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se fala em crypto art e NFT art… Mas e agora? O que é isso?

Fugindo do vocabulário nerd, explicamos o que é essa arte digital de edição limitada e registrada criptograficamente com um token que não pode ser modificado ou copiado

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Mas o que é essa tal de arte criptográfica, ou Crypto Art, que vem ganhando cada vez mais o mercado da arte, especialmente a partir do segundo semestre de 2020, e que está chegando às maiores casas de leilão do mundo? Ela é tudo de bom? Em alguns setores, esse boom foi muito bem visto e tem significado uma revolução para a arte digital. Em outros, causou uma incerteza muito grande sobre quanto tempo essa efusividade vai durar e uma preocupação sobre a alta especulação que isso irá gerar no mercado.

Mas não pense que o interesse por essa área é coisa só de quem mexe essencialmente com o mundo digital. Apaixonado pelo mundo criptográfico, o artista britânico Damien Hirst, expoente do Young British Artists, está vendendo uma série de oito gravuras, intitulada The Virtues e aceitará pela primeira vez pagamento em criptomoedas, Bitcoin (BTC) e Ether (ETH). Isso levantou especulações de que ele não deve demorar tanto para anunciar obras suas em Crypto Art.

Mas o que é isso, pelo amor dos deuses?

De forma bem simples e direta, a Crypto Art é uma arte digital que é colecionável e tem edição limitada registrada criptograficamente com um token não-fungível por meio de um blockchain. Não foi nada simples, né? Vamos fugir da explicação nerd:

Isso quer dizer que uma arte digital agora poderá ter sua autenticidade provada. Sem esse advento, a arte feita em formato digital (em qualquer formato ou extensão –jpg, png, mov, mp4 e outros) tem alta reprodutibilidade, podendo ser repetida diversas vezes sem que se saiba se é arquivo original. Com o registro criptográfico da obra, que não pode ser modificado, há como provar sua originalidade, agregando valor ao trabalho. Assim, o comprador leva para casa (em um pendrive, um CD-Room, em uma nuvem ou outro dispositivo de armazenamento) um arquivo com autenticação!

E é aí que entra o tal do NFT, que tem sido tema recorrente de discussões nas redes sociais ao se tratar de arte criptográfica! No Clubhouse, a rede do momento, só se fala disso! Todo dia há uma sala de bate-papo para falar sobre “NFT Art”! O NFT nada mais é que o tipo de código de verificação (token) que é permanentemente vinculado à obra de arte. Ele é, portanto, um ativo único que representa a propriedade e autenticidade das artes digitais (como são os certificados e assinaturas dos artistas em pinturas, por exemplo), tornando possível negociá-las com segurança por meio de uma tecnologia que permite que o envio e o recebimento de dados sejam rastreados (blockchain).

NFT é a sigla em inglês para token não-fungível e eles são os melhores para serem utilizados ao registrar a obra porque não podem ser recriados, modificados ou substituídos. Ou seja, eles são únicos. Existem diversos tipos de NFTs, mas dois dos maiores grupos de NFTS são os das artes digitais e das coleções digitais. Por isso, elas também podem ser chamadas, além de Crypto Art, de NFT Art.

Sendo uma arte que agora pode ter a autenticidade verificada, as obras digitais em Crypto Art se tornam economicamente valiosas e podem ser vendidas por milhões de dólares, coisa que antes não acontecia por não ser possível atestar a singularidade do arquivo que carrega a obra! Tradicionalmente, a Crypto Art estava relacionada à ascensão de criptomoedas como bitcoin e ethereum e tinha simbolismo em torno disso que estava vinculado sobretudo ao mundo das finanças, do lucro, do investimento. Agora, ela é mais livremente aceita como qualquer arte digital que foi tokenizada no blockchain para associar uma prova digital de propriedade.

Tomaz Viana, natural de Salvador, é um artista plástico brasileiro. TOZ, como é conhecido nas artes, dedica-se à pesquisa e experimentação do graffiti há 20 anos e à criação de telas e objetos há 10 anos, já tendo participado de várias exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, vem ao longo do tempo ganhando notoriedade e reconhecimento pela identidade do seu trabalho. Ao longo da sua carreira, criou diversos personagens cujas cores e padronagens se espalham nos muros das cidades e das instituições culturais nacionais e internacionais. Em 2014, Toz fez sua primeira exposição institucional individual: Metamorfose, no Centro Cultural Hélio Oiticica, no

Rio de Janeiro, RJ. No ano seguinte, 2015, abriu sua primeira exposição individual em Paris com a Instalação Vendedor de Alegria, que foi realizada em parceria com o Projeto SCOPE da Prefeitura do 13°Arrondissement de Paris. Em 2017, veio o convite da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira para pintar um carro alegórico para o desfile do Carnaval no Sapucaí. O mesmo ano foi realizada a exposição POVO INSONIA, no museu Chácara do Céu (Rio de Janeiro, RJ). Em 2018 e 2019 foi realizada a itinerância da mostra individual TOZ CULTURA INSONIA nas unidades da Caixa Cultural Rio de Janeiro, e de Recife.

