AMIGOS DA
Cidade
Alta EDIÇÃO ESPECIAL 2014
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Alta
A história contada pelos moradores do bairro Personagens que deixaram sua marca
Lembranças de uma época singular AMIGOS DA CIDADE ALTA | 1
Depoimentos
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Depoimentos
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Depoimentos
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Ignês Motta e Ricardo Motta contam a história do Casarão da família, na Avenida Rio Branco
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As histórias dos inúmeros personagens da Cidade Alta, contadas pelo jornalista Edmo Sinedino
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Antônio Gentil: uma história de prosperidade
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Paulo Cunha: as mil facetas de um desportista nato
Juarez Alves: uma vida dedicada ao Karatê
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Homero Brandão: uma vida de muitas emoções
EDITORIAL
A Revista AMIGOS DA CIDADE ALTA - edição especial - retrata a história do bairro, um dos mais tradicionais de Natal. Alguns amigos que cresceram nas ruas da Cidade Alta relatam as inúmeras histórias e relembram personagens que deram vida ao bairro: como viveram, cresceram, formaram suas famílias, seus sonhos e as recordações daquela época. A ideia surgiu de Fernando Quintiliano, que morou durante mais de 30 anos no bairro e apesar de não morar mais na Cidade Alta preserva até hoje grandes amigos, citados na revista. “Cresci ouvindo muitas histórias e convivendo com vários desses personagens”, diz Fernando. Foi uma experiência única percorrer os caminhos da Natal de tempos atrás. Uma Cidade Alta cultural, boêmia, mas que também deu origem a muitos atletas. Um bairro onde o comércio da cidade abriu as portas para o desenvolvimento e a prosperidade. Compartilhe dessas memórias, algumas cômicas, outras mais emocionantes. Caminhe por ruas e becos de um bairro que foi (e sempre será) o Centro da cidade.
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Roberti Lili: um símbolo do bairro
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Fábio Henrique
maurifran galvão
zenaide castro
fernando quintiliano
DIRETOR Fernando Quintiliano 84 9101 1000 | Comercial Fernando Quintiliano e Fábio Henrique | TEXTOS E EDIÇÃO Zenaide Castro - zenaide.castro@hotmail.com - 84 9981 3942 | FOTOS E CAPA Maurifran Galvão | Arquivo Pessoal dos entrevistados | COLABORADORES Edmo Sinedino e Rubens Lemos Filho | REVISÃO Carmela Carvalho DIAGRAMAÇÃO E PROJETO Faça! Comunicação e Design 84 3086 4815 | ILUSTRAÇÃO Brum | GRAFICA Unigráfica tiragem 5.000 exemplares AMIGOS DA CIDADE ALTA | 5
casarão
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Ignês Motta
Da juventude no casarão da Cidade Alta até se tornar referência na deliciosa arte da gastronomia Quem morava na Rua Vigário Bartolomeu por volta dos anos 70, em certa hora do dia, podia sentir um aroma gostoso vindo de uma pequena loja de bolos e salgados preparados por alguém que começava, nessa época, uma bela (e doce) história que iria mudar o conceito da gastronomia em Natal. Foi ali que Dona Ignês Motta iniciou a sua trajetória profissional. “Eu sempre gostei muito de cozinhar. Minha mãe cozinhava muito bem e eu gostava de ficar prestando atenção ao que ela preparava na cozinha. Quando eu saí do Colégio das Neves e fui estudar na Escola Doméstica o meu amor pela gastronomia aumentou. Sonhava com um lugar onde pudesse vender o que eu fazia. Então, aluguei um sala na Rua Vigário Bartolomeu e abri a minha primeira doceria”, conta. Dona Ignês iniciou com bolos e tortas, mas logo também passou a oferecer 6 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
salgados. “Quando o salgado começava a sair do forno era justamente a hora do lanche dos funcionários do Banco do Nordeste, que eram os meus maiores fregueses”, lembra, contando ainda que na época do Natal recebia grandes encomendas. “A rua era estreita e ficava congestionada de carros com pessoas fazendo pedidos e pegando as encomendas”. O negócio prosperou e Dona Ignês alugou uma casa na avenida Prudente de Morais, onde agregou o comércio de flores e arranjos.
Área nobre
Na verdade, a sua história com a Cidade Alta teve início muito antes desse período. Quando ela nasceu, seus pais (João Francisco da Motta e Severina Coutinho da Motta) e os 13 irmãos (nove mulheres e quatro homens) moravam na casa que depois se transformou na
famosa Casa de Maria Boa, situada na Rua Padre Pinto, próximo à antiga Força e Luz (atual Cosern). Foi quando o seu pai comprou a casa na subida da Avenida Rio Branco, onde até hoje é conhecida como a Casarão dos Motta. Segundo Dona Ignês, nos anos 50, ele começou a construir o casarão que passou quatro anos para ficar pronto. “Era uma área nobre da cidade, onde moravam famílias tradicionais. Próximo ficava o comércio chique de Natal, com lojas de móveis, relojoarias famosas, alfaiatarias”. “Todos nós casamos lá. As festas eram feitas por nós mesmos e eram grandes ocasiões”, diz. O Casarão dos Motta, onde, atualmente, moram uma irmã (Suzana) e duas sobrinhas de Dona Ignês (Ana Paula e Josana), possui dois andares, salas de jantar, de estar e de café, sete quartos, três
ignês motta
banheiros e duas suítes, cozinha, piscina e até um porão. Uma casa histórica, tradicional e que ainda hoje tem lugar entre os edifícios e inúmeros pontos comerciais da Avenida Rio Branco. Dona Ignês lembra com carinho dos momentos mais importantes ao longo desses anos preparando alguns dos almoços, jantares e recepções mais prestigiadas da cidade. “A minha primeira decoração foi para a posse do ex-governador Cortez Pereira. O buffet, já com o nome de Nick (em homenagem à filha Verônica, que era carinhosamente chamada pelo pai de Nick), passou a funcionar na casa do ex-senador Djalma Marinho, na esquina da Prudente de Morais com a Rua Mossoró. O imóvel teve o ‘toque’ do arquiteto Ubirajara Galvão. “Nesse local, eu lancei a ideia do chá da tarde e depois trouxe para Natal os chocolates Kopenhagen”. Anos depois, a Nick Buffet se mudou para a sede do América, na Rodrigues Alves, onde permaneceu por 14 anos. Inovou com o almoço de domingo no estilo self-service, uma novidade para Natal nos anos 80. Desde 1998, funciona na Avenida Hermes da Fonseca, onde morou desde o seu casamento, em 1955, e criou os cinco filhos, três dos quais trabalham com ela. Possui 18 funcionários fixos, além dos vários que trabalham nos eventos. “Tem funcionário aqui com mais de 30 anos de casa, como é o caso de Socorro, que me acompanha há 31 anos, e José, que trabalha na Nick há 30 anos e também administra o comércio de flores e decorações”.
Grandes desafios
Duas histórias para recordar: a primeira foi ter cozinhado para o papa João Paulo II em sua vinda a Natal. “Preparamos o jantar e o café da manhã, servidos na Casa de Hóspedes, em Ponta Negra, onde o papa ficou hospedado, e o almoço, servido no Centro de Convenções para o Papa, a comitiva e convidados. O almoço foi servido pelas senhoras ligadas à Arquidiocese e pelas alunas da Escola Doméstica”. A segunda história foi um evento para a empresa FIAT para o lançamento de um carro, em plena Base Aérea. “Foi um grande desafio porque eram três dias de evento, com almoços e jantares muito refinados, servidos sob tendas no descampado da Base. O desafio era conseguir servir a comida quente, mesmo naquele relento. E conseguimos superar todas as expectativas, tanto deles quanto as nossas”. o Fotos: reproduçã
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RICARDO MOTTA
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Recordações da vida simples do
Centro de Natal
A infância e adolescência foram vividos entre as avenidas Rio Branco e Deodoro. Entre sua casa e a dos avós. Foi assim que o presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, deputado estadual Ricardo Motta, passou bons anos de sua vida. Anos guardados na memória, de uma época em que as ruas de areia, a tranquilidade de dias sem violência e a boemia tomavam conta do Centro de Natal. Desse período, nos idos das décadas de 1960 e 1970, o deputado Ricardo Motta traz até os dias de hoje amizades e a simplicidade que aprendeu a cultivar por meio do convívio com amigos de todas as classes sociais e do exemplo que teve do pai, o ex-vice-governador e ex-deputado Clóvis Motta. Na Avenida Deodoro, Ricardo Motta morava vizinho ao extinto Diário de Natal. Jogava bola num campo onde hoje está cravado o Edifício Riomar, guardava carros e vendia pitombas para ganhar uns trocados junto com os amigos. “Eu brincava muito com meus amigos ali na Deodoro, na altura do Bar do Lourival. Era uma turma muito boa. A gente jogava muita bola. Ali onde tem o edifício Riomar era um campo de futebol e atrás era a Casa de Saúde de Natal”, lembra. Aos finais de semana, havia o vesperal de atrações na Rádio Poti, onde também funcionava o Cinema Poti. “Era cinema e também tinham esses eventos, com ar8 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
tistas, festivais, gincanas. Eu garotinho, ia ‘pastorar’ carro pra ganhar dinheiro junto com meus amigos. Um dia eu cheguei e disse: posso dar uma pastoradinha aí? E o senhor perguntou: você não é filho de Clóvis Motta? Eu saí correndo com vergonha. Meu pai não sabia de nada”, diz, rindo. No quintal de sua casa, havia uma pitombeira, também fonte que rendia algum dinheiro para o deputado e seus amigos. “Eu não ia vender porque tinha um pouco de vergonha, mas os meninos vendiam e a gente dividia o lucro”, recorda.
Rio Branco
O patriarca da família Motta, João Motta, avô do deputado Ricardo, morava na Avenida Rio Branco, endereço da tia caçula de Ricardo Motta até hoje. Lá era o ponto de encontro sagrado de toda a família, todos os domingos, para o banho de piscina e almoço. “Foi uma infância bastante saudável. Natal era uma cidade pequena, sem assalto, havia muita boemia. Eu ia muito ao Juvenal Lamartine com meu pai assistir aos jogos do Alecrim”, lembra. A escola do deputado também ficava no Centro, o Colégio Marista: “Fiz muitos amigos lá, alguns até hoje ainda me chamam de Motta, que era meu nome de estudante. Posso citar Castim, Américo Godeiro, Sérgio Ximenes, Silvério, Carlos Cabral, entre outros”.
Serenatas
A adolescência foi toda praticamente em São Paulo, onde seu pai foi coordenar a representação do Rio Grande do Norte, entretanto, as férias tinham lugar certo: Natal. “Todas as férias, eu vinha pra Natal e trazia meus amigos de São Paulo que se adaptaram à vida natalense, dos carnavais e das serenatas. Nós chegamos a fazer muitas serenatas. Eu não tocava, mas tinha amigos ou contratava um cara que tocava e a gente ia às casas das paqueras. Os pais não brigavam não. Era uma coisa sadia”, relembra. O deputado Ricardo Motta afirma que sua infância e adolescência foram completamente diferentes do que se tem hoje. “Era na rua, com os amigos. As baladas da gente eram as domingueiras”, diz. E a simplicidade daquela época, ele carrega consigo até hoje. “Eu herdei muito do meu pai essa coisa da boemia, que já não tenho mais hoje, e de ter um estilo de vida simples. Meu pai, apesar de ser um intelectual, de conviver com figuras muito importantes, era amigo íntimo de João Goulart, era uma pessoa extremamente simples. Com ele eu aprendi a conviver e dar igual importância a todos, independente do que faz, do que é, da posição que ocupa. E eu procuro ser assim diariamente”, afirma o deputado Ricardo Motta.
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solar bela vista
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Um palácio repleto de história e arte em Natal Um palácio repleto de história e arte em Natal
Em 1907, o Coronel Aureliano Medeiros, quando mudou-se com a família para Natal, mandou construir na cidade um palacete. O belo casarão, erguido com materiais encomendados diretamente da Bélgica, França e Alemanha, destoava das demais casas da época. A residência tinha um amplo jardim repleto de estatuetas, capela para missa aos domingos e um porão habitável. Vinte seis anos mais tarde, com a morte do dono da casa, o prédio foi alugado para uso do Tribunal de Justiça, e depois para Dona Maria Cabral, que o transformou em pensão familiar. Em 1948, ganhou um novo locatário, o senhor Sinval Duarte Pereira. Virou o luxuoso “Hotel 10 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
Bela Vista”. Com o fechamento do hotel, o palacete passou muito tempo abandonado até ser ocupado por várias famílias. Nos anos 80, o Sistema FIERN, através do SESI/RN, adquiriu o velho casarão, relocou as famílias que lá viviam e promoveu uma grande restauração com a supervisão da Fundação José Augusto. Terminada a reforma, o local foi transformado em um centro de cultura e lazer, o SESI - Solar Bela Vista. Em 1990, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte (IPHAN/RN) tombou o local. Assim, Natal recuperou um de seus patrimônios históricos e ganhou um espaço para cursos, palestras, oficinas, seminá-
rios, lançamentos de livros, exposições de artes visuais e atividades ligadas ao cinema, ao teatro, ao circo e a música, funcionando como um dos principais polos potiguares na produção e difusão da cultura e da arte, atraindo industriários e a comunidade em geral.
SESI - Solar Bela Vista Av. Câmara Cascudo, 417, Cidade Alta.
