforço devido ao estreitamento das artérias coronárias. É igualmente usado para avaliar a aptitude em esforço, seja após um acidente cardíaco, seja em pessoas que querem retomar uma atividade desportiva após os 40 anos. Sal: é o inimigo do paciente hipertenso. O seu consumo deve ser limitado a 6g/24h em caso de hipertensão: é necessário desconfiar dos pratos preparados, substituir o sal por condimentos ou pelo «sal falso» (cloreto de potássio (KCl)), salgar o menos possível os alimentos, banir o sal da mesa…

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Na prática Síndroma metabólica: associação de uma obesidade abdominal e de diversas anomalias metabólicas e/ou fatores de risco cardiovascular, como por exemplo a hipertensão arterial, anomalias das gorduras sanguíneas e uma intolerância glucídica (pré-diabetes) ou uma diabetes comprovada. Tensão arterial diastólica: pressão exercida sobre a parede das artérias entre duas contrações cardíacas, quando o coração descontrai e se volta a encher de sangue. Tensão arterial sistólica: pressão exercida sobre a parede das artérias quando o coração se contrai e captura o sangue nas artérias.


Na prรกtica Notas ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________

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Na prรกtica Notas ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________




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