Asérie dos São Jorges produzida recentemente por José Igna despertaram a minha curiosidade e uma espontânea vontade de escrever a respeito, independente de qualquer apelo ou demanda colocada. Conheço inumeráveis e inusitadas interpretações do santo e da cena icônica que o caracteriza, eu mesmo já realizei, pelo menos, quatro versões, uma delas bem diferenciada, onde vários São Jorges lutam entre si, num jogo especular, mas nestas de Ignácio há nuances que provocam a minha imaginação e desejo de externar esta percepção, mais do que eu consiga resistir e me recolher à minha insignificância.

Antes é preciso que eu fale da minha crença de que o artista nunca é o autor da sua obra, como se a arte emanasse dele, assim como os pais não são autores de seus filhos, assim como as bananeiras não são autoras das bananas. Creio que a arte está, como sempre esteve, toda no ar (ou na tal da nuvem, como se diz hoje em dia, pra ficar up to date), ela é instância da unidade cósmica onde estamos todos implacavelmente mergulhados. Os ditos artistas só precisam ter a capacidade e sensibilidade de capturar uma parte disso, de processá-la com algumas ferramentas e habilidades chamadas de talento e técnica e de entregá-la, primeiro a si mesmos e depois à humanidade, de modo a provocar espanto, perplexidade ou surpresa, que desaguem em revelações.

Tenhamos a certeza de que a primeira e a maior revelação da arte é feita ao próprio artista, antes de qualquer outro ser vivente. Vi num programa do Canal Art 1, ainda nesta semana, o arquiteto e cineasta Isay Weinfeld falando que o outro famoso cineasta, Hector Babenco, falecido e de quem era amigo, dizia que fazia filmes porque não sabia o porquê de fazê-los, dizia que se descobrisse por que deveria fazer um filme, antes de fazê-lo, jamais o teria feito. Penso da mesma maneira e padeço do mesmo mal: arte é revelação, mais pra quem faz do que pra quem a vê.

E a que prova de que o artista não é o autor da arte que produz é a enorme capacidade da mesma de provocar revelações das quais ele, artista, não faz a mínima ideia, cada espectador terá a sua revelação independente das intenções do artista, já que ele foi apenas um canal condutor de uma mínima porção de toda esta arte que está e que sempre esteve no cosmos.

Pensando assim, me sinto à vontade para falar da(s) revelação(ções) que tive com a série dos São Jorges de José Igna e neste momento me distancio completamente do amigo, a quem admiro, pela intensidade humana e do artista, a quem admiro pela expressividade plástica, para que consiga me apropriar daquelas imagens que passam a ser minhas por direito. Pelo direito que me confere meu cérebro e meu aparato da visão, que fique bem claro!

Não tenho certeza da ordem em que as telas foram produzidas, mas me baseio na percepção que tive através do Instagram. A primeira foi a do S. Jorge solitário, nu, provido apenas de uma mera espada. Não foi a primeira versão que vi do guerreiro nu mas na outra ele ainda carregava o manto, o elmo, o escudo e a lança, montava o sólito cavalo e cavalgava sobre o sólito e dominado dragão. Nesta, feita por Igna, o despojamento é quase absoluto e me revela a extrema vulnerabilidade da condição humana que, pouco a pouco, já vai me dando pistas para o que vem a seguir. Percebo que o Jorge passa a ser corpo, naquilo que ele tem de mais frágil. Corpo que está sujeito a dores e delícias, forças e fraquezas, prazeres e mortificações. Corpo que, sozinho, prenuncia alterações, turbulências, avisos de algo que está p acontecer. Entendo que esta primeira imagem é, certamente, transitória e ambígua pois anuncia, sem anunciar claramente, a falta do que a complementa. Digo isto porque todos temos, no nosso imaginário, toda a cena épica do dito santo, hoje cassado pela Igreja Católica.

Apesar da imagem heroica, a tradição da lenda, onde o santo mata o dragão para salvar a princesa em troca de 20.000 conversões ao cristianismo também revela uma situação ambígua. No fundo de tanta sacralidade há um mercantilismo, uma negociata espúria, em nome de Deus.

