SUBVERSÃO DO CONVENCIONAL ]outras possibilidades na arquitetura[

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SUBVERSĂƒO DO CONVENCIONAL ] outras possibilidades na arquitetura [

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SUBVERSĂƒO DO CONVENCIONAL ] ] outras possibilidades na arquitetura [

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Esse material é resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Rafael Gomes Duarte, sob orientação da Professora Denise Morado Nascimento, realizado na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 2017.

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AGRADECIMENTOS À orientadora desse trabalho, professora Denise Morado, por tantos saberes compartilhados e pelo enorme carinho. À todos do projeto Diálogos do grupo PRAXIS EA-UFMG, pela disponibilidade, pelas discussões e informações essenciais à evolução do trabalho. À Ju, por todo carinho, pelos conselhos e por me mostrar que os caminhos de luz são possíveis. Aos moradores da Vila Acaba Mundo, pelas inúmeras trocas, fundamentais aos novos aprendizados e a (re)formulação de tantos outros. Ao Miguel, por tanto amor. Aos meus amigos e familiares, que direta ou indiretamente me apoiaram durante todo o ano, e tornaram possível essa construção coletiva. Muito obrigado.

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DA TRADIÇÃO À SUBVERSÃO

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PARA SUBVERTER - ASSESSORIA TÉCNICA

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INVESTIGAÇÕES (NÃO) CONVENCIONAIS

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PROJETO ARQUITETO DA FAMÍLIA USINA CTAH PEABIRU-OFICINA ATHIS

EXPERIMENTOS SUBVERSIVOS

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ASSESSORIA TÉCNICA COLETIVA - BECO DA MINA ASSESSORIA TÉCNICA INDIVIDUAL - CASA DA BEATRIZ ASSESSORIA TÉCNICA INDIVIDUAL - CASA DA D.EFIGÊNIA ASSESSORIA TÉCNICA EM OUTROS CASOS

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CONCLUSÃO

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DA TRADIÇÃO À SUBVERSÃO 09


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Embora exista uma demanda real dos serviços de arquitetura e urbanismo para a população de baixa renda, como nas favelas por exemplo, o trabalho do arquiteto ainda se restringe às camadas sociais mais favorecidas. Pode-se dizer que essa situação decorre de vários fatores, sendo um deles a estrutura social da profissão, que foi consolidada e transmitida ao longo do tempo sem adequações, suficientes, para suprir às crescentes demandas, principalmente a partir do processo de modernização brasileira. Desse modo é necessário compreender, no contexto histórico, o fazer arquitetônico, para que seja possível apontar outras possibilidades de atuação afim de construir uma cidade mais democrática. Tomando como ponto de partida o período que vai da Antiguidade Clássica até a Idade Média, pode-se dizer que o arquiteto era uma figura quase anônima, conhecido apenas pela oficina que possuía, o pensar e o fazer eram reconhecidos a partir de uma coletividade. Tendo a função de conceber e construir, o profissional acompanhava o desenvolvimento do trabalho arquitetônico, participando até mesmo do serviço braçal, ou seja, não havia uma distinção entre o indivíduo que projetava e o que executava a obra. Além disso, não havia uma diferenciação ou enaltecimento do trabalho intelectual frente à atividade operária, era estabelecida apenas uma hierarquia de responsabilidades entre os participantes da empreitada (BENEVOLO, 1972, p.144). Diagrama atuação do arquiteto da Antiguidade Clássica até a Idade Média

OFICINAS/CORPORAÇÕES

reconhecimento

arquiteto + mestres de obra artesão

trabalho intelectural = trabalho braçal ≠responsabilidades execução da obra perspectiva

reconhecimento/prestígio social arquiteto “o pensar”

mestres de obra

11“o fazer”


No entanto, após alguns séculos, mais precisamente no Renascimento, com a criação da teoria da perspectiva por Fillipo Brunelleschi, o arquiteto começa a desempenhar um papel de grande rigor intelectual, afastando-se cada vez mais das atividades relativas ao canteiro de obras e se firmando como indivíduo, supostamente, detentor de um conhecimento específico. Os desdobramentos dessas transformações foram tais, que houve, praticamente, uma cisão entre o desenho e canteiro, estabelecendo um ofício especializado e organizado hierarquicamente. Dessa maneira, o arquiteto, intitulado autor do reconhecimento OFICINAS/CORPORAÇÕES projeto, passa a controlar as atividades desempenhadas por outras pessoas, levando em arquiteto + mestres de obra consideração todos os valores artísticos e técnicos do período. "O arquiteto faz o projeto, e não mais se confunde com os operários e suas organizações, que se ocupam da execuartesãoEsse conjunto de critérios passa, certamente, a restringir ção"(BENEVOLO, 1993, p.403). a profissão às classes sociais abastadas, pois só elas possuíam acesso à formação culta no amplo sentido. trabalho intelectural = trabalho braçal ≠responsabilidades execução da obra Diagrama atuação do arquiteto a partir do Renascimento

perspectiva

reconhecimento/prestígio social arquiteto “o pensar”

mestres de obra “o fazer”

origem: classes sociais abastadas

execução da obra

atende às

mentais,

x

classes trabalhadoras

Nos anos seguintes, essas características foram cada vez mais reforçadas, principalmente com o advento da revolução industrial:

- Diálogos PRAXIS EA

cesso à informação? linguagem técnica)

ARQUITETO COMO MEDIADOR DA INFORMAÇÃO arquiteto

morador

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+


A Revolução Industrial (1760-1830) modificou a técnica das construções, que se tornou mais racional, e introduziu novos materiais no setor - o ferro gusa, o vidro e, posteriormente, o concreto armado. Os progressos científicos permitiram que a resistência dos materiais fosse medida e esses fossem usados de forma mais otimizada. A adoção do sistema métrico decimal em vários países europeus facilitou a propagação dos novos conhecimentos. Alguns arquitetos desse período se afastaram da prática da construção, território cada vez mais sob a responsabilidade dos engenheiros[...](BENEVOLO apud LOPES, 2009, p.24).

