Déjà Vu Projeto Urbano em Aldeia de Barueri, SP.
FAUUSP - Trabalho Final de Graduação Fábio Takayama Garrafoli Prof.Orientador Fábio Mariz Gonçalves
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DÉJÀ VU | Projeto Urbano em Aldeia de Barueri, SP.
Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Trabalho Final de Graduação Junho 2012
Fábio Takayama Garrafoli
Orientador:
Fábio Mariz Gonçalves
Orientador metodológico TFG I: Hugo Segawa Orientador metodológico TFGII: Karina Leitão
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Agradeço a todos que de alguma maneira colaboraram na elaboração deste trabalho. Em especial ao Fábio Mariz Gonçalves pela orientação precisa, aos companheiros do LABHAB por me revelarem o fascinante caminho da pesquisa e a minha família e amigos, pelo apoio, carinho e incentivo inestimáveis.
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Sumário
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Introdução
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Aldeia de Barueri A capela Nossa Senhora da Escada As Condições Territoriais de Aldeia de Barueri Território em Transformação - Análise Cronológica Planos e Projetos - Expansão CPTM Planos e Projetos - Hidroanel Metropolitano de São Paulo
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Estudo de Campo - Análise Tipológica Padrão de Parcelamento do Solo
37 42 44 49 69 75 78
Projeto Urbano Zoneamento Proposto Hierarquia Viária Cortes Praça Maior Terminal “Nova Barueri” Edificação de Uso Misto
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Considerações Finais
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Bibliografia
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Introdução
Este trabalho pretende abordar uma questão essencial para o desenvolvimento das cidades: a importância do desenho urbano na transformação do território. Embora fundamental, este tema é atualmente negligenciado pelos agentes que promovem a produção do espaço urbano – poder público e mercado imobiliário –, propagando práticas geradoras de segregações e exclusões sociais. Deter-se então, no projeto da “vida urbana que queremos” possibilitará extrair diretrizes para a construção de cidades menos desiguais e mais humanas. O que podemos acompanhar no momento atual são áreas que antes ofereciam poucos atrativos imobiliários, mas que por um processo recente de transformação do espaço urbano e valorização fundiária, começam a apresentar fatores interessantes para a implantação de empreendimentos. Estes locais estão necessariamente “destinados” ou “condenados” a tornaremse “mercadoria” na lógica da especulação ou dos interesses estritos do mercado imobiliário? Considerando o papel do setor imobiliário e consequentemente dos investimentos privados na produção do espaço urbano das cidades brasileiras, valeria a reflexão sobre: Quais estratégias de projeto urbano e gestão podem ser utilizadas pelo Estado com vistas ao cumprimento da função social da propriedade em uma região?Questões como esta fundamentam este trabalho. A partir da interpretação do território como resultante de tensões entre os diversos interesses dos agentes no processo de produção do espaço, torna-se possível estudar os desdobramentos gerados no tecido das cidades por meio de atos regulatórios ou intervenções arquitetônicas realizadas pelo Estado e como isso afetará a sociedade e sua arquitetura.
Para compreender alguns aspectos das dinâmicas que incidem sobre o território urbano e seus citadinos, mostra-se necessário delimitar uma área para melhor identificar e observar os fatores que modificam a estrutura da cidade. O bairro Aldeia de Barueri, localizado no município de Barueri – integrante da Região Metropolitana de São Paulo e situado a oeste da capital paulista – mostra-se um caso interessante, pois possui uma importante carga histórica e atualmente passa por um intenso processo de transformação urbana e valorização imobiliária. A Aldeia de Barueri, originária de um aldeamento jesuíta do séc.XVI, bairro de atmosfera interiorana e fisicamente afastado do centro de Barueri, agora se encontra no caminho do maior vetor de expansão da cidade. Barueri cresce para leste em direção à Alphaville por meio do loteamento residencial e de negócios Bethaville, região alvo de diversas intervenções do governo municipal - ginásio municipal, nova sede da câmara dos vereadores, FATEC, SENAI, ETEC, secretária de planejamento urbanístico, etc -. Justamente “entre alpha e beta” localiza-se o pacato bairro, condição esta que deverá ser alterada rapidamente, pois a construção de uma nova ligação viária entre o centro de Barueri e Alphaville atravessará a Aldeia, modificando drasticamente sua inserção no município. Dentro deste cenário complexo de interesses e transformações, este trabalho busca conhecer os processos em curso na Aldeia de Barueri e arredores para então imaginar um produto final possível, uma configuração urbana que promova o desenvolvimento sem denegrir a memória, onde elementos díspares integram-se a um todo apreensível e a arquitetura constrói um espaço de riqueza de apropriações e sentidos.
Este estudo está organizado em três partes, sendo a primeira dedicada à leitura do território. Esta interpretação da paisagem urbana foi realizada através da análise do processo de formação do bairro, abrangendo desde a fundação do aldeamento pelos jesuítas até a emergência das dinâmicas atuais de transformação do ambiente urbano. Ao conhecer os diferentes papéis desempenhados por este território ao longo do tempo, foi possível compreender sua atual inserção na região metropolitana de São Paulo, além de identificar os espaços ou estruturas significativas do bairro do ponto de vista histórico, como a capela Nossa Senhora da Escada ou o encontro entre o rio Barueri Mirim e o rio Tietê, por exemplo. A segunda parte refere-se ao estudo do “futuro iminente”, ou seja, do exame do potencial de transformação deste ambiente urbano frente à intensa atuação do poder público e do setor imobiliário nos arredores. Para tanto, foi executado o levantamento tipológico do bairro, buscando conhecer os tipos arquitetônicos que compunham atualmente a paisagem urbana do local. Além dos elementos construídos, foi também verificado a estrutura fundiária no qual os mesmos estavam dispostos, visando estabelecer um panorama da atual configuração do território.Alguns destes dados foram então espacializados, destacando áreas mais suscetíveis à ação do mercado imobiliário como locais ociosos e glebas subutilizadas. Já a terceira e última parte destina-se à proposta de intervenção. O projeto urbano desenvolvido tem por objetivo manifestar uma nova e factível espacialidade para levantar algumas questões urbanísticas sobre o modo de produção e tranformação dos espaços urbanos nas cidades brasileiras.
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Aldeia de Barueri
rodovia Castelo Branco
linha 8 - CPTM 10 estrada dos Romeiros avenida dos Autonomistas
Mapa 01 -
MunicĂpio de Barueri: Principais Acessos
Legenda
Limites municipais Aldeia de Barueri
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2 Km
Aldeia de Barueri Inicialmente cabe elucidar uma questão importante para o correto entendimento do trabalho: a área de estudo no qual me debrucei foi somente o bairro Aldeia de Barueri e não no distrito de mesmo nome, no qual o bairro está inserido. Antes de nos determos ao local e às suas peculiaridades, devemos primeiramente localizar o município de Barueri dentro da Região Metropolitana de São Paulo para melhor compreender seu papel na estruturação da metrópole. O município de Barueri foi criado pela Lei 233 de 24.12.1948 e conta em sua composição administrativa com quatro distritos – Distrito Sede, Aldeia de Barueri, Jardim Belval e Jardim Silveira, sendo os dois últimos criados pela lei 8.092 de 28.02.1964 (mesma que criou o município de Carapicuíba). Ocupando uma área de 64 Km², o município pertence à zona oeste da RMSP, estabelecendo fronteira com os municípios de Osasco, Carapicuíba, Jandira, Santana de Parnaíba e Itapevi. Os principais acessos são feitos por meio da rodovia Castelo Branco, pela Estrada dos Romeiros – antiga estrada Imperial São Paulo-Itú - e pela linha 8 – Diamante da CPTM – que opera no antigo leito da Estrada de Ferro Sorocabana –, que realiza o trajeto entre a parada Amador Bueno em Itapevi até a estação Júlio Prestes, na região centrral de São Paulo. Barueri possui notoriedade pelos grandes empreendimentos imobiliários realizados nas décadas de 70 e 80, conhecidos como Alphaville e Tamboré. Caracterizados como núcleos urbanos autônomos pelos autores do livro São Paulo Metrópole, eles são da seguinte maneira definidos: “Estão instalados em municípios metropolitanos, porém circunscritos espacialmente, cujas características resultam do fato de corresponderem a empreendimentos imobiliários de grande porte. Sua implantação é baseada em projeto urbano também circunscrito, onde se utilizam tipologias de ocupação do solo que remetem ao conceito de subúrbio americano. A organização funcional dessas áreas se apresenta na forma de condomínios residenciais ou multifuncionais destinados à população de alta renda. Pelas suas próprias características, tais núcleos estabelecem com os municípios adjacentes poucas relações funcionais”.
Mapa 02 -
Localização do município de Barueri na RMSP 0
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15 Km
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Aldeia de Barueri
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Porém estes núcleos só puderam ser considerados autônomos num primeiro momento de seu desenvolvimento, pois sua consolidação se deu com a implantação de vários centros de compras, edifícios comerciais, condomínios industriais, verticalização e expansão territorial. Antes independentes, estes empreendimentos são hoje centralidades polares dentro da mancha urbana da RMSP, gerando novas dinâmicas de emprego e de mobilidade urbana. Para ilustrar o impacto hoje exercido por estes polos na região, Alphaville possui atualmente uma população residente de 48 mil moradores, mas uma população flutuante de 155 mil pessoas/dia. (fonte dos dados: caderno especial São Paulo – Folha de São Paulo, nov.2011). O sucesso imobiliário destes empreendimentos na região está estimulando a reprodução deste modelo em novas localidades, sendo para este trabalho importante citar o loteamento residencial e empresarial Bethaville, localizado entre o centro e a Aldeia de Barueri, que tem sido foco de altos investimentos do poder público e do setor imobiliário (este processo será melhor detalhado nos próximos capítulos). Inserido neste contexto de produção espacial, jaz o bairro Aldeia de Barueri, um dos dez bairros que fazem parte do distrito homônimo, localizado a aproximadamente 1.4 km a leste do centro da cidade e distante menos de dois quilômetros a noroeste do centro de Alphaville.
mapa 03 - distritos da RMSP (fonte: Gov.do Estado de SP)
A Aldeia possui como divisas a rodovia Castelo Branco, o Rio Tietê, o empreendimento Bethaville, a linha férrea da CPTM e a estação de tratamento de esgoto Barueri. Originário do aldeamento jesuítico, o bairro atualmente conta com quase mil e cinquenta edificações, dentre elas a capela de Nossa Senhora da Escada, sítio arqueológico e espaço público de interesse ao patrimônio cultural. Como citado na introdução deste trabalho, o bairro encontra-se hoje no caminho do vetor de crescimento mais intenso da cidade, sendo possível já observar o impacto deste processo com a recente valorização imobiliária dos lotes e imóveis do bairro. A presença de placas anunciando áreas e edifícios à venda é marcante, além de avistar no horizonte os primeiros empreendimentos residenciais verticais. O nome Aldeia de Barueri - alega-se que Barueri faz referência à barreira/obstáculo, uma vez que a colina, encravada numa bifurcação do rio Anhembi (Tietê), onde as condições de altas correntezas não mais permitiam sua navegação, constituíam uma barreira ao desbravamento do território - não poderia ser mais pertinente, o bairro hoje é um obstáculo ao interesse de integração entre o centro de Barueri e sua nova centralidade de negócios Bethaville ao maior polo comercial consolidado da região, Alphaville.
à esquerda, mapa 04 - “Aldeamentos Paulistas”- sem escala (extraído de Morada Paulista de Luís Saia, Perspectiva, 2005), e acima mapa 05 - “Povoamento do Território Paulista - Século XVI” (extraído de Aldeamentos Paulistas de Pasquale Petrone, EDUSP, 1995)
mapa 06 - “O Cinturão Caipira de São Paulo e os aldeamentos - Século XIX” (extraído de Aldeamentos Paulistas de Pasquale Petrone, EDUSP, 1995)
Aldeia de Barueri
Divergências sobre a fundação do aldeamento
Brasão municipal
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Mapa 07 - Localização do município de Barueri na mancha urbana paulista
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20 Km
Bandeira do município
O nome Barueri Embora muitos baruerienses acreditem que Barueri significa “flor vermelha que encanta” em tupi-guarani, frase recorrente em muitos locais públicos e pelas flores presentes no brasão da cidade, isso não é verdade. “Como o aldeamento foi instalado na fazenda Barueri (preexistente) a busca de se atribuir a origem deste nome aos indígenas destoa completamente da toponímica brasileira sendo que, no vocabulário deste inexiste o vocábulo Barueri, estando mais próxima porém da língua francesa.” relata o Professor Elias Silva. O historiador defende que Jeronymo Leitão, proprietário da fazenda Barueri e que possuía ancestrais franceses, teria nomeado a propriedade em razão de sua condição geográfica, caracterizando as fortes correntezas do rio. “Na língua francesa encontramos o vocábulo ‘barièrre’, que significa ‘barreira’, ‘obstáculo’, ‘barranco’, ‘declive’, ‘queda’; e que teria sido dado à fazenda buscando uma caracterização da mesma em face do rio encachoeirado e do relevo da mesma.”
