REFLEXÕES SOBRE THOMAZ FARKAS

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Juan Esteves

2° SEMINÁRIO DE FOTOGRAFIA E CINEMA: REFLEXÕES SOBRE THOMAZ FARKAS


Thomaz Farkas - Acervo MAB


FAAP Faculdade de Comunicação e Marketing

2° SEMINÁRIO DE FOTOGRAFIA E CINEMA: REFLEXÕES SOBRE THOMAZ FARKAS Data 14, 15 e 16 de setembro de 2010

Organização Rubens Fernandes Junior Reinaldo Cardenuto


Thomaz Farkas - Acervo MAB


2° SEMINÁRIO DE FOTOGRAFIA E CINEMA: REFLEXÕES SOBRE THOMAZ FARKAS Para propor uma reflexão crítica em torno da rica aproximação criativa entre a fotografia e o cinema, foi criado este seminário, em 2009, como parte da Semana de Comunicação da FACOM-FAAP. Naquela ocasião, primeiros passos de um projeto que tende a se expandir, o debate se concentrou na polêmica figura do francês Jean Manzon, que com suas imagens erigiu o mito de um Brasil ideal, dos trópicos, nos anos em que se aceleravam os problemas sociais em nosso país. Em prosseguimento ao esforço de mapear, no Brasil, os debates intelectuais e artísticos que envolveram a relação fotografia e cinema, a escolha deste ano recaiu sobre uma das personalidades mais impactantes do meio visual, promotor do registro fundamental de nossa cultura popular, Thomaz Farkas. Como criador de imagens fixas, na câmera que capta as formas da cidade em seu cotidiano, ou como produtor de documentários sobre a arte e a cultura no interior do país, em um projeto dos anos 1960 e 1970 conhecido como “A condição brasileira”, Farkas foi incentivador do olhar dirigido às tradições urbanas, rurais, sertanejas. O Seminário deste ano exibe alguns dos filmes produzidos por Thomaz Farkas e apresenta mesas de debate compostas por antigos parceiros seus, como o documentarista Sérgio Muniz, e por pesquisadores que têm dedicado estudos à sua produção, como Clara Leonel Ramos. Reinaldo Cardenuto e Rubens Fernandes Junior.


Thomaz Farkas - Acervo MAB


THOMAS FARKAS O Foto Clube Bandeirantes, fundado em 1939, transformou a fotografia brasileira e foi responsável pela introdução da modernidade na fotografia brasileira, tardia, diga-se de passagem. A Escola Paulista, assim denominada pela crítica, tornou-se referência da melhor fotografia brasileira produzida de forma independente nesse período. Thomaz Farkas, com seu ímpeto transformador, no final dos anos 1940, iniciou um trabalho mais pessoal e transgressor. Assim, procurou registrar, sem grandes interferências no “real”, uma visão fotográfica modernizadora, trazendo novos e inusitados ângulos de tomada, cortes e aproximações geométricas de luz e sombra. Essa nova responsabilidade de expressão fotográfica desenvolvida por ele foi aos poucos encontrando seu caminho, buscando ora a radicalidade nos enquadramentos, ora uma nova relação nas tensões entre preto e branco, o preto e as sombras acentuadas. Farkas, em sua série sobre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e na série mais radical e formalista, elegeu o ângulo insólito para romper com o procedimento tradicional de fotografar e para desarticular os automatismos da visão, despertando o leitor do “êxtase hipnótico” em que estava submerso há séculos pela perspectiva renascentista. Farkas não admite qualquer influência direta ou um excesso de educação do olhar para produzir suas imagens. Pelo contrário, como ele mesmo deixou claro, “fui incorporando tudo que li e vi; lógico que alguma coisa te influencia, mas nunca copiar literalmente. É difícil dizer que não fui influenciado por outros fotógrafos. Tive acesso a livros e revistas, de origem alemã, inglesa, francesa; viajava e visitava galerias e museus; é claro, se vi tudo isso, as coisas ficaram. Mas acredito no caráter instintivo da fotografia, apesar de saber que enquadrar é eliminar aquilo que está atrapalhando”. Se verificarmos suas fotografias aqui publicadas, podemos perceber que mesmo quando existe um formalismo construtivo excessivo dominando a imagem, elas são pontuadas de ritmo, movimento e leveza, que se harmonizam. Rubens Fernandes Junior


Thomaz Farkas - Acervo MAB


THOMAS FARKAS E A FOTOGRAFIA Dia 14 de setembro, 19 horas (Sala Anexa - Centro de Convenções) com Rubens Fernandes Junior e Rosely Nakagawa

EXIBIÇÃO DO FILME Thomaz Farkas, brasileiro (Walter Lima Jr., 15min., 2004, cor) Em entrevista ao cineasta Walter Lima Jr., Thomaz Farkas apresenta parte de sua trajetória profissional como fotógrafo e produtor de cinema.