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IFRN
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Foto: Jean Francisco
Um século dedicado
à educação A Cidade Alta possui muita história abrigada em prédios e casarões que se mantém “vivos” e resistem ao tempo e à especulação imobiliária. Um dos prédios que tem muita história para contar é o do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), localizado na principal via do bairro, a avenida Rio Branco. Datado do início do século XX, o antigo casarão que abrigou a Escola de Aprendizes Artífices, o Liceu Industrial e a Escola Industrial de Natal, foi cedido à instituição de ensino profissional na gestão do governador Alberto Maranhão, em 1913. O prédio passou por diferentes reformas, entre as décadas de 20 e 30, encampadas pelo Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico, numa das quais ganhou o piso superior e a fachada que permanece até os dias atuais. Com a inauguração das novas instalações da Escola Industrial na avenida Sal12 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
gado Filho, em 1967, o Ministério da Educação repassou o prédio para o Instituto Nacional do Livro. Posteriormente, sua tutela foi concedida à UFRN, que instalou no local, entre outros órgãos, a Televisão Universitária que funcionou ali e 1976 a 1995, dividindo o espaço com a Associação dos Funcionários da UFRN (AFURN), a Comperve e o Centro Regional Universitário de Treinamento e Ação (Crutac). O prédio abrigou ainda, entre 1978 e 2008, a Associação dos Veteranos da Força Expedicionária de Natal, a Coopercrutac – cooperativa de artesãos, de 1970 a 2008, e, a partir de 1997, vários grupos artísticos reunidos na Associação República das Artes. No mês de novembro de 2007, o prédio voltou a fazer parte do IFRN, na época CEFET-RN, que iniciou, no ano seguinte a sua recuperação, reinaugurando-o em 23 de setembro de 2009 durante as festividades do centenário da instituição.
Galeria de Arte
A Galeria de Arte do Campus Natal - Cidade Alta realiza exposições de obras, mediações, eventos, produções, manifestações culturais, performances e pesquisas que envolvam arte, educação, ciência e tecnologia. A sua principal forma de atuação é na busca da ampliação dos diálogos com a diversidade de expressões de artistas e coletivos, nacionais e internacionais, assegurando formação estética, convivência pacífica, igualdade de acesso e garantia do direito cultural, com ênfase na concepção de que a arte, inspirada nos ideais de liberdade e solidariedade, é patrimônio da humanidade, suporte sustentável da cultura e direito constitucional; na curadoria e gestão democrática, para igualdade de condições de acesso ao espaço artístico cultural público, aos bens patrimoniais locais, regionais, nacionais ou globais, situados num contexto social, filosófico e histórico, e na reverência e diálogo com a diversidade de saberes, conceitos, linguagens, representações eruditas e populares e formas de expressão folclórica, científica, artística ou tecnológica.
O Instituto Federal do Rio Grande do Norte promove muito bem a sua integração com a sociedade, principalmente através de atividades desenvolvidas pela Extensão que, ao lado do Ensino e da Pesquisa, forma os três pilares educacionais da Instituição. É por meio da Extensão que o IFRN estabelece e fortalece seus elos com o público por meio da socialização dos saberes produzidos a partir da articulação com o mundo do trabalho. Como via de mão dupla, a Extensão também é responsável pelas atividades que trazem para o IFRN pessoas ou grupos da comunidade a fim de compartilhar suas experiências e conhecimentos. Conheça a seguir algumas atividades de Extensão do Campus Natal – Cidade Alta do IFRN:
Grupos de extensão
4Coral Infantil 4Grupo de Flauta Doce 4Grupo de Teatro 4Grupo de Dança Contemporânea 4Grupo de Música Regional: Orquestra Escola de Viola Caipira e Rabeca 4Grupo de Capoeira.
Espaços de extensão
Programas, projetos e cursos de extensão*
4Curso de Viola Caipira 4Cursos de Inglês e Espanhol 4Curso de Rabeca 4Curso de Mosaico 4Curso de Programação Visual 4Curso de Dança do Ventre 4Galeria Itinerante 4Projeto Casa Amarela – Composição Artística e Pintura, Desenho de HQ, Reciclagem e Cartonagem e Dança Criativa 4Projeto Educando para o Patrimônio 4Projeto Lazer e Qualidade de Vida para 3ª Idade 4Projeto Ação Social e Literatura; 4Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) 4Projeto IFRN de Palco Aberto 4Projeto Territórios Criativos: a dimensão econômica dos Pontos de Cultura de Natal.
Fotos: divulgação
4Galeria de Arte Thomé Filgueira;
4Ateliê de Artes; 4Sala de Dança 4Sala de Teatro; 4Luteria 4Museu do Brinquedo Popular 4Cinemateca Potiguar 4Memorial do IFRN 4Brinquedoteca 4Muro de Escalada
Formando empreendedores
A Incubadora de Empreendimentos do IFRN recebe projetos selecionados através de editais. O foco principal são as áreas de cultura, turismo, lazer e esporte. O setor começou a funcionar no final de 2013 e nos ciclos de seleções já foram contemplados seis projetos, dos quais três são da área de produção cultural, dois empreendimentos turísticos e um no segmento de esporte e lazer. Segundo o assistente executivo da Incubadora, Jair Alencar, o trabalho desenvolvido no IFRN segue as normas da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(Anprotec). “O desenvolvimento completo do projeto dura de dois anos e meio a três anos, dependendo das características de cada um”, esclareceu, reforçando que o vínculo é constante, uma vez que a pessoa utiliza a estrutura da incubadora para colocar o seu projeto em prática. A gerente do setor, Ana Velasque, completou dizendo que a ideia é que a incubadora dê o suporte necessário para que os projetos caminhem com as próprias pernas. “Mesmo não sendo restrita aos alunos do IFRN, a incubadora incentiva à participação e acaba adotando um pouco o papel de ajudar a preparar os alunos a empreenderem”.
*Os programas, projetos e cursos aqui apresentados são ofertados de acordo com o planejamento anual do Campus e podem não ser ofertados todos os anos.
nivaldo fonseca
Integração com a sociedade
Museu do Brinquedo Popular
O Museu do Brinquedo Popular é coordenado pelo Núcleo de Estudos Culturais da Ludicidade Infantil (NECLI). Abriga um acervo de cerca de 300 brinquedos e brincadeiras inventariados em mais de 60 municípios norte-rio-grandenses por uma equipe de pesquisadores do Curso de Tecnologia em Lazer e Qualidade de Vida do IFRN. No museu, estão expostos brinquedos sonoros e musicais (gaita de talo de mamoeiro), bonecos e acessórios (camas de quenga de coco, soldadinhos de castanho de caju), representações de animais (curral de ossos), miniaturas de utensílios domésticos (móveis de caixas de fósforo), armas (arapuca, arco e flecha), transportes (barcos e jangadas, breque ou guidom, trem de lata de sardinha) e os mais diversos jogos (carrapeta, pião, peteca, biloca, futebol de botão). O acervo permite compreender o universo lúdico infantil de diferentes gerações, com suas particularidades definidas pelos costumes, espaços físicos, cultura, folclore, memórias e realidades distintas. Para os visitantes, a exposição representa mais do que um despertar da inocência e da imaginação. Visitação com guia: Segunda a sexta, das 9h às 21h Sábado (sem guia) até 16h. Agendamento de grupos: (84) 4005-0971 AMIGOS DA CIDADE ALTA | 13
Santa cruz da bica
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Palco de muitos festejos A Praça Santa Cruz da Bica ou marco da Santa Cruz da Bica representa um dos primitivos marcos de Natal. É provável que tenha sido construída na época da fundação da cidade. Os espanhóis e portugueses adotavam o ritual de limitar com cruzes os limites urbanos das povoações que fundavam. No caso de Natal, a Cruz da Bica de beber água assinalava os limites da cidade pelo Sul. Uma outra cruz fincada na atual rua Câmara Cascudo, à altura da Praça das Mães, limitava o lado Norte da cidade. Afirma o historiador Nestor Lima que a Cruz da Bica foi chantada em um local mais baixo da encosta sul da área urbana, quase à margem direita do rio do Baldo. Posteriormente, a cruz foi transferida para o seu atual pedestal, por ocasião dos serviços de abastecimento de água, realizados pela empresa de águas de Natal, de Bigois e Leinhardt, no final do século XIX. A empresa construiu grandes coletores de água na Cidade Alta e na Ribeira. 14 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
Segundo Câmara Cascudo, no cruzamento de certas ruas, erguiam-se chafarizes com torneiras. No dia 24 de março de 1674, já existia a Bica no então Rio de Beber Água, o riacho do Baldo, atual canal do Baldo. O mais remoto registro que trata de terras concedidas nas imediações da atual Praça da Santa Cruz da Bica, data de 24 de setembro de 1615. Durante muitos anos, a população da cidade de Natal comemorava no dia 3 de maio de cada ano o Dia da Santa Cruz. Era uma festa popular em que era rezado um terço na Praça da Santa Cruz. Raramente era assistida pelo clero, pois a igreja não reconhecia, e até achava heresia. O terço era “tirado” por um leigo. Houve um ano em que a festa foi prestigiada por Frei Vidal, quando este encontrava-se em missão pela Capitania do Rio Grande. Frei Vidal de Frascarolo era um religioso capuchinho que pertencia ao Convento da Penha do Recife no final do século XVIII. Ele vivia em missões, visando a divulgação da fé católica. Nos festejos juninos, a animação volta-
va àquela Praça. Ao som de violões, violas e flautas, os homens participavam dos festejos comemorativos comendo, bebendo, cantando e policiando o banho das filhas, irmãs e noivas, tomado no Rio do Baldo. Em 1878, o Capitão Naninguer, comandante da tropa de linha e devoto da Santa Cruz, construiu um jardim ao redor do cruzeiro. O jardim permaneceu por vários anos mantido pela comunidade local. A última vez em que houve festejos na Santa Cruz da Bica foi no ano de 1985, na gestão do então prefeito Garibaldi Alves e do Secretário de Cultura Gileno Guanabara. A comunidade da Cidade Alta pede pela reforma e conservação desse Marco Histórico, voltando, assim, a festejar e rezar nos dias 1, 2, e 3 de maio. A “Pracinha” ainda representa um local sagrado procurado pelos devotos da Santa Cruz. Pesquisa: Fábio Henrique (Historiador) Fonte: História da Cidade do Natal, 42ª edição, Natal/ RN: EDUFRN, 2010.
Criada em março de 2004, a Maxmeio Comunicação é destaque no mercado do Rio Grande do Norte, tendo como principal característica acompanhar o processo que a Internet sofre
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e fortalecimento da marca no mercado; Gestão de conteúdo utilizado no website do cliente; Webmarketing Político; entre outros serviços essências para consolidar seus parceiros no mercado. Atualmente, a Maxmeio conta com mais de 100 clientes na casa, atendendo ainda os estados Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
Equipe de criação
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SESC CENTRO
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Oportunidades e serviços prestados ao comerciário
Fotos: cedidas
Desde a época de sua fundação, no ano de 1947, o Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Norte acompanha a história da Cidade Alta. O Sesi integra o Sistema Fecomércio RN e é mantido por empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Sua clientela preferencial são os trabalhadores do comércio, público para o qual promove ações sistemáticas gratuitas ou com valores subsidiados, nas áreas de saúde, cultura, educação, lazer, assistência e turismo, bem como eventos variados por todo o estado. No início, o Sesc tinha à frente o empresário Jessé Pinto Freire. Entre 1947 e 1948, um intenso trabalho de divulgação 16 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
junto aos empresários do comércio, autoridades e entidades de serviços assistências foi de grande importância para o reconhecimento e desenvolvimento da atuação da entidade. Em 28 de março de 1949, a Fecomércio obteve do Ministério dos Negócios do Trabalho, Indústria e Comércio, sediado no Rio de Janeiro, sua Carta Sindical. Com isso, foram criados os Conselhos do Sesc e Senac, desligando-os da Federação do Comércio Varejista do Nordeste Oriental. Em maio deste mesmo ano, uma cerimônia realizada em Natal por João Daudt d’Oliveira, presidente da Confederação Nacional do Comércio, marcou
a instalação dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac no Rio Grande do Norte. Nesse período, a sede do Sesc passou a funcionar no bairro da Ribeira, área onde se concentrava a parte mais intensa da atividade do comércio na capital. A expansão comercial nos bairros da Cidade Alta e do Alecrim, a partir de 1951, influenciou o retorno do Sesc, em 1952, para a Cidade Alta. Instalada em um prédio alugado na Praça André de Albuquerque, a entidade deu continuidade às suas atividades junto à classe comerciária. O crescimento e expansão dos serviços do Sesc logo tornaram evidente a
Fotos: cedidas
necessidade de um espaço maior e adequadamente planejado para suas atividades. A busca de um local para a construção de sua futura e atual sede própria indicou um enorme terreno pertencente ao município: uma área de 4.275m², tendo uma frente de 75 metros para a Avenida Junqueira Aires e laterais para a Praça João Tibúrcio, com 65 metros, e Rua São Tomé, com 55 metros. Era um terreno baldio, eventualmente utilizado para eventos populares. Na sua vizinhança estão a sede do Banco do Brasil, a Secretaria Municipal de Tributação, o Senac Centro e a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional RN (OAB-RN). Na segunda metade de 1977, um acordo administrativo extinguiu, depois de mais de duas décadas, o Condomínio
das Administrações Regionais do Sesc e do Senac no Estado, passando o Senac a funcionar em outro edifício. Com a mudança, o prédio recebeu a denominação de Centro de Atividades João Daudt d’Oliveira a partir de 13 de junho de 1977. Atualmente, o Departamento Regional do Sesc possui aproximadamente 800 funcionários atuando em 14 unidades operacionais: nove em Natal (Centro, Alecrim, Restaurante, Potilândia, Zona Norte, Clínica Odontológica, Ponta Negra, Sesc Enseada Praia Hotel e Pousada) e cinco em cidades do interior (Macaíba, Mossoró, Caicó, São Paulo do Potengi, Nova Cruz). Toda a parte administrativa está sediada na unidade Sesc Centro. Além disso, possui as unidades móveis Biblio-
Sesc, OdontoSesc e Sesc Saúde Mulher. Também mantém o projeto Sesc Cidadão em Natal, Mossoró e Caicó, no qual são oferecidas atividades em diversas áreas às comunidades em situação de vulnerabilidade social. Só em 2013, o Sesc realizou, em todo o RN, mais de 23 milhões de atendimentos em suas áreas de atuação. A missão do Sesc RN é contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores dos setores do comércio de bens, serviços e turismo, prioritariamente de baixa renda, por meio de serviços subsidiados e de excelência. Para saber mais sobre a atuação do Sesc, acesse www.sescrn.com.br.