Mapa 08 - Aldeia de Barueri em 1774 croqui sem escala realizado por José Custódio de Sá e Faria Arquivo municipal de Barueri
Sobre o aldeamento de Barueri existem diversas hipóteses defendidas por historiadores quanto à sua fundação. Existe referência que este teria sido fundado a partir da mesma sesmaria concedida à Companhia no séc. XVI (José Joaquim Machado de Oliveira e Elias Silva) ou fundada por D. Francisco de Souza, governador das minas (Manuel Eufrásio de Azevedo Marques) ou, ainda, instituído na primeira metade do séc. XVII em decorrência de uma missão ao litoral sul realizada pelos padres Afonso Gago e João de Almeida (Serafim Leite). A incerteza quanto ao início do aldeamento decorre da falta de documentação para sustentar definitivamente uma das diversas teorias existentes. Elias Silva, autor de História de Barueri - Capítulos de História Municipal, alega que o aldeamento foi fundado por José de Anchieta em 1560, usando como referência uma carta datada de 11 de novembro daquele mesmo ano endereçada a Manoel da Nóbrega, onde Anchieta comunica-lhe a instalação de um grupo de índios guaianazes e guaicúrus trazidos de São Paulo. O professor ainda esclarece porque a capela existente no local foi consagrada à Nossa Senhora da Escada: “porque a primeira missa rezada neste aldeamento, instalado dez dias antes, acontecera em 21 de novembro de 1560.” Serafim Leite discorda e para fortalecer sua tese, expõe o fato que a aldeia de Barueri encontra sua primeira referência oficial em Atas da câmara somente em 28 de abril de 1612. Este argumento é rebatido por Elias Silva, que diz que durante o período de 1560 à 1612 os camaristas não demonstravam preocupação com o aldeamento porque continuavam incentivando as ações bandeiristas, principalmente após a primeira descoberta de ouro na capitania – “Entre 1590 e 1600 as expedições auríferas priorizavam as serras do Jaraguá (São Paulo) e Voturuna (Parnaíba) e a caça aos índios ficou em segundo plano.” A discussão sobre o tema mostra-se interminável, mas Pasquale Petrone esclarece que: “(...) não se exclui, porém, a possibilidade, embora não comprovada, da existência anterior de um núcleo que, de qualquer sorte, teria facilitado a organização do aldeamento. A distância em relação a São Paulo, não demasiadamente grande, e principalmente o fato de situar-se junto ao Tietê, ainda em trecho navegável, constituem elementos que vêm em abono da hipótese.”
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A capela Nossa Senhora da Escada
década de 60
durante investigação arqueológica - 2002
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1975
foto tirada antes do início do trabalho arqueológico
registro da configuração atual - acervo pessoal (demais fotos - Arquivo municipal de Barueri)
em restauro - 2002
A capela Nossa Senhora da Escada
Assim como os romanos, para a Companhia de Jesus, o ato de fundar um novo ponto de permanência humana era um rito de geometria e fé. Baseados num conjunto de regras estabelecidas no ano de 1573 por Filipe II, chamada Lei das Índias – considerada a primeira legislação urbanística da Idade Moderna –, os jesuítas obedeciam a um claro método para estabelecer um novo aldeamento. Neste processo, a capela desempenhava um papel fundamental na estruturação do espaço, não só do ponto de vista simbólico como efetivo. A construção da capela era semelhante à abertura do mundus pelos romanos, onde era estabelecido o ponto original do território. O adro da capela era o espaço público principal do aldeamento, centro da vida cotidiana dos aldeados. Nesta praça era praticada a catequese e realizavam-se as festividades. Dois fatores subordinavam a escolha do lugar da capela: a proximidade com um curso d’água – onde pudessem obter água para as atividades cotidianas e para se locomoverem – e um terreno alto para controlar visualmente os arredores. No aldeamento de Barueri privilegiou-se a proximidade da água em detrimento do local mais elevado, uma vez que existiam terrenos mais elevados à leste da implantação escolhida. Outro detalhe importante era a orientação da capela, no caso da Aldeia de Barueri a fachada principal aponta ligeiramente para o noroeste. Podemos formar algumas hipóteses quanto a este direcionamento: Sendo o aldeamento o último ponto navegável do rio Anhembi desde a vila de São Paulo – o rio só voltava a ser navegável a partir do atual município de Itu –, a igreja direciona o olhar para terras inalcançáveis por via fluvial, numa alegoria ao desejo de promover a interiorização da colônia e consequentemente da fé cristã; outra possibilidade menos poética é o fato deste vetor oferecer o horizonte mais extenso, uma vantagem estratégica quando se está sujeito a invasões; ou ainda porque nesta direção encontrava-se o encontro dos corpos d’água que balizaram a escolha da área para a instalação do aldeamento, de modo a criar um vínculo visual entre os dois locais, desta maneira quem subia do porto em direção à praça central avistava imediatamente a capela.
Mas a capela que encontramos hoje no largo Nossa Senhora da Escada não é a mesma que foi erguida em 1560. “Construída em taipa de pilão, a capela foi reformada no século XIX pelo padre José Felizardo Gomes Mamede, que permaneceu como vigário de Parnaíba e da capela Nossa Senhora da Escada, de 24 de dezembro de 1862 a 17 de janeiro de 1878”, nesta reforma dirigida pelo vigário, as dimensões da igreja foram reduzidas e suas paredes de taipa substituídas por alvenaria, alterando sua arquitetura inicial. Desde então a capela sofreu uma série de intervenções que negligenciavam sua importância histórica e alteravam seu aspecto original. Durante pesquisa arqueológica realizada em 2002 e desenvolvida pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – MAE-USP – feita no local, realizou-se a abertura de trincheiras para prospecção. Desta sondagem foi possível inferir algumas informações, como a confirmação de que a edificação atual não corresponde ao período de implantação do aldeamento, mas a um período posterior, dado que sua fundação é composta por tijolos. Mas, ao mesmo tempo, foram encontrados vestígios de taipa – fundação de taipa da igreja original –, possibilitando a recuperação do antigo perímetro da capela, que realmente possuíra dimensões maiores que a atual. A municipalidade, durante um curto período de tempo, manteve as trincheiras abertas para visitação pública, mas após uma obra de melhoramento do largo, houve o tamponamento destas escavações e a memória da região foi novamente ocultada para dar lugar a um gramado e algumas palmeiras. A capela, que passou por um projeto de recuperação durante o trabalho de arqueologia, permanente hoje como o único testemunho do período em que a região era conhecida por ser o aldeamento jesuíta mais importante em termos de concentração populacional. O fato de que somente a capela foi relativamente conservada durante séculos de ocupação humana, decorre do modo negligente com que tratamos a memória em nossas cidades. A sobrevivência da capela já pode ser considerada um milagre, visto que as preocupações com patrimônio histórico são muito recentes no Brasil.
Preservar é fundamental, mas o modo com que esta preservação é realizada é ainda mais importante, pois se for mal direcionada, muitas vezes é responsável por esvaziar complemente de sentido a manutenção da própria construção. No caso da capela de Aldeia de Barueri, todo seu entorno foi descaracterizado, e não há mais a leitura espacial da ampla praça central conformada pelas construções mais importantes do aldeamento, conforme estabelecido na Lei das Índias. Desprovida de seu ambiente, a capela resiste, mas perde grande parte de sua carga poética. Marc Augé alerta que nas cidades contemporâneas, “a relação com a história que povoa nossas paisagens talvez esteja em vias de esterilizar-se e, simultaneamente, dessocializar-se e artificializar-se”. Hoje, a igreja não passa de um testemunho débil de um passado extraordinário.
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A capela Nossa Senhora da Escada
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croqui constante do projeto de restauro da capela realizado pelo CONDEPHAAT em 2002 - idem imagem pรกg.anterior
A capela Nossa Senhora da Escada
Algumas regras constantes na Lei das Índias:
• A planta do estabelecimento a ser fundado deveria sempre ser levada pronta de Portugal; • O plano composto por ruas, praças e lotes deveria ser implantado a partir da praça principal – adro da edificação religiosa, de onde sairiam às ruas, que se prolongavam até as portas e ruas exteriores; • A implantação deveria ser feita, deixando espaço vazio aberto suficiente para que o crescimento da população não fosse estancado e permitindo que o mesmo modelo fosse seguido; • A praça principal, denominada de praça maior deveria estar sempre localizada no centro da cidade; • O comprimento da praça deveria ser maior do que a sua largura, no mínimo uma vez e meia – os colonos consideravam esta forma, a mais adequada aos festejos com cavalos e outros; • A área da praça deveria ser proporcional e adequada ao número de habitantes, pensando-se sempre no futuro crescimento da cidade; • A largura da praça não deveria ser inferior a duzentos pés e o comprimento não poderia ser menor do que trezentos pés. Em contraponto, o tamanho máximo não deveria ultrapassar a medida de quinhentos pés de largura e oitocentos pés de comprimento; sendo que o tamanho ideal considerado, seria de quatrocentos por seiscentos pés; • A partir dos quatro pontos médios dos lados, que compõe o perímetro da praça, deveriam sair quatro ruas principais. E os quatro ângulos da figura geométrica deveriam originar duas ruas cada; • Os quatro ângulos deveriam estar direcionados para os pontos cardeais, pois desta forma, as ruas que se iniciam na praça não ficariam expostas aos quatro ventos principais (regra oriunda do Tratado de Vitrúvio);
• A praça e as ruas principais que se originam nela deveriam ser ladeadas com pórticos, porque estes são convenientes às pessoas que querem passear, dialogar ou realizar comércio (regra advinda do plano romano de implantação de cidades); • As oito ruas que desembocam nos quatro ângulos da praça não poderiam, de forma alguma, ser obstruídas pelos mencionados pórticos; • Os pórticos deveriam terminar nos ângulos, possibilitando que as calçadas das ruas estejam alinhadas com as da praça; • As ruas deveriam ser largas nas zonas frias e estritas nas regiões quentes. Nas áreas que necessitam de defesa, as ruas deveriam ser largas para permitir o acesso aos cavalos; • Nas pequenas cidades do interior, a igreja não deveria localizar-se no perímetro da praça, mas deveria estar situada livremente e de forma independente das outras edificações, para que pudesse ser vista de todas as partes, realçando sua beleza e importância; • A igreja deveria estar situada numa área com topografia elevada, para que os fiéis tenham que subir bastante para alcançá-la; • O hospital freqüentado pelos pobres deveria estar localizado ao norte, de modo a estar em exposição ao sul; • Os terrenos para construção, situados em volta da praça principal, não deveriam ser cedidos à particulares, e sim à igreja, aos edifícios reais e municipais, às lojas e às habitações de mercadores e, por último, aos colonos mais ricos. (extraído do texto “Cidades coloniais americanas” de Ana Claúdia de Miranda Dantas, portal vitruvius, 2004)
Ao lado, trecho da planta da Redução de São Miguel Arcanjo, no RS, datada de 1756 - acervo da Biblioteca Nacional, RJ.
representação de aldeamento segundo a Lei das Índias (extraído de Morada Paulista de Luís Saia, Perspectiva, 2005)
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As condições territoriais de Aldeia de Barueri
balsa da Aldeia de Barueri - 1960
18 ponte pênsil sobre o rio Tietê - 1976
planta do sítio arqueológico - 2002 - museu municipal
maquete eletrônica do novo centro de compras - 2011
construção da rodovia Castelo Branco - década de 60
maquete eletrônica da nova ponte que ligará Aldeia de Barueri a Alphaville - 2010
As condições territoriais de Aldeia de Barueri
A expressão “condição territorial” designa aqui um núcleo humano organizado, um lugar habitado de maneira duradoura, não importando se sua natureza é urbana ou rural. Julgo que este termo é mais adequado para englobar o processo de desenvolvimento da Aldeia de Barueri porque permite integrar as diversas categorias – aldeamento jesuíta, povoado, subúrbio, bairro, centralidade, etc – nas quais este lugar pode ser enquadrado durante sua existência e desenvolvimento. Centro Neste período, o aldeamento desempenhava um papel central na estruturação do espaço da região, sediando as instâncias de poder local. Esta condição obedeceu ao período de tempo relativo à fundação do aldeamento até o governo de Antonio José de Franca e Horta, que administrou São Paulo de 1802 a 1811 e que foi responsável pela transferência da administração da aldeia de Barueri para a vila de Santana de Parnaíba. A localização do aldeamento, inaugurando o trecho terrestre para prosseguir para o oeste, dada a inavegabilidade do rio Tietê na região, constituía num importante fator do crescimento demográfico do mesmo, pois era considerado o último refúgio dos índios fugidos de São Paulo ou de Santana de Parnaíba. Por ser a última instalação da Companhia ao sul de São Paulo, era o local onde a mescla de tribo se fazia mais presente. “Nas atas da Câmara paulistana é possível verificar que (...), a aldeia de Barueri era procurada pelos índios que fugiam de outros aldeamentos e fazendas, porque ali recebiam maior proteção e viviam numa espécie de comunidade, que pela localização, distinguia-se das demais.” (Silva 1999:35) Em 1600, a população indígena chegou a ser superior a mil indivíduos e o aldeamento chegou a ocupar grandes extensões de terra, incorporando todo o platô onde hoje está localizado o bairro da Aldeia de Barueri. Este grande contingente humano instalado num amplo território de caráter estratégico para a interiorização da colônia, fortalecia a Companhia de Jesus, contrariando camaristas e bandeirantes.