Segundo Lopes e Morado Nascimento (2012), em virtude da complexidade sócio-econômica contemporânea, que reflete no uso do espaço urbano, outros agentes alinhados com forças produtivas entram em cena, sobretudo as iniciativas ligadas diretamente ao setor da construção. Nessa conjuntura, o arquiteto se afasta, de maneira crescente, do fazer construtivo e do modo de vida e do cotidiano do usuário do espaço, ao mesmo tempo em que o usuário assume um papel de consumidor do espaço e não mais produtor. Essa configuração decorre, também, do ensino das escolas de arquitetura, que reproduziram e ainda reproduzem um modelo de atuação que distancia o projetar do fazer e o arquiteto do usuário. Na prática convencional da arquitetura, existem etapas bem delimitadas para realizar o projeto e todas essas fases são finalizadas com a produção de desenhos técnicos ou perspectivas para apresentação. O produto final de todo processo é o Projeto Executivo, definido pela lei n. ° 8.666/93, art. como "conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT". Após a entrega do referido item, a construção fica a cargo das empreiteiras, mestres de obras ou pedreiros, orientados a seguirem exatamente o que está representado nos papéis, com poucas aberturas para questionamentos. Certamente existem arquitetos mais articulados com a obra, porém estão inseridos em

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situações específicas e raras, como por exemplo as pesquisas feitas no canteiro de obras. Nesses moldes tradicionais, ainda é comum notar procedimentos como: planejamento rígido e valores próprios da arquitetura e das artes, utilizados para legitimar as escolhas do arquiteto . Soma-se a isso, entre outros fatores, a representação técnica do projeto, que nada mais é do que um desenho codificado, responsável por transmitir, ao agente construtor, todas as decisões e pensamentos do arquiteto. O fato é que essa linguagem é inacessível à maioria das pessoas, pois mesmo alguns trabalhadores da área possuem certa dificuldade para "ler" esses desenhos técnicos. Assim sendo, é possível inferir que esses atributos da arquitetura deram suporte e difundiram os discursos daqueles que estão inseridos em "lugares" privilegiados, economicamente ou cientificamente falando. "Os arquitetos têm historicamente atuado sob as sombras do profissional quase-artista, elitista ou supérfluo e de práticas autorreferenciadas imersas em modelos construídos pela arquitetura" (MORADO NASCIMENTO, 2017, p.283). Os instrumentos de planejamento urbano e de projeto arquitetônico, presentes na arquitetura como reprodutores da prática, ainda estão vinculados aos processos racionalizados da organização, da funcionalidade e do gerenciamento, associados aos critérios, objetivos e interesses impostos ora pelas ciências (capital intelectual) ora pela economia (capital econômico). A lógica característica do campo da arquitetura institui os arquitetos como provedores de soluções aos problemas diagnosticados no espaço urbano, constituídos por pequenos grupos permeáveis à associação Estado-Capital (os dominantes). (MORADO NASCIMENTO, 2017, p.291)

A atuação do arquiteto em projetos para as classes trabalhadoras é recente e está diretamente relacionada ao processo de modernização. Segundo SOUZA, 2009, nesse período são constituídas novas classes sociais que incorporam, em níveis diferentes, os capitais

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culturais e econômicos vigentes. No entanto, surge também uma outra classe caracterizada pela presença única de indivíduos carentes dos capitais econômicos e culturais, e, principalmente, desprovidos de meios que os permitissem tê-los. O profissional atua nesse universo, quase sempre atrelado aos programas do governo, ações voluntárias e pesquisas acadêmicas, reproduzindo modelos convencionais da prática. Diagrama atuação do arquiteto a partir do processo de modernização

revolução industrial

reconhecimento/prestígio social arquiteto “o pensar”

canteiro de obra “o fazer” engenheiros mestres de obra pedreiros outros agentes

origem: classes sociais abastadas

execução da obra

atende às

atuação restrita e vínculada

classes trabalhadoras

produção do espaço -autoconstruçãoprocesso desvalorizado e até negado, mas responsável pela maior parte da produção habitacional no Brasil

PAPEL DO ARQUITETO FRENTE ÀS DEMANDAS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA O QUE PODE SER FEITO

? ?

Observa-se, assim, uma desvalorização e até mesmo negação desses processos que fohierarquia gem do padrão estabelecido pela ciência, como por exemplo a autoconstrução, que é programas saberes da espaciais arquitetura

desenhos técnicos

quem “lê”e executa? engenheiros, mestres de obra...

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projeto - imagens/plantas

projeto - imagens/plantas

vínculo à progam ações voluntárias


uma das principais formas de construção do espaço urbano. Conforme salienta Morado Nascimento (2016): Essa fatia, geralmente nomeada autoconstrução, é entendida como provisão de moradia onde a família, de posse de um lote urbano, obtido no mercado formal ou informal, decide e constrói por conta própria a sua casa, utilizando seus próprios recursos e, em vários casos, mão-de-obra familiar, de amigos ou ainda contratada (MORADO NASCIMENTO, 2016, p.19).

A pesquisa do CAU/BR, realizada pelo Datafolha (2015), mostrou que a autoconstrução corresponde a maior parte da produção habitacional no Brasil e, ainda, que a maior parte das pessoas não contrata um serviço especializado por questões financeiras ou por não julgar necessário. É importante ressaltar que há uma percepção distorcida do custo do trabalho do arquiteto, provavelmente atrelada a ideia, em grande parte real, do profissional elitizado e luxuoso, conforme apresentado pelas figuras a seguir:

Contratação de arquitetos na construçao residencial Fonte: Instituto Datafolha e CAU/BR 2015

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Motivos da não contratação de arquitetos na construçao residencial Fonte: Instituto Datafolha e CAU/BR 2015

Essa situação aponta para uma rediscussão do papel do arquiteto, bem como para as ferramentas que podem auxiliá-lo a ocupar outro espaço na produção de nossas cidades. Mas, transformar essa prática convencional, para inserir os serviços de arquitetura em regiões de vulnerabilidade social, requer um ambiente de trabalho que extrapole os limites do escritório e até mesmo da sala de aula, no caso da universidade. Nesse sentido, o profissional precisa entender as dinâmicas que constituem a autoconstrução e se envolver nesse processo, que é responsável pela maior parte da produção habitacional do país. Assim, de acordo com Ferro (2012), ele terá a possibilidade de dialogar com agentes que constroem o espaço a partir de outras ideias e incorporar ao seu modo de trabalho novas formas de fazer e pensar o território. O ponto de partida é começar a ver a arquitetura não mais de cima pra baixo, mas de baixo pra cima. Não mais a arquitetura a partir de nosso escritório, no qual nós, lá em cima, desenhamos, detalhamos, comandamos, prescrevemos o que há de fazer. Mas

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ao contrário, começar a ver a arquitetura lá do canteiro de obras, quando recebemos esse desenho, esse desenho chega a nós e se transforma, cotidianamente, em ordem de trabalho[...] em gestos do fazer[...] (FERRO, 2012).