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histórias do bairro
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Roberto Lili, Antônio Luís, João das Pombas, Fernando Gomes da Costa, Tinho, Luiz Carlos Pereira D zinho, Luis Carlos Pereira Dantas, Carlos Eduardo Linhares Rebouças, Marcos Falcão, Dona Zetinha, B nezes de Carvalho, Seu Pedro, Nenê, Dito, Bilado, Zé Sapateiro, Sargento Sólon, Fernandinho Belém, Fabi
Personagens da Dr. Luiz Carlos Pereira Dantas
Os irmãos Ricardo e Carlos Linhares
Nildo e Zé Carlos - Campeão Metropolitano de Futsal - 1990
Por Edmo Sinedino
Cada bairro de Natal tem suas particularidades. Ribeira, Rocas, Alecrim e tantos outros que vieram depois. Como Reginaldo Rossi bem diz: “a gente deve cantar e valorizar o nosso chão. Nossa cidade, estado, o nosso país”. Concordo com Rossi. Não esqueço São Tomé, muito menos a minha Cidade Alta querida que me adotou aos 12 anos. Queremos, todos nós, uma geração que cresceu brincando e jogando bola nas ruas da Cidade Alta – Gonçalves Ledo, Santo Antônio, Voluntários da Pátria, Vaz Gondim, Apodi (pequeno trecho), Padre Calazans e Padre Pinto – ver o bem e a recuperação do nosso Bairro. Duvido que algum rapaz tenha passado, morado, visitado umas dessas ruas e não tenha ouvido falar ou mesmo participado de peladas homéricas na praça da Santa Cruz da Bica ou não tenha lascado 18 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
os dedos dos pés na pista da Padre Pinto, no muro do cabaré de Maria Boa. Cidade Alta, esse trecho específico, foi onde virei gente, ou acho. Namorei, casei, e encaminhei minha vida, conheci muitas figuras. Algumas, como Roberto Lili, seriam assunto para o livro de mais de 400 páginas. Antônio Luís, conhecido por Toinho Nicotina, também poderia ser chamado de “Toinho Malvadeza”. Adorava ver os outros em desgraças e foi assim desde muito novo, acho que nunca vai mudar. E João das Pombas, já falecido, irmão de Toinho, outra grande “excelência”, como costumávamos classificar. A Cidade Alta, da minha época, forma, sem dúvida, uma seleção de grandes amigos que ficaram para sempre na minha memória. E que servem até hoje de inspiração para vários dos meus textos de humilde jornalista.
Como esquecer “Pequeno das Cachorras”, Fernando Gomes da Costa, craque de bola, que jogou no futebol de salão do América, no Força e Luz, futebol de campo. Suas histórias de bola e carnaval eram impagáveis. Morreu de forma absurda – uma queda na escadaria da Cosern, onde trabalhava. Até hoje, Pequeno é lembrado por todos nós com muito carinho. Cidade Alta que produziu Tinho. Carlos Maurício. Um espetacular jogador de futebol de salão e futebol de campo. Brilhou no América, na bola pesada, depois jogou no ABC, onde foi considerado um dos seus ídolos. Foi autor do gol do título de 1978 e entrou para sempre na história do clube. Tinho ainda jogaria no Náutico, mas ele, como tantos outros, vítima da falta de respeito e atenção de nossos dirigentes, parou de jogar, foi cuidar da vida,
Dantas, Zé Carlos, Raimundo Silvério, Leandro, Paulinho, Falcão, Jéferson Witame Gomes da Costa, LuiBatista, Chico Leiva, Jorge Bonga, Silvano, Cortez, Joaquim, Expedito, Werton, Auridan, Aparício Meinho, Sérgio Galocha, Zé Mouco, Seu Isac, Ciço Urubu, Billy Paul, Jaime, Mário Luís, Albert Joshuá.
Cidade Alta voltou a brincar no futebol de salão (jogamos juntos no RAC de Mércio Lemos) e se tornou policial civil. Esse mesmo pedaço produziu José Carlos Moreira Dantas. “Meu” jogador do Goiás, time que criei e ficou famoso aqui no bairro. Zé Carlos tinha talento, coragem e o feeling dos grandes craques. Incrível, mas me surpreende muito que nas crônicas sobre nosso futebol de salão se fale em tantos jogadores “comuns” e Zé Carlos seja pouco lembrado. Vestiu a camisa do Força e Luz, mas preferiu mesmo brilhar e se fixar na quadra. Defendeu ABC, Aspetro, América, AABB, acho que foi campeão em quase todos. Brilhou ainda em Maceió. Enfim, Zé Carlos, para mim, meu amigo de infância, e não por isso, foi um dos maiores jogadores de futebol de salão que já vi jogar. Lembro das surras que dávamos, o time de futsal de nosso pedaço, enxertado com craques do Paço da Pátria - em times desafiantes. Raimundo Silvério, Canela, da Lanchonete Chapinha, recebia os desafios, nos levava, eu, Zé Carlos, Leandro, Paulinho, Falcão e lá íamos surrar times por esse Natal a fora. E as brigas nas esquinas? ABC, América, Botafogo, Flamengo, Vasco, Falcão ou Cerezo. Zico ou Roberto Dinamite. Alberi ou Élcio Xavier, dependendo do time de cada um. Como me aperreava o juízo o “Cuíca das Burras”, torcedor do América e do Flamengo. Um peste, ai de quem ele pegasse no pé. “Cuíca”, jogador viril, dava pau em todo mundo, se tornou depois Jéferson Witame Gomes da Costa, empresário conhecido, dono do restaurante Piazalle. A humildade, a generosidade, no entanto, tudo isso continua inalterado. Um dos atletas mais versáteis de nosso pedaço, sem dúvida, era um cara co-
nhecido, por nós, pelo apelido de Zinho, diminutivo do diminutivo de Luizinho. Bom no basquete, no vôlei, tênis de mesa, na natação (era atleta do primeiro time do América), também chegou a jogar futebol de campo no Força e Luz. Hoje, médico renomado de nosso Estado, doutor Luis Carlos Pereira Dantas, cirurgião geral em endoscopia digestiva. Hoje, pratica o tênis de quadra, porque gosta ou talvez porque não tenha mais os mesmos companheiros de bola de antigamente. Carlos Eduardo Linhares Rebouças. O “destoante” dessa turma de malucos da Cidade Alta. Carlinhos nunca se envolvia em confusão, discussão, nunca! Torcia, calava, jogava seu futebol de mesa, conquistava títulos e começava a escrever sua história. Depois se tornaria bicampeão brasileiro, e depois ainda faria do seu filho também campeão do Brasil. Não chegou a jogar futebol e futebol de salão além da “idade da liberdade”, vamos dizer assim, depois se tornando engenheiro de renome em Natal. Continua, como sempre, um grande divulgador do futebol de mesa. E meu querido amigo Marcos Falcão, o cara que teve a felicidade, acho, de ter a mãe mais doce e dedicada de todos que moraram na Cidade Alta: dona Zetinha. Sorriso no rosto, sorriso nos olhos azuis, sempre nos tratando com carinho, perguntando, com zelo, onde íamos, pedindo a mim, muitas vezes, para que cuidasse e não deixasse Marcos beber. Marcos Falcão, o apelido se deu por conta de sua admiração pelo craque do Inter, na época, e por isso o cabelo, louro, também encaracolado. Meu amigo, irmão de tantas e tantas jornadas no velho Arpege de guerra, um dos cabarés mais conhecidos
da Ribeira. Claro, a gente não dizia para onde ia a Dona Zetinha. Passaria o dia aqui listando meus companheiros, de peladas, de noitadas, de conversas, de caminhadas, das idas à Lanchonete Chapinha, na Praça André de Albuquerque, nosso point de todas as noites. Como falar da lanchonete e não lembrar de Canela, Batista (“Meu Goleiro”), Chico Leiva, Jorge Bonga, “Meu Ponta”, irmão de Batista, meu compadre querido, o Silvano, único torcedor do Alecrim da turma. Belos e bons tempos. A Cidade Alta produziu médicos, karatecas, cantores, atores, atrizes, cantoras, empresários, professores, dentistas, engenheiros, jornalistas, jogadores de futebol, comerciantes... Cidade Alta saudosa de “seu” Cortez, de Ézio e Zé, da “Mercearia do Ézio”, de “seu” Joaquim”, depois de Expedito, da padaria Avelino Teixeira, de “seu” Werton, da outra panificadora, do querido alecrinense Auridan, que tão cedo nos deixou. Personagens inesquecíveis como a do benemérito Aparício Menezes de Carvalho, umas das pessoas mais queridas que conheci. Sempre com um palavrão cabeludo para dizer e nos fazer, nós crianças, dar grandes risadas. E sem falar do maldito cigarro que não tirava da boca. Júnior da Mercearia, até hoje fixado na esquina da Voluntários da Pátria com a Apodi. Júnior, que certa vez nos surpreendeu roubando bananas através do portão de ferro, atirou para cima, provocando a maior disparada de “gatunos” já vista no bairro. Foi um “Deus nos acuda”. “Seu Pedro” da Transportadora Potengi e seus filhos bons de bola: “Os três Porquinhos”, amigos queridos – Nenê, Dito e Bilado. Como não lembrar de Zé SapaAMIGOS DA CIDADE ALTA | 19
histórias do bairro
Werton, proprietário da padaria Avelino Teixeira
Sorveteria Belém
teiro e sua risada extraordinária: ahahaahahahahahahahahahaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Parece que saía direto do pulmão. Vale sim lembrar o sargento Sólon, pai do querido ator Fernandinho Belém e dos amigos Fabinho e Sérgio. Sólon, com sua espada impressionante, saindo altas horas da noite para expulsar a rapaziada da esquina (só de brincadeira, o que ele queria mesmo era bater papo). Sólon, fundador do Botafogo, time de garotos.
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AMIGOS DA
Cidade
Alta
Os imãos Sérgio Galocha e Fábio Henrique
O Botafogo, de Solon
Quem não lembra de “Zé Mouco”? Seu Isac? E Ciço Urubu? Coitado. Será que ainda é vivo? Chegava na padaria de “seu” Werton e começava o aperreio. Os assobios que o deixavam furioso, gritando palavrões que quase ninguém entendia. Billy Paul. Que figura o Jaime! Infelizmente já falecido. Filho de Dona Débora. As suas histórias de conquistas, de encontros casuais e sexuais. Era demais!
Mano, Falcão, Gê e Serginho (in memoriam)
Vuca, Noronha, Carlos Augusto, Tinho e Berg - 1980
E Mário Luís, violonista dos bons, que a gente chamava carinhosamente de “Neguinho da Cosern”. É que trabalhava na empresa antes da privatização. E Albert Joshuá? Aterrorizava muita gente, enquanto fazia seu trabalho de “guarda de trânsito” na esquina da Gonçalves Ledo com a Apodi. Ai de quem mexesse com ele. “era vingativo e traiçoeiro”, apregoava. Esse nosso contemporâneo também já é falecido.
antônio gentil
Fotos: cedidas
Uma história de prosperidade que começou na Cidade Alta
Muitos empresários que prosperaram em Natal começaram a sua trajetória profissional no comércio da Cidade Alta. Entre os anos de 60 e 80, antes da cidade ganhar os shoppings centers, o comércio do Centro era efervescente, lucrativo e gerava muitos empregos, além de organizado e economicamente próspero e rentável. Era muito bom entrar e sair de loja em loja, vendo as novidades, pesquisando preços e produtos e, é claro, comprando. Tempos de compras com pagamento à vista ou, para os bens mais caros, o crediário. Foi nesse contexto que surgiu (e cresceu) o empresário Antônio Gentil que, anos depois, se tornaria proprietário de de uma rede de negócios, tendo como carro-chefe a perfumaria O Boticário. Antônio Gentil começou a sua trajetória de sucesso na Camisaria União como auxiliar de serviços gerais e chegou a vice-presidente. “Programava todas as vendas da loja, mas sentia que precisava ampliar o segmento de roupas, com o qual trabalhava desde os 24 anos. Foi quando decidi ingressar na carreira solo, com duas lojas Tony Modas, ambas na Avenida Rio Branco, vendendo roupas masculinas e femininas”, conta. Foi na Tony Modas que começou a vender os produtos O Boticário. Hoje, a franquia comandada pela Gentil Negócios, formada por ele e sua família, possui 50 pontos de vendas e gera cerca de 500
empregos diretos, além da recente Venda Direta, que possui mil mulheres cadastradas no Rio Grande do Norte e mil no Maranhão. “Comecei a fazer franchising sem saber o que estava fazendo”, diz. Antônio Gentil conta que sempre viajava a Curitiba para fazer compras de artefatos de couro para a sua loja e, certa vez, viu, no aeroporto, uma loja O Boticário. Dirigiuse à loja, pediu para ir ao escritório e, dessa conversa inicial, trouxe na bagagem alguns produtos para vender em Natal. De lá para cá já são 32 anos de uma parceria que se expande ano após ano. Mesmo com a expansão dos negócios e a migração para os shoppings centers, a ligação com a Cidade Alta continua, através de uma loja O Boticário instalada na Rua João Pessoa. Oitenta por cento do universo de pessoas que ele emprega é formado por mulheres. “Acho que a mulher enxerga mais, consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo”. Tanto gosta de empregar mulheres como de vender produtos destinados ao público feminino. A novidade mais recente é a boutique Swarovski, que encanta a quem passa em frente à vitrine da boutique, localizada no piso superior do Natal Shopping e administrada por ele e seu filho, Glauber. Swarovski é o nome dado aos cristais mais conhecidos do mundo da moda por sua delicadeza, precisão e aparência luminescente. A sede da empresa está na Áustria e a marca possui mais de duas mil boutiques no mundo e lojas próprias no Brasil. A Gentil Negócios foi quem primeiro lançou o modelo de fran-
chising da Swarovski no país. Antônio Gentil nasceu no município de Campo Grande, no interior do RN, onde mantém uma escola que desenvolve várias atividades e atende a cerca de 200 crianças. Também apoia o projeto social Espaço Cultural Cleto Sousa e a Casa de Cultura Popular, em parceria com a Fundação José Augusto. Diante de uma vida de muito trabalho e um sucesso sempre crescente, o empresário tira inspiração de coisas simples, como um texto que leu quando do seu primeiro contato com o empreendedorismo: “Vencer ou vencer. Não tem retorno”. A outra inspiração veio com a cena mais famosa do filme “E vento levou”, quando a personagem principal, Scarlett O´hara, disse que jamais sentirá fome novamente. Como Scarlett, se a necessidade gera a criatividade, outra palavra que faz parte do dicionário de Antônio Gentil é prosperidade.