Após muitos conflitos entre jesuítas e a câmara de São Paulo, que contou até com uma invasão do aldeamento por parte dos membros da câmara em 1633 e diversas alterações do órgão responsável pela administração do aldeamento, um processo irreversível de decadência instalou-se na Aldeia de Barueri. Com a expulsão definitiva dos jesuítas de qualquer território da coroa portuguesa no dia 03 de agosto de 1759, todos os aldeamentos da Companhia passaram a estar sob administração da nação lusitana. A passagem do século XVIII para o XIX foi marcada pela retirada do predicamento de aldeamento para estes núcleos populacionais, que passaram a ser caracterizados como meros povoados. À Vila de Parnaíba coube a administração do antigo aldeamento de Barueri. Este fato, isolado, já poderia decretar a alteração da condição que a Aldeia de Barueri exercia nos seus arredores, porém, durante o mandato de Antonio José de Franca e Horta como governador, houve outros acontecimentos que fortaleceram o processo de periferização da Aldeia de Barueri. “A abertura de três vias de comunicação ligando São Paulo a Itú, Sorocaba e Jundiaí, durante o seu governo, com as primeiras passando próximas a Aldeia de Barueri, embora distantes de Santana de Parnaíba, permitiram que surgisse um núcleo populacional ligado a estas vias pela atividade de abastecimento de tropas(...) Nascia o povoado de Barueri.” (Silva 1999:53)
Periferia Estabelecido nas proximidades do cruzamento entre a estrada que seguia para Itu e a rota para Sorocaba, o povoado de Barueri, que num primeiro momento era um pequeno núcleo agrícola autônomo, ampliava suas atividades para atender os tropeiros que buscavam um local nos arredores de São Paulo para pernoitar e abastecer seus suprimentos. “O povoado de Barueri passa a figurar nas atas da Câmara da Vila de Parnaíba como um local em constante crescimento, com hospedarias e com um comércio para tropeiros que estava atraindo muitas pessoas para o mesmo. O cultivo local já não se limitava apenas à subsistência dos moradores, era agora produto de grande valor comercial.” (Silva 1999:54) Este processo só foi intensificado com a construção da Estrada de Ferro Sorocabana, iniciada em 1870. Com a inauguração do primeiro trecho da ferrovia e de uma estação no povoado, no dia 10 de junho de 1875, assim a importância do antigo centro jesuíta só se fazia diminuir. Um fato exemplar para demonstrar a periferização da Aldeia de Barueri é a construção de uma nova igreja, localizada no largo da estação e dedicada a São João Batista, em 1893, com o intuito de evitar os deslocamentos até a capela de Nossa Senhora da Escada, que os fiéis eram forçados a realizar para celebrar os ritos católicos. A Aldeia de Barueri, estagnada econômica e demograficamente, viu-se à margem da emergência do novo centro da região. A falta de conexões viárias adequadas entre os dois centros também prejudicava a integração – balsas realizavam a travessia num primeiro momento e somente nos anos 40-50 foram construídas pontes para realizar a transposição do Tietê. Gradativamente, com o crescimento do povoado, que passou a ser distrito de paz em 1918 e finalmente emancipouse de Santana de Parnaíba em 1948 – a Aldeia de Barueri passa a ser um distrito do novo município juntamente com Carapicuíba –, o papel da aldeia passa a ser meramente simbólico, local histórico onde se iniciara a ocupação da região. carro de boi em Aldeia de Barueri - sem data - Arq. Municipal
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As condições territoriais de Aldeia de Barueri
Conurbação? Centralidade?
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O papel da Aldeia de Barueri parece novamente se alterar, com o surgimento de novas dinâmicas de produção do ambiente urbano. O modesto bairro, antes ilhado por grandes infraestruturas instaladas em seus arredores – linha férrea, rodovia Castelo Branco, ETE Barueri – e pelo charco causado pelos meandros dos rios Tietê e Barueri mirim, começa a despertar o interesse do poder público e do mercado imobiliário. Destrinçar este interesse emergente por uma região que desde o início do séc. XIX encontra-se marginalizada é fundamental para o desenvolvimento deste trabalho e do projeto de intervenção. O acontecimento que lançou as bases deste processo foi a aprovação da lei de zoneamento do município em 1973, que criava condições favoráveis à industrialização junto à rodovia Castelo Branco. Foi com base nesta lei que se tornou possível a implantação de empreendimentos como Alphaville (1974) e Tamboré (1988) em Barueri. Esta legislação parece distante e juridicamente superada no contexto atual, porém deve ser considerada porque as dinâmicas atuais fundamentam-se justamente no sucesso imobiliário de Alphaville. O polo empresarial e residencial de Alphaville é o grande responsável pelo enriquecimento do orçamento público – apesar de possuir a alíquota de ISS mais baixa da RMSP –, colocando Barueri entre as vinte cidades mais ricas do país, com um PIB que no estado paulista, é superado somente pela capital e por Guarulhos – que possuem uma população muito mais numerosa do que a de Barueri - 240.656 pelo censo IBGE 2010. Deste sucesso podemos extrair duas dinâmicas que estão atualmente em curso no município – o desejo de continuar reproduzindo este modelo de criação de polos planejados de emprego e moradia e a intenção de conectar integralmente o tecido urbano de Alphaville ao restante do município. Essas dinâmicas são movidas predominantemente pelo interesse de valorização imobiliária que resultará da produção destes eventos, uma vez que o metro quadrado mais caro da cidade de Barueri é justamente o da região de Alphaville.
No que diz respeito à reprodução do modelo urbanístico de Alphaville, podemos citar diversos empreendimentos atualmente em implantação – Alphaville Burle Marx, Villa Solaia, 18 do Forte, Bethaville, Alphaville Conde I e II, Alpha Plus, Alpha Square, Alpha Sítio, Gênesis I e II, Melville, Valville, Allta, Villa Velha, entre outros. No âmbito deste trabalho, devemos deter nossa atenção ao loteamento conhecido por Bethaville. Localizado no local antes alagadiço e lodaçal por ação do traçado meândrico dos rios Tietê e Barueri mirim – o Barueri mirim já foi “devidamente canalizado” pelo município no trecho em questão –, Bethaville encontra-se atualmente em ritmo acelerado de ocupação. Este novo “bairro” ocupará a última grande extensão de terra contígua ao centro de Barueri, com acesso direto à rodovia Castelo Branco e com uma futura estação plurimodal prevista pela CPTM. Se os aspectos geográficos não fossem o bastante para despertar o interesse do mercado imobiliário, o zoneamento em algumas regiões permite um coeficiente de aproveitamento básico 4, podendo chegar a 8, (SRR – Setor de Uso predominantemente Residencial Restritivo – para residência plurifamiliar, comercial ou mista; SPC – Setor de Uso predominantemente Comercial – para residência plurifamiliar, comércio, serviços e uso misto) e uma taxa de ocupação de 80% (SCS – Setor de Uso de Comércio e Serviços – para comércio, serviços e pequenas industrializações). Um fator preocupante no que tange o zoneamento municipal é que a Aldeia de Barueri possui praticamente o mesmo zoneamento de Bethaville, abrindo uma possibilidade real de total transformação – ou desfiguração – do tecido existente.
Acima, imagens promocionais dos lançamentos em Bethaville. Abaixo, panorama de Bethaville com o bairro Aldeia à esquerda.
Mapa 09
Zoneamento Legenda SRA - Setor de Uso Predominantemente Residencial de Alta Densidade Coef. Aproveitamento* básico = 4.0 (comerc./serv.) máximo = 8.0 (comerc./serv.) Taxa de Ocupação residencial = 47.60% conj.habitacional = 50% comercial e serviços = 70% misto = uso prevalecente SRR - Setor de Uso Predominantemente Residencial Restritivo Coef. Aproveitamento* básico = 4.0 máximo = 8.0 Taxa de Ocupação residencial = 55% comercial e serviços = 70% misto = uso prevalecente
SPC - Setor de Uso Predominantemente Comercial Coef. Aproveitamento* básico = 4.0 máximo = 8.0 Taxa de Ocupação residencial plurifamiliar, comércio, serviços e uso misto = 65% condomínio horizontal = 45% SUD - Setor de Uso Diversificado Coef. Aproveitamento* básico = 1.0 máximo = 3.0 (comerc./serv.) Taxa de Ocupação residencial unifamiliar = 47.60% comercial e serviços = 80% industrial = 70% *valores menos restritivos
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As condições territoriais de Aldeia de Barueri
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Mas o poder público não ficou restrito somente à legislação para atrair o mercado imobiliário para a região. Além de canalizar o rio e prover o local de infraestrutura, a prefeitura construiu nas terras do empreendimento um ginásio municipal com capacidade para 5 mil torcedores – projeto do escritório Biselli + Katchborian Arquitetos –; a nova sede da Câmara Municipal; uma FATEC; a nova sede da secretaria de Planejamento e Controle Urbanístico; uma praça de mais de vinte mil metros quadrados; uma ETEC; a nova sede da secretaria de Indústria, comércio e Trabalho; além de angariar a implantação de uma escola técnica do SENAI. Acredito que esforço semelhante só encontra paralelo no Projeto Nova Luz do governo paulistano. Com essa quantia imensa de recursos públicos sendo investida na gleba vizinha, a Aldeia de Barueri certamente irá apresentar desdobramentos em sua organização espacial. Em conversa com os moradores do bairro, foi-me relatado que antigos imóveis foram comprados por investidores de Alphaville para a construção de conjuntos de residências estudantis, tipo quitinete, dada a demanda exercida pelas novas escolas técnicas de Bethaville. Dois lançamentos residenciais de duas torres cada já alteram o horizonte do bairro, predominantemente composto por construções de no máximo dois pavimentos. Mas o que irá alterar determinantemente o papel do bairro dentro do muncípio de Barueri é uma obra viária. A construção – já em andamento – de uma nova ponte sobre o rio Tietê determinará um novo ponto de conexão entre Alphaville e Barueri, mas especificamente entre o centro de negócios e o centro administrativo da cidade, passando por Aldeia e Bethaville. Esta obra de arte unirá a rua General da Divisão Pedro R. da Silva na margem esquerda com a estrada Aldeinha na margem direita. A rua General da Silva é conectada com diversas ruas locais do bairro Aldeia de Barueri, mas liga-se também à estrada dos Romeiros – principal eixo de ligação entre Barueri, Carapicuíba e Osasco. Já a Estrada Aldeinha segue diretamente para o trevo do Km 23 da rodovia Castelo Branco, principal alça de acesso à Alphaville. Esta obra irá modificar completamente a inserção urbana da Aldeia de Barueri, que carece de cone-
xões viárias com seu entorno desde a fundação do povoado de tropas, para tornar-se o novo ponto de transposição do rio, um novo ponto de contato entre as malhas urbanas da cidade. Antecipando esta mudança, foi inaugurado em novembro de 2011, um novo centro de compras de 37 mil metros quadrados de área, localizado estrategicamente na rua General da Divisão Pedro R. da Silva, entre a ETE Barueri e o bairro de Aldeia. Já podemos observar no tráfego do bairro um impacto considerável em decorrência da abertura do shopping, uma vez que uma das rotas de acesso é feita atravessando longitudinalmente o mesmo. Mas além do impacto no trânsito, o centro comercial irá afetar a rede de comércio local existente no bairro, gerando um novo núcleo de consumo na região. O shopping center, espaço asséptico e alienante, “simulacro de cidade de serviços em miniatura, onde todos os extremos do urbano foram liquidados” – (Sarlo 1997:17/18) –, é a referência paradigmática do “progresso e desenvolvimento” de uma área. Todos os processos descritos acima irão alterar drasticamente a estrutura espacial e o perfil sócio-econômico da histórica Aldeia de Barueri. Várias intervenções urbanas e arquitetônicas serão efetuadas, muitas com características homogeneizadoras, que negam qualquer perspectiva de continuidade histórica. Estes novos projetos irão provocar a valorização da terra, expulsando os tradicionais moradores, suprimindo a diversidade social e cultural do bairro. Os novos edifícios, mais altos e mais murados, produzirão novos entraves urbanos e sociais, tornando os passeios públicos pouco convidativos. O exercício projetual presente neste trabalho propõe justamente buscar uma maneira diferente de acompanhar todas estas dinâmicas de transformação urbana, sem pasteurizar a arquitetura e gentrificar o território urbano.
Ao lado, croqui do ginásio municipal - arquiteto Mário Biselli
As condições territoriais de Aldeia de Barueri - Mapa 10 - Dinâmicas de transformação do Território
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Legenda
Bethaville Obras de destaque
01- Secretaria da Indústria, Comércio e Trabalho 02- Secretaria de Planejamento e Controle Urbanístico 03- Ginásio Municipal José Corrêa 04- Praça dos Estudantes
05- FATEC Barueri 06- SENAI Barueri 07- Câmara dos Vereadores 08- Nova Ponte Aldeia-Alphaville
09- ETEC Barueri 10- Parque Shopping Barueri 0
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200 metros
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Território em Transformação - Análise Cronológica
2002 Capturada em 15 de outubro daquele ano, a imagem possibilita reconhecer o início das obras do empreendimento Bethaville. O ginásio municipal encontra-se praticamente concluído enquanto o restante da área ainda não foi pavimentada. Curioso observar o rio Barueri mirim ainda não tamponado, apesar de já restrito a um canalete. Neste ano também são iniciadas as pesquisas arqueológicas nas cercanias da capela Nossa Senhora da Escada.
