EmFoco Revista - Edição Especial Música - 2º Semestre de 2012

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04 EDITOR I A L 26 c a r r eir a 12 CLÁSSICO 05 di ver sidade 20 ES T R E L ATO 19 f ã s 18 F U N K 27 f u t e b o l 24 H O B B Y 22 s u c e s s o 10 V O Z


Editorial Andrea Ignatti

A música nos acompanha praticamente durante toda a vida. Desde que nascemos, quando enfeitam o nosso quarto com brinquedos de dar corda e que tocam música num só tom. Antes disso, até, algumas mamães embalam em canções ainda na barriga, seus pequenos, como forma de relaxamento ou pura distração. Na adolescência, as meninas ganham caixinhas de música para guardar suas bijuterias entre outras formas de iniciação a música. E a trilha sonora que vai se formando a cada período da nossa vida — e dando vida a esses períodos — tem também muita história por si só. Música envolve muita coisa, pensando nisso os alunos dos 1º e 3º semestres de Jornalismo do ISCA Faculdades, orientados pela professora Ingrid Gomes na disciplina de Redação Jornalística I, trouxeram vários aspectos sobre música e apresentaram neste Jornal Laboratório. Como uma cantora iniciou sua carreira musical, incentivada por colegas. O sucesso de quem não é famoso, mas reconhece o carinho dos fãs. A influência do funk na adolescência atual. As dificuldades de se viver de música no Brasil. Fãs que se tornam quase “agenciadores” de seus artistas favoritos. A presença e a influência da música no esporte mais amado do mundo — o futebol. Os estilos e gostos musicais, de geração em geração. A paixão pela música praticamente inerente, e que caminha junto com outra profissão. Tecnologia versus pirataria na era digital, que tem aberto muitas portas. A diversidade de gêneros musicais, mostrando que o Brasil tem cultura nisso também. Os artistas que se apresentam em eventos beneficentes por amor à música e à sociedade. Os cuidados necessários com a voz para proteger um bem tão precioso à beleza da música. O tema está descrito nessas matérias e você vai ver que a música tem mesmo muita história pra contar na vida de muita gente!

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Reportagem: Letícia Benetton e Marianne Aroca Diagramação: Letícia Benetton Fotos: Marianne Aroca e Renato Alves

Músicas

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gêneros Di ver sidade music a l é a t r ela da a c ul t ur a l o c a l e as muda nç as s o c i o e c o n ô mic as

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ode-se dizer que a música é a arte de combinar os sons e o silêncio. Ao observar os sons conclui-se que a música é parte integrante da vida, ela é inspiração quando se canta, batuca ou ouve-se um som no rádio ou na TV. Hoje a música se faz presente em todas as mídias, pois ela é uma linguagem de comunicação universal. De acordo com o livro “Uma breve história da música”, de Roy Bennett a música existe e sempre existiu como produção cultural “(...) estudos científicos mostram que desde que o ser humano começou a se organizar em tribos primitivas, a música era parte integrante do cotidiano dessas pessoas.” Segundo o autor, a música ao ser produzida ou reproduzida, é influenciada diretamente pela organização sociocultural e econômica local, contando ainda com as características climáticas e o acesso tecnológico que envolvem a relação com a linguagem musical. “A música possui a capacidade estética de traduzir os sentimentos, atitudes e valores culturais de um povo ou nação. A música é uma linguagem local e global”. O livro conta que os gêneros musicais começaram a surgir a partir da dispersão dos grupos sociais, “Acreditam que o primeiro ritmo, gênero musical, criado foi o batuque. O batuque é uma dança de origem africana, caracterizada por requebros, palmas e sapateados, acompanhados ou não de canto. Por extensão, nome de certos ritmos marcados por forte percussão.” Segundo o historiador e maestro Jefferson Ribeiro da Silva, a música surgiu na pré-história, com paus e pedras, por volta

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“A música tem uma coisa boa: quando ela bate você não sente dor” (Bob Marley)

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de 50.000 anos atrás. Os antigos tinham necessidade de expressão e, para tanto tentavam imitar os sons da natureza com objetos, instrumentos ou ferramentas. Quando surgiram as primeiras manifestações de organização entre as tribos, a música foi adquirindo aos poucos uma função cultural de expressão, sendo sua manifestação completamente ligada a realidade sócio-cultural e econômica de cada povo, lugar e tempo. “Os historiadores dividiram a música em períodos, similarmente à divisão da literatura, pintura e escultura, entretanto, assim como nas outras artes, é relevante lembrar que essa divisão é histórico/científica, e que na realidade a mudança de um período para o outro é gradual e lenta”, explica Silva.

Muitos anos se passaram e vários gêneros musicais foram surgindo, e foi somente no século XX que se construiu a marca selada como “revolução da música”, com uma série de novas tendências, gêneros, estilos e técnicas musicais. De acordo com o doutor em literatura comparada Alexandre Bragion, que também é músico prático, para estudar música e gêneros há várias explicações. “Acho que poderia elencar várias justificativas para embasar a necessidade do estudo da música. Mas todas elas seriam inferiores a ideia de que a (boa) música é uma manifestação artística capaz de tirar as pessoas de seu estado de letargia. A música é capaz de produzir efeitos deliciosos em quase todas as pessoas. Ou seja, estudar música é bom porque a mú-

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sica é deliciosa”, explica o especialista. Em relação aos gêneros musicais, Bragion explica que não tem preconceitos a isso. “Sendo música, de verdade, tudo me agrada. Mas confesso, sou mais ligado à música erudita, à MPB ao choro e outros”. Também explica que não foi ele quem escolheu a música, mas sim, a música quem o escolheu. “Dar um significado para a música, para o gênero que adoro e toco é impossível. Até mesmo é impossível defini-la. Muitos filósofos e músicos já tentaram. Mas nada ainda parece interessante e completo. Posso dizer apenas que a música é uma arte diferente. Ao contrário das outras artes, ela só existe para ser arte”, finaliza. Para os integrantes da banda musical “O Cafundó”, Vitor Moreira e Christian Félix, todos os gêneros musicais são importantes e na música não existe gênero ruim. “Às vezes pegamos uma música de um gênero e acrescentamos outro gênero e damos nossa cara a ela, o que vale mesmo é a letra, e quem estão cantando”, afirma Moreira. Para Félix, a música e os gêneros musicais não devem ser estratificados ou classificados em rótulos e guardados em mostruários, “a música deve ser sentida e interpretada por cada indivíduo. Nada é igual nesse mundo, e isso se aplica à música também”. Quanto ao preconceito de gêneros musicais, cantor Kalu, da banda Kalu in Trâmite, afirma ser inevitável algum músico não sofrer algum tipo de preconceito. “O ser humano tem opiniões diversas sempre. Quando eu digo que toco MPB, Música Brasileira todos já imaginam Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque e aquele som leve, tranquilo”, explica. Kalu complementa que para conseguir entrar em casas de shows com a Banda foi difícil, “tive que provar que a MPB pode ser curtida, pra frente, animar e fazer todo mundo dançar”. De acordo com o cantor gênero musical é como a cultura e a educação. “Recebemos influências de diversas partes, nossos pais, amigos, mídia e então filtramos aquilo com que mais nos identificamos. O gênero musical retrata a nossa realidade e nosso momento. Quem nunca ouviu canções tristes depois de uma perda, um rock pesado num momento de revolta ou cantou Tim Maia quando a primavera chegou?”, finaliza.

Alexandre Bragion músico prático. “Estudar música é bom porque a música é deliciosa”

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Reportagem: Natália Campos Diagramação: Natália Campos e Luane Tenório Imagens: Arquivo pessoal

Quem seus e s p a

Cuida d o s c o m a voz ga r a nt em l c o la b o r a m a o s músic o s e st a d o exc e s s o s

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odos sabem o quanto a música pode fazer bem. Ela faz relaxar, melhora o estado de ânimo e, por vezes, aguça as emoções. Quem nunca ouviu falar do ditado popular “Quem canta, seus males espanta”? Especialistas garantem que soltar a voz pode curar muitos males, mas também soltála com cuidado pode evitar sérios problemas vocais. A voz consiste no som utilizando as pregas vocais para falar, cantar, gargalhar, chorar, gritar e outras ações do gênero. É algo tão importante, assim como a própria fisionomia, que

“Músic o q ue não t r at a da au diç ão e st á j o ga n d o s eu t r a b a lh o f o r a” Max Sander de Oliveira Lourenço é músico, toca profissionalmente há 12 anos e também é professor de violão e guitarra. Faz tratamento para audição, chamada audiometria, que é recomendado fazer de seis em seis meses com um otorrinolaringologista e salienta a todos a importância de cuidar da audição, pois é algo que pode se perder aos poucos. “Músico que não trata da audição está jogando seu trabalho fora”, afirma Lourenço. Além da audiometria, uma dica apontada pelo músico é usar protetores de silicone, pois previnem os danos causados pela poluição sonora. Com relação aos fones de ouvido, Lourenço explica ser interessante utilizá-los, mas é algo que pode danificar a audição se não souber usar cautelosamente

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pode-se compará-la com a impressão digital, pois varia de acordo com o sexo, idade, profissão, personalidade, estado emocional e a intenção que a usa. César Ricardo Mendes, mais conhecido como César Rick, cantor e compositor da banda Tehilim Celtic Rock, começou a cantar em 1996, num coral de uma igreja protestante. Porém antes disso, já se arriscava como backing vocal em algumas bandas de rock a qual fez parte. “Durante um tempo que fiquei no coral, que foram cinco anos, constantemente precisávamos estudar de verdade. Hoje, não faço aula, mas sei que preciso para corrigir algumas falhas da minha voz”, conta ele. Mendes considera sua voz saudável, mas sabe que poderia ser melhor se tomasse alguns cuidados. “A grande verdade é que, como músico, eu deveria ser mais ‘responsável’ pela minha ferramenta de trabalho”, descreve o cantor. Segundo Alexandre Seregati, regente do coral Santa Cecília de Limeira e professor de teoria musical e técnica vocal, é fundamental fazer acompanhamento médico. “É muito importante que o músico faça tratamento com fonoaudiólogo e otorrinolaringologista”, alerta Seregati.


cuida, males a n t a!