Subverter os métodos convencionais pode ser uma possibilidade de permear esses outros territórios, onde a arquitetura ainda se faz ausente. Mas para isso, é necessário abandonar os (pré)conceitos estabelecidos na área, inventar e, principalmente, aplicar, novas abordagens da arquitetura, as quais considerem as diferenças e singularidades dos indivíduos. Essa subversão deve partir de princípios que aproximem os agentes envolvidos na produção do espaço, ou seja, abrir mão dos recursos codificados ou simbólicos, instituídos formalmente pelos próprios arquitetos. A utilização de outras linguagens, nesses processos, é essencial, pois ela favorece a comunicação e articulação autoconstrutor-arquiteto, promovendo o deslocamento e transformação do conhecimento nas duas direções. O profissional (re)cria sua maneira de trabalhar. "Ele deixa de ser um solucionador de demandas e abandona um vínculo de hierarquia e poder sobre o projeto, e passa a ser um provocador, um propositor, um mediador de informação."1 Diagrama processos compartilhados

ARQUITETO (TÉCNICA)

PROCESSOS

COMPARTILHADOS

AUTOCONSTRUTOR (PRÁTICA)

Fonte: LINHARES, Juliana. Atuação do arquiteto urbanista na produção do espaço urbano autoconstruído. Qualificação de mestrado; p.34. 2017. 1

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Segundo Morado Nascimento (2016), a mediação pode ser entendida como lugar onde a prática social ocorre. Nesse lugar, os arquitetos podem estabelecer uma relação com os cidadãos com a finalidade de contribuir no debate das questões referentes à moradia e espaço público. Assim, é possível compartilhar conhecimentos através de conversas informais ou ensinamentos técnicos, para que o cidadão seja capaz de tomar decisões mais conscientes. Nesse sentido, arquitetos/pesquisadores, bem como todos os outros envolvidos nos processos produtivos da moradia e do espaço público, podem tornar-se mediadores da informação técnica se agem no processo social de interlocução recíproca e desejada. Meios (ferramentas, suportes, instrumentos e metodologias) é tudo que potencializa a interlocução entre atores sociais, tornando-se possível a mediação (MORADO NASCIMENTO, 2016, p.23).

A condução dessas práticas deve ser permeada por mecanismos que conduzam uma relação mais horizontalizada entre arquiteto e morador, ponderando conhecimentos locais e científicos para construir novos saberes, sejam eles expressos materialmente ou imaterialmente. O “reconhecimento de toda a diversidade de agentes construtores da cidade e de suas respectivas estruturas de conhecimento e a construção do processo dialógico entre os mesmos agentes” (SOARES, 2016, p.76), configuram importantes premissas na atuação do mediador de informações. A moradia e cidade, resultam tanto de processos formalizados quanto das ações autônomas de moradores autoconstrutores. Nesse contexto, a assessoria técnica aparece como uma possibilidade interessante de expandir a atuação do arquiteto, o que não anula, nem impede, a coexistência de outros modos de trabalho já existentes e consolidados no campo da arquitetura. A moradia e a cidade resultam tanto de processos formalizados quanto das ações autônomas de moradores autoconstrutores.

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Diagrama atuação atual do arquiteto

vínculo à: -progamas governamentais -ações voluntárias -pesquisas desenhos técnicos

hierarquia programas saberes da espaciais arquitetura

quem “lê”e executa? engenheiros, mestres de obra... projeto - imagens/plantas ajustes no projeto - limitados

projeto - imagens/plantas

decisão

decisão

classes - maior poder aquisitivo demanda

classe de baixa renda somente demandas consideradas pertinentes pelo grupos

faz sentido?

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ARQUITETO COMO MEDIADOR DA INFORMAÇÃO ARQUITETO COMO MEDIADOR DA INFORMAÇÃO arquiteto arquiteto

- Diálogos - Diálogos PRAXIS EA EA PRAXIS

morador morador

+ +

acessoacesso à informação? à informação? (linguagem (linguagem técnica) técnica) ? ? decisão? decisão? formaforma de executar? de executar? soluções soluções formais? formais? - conhecimento prático - conhecimento prático - soluções locaislocais - soluções - os própris moradores - os própris moradores (+amigos) constroem (+amigos) constroem

processos processos compartilhados compartilhados sabersaber local local + saber + saber científico científico assessoria assessoria técnica técnica comocomo possibilidade possibilidade

desconsiderados desconsiderados

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PARA SUBVERTER ASSESSORIA TÉCNICA 23


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Conforme indicado anteriormente, a presença do arquiteto nas classes sociais mais pobres ainda é vinculada às instituições de caridade ou semelhantes e à políticas públicas. Essa última, principalmente, atua de maneira violenta1 pois, na maioria dos casos, ela tem uma visão superficial acerca das dinâmicas socioespaciais. O profissional tende a estabelecer uma comunicação que vai ao encontro das estruturas social e econômica dos indivíduos inseridos nesse contexto, privando-os de ter acesso à cidade e a moradia a partir de modelos "distintos" dos instituídos por vias formais. Nos conjuntos habitacionais “minha casa minha vida”, observa-se claramente essa conformação rígida, tanto nos aspectos construtivos, que impedem os moradores de modificar o local e atribuir lógicas pertinentes ao que eles possuem como valor social, quanto na articulação com a malha urbana. É importante esclarecer, que a prática aqui discutida, possui um viés diferente da Assistência Técnica à Habitação Social definida na Lei Nº 11.888/2008. Nos moldes aplicados até hoje, a assistência não contribui e, provavelmente, não possui o interesse em contribuir, de forma significativa para que os processos sejam mais democráticos. Segundo Morado Nascimento et al. (2012, p.3), "as atuais políticas públicas estão distantes de promover processos compartilhados para que os cidadãos possam efetivamente interferir nos processos de decisão referentes à produção do espaço urbano". Desse modo, a assessoria técnica, segundo pressupostos definidos aqui, distingue-se do processo mencionado no parágrafo anterior, principalmente por incorporar outras linguagens em sua prática, com o objetivo de democratizar o acesso à informação e potencializar as tomadas de decisão. Em outras palavras, é pensada a partir de uma atuação que considere as especificidades de cada situação e contexto, até porque, a autoconstrução apresenta-se de formas variadas.