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2006 Esta imagem, demonstra a continuidade dos trabalhos de infraestrutura na região de Bethaville, com o surgimento do traçado viário e a conclusão da obra se canalização do Barueri Mirim. Podemos ver também as obras viárias ocorridas à leste de Aldeia de Barueri, com a canalização de um trecho do antigo leito do rio Tietê. Duas rotatórias organizam agora o fluxo do rua General da Silva – acesso à Carapicuíba e Osasco –, gerando um novo ponto de acesso ao bairro, pela avenida Guilherme Rohn.
2002
2006
2008
2009 - fonte das imagens: Google Earth
2008 No dia 14 de dezembro deste ano, seis anos depois do início das obras, o “bairro” Bethaville encontra-se concluído. Podemos ver que além do ginásio municipal, a FATEC, a Câmara de vereadores, a secretaria de Planejamento e Controle Urbanístico e a escola do SENAI já se encontram construídas. Os primeiros empreendimentos começam a despontar no setor norte de Bethaville, próximo à rodovia Castelo Branco. Começam a ser construídas as duas maiores torres residenciais de Aldeia de Barueri e nas novas quadras geradas pelas obras viárias junto à rua General da Silva, instala-se uma companhia de teleatendimento, em frente à estação Antônio João da CPTM. 2009 Quase doze meses depois, podemos observar o início de três obras públicas: da praça dos estudantes e da ETEC em Bethaville e da escola maternal em Aldeia de Barueri.
Planos e Projetos - Expansão CPTM Em painel realizado durante a 16° Semana da Tecnologia Metroferroviária em 2010, Alberto Epifani, diretor de planejamento da Companhia de Trens Metropolitanos de São Paulo, apresentou “CPTM – Plano de Expansão e Novos Projetos”. Neste evento, uma das imagens mostradas desperta interesse no âmbito deste trabalho, pois influi diretamente na área de estudo em questão. Designada por “Ligação Alphaville”, este projeto determina a construção de uma nova alça de transporte coletivo, uma linha de VLTs – veículos leves sobre trilhos – que irá realizar a ligação entre Barueri e Carapicuíba, passando por Alphaville. Esta medida mostra-se fundamental e urgente, visto que a região de Alphaville carece de um sistema de mobilidade urbana de alta capacidade por concentrar um alto número de locais de trabalho e poucas alternativas de transporte público. A linha de VLTs estará integrada à linha 8 – Diamante da CPTM pelas estações Carapicuíba – já existente – e pela estação Nova Barueri – ainda a ser construída pelo poder público. O projeto também prevê o deslocamento da estação Antônio João para junto do recéminaugurado Parque Shopping Barueri, gerando um acesso direto entre o empreendimento e o sistema de transporte coletivo. Esta combinação já foi realizada com grande sucesso comercial em muitos locais – na grande São Paulo há vários casos desta associação, por exemplo – mas o peculiar é que em Barueri a iniciativa pública que irá realizar a aproximação ao empreendimento e não o contrário, abandonando um ponto de parada que começou a operar em 1941. A necessidade da implantação deste projeto e o impacto que o mesmo causará na Aldeia de Barueri motivaram a consideração deste plano como uma das premissas para a elaboração de estratégias projetuais neste trabalho. A “Ligação Alphaville” afetará a Aldeia de Barueri em diversos sentidos: uma nova estação da linha 8 – Diamante será erguida entre o bairro e Bethaville, gerando uma nova porta de entrada à região e a linha de VLTs atravessará a Aldeia, intensificando sua integração com os bairros vizinhos, além de alterar o cotidiano do bairro . Como este projeto da CPTM ainda se encontra em etapa de desenvolvimento, adotaremos somente a intenção de construção da ligação, sendo seu traçado e número de paradas uma parte integrante do exercício projetual a ser concebido. Desta maneira, abrem-se maiores possibilidades de experimentação e a oportunidade de incorporar um modal de transporte coletivo no processo criativo deste projeto, integrando-o da melhor forma possível com o sistema existente.
Apresentação da “Ligação Alphaville” - slide extraído do painel “CPTM - Plano de Expansão e Novos Projetos”, São Paulo, 2010. Abaixo, imagens da estação Antônio João, em Aldeia de Barueri. À esquerda, antigo registro da estação, sem data definida, pertencente ao acervo do arquivo municipal da cidade. No centro, uma foto do aspecto atual da estação (fonte: panoramio.com) e à direita, maquete eletrônica do projeto de reconstrução da estação, previsto no plano “Ligação Alphaville” (fonte:skycraperlife.com)
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Planos e Projetos - Hidroanel Metropolitano de S達o Paulo
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Planos e Projetos - Hidroanel Metropolitano de São Paulo
O “Estudo de Pré-Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental do Hidroanel Metropolitano de São Paulo” foi licitado em 2009 pelo Governo do Estado paulista através do Departamento Hidroviário da Secretaria Estadual de Logística e Transportes. Coube ao grupo de pesquisa Metrópole Fluvial do LABPROJ da Faculdade de Arquitetura da USP apresentar um metaprojeto no qual fosse discutida a articulação arquitetônica e urbanística desta rede de canais com a região metropolitana de São Paulo. A proposta apresentada pelo grupo baseou-se na noção de “uso múltiplo das águas”, estabelecida na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 08.01.1997), que considera as águas um bem público e cujo uso deve ser racionalizado de maneira a permitir o acesso do maior número de pessoas por meio de atividades diversas. Desta maneira, o conjunto de rios e canais urbanos possuem papel fundamental na reestruturação da urbanística da cidade, ao se colocarem como potenciais espaços públicos para o uso logístico, transporte de cargas e passageiros, turismo e de lazer. A capacidade de integrar gentilemente um complexo sistema logístico com a cidade pré-estabelecida despertou a intenção de adotar este sistema como uma das premissas projetuais deste trabalho, buscando reunir ao projeto urbano do bairro Aldeia de Barueri, que margeia o rio Tietê, questões fundamentais no modo de produção das cidades brasileiras junto aos seus corpos hídricos, uma vez que “viabilizar o Hidroanel não significa apenas promover a navegação, mas se trata também da possibilidade de retomar a importância da visibilidade dos rios urbanos, da sua capacidade de estruturar espaços, valorizá-los e edificar uma cidade que promova a qualidade de vida dos seus habitantes. Deve-se retomar a função dos rios como elementos da identidade de São Paulo.” (extraído do relatório conceitual do hidroanel metropolitano de SP)
Na página anterior, maquete eletrônica do Tri-porto Carapicuíba. Ao lado, representação do sistema hidroviário (sem escala definida) e maquete eletrônica da barragem e eclusa do Pinheiros. Fonte:www.metropolefluvial.fau.usp.br/
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Planos e Projetos - Hidroanel Metropolitano de S達o Paulo
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Planos e Projetos - Hidroanel Metropolitano de São Paulo
Detalhe
Trecho A-101 Hidroanel Bairro Aldeia de Barueri inserido em APA “Parque Várzeas do Tietê”
Legenda
Aldeia de Barueri
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Estudo de Campo - Análise Tipológica
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registros atuais do bairro - acervo pessoal
No topo, foto aérea da região - fonte: arquivo municipal, no centro, registro do aquecimento imobiliário - acervo pessoal, e abaixo, estado atual do antigo leito do rio Tietê - acervo pessoal
Estudo de Campo - Análise Tipológica
“Barueri localizou-se justo na área em que o Tietê abandona a faixa sedimentar para penetrar na zona cristalina, portanto numa área de contato geológico e, secundariamente, morfológico. Nessa área, o rio, entre outros de expressão variada, forma um grande meandro: correndo inicialmente para oeste, volta-se para o norte ao penetrar nas superfícies cristalinas, O aldeamento sediou-se justamente a jusante do ponto em que o rio se volta para o norte, junto à margem direita, sobre um nítido terraço (730m) a cavaleiro do rio, em local fronteiriço à desembocadura do afluente Barueri. Enquanto a margem esquerda, nesse trecho, é baixa, dada a deposição de sedimentos carregados pelo Barueri, a margem direita é alta, a barranca do rio correspondendo ao talude do terraço atualmente trabalhado pelas águas. Abrigado de possíveis inundações em virtude de sua localização sobre o terraço, Barueri pôde, entretanto, usufruir de todas as vantagens da contiguidade do rio, tanto que, certamente, deve ter tido um atracadouro para o qual se descia por intermédio de uma breve e íngreme ladeira a partir da praça”. (Petrone 1995:145)
O aldeamento, que seguiu um padrão de ocupação que pode ser observado na maioria dos núcleos jesuíticos do período pré-cabralino – por se encontrar em terreno elevado, com ampla vista dos arredores, e próximo a um curso d’água –, após constantes interferências antrópicas e das intempéries, encontra-se hoje complemente descaracterizado. O bairro não guarda hoje muitos elementos históricos que testemunhem seu passado de catequese, até mesmo a configuração da paisagem hídrica do período de fundação do aldeamento e o que encontramos atualmente diverge diametralmente – o rio Tietê foi retificado e hoje passa do outro lado do bairro em comparação com o leito original. A Aldeia de Barueri segue em processo contínuo de transformação e conhecê-la é um processo complexo e incessante, dada sua condição dinâmica, porém, um momento de repouso e reflexão mostra-se necessário para analisar índices e valores, resultantes do levantamento de campo. foto aérea do centro do bairro (arquivo muncipal)
A pesquisa in loco revelou um bairro predominantemente horizontal – mais de 80% das edificações não possui mais de dois pavimentos – e notadamente residencial – perto de 80% dos imóveis é de uso exclusivamente residencial. Esse panorama, apesar de real, pode induzir uma interpretação equivocada da estrutura do bairro – esses dados podem tanto descrever um subúrbio americano quanto uma favela em Johanesburgo –. Devido à falta de documentação referente à espacialização da população segunda faixa de renda no município, e pela impossibilidade de realizar tal levantamento num trabalho acadêmico individual, optou-se por realizar uma análise tipológica do bairro, de modo a identificar os tipos construtivos que compõem o território e a trama latifundiária em que os mesmos estão implantados. Com esta análise será possível traçar o perfil do bairro, inferirindo a arquitetura urbana do mesmo e consequentemente seu potencial de transformação. Foram adotadas as seguintes classes para descrever o ambiente construído da Aldeia de Barueri: • Edificação térrea, • Edificação de 2 pavimentos, • Edificação de 3 pavimentos, • Edificação com mais de 3 pavimentos, • Construção singular, • Terreno baldio/estacionamento, • Galpão
Acima, casebres de Aldeia em 1960 e abaixo o mais novo lançamento imobiliário do bairro. (fontes: arquivo municipal e http://vitallehomeclub.blogspot.com/)
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Estudo de Campo - Análise Tipológica
A partir destas categorias será possível obter um panorama do bairro, dimensionando a participação de cada elemento na construção da paisagem urbana. Segundo Gordon Cullen, paisagem urbana é “a arte de tornar coerente e organizado a diversidade de construções, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano”. Neste ambiente marcado pela heterogeneidade, a arquitetura opera em dois níveis: o primeiro, restrito aos limites de cada edifício, é a singularidade de cada obra, já o segundo é o diálogo entre estas particularidades no espaço urbano – a arte do relacionamento descrita por Cullen –, uma arquitetura que exercida coletivamente, produz a cidade. No bairro de Aldeia de Barueri, a paisagem urbana é formada por 1458 edificações, dispostas nas categorias de classificação tipológica da seguinte maneira:
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01.7%
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O levantamento tipológico confirma a condição de bairrodormitório. Apesar de consolidado, o bairro apresenta grande potencial de transformação, pois é formado por construções pouco complexas e de tamanho reduzido. O fato de que 61,1% dos domicílios do bairro encontram-se quitados pelos moradores (dado Censo IBGE 2010), pode se constituir num entrave à transformação do bairro, porque cada incorporadora terá de negociar com vários proprietários para poder adquirir uma área de dimensões consideráveis para um empreendimento ou pode se constituir num facilitador do processo, uma vez que muitos proprietários podem colocar seus imóveis à venda dada a valorização imobiliária que se verifica no bairro atualmente. O perfil predominantemente horizontal do bairro já está sendo drasticamente alterado com a construção de um empreendimento residencial que terá duas torres de 28 pavimentos cada, superando em quatro pavimentos o condomínio vizinho recém-completado. Do ponto de vista comercial, a avenida da Aldeia é o principal corredor, sediando diversos estabelecimentos de comércio de vizinhança – dentre eles padarias, pequenos mercados, farmácias, etc. Dado curioso é o elevado número de cabelereiros no bairro, são 12 no total. São 22 as construções singulares, categoria que abrange igrejas, edifícios públicos, parques e praças. Destes lugares podemos destacar a presença de oito locais de culto além da antiga capela Nossa Senhora da Escada e de 4 praças públicas. Chama a atenção a porcentagem de terrenos subutilizados no bairro, que se somados aos imóveis ociosos, atinge 6,7% do total do tecido urbano. Essa alta taxa de vacância de terras e imóveis pode constituir um fator capaz de acelerar o processo de transformação da área. Os locais ociosos, digo locais por incorporar na análise tanto terrenos baldios como construções vazias, estão dispersos por todo o bairro. Após a espacialização dos dados, podemos observar que estes locais ociosos são menos presentes na área noroeste do bairro, área correspondente ao antigo centro do aldeamento jesuíta. Essa menor concentração pode ser justificada pelo longo processo de ocupação deste setor, minimizando a ocorrência de terrenos não ocupados.