À esquerda: César Rick Mendes, vocalista da banda Tehilim Celtic Rock. À direita: Kalu de Araújo, vocalista da Banda Kalu In Trâmite

l o n g ev ida de às c o r das vo c a i s e o de p r ot e ç ão a o u t ili z a r em em uas vozes Aos 10 anos de idade, Carlus Humbertho Gouveia de Araújo, vocalista da Banda Kalu In Trâmite, fez parte do coral de sua igreja por dois anos. Participou de aulas de canto e técnicas vocais. “As aulas eram ótimas, pois além de aprender como aquecer a voz, ainda fazíamos exercícios para dividir as vozes nas canções. Hoje em dia eu cuido muito mais da minha voz do que antes, mas ainda deveria cuidar mais”, conta o vocalista. Para a fonoaudióloga Beatriz Deleuze, ainda há pouco conhecimento dos cuidados vocais por parte da população. “As pessoas fazem competição sonora, não respeitam as mudanças bruscas de temperatura e mesmo apresentando rouquidão, não fazem o repouso vocal, que é necessário para a voz”, explica a especialista. Quando existe um problema nas pregas vocais, a vibração produzida se torna defeituosa e a voz sai alterada, seja rouca, soprosa, entrecortada entre outros. “A alteração de voz é conhecida como disfonia e é, portanto, um termo geral, que descreve qualquer alteração da voz produzida por vários tipos de enfermidades”, explica a fonoaudióloga. As disfonias que geralmente ocorrem em profissionais da voz que não

tem nenhum tipo de orientação são as chamadas de funcionais, que são as que não apresentam nenhuma alteração visível nas pregas vocais, pois elas são decorrentes do mau uso ou do abuso da voz. Beatriz explica que toda disfonia que persistir por duas a três semanas ou mais, deve ser avaliada e que a maioria das disfonias pode ser tratada com repouso de voz e modificações no mau uso vocal. “Inflamações das pregas vocais ou nódulos podem ceder com este tipo de tratamento. Os nódulos que não respondem à reabilitação vocal e os pólipos necessitam de tratamento cirúrgico. Causas mais graves de disfonia necessitam tratamentos específicos”, esclarece a fonoaudióloga. Beber água regularmente em temperatura ambiente e manter uma alimentação saudável e regular são apenas algumas dicas para o profissional da voz e fazem parte da higiene vocal. Para músicos, antes de cantar ou de gravar vocais em estúdios, sempre fazer primeiramente exercícios de respiração, relaxamento e aquecimento. Em suma, a prevenção vocal só depende da conscientização de cada pessoa, pois voz é um sinal de saúde e deve-se tratá-la adequadamente.

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Reportagem: Marina Gallegani Imagens: sxc.hu

Do grave ao agudo: a ident i f ic aç ão das g er aç õ e s dia nt e da subj et i v ida de music a l

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osso sentir o escândalo, o surto, o susto. Vestidos e ternos bem comportados desenhavam o choque de bocas abertas, tampadas e abafadas pelas

mãos. Era a ameaça chegando, o anúncio tremido dos limites até então estabelecidos. O alimento para uma rebeldia sutil, o elemento para uma transgressão de valores, a abertura para uma identificação jovial tida como perigosa, transviada. As famílias americanas tradicionais estavam acostumadas a ouvir canções românticas, interpretadas por Frank Sinatra, Dean Martin, Guy Mitchell. Televisão e rádio levavam a alegria da novidade, veiculavam o ritmo, o apelo, uma inovação dançante. Uma mistura de instrumentos como piano, contrabaixo e guitarra, criavam um som influenciado pelo blues, r & b, folk e country, com letras simples que ganharam rapidamente o gosto popular. Entretanto, através das ondas de cada meio de comunicação surgia um certo desconforto, uma ameaça ao bem estar social, seus costumes e convenções. Dança, música, sensualidade, diversão; certeiro desconcerto.

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estilo obteve aceitação e brilho perante os jovens, principalmente em meados dos anos 50, quando Elvis Presley gravou “That’s Allright Mamma”. Era o momento certo para que todo o charme, carisma, beleza e talento do cantor pudessem surpreender e seduzir o público. Até então, ninguém tão diferente havia aparecido na mídia. Seu jeito único de dançar, sua voz marcante, e, o mais importante para a América dos anos 50: sua cor. Um homem branco, de olhos claros. Elvis deu abertura para que outros artistas, verdadeiros pioneiros do Rock, como Chuck Berry e Little Richard, tivessem a oportunidade de apresentar seus trabalhos. Naquela época, a discriminação racial estadunidense era extremamente rígida, intolerante e delirante. “Eu agradeço a Deus por Elvis Presley. Ele abriu as portas para muitos de nós”, declarou certa vez Little Richard. Entretanto, isso não quer dizer que apenas pelo fato de a cor de sua pele agradar a maioria, a aceitação do artista pela sociedade tenha sido simples, fácil, sem qualquer obstáculo. Em suas primeiras aparições na TV, o cantor aparecia da cintura para cima, e seu quadril que rebolava foi censurado nas filmagens. Apesar de não fazer parte de um preconceito racial, sua música e sua dança eram repletos de sangue, cor, ousadia e apelo de toda uma cultura tida negra, na época.

Rockabilly, muito prazer. Pode-se dizer então que o Rock´n Roll é um estilo musical predominado por uma base rítmica constante, rápida e repetitiva, características herdadas da música africana. Combinando um certo questionamento com a realidade social, seja na inovação que contradizia uma tradição, nas letras ou em qualquer elemento que fizesse as pernas ou o coração pulsarem mais forte, trata-se de uma presença poderosa e inquieta, ou seja, pequenos traços que permearam o período da escravidão. No Brasil, a explosão dessa novidade avassaladora chegou um tanto quanto atrasada, e de forma mais branda e latente, mas que definitivamente também carregava incômodo e surpresas. “Pouquíssimas pessoas tinham televisão”, declara Vanilda Alves Ribeiro, que vivenciou boa parte da época. Vanilda conta que Elvis ficou mais conhecido a partir de seus filmes, já que o cinema era muito frequentado. “Elvis era sensual, para deixar a mulherada louca mesmo. Eu o considero o número um”, complementa. Para ela, sua geração lembra a magia que exalavam as lambretas, os lenços de seda no cabelo amarrados no pescoço, saias godê, sapatos de bico fino, vestidos rodados, cintura marcada, rabos-de-cavalo e sutiãs de

bojo. Era o início do surgimento das lanchonetes, onde os amigos se encontravam para tomar coca-cola. “Os namoros eram vigiados. Para sair tinha sempre que ter um acompanhante da família”. Vanilda se lembra dos marabarismos que sua irmã fazia ao dançar o Rockabilly, deixando-a impressionada. Um dos primeiros passos para boas e gordas quebras de convenções. Nenhum outro estilo de música estava tão sincronizado com a época fervorosa desta nova geração. Desde os anos 50, o rock passou a ser um espelho da sociedade, refletindo a moda, o comportamento e as atitudes dos jovens. Março de 1963 e maio de 1970, duas datas, na primeira, o LP “Please, Please Me”; na segunda o disco de despedida, “Let It Be”. No arco que une as duas, a corda da música popular permaneceu sempre tensa, em todo o mundo, pois foi a explosão sem espaços da magia dos Beatles. Os Beatles foram recebidos como a vanguarda não apenas de um momento musical, mas de um movimento de geração. O vestuário, os cabelos, a representação do sexo, da música, das drogas, nada após os Beatles seria o mesmo.

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m 1960, surge no Brasil o termo MPB: Música Popular Brasileira. A cada década, com flexibilidade entre elas, o estilo musical brasileiro se tornaria cada vez mais amplo e abrangente, começando com a Bossa Nova, chegando até as grandes variações do Rock-Pop. Com uma elite de peso e sensibilidade, os anos 70 marcaram época com artistas exemplares, como Caetano Veloso, Belchior, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Chico Buarque, João Gilberto, Milton Nascimento, Tom Jobim, Toquinho, Vinicius de Moraes e tantos outros. O primeiro e lendário Festival de Bossa Nova (também tido como New Brazilian Jazz) não aconteceu no país enraizado pelo samba, mas em Nova York, no Carnegie Hall. Foi o lançamento oficial da Bossa Nova, tendo como pioneiros João Gilberto,

B o s s a Nova, Jovem Guarda e

Tropic alismo Edu Lobo, Tom Jobim, Bola Sete e Sérgio Mendes. A Bossa Nova teve como forte influência o jazz, e foi a maior comoção estadunidense no início dos anos 60, perdendo apenas pelo apelo insuperável dos Beatles. Para Rita de Cássia Castilho, nascida em 1950, Nara Leão era tida como a musa da bossa nova. As letras eram poéticas e todos os que seguiam este movimento eram vistos como “moderninhos”. “Além dos mais famosos me lembro do Quarteto em Cy, Carlos Lira e Os Cariocas. Foram tirados todos os instrumentos que eram usados em festas tradicionais, e tudo passou para o violão. Quem tinha violão era o rei da festa”, remetendo assim à expressão “um banquinho e um violão”. Rita comenta ainda que as roupas e o modo de se vestir eram mais discretos do que viria depois com a Jovem Guarda. “Havia um ar de ousadia, de modernidade, era uma música mais para a elite”. No início da ditadura militar, em 1964, ocorreu o militante Show Opinião, que entrou para a história. Nesse espetáculo que a cantora Maria Bethânia foi apresentada, com a música “Carcará” tendo sido interpretada por João do Vale e José Cândido, e participaram do evento também Nara Leão e Zé Kéti. Foi a grande era dos festivais. Em 1965, na TV Record, surge um programa de televisão que daria voz, imagem, publicidade e visão a um novo movimento, o da Jovem Guarda, liderado pelo cantor e compositor Roberto Carlos, tido como o Rei da Juventude Nacional.

