#10 Revista Visagismo Março 2022

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Revista Visagismo "Visagismo sem cientificidade não é visagismo acadêmico"

Direção: Fábio Ritter Redator e editor-chefe: Fábio Ritter Colaboradores deste mês: Luciana Brandão e Natali Joaquim Design: Fábio Ritter Periodicidade: bimestral Idiomas: português

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Índice

Nota do editor e colaboradores, pág. 04 Conheça nossa edição

Padrões sociais, pág. 05 Matéria da capa

A problemática do racismo estrutural na indústria da beleza e moda, pág. 07 Cultura

Você é um profissional "visagista" preconceituoso?, pág. 10 Maquiagem

Eventos, pág. 15 Conheça nosso eventos

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Nota do Editor Depois

do

sucesso

das

nossas

edições

anteriores contabilizarem mais de 850K de visualizações nossa décima edição da revista digital Visagismo é presenteada com duas matérias especiais das colaboradoras Luciana Brandão e Natali Joaquim.

Uma boa leitura,

Fabio Ritter

Colunistas do mês

Natali Joaquim

Luciana Brandão

@natalijoaquim

@lubrandao.curly

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Padrões Sociais Por Fabio Ritter

Padrões sociais são condutas que costumam ser aceitas e seguidas pela população em geral e passam a ser adotadas como normativas e até mesmo leis. Os principais tipos de padrões sociais são os padrões morais, religiosos, etiqueta e protocolos legais ou não... Indiscutivelmente, os padrões são um tipo de guia para um comportamento aceitável em um determinado ambiente. A indústria da beleza, o dresscode também são exemplos de padrões estéticos imagéticos/comportamentais idealizados com base nos padrões sociais. As inúmeras normas sociais são padrões, regras e diretrizes usadas para dirigir o comportamento humano.

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O significado de norma é um conjunto de padrões, regras e diretrizes colocadas de forma simples, que contém orientações comportamentais ou especificações técnicas ou outros critérios que devem ser seguidos ou respeitados. Em resumo o padrão social pode ser entendido como o conjunto de normas, costumes, regras e ideias intrínsecas a uma sociedade. Depois que o indivíduo nasce, ele é ensinado desde pequeno a se comportar devidamente dentro da sociedade na qual está inserido. A grande problemática do século XXI é sobre ressignificar padrões sociais que até então são afirmados e exigidos por uma elite branca, racista, misógina, gordofóbica, eurocentrista, transfóbica, rica e elitizada que não se preocupa nem um pouco em recriminar e punir os infratores que buscam a ressignificação destes padrões que na verdade são crimes contra a vida do ser humano.

Fonte: BUTLER, Judith. As teorias da sujeição. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

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A problemática do racismo estrutural na indústria da beleza e moda Por Luciana Brandão

“Você pode pensar que a moda esta apenas relacionada a questões de vestuário ou estética certo? porém este universo é muito mais amplo e abrange outras áreas do nosso cotidiano, até mesmo o fato de se posicionar contra as tendências de mercado é uma expressão sobre a beleza singular de um indivíduo mesmo que este não esteja incluído nos padrões eurocentristas de estética e moda. A moda é uma consequência social, não reflete apenas um indivíduo, “é um reflexo das forças sociais, políticas, econômicas e artísticas de um determinado período” (FRINGS, 2012, p. 4).

Um exemplo corriqueiro é o uso de aplicativos de postagens de fotos, provavelmente você já tenha usado alguma vez filtros de foto antes de compartilhar em suas redes sociais, repare que a maioria destes filtros clareiam a pele de um a dois tons e mudam completamente os traços do rosto diminuindo nossas proporções faciais.