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cosern
AMIGOS DA
Cidade
Maurício Cuca
Alta
e d a d i c a d s e z u As l
A história da Cosern (Companhia Energética do Rio Grande do Norte) faz parte da Cidade Alta, bairro onde a empresa está instalada desde o início do seu funcionamento, no ano de 1962, um ano depois de ter sido criada por Lei e regulamentada por Decreto Estadual. Criada com o objetivo de eletrificar todo o Rio Grande do Norte, a partir da energia produzida pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco - CHESF, a Cosern iniciou a construção de linhas e de redes no interior do Estado na década de 60. Neste período os serviços de energia elétrica da capital já estavam sob a responsabilidade da Companhia. Várias cidades potiguares passaram a contar com a energia que chegava de Paulo Afonso (como Taipu, Currais Novos, Acari), fato que contribuiu muito para o 22 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
desenvolvimento industrial e agroindustrial do Estado. No início da década de 60, quando a empresa foi criada, apenas 14% da população recebia o serviço de energia elétrica. Em 1965, o índice saltou para 39% da população. Em 1968, com 47 municípios energizados e 44.157 consumidores atendidos, a Cosern, com o apoio da ELETROBRÁS, incorporou ao seu patrimônio a Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil - CFLNB. Outra iniciativa importante para o crescimento da Cosern ocorreu com a incorporação da Companhia de Melhoramentos Mossoró S/A - COMENSA, em 1972. Durante 36 anos a distribuidora permaneceu sob o controle do Governo do Estado. No dia 12 de dezembro de 1997 a Cosern foi privatizada através de leilão público realiza-
do na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Controlada pelo Governo do Estado até 1997, quando foi privatizada na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN) foi adquirida pelo consórcio Guaraniana S/A (hoje conhecido como Grupo Neoenergia). No primeiro ano, já como empresa privada, foram investidos 40,6 milhões de reais na ampliação e melhoria do sistema de transmissão e distribuição. A expansão do consumo de energia da Cosern em 1998 foi de 11,3%, totalizando a venda de 2.518 GWh atingindo, ao final do ano, o atendimento a um universo de 625.771 clientes. Desde então, a COSERN vem mantendo constantes índices de melhorias nos indicadores de
Presente em 13 estados, o Grupo Neoenergia atua em toda a cadeia de energia: geração, transmissão, comercialização e distribuição. Também caminha para ser um dos maiores grupos privados do país em geração de energia elétrica. Possui capacidade instalada de 1.558 megawatts (MW) e deve chegar a 4.010 MW até 2019, por meio de novos empreendimentos como Teles Pires, Baixo Iguaçu, Belo Monte e 10 parques eólicos em construção em parceria com a Iberdrola. Com esses novos em-
preendimentos, será o responsável por, aproximadamente, 2,5% da capacidade instalada do Brasil.
Reconhecimento
A Neoenergia é a primeira holding privada do setor no Brasil a receber o grau de investimento da Standard & Poor´s (S&P), agência internacional de avaliação de risco de crédito. O reconhecimento pelo trabalho de excelência se estende às distribuidoras Coelba, Cosern e Celpe. dário zalis
qualidade do fornecimento. A empresa é a sexta maior concessionária de energia elétrica em número de clientes e a quinta em volume de energia fornecida, entre as 11 da Região Nordeste. Com mais de 1,25 milhão de clientes distribuídos por uma área de concessão de 52,8 mil quilômetros quadrados, a Cosern figura entre as melhores distribuidoras do país, segundo pesquisa da Abradee (Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica), e é reconhecida no Rio Grande do Norte como a empresa que mais investe na cultura potiguar por meio da Lei Estadual Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura. A Cosern fechou o ano de 2013 com 737 colaboradores diretos e uma força de trabalho que engloba 2.452 pessoas. Hoje, atende a 100% da população potiguar. O fornecimento foi universalizado desde 2009. Companhia de capital aberto, é controlada pelo Grupo Neoenergia, que está entre os 40 maiores grupos privados do setor elétrico brasileiro, e conta com 9,6 milhões de clientes na Bahia, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, onde controla, respectivamente, as distribuidoras Coelba, Celpe e Cosern.
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cosern
AMIGOS DA
Cidade
Fotos: arquivo Cosern
Alta
o alinhamento das práticas de gestão em prol dos direitos humanos, dos direitos do trabalho, da preservação ambiental, do combate à corrupção, além de relações éticas e transparentes com a sociedade.
Diretrizes
A gestão de pessoas na Cosern segue as diretrizes da holding e se pauta pela equidade e diversidade, com valorização do mérito e do aprimoramento profissional. A diretoria de Gestão de Pessoas e Administração do Grupo Neoenergia é responsável por estabelecer as principais políticas de gestão. Na Cosern, os funcionários dispõem de programas para formação de liderança, de gestão de desempenho e de preparação para a aposentadoria.
Gestão Ambiental Sustentabilidade
Desde 2006, a Cosern divulga anualmente o seu Relatório de Sustentabilidade utilizando o padrão da Global Reporting Initiative (GRI), organização não-governamental de caráter mundial. Com sua metodologia, a GRI busca conferir aos reportes de sustentabilidade a mesma utilidade e status dos relatórios e balanços financeiros. A Cosern é associada a organizações nacionais e internacionais que contribuem com diretrizes, indicadores, princípios e metas para a gestão sustentável dos negócios. Os pactos firmados orientam a empresa para foto: divulgação
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Na Cosern, o crescimento dos negócios vem acompanhado da busca pelo aprimoramento da gestão ambiental. A política para a área tem como princípios: - Redução e controle dos impactos sobre o meio ambiente; - Conservação da biodiversidade e dos recursos naturais; - Respeito às comunidades; - Educação e saúde como elementos de transformação social; - Transparência e diálogo. A política ambiental do Grupo Neoenergia orienta o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da Cosern. A Gerência Corporativa de Meio Ambiente é responsável pela gestão ambiental, cuidando do mapeamento das atividades, identificando sinergias e compartilhando as melhores práticas para todas as empresas do Grupo.
A Cosern adota um Sistema de Gestão Ambiental que leva em consideração o desenvolvimento sustentável, através da combinação do desenvolvimento econômico com atividades que promovem a melhoria da qualidade de vida e a preservação das riquezas naturais e culturais.
Cosern: mais de uma década investindo no potencial da cultura potiguar
A Cosern possui uma relação próxima com a cultura potiguar e anualmente direciona recursos para o setor. Alinhada às diretrizes do Grupo Neoenergia por meio do programa corporativo Energia para Crescer, os patrocínios realizados anualmente pela distribuidora têm como princípio básico o incentivo e o apoio às ações culturais como elemento de integração da empresa com a sociedade, de forma a contribuir com o desenvolvimento sustentável da região. No período de 1998 até 2014, a distribuidora alocou cerca R$ 32,622 milhões em patrocínios culturais e sociais, através de recursos diretos e leis de incentivo à cultura. Por meio da Lei Estadual Câmara Cascudo os valores somam R$ 25,590 milhões, sendo 20% do investimento viabilizado com recursos próprios e 80% através de renúncia fiscal. Este aporte destaca a companhia como a empresa que mais investe na cultura no estado do Rio Grande do Norte por meio desta lei. Na Lei Federal Rouanet, foram aplicados cerca de R$ 3,444 milhões e na Lei do Audiovisual, aproximadamente R$ 1,678 milhões. Ao longo deste período, diversos seg-
mentos da cultura norte-rio-grandense foram contemplados, tais como: música, dança, teatro, artes plásticas, literatura, fotografia, artesanato, além de restauração e manutenção de imóveis de valor artístico, histórico e cultural do estado. Os investimentos direcionados à cultura potiguar pela Cosern foram destacados através de diversos reconhecimentos recebidos pela distribuidora nos últimos anos no estado do Rio Grande do Norte. Em 2004 a empresa recebeu o Prêmio Hangar, criado em 1998, pelo produtor cultural Marcelo Veni, em reconhecimento ao apoio e incentivo disponibilizado à cultura local no ano de 2003; por cinco anos, 2004, 2005, 2007, 2008 e 2011, o Troféu Cultura, promovido pela revista Pódium e pelo jornalista Toinho Silveira, destacou a Cosern na categoria empresa apoiadora da cultura e, em 2014, a Cosern foi homenageada pelo jornalista com a outorga da Medalha de Mérito Cultural Djalma Marinho. Em 2008 foi outorgada à Cosern a medalha Mérito Cultural Jornalista Edmar
Viana no segmento empresa que investe na cultura potiguar. O Prêmio Cultural do Diário de Natal foi conferido à Cosern em 2007; e o Troféu Top of Mind, da revista Foco-RN, em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. A organização do Encontro Nacional de Dança Contemporânea entregou à Cosern o Troféu Empresa Amiga da Cultura em 2013 e em 2014, em homenagem aos investimentos realizados pela empresa na construção e preservação da cultura do estado. O Prêmio SBPC Cultural 2010, concedido pela UFRN, reconheceu a distribuidora pela iniciativa de preservação da cultura potiguar e crescimento social do estado por patrocinar a reedição e publicação de cinco obras do folclorista e historiador Luiz da Câmara Cascudo. Também em 2014, por ocasião dos 10 anos da Feira do Livro de Mossoró, a Cosern recebeu da organização do evento o Troféu Niná Rebouças para Amigos do Livro. O prêmio homenageia profissionais e empresas que criam, incentivam e patrocinam projetos que estimulam o hábito de leitura entre jovens e adultos do Rio Grande do Norte. fotos: Maurício Cuca
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ORLANDO PAULO
AMIGOS DA
Cidade
Alta
Precisão e pontualidade ao longo do tempo Dos tempos em que Orlando Paulo de Oliveira, ou melhor, Orlando Paulo, como é mais conhecido, vendia revistas nas portas dos cinemas Rex, Rio Grande e Nordeste, até hoje, lá se vão algumas décadas. Além da paixão pelo cinema, especialmente os filmes de faroeste, cultiva outra, justamente aquela que se tornou o seu ofício e a sua principal fonte de renda. Orlando é um ourives e um relojoeiro de mão cheia, extremamente detalhista e que conserva clientes fieis até os dias atuais. A organização é a sua marca principal. Basta dar uma olhada rápida no seu estabelecimento comercial, localizado na rua Coronel Cascudo, ao lado do famoso Bar da Nazaré, para comprovar que tudo está em seu devido lugar. Também não poderia ser diferente. Trabalhar com relógio exige muita precisão e uma boa parcela de concentração. Tudo isso começou antes de Orlando completar 20 anos, hoje com 66, quando decidiu fazer um curso de relojoaria por correspondência. Naquela época, curso por correspondência nas mais diversas áreas era comum nas revistas. Quando concluiu, recebeu um convite para fazer um estágio em Recife. Desde o início, abriu o comércio 26 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
na Cidade Alta, no mesmo local onde continua até hoje. Apesar de o comércio estar fraco, possui uma boa clientela (que passa de pai para filho), graças à dedicação que sempre teve ao trabalho. “Sou um profissional com a teoria e a prática”, orgulha-se. Fã de cinema, prefere os clássicos italianos aos filmes americanos. É admirador de John Wayne, ator que se tornou famoso por causa dos filmes de faroeste (Bang Bang). Conta que os points da Cidade Alta eram os cinemas, estes eram os maiores pontos de encontro dos namorados naquela época e, depois do filme, o lanche na Sorveteria Belém (ao lado do Cine Nordeste) e, mais recentemente, a Casa da Maçã, vizinha ao Cine Rio Grande. Em uma rápida volta ao passado, Orlando lembra o movimento na Praça Pio X, que também era ponto de encontro e de histórias de alguns prédios antigos, como um antigo pensionato que posteriormente passou a ser a sede do Poder Legislativo, a Assembleia Legislativa. Enquanto a juventude se encontrava nos cinemas, os políticos de Natal e do interior do Estado se reuniam na Praça Kenedy e no café São Luís para colocarem em dia as conversas. “Sobre o Beco da Lama há muitas histórias e con-
tradições em torno da sua origem. Mas, o certo é que era porque a rua ficava cheia de lama quando chovia. Ficava um beco da lama mesmo”, diverte-se. Orlando recorda ainda as lojas famosas e movimentavam o comércio local: a Casa Régio, a Girafa, as Casas Cardoso e tantas outras. “Essa moçada que trabalhava no comércio eram os fregueses do Beco da Lama, principalmente nos fins de semana, após encerrar o expediente. Hoje a situação se inverteu. Os bares e restaurantes da Cidade são movimentados durante a semana e nos fins de semana é muito parado. Isso tanto por causa do pouco movimento do comércio como devido à falta de segurança”, lamenta o ourives. Clientes de prestígio foram muitos. Cita os cantores famosos como José Américo e Waldick Soriano, que sempre passavam na relojoaria quando viam a Natal. O tempo passou, mas Orlando continua com o seu ofício na Cidade Alta, contando histórias, relembrando os tempos dos filmes em preto e branco, do namoro no escurinho do cinema, das histórias em quadrinho e fotonovelas que vendia nas portas dos cinemas.