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Faziam parte do elenco artistas como Erasmo Carlos, Wanderléa, Martinha, Rosemary, Ronnie Von, Eduardo Araújo, Antonio Marcos, Deny e Dino, The Jordans, The Jet Blacks, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys e Os Incríveis. A Jovem Guarda também ficou conhecida como a versão brasileira do rock mundial, sendo os artistas nomeados como os reis do “yê-yê-yê”. O apreciador Robson Rodrigues Bento, que viveu sua juventude ao som da Jovem Guarda, afirma que os músicos tinham certo receio a respeito do que estava acontecendo no Governo. “Não cantavam nada que desabonasse ou contradizesse os valores familiares, mas me lembro que uma música do Roberto foi censurada, a do ‘Caderninho’. Eles não tinham cunho político, e acompanharam o clima em que vivia o Brasil. Falavam sobre amor, namoro, festa, alegria e juventude. Era bem ‘água com açúcar’”. Segundo Bento, a Jovem Guarda influenciou a conduta dos jovens com uma liberdade que não existia nos anos 50. “Era liberdade, e não libertinagem.” O modo de se vestir dos jo-

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vens também mudou. Os Beatles eram copiados nos cortes de cabelo e num certo “psicodelismo”, de uma forma mais tropical, sendo adaptada aos costumes brasileiros. Fugiu-se do convencional. Bento explica que, em relação à Roberto Carlos, a maioria tentava imitá-lo em tudo: “A gola alta virou febre!”, confessa, “As meninas queriam as botas da Wanderléa, copiavam o jeito dela dançar, e tudo o que era citado virava moda. O Calhambeque, as novas gírias como ‘papo firme’, ‘bolha’, ‘boco moco’ e ‘brasa mora’ estavam na boca da galera. Foi aí que surgiram também as ’brincadeiras dançantes’, diferentes dos bailes, em que os pais sempre acompanhavam”. O movimento introduziu a guitarra elétrica e instrumentos eletrônicos no surgimento da Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que seria depois um dos elementos complementares do fim da Jovem Guarda, devido ao contexto vivido na época e ao alcance de popularidade. Por meio dos Festivais Universitários da TV Tupi, surgem nomes como o de Elis Regina (com “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes), Edu Lobo (com “Ponteio”), Caetano Veloso (com “Alegria, Alegria”), Gilberto Gil (com “Domingo no Parque”), Gal Costa (com “Divino Maravilhoso”, de Caetano), Os Mutantes (com “Dois Mil e Um” de Rita Lee e Tom Zé), Chico Buarque de Hollanda (com “A Banda” e “Roda Viva”), Milton Nascimento (com “Cidade Vazia”, de Baden Powell e Lula Freire), Tom Zé (com “São Paulo, Meu Amor”), Paulinho da Viola (com “Sinal Fechado”) e MPB-4. Solidificam-se, então, grandes ídolos da MPB. As músicas de manifesto, posteriores aos festivais, durante a repressão e censura ao regime militar, tiveram em Chico Buarque o compositor mais representativo deste movimento de expressão. Com o lançamento do disco “Tropicália – Panis ET Circences”, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat, o tropicalismo foi enfim reconhecido como verdadeiro protesto.


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ouve o momento de negação da tradicional música popular brasileira. Era preciso criar novas alternativas sonoras para uma nova geração. A juventude brasileira de classe média surgiu com uma provocação por meio do rock e do pop, influenciados pelo movimento pós-punk, o que mudaria o cenário musical da época, dando origem a um movimento underground. A partir de Kid Vinil surgem Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Engenheiros do Hawai, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, RPM, Kid Abelha, Lobão, Biquini Cavadão, Inocentes e Ratos de Porão. Cazuza, um dos maiores ícones da música brasileira da época, cantor e compositor, deixou o grupo Barão Vermelho em 1985, para seguir uma carreira solo. Entre seus sucessos estão “Exagerado”, “Codinome Beija flor”, “Faz Parte do Meu Show”, “Bete Balanço”, “O Tempo Não Pára”, “Ideologia”, “Brasil”, entre outras. Morreu em decorrência da AIDS, e foi um dos primeiros artistas a assumir ao público a doença. Outro cantor e compositor, vítima da AIDS foi Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, uma das mais importantes do rock dos anos 80. Sua voz grave tornou possível uma fusão entre sua intelectualidade, autenticidade, e com a tensão de suas canções (em termos de sensibilidade, melancolia e denúncia). Questões morais e sociais são colocadas de forma pessoal e poética, facilitando a interação e identificação com toda uma subjetividade da juventude da época. Em 1993 o formato de CD começa a superar o vinil e praticamente dominar as vendas. As fitas cassetes, em sua maioria, já faziam parte de um mercado de pirataria. Dessa forma, a produção dos discos de vinil, a partir de 1993 é diminuída e quase extinta. Nesse meio tempo, nasce uma nova geração de bandas de rock dos anos 90, dando assim mais uma cara nova à música e proporcionando diversidade de identificações quanto ao público. O Rappa, Pato Fu, Skank, Jota Quest, e o polêmico Planet Hemp, atropelando a mídia com questões sociais, revelando-se uma das bandas que mais chacoalharam a mente dos brasileiros com muitos questionamentos. “Lembro que na época eu era muito nova, e no

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De para


nos

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e lá a cá!

caminho para casa tinham muitos mecânicos, postos de gasolina, principalmente construções. Isso me deixava muito irritada, porque meu corpo estava mudando e aqueles homens nojentos não paravam de mexer comigo. Comecei a andar de skate e a usar roupas largas como defesa, para ver se eles davam uma trela. Não adiantou nada. Eu passava e eles começavam a cantar alguma coisa do Planet Hemp, isso porque eu nem usava drogas!”, desabafa Carolina Silveira, fã assumida de quase todas as bandas que surgiram na época. “Era tudo uma delícia, um som novo e muito atual. Falava sobre coisas que a gente queria ouvir, como questões sociais que faziam parte da nossa realidade mas que ninguém tocava no assunto. Me dava uma sensação de liberdade. Fui a um show do Rappa na cidade, e eu dançava de forma tão despreocupada que minhas amigas falaram para eu parar porque, segundo elas, eu não estava dançando no ritmo! Mal sabiam que o ritmo estava na minha cabeça, e que eu estava curtindo aquele som pelo corpo inteiro”, descreve Carolina, hoje ainda sempre à espera de novidades em relação às bandas que fizeram parte do início de sua juventude. Além do alvoroço, essas bandas também foram responsáveis pela abertura para novas misturas de ritmos, como o reggae, sendo um dos principais elementos de criação para grupos como Nativus (hoje, Natiruts), Tribo de Jah e Cidade Negra. Em 1994 surge Chico Science e Nação Zumbi, fomentando o que viria ser o movimento mangue beat. A partir daí, em 1995, segue uma geração talentosa de jovens cantoras. Marisa Monte, Zizi Possi, Cássia Eller, Fernanda Abreu, Marina Lima, Lila Pinheiro, Paula Toller, Zélia Duncan, Ná Ozetti e Mônica Salmasso fazem parte deste elenco. Desde então, apesar de incontáveis sucessos, ainda espera-se um som novo, revolucionário, recheado de elementos inesperados, que caiam ao público como uma quebra do cotidiano, de uma época já mastigada pela corrupção, pelo preconceito, pela injustiça, pois falar em música é falar da vida, e das experiências sentimentais de cada um. Esperam-se timbres que possam pulsar o mais profundo do sangue, que causem incômodo consciente, que submetam o inconsciente aos mais singelos recalques reivindicando mudanças, movimento, música e atitude.

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Reportagem: Tamires de Souza Diagramação: Jéssica Geniseli Imagens: Letícia Benetton

Banalização da

músic a

H foto: Divulgação

brasileira?

Andressa Soares dançando funk

á muitos críticos afirmando que a música no País passa por um período de significativa banalização, em especial pela decorrência de novos ritmos mais acelerados e/ou pelas letras com apologia ao sexo e as coreografias vulgares. Letras de música que tem como tema o sexo e o desrespeito à mulher, ou fazem apologia ao tráfico de drogas e as facções criminosas são comuns aos ouvidos dos brasileiros, mesmo quando não se é fã desses ritmos. Muitos pais não se importam em seus filhos ouvirem esses gêneros musicais, como é o caso de Tatiane Bueno, 25, mãe de três crianças, Mateus, 9, Paulo, 7 e Luís Felipe de 6 meses. “Eu não acho que uma simples música possa atrapalhar o desenvolvimento psicológico dos meus filhos, eles gostam de funk e eu não vejo mal algum em deixá-los ouvir. Essa história de que funk é banal e prejudica crianças e adolescentes não passa de mais uma, inventada pela sociedade. Funk é estilo e uma forma de expressão social.” Mas o psicólogo Denis Jambas adverte “nós não podemos saber se crianças e adolescentes serão influenciados por ritmos musicais na fase adulta, só iremos saber se ouve prejuízo ou benefício ao longo dos anos, e isso irá depender de cada pessoa. Talvez uma criança que ouvia funk, quando crescer possa ter uma reação positiva por ter escutado demasiadamente, mas por outro lado podemos ter uma criança que ouça essas músicas e quando chegar à fase adulta ter uma reação natural diante disso, achar comum fazer o que os funks cantam. Mas não podemos nos esquecer que não são só os ritmos musicais que influenciam na vida de um indivíduo, temos também a escola, os pais, avós e outras pessoas que influenciam no psicológico das crianças, é um conjunto de valores que formam o caráter de cada um”. Já para o psicólogo Ary Donizete a criança “pode influenciar-se se o contexto predominante for a violência e a marginalização”. O funk é o ritmo mais lembrado quando se fala em banalização musical, pelas letras e coreografias, mas há quem diga que existe funk saudável, como é o caso de Andressa Soares, mais conhecida como “Mulher Melância”. “O funk tem vários estilos musicais. Funk melody, funk apologia, funk com letras de pornografia e funk coreografado que é o que eu canto. Eu procuro não falar palavrões nos meus shows. Justamente porque sempre vão pessoas de todas as idades me prestigiarem. E acho um pouco constrangedor.” Antes de entrar para o mundo das funkeiras, Andressa era professora de dança de salão e nunca almejou a fama, como ela mesma diz. “Eu participei de um DVD de funk pensando que seria só aquele trabalho. Mas com a ajuda da internet, o mundo inteiro me viu dançando e então consegui chegar ao sucesso com o funk. Foi uma coisa que aconteceu e não que eu planejei.” A dançarina acredita que funk também é cultura. “O funk hoje é como forró, axé, pagode, sertanejo. Hoje funkeiro canta junto com pagodeiro, forrozeiro etc. Se você escutar umas músicas de forró, vai ver que tem tanta pornografia quanto alguns funks.”