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Bem infelizmente pode parecer algo simples, ou talvez você nunca tenha pensado nisso, mas, será que um nariz fino é mais bonito, ou o cabelo é mais bonito liso, a pele é mais bonita clara, assim como o tom de olhos azuis e verdes, são mais bonitos? E quem consolidou esses padrões? Quem nunca ouviu dizer que sorte fulano puxou os olhos da vó, ou que bom não nasceu com o cabelo do pai, ou, nossa fique tranquila você nem é tão escura assim? Acreditando que estes comentários soassem como elogios e não ofensas. Vale ressaltar que a beleza é singular e imposições sobre qualquer tipo de cultura, etnia e estirpe são irrelevantes neste caso, o que discutiremos aqui é o racismo estruturado na indústria da moda, do cabelo claro em toda a indústria da beleza. Em nosso país e em grande parte do mundo tudo que remete ao negro não é belo, não nos reconhecemos em figuras públicas, artistas, cargos específicos de representatividade social o que só corrobora ao que mencionamos antes aos padrões estruturais do racismo, o que acaba promovendo o auto ódio, incitando e limitando a estética e a moda a padrões que fogem do contexto cultural/real das pessoas que nele estão inseridas. A recuperação da identidade ganha uma dimensão especial, pois a distorção, a escamoteação e a falta de referências sobre a história e cultura africana desembocam no desconhecimento de suas raízes, que são também os países do Brasil e dos países da diáspora (NASCIMENTO, 2009 pg. 21).

A militância da beleza negra é de extrema importância, segundo o Filosofo Molefi Kete Asante responsável pelo estudo da Afrocentricidade, ao analisar os fenômenos que se dizem respeito a sujeitos negros é importante verificar os fatos históricos e onde eles estavam inseridos e onde eles se encaixam, onde muitos temas não são necessários nominar com adjetivo para localização de abordagem de um fenômeno desta cultura exemplo: capoeira, candomblé e o samba, isto cria afroperspectivas para campos de atuação em geral, dentro do seu território e cultura.

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Relacionar os negros somente ao período escravocrata também minimiza a cultura de um povo, as narrativas de um lugar de violência e negatividade, baste refletir sobre nosso sistema educacional que não retrata o real reconhecimento humano sobre a cultura africana, mesmo os afrodescendentes sendo a população em maioria no nosso país, no livro afrocentricidade de Elisa Nascimento à um trecho que diz “Os estudiosos brancos, mais que os negros, sempre entendera a importância de controlar o pensamento histórico e social. A melhor maneira de controlar um povo é controlar o que ele pensa de si mesmo”. Nossa representatividade é de suma importância para o reconhecimento coletivo e também da autoimagem de um indivíduo, se as relações humanas fossem construídas em uma base plural, mais pessoas poderiam se conectar e se reconhecer nos campos da indústria da beleza e da moda. Mudemos então a narrativa, destituindo ideias e padrões impostos, onde as belezas e as culturas sejam respeitadas, trabalhando de forma coletiva para construímos uma postura antirracista.

Fontes: RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. 1º Edição. São Paulo. Ed Pólen, 2019. NASCIMENTO, Elisa. Afrocentricidade: Uma abordagem epistemológica inovadora. 1º Edição. São Paulo. Ed Selo Negro, 2009. FRINGS, Gini. Moda do conceito ao consumidor. 9º Edição. Porto Alegre. Ed Bookman, 2012. ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade, pg. 3.

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VOCÊ É UM PROFISSIONAL VISAGISTA PRECONCEITUOSO? Por Natalia Joaquim

Nosso tema sobre maquiagem dessa edição é um ponto de reflexão que estou pensando há um tempo, mais especificamente desde que Jade Picon mudou seu cabelo para o BBB/22 que era loiro platinado e ficou escuro - e começaram a surgir todas as teorias (podemos dizer “da conspiração”) de que mudar o cabelo seria uma forma de ser mais aceita pelo público, mas esqueceram de comentar sobre a estratégia da maquiagem e de sua imagem. Então neste artigo, além de falar sobre maquiagem, quero conversar com você sobre o preconceito que ocorre em nossa profissão de visagistas: desde barbeiros, cabeleireiros, maquiadoras, consultores de imagem e etc. Será que essas teorias, de ser mais aceita pelo público, de se mostrar mais “humana”, de não ter uma imagem tão forte, não estão vestidas de preconceito velado tentando se passar por “técnicas de visagismo”? O quanto de fato um cabelo novo, uma maquiagem, uma roupa podem influenciar em nossa personalidade?