Jaeci
Jaeci
arquivo
cinemas
Cine Rex - Inaugurado em 1936
Rio Grande - Inaugurado em 1949
Cine Nordeste - Inaugurado 1958
Enquanto isso, no escurinho dos cinemas
Rio Grande, Rex e Nordeste... Salvatore Di Vita é um cineasta bemsucedido que vive em Roma. Um dia ele recebe um telefonema de sua mãe avisando que Alfredo está morto. A menção deste nome traz lembranças de sua infância e, principalmente, do Cinema Paradiso, para onde Salvatore, então chamado de Totó, fugia sempre que podia depois que terminava a missa (ele era coroinha). No começo, costumava espreitar as projeções através das cortinas do cinema que o padre via primeiro para censurar as imagens que possuíam beijos, e fazia companhia a Alfredo, o projecionista. Foi ali que Totó aprendeu a amar o cinema. Em Natal, mais precisamente na Cidade Alta dos anos 40, o pequeno João
João Cortez, cinéfilo, com a sua primeira máquina de filmar, adquirida em 1967
Maria Cortez Gomes de Melo trazia certa semelhança ao personagem do filme Cinema Paradiso. Desde cedo, o cinema foi uma das grandes paixões de sua vida. Proibido de frequentar o cinema, pulava o muro da casa vizinha ao Cine Rio Grande (que ficava ao lado da Praça Pio X) e de lá chegava para, como Totó, espreitar os filmes exibidos na telona. “Meus pais me deram uma educação muito rígida e eu e meus irmãos éramos proibidos de ir ao cinema”. Os amigos de João Maria, que tinham mais liberdade, contavam sobre o que viam, enquanto a imaginação dele ‘viajava’ pelas histórias. “Lembro-me do primeiro filme que assisti: “A Canção de Bernadete”, por volta de 1953, estrelado por Jennifer Jones, que falava sobre a aparição de Nossa Senhora de Lourdes. Fiquei encantado com a Sétima Arte”, conta. Como ele não tinha dinheiro suficiente e nem a permissão dos pais para continuar frequentando as salas de cinema, durante os anos 50, João Cortez tinha um amigo (Marcos Ferreira Dantas) que morava na rua Felipe Camarão e possuía
um projetor de 16mm. O amigo alugava os filmes e foi aí que teve a oportunidade de assistir os grandes filmes que não podia assistir pagando. “Recordo de alguns deles: Barco das Ilusões, Mogambo, filmes de Faroeste, Os Três Patetas, O Gordo e o Magro, Charles Chaplin, filmes de Tarzan, desenhos animados da Disney, documentários, dramas, romances e filmes de guerra”. Aos doze anos, passou a vender garrafas, revistas e jornais velhos e, às escondidas, começou a frequentar os cinemas nos horários permitidos. “Na Cidade Alta os mais procurados eram o Rex e o Cine Rio Grande. Nas matinês, eu ia para o Rex vender e trocar revistas, até que o meu pai descobriu e rasgou todas”. O tempo passou e a paixão de João Cortez pelo cinema só aumentou. Começou a ler tudo sobre o assunto e a ‘acompanhar’ o sucesso dos grandes artistas das telonas. “O filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, descreve muito bem alguns momentos por mim vividos, desde o auge até a decadência dos grandes cinemas daquela época”.
Imagem do filme Cinema Paradiso
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Jaeci
AMIGOS DA
Cidade
Alta
O fotógrafo que eternizou Natal através das lentes Com o Major Theodorico Bezerra
O fotógrafo Jaeci Galvão com as suas várias lentes
Jaeci Galvão começou a fotografar muito jovem, após receber de sua mãe a primeira máquina fotográfica, com a qual fez as fotos mais importantes da Natal antiga. Os relevantes acontecimentos que marcaram época, os prédios através dos quais a história da Cidade Alta é contada e preservada foram clicadas pelas lentes de Jaeci. Mesmo tendo uma preferência pelas fotos aéreas e de casamento, o fotógrafo deixou a sua marca registrando a cidade. Atualmente, Jaeci não fotografa mais. O seu acervo hoje está sob a responsabilidade de Neide Rodrigues, sua ex-secretária, ex-esposa e amiga. Ele revelava as fotos em seu próprio laboratório e vendia. Chegou a vender fotos até para o exterior, como as fotos do Projeto Camarão e da Maísa, que exportava frutas para os Estados Unidos. Um dos grandes trabalhos que fez, já com cerca de 60 anos, registrou a passagem de um voo da extinta Transbrasil pela Esquadrilha da Fumaça. “Os aviões da esquadrilha formaram um leque e a aeronave da 28 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
Transbrasil cruzou por cima da esquadrilha. Essa fotografia rendeu muito a ele, em termos de reconhecimento, premiações. Foi tirada no Catre, em Parnamirim”. Neide lembra ainda os outros hobbies de Jaeci quando não estava fazendo o que mais gostava, que era fotografar. “Ele gostava muito de acompanhar os jovens. Adorava saltar de ultraleve, andar de motocicleta e participar de regatas. Sempre foi muito aventureiro. Adorava velejar em seu barco chamado “Mil e uma noites”. Outra paixão eram os belos carros e motos. Mas não gostava de ostentar. Na Cidade Alta, apreciava um bom bate-papo com os amigos no Café São Luís. Hoje, Jaeci está com 85 anos e tem 10 filhos. É um homem reservado, caseiro. Sempre foi muito discreto, fala pouco, observa muito e é culto (formou-se em Administração, fala inglês e um pouco do francês), gosta muito de ler. A fotografia? Continua nas suas recordações e na memória de muitos natalenses que reconhecem de longe a marca das lentes de Jaeci.
Com Luciano Toscano, tomando posse como Comodoro do Iate Clube
Ainda na posse como Comodoro do Iate Clube
O veleiro Mil e Uma Noites
Av. Deodoro da Fonseca
Rua João Pessoa
Praça Pio X na Avenida Deodoro da Fonseca (hoje Nova Catedral) Foto extraída do livro Fairwing Brazil
Av. Rio Branco
Av. Junqueira Aires
Antigo Mercado Público na Av. Rio Branco (hoje agência do Banco do Brasil) AMIGOS DA CIDADE ALTA | 29
Foto extraída do livro Fairwing Brazil
Autorretrato de Jaeci
AMIGOS DA
Cidade
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juarez alves
AMIGOS DA
Cidade
Alta
Uma vida dedicada ao
K a ra t ê A Cidade Alta guarda muitas histórias em suas ruas e becos, botecos, casarões, lojas do comércio local. Em meio a tantos personagens, boêmios, artistas, pessoas simples que moravam e trabalhavam eram expectadoras e, ao mesmo tempo, coadjuvantes dessa história de um bairro tão cheio de vida, independente de ser dia ou noite. Um dos pontos de encontro era a academia de Karatê Shoto Kan, de Alves. É ele mesmo quem conta como chegou e permaneceu na Cidade Alta por 30 anos (de 1970 a 2002). A academia ficava na rua Voluntários da Pátria, esquina com a rua Apodi. “Eu acho que
ao longo desse tempo cerca de cinco mil pessoas frequentaram a academia. Hoje, tenho alunos que estão comigo há cerca de 40 anos”, conta Juarez Alves Gomes. Entre os alunos, Alves lembra alguns: Sanderson Negreiros, João Batista Machado, Pedro Melo, Alberto Serejo, Paulo de Tarso, José Luis Alves, Dr. Antônio Martins e até o vice-governador Robinson Faria. E os que seguiram no Karatê: Gilson, Franklin, Marcos Patriota, Sérvulo, Alexandre e Adelino Barros (Camarão), Niltão, Vieira, Dedé e os irmãos Benivaldo e Benício. A rotina de Alves na academia era intensa. Começava às seis horas da
Isaac, filho de Juarez Alves, seguiu os passos do pai e é faixa preta de Karatê 32 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
manhã e chegava até dez da noite.
Interação com a vizinhança
Alves relata como foi a sua chegada ao bairro. Nasceu em Macaíba, mas logo veio com a família morar em Natal. Começou a praticar Karatê no Rio de Janeiro, enquanto servia como fuzileiro naval. Retornou para Natal em 1970 e decidiu dar aula, inicialmente no local onde hoje funciona a Assembleia Legislativa. Depois, foi para o América e o Aeroclube. Só então mudou a academia para a rua Voluntários da Pátria. “No início, o pessoal da vizinhança tinha medo por causa dos gritos que a gente dava nos treinos, mas depois as pessoas
Os amigos de Alves e frequentadores da academia
Depoimentos
foram se acostumando e a interação foi total com os vizinhos. Alguns começaram a frequentar a academia, como Joselito, Alexandre Pinto, Márcio Chacon e os irmãos Gilson, João Maria e Gilmar”, lembra Alves. Juarez Alves integrou a Seleção Brasileira de Karatê, participou de campeonatos Sul-americano e Pan-americano (no qual foi campeão em 1980, no Canadá). “Na Copa do Mundo, na Argentina, em 1978, quando o Brasil perdeu o Mundial, a equipe da Seleção Brasileira de Karatê usava um agasalho parecido com o da seleção de futebol. Quando chegamos ao aeroporto para embarcar para o campeonato, levamos uma vaia grande do pessoal que pensava que éramos jogadores de futebol”, divertese com uma das inúmeras histórias que fazem parte da sua trajetória. Aos 67 anos, Alves continua na rotina de dar aulas de Karatê, atualmente, fora da Cidade Alta, de onde saiu em 2002. Com toda a sua experiência, resume: “O que aprendi foi que aquele que é valente e briguento na rua, quando chega à academia mostra a sua verdadeira face de medroso. O que acho é que tudo, exatamente tudo, se aprende com disciplina”, conclui.
Alunos da academia
Alunos da academia
Sérvulo, ex-aluno de Alves, e atualmente professor de Karatê AMIGOS DA CIDADE ALTA | 33
paulo cunha
AMIGOS DA
Cidade
Alta
As mil facetas de um desportista nato Impossível ouvir Paulo Cunha descrever a trajetória de sua vida sem fazer uma ligação direta com o esporte, e não se empolgar. Com entusiasmo, relembrou alguns dos mais relevantes momentos nos anos em que se dedicou ao basquete (onde continua até hoje, como técnico), futebol, remo, natação, ciclismo e até halterofilismo. Paulo Cunha nasceu no bairro do Tirol, mas morou durante anos na Cidade Alta, nas ruas 13 de Maio (hoje Princesa Isabel), Vigário Bartolomeu, Voluntários da Pátria e Gonçalves Lêdo. Conta que se mudou para lá acompanhando os pais, estes tinham um comércio. Já na Cidade, foi estudar no Colégio Salesiano. Começou a trabalhar cedo, na Cooperativa dos Ferroviários, passando depois para o Departamento de Saneamento (Caern), a Força e Luz (Cosern), onde passou vários anos. Acompanhou a fusão da Força e Luz/ Cosern. Sua história de amor pelo esporte teve início no colégio, por volta de 1945. Nesta época jogava futebol com os colegas e até com os padres, que, mesmo de batina, desafiavam os garotos na quadra nos intervalos das aulas. Jogou em várias posições. Começava aí uma história que iria durar vários anos e trazer muitas alegrias, glórias mas também dissabores e uma certa dose de sacrifício. 34 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
Da quadra do Salesiano, Paulo Cunha passou para a escolinha de futebol do América. “Foi lá que conquistei o vice-campeonato. Depois, Ney Andrade me levou para o ABC, onde vencemos e fomos campeões. Faço parte da conquista daquela quarta estrelinha do ABC”, lembra orgulhoso. Simultaneamente, Paulo fazia ciclismo. Ele mesmo montou a sua primeira bicicleta. “Comprei as peças e eu mesmo fiz. Eu e os meus amigos formamos um grupo de ciclistas e vivíamos saindo para desbravar outros lugares sobre duas rodas. Naquela época a cidade tinha poucas ruas calçadas. Boa parte eram estradas, aí a gente aproveitava para pedalar”.
De magrelo a atleta forte
Depois, vieram o remo, a natação e o salto em altura, o halterofilismo e a força dinâmica. “Eu era magrelo e com a prática do halterofilismo passei a ser um dos atletas mais fortes do RN”. Mas, um incidente tirou Paulo do futebol. Ele relata que em um dos treinos do ABC, no bairro de Petrópolis (onde hoje é o CCAB Norte), Jorginho, que era craque do RN e seu ídolo, lhe deu um pontapé. “Eu me virei e dei outro nele. Eu era um ‘molecão’ desse tamanho (diz, levantando o braço para demonstrar a sua altura), Jorginho era pequenininho. Isso me desestimulou e me fez deixar o futebol. Depois, foram várias vezes lá em casa me chamar para voltar, mas eu não fui mais, pois nesta época, aos 18 anos, comecei a ingressar no basquete”. Paulo desistiu do remo para se dedicar ainda mais ao basquete. “Quando eu servia ao Exército, fui assistir a um treino na AABB. No intervalo, meu comandante comentou que eu não dava para jogar basquete porque era muito musculoso. Isso
serviu de incentivo para eu me dedicar com mais vontade ao basquete. Deixei o remo e comecei a estudar sobre o esporte”, afirma. Era 1955. “Comprei uma coleção de livros ensinando todas as regras do basquete. Era uma coleção de quatro livros em espanhol. Foi uma delícia, porque aliei o treinamento com os ensinamentos teóricos. Era uma obra completa com todas as regras do esporte. Nesta época, eu fazia o curso de técnico em contabilidade, mas isso não me impedia de treinar. Treinava todos os dias. O que errava no jogo eu treinava ainda mais. Acho que por isso eu me destacava. Tanto que, em 56, fui eleito o atleta Revelação do Ano. Logo mais eu estava sendo titular na AABB. Eu tive uma ascensão rápida. Se você me perguntar o porquê, eu respondo que é porque eu era atleta, no verdadeiro sentido da palavra. O centro náutico do Potengi foi a minha grande escola”. Nesse ínterim, quando iniciou 1956, a guarnição de remo à qual fazia parte sofreu uma derrota e o chamaram de volta. Voltou e conseguiram ganhar o campeonato. Esse foi o seu único campeonato no remo. Naquela época, os atletas se viravam para se manter no esporte. Não eram remunerados por isso. Paulo Cunha só começou a ser remunerado quando passou a ser técnico nos anos 60, mas enquanto era jogador, não recebia nada.