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Reportagem: André Borba Imagem: sxc.hu

da banda americana. Ziggy criou a página “Foo Fighters 50 pila” como uma brincadeira, e com a significativa adesão de um público cansado dos preços praticados pelos grandes shows, acabou se unindo ao publicitário Bruno Mendonça para levar o projeto adiante. Mais de 55 mil pessoas haviam confirmado a participação na “vaquinha”, com esse número os organizadores conseguiram a quantia de R$2,75 milhões, mais de 50% superior ao cachê cobrado pela banda, atualmente o objetivo da página é chegar a 100 mil fãs, para quem acha essa missão impossível, o próprio gerente da turnê Foo Fighters confirmou a presença no evento. Nesse primeiro momento os organizadores perceberam que o evento começou a ter uma repercussão intensa, e para chamar a atenção da banda Ziggy e os amigos criaram um site e uma conta no Twitter, além da página no facebook. Ziggy observou em seus amigos a vontade de participar de um show da banda, e como não tinham condições de pagar, resolveram juntar-se para organizar o evento. Quando ele iniciou o projeto enfrentou muitas dificuldades, várias pessoas não acreditavam que eles iriam conseguir, “tive alguns amigos que me chamaram de ‘louco’, mas nunca pensei em desistir, fiz de tudo pra que o evento acontecesse e cumpri com o que falei”, explica. Para Ziggy é interessante proporcionar aos fãs do Foo Fighters a oportunidade de ver os integrantes da banda mais de perto, por um preço mais em conta. O show aconteceu no dia 06 de abril de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, onde mais de 80 mil pessoas estiveram presente. Jéssica Iglezias que mora em São Paulo é uma das fãs da Banda e foi ao show, ela descreve “cheguei ao local do show ao 12h, com muita ‘luta’, fiquei em um lugar perto do palco, vi o Dave (integrante da Banda), fiquei o show inteiro sem comer, mas digo foi o melhor show que participei até hoje”. Ziggy já pensa em levar a iniciativa para outras cidades, “a notícia se espalhou muito rápido, já recebi vários pedidos na página do facebook, vamos tentar realizar todos”, comenta. Os interessados em colaborar com o crescimento desse projeto podem compartilhar o evento no facebook e enviar pelo twitter a mensagem: “Hey@foofighters, you should go to Brazil: #ff50pila. O especialista em organização de eventos, Marcelo Porta, achou a ideia da “vaquinha” muito interessante, pois por meio dela é possível realizar o sonho de muitos fãs por um preço bem abaixo do que é cobrado, para ele a “vaquinha” não iria atrapalhar o seu ramo de trabalho, e finaliza pedindo que deve ser organizado mais eventos como esse, e que teria o interesse de ajudar. “Vejo nesse evento a prova de que é possível organizar um show de uma banda internacional usando as redes sociais”.

Fãs fazem “ va q uinh a s ” para

trazer

bandas

inter nacionais

ao

Brasil

Gr up o s e c o munidade s us a m a int er n et e as r e de s s o c ia i s c o m o f o r m a de r eunir p e s s o as c o m o o bjet i vo de junt o s f ina nc ia r em o e sp et ác ul o

N

ada mais é impossível, pessoas e grupos organizados se unem para trazerem suas bandas favoritas internacionais para tocarem no País, por meio das famosas “vaquinhas”. Essa versão modernizada usa como instrumento de comunicação a internet e as redes sociais. Os fãs acreditaram na velha expressão “A união faz a força”, e conseguiram arredar o investimento necessário para trazer as bandas de fora do Brasil, para tocarem aqui por um preço bem mais razoável do que quando tocam nos eventos tradicionais. Assistir a shows de bandas que não tinham apresentações agendadas no Rio de Janeiro era o desejo desse grupo idealizador das “vaquinhas”. O publicitário Rafael Ziggy, morador do Rio e fã da banda Foo Fighters, criou uma página na rede social do Facebook para juntar o maior número de pessoas dispostas à pagar R$50,00 por um show

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Reportagem: Janaina Santoro Imagens: Divulgação

F Viver de música é

coisa s ér ia!

Su o r, p er si st ênc ia e ac im a de t u d o p a i x ão, c o mp l em ent ad o c o m um a a ju dinha das r e de s s o c a i s p o dem sim f a zer a di f er enç a n o mun d o da músic a

ama. Autógrafos. Reconhecimento. Ou até mesmo fazer o que gosta. São várias as razões que levam uma pessoa a querer ser músico ou musicista. Mas como viver de música no Brasil? Quais são os caminhos que podem se abrir para os jovens que desejam viver de música hoje? Não fugindo deste contexto está a Nineway, ex-banda do interior de São Paulo, que era formada por cinco garotos. Cada um deles tinha uma segunda ocupação, caso contrário, teria sido difícil se sustentarem somente com o dinheiro que recebiam dos shows. No início do ano resolveram desfazer a banda após poucos anos na estrada, por acharem que o retorno financeiro não compensava, além de não conseguirem conciliar trabalho e estudo com o “hobby”. “Então não tenho mais nada, e nem tenho tanto contato com os companheiros quanto antigamente”, confirma o ex-vocalista Diogo Sarto. Entretanto, não se pode negar a potencialidade que as redes sociais oferecem as pessoas, segundo dados do site Ibope Nielsen, o número de brasileiros conectados à rede deu um salto de 67,5 milhões no quarto trimestre de 2009 para 79,9 milhões no quarto trimestre do ano passado, uma evolução de 19%.

Lu ga r a o s o l Remando contra a maré, a girl band “Sufrágio”, formada por quatro garotas, tem como inspiração a cantora americana Joan Jett, e afirma que apesar das dificuldades enfrentadas e de possuírem outra profissão como forma de ganhar mais dinheiro, a banda está estruturada. O mesmo acontece com o DJ Roberto Avanço que começou a carreira como um hobby em 2008 e com o passar do tempo, os convites aumentaram até para fora da região e hoje é difícil um fim de semana que ele não

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Roberto Avanço Júnior mora em Leme e já trabalha há alguns anos como DJ.


trabalhe. “O reconhecimento não é de imediato e tem que gostar do que faz. No começo, tocava até de graça”, confessa o DJ. Ainda segundo ele, o público o ajudou comparecendo nas casas de shows e barzinhos, participando de forma calorosa. Contudo, a psicóloga Monise Arle ressalta que é necessário ter estrutura psicológica para receber os “nãos” tão comuns nesse meio. O “não” possui determinados efeitos para cada indivíduo. Principalmente para a geração de jovens acostumados a ter tudo que desejam e não suportam frustrações, “cabe aos pais saberem negar sempre que for preciso para poder fundar uma ética pessoal e consequentemente, profissional”, conclui.

Ex p l o s ão das r e de s A chance de aparecer ficou cada vez maior com o desenvolvimento das redes sociais, artistas de todo o mundo começaram a disponibilizar suas músicas gratuitamente para as pessoas conhecerem e passarem para frente. Prova dessa eficiência, está a cantora Mallu Magalhães que se destacou na internet após disponibilizar quatro canções em seu MySpace, gravadas em um estúdio como presente de aniversário dos pais. Os paulistanos do “Cansei de Ser Sexy”, mais conhecidos pela sigla CSS, não fazem tanto sucesso aqui no Brasil, mas no Reino Unido são uma das bandas mais celebradas dos últimos anos. O grupo deixava suas músicas à disposição para download. Como estratégia de divulgação, a banda “Sufrágio” também abusa das redes sociais, porém a vocalista Thainan Turati afirma que só a internet não basta. “É bom lembrar que sempre batalhamos muito. A Internet serviu para aumentar esse público já existente”.

Banda Sufrágio

Fu n d a ç ã o N a c i o n a l das Ar tes Em contato com o Ministério da Cultura, a Coordenadora-Geral de Educação Verena Santiago F. de Castro afirmou que o Ministério é parceiro da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE). A Funarte é o órgão responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo. Concede bolsas e prêmios, mantém programas de circulação de artistas e bens culturais, promove oficinas e apóia eventos culturais em todos os estados brasileiros e no exterior. Para mais informações, a Funarte disponibiliza parte de seu acervo gratuitamente no site www.funarte.gov.br.

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Reportagem e Image: Wendell Stahl Imagens: Wendel Stahl

Do início ao auge

profissional Na c o nver s a c o m Ivet e Sa n ga l o e Ka lu de A r aúj o, q ue o c up a m e sp aç o n o c enár i o music a l, o s músic o s r e s s a l t a m c o m o lida m com o sucesso

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A

lguns meios de comunicação, principalmente a televisão, por vezes conduzem os jovens a pensar que a maneira de vencer na vida e se tornar alguém com reconhecimento é ser famoso, seja como jogador de futebol, cantor, ator ou atriz, modelo, humorista, ou apenas ter um corpo bonito e “ficar rebolando em frente às câmeras”. A síndrome da busca pela fama faz com que eles deixem de acreditar nos estudos, e em outros meios de conquistar vitórias em suas vidas. Talvez um dos efeitos da fama seja a sensação de poder que ela sugere as pessoas, afinal ao longo da história humana o posto de importante e influente foi transferido pelo valor do poder que determinada pessoa detinha em seus domínios. Nesse sentido é interessante entender qual a simbologia que o sucesso e a fama ocupam atualmente na sociedade midiática. Na “vida real”, a maioria dos artistas, sofre e passa por muitos obstáculos até conseguir gravar sua música, estrear em uma peça de grande público entre outras situações artísticas que consagra. O cantor Kalu de Araújo que está há mais de dez anos no ramo artístico e há cinco anos como integrante da banda Kalu In Trâmite, explica que é muito gratificante quando


Ivete Sangalo atendeu os fãs que a esperavam na porta do hotel Renaissance, após o show no Morumbi em São Paulo. Simpática, distribuiu autógrafos, tirou fotos e bateu um papinho com a galera.

você percebe que todo trabalho desenvolvido tem aceitação e está sendo reconhecido. Ele já chegou a tocar em troco de comida para conseguir espaço. “Só no dicionário o sucesso vem antes de trabalho. Ninguém valoriza o trabalho do músico, mas ninguém vive sem a música. Eu não busco a fama, busco meu sucesso profissional. Quero ter minha casa, família, conforto, e mais que tudo, que o meu filho tenha orgulho de mim!” comenta o profissional. A cantora Ivete Sangalo também teve dificuldades até chegar a Banda Eva. “Nunca sonhei em ter sucesso. Eu queria é cantar. Tive dificuldades naturais que acaba fazendo com que a gente nos valorize ainda mais. Mas quando entrei no Eva as coisas começaram a acontecer, foi tudo muito tranquilo e natural. O público sempre me respeitou e valorizou meu trabalho.” Quando questionada se alguma vez já pensou em desistir, Ivete responde: “Nunca! É o que eu amo, é o que eu quero fazer até não puder mais”.

torno fã deles”. Érika Lima é fanática por Ivete Sangalo. “Já dormi na porta de shows, a última vez foi no Olímpia, cheguei de madrugada, sendo que o portão só abriria às quatro horas da tarde, pelo menos fiquei na frente do palco e ainda consegui dar um abraço nela!”. Agora ela fará outra loucura para assistir ao show da musa do axé, Érika está grávida com quase nove meses de gestação, e mesmo assim vai para o evento. “Eu vou enfeitar todo o abada, vou cortar a parte desse barrigão enorme que estou, e vou fazer uma pintura em homenagem a ela (Ivete) na minha barriga. Quero que quando meu filho nascer, ele veja todo o esforço que estou fazendo para nós chegarmos perto dela, e que tenha orgulho disso.” Ivete não tem problemas com a fama. “O meu espaço sempre foi respeitado, por isso a relação com meus fãs, jornalistas, e pessoas que estão envolvidas com meu trabalho de alguma forma sempre foi muito tranquila”. Ela ainda confessa que gosta do assédio e do glamour que a mídia oferece. “Gosto de sair na rua e as pessoas falarem comigo, me chamarem, pedirem foto, autógrafo. A fama não me impede de sair, de ir a um restaurante, cinema... mas é claro que isso não acontece com frequência”.