DEBATEDORES Rubens Fernandes Junior é diretor e professor de Teoria da Comunicação da FACOM FAAP, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, crítico e curador independente de Fotografia. Autor e organizador de diversos livros, entre eles Labirinto e identidades panorama da fotografia no Brasil (1946-98); Otto Stupakoff; Geraldo de Barros: Sobras + Fotoformas; Notas de Viagens de Thomas Farkas, entre outros da editora Cosac Naify. Rosely Nakagawa é Arquiteta formada pela FAU-USP, curadora e editora de fotografia. Em 1979 estava na criação da Galeria Fotoptica onde coordenou mostras até 1986. Em 1987 organizou uma coletiva de fotografia Brasileira no PS1 MOMA NY. Em 1991, foi uma das fundadoras do Nafoto. De 1999 a 2004 coordenou a Casa da Fotografia FUJI. De 2002 a 2009, as galerias FNAC . Em 2009 levou a Nagoya-Japão uma coletiva de fotógrafos nipo-brasileiros. No SESC Pompéia, inicia em setembro de 2010, a série Entrevistas com profissionais de norte a sul do Brasil.


THOMAZ FARKAS E O CINEMA Dia 15 de setembro, 9 horas (Sala 5S17) com Sérgio Muniz

EXIBIÇÃO DOS FILMES Paraíso, Juarez (Thomaz Farkas, 6min., 1971, cor) O pintor Juarez Paraíso comenta o painel que criou para a entrada do cinema Tupi, em Salvador, no ano de 1968. A obra, a tratar da ausência de comunicação entre os homens, causou repúdio nos freqüentadores do cinema, sendo demolida após a venda da sala de exibição.

De raízes & rezas, entre outros (Sérgio Muniz, 37min., 1972, cor) No Nordeste, duas figuras surgiram no enfrentamento das dores: o raizeiro, sangrador, com seus medicamentos para os males físicos; a rezadeira, por vezes uma velha centenária, para afugentar os inimigos, as agonias do espírito, e por vezes ensinar rezas para uma vida melhor. O filme registra depoimentos destas personalidades da cultura popular.

DEBATEDOR Sérgio Muniz é documentarista, realizador de filmes como rastejador s.m. (1970) e De Raízes e rezas, entre outros (1972), ambos produzidos por Thomaz Farkas. Na área cultural, foi assessor de Marilena Chauí em sua gestão na Secretaria Municipal de Cultura, entre 1989 e 1992, e assessor de cinema no Memorial da América Latina, entre 1995 e 2000.


SESSÃO COM FILMES DA CARAVANA FARKAS Dia 15 de setembro, 15 horas (Auditório 01) Os subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla, 30min., 1964-5, p&b) Com visão crítica do futebol como espetáculo, o documentário adentra nos subterrâneos da prática esportiva para revelar seus bastidores, onde a maioria dos jogadores é submetida às práticas abusivas do mercado. Próximo do “documentarismo sociológico”, o filme apresenta a leitura do futebol como alienação popular.

Viramundo (Geraldo Sarno, 30min., 1964-5, p&b) Documentário sobre os nordestinos que migram para São Paulo atraídos pela ilusão de melhores condições de vida no Sul. O filme revela o processo de desengano dos migrantes ao vivenciarem a miséria e o desemprego na grande cidade.

A morte do boi (Paulo Gil Soares, 10min., 1969-70, cor) Paulo Gil Soares documenta uma indústria marginal, sem fiscalização sanitária, que cria produtos de consumo a partir do aproveitamento do gado abatido para o mercado de carne da Zona Agreste. Nos dizeres do documentarista, uma espécie de indústria do “lixo” bovino que através de métodos e processos primitivos cria proveito para o couro, os cascos, chifres, estômago, pulmão, intestino etc.

rastejador, s.m. (Sérgio Muniz, 25min., 1969, p&b) Documentário sobre a profissão de rastejador, nome dado àquele que ajudava a encontrar rastros de cangaceiros na caatinga.


CARAVANA FARKAS, POR UM INVENTÁRIO DA CULTURA POPULAR Dia 16 de setembro, 9 horas (Centro de Convenções) com Clara Leonel Ramos e Reinaldo Cardenuto

EXIBIÇÃO DOS FILMES Os imaginários (Geraldo Sarno, 10min., 1970, p&b) Documentário sobre os artesãos que entalham imagens em madeira. O filme registra o processo de confecção dos gravadores, em especial do Mestre Noza, de Juazeiro, e de Walderêdo Gonçalves, da cidade cearense de Crato.