Já nos demais setores, a presença de locais ociosos é marcante, e pode ser ainda maior se computarmos as quadras geradas pelas recentes obras viárias realizadas junto à rua General da Divisão Pedro Rodrigues da Silva. Duas áreas que também não foram computadas, por estarem atualmente em uso/ocupadas, mas que estão claramente subutilizadas e que devem ser incorporadas em qualquer pensamento crítico para elaboração de estratégias de planejamento urbano do bairro, são as grandes glebas de densa arborização que verificamos no vértice noroeste e no centro da Aldeia de Barueri. Estes terrenos, – o primeiro é ocupado irregularmente por uma quinzena de moradias e no segundo funciona um estabelecimento privado de lazer com quadras e campos de paintball – ocupam regiões privilegiadas do bairro, mas seu uso atual não condiz com sua extensão territorial nem são suficientes para que possamos afirmar que estes locias cumprem com sua função social conforme definida no Estatuto das Cidades.
Estudo de Campo - Análise Tipológica
Mapa 11 -
Equipamentos públicos e locais ociosos em Aldeia de Barueri
“É sabido que a urbanização realizada nos centros urbanos brasileiros reproduz uma lógica perversa fundamentada no patrimonialismo, centrada nos interesses econômicos das elites e no uso arbitrário do sistema de leis.” Erminia Maricato, Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana Todos os elementos desta lógica perversa de produção do espaço urbano estão presentes ao estudar o bairro de Aldeia de Barueri. Um local que já assistiu a quase total destruição das evidências do maior aldeamento jesuíta do estado, enfrenta hoje um novo momento de inflexão: o bairro será outra vez completamente arrasado para atender interesses emergentes? A Aldeia de Barueri apresenta um alto potencial de transformação urbana, mas necessita de reformas para melhor atender à sua população, seja no que se refere a uma melhor conexão com o sistema de transporte coletivo municipal ou com a implantação de novos lugares de uso público. É inegável que o bairro irá sofrer uma série de alterações num futuro próximo, mas o que está colocado em questão é a forma com que este processo se dará. A necessidade de aliar o funcional e o simbólico no ambiente urbano, de forma a combater a cidade unidimensional e socialmente excludente que o mercado propõe, define um dos maiores desafios a serem enfrentados na elaboração de um projeto urbano adequado.
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Mapa - Legenda dos equipamentos públicos 01- Largo Nossa Senhora da Escada 02- Jardim Público 03- Escola Maternal Vitória de Moura 04- Praça Takeshi Hashimoto 05- Campo de futebol municipal 06- Biblioteca municipal 07- Escola Maternal Joquim Soares (em reforma) 08- Centro de Atenção Psicosocial de Barueri 09- Ginásio municipal Carlos Neto Guimarães 10- EMEF Estevan Placêncio 11- UBS José Francisco Caiaba 12- EMEI José Batista Pazinato Junior 13- Praça Geraldo Rezende de Lima 14- Cartório
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Legenda Equipamentos públicos Locais ociosos Áreas subutilizadas
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Mapa 12
Padr達o de Parcelamento Predominante por Quadra
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Legenda Lotes pequenos Lotes grandes Misto
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Padrão de Parcelamento do Solo
Por meio de análise do tecido urbano existe buscamos identificar e classificar os padrões de parcelamento predominante por quadra, objetivando a caracterização fundiária, e como consequência, a qualificação da morfologia urbana. Para caracterizar a composição do território, foram determinadas três categorias para classificar a trama fundiária: • Lotes pequenos – menores que 500m² • Lotes grandes – maiores que 1500m² • Misto – presença das duas categorias anteriores, sem que haja o predomínio relativo de alguma delas A primeira categoria, onde as quadras possuem a presença predominante de lotes menores de 500 m², caracteriza um parcelamento do tipo tradicional misto (comercial e residencial), associável ao padrão urbanístico dos loteamentos surgidos no bairro desde a década de 70. Já a segunda categoria agrupa as quadras onde se identifica a predominância de lotes definidos como grandes (área superior a 1500m²), que favorecem a apropriação para o uso industrial, dada as dimensões de seus lotes - provavelmente delimitados após a lei de zoneamento de 73. O último grupo corresponde as quadras onde a presença de lotes pequenos em conjunto com a existência de lotes grandes identifica um padrão de parcelamento classificado como misto. Após observar a disposição destas categorias no território da Aldeia de Barueri, são evidenciadas as seguintes conclusões: O bairro é formado em sua maioria por quadras compostas por lotes pequenos, reafirmando o caráter residencial da área; fica clara também a predominância de quadras com lotes grandes no setor norte do bairro, ligadas à lei de zoneamento do município de 1973, que criava condições favoráveis à industrialização junto à rodovia Castelo Branco. No setor noroeste, uma quadra de lotes pequenos difere-se de suas quadras imediatas, todas caracterizadas por conter predominantemente lotes de grande extensão. Esta quadra corresponde ao antigo núcleo do aldeamento jesuíta, que acabou ilhado no centro da região destinado ao uso industrial, dada sua proximidade com a rodovia Castelo Branco.
A análise destes dados possibilita o reconhecimento da composição do tecido urbano existente, relacionando-a com as dinâmicas de produção do ambiente urbano, de modo a evidenciar conexões mais próximas entre a estrutura fundiária desta região e o processo de industrialização e urbanização de Barueri. Este mapeamento permite também auxiliar na compreensão de quais são os impactos diretos e indiretos no território causados pelas transformações impostas por novas matrizes fundiárias no tecido consolidado, alterando as relações urbanas existentes com a geração de novas demandas de moradia, trabalho, transporte e equipamentos públicos.
detalhes do tecido urbano do bairro - fonte: Google Earth
detalhes do tecido urbano do bairro - fonte: Google Earth
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Projeto Urbano
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croquis de orientação - Prof. Fábio Mariz
Projeto Urbano
Introdução “Não é, portanto, de modo metafórico que se tem direito de comparar [...] uma cidade a uma sinfonia ou a um poema; são objetos da mesma natureza. Talvez ainda mais preciosa, a cidade se situa na confluência de natureza e artifício [...]. Ela é ao mesmo tempo objeto da natureza e sujeito de cultura; indivíduo e grupo; vivida e sonhada; a coisa humana por excelência.” Claude Lévi-Strauss, Tristes trópicos Este projeto foi desenhado com a intenção de propor uma reflexão sobre as possibilidades de transformação do território urbano. A urbe, entendida como constructo das relações humanas, é usualmente encarada como desdobramento espacial das diversas atividades realizadas em seus limites. Esta idéia de que a cidade é produto da multiplicidade de dinâmicas e interesses que fluem em seu interior, promovem a noção equivocada de que o ambiente urbano é um mero ecrã destes processos em constante tensão e conflito. A cidade porém, é pluridimensional. Desta natureza complexa podemos destacar a urbs - a forma urbana e arquitetural - e a civitas - as relações humanas e as ligações políticas. Uma vez que cada aglomeração urbana possui peculiaridades, estes fatores se relacionam com diferentes graus de intensidade em cada situação. Nas cidades brasileiras, a civitas impera violentamente sobre a urbs, resultando em lugares frequentemente relacionados à dispersão, fragmentação e segregação. Resgatar o valor da urbs. Este é o objetivo inaugural da ciência responsável pelo estudo da organização espacial das cidades, o Urbanismo. Entender o arranjo espacial urbano é observar como os espaços da cidade se estruturam e se articulam, para abrigar aquilo que conhecemos por espaço público. Desta maneira, dar mais valor à forma urbana é, acima de tudo, analisar criticamente o papel desempenhado pelo espaço público nas cidades. Torna-se então necessário, antes de qualquer proposta de intervenção, compreender o atual arranjo
no qual se inserem os espaços de uso coletivo no bairro Aldeia de Barueri e como estes locais terão sua natureza alterada com as consequentes transformações urbanas em curso. O que se constata em diversos casos em que a paisagem urbana foi drasticamente reconfigurada é que os espaços públicos permanecem-se congelados durante e após este processo de alteração da estrutura do território. Um exemplo emblemático neste sentido é a continuidade das dimensões do sistema viário apesar da verticalização dos arredores, não sendo este na maioria das vezes capaz de absorver a nova demanda de trânsito, gerando lentidão e congestionamentos. Os novos empreendimentos imobiliários, baseados em complexos verticais voltados para o interior do lote, não procuram relacionar-se com o exterior. Cada lançamento forma um novo cluster urbano, uma realidade totalmente independente de seu entorno. Interessante notar como recentemente o mercado encontrou uma forma lucrativa de contornar a sensação de confinamento e segregação que estes conjuntos poderiam gerar em seus habitantes: promove-se a idéia de que você passará a viver num clube, rodeado pelo verde e por “itens de lazer”, refugiado do “caos e da violência da cidade”. Este recurso de propor espaços de uso semipúblico, uma vez que podem ser usufruidos apenas pelos moradores do residencial - todos pertencentes a mesma classe social -, acentou a segregação socioespacial e minou a possibilidade destes projetos agregarem algum valor à cidade, à urbs. O enfraquecimento da esfera pública porém, não é um fato recente. Já na década de 60, a escritora Jane Jacobs criticava o modo com que certas áreas das cidades norte americanas eram reformuladas, onde a fluidez do sistema viário era priorizada sobre a ideia da rua enquanto espaço de convivência. “A principal e duradoura lição pregada por Jacobs é a necessidade da diversidade urbana: funções que gerem presença de pessoas em horários diferentes (“a necessidade de usos principais combinados” é um capítulo) e em alta concentração,
valorização de esquinas e percursos ( “a necessidade de quadras curtas”, outro capítulo), edifícios variados e de diferentes idades (“a necessidade de prédios antigos”), e ressaltando outras medidas profiláticas para uma melhor qualificação urbana: “a subvenção de moradias”, “erosão das cidades ou redução dos automóveis”, “ordem visual: limitações e potencialidades”, “projetos de revitalização”, etc.” Afirma o prof. Hugo Segawa sobre a obra mais notória da jornalista autodidata, “Death and Life of Great American Cities”, leitura obrigatória nos cursos de Arquitetura e Urbanismo de qualquer instituição ocidental. Este projeto procura justamente uma maneira de que o arranjo espacial dos espaços públicos do bairro não seja enfra quecido pelas transformações promovidas pelos novos empreendimentos imobiliários, visando a manutenção da vitalidade comercial e social hoje observada em suas ruas. Para tanto, este projeto concentra-se no desenho dos espaços de uso coletivo, pois neste espaços residem o caráter e a identidade do bairro. Este desenho porém, não pode vir descolado de um planejamento urbano que reafirme a vocação habitacional e comercial do bairro, propondo políticas públicas que impeçam a gentrificação da área e a perda da rica composição social e arquitetônica que hoje caracterizam a Aldeia de Barueri. “[...] E os seres humanos que davam vida a todas essas coisas? Onde está, para onde foi toda essa gente que integrava meu universo afetivo? Que diabo de método de produção social desagradável, sempre assumindo formas novas, engolindo o passado e os que faziam parte dele! Eles não percebem - os sujeitos da transformação econômica - que agridem bruscamente a nossa intimidade afetiva quando renovam o quartier e o mundo?”
Eros Grau, Paris - Quartier Saint-Germain-Des-Prés
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Projeto Urbano
Estratégias de Intervenção: • Reorganizar o traçado viário do bairro para estabelecer uma malha mais integrada e contínua; • Hierarquizar a nova malha viária com o intuito de estabelecer situações urbanas reconhecíveis; • Alargar os passeios públicos para impedir o desaparecimento da variedade e diversidade de usos e apropriações que as diferentes classes sociais fazem deste espaço público;
Partido: Déja Vu
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• Recuperar o braço morto do rio Tietê e o local de encontro das águas entre o mesmo e o rio Barueri Mirim como elemento estruturador da paisagem urbana local; • Reaver os pontos de transposição do rio Tietê como espaços de transição entre o bairro e o restante da cidade; • Integrar o desenho dos corpos hídricos da região à proposta do Hidroanel Metropolitano de São Paulo; • Implantar novo terminal multimodal de transportes públicos “Nova Barueri”, segundo plano de expansão da CPTM;
• Sugerir novo zoneamento à região para garantir o desenvolvimento desejado ao local, sem gentrificar sua população; • Valorizar os espaços e as edificações referenciais do bairro; • Consolidar a área como nova centralidade municipal; • Expandir e renovar o uso misto das edificações; • Exaltar a importância histórica do bairro enquanto maior aldeamento jesuítico da região paulista; • Reafirmar o largo Nossa Senhora da Escada como espaço fundador do bairro e centro da vida cotidiana local.