O e sp aç o d o s f ãs Kalu de Araújo ainda nem tanto conhecido revela que já pediram para tirar fotos com ele depois do show, e que já está dando autógrafo. “É uma situação nova, não sei se são meus fãs, mas quando vejo a galera dançando, sorrindo, cantando e fazendo a noite acontecer, sou eu que me

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Marcelo Bonin junto com sua banda Reportagem: Tatiane Medeiros Imagens: Divulgação/Arquivo banda

Banda limeirense

Zabomba trilha trajetória musical

com convidados para lá de especiais Marcelo Bonin, limeirense, atualmente mora em São Paulo, publicitário por formação, e músico por escolha de vida. Desde pequeno sente essa ligação aflorada com a música, na família os primos mais velhos tocavam, tinham bandas e encantavam o futuro baterista, aos 10 anos ele montou uma banda de rock n’roll com os amigos, e assim a busca e a paixão pelo som, mais pesado dos instrumentos, já estavam seladas.

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A criatividade é o dom que une as duas profissões, “uma necessidade diária de inventar algo novo, seja pelo som, de forma conceitual ou visual”, explica Marcelo Bonin. Ele trabalha essa ferramenta de forma inspirativa, como trilha sonora, ou mesmo quando desenvolve um som para alguma campanha publicitária. Para Bonin, um palco sagrado para um bom show com sua banda Zabomba é ter sua família, amigos e pessoas queridas na platéia, e antes de subir no palco ele afirma que passa em sua mente os desafios e a trajetória que viveu para estar naquele palco, naquele momento. Formada atualmente por quatro integrantes, Beto Boing (baixo), Paulo Passos (guitarra), Rapha Z. (voz) e Marcelo Bonin (bateria), o Zabomba surgiu há cerca de dois anos, partindo da ideia de se divertirem, e buscando fazer um som de qualidade. Os músicos definem seu som como, “Rock Tropical Cinzento. O tropical por estarmos nos trópicos, no Brasil, o cinzento por estarmos e sermos de São Paulo e o rock porque quando estamos juntos no palco rola uma mistura explosiva de rocknroll.” “A música me proporciona muita coisa boa, me trouxe muitos amigos, satisfação pessoal, e oportunidades de vivenciar momentos inesquecíveis como conhecer e poder trabalhar junto com o Ney Matogrosso, um dos maiores artistas brasileiros. Sem contar que sem ela a vida seria um erro. ” A banda se define não apenas parceiros de trabalhos, são amigos, “Somos bastante amigos. Eles três são amigos de longa data, eu os conheço há dois anos e meio mas já existe uma grande amizade entre nós”, pontua Bonin. O grupo busca inspiração no cotidiano, as composições são tiradas do dia a dia, da correria, dos problemas, relacionamentos e sonhos de cada um, as letras são, em sua maioria, próprias e autorais, além de versões do João Ricardo (Secos e Molhados) e Rogério Skylab. Fazem shows pelo Brasil, e tocam músicas dos três discos já lançados. Em sua história tiveram um marco no ano de 2011, em que lançaram o disco “Vivendo de Truques”, que contou com a participação especial de Ney Matogrosso, por contato do percussionista Felipe Roseno, integrante do grupo de Ney, que em uma oportunidade entregou o disco do Zabomba, e o cantor ícone da música brasileira, logo gostou e convi-

dou a banda para gravar uma canção em seu próximo disco. “Muito honrados, claro que dissemos sim e o convidamos para gravar uma canção no nosso disco que estávamos gravando. Ele adorou. Mandamos algumas canções para ele escolher”. Ney escolheu a canção “Mente”, veio até São Paulo e registrou sua participação mais do que especial. Além desse momento inesquecível, ainda rolaram dois shows com a participação dele, um em São Paulo (Studio SP) e outro no Rio de Janeiro (Studio RJ), ambos foram sucesso, descreve Bonin. Com respeito por músicos e artistas brasileiros, o baterista se inspira ouvindo artistas pernambucanos como, Nação Zumbi, Mombojó e Junio Barreto, e se diz sortudo por acompanhar esse “boom” vindo do Pernambuco da era de Chico Science, o que faz com que surjam cada vez mais músicas boas.

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Reportagem: Giuli Marie Braido Diagramação: Jéssica Geniseli

“A presença de um empresário para colaborar na formação, entrosamento, agendamento e, de forma geral, na gestão da banda”.

Administ r aç ão m u s i c a l D o iníc i o da c a r r eir a de músic a, a o suc e s s o n o s p a lc o s

A

música sempre foi uma carreira desejada pela juventude, no momento de definirem suas profissões. Têm músicos que já nascem em famílias dotadas de grandes nomes e experiências musicais, outras vão descobrindo aos poucos a habilidade com o ramo musical. A cantora Aline Adlung dos Santos explica que começou na música em 2005, quando frequentava videokês com os amigos e, assim eles foram estimulando-a cantar. “Eles (amigos) escolhiam músicas para eu cantar. Diante disto decidi me aperfeiçoar, conhecer a técnica de canto e gostei tanto que não parei mais. Fiz aulas de canto popular durante sete anos na Underground Escola de Música, em Mogi das Cruzes.” Como toda profissão exige-se competência, e em especial, dedicação. O início é mais complicado. O empresário musical Cristiano Penteado Ramos ao falar sobre o início da banda que trabalha comenta que “a pri-

meira dificuldade foi conseguir reunir o quinteto pois cada um tocava em bandas diferentes. Depois, o desafio de conseguir os primeiros lugares para tocar e finalmente, se consolidar como uma banda de qualidade no cenário musical da época”. A presença de um empresário para colaborar na formação, entrosamento, agendamento e, de forma geral, na gestão da banda tem sido importante para o crescimento profissional dos músicos. Ramos explica que ultimamente tem desempenhado o papel de empresário e produtor, “pois além de vender os shows, cuidar dos contratos e etc, cuido também da produção que seria: definir os horários de montagem e passagem de som, definir repertório, cuidar de detalhes como jantar, estadia e camarim, além de cuidar para que tudo ocorra como combinado em contrato, durante as apresentações”. Outra possibilidade além da consultoria de um empresário pode vir de

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concursos globais, regionais e mesmo dentro das escolas de música. Surgem cada vez mais concursos musicais tanto na TV onde o ideal é fazer testes com cantores amadores e buscar novos talentos musicais, como concursos em escolas de música, em que a idealização é incentivar os alunos (músicos/cantores) a se dedicarem mais, e ver os que se destacam e mostram ter mais talento. A cantora Aline Adlung afirma ter iniciado desta forma: “Já cantei em concurso de videokê e nos concursos promovidos pela escola de música onde estudei”. A música é uma paixão, um sonho para quem a busca, algo que toca a pele e encanta os ouvidos, é envolvente, desperta sensações, emoções, tem o poder de reunir amores, e desperta nostalgia e, mesmo, melancolia, por isso os músicos mais famosos e os que buscam esse caminho não desistem e nem devem, pois a essência do músico tem muito que deixar à população, porque a música é um legado.


“Imagine seus filmes favoritos ou aqueles mais tradicionais sem a trilha sonora?”

Reportagem e diagramação: Andrea Ignatti e Jéssica Geniseli Imagens: Arquivos pessoais

William Tavares

Já imaginou

futebol

sem música? Co m ent a r i st as, j o r na li st as, ex-c r a q ue s e a p r e s ent a d o r e s f u t eb o líst ic o s ex p lic a m o et er n o c as a m ent o da músic a c o m o e sp o r t e símb o l o d o País

F

utebol é o esporte mais popular do mundo. Tem o poder de provocar diferentes emoções: alegria, tristeza, euforia, desapontamento. Futebol é composto por vários elementos e, entre eles, estão os hinos, os gritos de guerra das torcidas, os cânticos. Eles têm força para encorajar o time, de comemorar uma vitória, de prestar uma homenagem a um jogador importante para o clube e até de mostrar a insatisfação do torcedor quando o time está mal no jogo. O jornalista e escritor André Ribeiro, que é autor de diversos livros sobre esporte e grandes personagens da área esportiva, entende que hino ou música sempre foram componentes fundamentais do futebol, desde os primeiros jogos realizados no início do século XX. “No antigo Velódromo, um dos primeiros estádios a concentrar os jogos paulistanos, já se entoavam gritos de guerra entre os torcedores, algo parecido com o ‘ale-guá-guá’. A partir daí, nunca mais saiu das arquibancadas, deixando o jeito educado e pomposo da época (no início dos anos 1940) para virar charanga do Flamengo”.