Frei Damião: trombeta dos aflitos, martelo dos hereges (Paulo Gil Soares, 20min., 1969-70, cor) Do misticismo nordestino surgiu um personagem de culto popular, intercessor junto aos poderes celestes, que agregava em si o curandeiro e o taumaturgo. O filme acompanha, em 1969, a passagem pela cidade de Taperoá, na Paraíba, de uma dessas figuras, o frade capuchinho franciscano Frei Damião de Bozzano. Com uma postura antropológica, o documentário registra a festa de adoração ao Frei Damião, mostra algumas de suas curas milagrosas, para discutir a tradição mística existente no Nordeste.

DEBATEDORES Clara Leonel Ramos é produtora audiovisual e documentarista. Em 2008, dirigiu o filme Bagatela, sobre as fragilidades do sistema judiciário brasileiro. É Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP com a dissertação As múltiplas vozes da Caravana Farkas e a crise do modelo sociológico. Reinaldo Cardenuto é doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, foi programador de cinema no Centro Cultural São Paulo e assessor do Secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil. Atualmente, é professor de História do Cinema na FAAP.


Thomaz Farkas - Acervo MAB


SELEÇÃO BIBLIOGRÁFICA EM TORNO DE THOMAZ FARKAS D’ALMEIDA, Alfredo Dias. Caravana Farkas (1968/1970): a cultura popular (re) interpretada pelo filme documentário – um estudo de folkmídia. Dissertação em comunicação - Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2003. FARKAS, Thomaz. Cinema documentário: um método de trabalho. Tese em jornalismo e editoração - ECAUSP, São Paulo, 1972. __________. Thomaz Farkas. Coleção Artistas da USP. São Paulo: EDUSP, 2002. __________. Thomaz Farkas, fotógrafo. São Paulo: DBA, 2008, 2ª edição. __________. Thomaz Farkas, Pacaembu. São Paulo: DBA, 2008. FERNANDES Junior., Rubens; MOURA, Diógenes; NAKAGAWA, Rosely (orgs.). Notas de viagem - Thomaz Farkas. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. INSTITUTO MOREIRO SALLES. Thomaz Farkas e a condição brasileira. Catálogo de mostra. São Paulo, abr./ mai. 2010. LUCAS, Maria Regina de Lucena. Caravana Farkas – itinerários do documentário brasileiro. Tese em história - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, UFRJ, Rio de Janeiro, 2005. MUNIZ, Sérgio (org.). A Caravana Farkas. Documentários - 1964-1980. Catálogo da mostra realizada no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, jul. 1997. PERSICHETTI, Simonetta; TRIGO, Thales (orgs.). Thomaz Farkas. Coleção SENAC de fotografia, v.10. São Paulo: SENAC, 2006. RAMOS, Clara Leonel. As múltiplas vozes da Caravana Farkas e a crise do “modelo sociológico”. Dissertação em Ciências da Comunicação - ECA-USP, São Paulo, 2007. SOBRINHO, G.A. “A Caravana Farkas e o moderno documentário brasileiro: introdução aos contextos e aos conceitos dos filmes”. In: HAMBURGER et al. Estudos de Cinema – Socine. São Paulo: Annablume, 2008.


FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E MARKETING

CONSELHO DE CURADORES DA FAAP

Diretor Prof. Dr. Rubens Fernandes Junior

Presidente Sra. Celita Procopio de Carvalho

Vice-Diretor Prof. Dr. Luiz Felipe Pondé

Integrantes

DEPARTAMENTO DE CINEMA

Dr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno Dr. Octávio Plínio Botelho do Amaral Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto Srª. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima

Coordenador Prof. José Gozze Vice-Coordenador Prof. Ms. Eliseu de Souza Lopes Filho

DIRETORIA EXECUTIVA DA FAAP Diretor Presidente Dr. Antonio Bias Bueno Guillon Diretor Tesoureiro Dr. Américo Fialdini Jr. Diretor Cultural Prof. Victor Mirshawka ASSESSORES DA DIRETORIA Assessor Administrativo e Financeiro Dr. Sérgio Roberto Figueiredo Santos e Marchese Assessor para Assuntos Acadêmicos Prof. Raul Edison Martinez

AGRADECIMENTOS Thomaz Farkas IMS - Instituto Moreira Salles CRÉDITOS Fotografias Thomaz Farkas - Acervo MAB - Museu de Arte Brasileira - FAAP Fotografia da Capa Retrato de Thomaz Farkas por Juan Esteves


Thomaz Farkas - Acervo MAB

Educação Cultura Tecnologia www.faap.br

Rua Alagoas, 903 - Higienópolis - São Paulo/SP


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