5 minute read
apresentação x curta o gênero
“Vamos precisar de todo mundo Pra banir do mundo a opressão Para construir a vida nova Vamos precisar de muito amor A felicidade mora ao lado E quem não é tolo pode ver” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Chegamos à décima edição do nosso Curta o Gênero! Seria já a décima primeira se não contássemos as dezoito noites do Curta o Gênero realizado no último trimestre de 2020 e mais os vinte dias de ações em agosto de 2021, período mais crítico da pandemia do Covid-19, como uma única edição com duas partes. Assim, desde 2012 não houve um ano sequer sem Curta o Gênero!
Advertisement
Dois movimentos nos impelem a escrever nesse momento em que preparamos cuidadosa e meticulosamente nosso X Curta o Gênero. Por um lado, um olhar retrospectivo e, de algum modo, uma avaliação de nossa trajetória de 2012 para cá. Por outro lado, uma avaliação da cena cultural e política do nosso país, os desafi os que se avizinham e as orientações, tanto do Curta o Gênero quanto da Fábrica de Imagens – ações educativas em cidadania e gênero.
O Curta o Gênero já nasceu em 2012 com uma ideia nítida de que produção/difusão artístico-cultural e produção/incidência teórico-política se constituem como campos inseparáveis que sempre estão se retroalimentando ou se tencionando e que, portanto, qualquer fazer artístico ou processo cultural nunca será ingênuo ou neutro. Compunha o Curta o Gênero naquele nosso primeiro ano apenas três atividades – o Seminário, constituído basicamente por mesas, a Mostra Audiovisual e a Exposição Fotográfi ca Contrastes – gênero, tempos, lugares, olhares.
No decurso desse tempo de pouco mais de dez anos, o Curta o Gênero foi crescendo e amadurecendo. Crescimento notável quando observamos que saímos de quatro ou cinco dias de evento para vinte dias e que a quantidade de atividades mais que triplicou, sendo hoje ao todo dez. Mas, isso ainda não revela com precisão essa ampliação, pois a Mostra Audiovisual, por exemplo, saltou da exibição de vinte e poucos curtas-metragens para uma média de oitenta e o nosso Seminário passou a não ter apenas mesas, mas também apresentações de trabalhos, minicursos, ofi cinas, encontros de redes e rodas de conversa. Produzimos, nesse período ainda, livros, anais, catálogos, entrevistas e um signifi cativo acervo visual e audiovisual.
Já o amadurecimento se revela principalmente no entendimento de que o Curta o Gênero precisava caminhar para além do gênero e mesmo dos feminismos, quisera ele ter alguma relevância
política e cultural contra-hegemônica, não se satisfazendo em desenvolver mais do mesmo, falando apenas o que os e as do nosso campo querem ouvir e exibindo o querem ver. Também precisava se voltar cada vez mais para outros campos e epistemologias com potencial contribuição tanto para uma mirada crítica da realidade, quanto para a construção de outros mundos possíveis, mais justos e prazerosos.
Assim cada vez mais passou a interessar ao Curta o Gênero os feminismos latino-americanos, com especial atenção aos designados como decoloniais, as perspectivas materialistas histórico-dialéticas e outras perspectivas que efetivamente não se coadunassem, nem fi zessem concessões à lógica neoliberal ou colonial/racista. Estamos convictos de que não será um homem que “salvará a Pátria”, nem um grupo ou população específi ca que revolucionará o mundo, que o Curta o Gênero é um, dentre outros espaços, a promover diálogo, trabalho coletivo, pensamento e produção crítica, mas também sensível e propositiva e que, como citado na epígrafe, “pra banir do mundo a opressão, vamos precisar de todo mundo”.
Atentos a esse desejo de juntar os e as disfuncionais das lógicas neoliberais, coloniais e patriarcais, quem compreende que os desafi os por mudanças estruturais são sempre coletivos, e àqueles e àquelas bem dispostas ao diálogo e à ação igualmente coletiva é que o nosso X Curta o Gênero tem como tema em 2022 os “Desafi os feministas e de outros campos contra hegemônicos frente aos cenários sociopolíticos latino-americanos e globais atuais”.
Todas as dez ações do Curta o Gênero, a saber, são tocadas de algum modo por esse tema: a X Mostra Internacional Audiovisual Curta o Gênero, a X Exposição Fotográfi ca Contrastes – gênero, tempos, lugares, olhares, a V Exposição Expressões de Gênero, o VII Gênero em Cena, o IV Colorindo o Gênero, o V Flash Tattoo, a IX Feira de Economia Solidária, Agroecológica e de Livros, o II Som das Cores, os Lançamentos de Livros do Curta o Gênero e, especialmente, o X Seminário Internacional Gênero, Cultura e Mudança.
Sabemos que esse ano de 2022 é decisivo para iniciarmos um processo de superação do fascismo que se instalou e se fortaleceu no Brasil desde 2019 com o atual presidente e que teve como um dos campos preferenciais de ataque à Cultura. Mas se neste ano é imperioso derrotá-lo, não menos imperioso é que desde já e pelos próximos quatro anos, organismos e movimentos críticos, autônomos e não cooptados pela nova esfera governamental se revistam da radicalidade necessária para impedirmos a reedição de erros do nosso passado recente e garantirmos a conquista das mudanças que demandamos, seja na cultura, nas questões de gênero, sexo, raça, na defesa dos povos originários, da natureza, dentre outras, seja no campo das políticas econômicas, tributárias, trabalhistas e previdenciárias. Nenhum governo, nenhuma política pública, jamais será tão radical e ampla e profunda quanto à realidade exige. Essa radicalidade sempre caberá a nós.
Assim convidamos carinhosamente todas, todos e todes a estarem conosco no X Curta o Gênero. Que esse espaço-tempo se confi gure mais uma vez como porto no qual nos abastecemos e nos fortalecemos para seguir viagem juntos, juntas, juntes.
Sejam todas, todos e todes bem-vindes ao X Curta o Gênero!