A história capaz de suscitar fortes emoções, como é a história do futebol, começou cedo. O ‘ale-guá-guá’, a que se refere Ribeiro, nasceu ainda na várzea e se tornou a resposta abrasileirada à expressão Allez Go Ack que a elite cantava durante as partidas. Allez vem do francês; Go, do inglês; e Ack, do alemão. Todos os termos significam ‘vai’. A história conta que a torcida então cantava “Ale-Guá-Guá!” (“Vai, vai, vai!”), por não saber pronunciar corretamente, mas com o mesmo significado e o mesmo entusiasmo. Segundo Rodrigo Bueno, comentarista do canal de TV por assinatura Fox Sports, colunista da Folha de S. Paulo, do portal esportivo World Soccer Digest e colaborador da Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol, os hinos e cantos são incentivadores e emocionantes. “São como um mantra, um ritual, um grito de guerra. Difícil um jogador, um treinador ou qualquer profissional não se sensibilizar ao ouvir um coro de várias pessoas demonstrando amor e devoção por um clube”. Para Gustavo Villani, narrador do canal de televisão

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Foto: Arquivo pessoal

FOX Sports ex-ESPN, “o hino é a maior identificação do torcedor com o time. Quando cantado pela torcida, antes, durante ou depois do jogo, é um momento de emoção”. Segundo William Tavares, também narrador e apresentador dos canais ESPN, o hino é o que contagia a equipe. “Hoje em dia, isso mexe com o atleta dentro de campo, principalmente nos momentos em que precisa reverter um resultado adverso”. Quando a emoção falta, a partida não empolga, o apresentador e narrador esportivo da Rádio Globo de São Paulo, Doni Vieira, também observa a mobilização da torcida. “Quando o jogo está fraco, a torcida sempre começa a cantar o hino do time, ou um grito de guerra, que dão um estímulo a mais aos jogadores em campo”. Em seus 18 anos trabalhando em rádio, Doni revela que os jogadores sentem esse entusiasmo vindo das arquibancadas. “Com todos os jogadores que eu converso, eles dizem que o grito de guerra no momento certo é muito bem-vindo, até para ‘acordarem em campo’, como dizemos no ditado do futebol”. A torcida é um fator fundamental para o jornalista Eusébio Resende, do canal esportivo de TV por assinatura SporTV. “O jogador sente de forma positiva o canto do hino pela torcida, principalmente quando ele é formado no clube. O hino pode ajudar um time a mudar um resultado positivamente. É importante que a torcida participe, levando o time para frente”. O repórter esportivo da Rádio Jovem Pan, Fredy Jr., percebe que, cada vez mais, as torcidas cantam os hinos durante os jogos. “Além do incentivo, serve para manter viva a história do clube”. E gritos de guerra, para ele, são válidos, desde que não se expressem por meio de palavrões e xingamentos aos adversários. Os gritos de guerra são motivadores, mas também podem intimidar jogadores. É o que diz Ronaldo Giovanelli, ex-goleiro do Sport Club Corinthians Paulista. “Acho o hino incentivador ‘antes’ do jogo. Durante o jogo, a concentração é tanta que não dá para entender mais nada. Grito de guerra acorda muito jogador e balança os menos preparados. Fiz vários e isso me motivava”. Uma opinião diferente ao incentivo dos cantos em partidas de futebol é a de Celso Unzelte, comentarista da ESPN e que escreve no blog Causo do Futebol do site Yahoo. Para ele, depende mais do jogador se sentir instigado. “Acho que depende do hino, do clube e principal-

Eusébio Resende junto a cantora Paula Toller

mente dos jogadores. Quando nem eles conhecem o hino, não adianta cantar”. Porém, ele cita que, em situações específicas, os hinos podem fazer milagres. “Casos como os do Flamengo e do Corinthians (os mais populares), porém, às vezes operam milagres, fazendo os jogadores realmente sentirem a importância daquilo”. Em um jogo de futebol, vê-se que os cantos têm significativo valor, por exemplo, quando um time não está jogando bem, está errando muitos passes e sendo pressionado pelo adversário. Nesses momentos, os cantos podem animar impulsionar e também aumentar a pressão aos jogadores. Há torcidas que incentivam seus times o tempo todo, independente se eles estão jogando bem ou não; outras agem de acordo com a atuação do próprio time: se ele jogou bem, tem a cantoria; se não, nenhuma manifestação é feita. De acordo com o comentarista Bueno, as torcidas brasileiras não têm o hábito de incentivar o seu time o tempo inteiro. “No Brasil, a torcida dança muito conforme a música e talvez tenha mais influência sobre o desempenho do time e dos jogadores, para o bem e para o mal. O jogador brasileiro percebe mais facilmente quando a torcida está desconfiada, tensa ou confiante e empolgada. Tudo isso por causa das músicas, dos hinos, dos gritos de guerra”. Bueno ainda cita que, na Argentina, acontece o contrário. “Os cânticos e os hinos são mais perenes, não

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cessam mesmo em momentos de baixa da equipe”. Para Milton Leite, narrador dos canais de televisão SporTV, é um estímulo, mas não é fator decisivo. “Não acredito que isso vá fazer alguém jogar melhor, mas é um incentivo positivo; mexe com o psicológico, os jogadores devem se sentir mais confiantes. Mas não acho que sejam decisivos.” De acordo com WillianTavares, as paródias, os gritos de guerra têm o mesmo efeito que o hino, mas sem a mesma intensidade. “Alguns cantos ou gritos são superficiais e cada torcida adapta do seu jeito. No entanto, outros são totalmente identificados a um grupo”. Tavares ainda exemplifica o caso de Tite, técnico do Corinthians, que, em uma entrevista coletiva, disse que o tradicional “Corinthians minha vida, Corinthians minha história, Corinthians meu amor” mexe com ele. Para Celso Unzelte, também é diferente e cita outro caso corintiano. “Quando o Corinthians ganhou do Vasco pela Taça Libertadores, por exemplo, havia um grito muito particular, muito específico no ar: ‘Esta nooooite... Teremos que ganhaaaar...’ E parece que todos sentiram isso: time, torcida e até o adversário”. O time paulista ganhou por 1 a 0 e conseguiu a vaga para as semifinais do campeonato citado. Os hinos não servem exclusivamente para incentivar. Algumas torcidas fazem cantos para homenagear jogadores queridos ou importantes para o clube. Um exemplo é a torcida do clube inglês Liverpool, que fez uma música como forma de apoio ao jogador brasileiro Lucas Leiva, que se lesionou em 2011. Segundo Rodrigo Bueno, na Europa é comum as torcidas homenagearem seus atletas.

“Anderson ganhou da torcida do Manchester United uma música especial, por exemplo. Isso aproxima muito mais o atleta da torcida e vice-versa”. Anderson Luís Abreu de Oliveira, conhecido simplesmente por Anderson, é jogador brasileiro, revelado pelo Grêmio de Porto Alegre, e que atua no clube inglês Manchester United desde 2007. Bueno conta que Juninho Pernambucano ganhou um canto da torcida vascaína, na Copa Libertadores de 1998. “A torcida criou um cântico que exalta o gol que ele marcou no Monumental de Núñez, estádio localizado em Buenos Aires, na Argentina: ‘Gol do Juninho, Monumental’. É claro que algo assim pesou para o jogador voltar ao clube, aceitar um salário até baixo para seus padrões e se dedicar de corpo e alma ao clube”. Eusébio Resende relata que Juninho, além de se motivar, se emocionou e se emociona sempre com a música que a torcida canta em sua homenagem. André Ribeiro, que se define com “DNA corintiano”, garante que “é um remédio para qualquer jogador ouvir o grito da torcida... A adrenalina sobe. É impossível um jogador ficar alheio àquela pressão, àquele eco absurdo do tal ‘Louco por Ti’ dentro do estádio do Pacaembu. Contagia qualquer um.” “Mostra que você não está sozinho”, é o que revela o exjogador e hoje treinador de futebol Paulinho MacLaren. Ídolo e artilheiro do Santos Futebol Clube na década de 1990, Paulinho considera “muito bom ouvir o hino do seu clube, porque isso fortalece você emocionalmente. Essa é a importância da torcida. O jogador sente o momento do jogo quando ouve seu torcedor entoar os hinos ou

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Foto: Arquivo pessoal

os cantos de incentivo. Isso reflete imediatamente no comportamento dos atletas.” Ronaldo Giovanelli lembra que ouvir o próprio nome durante as partidas era o que mais o empolgava. “Gostava de ouvir a torcida gritando o meu nome. Isso, sim, motiva qualquer jogador.”

Ma r c as e músic as m a i s q ue f amosas Curiosidades sobre os hinos dos clubes não faltam. O Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense (do Rio Grande do Sul), o Clube Atlético Mineiro (de Minas Gerais), o Sport Club Corinthians Paulista e a Sociedade Esportiva Palmeiras (ambos da capital paulista), o Clube de Regatas do Flamengo e o Fluminense Football Club (ambos cariocas) e o Santos Futebol Clube (do litoral paulista) foram lembrados por sua história junto com a música. Celso Unzelte fala da importância de Lamartine Babo na autoria dos hinos de futebol cariocas. “O fato de o compositor Lamartine Babo ter se incumbido dos hinos de todos os clubes do Rio de Janeiro, inclusive os pequenos, por conta de um desafio feito em seu programa de rádio chamado Trem da Alegria, é notável. Compôs praticamente um novo hino por semana”. Segundo Willian Tavares, há várias versões de como Lamartine realizou essas composições. Para ele, a melhor é a de Sargentelli, sobrinho do compositor. “Segundo Sargentelli, levaram Lamartine para um apartamento na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio, onde havia uma geladeira com comida para cinco ou seis dias. Ao chegar lá, dois seguranças avisaram que ele só poderia sair após escrever os hinos dos clubes de futebol”. Tavares conta que tudo começou depois que o compositor fez uma marchinha para o Flamengo no carnaval de 1945 e que acabou se tornando o hino informal do time até hoje. Diante disso, Heber de Bôscoli, que fazia com Lamartine o programa Trem da Alegria, propôs o desafio a Lamartine de compor um hino por semana para os outros clubes de futebol do Rio. No final da década de 1940, todos os 11 times que disputavam o Campeonato Carioca já tinham os seus hinos. Doni Vieira destaca um trecho do hino oficial do Atlético Mineiro, composto em 1969, que diz: “Nós somos Campeões do Gelo”. “Isso é devido a uma excursão vitoriosa do time à Europa, em 1950, onde jogou debaixo de neve”, explica. Em suas andanças pelos estádios de futebol, por causa da profissão, Fredy Júnior se alegra da oportunidade de ter conhecido pessoalmente um dos autores do hino de um grande clube do futebol paulista. “Antonio Sergi faleceu em 2003, mas eu tive a felicidade de entrevistá-lo. Ele que compôs a música do hino do Palmeiras em homenagem ao seu irmão, que era fã de futebol e especialmente do clube.” Unzelte adjetiva os hinos de alguns clubes de maneira pe-