Campeonatos
Até 1958, o RN participou de três campeonatos brasileiros. “E, pela primeira vez, a equipe do Rio Grande do Norte ficou entre as cinco melhores do país. Nós conseguimos, nesse campeonato, a conquista de um campeão brasileiro de lance livre, o Nilo Machado; o segundo lugar do Brasil em lance livre; fomos o quinto lugar no Brasil; fomos campeões do Norte/Nordeste e conquistamos a Taça Disciplina para o técnico José Augusto Bezerra de Menezes. Pra mim, ele foi o maior disciplinador do esporte”. Nessa época, treinava entre os maiores craques do país, ainda morava no Rio de Janeiro e estava na seleção brasileira. Depois que saiu da seleção e retornou a Natal, diminuiu o ritmo de jogo porque teve um problema de saúde. Quando estava em recuperação, por volta de 1962, sofreu uma fratura no pé. Era época da sua terceira convocação para a seleção brasileira. Ele estava em uma pré-lista para ser convocado, mas enquanto era observado e aguardava a convocação, sofreu um duro golpe do destino: um choque elétrico marcaria a sua vida. Conta que depois de um dos treinos, já no vestiário, avisaram que o chuveiro estava dando choque. “Eu fiquei conversando e acabei esquecendo esse detalhe. Quando terminei o banho, ao tentar fechar a torneira a minha mão ficou presa. Tinha
outra torneira embaixo e quando eu consegui me soltar, caí e minha mão bateu nessa outra torneira. Eu estava sozinho. O pessoal já tinha saído e estava me aguardando no ônibus. Consegui me levantar, sair e ser encaminhado ao atendimento médico. Mesmo depois desse incidente eu joguei, mas o rendimento foi baixo. O choque havia me prejudicado bastante (e acho que eu sinto as consequências até hoje)”. Devido ao incidente Paulo perdeu a sua maior habilidade no basquete, que era o salto. “Não pude mais saltar, por ter perdido um pouco da mobilidade do braço atingido pelo choque”. Continuou trabalhando como técnico de basquete. Em 1977, voltou às quadras como jogador e terminou sendo campeão (ao lado dos atletas que treinava). Permaneceu integrando times de basquete nas empresas por onde passava, inclusive na Cosern. “O basquete sempre me ofereceu muita coisa. Conheci muitas cidades no Brasil e até alguns lugares fora do país. Agora estou escrevendo sobre o basquete. Assisto a vários programas sobre o esporte. Faço palestras. O basquete continua a fazer parte da minha vida”. Ao mesmo tempo em que o seu relato transmite um certo saudosismo, é possível sentir nas suas palavras a satisfação de ter dedicado a sua vida ao esporte. Aquela sensação de ter feito o melhor, a sensação de dever cumprido. AMIGOS DA CIDADE ALTA | 35
ALCINEY
AMIGOS DA
Cidade
Alta
“Quando me mudei para a Rua Santo Antônio, na época em passei na faculdade de Educação Física, na UFRN (turma 1985.2), também entrei no Banco Mercantil do Brasil, como digitador, na compensação noturna. Trabalhava de meia noite às seis da manhã. Era uma correria. Saía do banco e ia para a UFRN, pegando o ônibus na Rua Princesa Isabel. À tarde ia para os treinos no ABC, já profissional e, à noite, estava no banco. Sempre que ia para o Banco, passava no Chapinha Lanchonete para tomar aquele suco de Jaca com leite (risos). Foi um tempo muito legal, de experiências diferentes”. “Podia-se caminhar na Cidade Alta a qualquer hora, claro que com uma certa atenção, mas sempre quando precisava de ir para casa de madrugada, ia sem problemas. Lembro muito de um guarda do Banorte, que ficava em frente ao Mercantil do Brasil, que sempre fazia a minha guarda (risos), porque no Mercantil não tinha vigia”. “Falar sobre a Cidade Alta é sempre um prazer, principalmente quando se fala na avenida Rio Branco e nas ruas Santo Antônio e Padre Pinto, onde morei. Lembro de quando eu acordava cedo para ir para aula no Colégio Imaculada Conceição e caminhava pelo comércio, na Rio Branco. Depois do colégio, no turno da tarde, meu destino eram os treinos no ABC”.
Alciney e o caminho certo
Por Rubens Lemos Filho
Alciney jogava tanta bola, mas tanta bola, que Deus preferiu abrir mão de um pastor. Alciney é evangélico. O Fininho, um dos amigos que quero mais bem na vida, simplesmente flutuava em campo, numa classe de regente austríaco. Alciney jogava de volante. Cabeça de área uma ova, cabeça de área é chamar para um duelo de pistola. Tirava a bola do adversário numa simplicidade irritante, sem machucá -lo, jogava de cabeça erguida, passos largos, passes medidos, dribles miúdos trazidos na sacola do futebol de salão, do qual teria sido um dos melhores do país. Foi o melhor e mais sensato de um geração brilhante revelada pelo ABC em 1984 quando havia categoria de base voltada ao futebol e 36 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
não à criação de lutadores ou maratonistas. Alciney é do tempo em que menino gostava de bola tanto quanto de mulher, até pela fase da puberdade ainda não ter explodido. Saí muitas vezes a pé e satisfeito, para ver Alciney jogar no Estádio Juvenal Lamartine, a duas quadras da casa onde até hoje vive minha mãe e onde morei minha infância e adolescência, noves fora os intervalos para exílios terríveis. Nunca vou gostar de viajar porque sempre que viajei jovem, viajei obrigado, à força, contrafeito, traumatizado. É outro papo. Estou escrevendo é sobre Alciney Wanderley, criado ali perto do cabaré de Maria Boa, filho muito bem criado pela saudosa e alegre dona Zélia, estudante do Colégio
Imaculada Conceição, território onde sua geração aprendeu a reverenciá-lo como craque acima do normal. Alciney, que conheci por um amigo comum, Derocy Fernandes, Deró que na encarnação passada (se é que existe reencarnação, eu acredito) era um time de futebol de botão, seu vício vesperal de sábado há duzentos anos. Deró me levou a Alciney e desde os anos 1980 somos três amigos não necessariamente frequentes, mas certamente sólidos e intocáveis. Mexer com um dos dois é virar meu inimigo. No tempo do Juvenal Lamartine, Alciney lançava longo para o ataque depois de dominar a bola com fleuma chanceler. O gramado, uma buraqueira e ele lá, parecendo passear pelos salões do Palácio de Buckingham. Sempre observei algo de britânico em Alciney. Mesmo quando estava no ônibus lotado que o levava para casa, do treino em Morro Branco, antiga sede do ABC. Pontual, meticuloso e nunca chamou palavrão, o que era inadmissível para um boca-suja assumido feito eu, que considera o palavrão essencial para a
prevenção ao ataque cardíaco. Quem viu futebol em Natal nos últimos 10 anos, só viu um volante de futebol assemelhado ao de Alciney no ABC. O fabuloso crioulo Ricardo Oliveira. Ambos técnicos, criativos e desmoralizadores de meio-campistas. Jogavam olhando para o horizonte, sem o menor sinal de incômodo com o barulho da torcida.
Depois que saiu do ABC, Alciney jogou em Minas Gerais, na Ferroviária de Araraquara e plantou sementes firmes em Santa Catarina, ídolo do Joinville e campeão pelo
Criciúma. Lá, jogava com a camisa 10. Cheguei a vê-lo por aqui em jogo de Campeonato Brasileiro, marcando, sem pancadas, o esplendoroso Geovani, que passou breve temporada no ABC. Durante certo período, jogava futebol profissional, estudava (formou-se em Educação Física) e trabalhava à noite num banco, no setor de compensação de cheques. Voltava do antigo Machadão ou do interior, direto para a agência, situada na Avenida Rio Branco, centro de Natal e depois para um colchonete. De manhã, treino. À tarde, mais treino e aula na universidade. Hoje, aos 48 anos e careca, está pelos Emirados Árabes, vive em Dubai, onde moram os bacanas lá dos tapetes mágicos. Virou auxiliar-técnico e estudioso sore futebol. O seu trabalho é com o treinador Paulo Bonamigo, um grande amigo de Alciney, quase irmão. Eles se conheceram no tempo do Joinville, Bonamigo no comando, Alciney de capitão. Depois, formaram uma dobradinha eficiente que passou por Palmeiras, Botafogo, Portuguesa, Paraná Clube e seguiu para milhas distantes do Brasil.
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edmo sinedino
AMIGOS DA
Cidade
Alta
Por Edmo Sinedino
Eu, confesso, não sou um puro Xaria. Sou por adoção e por paixão. Cheguei à rua Gonçalves Ledo em 1971, após o tricampeonato mundial daquela turma “ruim” de bola comandada por Pelé. Nascido em São Tomé, tendo vindo em cima da carroceria de um caminhão, tal qual retirante, com mudança e tudo, em 1965. Antes, moramos na Rua São Paulo (Alecrim), Vila da Caixa (Quintas) e, depois, Rua Omar Medeiros, antes, um pouco, da subida do Baldo, já chegando à parada final. Antes da Cidade Alta mesmo, na Omar Medeiros, rolavam peladas inesquecíveis no Mangueirão, onde hoje é o terreno da Caern, perto da Cosern e do viaduto do Baldo. Foi ali que um desinfeliz chamado “Galego” me colocou o apelido de PPO. E PPO me acompanhou até me tornar um jogador profissional no Alecrim. E ainda hoje tem quem me chame assim. A minha história na Cidade Alta, na Rua Gonçalves Ledo, começou quando nem tinha pavimentação. As peladas rolavam doidas, mas dificultosas, afinal, a rua é inclinada demais. Por isso, a Santa Cruz da Bica, pelada 38 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
de dois contra dois, tendo o espaço de um dos bancos como trave, se tornou nosso “Maracanã”. Muitas vezes, a disputa envolvia mais de 30 duplas começando cedo da tarde e entrando pela noite. Isso quase todos os dias. Sim, porque a pelada no “campo do Cosern”, na Régulo Tinoco, era somente aos sábados e domingos. Não dava para ficar tanto tempo sem jogar bola. Comecei, aos poucos, a conhecer as figuras que fariam, para sempre, parte da minha vida. Minha primeira amizade mais confiável, se bem me lembro, foi com Carlos Eduardo Linhares Rebouças. O maior craque de futebol de mesa que vi jogar em toda minha vida, e até hoje. Quantas e quantas surras levei no seu campo, na sua casa. Foi ele quem me levou para treinar na escolinha do América. E quanta generosidade! Beijinha, era assim que Olinto Galvão o chamava (Beijinha era o pai de Carlos, ex-craque e ex-colega de time de nosso treinador). Jogava de pivô, e eu também fui treinar de pivô. Quer dizer, ele levou um concorrente forte. Eu, todo mundo dizia, jogava muito futebol de salão, não futsal. A amizade com Carlos me ligou aos
demais peladeiros e tudo que fazíamos, quase sempre, acabava em bola. Enlouquecíamos a vizinhança com nossos cruzamentos na área, fazendo os portões das garagens de trave. Nessa época, acho, conheci o Roberto Lili, que sempre estava disponível para ser o goleiro. Todo e qualquer lugar servia para jogarmos.
Primeiros passos no futebol
Acho que o América foi minha primeira referência futebolística de verdade. Era a melhor coisa do mundo treinar às quartas e aos domingos, na velha quadra da sede social da Rodrigues Alves. Sentíamos o orgulho de fazer parte de um grande clube, oficialmente, acho. Lembro-me de nossas “orações” para que nunca chovesse nos dias de treino. Recordo sempre emocionado da minha primeira medalha de campeão. Um torneio interno (era menino demais, dava para fazer muitos times) marcado por Olinto e homenageando diretores ou exdiretores do América. O meu time tinha como padrinho o Procópio Neto. Fomos campeões, e nunca me saiu da memória a alegria do gentil
jornalista, que era nosso vizinho da Voluntários da Pátria, pagando lanche para todos nós após a “conquista”. Saí do América, loucura minha, claro, depois voltei pelas mãos de Arturzinho, uma das figuras mais queridas que conheci na minha história de jogador de futsal e depois jornalista. Ainda joguei futebol de bola pesada no América por muitos anos, ao mesmo tempo em que começava minha carreira no futebol de campo. Depois de tentar um “peneirão” no ABC, não joguei nem cinco minutos, me inscrevi no Força e Luz, de Ranilson Cristino, onde permaneci até o final de 1978, quando foi “negociado” com o Alecrim. Trocado por 30 pares de chuteiras, 30 pares de meiões e 10 bolas. Ranilson Cristino diz, sorrindo sempre, que “Seu” Bastos, dirigente querido do Alecrim na época, nunca pagou. E eu bem sei que Ranilson me negociou com o Alecrim torcendo para que eu vencesse na vida como jogador de futebol. O time verde era terceira força e me daria mais oportunidades, acreditava. Futebol de salão no América, futebol
de campo no Alecrim, até o dia em que assinei contrato profissional e fiquei privado da quadra. Senti muita, mas muita falta dos meus amigos queridos, mestres, do América – Artur Ferreira (técnico), Cláudio e Nilson (goleiros), Beto Coronado, Exmar Tavares, Juritinga, Ricardo Bezerra, VemVem, Ítalo Anderson e tantos outros. Joguei futebol por mais de 14 anos no Alecrim, bicampeão jogando nos anos de 1985/86, emprestado algumas vezes (sempre por brigas com dirigentes) para Botafogo/PB, Treze/PB e Ferroviário/CE. Só “barca furada”, como se diz. Isso, na época. Não dei sorte nesse quesito empréstimo. Quando Náutico, Santa Cruz e Vitória quiseram me levar, ano de 1982, talvez a minha melhor fase na vida (treinado pelo querido mestre Ivo Hoffman), “seu” Bastos não me cedeu. Dizia que eu era “patrimônio do Alecrim”.