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Nossa personalidade é moldada por 3 grandes influências: a genética (que vem dos nossos familiares, pai e mãe), a sociogênica (que vem do meio que estamos inseridos, dos amigos que temos) e ideogênica (daquilo que é nosso, nossas vontades, nossos planos, nossos sonhos). Essa teoria estabelecida foi desenvolvida por D.W. Fiske em 1949, e continua sendo uma fonte inesgotável de estudo sobre o ser humano até hoje. Essas influências se manifestam em nossa personalidade, mas, não vamos falar sobre nenhuma delas aqui, é importante que você entenda que isso existe, que todos nós somos influenciados. Caso você tenha interesse em se aprofundar no assunto, mas não queira uma abordagem tão complexa para leitura, o livro “Teorias da personalidade” de Duane P. Schultz e Sydney Elle Shultz explica de uma forma clara, simples e objetiva sobre este mesmo tema. Você já ouviu falar sobre estratégia de imagem? Se você não está familiarizada com esse termo, me deixe explicar: estratégia de imagem é uma forma de nos posicionarmos e nos apresentarmos para as pessoas. Muitos influenciadores e artistas se utilizam desta estratégia para, de fato, serem mais aceitos pelo público. Porém, uma boa estratégia de imagem precisa estar alinhada com a personalidade e a necessidade do indivíduo ou tudo será em vão. Mas o que a estratégia de imagem tem a ver com visagismo na maquiagem? Quando saiu a notícia de que Jade Picon estava entre os integrantes do BBB e vimos o primeiro vídeo dela entrando na casa, para surpresa de todos, o cabelo que até então era claro ficou escuro - em 1 semana de casa, nosso (até o momento desta edição) cristalzinho, já estava pedindo um óleo para hidratar os fios do cabelo. Só por isso, nós já sabemos que aquele cabelo platinado não duraria 15 dias. Note também, que todo o foco, estava apenas sobre o cabelo da participante, esquecendo de analisar todo o restante. Muitos pseudos especialistas em visagismo, relacionaram o fato da participante Jade ter mudado a cor do cabelo como uma estratégia de imagem para ser melhor aceita pelo público através de sua personalidade. Inclusive, estes profissionais pseudos visagistas acreditam que o cabelo loiro representa: ousadia, conflito visual (já que existe uma alteração de contraste pessoal), imagem marcante e agressividade. Longe de mim falar que a cor de cabelo loiro não representa nada disso, mas será que só uma troca de cor de cabelo é suficiente para mudar a visão que as pessoas têm sobre alguém? E sobre a estratégia em sua maquiagem, não vamos falar nada?

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Ao “montar” uma estratégia de imagem para uma pessoa, é definido desde as cores de roupas, estilo de roupas, sapatos, acessórios e claro a estratégia de maquiagem que será abordada. Um exemplo: se você trabalha em uma clínica de estética e começa a trabalhar às 07h, uma make com muito glitter e purpurina no rosto não é a melhor opção para este momento, certo? Você pode acabar passando uma “informação” não desejada. A Jade mudou o cabelo em 13 de junho de 2021 em uma ação de marketing, mas desde antes da mudança, se você observar em seu instagram, conseguirá perceber elementos de sensualidade, feminilidade e ao mesmo tempo inocência/doçura (ela possui algumas características infantis como lábios menores que o esperado para o rosto dela e bochechas com maior concentração de gordura facial). Os elementos citados acima, estão bem evidentes no seu rosto - que por sinal é extremamente proporcional (imagens 1, 2 e 3), temos apenas um leve afastamento entre os olhos - e Jade sabe brincar com todos os elementos, veja que ela utiliza de: sobrancelhas bem desenhadas e marcadas (sobrancelhas neste estilo passam uma sensação de poder, mas só elas sozinhas não fazem milagre), uma mescla de lábios claros e escuros (uma forma de poder “brincar” com feminilidade e doçura), contorno e blush entram não apenas como um charme, mas como uma forma de “diminuir” as características infantis que ela tem, e nos olhos por ter eles bem amendoados e com a linha horizontal ascendente, utiliza de técnicas para deixar eles ainda mais femininos (como delineado alongado tanto no canto interno como no canto externo ou o uso de delineado gatinho + cílios postiços crescentes).