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Foto: Arquivo pessoal

Doni Vieira

culiar. “O hino do Fluminense é aristocrático; do Grêmio, é aguerrido; o do Corinthians, emotivo, até certo ponto sofrido.” O jornalista André Ribeiro também faz diversas analogias entre o futebol e a música, especialmente compositores que se declaram torcedores apaixonados por seus times, como Ernesto Nazareth, compositor e pianista; Jorge Ben Jor, também compositor; maestro João Carlos Martins e o músico e compositor Djavan. Ernesto foi reconhecidamente apaixonado por futebol e pelo Fluminense, como carioca — e fluminense, por assim dizer — que era. Dentre suas composições, está “Menino de Ouro”, um tango brasileiro em homenagem a José Carlos Guimarães, o Zezé, jogador do Fluminense e da Seleção Brasileira, feita por volta de 1919. Nazareth também teve uma de suas canções eternizadas no encerramento do filme “Estrela Solitária”, de 2003, embora não tivesse nenhuma inspiração no futebol à época de sua composição, em 1907. Emocionantes (ou trágicas) coincidências levaram o maestro João Carlos Martins a se tornar o primeiro Embaixador da Portuguesa de Desportos, clube da capital paulista, do qual ele sempre se revelou torcedor. “Futebol e orquestra têm muito mais coisas em comum do que se pensa”, afirma Ribeiro em seu blog, contando histórias do maestro. Foram em duas circunstâncias em que sofreu acidentes físicos que, coincidentemente, Martins estava na presença do time da Portuguesa e foi atendido por membros do clube. Uma foi aos cinco anos de idade, em São Paulo, jogando bola. A outra — e talvez mais marcante — foi aos 18 anos, quando estava em Nova Iorque, e acabou tendo um nervo da mão rompido numa queda,

a ponto de lhe impedir por definitivo tocar piano novamente. A paixão pela Lusa só se ratificou. Djavan é outro garoto que jogava bola. Optou pela música por ser avesso aos treinos físicos exigidos pelo esporte. Declara-se torcedor do Flamengo, por ter chegado ainda criança ao Rio de Janeiro, vindo da capital alagoana. E ao “clube do coração”, compôs canções como “Boa Noite” e “Pássaro”. O futebol ainda tem referência no enredo do seu sucesso “Se”. Outro flamenguista famoso é Jorge Ben Jor que, assim como Djavan, sonhava em ser jogador de futebol quando crescesse e acabou se dedicando à música. “Fio Maravilha”, “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”, “Cadê o Pênalty”, “Troca-Troca”, “O Nome do Rei é Pelé”, “Camisa 12”, “Camisa 10 da Gávea”, País Tropical” e “Flamengo” são composições especiais a jogadores, juízes, até cartolas e, é claro, ao próprio clube. Eusébio Resende completa sobre a importância histórica dos hinos e das canções: “Todos que são ligados aos clubes devem sentir orgulho e alegria por terem seus hinos entoados e interpretados. Afinal, a sua história está sendo perpetuada através de grandes vozes.” O hino do Grêmio não passa despercebido quando se fala em tradição. “Até a pé nós iremos / Para o que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver” nasceu de uma greve do transporte coletivo em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Essa primeira estrofe do hino é explicada por Eusébio: “Lupicínio Rodrigues, autor do hino, estava sentado num bar e viu a multidão indo a um jogo do Grêmio a pé, mesmo com a greve dos bondes.” Segundo Rodrigo Bue-

Rodrigo Bueno

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no, “A devoção do gremista ao time já está clara no hino. Lupicínio é genial e soube traduzir aquela greve e o amor ao Grêmio em uma canção não só bacana, como motivadora”. Ele observa a luta de seus torcedores para acompanhar a equipe a qualquer custo. Já para Gustavo Villani o hino original santista é curioso. “O hino original, estatutário, foi abandonado por décadas e substituído por outro. Recentemente, foi resgatado. É bem bonito, especialmente o trecho ‘Nascer, viver e no Santos morrer é um orgulho que nem todos podem ter’”. O Santos Futebol Clube possui quatro canções: o hino oficial, o hino oficioso (cantado nos anos 1920), a marchinha (que é a mais conhecida e tocada nas transmissões esportivas) e a música que era cantada pelos jogadores nas viagens do clube em seus

primórdios. O jornalista João Henrique Marques, numa entrevista que fez com o historiador do clube, Guilherme Guache, pôde classificar esses hinos e suas letras. Até hoje, no entanto, muitos torcedores se confundem ao apontar o hino oficial do Peixe. O jornalista Marques entende que, tanto o hino oficial quanto a marchinha, caracterizam o clube santista. Mas, para alguns saudosistas, como o historiador do clube confere, a primeira canção é a marca histórica que nunca foi substituída. Paulinho MacLaren diz que “eles remetem à história do clube, suas glórias e tradições, e neles estão contidas a trajetória e a expectativa presente e futura do time.” Um hino que se tornou uma marca é o da Union of European Football Associations (UEFA) Champions Le-

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ague — ou Liga dos Campeões da UEFA —, escrita pelo compositor britânico Tony Britten. A letra mistura elementos das três línguas oficiais da UEFA: inglês, francês e alemão. Neste hino, são exaltados os melhores times, os melhores jogadores, os campeões. Para Unzelte, a ópera cantada na entrada dos jogadores é um marketing da competição. “O hino da Champions serve para solenizar a disputa, mas é algo muito menos emocional e muito mais comercial. Está mais para jingle, para prefixo musical do evento”. Já para Villani, é um diferencial. “É uma marca. Quando as equipes estão perfiladas, antes do jogo, apenas o hino da Champions é executado. Não há execução de hinos nacionais ou mesmo dos clubes. Dá um requinte especial à competição”. Milton Leite diz que é


a identificação da competição. “Acredito que o hino criou uma identidade para a competição. Quando você ouve, já sabe que vão falar de algum jogo envolvendo a Champions”. Tavares compara a ópera aos clássicos do cinema. “Imagine seus filmes favoritos ou aqueles mais tradicionais sem a trilha sonora? Imagine Star Wars, Rocky Balboa, Indiana Jones, Superman, Blade Runner, sem a trilha? São composições que eternizaram os filmes. É assim com o hino da Champions. Hoje você ouve esse hino e lembra da competição. É um campeonato tão grandioso que todo jogador que entrevistamos destaca o arrepio que sente ao ouvir o hino ao entrar em campo. O atleta encara a disputa de outra maneira”. Segundo Bueno, é uma música forte direcionada aos melhores. “A ‘musiquinha’

da Champions League acabou virando um símbolo à altura do torneio, um chamamento digno para a nobre competição europeia. Tem a sofisticação de música clássica com a pegada de um mantra popular. É uma canção forte que casa perfeitamente com a competição ao apontar para os “campeões” (champions). Dá a nítida sensação, ao ouvi-la, de que é um torneio e uma trilha sonora reservada apenas para os melhores, para os mais fortes”, descreve Bueno. Assim como ele, Doni Vieira considera o hino da Liga dos Campeões muito bem produzido, em todos os sentidos. “Significa que, ali, estão os melhores, os mestres, os grandes jogadores da Europa”. Bueno ainda diz que é importante um campeonato ter uma trilha sonora por questões de identificação

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e de marketing do produto. Para complementar, Eusébio Resende vê o hino do campeonato também como uma marca: “Para o torcedor e para a mídia”. Os clubes e campeonatos, principalmente do Brasil, poderiam investir mais nesse elemento do futebol. Criar hinos para os campeonatos, fazendo assim uma promoção do campeonato brasileiro mundo afora. Mesmo antes de a bola rolar em campo, a melodia da canção e o ritmo do jogo — sejam elas de que estilo forem — devem, antes de tudo, ser uníssonos e universais, revigorando a história, a tradição, a inspiração. E a cada partida ou partitura pensada, a próxima nota ou o próximo passe são sempre esperados com alegria, como o futebol e a música.


Reportagem e diagramação: Daniel Canson Imagens: Fordesigner.com e Sxc.hu

Novo cenário

da música

Te c n o l o g i a s , p i r a t a r i a s e m u i t a s n o v i d a d e s , e sp e c ia li st as di sc u t em o e sp aç o p r o p o r c i o nad o p ela er a di gi t a l

O

cenário da indústria musical é inovador e vem cada vez mais se adequando a era digital. A indústria fonográfica no setor econômico representa um crescimento gradativo nos últimos anos em vendas de produtos físicos, refletindo a tendência que a tecnologia possibilitou. Segundo os últimos dados do mercado fonográfico brasileiro lançados pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) as vendas físicas de CDs, DVDs e Blu-Rays correspondem ao aumento de 7,6%, diferença de 5,2% para o novo segmento na área digital de 12,8%, em 2011. As vendas físicas ainda são maiores no mercado da indústria musical de acordo com a ABPD, registrando o faturamento de R$ 312,3 milhões, em relação a arrecadação das receitas digitais que foram de R$ 60,9 milhões. Esses dados comprovam que houve um aumento de 8,47% entre 2010 e 2011, com 24.920.793 de unidades vendidas somando a receitas digitais, mas é pouco comparando com a marca de 90 milhões que a indústria fonográfica alcançava em discos vendidos ao ano. Segundo o Presidente

da ABPD, Paulo Rosa, a indústria volta a lucrar em vendas físicas, pois o desempenho da economia brasileira atualmente é satisfatório e proporciona um aquecimento do consumo interno. Alguns artistas também são responsáveis por esse resultado como, Padre Marcelo Rossi, Paula Fernandes e Luan Santana. Mas o gênero mais requisitado é o religioso. Hoje as receitas digitais são um dos maiores interesses da indústria fonográfica, pois as gravadoras observaram que batalhas jurídicas e legislações não conteriam a distribuição ilegal da música na internet. A partir desse ponto houve um rearranjo nos negócios da indústria musical, com novos papéis para antigos e novos atores que estão oferecendo zonas solidárias nos negócios. Segundo o doutor em Sociologia Michel Nicolau, a indústria da música gravada não tem mais a indústria fonográfica em seu centro, ou seja, o software (a mídia com música, mais recentemente o CD) deixou de ser necessário para o comércio de fonograma. “Isso acabou devido à pulverização dos meios de acesso ao fonograma (computador, MP3 players,

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música por download, por streaming, etc), sendo que esses meios não são mais de propriedade da indústria fonográfica, mas das indústrias de comunicação e tecnologia. Com isso, venho afirmando que a indústria fonográfica perdeu o centro no campo da indústria da música gravada”. Nicolau ainda afirma que as majors (UMG, Sony, BMG, Warner e EMI) ainda detêm sobre a música a maior vantagem em comparação as gravadoras independentes em todos os aspectos, mas as mesmas não determinam o próprio campo.