Bandeira
Parei de jogar aos 30 anos. Fugindo de dirigentes ruins e de uma imprensa que sempre foi madrasta com os “pratas de
casa”. Ontem, tanto quanto hoje, a maioria só valoriza jogador de fora. Talvez por isso, inconscientemente, entrei para o jornalismo para defender os meninos da terra, fazer da valorização deles a minha “bandeira”. Minha lembrança mais honrosa, claro, os títulos conquistados, mas principalmente o fato de ter recebido muitos elogios do maior comentarista esportivo que o Brasil já produziu, João Saldanha, no jogo Botafogo/RJ 2 x 1 Alecrim, no Maraca, em agosto de 1986, que me colocou na lista de grandes jogadores que tinha visto jogar no maior estádio do mundo. E chegou a me indicar para o Botafogo, seu time do coração. Aqui em Natal, “comentarista” como Lauro Neto, para citar um exemplo, dizia que eu era apenas um “bom jogador”, e ainda compensava: “é muito cabeça quente, não pode jogar”. Vai ver tinha razão. Depois do futebol, o futebol. Depois de vidraça, pedra. Tornei-me jornalista esportivo, 14 anos de Diário de Natal, depois rádio, tevê e vivo disso até hoje. Querendo bem, mesmo que muita gente não me queira tanto.
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homero brandão
Gabriela, esposa
Ao lado da atriz Malu Mader
AMIGOS DA
Cidade
Alta
e Patrícia Pillar
Com os irmãos (Edna, Edmar, Elda e Duda) e os pais
Uma vida de muitas emoções Outro personagem que tem muitas histórias pra contar da Cidade Alta relembra, com saudade, dos tempos que se divertia durante o dia com os amigos da Cidade Alta e curtia à noite nos mais badalados points de Natal. “Estudei no São Luís e depois no Colégio Marista. Eu ia a pé todos os dias para o Marista. O auge da rua era o ‘Arena da Pracinha’, aquelas peladas na Praça Santa Cruz da Bica. “Como é que dava pra jogar bola em um lugar tão pequeno? Seis metros por quatro. E não era só criança não. Adulto também jogava lá. Era o melhor da Cidade. Andava mais com a família Pereira Pinto (Dr. Anchieta, que é meu padrinho), e os filhos Alexandre, Fred, Aninha, Fernando e Ceiça”.
O acidente
O dia 31 de julho de 2003, na beira-mar da praia de Caiçara do Norte, marcou para sempre a vida de Homero. “Foi a primeira vez na vida que eu tirei férias. Acordei na pousada e fui fazer um passeio em Samurai (jipe 4x4). Tinha comprado o carro há apenas dois meses. O carro planou, deu quatro capotadas e eu fiquei no local das nove da manhã até uma hora da tarde aguardando o socorro. De lá não me levantei mais. Eu estava com minha esposa (Gabriela), a filha dela e a mãe. Ninguém teve nada, apenas eu. Graças a Deus. Todas as coisas na vida eu encaro com normalidade. Acho que tudo tem um porquê. Na vida um dia é bom, outro é ruim, e assim vai. Sobre os personagens da Cidade Alta, lembro-me de Luís Curupira, que era o maior paquerador da região. Ele dizia que o pai era sócio da Cosern. Todo mundo tinha admiração por ele. O único na época que andava ‘na beca’ era Fabinho. A mãe dele trazia tênis Adidas, All Star, tudo da Zona Franca de Manaus. Não lembro quando me mudei da Cidade Alta para Candelária, mas pelo menos três vezes por semana eu ia na Voluntários da Pátria. Ficava lá até nove horas da noite, pegava o último
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ônibus e voltava para Candelária. Como esquecer pessoas que marcaram a minha juventude? As padarias de ‘seu’ Werton e de Eridan; as mercearias de Ézio, ‘seu’ Joaquim, dona Judite; a escola de datilografia Trury (de dona Amazonina e seu Agostinho); dona Maria e seu Zé (que vendiam almoço); Neto (com a sinuca da miscelândia); Burrão (que alugava bicicleta), e a academia de Karatê de Alves. Lembro e lamento a morte prematura de João Maria (João Grandão) e de Cláudio, que morreram muito jovens. Uma pessoa que merece a minha homenagem é dona Raimunda, mãe de Anjinho. Ela cuida do filho desde que ele sofreu um acidente em uma cirurgia. É um exemplo de mulher. Merecia uma estátua pela sua dedicação a Anjinho”.
Muita curtição na noite natalense
“Na época das boates, eu curti muito. Administrei por um período a Royal Salute, Calabouço, Clube Sete e Pool Music Hall (essas três últimas no Centro de Turismo). Eu arrendava a boate aos domingos e fazia a domingueira. A última na qual trabalhei foi a Flash, que administrei juntamente com Dickson Medeiros (Memeia). Foi, talvez, o melhor período da minha vida. Uma época muito boa. Depois das boates, eu abri uma empresa de eventos, a HB Promoções. Naquela época, não existia música baiana, o auge era o forró. Eu promovia shows no Zás Trás, América, Centro de Turismo, Macaíba, Parnamirim e em outros municípios do interior do Estado. Os artistas com quem eu mais trabalhei foram José Orlando e Eliane. O Chaplin era o lugar que reunia todo mundo na noite natalense. Foi uma referência para o pessoal da década de 80. E a praia dos Artistas, com seus bares e barracas. Clube do Bandern também era outro point. Na época da juventude, eu aproveitei demais a vida. Era possível se divertir, sair com os amigos, mesmo sem dinheiro. Muitas vezes, eu voltava a pé das festas, de madrugada, e não acontecia nada. Era uma cidade tranquila”.
Depoimentos
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roberto Depoimentos lili
AMIGOS DA
Cidade
Alta
! ! ! a a a a r r o P Bora
Por Edmo Sinedino
Cidade Alta, bairro dos Xarias, de tantas histórias, figuras, atletas, acontecimentos. Saudades da Santa Cruz da Bica – festas anuais, missas, encontros, apresentação de pastoril, lugar que já foi abençoado um dia, hoje abandonado. Mas me deixem falar de um personagem da Cidade Alta. Esse merece registro em qualquer publicação que compreenda o trecho do bairro, da circunferência das ruas Rio Branco, trecho pequeno da Apodi, Vaz Gondim, Gonçalves Ledo, Voluntários da Pátria, Santo Antônio, Padre Calazans e Padre Pinto. Nesse perímetro, as igrejas de Santo Antônio, mais conhecida como Igreja do Galo, Matriz-Catedral, por trás a Praça Padre João Maria, em frente à Praça André de Albuquerque, lá embaixo - em frente ao prédio da Cosern - dividindo o final das ruas Voluntários e Santo Antônio, a Santa Cruz da Bica. 42 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
E tinha, tivemos por muito tempo, o Mercado da Cidade Alta. Nosso personagem, que nasceu e cresceu na Voluntários da Pátria, viu de perto o incêndio que destruiu esse centro do comércio de nossa cidade, em 1967. Ele conta que as fagulhas iluminavam o céu e, mesmo diante do desespero de tanta gente que chorava, corria e se desesperava, não deixava de ser, para ele, um acontecimento inesquecível. O nosso personagem, vocês já devem estar curiosos, era conhecido por Roberto Lili. Roberto Luís da Costa Barbosa, nome de batismo de uma figura que, ao longo dos anos, se tornou símbolo do bairro. Roberto Lili, como todos os jovens, passou por várias fases na vida. E já foi conhecido, sem qualquer problema, por “Rei das empregadas domésticas de todo o pedaço”. Ele tinha um adversário que rivalizava com ele e, talvez, o batesse, mas esse eu
não posso citar o nome na matéria. Roberto Lili foi aluno, com muito orgulho, do Curso de Edificações da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Suas peripécias como aluno, também, por si só, já daria um livro. Imitava peru e cachorro na sala de aula e em um certo dia de festa do esporte, disputa de título entre cursos, teve a “brilhante” ideia de soltar fogos de artifício dentro de um ginásio (ainda bem que o supervisor Anecildo Batista de Carvalho o flagrou e levou para a presença do diretor). Foi salvo de expulsão porque Arnaldo Arsênio de Azevedo, diretor, era um desportista e entendia um pouco das loucuras da paixão. Sim, e por saber também que Roberto Lili era apaixonado pelo ABC, que também era o time do coração do querido diretor. Arnaldo Arsênio, para registro, que marcou época na Escola, é pai do promo-
tor de Justiça, conselheiro do ABC, pessoa muito querida de todos também, Augusto Azevedo, mas voltemos ao Roberto Lili. Vamos passar pelos complicados e viciados, anos 80. Vamos só dar uma relembrada em passagens marcantes. Roberto Lili chegou um dia, adolescente, a participar de um “peneirão” no ABC, seu time de coração. De verdade, ele sonhou em ser goleiro do Mais Querido. Um treino. Uma batida de cabeça na trave. Um tremelique daqueles. Um desmaio e fim de qualquer perspectiva de carreira. Os amigos disseram que, ao acordar do desmaio, ao olhar para Maranhão, treinador da época, teria dito: “Maranhão, eu vou dar muitas alegrias à torcida do ABC”, e foi só. Roberto Luís da Costa Barbosa já foi vigia e zelador da Academia de Karatê Shoto-Kan, do Mestre Juarez Alves. Ele ficava com a chave e dormia na Academia, mesmo sendo sua casa distante somente pouco mais de dez metros e na mesma rua. Ele tinha seus “motivos” para dormir na Academia. De quando em vez, pintava uma “convidada” especial.
A mais famosa de todas essas “convidadas” a subir às escadarias não teria mais de um metro de altura, mas “foi” assim mesmo. Roberto Luís casou com o amor de sua vida, Iracema, constituiu família, dois filhos – Juliana e Roberto Luís Júnior – depois separou. Normal. Ele conta a história toda dizendo que a sua sina é a Cidade Alta. Morou com a esposa e filhos por muitos anos no Bairro Latino (a esposa e filhos ainda moram lá), mas depois, vejam só, voltou para a Cidade Alta. Hoje, mora sozinho, apesar de ter recebido por muitos meses uma visita mandada pelos “contra-caboclinhos” para infernizar sua vida. E como infernizou... foi salvo por um anjo, mas isso é uma outra história dentro de sua história. Vejam, vejam o destino: sabem onde ele reside hoje, aos 57 anos? No mesmo prédio, agora dividido em dois apartamentos, onde funcionou por muitos anos a Academia do Mestre Alves.
É ou não é coisa do destino?
Roberto Luís. Percussionista dos bons. Faz coisas inacreditáveis com o instru-
mento tan tan. Tanto que um dia, saindo da adolescência, recebeu um convite para viajar e tocar pelo mundo. Acho que foi o músico Joça que o chamou para colocar o pé na estrada. Dona Raimunda, sua mãe, não deixou, diz. Na verdade, na verdade, ele, de novo, não teve coragem. A mesma coragem que não tinha para ser goleiro em dia de grandes jogos pelo time da Cidade Alta. Roberto Luís não foi goleiro, não se tornou músico, percussionista, não foi cantor, apesar de ter uma bonita voz, entretanto se tornou, vejam só, regente da torcida do ABC. Ele é conhecido por toda a torcida do ABC e por quase toda a cidade que gosta de futebol pelo apelido de Bora Porra, torcedor-símbolo do Mais Querido. Na Cidade Alta, onde cresceu, se criou, saiu e retornou, é querido por todos, sem exceção. Roberto Lili é um daqueles casos de unanimidade que não é burra. Narrando casos do torcedor Bora Porra, já publiquei no meu blog no portal Nominuto umas vinte histórias de suas presepadas de amor pelo alvinegro.
AMIGOS DA CIDADE ALTA | 43
porta retrato
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AMIGOS DA
Cidade
Alta
AMIGOS DA CIDADE ALTA | 45
Artistas do bairro
AMIGOS DA
Cidade
Alta
Fábio Eduardo
Artista Plástico potiguar, com técnica de óleo sobre tela. Usa em sua temática predominante as artes populares que englobam: Danças, Autos e Lendas.
Marcelus Bob O grafismo de
A Cidade Alta viu crescer muitos artistas. Grande parte deles produzia a sua arte em meio à boemia do bairro, que servia como fonte de inspiração. Um dos maiores exemplos dessa “leva” de artistas é Marcelino William de Farias, ou melhor, Marcelus Bob, nascido no Paço da Pátria. Suas principais referências foram seu pai, José Pedro de Farias Filho - repentista e escultor -, e sua mãe, 46 | EDIÇÃO ESPECIAL/2014
Odete do Carmo Farias, que o ensinou a executar os instrumentos de corda. Marcelus Bob é um autodidata na arte do grafismo. Começou a pintar na década de 80. Sua primeira exposição intitulada “Marcelus Bob Expõe Sol” foi realizada na Galeria Câmara Cascudo, a partir da qual participou de outras tantas, tanto individuais como coletivas.