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Se ela já tinha essas características em evidência no seu rosto (sensualidade, feminilidade e inocência/doçura), o que aconteceu para os pseudos especialistas em visagismo insistirem que ela teria uma personalidade mais aceita pelo público, dado que até então ela era conhecida apenas como uma “patricinha”? Ao pintar o cabelo de loiro, Jade deixou o centro do rosto mais evidenciado, principalmente as sobrancelhas que não foram suavizadas, ou seja, permaneceram escuras e com o ponto alto bem desenhado - sobrancelhas com esse estilo passam uma sensação de poder, mas saliento, sozinhas não fazem milagre algum. Além do mais, foi aproveitado deste “alto contraste”, para usar e abusar de técnicas que deixam o olhar da Jade mais delineado/gateado, tudo é pensado para criar poder, força e feminilidade a sua imagem pessoal - recorde que até então, nós só tínhamos conhecimento sobre a Jade daquilo que nos era apresentado pelas redes sociais. Ou seja, nós criamos uma imagem dela. E isso é normal, nós fazemos isso o tempo todo com todas as pessoas. Muito provável que você já tenha achado uma pessoa arrogante e depois de conhecer a pessoa melhor, seu conceito sobre ela mudou. Isso é porque a primeira impressão causa grande impacto, mas ela não define a personalidade de nenhuma pessoa. Se até aqui entendemos que a primeira impressão gera impacto mas não define a personalidade, uma simples troca na cor de cabelo não seria suficiente para mudar uma possível visão que o público poderia ter sobre a Jade. Inclusive se a Jade, mesmo com o cabelo mais escuro, continuasse a usar o mesmo estilo de maquiagem, continuaria passando as mesmas sensações de: ousadia, conflito visual, imagem marcante e agressividade. Atualmente com o “contraste natural”, ou seja, com o tom do cabelo em sua cor natural, não quer dizer que a Jade mudou sua personalidade, seu jeito de agir, de vestir ou de ser uma mulher ousada com uma imagem marcante. Nós é que estamos tendo uma chance de conhecê-la por quem ela é e não como um personagem criado - mesmo com a melhor estratégia de imagem criada, é praticamente impossível uma pessoa manter um “personagem por muito tempo”, e você pode perceber isso através das novelas. Por isso, muito cuidado para não cair em falácias. Por exemplo, dizer que apenas uma maquiagem com delineado gatinho e batom vermelho passam poder a mulher, por isso as mulheres precisam usar quando querem conquistar alguém.

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Ou, que é preciso ter cuidado com o batom vermelho em lábios muito volumosos/carnudos e em uma boca grande em largura, pois o homem pode entender que você fala demais. E é claro, afirmar que o cabelo loiro apresenta características de poder, agressividade, atração e que se você quer ter tudo isso na sua vida, basta pintar o seu cabelo. Isto são falas cheias de preconceitos, e como profissional eu preciso lhe informar: isso não cai bem para ninguém. Uma mulher não precisa apenas de delineado gatinho e batom vermelho, caso queira conquistar alguém. Assim como não precisa tomar cuidado com o tamanho da sua boca e o batom que está sendo utilizado, já que isso não vai interferir na sua vontade de falar mais ou menos (inclusive, essa teoria é de Louis Corman (1901 - 1995), e que foi refutada em âmbito científico). Lembre-se que para mudar uma personalidade é preciso muita força de vontade e anos de dedicação, e para mudar uma imagem pessoal é preciso de uma excelente estratégia de imagem que valorize a imagem que você deseja comunicar.

Fontes: Adolphs R, Nummenmaa L, Todorov A, Haxby JV. 2016 Data-driven approaches in the investigation of social perception. Phil. Trans. R. Soc. B 371: 20150367. http://dx.doi.org/10.1098/rstb.2015.0367 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4843606/pdf/rstb20150367.pdf https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27069045/

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MAIO

Agradecimento Caro leitor, tenho você em conta e alta estima. Sei que as possibilidades da rede são imensas, e tê-lo como leitor, como leitora é muito especial. Sei que do outro lado, à frente do monitor, não há um robô, uma máquina, mas sim um ser

humano.

Agradeço

por

me

privilegiar caros leitores, anônimo ou não, amigo virtual ou real, colegas e exalunos e claro meus familiares,

sem

vocês não haveria porque idealizar este projeto, nem porque dedicar boa parte da minha vida a pesquisa e a leitura. Tenho sorte em tê-los comigo! Até a próxima edição.

r Ritte o i b a F


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