“Hoje há novos modelos de negócios com empresas de comunicação e tecnologia que possuem técnicas das mais variadas na oferta da música. A ordem agora é monetizar em todas as formas de experiência e gerenciamento musical, buscar o controle nas atividades dos usuários através da individualização baseada em perfis e marketing dirigido, para exposição à publicidades”, pontua o sociólogo. “Um dos exemplos é a corporação Vivendi complexo de mídia francês, que possui as empresas UMG, o Canal+ Group, SRF (segunda maior

operadora francesa), Maroc Telecom (maior empresa de telefonia celular no Marrocos) e a Activision/ Blizzard, (uma das maiores empresas de games do mundo). A UMG tem 16,78% de faturamento em relação aos outros grupos, perdendo o valor de mercado, mas é essencial e beneficia os produtos e serviços dentre eles, como as operadoras de telefonia móvel, que disponibilizam serviços para baixar músicas, ou games, Activision/Blizzard, do jogo Guitar Hero, o mais vendido no mundo baseado em música”, explica Nicolau. Em relação a oferta musical ligada

“As vendas físicas ainda são maiores no mercado da indústria musical de acordo com a ABPD, registrando o faturamento de R$ 312,3 milhões...”

à mídia e à tecnologia Nicolau observa as implicações em termos de determinação do caráter da música “a indústria fonográfica, até os anos 2000, determinava a oferta de música. Essa hoje não pode ser determinada, pois os meios estão acessíveis a toda população conectada. Mas o acesso é condicionado. Pode-se dizer que, se antes, tínhamos pouca escolha do que consumir de música, hoje temos uma ampla escolha. Contudo, surpreendentemente, continuamos a consumir uma quantidade reduzida de produtos musicais”. E Nicolau esclarece que a indústria

musical ainda é fundamental no processo consagrador de um artista.

Ca r inha b o ni t a? Segundo a administradora e consultora de marketing, Romana D’ Angelis, as gravadoras são imprescindíveis para auxiliar e profissionalizar o artista por trás de seu talento. “O trabalho musical, deve ser complementado e protegido por uma estrutura de suporte administrativo, comercial e logístico”. Romana completa descrevendo que o conceito empregado pelas gravadoras para inserção do aspirante à carreira é baseado na análise intrínseca e especializada em

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um processo de marketing, fundamentado nas características individuais, de personalidade e até mesmo expressões faciais, o andar e gestos. “A identificação visual é muito forte, desenhamos um projeto selecionando os sinais certos, nome, aparência, roupas, para a busca central do próprio artista pela alta visibilidade”, afirma a consultora. “Esse tipo de trabalho articulado pelas gravadoras é desenvolvido para artistas que possuem ‘uma certa fama no momento’, sendo óbvio que se trata de um investimento com os perspectivos resultados já com-


provados. E a relação entre gravadora e artista, é complicada, possui um campo bastante disputado e centralizado em artistas que já apresentam um nome”, relata o cantor sertanejo, Trajano Silva. Segundo Silva, atualmente há o famoso “Jaba” nome de um pagamento prévio para a música do artista tocar nas rádios. “Não existe mais a época que você chegava no rádio, com a fita cassete gravada embaixo do braço, pronto para entregar ao locutor e assim ouvir sua música. Hoje o que existe mesmo é uma concorrência acirrada entre as gravadoras, disputando artistas de renomes, chegando até mesmo oferecer propina aos mesmos”. Silva também comenta que uma gravadora para custear um artista, ele antes precisa alcançar a fama através da internet. “É o meio mais popular para um desconhecido alcançar visibilidade e, por fim, o sucesso”, aponta o cantor Silva.

Nova s aída music a l! “A novidade agora é o próprio artista gerenciar sua carreira, atrelada à internet, com muita criatividade e inovação”, expõe o editor de tecnologia Cleyton Melo. “O artista hoje tem maior vínculo com o fã. Ele divulga, comercializa, e faz shows ao vivo em sites de relacionamentos. É o caso de Seu Jorge que fez um show ao vivo no Orkut, ou a banda Autoramas que pediram aos fãs ajuda para financiar o lançamento do CD, oferecendo em troca a música ou o álbum depois de lançado”. Segundo Melo, nes-

se cenário atual da música, Chico Buarque “bombou” no youtube com o make off de lançamento do seu novo CD, que continha comentários sobre as pessoas que falavam mal dele em uma matéria e ele ria muito. “Essa foi a grande sacada, no site oficial havia vídeos com conteúdos abertos e fechados, para ter acesso a essa entrevista na íntegra dos bastidores da gravação a pessoa teria que assinar pra comprar o disco online, uma espécie de pré venda e assim que fosse lançado receberiam o CD em casa”, descreve Melo. O editor de tecnologia também dá o exemplo do caso da cantora Björk, que foi mais além, lançando um CD aplicativo de faixa por faixa, com um tipo de navegação e recursos visuais, onde você mesmo poderia recriar ou fazer novas versões daquela música. “Alguns sites internacionais estão também ajudando artistas independentes, com ferramentas de filtragem, separando e organizando bases de informações sobre usuários, para direcionar a música baseada no gosto do consumidor. São sites voltados somente para fonogramas. O Sonicbids, por exemplo, oferece o contato direto entre artistas e profissionais da indústria, organizam oportunidades em vagas de festivais e até licenciamento de músicas. Eles ficam com uma porcentagem em cada negócio fechado”, finaliza Melo, e conclui explicando que “a indústria também está se especializando, lançando equipamentos de som com entradas de USB, como tocador de vinil que grava em arquivo digital. Todos estão mudando e se adequando a era digital”.

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Reportagem e diagramação: Samanta Salve Imagens: Fordesigner.com e Sxc.hu

Voluntários da música Músic o s e b a n das q ue c o la b o r a m c o m sh o w s e apresentações benef icentes

C

transformação social, com retorno para e da comunidade, modelo que deveria ser mais praticado por todos”. Muitos destes artistas, além do ato colaborativo social acabam se promovendo por meio dos trabalhos beneficentes e levam o nome da instituição atendida pelo Brasil em seus shows, fazem campanhas em prol da mesma sem cobrança de cachê. Na visão da assistente social estes eventos colaboram com o trabalho da instituição financeiramente e assim também acarretam novos voluntários.

om a ausência do Estado para suprir as inúmeras necessidades sociais, o setor privado começou a ajudar por meio de instituições que compõem o terceiro setor, ou seja, organizações sem fins lucrativos que tem como objetivo gerar serviços de caráter público. E onde entra a música? O setor musical, em especial músicos de renome, tem colaborado com auxílios na manutenção de casas de apoio, lar da criança e outras entidades sem fins-lucrativos. As instituições amparadas por esses músicos atendem crianças em situação de rua, dependentes químicos, órfãos e mães que criam os filhos sozinhas, protegem testemunhas, educam jovens, apóiam a terceira idade e adultos, atendem os que têm problemas em atentar contra a própria vida, reabilitam vítimas de poliomielite, cuidam de cegos, surdo mudos, suporte aos desamparados entre outros. Segundo a assistente social Maria Sueli Bortolin, shows beneficentes feitos pelos artistas dignificam, “toda pessoa é solidária, é um voluntário em potencial, o exercício de cidadania que é indispensável para a

Esc u d o A zul de R i o Cla r o O Grupo de Samba Escudo Azul teve sua origem nos jogos de futebol do Clube de Campo de Rio Claro, turma que aos domingos de manhã se reuniam e consolidavam a amizade e o esporte à música, conta Wilson Santos da Silva mais conhecido como Wilson Bayano, que é integrante da banda e Mauro Garcia, músico e amigo dos integrantes da banda. Na data de 1993, em uma das festas depois de muito samba, que “Zé Fim Fim”, Eduardo, Celso e Gibi re-

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solveram fundar o Grupo de Samba Escudo Negro, para tocar apenas em caráter beneficente, porque todos já eram profissionais estabelecidos e atraídos apenas pelo gosto do samba e pela amizade do grupo. Mais tarde, em homenagem às cores do Clube de Campo e da cidade de Rio Claro, o azul, o grupo passou a se chamar Escudo Azul, assim é até hoje lembrado, a partir daí, muitos shows foram realizados, principalmente no Clube de Campo. Hoje o Escudo Azul é tido na região como um “bom grupo de samba de raiz”, com dois CDs, sendo o primeiro dedicado ao círculo de amizade dos músicos, com o titulo “Para os Amigos”, e o segundo, um CD triplo. O valor que recebem de todas as apresentações é encaminhado às instituições de caridade como: Asilo São Vicente, Centro de Reabilitação Infantil Princesa Vitória, Rede de Combate ao Câncer, Casa da Vó, Instituto Estrela da Esperança, Casa das Crianças, Escola Municipal Antonio Maria Marrote, Instituto Allan Kardec, Igreja São Benedito entre outras. Quando possível, aceitam convites para se apresentar em almoços, jantares, feijoadas, festas nesse clube e em outros, como Grupo Ginástico Rioclarense, Grêmio Recreativo da Companhia Paulista, Floridiana Tênis Clube e em cidades da região, e, claro, assumindo esse caráter beneficente.

Or quest ra Filar m ônic a de R io Clar o A Orquestra Filarmônica de Rio Claro surgiu em 1995, como objetivo central de colocar em prática um projeto de orquestra que valorizasse o estudante de música. Entidade pública municipal, a Filarmônica é mantida por subvenção pública da Prefeitura Municipal da cidade, e recebe contribuições mensais de associados, além

de patrocinadores esporádicos. “Com boa parte de seus integrantes de Rio Claro, hoje também com colaboradores de outras cidades próximas, o que lhe dá conotação de uma orquestra regional, vem conquistando espaço, respeito, admiração, e aos poucos recebe ajuda financeira daqueles que acreditam no investimento em projetos culturais como forma de resgate e preservação da cultura brasileira, mas é evidente que isso decorre do trabalho sério desenvolvido pela Filarmônica no seu meio de atuação, dos concertos realizados anualmente, sob várias formações, além da

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gravação de dois CDs, um com músicas populares brasileiras arranjadas para orquestra outro com músicas do compositor rio-clarense”, esclarece o presidente atual da orquestra, Willian Nagib Filho. Formalmente composta de dezenas de integrantes, são quase que semanais as aparições de grupos menores da Orquestra em eventos sociais, culturais, científicos, beneficentes, festivais de música da câmara e os diversos recitais promovidos pela Filarmônica, o que deixa transparecer a finalidade maior da entidade, é a de promover a música, seja popular, erudita e outras.




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