Cá, nas imagens seguintes em que surge o dragão, o santo se metamorfoseia e ganha uma expressão também monstruosa, quem sabe a única capaz de confrontar a fera. Surgem no seu corpo mais membros que me sugerem ora um Cérbero descontrolado, ora a deusa Kali com seus infinitos braços e infinita sanha destruidora, e então as ambiguidades se alternam, pois o dragão, quando aparece, é apenas cabeça. Enquanto a tradição impõe a eterna luta cristã entre o bem e o mal, o embate aqui se estabelece entre outros contrapontos: é corpo contra cabeça, instinto contra razão ou ainda a luta entre monstros mesmo mas que emergem de culturas e tradições diferentes e, por isso, portadores de representações e simbolismos distintos. Vejo no santo um Cérbero, a medusa, a hidra, o Ciclope com seu único olho, a deusa hindu, tudo isso se contrapondo a um dragão que é só cabeça, só razão, só iluminação e sorte, de acordo com a tradição sino-nipônica. E neste jogo dos contrapontos a vulnerabilidade se inverte: quem, na verdade, será o terror e quem irá nos salvar do mesmo?

Essa grande questão que se coloca vai tornando o embate cada vez mais esquentado e estimulante. Relevante também é a ausência do cavalo que deixa o Jorge literalmente jogado no chão. Embora já também transformado num monstro, o santo continua nu, deitado no chão e com uma única espada voltada para a terra, enquanto o dragão-cabeça paira acima de tudo como uma consciência que domina o instinto: a animalidade do único pretenso “humano” da cena econômica de apenas dois personagens, um terceiro seria redundante nesta belíssima e nova construção de ambiguidades, mais uma vez.

Então surgem as figas nas extremidades dos membros do santo que podem significar uma tentativa de proteção ao olhar maléfico do dragão mas podem também passar uma mensagem da sua dimensão libidinosa, invertendo o jogo, estabelecendo uma sedução.

O santo-quase-humano, neste momento, dá sinais de uma sexualidade também ambígua, que tanto pode ser fálica quanto côncava (questões de gênero, neste caso, têm pouco ou nenhum peso), como se a dizer ao dragão: “faz de mim segundo a tua vontade”.

Nada mais a se esperar do que o sucumbir do dragão ao jogo erótico pela lei da atração dos opostos que é mais forte que ele seu bom senso, sua sensatez, seu discernimento, já que ele pretendia ser a cabeça ou a razão, neste jogo.

Por fim, como nos rituais de acasalamento do reino animal, ambos ganham conotações corpóreas diferente: o dragão com pintas de onça e o S. Jorge com tonalidades cerúleas pois a sedução chegou e ganhou este jogo. ...e o dragão “revira os oinhos, dizendo eu sou filho de São Salvador”

Ouviu, meu senhor?

Chico Mazzoni 2021

Robério Braga, Fotógrafo, possui obras no acervo Permanente dos Museus Afro Brasileiro (Ibirapuera, São Paulo), MIS (Museu de imagem e Som, São Paulo) e MACS (São Paulo), é de Salvador, Bahia, Brasil e iniciou sua carreira em 1993, quando participou da Bienal do Recôncavo em São Felix e da Mostra Nacional de Fotografia (UFBA). Em São Paulo atuou como diretor de fotografia em cinema e publicidade, cursou por 3 meses a NYFA (New York Film Academy) tornandose também diretor de cena. Em 2003, fundou a Produtora Maria Bonita Filmes e sua divisão de conteúdo e entretenimento, responsável por projetos para a televisão, documentários, longasmetragens e novas mídias. Em 2014 Robério Realizou a exposição de fotografias sobre a África, “LUZ NEGRA” no Maio Fotografia Museu de imagem e som de São Paulo, MIS SP, juntamente com 4 fotógrafos de peso entre eles o consagrado Josef Koudelka e o americano Gregory Crewdson. Luz negra itinerou pelo Museu Carlos Costa Pinto (Salvador - BA), Museu De Imagem e Som- MIS (São Paulo - SP), copacabana palace ( Rio de Janeiro) e Fundação Dom Luis I (Portugal) com grande repercussão na mídia, publico e critica. Hoje Integra o seleto grupo de fotógrafos da Galeria Mário Cohen Fine Art que representa também o brasileiro Sebastião Salgado. tendo participado de 4 edições da SP Arte e Sp Foto Braga está itinerando nesse momento com a exposição “A MISSA” e já é finalista do prêmio Fundação Conrado Wessel (XIV Edição) fazendo parte da sua prestigiada publicação anual. Braga acaba de ser premiado em 3o lugar ( único brasileiro premiado) em uma das mais importantes premiações do Brasil, A “Paraty em Foco 2018”.

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