O bairro de Aldeia de Barueri é pontuado por uma série de vestígios de seu passado. Estes fragmentos de memória urbana abragem séculos de ocupação humana no local e são elemenos presentes nas lembranças e relatos de moradores. Desconexos e degradados, estes fragmentos, apesar de contituírem a qualidade distintiva deste bairro em relação aos demais, são pouco valorizados dentro da paisagem urbana existente. A proposta de intervenção foi então desenhada justamente no sentido de recuperar e integrar estes souvenirs dentro de uma nova configuração espacial. Ao projetar uma nova espacialidade através de um exercício de memória das espacialidades que já foram vivenciadas nesta região, provoca-se, num primeiro momento, um sentimento de estranheza e confusão. Isso se deve ao fato de que o novo arranjo do território já estava de certa forma presente anteriormente na paisagem do bairro. A sensação de déjà vu é portanto um desdobramento da percepção desta nova estrutura em que os vestígios foram organizados, unificando os diversos tempos do bairro em um único território. O mapa ao lado, extraído do acervo do Museu Municipal de Barueri, ilustra esquematicamente a forma que o bairro possuiria caso o leito maior original do rio Tietê e do rio Barueri Mirim coexistissem com o traçado do rio Tietê retificado. Esta imagem é interessante na medida em que contém sinteticamente a idéia de simultaneidade de tempos buscada neste projeto.
Projeto Urbano
Arquitetura, cidade e natureza “Além do bom planejamento da cidade, [...], deve-se primar por uma boa qualidade arquitetônica das ruas, espaços livres, praças e parques, que devem ser permeáveis, de fácil leitura, adaptáveis, flexíveis e variados. Os lugares públicos devem apresentar múltiplas potencialidades de ocupação. Em todas as escalas de estruturação e materialização do espaço, a flexibilidade é uma estratégia determinante para que a cidade possa se reinventar. Para que o planejamento tenha uma boa durabilidade, deve-se considerar que a única constante da condição humana é a própria mudança.” Grupo de Pesquisa Metrópole Fluvial, Relatório Conceitual : Hidroanel Metropolitano de São Paulo Reestruturar o bairro Aldeia de Barueri consistiu no exercício de optar por um modo de construção do ambiente urbano que retome o papel original da cidade enquanto espaço de qualidade ambiental promovedor da reunião da diversidade humana. Busca-se a partir da reincorporação dos rios ao território urbano, sustentar a água como elemento fundamental ao desenvolvimento dos homens. Ao recuperar a associação entre cidade e natureza, abre-se a possibilidade de criação de lugares de uso múltiplo, capazes de fortalecer a coletividade ao despertar a multiplicidade de sentidos e apropriações. O conjunto de intervenções propõe a manutenção da leitura distinta entre Aldeia de Barueri e sua vizinhança, através do restabelecimento do antigo traçado do rio Tietê. Desta maneira, a colina onde está implantada o bairro histórico irá configurar-se como ilha urbana, exaltando a singularidade de Aldeia e recuperando a importância que os locais de transposição fluvial detinham na vida cotidiana local, dado que o ato de atravessar o rio sempre foi um referencial simbólico e lúdico dos moradores. Dada a intenção de integrar este projeto urbano às diretrizes presentes na proposta de “Articulação Urbana dos Estudos de Pré-viabilidade do Hidroanel Metropolitano de São Paulo”,
muitos dos conceitos norteadores deste estudo foram de alguma maneira incorporados, como por exemplo, a configuração de parques lineares junto aos corpos hídricos com o objetivo de retomar as áreas de várzea como tanques de acomodação das águas pluviais e o conceito de bulevares fluviais. Todas as medidas adotadas possuem objetivo comum: substituir a cidade hostil ao pedestre e marcada pela segregação socioespacial, por uma cidade mais humana e democrática, onde prevaleçam os espaços de encontro e convivência. Este projeto urbano deseja que esta nova configuração urbana possua qualidade ambiental aliada à vitalidade das ruas e dos espaços de uso coletivo, promovendo a urbanidade. Para que este objetivo seja alcançado é indispensável pensar a mobilidade urbana, hierarquizando o sistema viário, definindo a dimensão dos passeios públicos de acordo com os tipos de atividades que estes receberão, implantando modais de transporte menos agressivos aos pedestres como ciclovias e linhas de VLTs, etc. Assim como está descrito no relatório conceitual do hidroanel: “A infra-estrutura de transportes marca a cidade como cicatrizes. [...} Não há espaço para caminhar à deriva, sem destino, sem objetivos diretos. Uma cidade porém, deve ser formada pela heterogeneidade em diversos sentidos, inclusive de tipos de atividades: o programa deve coexistir com o improviso, a funcionalidade com o supérfluo. A simultaneidade desses “quase-contrários” garante a satisfação do errante ao indivíduo com um objetivo determinado.” Reconhecendo a condição mutável da cidade, este projeto urbano dedica-se com maior profundidade aos lugares de natureza mais perene em um território urbano: o conjunto de espaços públicos. Responsáveis por edificar a arquitetura da cidade, este sistema de espaços é formado pelas redes de infraestrutura, pelos equipamentos urbanos e pela habitação social. O papel do Estado na construção de uma urbe mais digna deve ser continuamente mencionado, estudado e desenhado, para apontar caminhos possíveis para o desenvolvimento urbano.
A Praça Maior
O terminal “Nova Barueri”
Habitação de Interesse Social
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Eixos Viários Principais: Aldeia de Barueri
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Legenda estação Antônio João espaços públicos
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40
R. V amp
Mapa 13
0
50
100 metros
Mapa 14
Conjunto de Intervenções Urbanísticas
Legenda capela e terminal espaços públicos corpos hídricos VLT linha alphaville VLT linha centro ciclovias 0
50
100 metros
41
Mapa 17
Zoneamento Proposto Legenda ZUP - Zona de Utilidade Pública ZMBG - Zona Mista de Baixo Gabarito Tipo Arquitetônico básico = T+2* (res./com./serv.) máximo = TC**+5 (misto) máximo = T+4 (res./com./serv.)*** Taxa de Ocupação residencial = 60% comercial e serviços = 60% uso misto = 75%
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ZMAG - Zona Mista de Alto Gabarito Tipo Arquitetônico básico = térreo (com./serv.) máximo = TC+30 (misto) Taxa de Ocupação residencial = 40% comercial e serviços = 40% uso misto = 55% ZIS - Zona de Interesse Social Tipo Arquitetônico básico = T+2 (res./com./serv.) máximo = TC*+5 (misto) Taxa de Ocupação residencial = 60% comercial e serviços = 50% uso misto = 80% *T(C)+x - térreo mais x pavimentos **TC - térreo comercial ***tipo restrito para vias locais
Legenda ZUP ZMAD ZMAG ZIS 0
50
100 metros
Projeto Urbano
Zoneamento “Devemos ainda buscar refazer o traçado viário e das quadras daí decorrente. Isso possibilitará no futuro de algumas décadas, como já se fez em Madri, melhorar radicalmente a qualidade do nosso espaço urbano pobre e periférico, como também era o daquela cidade, fazendo isso com participação popular, com a concordância dos moradores, sem expulsá-los, respeitando seu estilo de vida e sua identidade cultural.” Cândido Malta Campos Filho, Reinvente seu Bairro Como parte integrante do projeto urbano desenvolvido neste trabalho, a alteração do zoneamento do bairro torna-se uma intervenção fundamental para a correta concretização da proposta, uma vez que estabelece parâmetros para a alteração arquitetônica da paisagem em consonância com o desenho dos espaços públicos aqui apresentados. A Aldeia de Barueri foi dividida em 4 zonas com o objetivo de articular a produção imobiliária com o sistema de circulação disponível dos arredores, aliando tipos arquitetônicos à situações urbanas específicas. Este entrosamento entre arquitetura e percurso irá possibilitar a densificação construtiva do bairro na grandeza e forma apropriadas, resultando também na na densificação populacional, sem sobrecarregar a capacidade de tráfego das infraestruturas presentes no bairro. Zona de Utilidade Pública - ZUP Esta zona corresponde a toda porção de território que apresenta interesse - paisagístico, cultural, histórico, etc - na implantação, extensão ou consolidação de espaços públicos. Todas as propriedades privadas existentes nesta zona deverão ser adquiridas pelo Estado através de um processo indenizatório, possibilitando a criação de lugares de uso coletivo essenciais à vida cotidiano local, como por exemplo, a implantação dos parque-canal, da praça maior e do parque da memória.
Zona Mista de Baixo Gabarito - ZMBG
Zona de Interesse Social - ZIS
Dividida em quatro categorias decorrentes da hierarquia viária, esta zona define as diretrizes para as novas contruções que ocuparão o tecido urbano consolidado de Aldeia de Barueri. O tipo arquitetônico permitido para esta área conformarão um conjunto linear que irá definir claramente as esferas pública e privada, garantindo uma densidade urbana - arquitetônica e populacional - adequada. Os novos edifícios deverão possuir no máximo seis pavimentos e a natureza geminada das contruções atuais deverá ser mantida. Desta forma a verticalização do bairro não irá ultrapassar a altura das grandes árvores, evitando o choque de escalas hoje existente entre os novos empreendimentos e as antigas construções, além de minimizar a sombra que estes novos projetos criarão sobre seus vizinhos. As novas construções obedecerão ao novo alinhamento frontal proposto em cada categoria desta zona para possibilitar a implantação dos passeios públicos na dimensão prevista segundo o mapa de hierarquia viária apresentada neste projeto urbano. O uso misto dos térreos será incentivado na medida em que o bairro caracteriza-se pela vitalidade de suas calçadas.
Localizada junto aos sistemas de transporte público de massa ou nos arredores de grandes equipamentos públicos, esta zona é na verdade uma sofisticação nos critérios de urbanização da Zona Mista de Baixo Gabarito. O tipo arquitetônico permitido para esta área é basicamente o mesmo, sendo diferenciado apenas na sua destinação de público. Será obrigatório que grande parte das novas das novas contruções seja destinada à habitação social, estudantil ou para a terceira idade, sendo o térreo destinado para a sede de cooperativas, creches, sacolões e restaurantes populares. Com esta medida, busca-se construir uma cidade mais justa e democrática, promovendo a igualdade e a solidariedade urbanas. O direito à cidade deve ser reconhecido como fundamental para a consolidação de uma urbanização socialmente inclusiva e ambientalmente sustentável.
Zona Mista de Alta Gabarito - ZMAG As quadras da porção sudeste do bairro, situados na margem esquerda do canal do rio Tietê, formarão, juntamente com o centro de compras recentemente inaugurado, um núcleo urbano diferenciado. Nesta região as edificações poderam possuir grande altura - máximo de 30 pavimentos -, atraindo investimentos e empregos que serão decisivos na viabilização do projeto urbano em todos os seus aspectos. O ambiente urbano, apesar de verticalizado, será atraente ao pedestre através da articulação das torres em torno de praças de esquipamentos sociais que garantirão a intensidade do uso do nível do solo enquanto espaço de convivência.
Sobre o desenvolvimento lento da cidade Obviamente, as alterações propostas na lei de zoneamento não serão rapidamente percebidas. Mas a nova legislação já cumprirá imediatamente um papel importante ao congelar o processo de verticalização desmesurado hoje em curso. O novo zoneamento foi pensado de forma a considerar o desenvolvimento lento das cidades ao propor um modelo de transformação no qual o choque de escala entre as edificações existentes e as novas construções, já reguladas pela nova lei, seja minimizado. Os novos alinhamentos determinados pela hierarquia viária irão criar, num primeiro mometo, largos em frente as novas construções em comparação aos seus vizinhos. Estes remansos já possibilitarão um ganho ambiental interessante ao passeio público e ao bairro, gerando alargamentos e surpresas. Desta maneira, o zoneamento proposto busca um regime de implantação que incorpora a realidade existente.
43
Mapa 15
Hierarquia Viรกria
44
Legenda Bulevar fluvial Via estrutural Via coletora 0
Via local 50
100 metros
Projeto Urbano - Hierarquia Viária
Diagrama de Faixas de Uso e Corte Tipo
Bulevares fluviais “O bulevar fluvial é o eixo principal que reúne as qualidades de vitalidade das ruas e calçadas, os terraços lineares, os passeios públicos, todos voltados ao o parque-canal.” Grupo de Pesquisa Metrópole Fluvial, Relatório Conceitual : Hidroanel Metropolitano de São Paulo Derivado do conceito de bulevar fluvial presente na proposta do hidroanel, uma vez que as dimensões foram alteradas para melhor adequação à realidade do lugar, estas vias perimetrais junto aos rios formam anel em torno de Aldeia de Barueri, conformando um sistema contínuo de áreas livres públicas. Esta continuidade espacial ao longo dos canais do rio Tietê e do rio Barueri Mirim, que deverá ser frequentemente pontuada por pontes e passarelas, é fundamental para promover a integração gentil entre a infraestrutura metropolitana - canal navegável - e a esfera praticamente doméstica do bairro. O parque-canal realiza esta transição, aproveitando-se do potencial lúdico e fascinante que a água detém sobre o homem, propondo espaços de repouso e lazer próximos ao hidroanel. Os bulevares fluviais, além de promoverem a rua viva e que cumpre sua função social, possuem por objetivo resgatar a necessidade de integrar elementos naturais que foram suprimidos da cidade e que são fundamentais e indispensáveis para o conforto ambiental urbano: a vegetação e a água.