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violência simbólica

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No entendimento do grupo, o processo pressupõe o envolvimento dos seus beneficiários, buscando assim evitar posturas paternalistas e assistencialistas, nas quais não creditamos possibilidades reais de transformação. Nosso objetivo é agregar ações críticas e criativas para invenção de algo a ser construído coletivamente(LOPES E MORADO NASCIMENTO, 2013, p.4).

É importante entender que não há uma forma exata de conduzir a assessoria, mas talvez hajam pressupostos que se repitam em grande parte dos casos. O arquiteto precisa reconhecer que, dentro de uma mesma classe social, haverão outras subdivisões inerentes a produção do espaço. A partir da leitura que, Morado Nascimento (2016) faz sobre a autoconstrução, essa divisão é evidenciada pela distinção dos universos urbanos nos quais se inserem a população de baixa renda. Eles são compostos pelos loteamentos periféricos, as favelas e as ocupações urbanas e se distinguem basicamente pela forma de obtenção e ocupação do terreno, tempo de construção e qualidade construtiva. Por isso, diferentemente de outros processos, a assessoria preza pelo diálogo e compartilhamento de informações, pois esses mecanismos indicam caminhos de ação para ambos agentes envolvidos. O engajamento tanto dos moradores quanto dos arquitetos é imprescindível, caso contrário poderá surgir um isolamento dos atores do presente trabalho. É preciso que os saberes técnicos, produzidos na academia, e locais, produzidos a partir das experiências próprias dos moradores, articulem-se para potencializar a utilização um do outro, já que apresentam possibilidades interessantes de intervir no espaço.

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INVESTIGAÇÕES (NÃO) CONVENCIONAIS 27


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Visando compreender melhor a atuação do arquiteto, no contexto das classes sociais mais pobres, fez-se um levantamento, junto ao grupo PRAXIS-EA UFMG, das práticas profissionais desenvolvidas em favelas e ou áreas periféricas, que, embora se configurem de forma diferente da prática que estamos desenvolvendo, possuem instrumentos que podem ser incorporados ao processo de assessoria.Nesse estudo, foram listadas aproximadamente trinta experiências, localizadas no Brasil e em outros países da América Latina. Os dados coletados apontaram para algumas possibilidades interessantes, no que se refere aos instrumentos empregados na assessoria técnica. Como exemplo, pode-se citar a linguagem, utilizada para comunicar ideias ou estabelecer reflexões, nessa troca entre os saberes científico e empírico. Porém, ela ainda é um ponto muito frágil do processo, pois sua base estrutura-se no modelo técnico de representação gráfica, minimizando o entendimento e as decisões do morador. Uma boa parte, senão a maioria dessas iniciativas, ainda é carregada de aspectos que remetem ao posicionamento social "elitizado" do arquiteto. Isso limita ou impede uma atuação condizente com a realidades das áreas de vulnerabilidade social. Essa questão pode ser observada, por exemplo, nas situações às quais o profissional, baseado em seus próprios preceitos, define aquilo que está “bom” ou “ruim”, dentro de uma moradia, e decide o que deve ser feito. As investigações possibilitaram, ainda, uma percepção de outros pontos a serem revistos, tal como a utilização inadequada de certas terminologias. Percebe-se, por exemplo, o uso da terminologia “negócio social” para designar o que é, na verdade, um negócio que tem como objetivo atender as camadas populares. A primeira expressão, no sentido mais amplo, significa uma forma de ação que não visa o lucro ou, segundo o economista Yunus, uma empresa que não tenha perdas nem dividendos.

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Enfim, são inúmeras as questões que emergiram deste trabalho investigativo. Pensando nisso, são apresentadas, de modo simplificado, três práticas diferentes do padrão convencional por um ou vários motivos, mas que não se configuram como assessoria técnica. A intenção é pontuar, principalmente, os aspectos relacionados à linguagem e à viabilidade econômica. Dessa maneira, são evidenciadas algumas possibilidades e entraves na evolução dessa “nova" prática, leia-se recente, que ainda é permeada pelas dinâmicas de uma arquitetura que serve a poucas pessoas e grupos restritos. PROJETO ARQUITETO DA FAMÍLIA - ONG SOLUÇÕES URBANAS

Fonte: site da Ong Soluções Urbanas1

O projeto é uma das frentes de atuação da ong, criado em 2008, no Rio de Janeiro/ Nitéroi - Morro Vital Brazil, para atender famílias cujas moradias estão localizadas em Áreas de Especial Interesse Social. Segundo informações presentes no site da ONG, a forma de atuação é caracterizada por adequar-se a realidade do público-alvo, incorporar saberes locais, e até mesmo empoderar a população. Observa-se que este processo, ainda possui muitas características da prática convencional, principalmente no que diz respeito à linguagem utilizada. Existe uma série de etapas, pré-estabelecidas pelos arquitetos, na qual o projeto acontece, sendo que em algumas delas o profissional é responsável por "diagnosticar" o que precisa ser feito, uma lógica um tanto quanto hierárquica. Embora eles tenham criado cartilhas ilustradas com algumas soluções para questões patológicas mais recorrentes , o desenho técnico ainda tem a função de articular a conversa entre os agentes. É interessante observar nessa proposta a viabilização econômica do processo tal como é, para isso eles utilizam Feira de Trocas Solidárias, o Microcrédito Habitacional e o SubsíDisponível em: http://www.solucoesurbanas.org.br. Acesso em outubro de 2017.