O artista plástico foi várias vezes premiado por suas obras, como o Prêmio Newton Navarro e o Prêmio Governo do Estado, ambos da Fundação José Augusto. Outras premiações foram o Prêmio Circuito de Arte do Nordeste e o IV Salão de artes Plásticas da Cidade do Natal, da Capitania das Artes. A repercussão do seu trabalho o fez ser incluído, no ano de 2005, entre os 100 maiores artistas de vanguarda do mundo, segundo a revista alemã Neue Blätter, ganhando repercussão internacional. Sua arte faz parte do acervo da Pinacoteca do Estado do RN mas também pode ser encontrada em 12 países europeus e em toda a América.
L a vo i s i e r
Lavoisier Cunha de Araújo, 40 anos de Cidade Alta: pintura, caricatura e paisagismo.
Jotó
Ângelo Desmoulins - artista plástico, cercado de ferramentas, cores e arte em seu ateliê, no Beco da Lama, onde produz belas molduras para as obras de vários artistas. O homem frágil de barba branca e visual sereno nos mostra em cada trabalho uma lição de vida e um encontro com a sensibilidade.
Alcione Gualberto
O músico e professor Alcione Gualberto de Sá morou na rua Santo Antônio (Cidade Alta) por quase 11 anos. Iniciou sua carreira musical no ano de 1975, na banda de música da Escola Estadual Winston Churchill, sob a orientação do maestro Lourival Cavalcanti. No ano seguinte, ingressou na Escola de Música da UFRN para estudar trompete e teoria musical. Em 1988, entrou no curso de Educação Artística, com habilitação em música (UFRN). Foi regente da
banda de música do Churchill, no período de 1980 a 1985; da banda de música do Sesi, de 1982 a 2004, e regente da Banda Sinfônica Municipal de Natal. Atualmente, é professor de violão e trompete no Solar Bela Vista. Participa, como cantor e guitarrista, da “Banda Metrópole”, com três amigos, fazendo apresentações em casamentos, aniversários, formaturas e outros tipos de eventos. AMIGOS DA CIDADE ALTA | 47
Artistas do bairro
AMIGOS DA
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Grupo Teresa Quintiliano
Música para Eventos
Nascida na Cidade Alta, aos 10 anos, iniciou os estudos de piano e órgão, por influência da sua avó - Dona Francisquinha. Aos 11 anos, já fazia algumas participações na igreja como organista e mais tarde veio a assumir o cargo. Graduou-se em Educação Artística com habilitação em Música (1987) e em Bacharelado em Piano (2003), ambos pela UFRN. Como desejava diversificar sua atuação a outras áreas do conhecimento, ingressou no curso de Direito da UnP e
atualmente é também advogada, nas áreas Civil, Consumidor, Empresarial e Trabalhista. Imprime a sua marca pela maneira com que satisfaz as necessidades e expectativas da sua clientela, sempre com qualidade, seriedade e compromisso. O nome do grupo surgiu em 2002, quando Teresa Quintiliano que, na época, já era conhecida pelos principais cerimoniais da cidade, além de outros profissionais da área, aproveitou para formar o seu
Valério Sou t o Valério Henrique Marques Souto, músico por vocação, apaixonado pela arte, iniciou sua vocação artística na Igreja do Galo tocando em missas e casamentos. A paixão pela música ultrapassou as barreiras e hoje trabalha em eventos como casamentos, missas, recepções, aniversários e eventos em geral, voltado mais para o estilo MPB. Continua morando no bairro pelo qual é apaixonado e onde sempre viveu, a Cidade Alta. Contatos para eventos: (84) 8857-5784 / 9932-6510.
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próprio grupo. Reuniu músicos de alto nível, com formação pela ESMUFRN e também integrantes da Orquestra Sinfônica do RN, além de cantores de timbres belíssimos. O grupo tem realizado algumas parcerias musicais que vem dando certo, como com o cantor Valério Souto, personalidade conhecida no bairro da Cidade Alta, pelo seu envolvimento com a música. O grupo oferece vários tipos de formações instrumentais e vocais que se encaixam de acordo com o perfil de cada cliente: piano, violino, viola, violoncelo, flauta transversal, sax, vozes feminina e masculina, quarteto vocal, orquestras de câmeras, clarins. Realiza todos os tipos de eventos, desde casamentos, colações de grau, missas e atos ecumênicos, aniversários, bodas e solenidades em geral.
Grupo Teresa Quintiliano Rua Voluntários da Pátria, 763 Cidade Alta - Natal/RN Telefones: (84) 3025.4788/8894.1804 Email e facebook: teresaquintiliano@hotmail.com
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samba
20 anos trabalhando em
defesa do Centro Histórico
Por Dorian Lima
A Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências – SAMBA é uma entidade de caráter civil, social, cultural, de lazer e entretenimento, sem fins lucrativos. Foi fundada no dia 30 de Julho de 1994, portanto este ano completou 20 anos. Seu foco principal é contribuir para o resgate, a restauração, a manutenção e a preservação do Centro Histórico da Cidade do Natal, contribuindo com o comércio do local e buscando a geração de mais trabalho e renda. Durante esses vinte anos de atividades, a SAMBA desenvolveu em parceria diversas ações culturais, sociais, de lazer e entretenimento, entre as quais destacam-se as comemorações do Dia Internacional da Mulher (8 de Março), Dia Nacional da Poesia (14 de Março), Dia Nacional do Artista Plástico (8 de Maio), Dia Nacional do Folclore (22 de Agosto) e Dia Nacional do Teatro (19 de Setembro). Entre seus principais parceiros estão a Prefeitura Municipal do Natal/FUNCART, o Governo do Estado do Rio Grande/Fundação José augusto e, principalmente, o SEBRAE/RN. O primeiro Diretor Executivo da entidade foi o médico e Agitador Cultural João Batista de Lima Filho (Zizinho); o segundo, o jornalista, poeta e artista plásti-
co Eduardo Alexandre de Amorim Garcia, também conhecido como Dunga. Depois, foram eleitos o Professor Ubiratan Lemos e o cineasta e publicitário Augusto Luis Andrade Gomes. O mandato da atual gestão termina em maio de 2015, quando será eleita uma nova diretoria para um mandato de três anos. Através de Projetos de Lei apresentados, respectivamente, pelo vereador George Câmara à Câmara dos Vereadores de Natal e pelo deputado estadual Fernando Mineiro à Assembleia Legislativa, projetos esses aprovados por unanimidade nas duas Casas Legislativas, a SAMBA é hoje uma entidade reconhecida como de utilidade pública Municipal e Estadual. No final de 2012, a SAMBA foi convidada oficialmente pela Secretaria Estadual de Turismo a compor o Comitê Gestor de Acompanhamento do Projeto para Reabilitação do Centro Histórico de Natal, tendo direito a indicar dois técnicos da entidade (um membro titular e um suplente). O Comitê Gestor tem o objetivo de subsidiar a elaboração de projetos e estudos com vistas à reabilitação urbana do Centro Histórico da Cidade do Natal e está respaldado no âmbito do Prodetur Nacional. A SAMBA também conta com a parceria de vários músicos, compositores, artis-
tas plásticos, escritores e poetas, que participam ativamente de sua programação anual. São parceiros históricos da SAMBA: Pedro Pereira, Carlos Bem, Carlança, Pedro Mendes, Geraldo Carvalho, Valderedo Nunes, Romildo Soares, Marcelo Fernandes, Assis Marinho, Grogs, Fábio Eduardo, DuSouto, Marcelo Bob, Jotó, Aluizio Matias, Venâncio Pinheiro, apenas para citar alguns. Além das datas culturais já inseridas no calendário anual, a SAMBA criou seus próprios projetos culturais, tais como o PRATODOMUNDO – Festival Gastronômico do Beco da Lama (primeiro festival gastronômico do RN); o Ensaiando o Samba – encontro das baterias das escolas de samba potiguares; o Carnabeco, e o Baile à Fantasia do Centro Histórico. Alguns dos principais restaurantes do Centro Histórico participam desde a primeira edição do festival PRATODOMUNDO. É o caso do Bar de Nazaré, Bardallo´s Comida e Arte, Bar do Seu Pedrinho, Bar Encontro dos Boêmios e Bar de Zé Reeira. A SAMBA também tem participado ativamente do réveillon e do carnaval promovidos pela Prefeitura Municipal do Natal no Centro Histórico da cidade.
Produtor Cultural e o atual Diretor Executivo da SAMBA. AMIGOS DA CIDADE ALTA | 51
AMIGOS DA
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Foto: extraído do livro Fairwing Brazil
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o d a g e l o a u n i t n Fa m í l i a c o o d a x i e d o ã ç a v o n d e ou s a d i a e i o j ú a r A s e d i c l A por
A fachada da antiga Casa Rio, na Cidade Alta, em 1944. Na foto, Guiomar Pinheiro Araújo, esposa de Alcides Araújo, e um oficial em frente à loja
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Uma das lembranças de minha infância e adolescência era a “ida às compras” com minha mãe nas manhãs de sábado, na Cidade Alta. Mal amanhecia o dia e eu já estava pronta e ansiosa para o passeio. Lembro que a Rio Center era, naquela época, “o que havia de mais moderno”, como se diz atualmente. Achava a loja organizada, bonita e muito variada, com diversos produtos distribuídos em seus cinco andares, na Rua João Pessoa, onde permanece até hoje. Todavia, a história da Rio Center começou muito antes dessa fase, com uma simples loja de tecidos, a Casa Rio, na década de 30, localizada na Rua Ulisses Caldas, começando com Elpídio Araújo, pai daquele que anos mais tarde transformaria o modo de fazer comércio em Natal, o empresário Alcides Araújo. Um acontecimento mundial contribuiu para a trajetória bem-sucedida da Casa Rio. Com a vinda dos soldados norte-americanos para Natal, durante a Segunda Guerra, a loja tinha que importar produtos do Rio de Janeiro. Eram roupas, perfumes e até meias de seda para atender aos pedidos dos exigentes soldados. A partir daí, a história de expansão foi constante.
Ousadia e inovação
Depois da localização na Ulisses Caldas, vieram outros endereços, como a Avenida Rio Branco, onde abriu, no ano de 1958, uma loja de primeiro andar, a primeira do Nordeste. O nome Rio Center veio em outubro de 1977, quando o grupo inaugurou o primeiro magazine da cidade, na Rua João Pessoa, onde está até hoje, tendo sido a primeira loja vertical da cidade. Em uma publicação comemorativa sobre os 70 anos da Rio Center está a explicação sobre o impacto que a iniciativa de Alcides Araújo, que nesta época já contava com a colaboração dos filhos Flávio e Sérgio na administração do grupo. Segundo a publicação, “a revolução do comércio de varejo em Natal começou pela maneira ousada e inovadora de expor a mercadoria, com os produtos abertos e pendurados nas araras. Quando os balcões foram abolidos da loja acabou a barreira entre o cliente e a mercadoria”. O empresário Flávio Alcides explica que além de quebrar a barreira imposta AMIGOS DA CIDADE ALTA | 53
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Fotos: extraído do livro Fairwing Brazil
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Alcides Araújo e a esposa, Guiomar Pinheiro Araújo, vendendo aos americanos meia calça - 1944
pelos balcões, produtos para presentes, perfumaria, até cristais eram expostos em gôndolas de vidro com excelente iluminação. No quesito inovação, a Rio Center sempre buscou novidades para trazer para Natal. Foi assim também quando lançou o cartão de crédito da loja, impensável para uma época de venda à vista ou no crediário. A trajetória continuou com a abertura da loja do Lagoa Center, em 1991, e a loja âncora no Natal Shopping, três anos depois. Em 2004, o grupo expande a loja do Lagoa Center transformando-a em Megastore na esquina da Avenida Prudente de Morais com a Rua Antônio Basílio. Com um mix variado de produtos em uma loja ampla, bonita e moderna, com estacionamento que comporta 160 veículos.
A história começou lá atrás, no árido sertão nordestino...
Vender. Vencer. A semelhança entre essas duas palavras foi fundamental na vida do empresário Alcides Araújo, nascido em Guarabira/PB. Juntamente com os seus pais e mais cinco irmãos, veio para o Rio Grande do Norte aos 12 anos e desde cedo começou a ajudar o pai, que era biscateiro, vendendo nas feiras e nos comércios do interior. Em Natal, a família morou, inicialmen-
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te, no bairro da Ribeira. Depois, nas Rocas. A Cidade Alta foi um caminho natural, já que a meta era prosperar no comércio. A arte de vender corria pelas veias do pai, Elpídio, e do filho, Alcides, que levava consigo o ensinamento de que “nunca se deve gastar tudo o que se ganha. Tem que fazer economia. Esse é o segredo do comércio”. “Nunca compre um sem ter dois para pagar” foi a lição de vida deixada pelo empresário. Alcides Araújo tinha uma visão futurista e empreendedora. Além de ter se tornado um empresário bem sucedido, atuou em outros segmentos além do comércio. Fez parte da verticalização de Natal, tendo sido um dos incorporadores do edifício 21 de março, o primeiro prédio com dez andares da cidade, e do edifício Canaçu, ambos no Centro. Também construiu o condomínio residencial Jardim Tirol, com 115 apartamentos, e o edifício Alcides Araújo, de seis andares, em Candelária, exclusivamente para a família. Passou pelas principais entidades do RN, como a Associação Comercial, Federação do Comércio, a Maçonaria, o Rotary Clube e o Iate Clube, onde foi Comodoro. Era casado com Guiomar Pinheiro Araújo, com quem teve cinco filhos, que dividiam com ele o comando da empresa.
Alcides Araújo e Jaeci (fotógrafo)
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84 3223-8500 patricia@capitalcontabilidade.srv.br
Av. Almirante Alexandrino de Alencar, Nยบ 855 - 1ยบ Andar - Barro Vermelho - Natal/RN AMIGOS DA CIDADE ALTA | 55
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