2m 2.4m .8m 6~8m
.8m
4.2m
10m
30m
5m
Faixa de serviço - 2 metros - área de acesso às edificações, sendo possível a colocação de vegetação, toldos, marquises, propaganda, rampas e mobiliário móvel como mesas, cadeiras, etc. Faixa livre - 2.4 e 4.2 metros - destinada exclusivamente à circulação contínua de pedestres. Faixa técnica - 80 centímetros - trecho reservado para a colocação de arborização, iluminação pública e mobiliário urbano como lixeiras, bebedouros, bancos, placas de sinalização, etc. Leito carroçavel - 6~8metros - faixas de rolamento para circulação de veículos automotores. Ciclovia - 5 metros - via destinada à circulação de ciclistas, patinadores, skatistas e similares. Parque-canal - 10 metros - espaço público concebido para o divertimento e ócio da população. Canal - 30 metros - curso d´água navegável integrada ao hidroanel metropolitano de São Paulo.
Legenda leito carroçável ciclovia faixa técnica faixa livre faixa de serviço parque-canal canal 0
1
3
5 metros
45
Projeto Urbano - Hierarquia Viária
Diagrama de Faixas de Uso e Corte Tipo
Vias estruturais
46
Enquanto os bulevares fluvias circundam o bairro e estruturam seus limites, as vias estruturais são dois eixos que cruzam internamente o território, um no sentido norte-sul e outro no leste-oeste, organizando o core do tecido urbano. No sentido norte-sul, o eixo é constituído pelo prolongamento da rua Nossa Senhora da Escada até a Rua Danton Vampré, gerando uma ligação desimpedida entre a Praça Maior no vértice noroeste do bairro até e o terminal Nova Barueri na porção sul. Esta conexão contínua entre os principais espaços de Aldeia, permitirão o percurso de pedestres e abrigará uma linha de VLTs, que ligará o terminal “Nova Barueri” à Alphaville. Já no sentido leste-oeste, houve a manutenção da avenida da Aldeia como principal elemento de ligação, sendo seu traçado apenas levemente corrigido no trecho leste para eliminar o “degrau” existente no cruzamento com a avenida Rohn. O intenso fluxo de veículos e pedestres decorrente do papel fundamental que desempenham no tecido urbano do bairro, tornam as vias estruturais importantes corredores comerciais. Para favorecer este caráter, as faixas de serviço e de circulação são amplos, propiciando a colocação de mesas e cadeiras no exterior dos estabelecimentos sem prejudicar a circu2m lação de pedestres com o estrangulamento dos passeios. Na rua Nossa Senhora da Escada a situação é ainda mais generosa, pois quando o VLT não está passando todo a extensão da via tranforma-se num agradável calçadão.
3.2m
.8m 6~8m
.8m 3.2m
2m
Legenda leito carroçável faixa técnica faixa livre faixa de serviço 0
.5
1
2 metros
Projeto Urbano - Hierarquia Viária
Diagrama de Faixas de Uso e Corte Tipo
Vias coletoras “As ruas das cidades servem a vários fins além de comportar veículos; as calçadas - a parte das ruas que cabe aos pedestres - servem a muitos fins além de abrigar pedestres. Esses usos estão relacionados à circulação, mas não são sinônimos dela, e cada um é, em si, tão fundamental quanto a circulação para o funcionamento adequado das cidades.” Jane Jacobs, Morte e Vida de Grandes Cidades Destinadas a coletar e distribuir o tráfego das vias de trânsito mais intenso para as vias locais, possibilitando a circulação dentro dos vários setores que formam o bairro. Porém, esta definição clássica não abrange todos os papéis desempenhados pelas vias coletoras em um ambiente urbano. São nestas vias que observamos a implantação do “comércio de proximidade”, ou seja, de pequenos estabelecimentos comerciais fundamentais para a manutenção da vida cotidiana como mercearias, bares, farmácias, etc. As vias coletoras possuem um tráfego de veículos menos intenso e por sua vez, menos agressivo aos pedestres. Desta maneira, os passeios públicos não necessitam da mesma largura existente nas vias estruturais para acolherem de modo apropriado e seguro as pessoas que nele caminham. Fora o fato que esta diferenciação na largura das calçadas contribui na leitura espacial da paisagem urbana.
1.2m 1.6m
.8m
.8m1.6m 6~8m
1.2m
Legenda leito carroçável faixa técnica faixa livre faixa de serviço 0
.5
1
2 metros
47
Projeto Urbano - Hierarquia Viária
Diagrama de Faixas de Uso e Corte Tipo
Vias Locais “As crianças da cidade precisam de uma boa quantidade de locais onde possam brincar e aprender. Precisam, entre outras coisas, de oportunidades para praticar todo tipo de esporte e exercitar a destreza física - e oportunidades mais acessíveis do que aquelas de que desfrutam na maior parte dos casos, Ao mesmo tempo, no entanto, precisam de um local perto de casa, ao ar livre, sem um fim específico, onde possam brincar, movimentar-se e adquirir noções do mundo.” Jane Jacobs, Morte e Vida de Grandes Cidades
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As vias locais são caracterizadas pela pacatez. Geralmente acessadas somente pelo público que lá reside, é comum observarmos moradores sentados junto às portas de suas casas, seja para vigiar as crianças que brincam com entusiasmo na rua ou para somente jogar conversa fora com os que passam. O tráfego praticamente restrito destas vias não desperta o interesse comercial, desta forma é possível prever que nem todas as edificações possuirão térreos comerciais. A menor intensidade de fluxo de pessoas e veículos pode não ser interessante ao comércio mas é benéfica aos moradores destas vias, uma vez que estes podem ter uma relação mais direta com a rua. As calçadas relativamente estreitas são compensadas pela possibilidade de utilizar o leito carroçável como um local de lazer ou uma extensão do passeio público.
.8m1.2m .8m
.8m1.2m .8m 6~8m
Legenda leito carroçável faixa técnica faixa livre faixa de serviço 0
.5
1
2 metros
Mapa 16
Localização dos Cortes
01
02
03 04
05
06 Legenda 01 Av. Marginal Esquerda 02 Av. Guilherme Rohn 03 Av. da Aldeia 04 R. Adriano Augusto 05 R. Dr. Vampré 06 Av. Iracema 0
50
100 metros
49
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 01
Avenida Marginal Esquerda Condição Existente e Detalhe Rua Benedito Dias
50
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10 3
15 metros 6 metros
Projeto Urbano - Proposta
Corte 01’
Avenida Marginal Esquerda Proposta Bulevar Fluvial e Detalhe Nova configuração
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10 3
15 metros 6 metros
51
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 01
Avenida Marginal Esquerda Condição Existente e Detalhe Rua Benedito Dias
52
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10 3
15 metros 6 metros
Projeto Urbano - Proposta
Corte 01’
Avenida Marginal Esquerda Proposta Bulevar Fluvial e Detalhe Sugestão de Configuração do Parque-canal
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10 3
15 metros 6 metros
53
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 02
Avenida Guilherme Rohn Condição Existente e Detalhe
54
Geral 0 2 Detalhe 0 1
5
10 metros 3
5m
Projeto Urbano - Proposta
Corte 02’
Avenida Guilherme Rohn Proposta Via Coletora e Detalhe Nova configuração
Geral 0 2 Detalhe 0 1
5
10 metros 3
5m
55
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 03
Avenida da Aldeia Condição Existente
56
0
1
3
4 metros
Projeto Urbano - Proposta
Corte 03’
Avenida da Aldeia Proposta Via Estrutural
0
1
3
4 metros
57
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 04
Rua Adriano Augusto Condição Existente
58
0
1
3
4m
Projeto Urbano - Proposta
Corte 04’
Rua Adriano Augusto Proposta Via Local
0
1
3
4m
59
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 05
Rua Dr. Vampré Condição Existente
60
0
1
3
4 metros
Projeto Urbano - Proposta
Corte 05’
Rua Nossa Senhora da Escada Proposta Via Estrutural Linha VLT
0
1
3
4 metros
61
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 06
Avenida Iracema Condição Existente e Detalhe
62
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10
15 3
25 m 6m
Projeto Urbano - Proposta
Corte 06’
Avenida Iracema Proposta Bulevar Fluvial e Detalhe Nova configuração
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10
15 3
25 m 6m
63
Projeto Urbano - Situação Existente
Corte 06
Avenida Iracema Condição Existente e Detalhe Linha férrea
64
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10
15 3
25 m 6m
Projeto Urbano - Proposta
Corte 06’
Avenida Iracema Proposta Bulevar Fluvial e Detalhe Nova configuração Linha VLT
Geral 0 4 Detalhe 0 1
10
15 3
25 m 6m
65
Projeto Urbano
Mapa 18
Sistema de Espaços Públicos Proposto
01 02 03 04
05 06
07
08 09 08
66
Legenda
10 11
15 13 14
12
08 16
17
08 18 08
08 08 19
08
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Praça Maior Parada Pça Maior FATEC Barueri Parada Pça Estudantes Lgo. N.Sra. da Escada Parque da Memória Câmara dos Vereadores parque-canal escola maternal biblioteca municipal ETEC Barueri Parada T. Hashimoto EMEF Estevan Placêncio UBS José F. Caiaba EMEI José Pazinato Jr. Pça Geraldo R. de Lima escola maternal Cto. Atenção Psicosocial Terminal “Nova Barueri”
0
50
100 metros
Projeto Urbano
Pormenores Calçada técnica
Fusão de lotes
Espaços públicos
Situada sob a via pública, a calçada técnica é um importante elemento para a valorização do ambiente urbano e para a ordenação dos diversos serviços públicos - eletricidade, abastecimento d’água, telefonia, esgoto, etc. -, diminuindo a poluição visual e otimizando os serviços de manutenção destas redes. Dado o alto número de infraestruturas urbanas existentes atualmente, o dimensionamento de cada galeria técnica deverá ser estudada individualmente, pois existem muitas variáveis que devem ser consideradas em seu projeto. Questões como a densidade de carga, o tipo de pavimento, o tipo de solo, as condições climáticas e de trânsito e atividades predominantes da região (comercial, residencial, etc.) influem no desenho e configuração desta rede subterrânea.
É muito comum observar uma incorporadora adquirir diversos imóveis para então, após a demolição das construções existentes, dispor de um terreno mais amplo para a implantação de um empreendimento maior e mais lucrativo. Podemos encontrar diversos exemplos desta dinâmica ao percorrer as principais cidades brasileiras, muitas vezes com resultados mais favoráveis ao setor imobiliário do que para a cidade, como já foi anteriormente questionado na introdução deste projeto urbano. Como mecanismo de combate ao processo de fragmentação e introspecção urbana, foram tomados certos cuidados na questão que envolve a reunião de dois ou mais lotes para a formação de uma nova propriedade. Para disciplinar este recurso, os terrenos adquiridos passíveis de fusão não poderão ultrapassar um comprimento máximo de testada de 50 metros. Para quadras curtas, de comprimento inferior a cem metros, a testada máxima será de 40 m.
A série de espaços públicos desenhados neste projeto urbano conformam um sistema integrado aos demais equipamentos preexistentes do município, enquanto que a articulação destes novos espaços à rede de transporte público de massa amplifica o público que poderá usufruí-los. O parque-canal, localizado nos bulevares fluviais, estabelece um anel verde sobre o bairro. Neste parque linear, as pontes e passarelas surgem como locais de convergência e estruturação espacial, uma vez que marcam o cruzamento do percurso terrestre com o aquático (canal). A ciclovia e passeios pú blicos presentes no parque-canal deverão se conectar ao centro da cidade seguindo o traçado do rio Barueri Mirim - infelizmente canalizado neste trecho -. Uma alça para ciclistas e pedestres possibilitará a conexão do parque-canal ao parque linear em implantação junto à margem esquerda do rio Tietê até o parque municipal, no norte da cidade. Através de uma passarela junto ao rio Tietê, será realizada a ligação destes espaços à região de alphaville, onde está localizado o Parque Ecológico do rio Tietê. Resgatar as dimensões da praça maior do antigo aldeamento jesuítico surgiu como desejo de reavivar a memória do lugar, restaurando a conexão visual fundamental entre a capela Nossa Senhora da Escada com o encontro das águas, ponto que norteou a implantação do aldeamento no século XVI. Já o Parque da Memória, localizado no cume da colina sobre a qual se formou o povoado, é parte integrante do plano de compensação pública pela perda dos terrenos dos campos municipais de futebol e bocha e da praça Takeshi Hashimoto por conta do novo traçado viário. A importância ambiental de proteção do topo deste divisor de águas e da densa vegetação nele existente, são fatores determinantes para a aquisição desta gleba pelo poder público. Neste parque orienta-se construir, além de outros equipamentos, a sede da Corporação Musical Nossa Senhora da Escada, criada em meados da década de 50.
Iluminação pública e arborização dos passeios Com o intuito de evitar conflitos entre os elementos de iluminação pública e as árvores, foi tomada a seguinte decisão: os postes de luz serão fixados nas faixas de serviço das calçadas norte e leste a cada dez metros enquanto as árvores serão plantadas em canteiros situados na faixa de serviço das calçadas sul e oeste, também equidistantes em dez metros. Ao ser efetuado um intervalo de cinco metros do ponto de inserção do poste em relação à vegetação, origina-se um padrão zigue-zague que minimizará a ocorrência de galhos obstruindo a iluminação pública. Obviamente, este padrão estará sujeito a exceções e ajustes localizados, devido à preexistência de vegetação nos passeios públicos, por exemplo. O plantio de árvores nas calçadas sul e oeste tem por objetivo a criação de áreas de sombra nos percursos e nas fachadas que sofrerão a incidência mais intensa dos raios solares. Para tanto, sugere-se que várias espécies de copa alta e larga sejam escolhidas para a arborização pública do bairro.