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dio parcial ou total. De forma simplificada é a financeirização da “obra”, ora pelo proprietário, ora por agentes externos, por meio de doações. Soluções urbanas, apresentação do projeto e aprimoramento da mão de obra local

Fonte: site da Ong Soluções Urbanas1 Soluções urbanas, método de trabalho

Fonte: site da Ong Soluções Urbanas1 Disponível em: http://www.solucoesurbanas.org.br. Acesso em outubro de 2017.

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USINA CTAH Fundada em 1990 como uma assessoria técnica a movimentos populares, a Usina Centro de Trabalhos para o Ambiente Construído tem atuado no sentido de articular processos que envolvam a capacidade de planejar, projetar e construir pelos próprios trabalhadores. A iniciativa possui grande representatividade no contexto de luta por moradia em São Paulo. Talvez uma de suas principais características seja a integração entre os agentes construtores por meio de uma linguagem menos técnica em parte do processo (USINA, 2017). O grupo possui aparatos metodológicos que podem ser úteis no estabelecimento do diálogo entre arquiteto e autoconstrutor. Em determinadas situações eles produzem plantas na escala 1:1, para realizar dinâmicas com grupos de pessoas envolvidas em processos de autogestão. Essa representação do espaço permite ao usuário atuar nas decisões construtivas a partir de uma compreensão espacial facilitada. Outra mecanismo interessante utilizado por eles é kit mobiliário, composto geralmente por figuras do mobiliário, escala definida pelo arquiteto, para que o morador possa dispor livremente, sobre uma folha em branco ou uma planta básica, os artigos da casa. Observa-se que aproximação entre os agentes envolvidos pode acontecer. Desenvolvimento do projeto e desenho apresentado aos moradores

Fonte: site Archdaily2 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/768315/usina-25-anos-reassentamento-da-comunidade-dopiquia-de-baixo. Acesso em novembro de 207 2

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PEABIRU-OFICINA ATHIS São OFICINAS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (ATHIS) que a Peabiru TCA realizará têm justamente o intuito de problematizar o alcance desta produção e fomentar o debate sobre a participação dos profissionais da arquitetura, engenharia, das áreas sociais e do direito nesses processos. Com isso, pretende-se mobilizar os saberes dos diversos participantes, fomentando um debate rico sobre o tema e estimular a formulação de arranjos institucionais e produtivos capazes de se adequar às diferentes realidades locais. São três campos de trabalho desenvolvidos pelo grupo, Resitência, Produção Autogestionária e Melhorias Habitacionais. A metodologia utilizadada pelos profissionais, envolve instrumentos que possibilitam a aproximação arquiteto/ morador e , consequentemente, a troca de saberes. Desenvolvimento do projeto coletivamente

Fonte: Peabiru3 Disponível em: Disponível em: http://www.peabirutca.org.br/?painel_projetos=parque-estela. Acesso em novembro de 2017.

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EXPERIMENTOS SUBVERSIVOS 35


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Com a intenção de consolidar os conhecimentos da assessoria técnica e também produzir materiais que pudessem alimentar as novas discussões, realizou-se paralelamente às investigações teóricas, em Março de 2017, o início da aproximação entre pesquisadores do projeto Diálogos do grupo PRAXIS EA-UFMG e Vila Acaba Mundo. A favela está localizada no município de Belo Horizonte, regional Centro-Sul, entre os bairros Mangabeiras, Sion e Belvedere. Seu surgimento está associado à implantação da mineradora Lagoa Seca e, segundo o Plano Global Específico (2007), o início da ocupação aconteceu entre as décadas de 40 e 50, período em que a mineradora implementou um projeto de moradia em parte da área para abrigar trabalhadores vindos do interior do Estado. No entanto, com as intensas chuvas no final da década de 70, parte do aterro desmoronou, destruindo muitas casas. Desabrigados, alguns moradores começaram a ocupar áreas adjacentes, estendendo os limites da Vila Acaba Mundo. Atualmente "a Vila é consolidada e apresenta cerca de 600 famílias moradoras, o que não representa o mesmo número de edificações que deve estar em torno de 500" (TIBO, 2017, p.10). Localização da Vila Acaba mundo

Brasil

Belo Horizonte

Minas Gerais

Regional Centro-Sul

Vila Acaba Mundo

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No período de Março a Novembro de 2016, foi realizada uma pesquisa nomeada "TOC TOC_Territórios de Ocupação Coletiva" através de uma cooperação entre dois núcleos de pesquisa, o programa Polos Cidadania da Escola de Direito da UFMG e o projeto de extensão Coletivo Construtores do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA. "As entrevistas foram feitas para o entendimento acerca do interesse da assessoria técnica e para o cadastramento das casas e famílias para a ação de pedido de usucapião do território ocupado pelos moradores da vila" (TIBO, 2017, p.3). Os dados obtidos, revelaram um grande interesse da população por reformas das habitações e pelo auxílio de um arquiteto nessa tarefa. Dados gerais da pesquisa TOC_TOC sobre situação do imóvel, tempo de moradia, pretensão de reforma, interesse por assessoria técnica.

Fonte: TIBO, 2017

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Dados gerais da pesquisa TOC_TOC, sobre possibilidades de intervenção construtiva. Classificação feita pelo número de citações de cada demanda agrupada por afinidade construtiva.