Divisão de glebas industriais Outra dinâmica muito comum é a aquisição de grandes glebas antes industriais, seja devido ao fechamento da companhia ou transferência desta para outra localidade, por incorporadoras para a implantação de grandes conjuntos habitacionais, centros de compras ou torres comerciais. Este processo, que em certa medida é semelhante ao anterior, gera um grande impacto na paisagem e na organização do território urbano. A mudança de uso destas glebas deveria ser acompanhada pela alteração do tecido viário existente, de forma que esta reconversão resulte na incorporação deste terreno e do seu respectivo empreendimento à cidade. Para promover esta integração, toda gleba industrial ao ter seu uso convertido deverá ser parcelada obedecendo os mesmos comprimentos máximos de testada do item anterior.
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Projeto Urbano - A Praรงa Maior
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Projeto Urbano - A Praça Maior
Resgatar as dimensões esquecidas “Em todos os aldeamentos paulistas, a praça constituise, sempre, no centro da vida cotidiana dos aldeados. Ladeada pela Igreja e pela Residência, em certas épocas também pela escola, sede das atividades religiosas, assim como das festividades, quase sempre religiosas, centro, protanto, da vida social e, naturalmente, das atividades administrativas, a praça teve uma importância extraordinária para todos os núcleos.” Pasquale Petrone, Aldeamentos Paulistas Resgate da dimensão jesuítica e valorização das visuais. O Projeto da praça maior insere-se no conjunto de intervenções propostas neste trabalho para a reestruturação de Aldeia de Barueri. Este estudo preliminar propõe, basicamente, o resgate das várias dimensões deste lugar enquanto principal espaço público de encontro e convívio do bairro. A primeira dimensão a ser resgatada é a física. Adotase a medida de quatrocentos por seiscentos pés - aproximadamente 121,92 por 182,88 metros - presente na Lei das Índias como proporções ideais para a praça central. Ao inserir estas medidas no espaço de intervenção, observou-se a preexistência desta relação métrica, pois a capela ocupou o vértice oposto ao qual se encontra o encontro do rio Barueri Mirim com o rio Tietê, sustentando a hipótese que a praça detinha um porto. A segunda dimensão a ser reavida é a natureza gregária deste espaço. Os diferentes níveis e o passeio junto ao canal possiblitam diversas perspectivas da capela e dos arredores ao passo que o gramado, as arquibancadas, a sombra das árvores e o frescor da água favorecem a permanência. Redimensionada, a praça recupera a escala adequada à Aldeia de Barueri. Internamente organizada em patamares, conectando a capela e a parada do VLT ao canal, a praça favorece a imprevisibilidade dos usos e apropriações, sendo capaz de acolher do culto às festas. O projeto busca resgatar a esfera pública através da construção do espaço da diversidade.
Vista aérea da praça e arredores.
Capela VLT
Mata Preservada
Piscina Pública
“Porto”
Canal
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Projeto Urbano - A Praça Maior
Corte longitudinal
Largo Nossa Senhora da Escada Condição Existente e Detalhes
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Geral 0 4 10 15 Detalhes 01 3
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Projeto Urbano - A Praça Maior
Corte longitudinal
Praça Maior Proposta e Detalhes Nova configuração
Geral 0 4 10 15 Detalhes 01 3
25 metros 6
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Projeto Urbano - A Praรงa Maior
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Projeto Urbano - O Terminal Multimodal “Nova Barueri”
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Modelo de estudo - simulação solar
Projeto Urbano - O Terminal Multimodal “Nova Barueri”
Mosaico de luz “O chão será o mesmo que o de Osaka. Uma sombra como a das árvores cobre parte do recinto. Chão de estrelas. O piso terá ondulações suaves como o das ruas de uma cidade onde o passeio e o encontro se dão naturalmente.” Paulo Mendes da Rocha e equipe, Memorial de projeto - Pavilhão de Osaka Corte e traçado esquemáticos dos modais de transporte O terminal “Nova Barueri” está previsto no projeto Ligação Alphaville da CPTM, constituindo-se numa nova parada da linha 8 da CPTM onde será efetuada a conexão com a linha de VLTs. Acredito porém, que este terminal detém potencial muito maior enquanto polo integrador de transportes e serviços públicos. Além de uma nova parada, este terminal será uma centralidade na região, alterando a vida cotidiana do bairro e gerando uma nova referência arquitetônica na paisagem. Diversos modais se cruzarão neste espaço. O usuárioque ingressar no terminal poderá acessar a linha 8 da CPTM, a linha de VLTs para Alphaville/Carapicuíba, a linha de VLTs para o centro da cidade, linhas de ônibus municipais, as ciclovia do parque-canal e o transporte fluvial, além da estação de trem de média velocidade que realizará o trecho São Paulo-Sorocaba. Este ambiente complexo propõe um imenso desafio de organização dos fluxos e das conexões. O partido adota busca então ordenar paralelamente estes diversos meios de transporte num plano comum, grande esplanada da despedida dos que vão e do encontro caloroso daqueles que chegam. Para abrigar este conjunto de gares, uma cobertura única integra espacialmente o terminal. Esta sombra possui as mesmas dimensões da praça maior num diálogo apropriado de escala e hierarquia. A cobertura é feita de pedras, como aquelas que os portugueses utilizaram para pavimentar seus caminhos no novo mundo e que até hoje são extraídas das colinas próximas. O pesado flutua e acolhe, projetando um mosaico de luz.
Organização das plataformas de embarque/desembarque
parque-canal
bicicletário atracadouro
Ligação Alphaville Ligação Centro
terminal rodoviário
Trem Regional Linha 8 CPTM
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Projeto Urbano - O Terminal Multimodal “Nova Barueri”
76 Modelo de estudo - simulação solar
Modelo de estudo - simulação solar
Modelo de estudo - simulação solar alteração do elemento iluminante
Projeto Urbano - O Terminal Multimodal “Nova Barueri”
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Projeto Urbano - Edificação de Uso Misto Construindo a nova espacialidade
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Este estudo tem por objetivo demonstrar qual deverá ser o procedimento adotado por qualquer novo projeto a ser desenvolvido no bairro, estabelecendo uma espécie de roteiro de projeto. O local escolhido para este exercício localiza-se na rua Engenheiro César Polilo, próximo ao bulevar fluvial Iracema. Neste terreno existe atualmente um galpão que ocupa integralmente o lote, que possui cerca de 21 metros de frente por 32 metros de profundidade. Conforme levantamento de campo realizado no início deste trabalho, esta construção encontra-se ociosa, gerando a oportunidade do Estado adquirir este sítio para destiná-lo à moradia de interesse social. Com a definição do lote de interesse é necessário consultar dois documentos cartográficos: o Zoneamento Proposto e a Hierarquia Viária. Estes mapas irão fornecer os parâmetros básicos para iniciar a viabilização de qualquer nova edificação em Aldeia de Barueri. O galpão em questão está em Via Coletora e em Zona Mista de Baixo Gabarito com Interesse Social.
Localização do terreno e vista da rua (google street view). Indicação do sítio nos mapas de Hierarquia Viária (via coletora) e Zoneamento (ZMBG+ZIS).
Projeto Urbano - Edificação de Uso Misto 01
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01_ Modelo eletrônico representando sinteticamente o sítio de interesse e seus vizinhos na condição observada atualmente.
02_ Aspecto do local após a demolição do galpão existente e limpeza do terreno para implantação do novo empreendimento.
03_ Por estar localizado em Via Coletora, o limite frontal do lote deverá recuar até garantir largura de 3,6 metros para a implantação do passeio público segundo as faixas de uso propostas.
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04_ A concessão de terra exigida para viabilizar a calçada não será reconhecida no cálculo de área permeável do projeto. Por estar localizado em ZMBG+ZIS, a edificação de uso misto poderá ocupar até 75% da área do terreno. A quarta parte do terreno deverá ser permeável, sendo obrigatório para qualquer edificação do bairro deter um recuo de fundo mínimo de 3m e ter pelo menos um dos lados geminado ao vizinho.
05_ Por tratar-se de uma edificação de uso misto, a construção, além do térreo comercial, poderá possuir mais cinco pavimentos. Áticos, áreas técnicas e terraços serão permitidos desde que devidamente dimensionados e recuados em relação à fachada frontal do edifcío para preservação da porção de céu visível pelos pedestres que caminham defronte à edificação.
06_ Varandas, marquises, beirais, balcões, bay-windows, toldos e qualquer outro elemento arquitetônico proeminente do plano da fachada frontal poderão ter projeção menor ou igual a 1,2 metros. Existem dois casos que desviam da regra geral: elementos que abrigem o térreo poderão ter como extensão o limite da faixa de serviço e em Vias Locais a projeção máxima está vinculada à largura da faixa de serviço (0,8 m).
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Durante um certo intervalo de tempo, as novas construções, reguladas pela legislação desta proposta, irão coexistir com as casas, sobrados e edifícios preexistentes. Não é possível determinar qual será a extensão deste período de hibridez das formas urbanas, uma vez que isto caberá ao ritmo de reconfiguração do bairro e da atuação mais ou menos intensa dos diversos agentes de transformação do território urbano. O projeto abaixo, realizado pelo escritório de Philippe Gazeau em Paris, ilustra esta fase mista. O recuo frontal em relação aos vizinhos criou uma situação análoga à concessão que cada terreno deverá realizar para implantação dos passeios públicos em Aldeia de Barueri. O agradável remanso criado prova que, mesmo durante sua implantação, as alterações propostas já gerarão uma espacialidade interessante na paisagem urbana.
Simulação de edifício de uso misto segundo os parâmetros de urbanização presentes nesta proposta.
Edificações de 6 Pavimentos
01_Montmartre Housing - Paris, França
Atelier Kempe Thill
02_Edifício EEUU 4263 - Buenos Aires, Argentina BAK Architectos
03_Leblon Offices - Rio de Janeiro, Brasil Richard Meier & Partners Architects
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*- Como você quer que seja seu novo apartamento? - Com vista para um emprego! *Tradução livre
Considerações Finais
Por uma qualidade urbana “Uma cidade que permite o avanço sem freios do mer cado imobiliário (agora, sabe-se, com a participação ativa de funcionários da própria prefeitura), que desfigura bairros inteiros para fazer no lugar de casas pacatas prédios que fazem subir os preços a patamares estratosféricos e assim se oferecem apenas aos endinheirados; prédios que impermeabilizam o solo com suas garagens e aumentam o colapso do sistema hídrico urbano, que chegam a oferecer dez ou mais vagas por apartamento e alimentam o consumo exacerbado do automóvel; que propõem suítes em número desnecessário, o que só aumenta o consumo da água; uma cidade assim está permanentemente se envenenando. Condomínios que se tornaram fortalezas, que se isolam com guaritas e muros eletrificados e matam assim a rua, o sol, o vento, o ambiente, a vizinhança e o convívio social, para alimentar uma falsa sensação de segurança. Enquanto as grandes cidades do mundo mantêm os shoppings à distância, São Paulo permite que se levante um a cada esquina. [...] O Shopping Center, em que pese a sempre usada justificativa da criação de empregos, colapsa ainda mais o trânsito, mata o comércio de bairro e aniquila a vitalidade das ruas. [...] Nenhuma comunidade, nenhuma empresa, nenhum bairro, nenhum comércio, nenhuma escola, nenhuma universidade, nem uma família, ninguém pode sobreviver com dignidade quando todos os parâmetros de uma urbanização minimamente justa, democrática, eficiente e sustentável foram deixados para trás. E que se entenda por “sustentável” menos os prédios “ecológicos” e mais nossa capacidade de garantir para nossos filhos e netos cidades em que todos – ricos e pobres – possam nela viver.” João Sette Whitaker Ferreira, São Paulo vai morrer
Este trabalho procurou encarar esse quadro desolador. Escolhi buscar uma alternativa ao atual modelo de transformação urbana para concluir minha trajetória na graduação, pois acredito que este é um assunto no qual sempre nos deparamos ao estudarmos a arquitetura das cidades brasileiras. Gostaria de deixar claro que minha investigação não apresenta uma solução definitiva para o problema enfrentado, uma vez que muitos dos elementos propostos são apenas diretrizes e/ou estudos em estágios preliminares. Mas espero que este trabalho possa abrir uma oportunidade de enfrentamento de diversas questões ligadas ao futuro das cidades. É também necessário reconhecer que a Arquitetura e o Urbanismo, sozinhos, não respondem plenamente a todos os aspectos envolvidos no metabolismo urbano. Instrumentos jurídicos que possibilitem o morador tradicional do bairro receber uma ou mais unidades do empreendimento que ali será construído como pagamento pela sua propriedade é um exemplo de medida que previne a expulsão da populacional tradicional devido a valorização imobiliária do entorno. Somente por meio da análise multidisciplinar e do entendimento geral das dinâmicas que promovem a transformação do espaço urbano que iremos poder garantir uma cidade mais humana e democrática para as gerações que ainda virão. “Surge afinal a questão: onde ficamos? Ou: que fazer? Esperar por uma nova sociedade e continuar fazendo o que fazemos, ou abandonar os misteres de arquiteto [...] e nos lançarmos na luta revolucionária completamente? Nenhum dos dois, unicamente.” Vilanova Artigas, Os caminhos da arquitetura moderna
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