Fonte: TIBO, 2017

O resultado da pesquisa apontou para as demandas relativas à estrutura da casa como principais motivos de de desejo da assessoria, embora eles se queixem dos aspectos relativos ao conforto ambiental. Talvez a urgência em construir coloque esses aspectos em segundo plano, estabelecendo as comuns patologias encontradas na autoconstrução. Um bom exemplo disso, seria a história de uma moradora da Vila que havia reformado o banheiro mais de três vezes para resolver uma infiltração e não solucionou o questão. Provavelmente, a origem do problema estava fora do banheiro, decorrente da forma como foi feita a obra. Assim sendo, o projeto Diálogos deu início às atividades na Vila. Vale ressaltar que, num primeiro momento, o líder da Associação de Moradores da Vila Acaba Mundo, Laerte, foi responsável por articular nossa relação com os moradores. Ele foi informado sobre os pressupostos da assessoria segundo grupo, distinguindo essa atuação do assistencialismo. Mas ainda assim, percebeu-se certa dificuldade na compreensão do processo por parte dos moradores. Relaciona-se esse obstáculo à uma visão amplamente difundida

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na sociedade, a de que o arquiteto visita o cliente, ouve as demandas e volta com o projeto pronto. Uma atuação bem distinta do nosso modelo, que tem como premissas o diálogo e troca de saberes. Houve uma preocupação com essa e questão e, desde o início, foram pensadas formas mais simples de comunicar alguma dessas ideias ao morador. Tendo como base um desenho simples e algumas frases, produziu-se um panfleto pequeno para distribuir no local, além da versão digital para divulgar nas redes sociais. Panfleto desenvolvido para divulgação das assessorias

Talvez os panfletos tenham tido um alcance menor que a "propaganda" feita entre os próprios habitantes do local, pois a partir do momento em que as assessorias foram iniciadas , surgiram cada vez mais demandas. Todas essas solicitações foram catalogadas e georreferenciadas, para que aos poucos possam ser atendidas. Várias delas já foram finalizadas e algumas são detalhadas a seguir, visando explicitar linguagens ou ações que possibilitem caminhar no desenvolvimento desta prática.

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LOCALIZAÇÃO DAS DEMANDAS DE ASSESSORIA NA VILA ACABA MUNDO

Bec

od

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R. d o

s Ca rval

hos

Praça JK

Beco da Mina

Casa da Beatriz

Casa da D.Efigênia

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Casa da Juliana

Creche Terra Nova


ASSESSORIA TÉCNICA COLETIVA - BECO DA MINA

Beco da Mina

No primeiro semestre de 2017, Laerte, o presidente da Associação de Moradores da Vila Acaba Mundo, visando atender aos interesses da população, buscou uma parceria com o grupo PRAXIS-EA UFMG. Segundo o líder, os moradores gostariam de melhorar um trecho da vila composto pela Rua dos Carvalhos, Beco da Mina e Rua Nova, um dos principais acessos às moradias e grande ponto de encontro. Foi combinado que faríamos uma assessoria técnica. "A proposta da assessoria se baseava, então, em uma atuação que buscaria identificar as demandas e necessidades da população. Também propor, conjuntamente, intervenções para o local, de forma que a execução do projeto dependeria do protagonismo da Associação de bairro, dos financiadores e dos próprios moradores."1 Fonte: LINHARES, Juliana. Atuação do arquiteto urbanista na produção do espaço urbano autoconstruído. Qualificação de mestrado; p.55. 2017. 1

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Inicialmente, foram discutidas formas de ação que aproximassem os moradores dos pesquisadores e promovessem a problematização das questões locais pelos próprios moradores. Desse modo, as demandas surgiriam conforme as necessidades reais daqueles que vivem no local e não apenas da Associação de Moradores da Vila Acaba Mundo ou dos pesquisadores. A partir daí os arquitetos desenvolveriam mecanismos para atuar junto a comunidade mediando a informação. Como resultado dessas discussões e de experiências anteriores, marcamos no dia 18 de março de 2017, um encontro nomeado café coletivo, que se configurou como um elemento atrator de indivíduos. A divulgação desse evento foi feita através da fixação de folhetos em alguns pontos da Vila Acaba Mundo e avisos "boca a boca" realizados pelo líder comunitário. MAPEAMENTO COLETIVO Realização do mapeamento coletivo

No dia marcado, foi realizada uma oficina entre moradores e pesquisadores, para contribuir no debate sobre questões importantes do beco com base nas informações apresentadas pelos habitantes do beco e da vila como um todo. Inicialmente, organizamos o café da manhã em uma mesa próxima ao material da dinâmica para que os moradores ficas-

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sem mais à vontade e participassem. Foram utilizados dois dispositivos para dialogar: um mapa em formato A0, para que os moradores pudessem carimbar e colocar ícones de acordo com a percepção diária do ambiente, e uma caminhada pelo local, para que os pesquisadores conversassem individualmente ou com pequenos grupos de moradores observando os trajetos, as dificuldades de acesso e as relações sociais ali estabelecidas. A intenção dessa segunda atividade era complementar o mapeamento e construir uma narrativa mais elaborada das questões presentes ali. O mapa A0 foi fixado a parede e todos os carimbos/ícones foram dispostos em um banco de concreto no mesmo local. É importante mencionar que o mapa utilizado possuía poucas informações e uma formatação muito técnica , dificultando bastante a compreensão dos moradores. A cada novo participante era explicado como funcionava o mapeamento, reforçando a indicação de localização, em minha opinião, a parte mais difícil. Começava ali a construção coletiva do mapa, que mais tarde serviria como suporte para alimentar outras discussões. O mapeamento coletivo funcionou em parte. Ainda é recorrente, entre arquitetos e, até mesmo pesquisadores do assunto, o uso de uma linguagem de compreensão difícil ou codificada. No contexto da vila, essa questão se apresentou de maneira clara, visto que todos os participantes do mapeamento coletivo precisaram receber orientações básicas para utilizar a cartografia existente e marcar o que queriam. A falha dos arquitetos, na forma de representar, contribuiu, também, para o afastamento dos mais intimidados, que desistiram da atividade ao perceber a necessidade de conversar com os profissionais para só depois carimbar o papel. Nesse caso, o mapa era constituído apenas pelas ruas, quadrados que representavam as casas e alguns pontos de referência desenhados num papel laranja. Provavelmente, um mapa com mais componentes do ambiente e menos chapado, traria resultados melhores Durante a caminhada, houve uma dificuldade por parte dos pesquisadores em espacia-

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lizar em um mapa menor, durante a conversa, as informações obtidas e, ainda, escrever os relatos ao mesmo tempo. Além disso, muitos dados remetiam ao contexto geral e não somente a um ponto do beco. Em ambos os dispositivos, o lixo se apresentou como principal assunto. Ainda é recorrente na Vila o hábito de jogar resíduos no córrego, mesmo existindo a possibilidade de deixar o material em local adequado, para posterior recolhimento do Serviço de Limpeza Urbana. Alguns moradores acham mais simples jogar o lixo da janela direto no córrego e, para outros, o problema do lixo pode ser resolvido apenas com a canalização das águas. Realização das caminhadas

Provavelmente essa ideia de canalizar relaciona-se com a resposta convencional que os centros urbanos tem dado às águas. Por isso, é preciso instigar bastante a reflexão dessa questão para que, antes de chegarem à uma decisão final, os moradores possam discutir com uma base mais consolidada os prós e os contras dessa possibilidade frente às ou-

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tras. Aqui a assessoria pode e deve contribuir com todas essas informações implicadas na "ocultação" da água, além de apontar para a possibilidade de "revitalizar" o córrego e se apropriar dos recursos naturais presentes no contexto. É marcante o fato de que no dia do café coletivo, poucos moradores tenham comparecido ao local para participar das atividades. Uma das explicações seria a ausência de um desejo coletivo de transformação frente aos interesses individuais muito polarizados, uma vez que para alguns moradores não existe a concepção de zelar pelos espaços públicos ou produzi-los . Tal fato pode ser explicado, também, pela presença anterior de vários grupos ou pessoas com promessas que não puderam ser cumpridas ou formas de trabalho que excluíam os moradores da produção do espaço urbano bem como da responsabilidade pela manutenção. Além disso, existe ainda a possibilidade de ter havido uma falha de comunicação em decorrência da linguagem. Por isso, durante as atividades realizadas na vila, reafirmou-se o caráter coletivo daquele espaço, demonstrando aos moradores a importância da participação ativa de cada um para que houvesse uma transformação real e para que o processo caminhasse conforme as premissas da assessoria. Em alguns momentos, Laerte demonstrava seu grande interesse em receber desenhos de um projeto finalizado, sempre pautado pelo discurso do papel como um documento de valor político. Entende-se a necessidade do projeto para que ele negocie uma verba, no entanto ele deve surgir à partir de discussões e reflexões feitas conjuntamente e não da imposição do arquiteto como já foi dito. O projeto emerge de uma construção coletiva, a partir da troca dos saberes científicos e empíricos. Para além dos interesses do projeto, existe o desejo de que se reproduza as "esquisitices" formais ou novidades que causem "impacto" conforme observado na frase em que Laerte fala sobre a construção de um banco, "Como arquiteto quero que vocês façam uma coisa esquisita, pra chamar atenção". Por isso, foi necessário esclarecer mais uma vez a forma de atuação do grupo PRAXIS-EA

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UFMG. Porém, o arquiteto carrega historicamente a imagem de um indivíduo detentor de todo conhecimento necessário para interferir no espaço e, consequentemente, isso contribui para que algumas pessoas o vejam na maioria das vezes como "solucionador de problemas". Sabe-se que a verdade é outra e, que em algumas situações, os saberes adquiridos pelos arquitetos na academia não são aplicáveis, nem suficientes isoladamente. Parte disso é reflexo do ensino nas escolas de arquitetura, em que os assuntos referentes ao direito à cidade e moradia, canteiro de obras e outros tópicos, são negligenciados por alguns professores, contribuindo ainda mais para uma postura única e segregatória entre os arquitetos e classes sociais mais pobres. A prática convencional de arquitetura, arquiteto como mente criativa dentro de um escritório, pode existir normalmente, porém ela não pode ser transposta em qualquer realidade e a qualquer custo, até mesmo pelo distanciamento existente entre o projeto e a construção de fato. O arquiteto precisa abandonar alguns conceitos convencionais e pensar outras maneiras de trabalhar na realidade contemporânea, de forma a expandir suas fronteiras de atuação para muito além do que é praticado hoje, para contribuir na democratização da produção do espaço, revelando e discutindo também o que está à margem, o "indesejado", o "feio" e outras questões, às quais, também, são responsáveis enquanto profissionais. É necessário mostrarmos esse outro lado da arquitetura à sociedade e desconstruir a ideia de um padrão de atuação profissional, talvez assim os arquitetos consigam acessar outros territórios de forma mais fluida. CARTOGRAFIA DO BECO Após as atividades, foi feita uma sistematização de todas informações extraídas com o objetivo de transcrevê-las num formato cartográfico. Nessa etapa, foi produzido um mapa colorido com elementos marcantes e texturas, fotografias do próprio local, ícones, pequenas frases informativas ou interrogativas, além de fotomontagens. O objetivo era apresentar, em um único documento, os diversos questionamentos acerca do beco

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apontados pelos moradores no mapeamento coletivo, bem como algumas provocações e possibilidades a serem desenvolvidas. No dia 21 de junho de 2017, fomos à vila conversar com Laerte e apresentar o material que resultou do café coletivo. Nesse dia ele sugeriu um diálogo no espaço público, em frente ao muro da creche Terra Nova, para possibilitar a participação de qualquer morador que passasse por perto. Lúcia, uma das moradoras da Vila, se encarregou de nos auxiliar, emprestou uma mesa que tinha em sua casa para abrirmos o papel e acompanhou a apresentação. Observou-se que, após termos falado, ela absorveu parte do conteúdo e já conseguia explicar à outros moradores do que se tratava a cartografia, a localizando-se no mapa. É importante observar, nessa situação, que a linguagem foi capaz de estabelecer uma comunicação mais próxima dos agentes presentes e transmitir algumas informações. Acredita-se que o colorido do mapa, a inserção de imagens dos pontos chave e marcação de algumas moradias, tenham sido fatores determinantes para estabelecer intermediar a conversa. Mas, ainda assim, para alguns moradores, o papel com imagens coloridas representava um projeto finalizado, baseavam-se na ideia do arquiteto que tem "solução" para cada "problema". Em alguns desses casos o morador se dispunha a entender melhor o que era o desenho e qual era a proposta de atuação e até mesmo sugeria dentre o material apresentado, o que poderia instigar mais, como o caso das fotomontagens. Houve um certo estranhamento, talvez decepção com relação ao desenvolvimento do projeto, principalmente por parte do Laerte. Ele esperava um material finalizado, com "soluções" prontas, porém a assessoria é contrária à submissão dos indivíduos às decisões do arquiteto. Percebe-se que uma das dificuldades desse processo é demonstrar às pessoas uma outra maneira de produzir o espaço, que não se configura conforme os moldes convencionais estabelecidos pela arquitetura. Geralmente, a população local quer pouca discussão e muito resultado aparente, deixando de lado o diálogo que pode contribuir para as ações autônomas e mais contínuas.

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Cartografia coletiva

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Mural instalado no muro da creche

MURAL COLABORATIVO Durante a disciplina Práticas de Assessoria Técnica, ministrada pela professora Denise Morado na Escola de Arquitetura da Ufmg no perído de agosto à setembro de 2017, foi desenvolvido um outro mecanismo de comunicação com os moradores, o Mural Colaborativo. Ela baseava-se majoritariamente na linguagem fotográfica que, ora reforçava

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potenciais interessantes do local, já mencionados pelos moradores em momentos anteriores, ora apontava algumas possibilidades de transformações. Para confecção deste, foi feita uma série fotográfica e selecionadas algumas imagens com detalhes da vila que, no dia a dia dos habitantes, passam despercebidos, palavras mais recorrentes nas conversas de etapas passadas e uma caixa de sugestões para que os moradores pudessem depositar qualquer opinião sobre o beco. Fixou-se todo conteúdo no muro da creche, pois devido a sua posição central numa espécie de eixo do beco, ele permitia uma visão do conteúdo de todos que caminhavam por ali. Durante a fixação, houve um movimento bem interessante de crianças e alguns adultos também, aproximando-se do mapa. Ambos faziam o reconhecimento da Vila a partir das figuras. Instalou-se o mural numa quinta-feira(14/09/2017) e no domingo (17/09/2017) voltamos à Vila para fazer outro Café Coletivo. Talvez uma das maiores surpresas tenha sido encontrar o mural da mesma forma, visto que vários moradores alertaram, no dia da instalação, sobre a depredação, disseram que na manhã seguinte todo conteúdo estaria rasgado ou teria sido roubado. Algumas pessoas até disseram ter "tomado conta"de tudo durante os dias que se passaram. A intenção era que o dispositivo provocasse alguma discussão ou reflexão nos dias em que não estávamos presentes também. Pensa-se que provavelmente isso tenha acontecido e até contribuído para que o painel não fosse danificado. A apropriação do mural se deu de forma muito natural, percebida já na instalação, os moradores passaram a se reconhecer através das imagens, nos detalhes como vasos de flores, nos grafites, nas cenas cotidianas, nas frutas e outros recortes. É importante mencionar que os moradores se sentiram representados nas imagens, integrados ao processo, tanto que alguns até queriam ser fotografados para aparecer no próximo mural. Um dado relevante na estruturação da assessoria como metodologia, pois isso comprova uma vontade em participar, no entanto limitada ao "objeto" que é palpável, a foto, a participação no processo como um todo ainda possui oscilações.

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Alguns recados da caixa de opiniĂľes

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Mesmo que timidamente, houve um engajamento, certamente facilitado pela força e simplicidade da linguagem imagética, diferentemente do que ocorreu no mapeamento coletivo do dia 18/03/2017. O mural foi um nó capaz de articular os agentes envolvidos.

CALÇADAS DO BECO Embora o painel tenha promovido alguns avanços em relação a comunicação com a população local, ainda desejava-se um material mais consistente para transformar informações em material gráfico acessível aos moradores, o projeto. Foi então que optou-se por investir nas porções individuais do beco, já que considerar a coletividade não estava funcionando tão bem, nos avanços significativos do processo. Talvez um "trauma" dos moradores frente às experiências de outros grupos na área, como citado anteriormente. A proposta era ilustrar a fachada de todas as casas do beco, de modo que o passeio ficasse o mais livre possível e funcionasse como espaço de resposta. O desenho vinha acompanhado de uma foto e da seguinte pergunta "O que você quer nos passeios do beco?", na ilustração ainda havia uma sugestão de como responder "E se você completasse essa imagem com tudo aquilo que você gostaria que existisse em seu passeio? Pode ser com desenhos, colagens ou faça como preferir."

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Ilustração feita para a dinâmica

Sabe-se que há um risco desse material contribuir para um pensamento individualizado, já que cada morador toma decisões pautadas num interesse específico para seu passeio, podendo ou não existir pontos em comum entre essas escolhas, no entanto o risco da proposição foi assumido perante a pouca mobilização dos passos anteriores.

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Essa parte do processo apresentou um resultado muito interessante. De aproximadamente 23 moradias do beco, recuperamos os papéis de apenas 4 delas, todos com informações escritas apenas. Entende-se que tiveram dificuldade de responder a pergunta da atividade, com outros recursos além da escrita. Embora tenha-se considerado a linguagem fácil e básica, ela pode ter sido difícil para os moradores e até mesmo causado uma intimidação, pois ao invés de desenhar ou fazer outra intervenção, eles apenas listaram questões gerais, a maior parte já havia sido discutida em outro momento. Ao mesmo tempo é possível imaginar que esse comportamento esteja relacionado ao interesse reduzido pelas discussões, visando apenas os resultados, conforme mencionado anteriormente. Percebe-se nessa etapa, o retorno de um questionamento, o de que embora os moradores queiram alguma transformação ali, Laerte sinaliza um interesse maior. Entende-se que cabe à ele, numa posição de liderança, buscar recursos para melhorias da vila como um todo e auxiliar os moradores. É inquestionável a necessidade de uma verba e a articulação das mais variadas iniciativas para que ele tenha um avanço significativo nas demandas que emergem do dia-a-dia, inclusive existem, atualmente, algumas "Intervenções Artísticas", assim nomeada, na Vila que focam num aspecto estético externo. Mas observa-se certo risco nessas atuações que "disfarçam" problemas e criam uma ilusão de que tudo está funcionando, de que o espírito de coletividade é incrível, porém na maior parte dos casos a coletividade é dos grupos externos, com muitos membros dispostos a colocar a mão na massa baseando-se nos pressupostos do grupo que representam. Não há o interesse em desmerecer esses movimentos, muito pelo contrário, mas sim questionar os resultados, os reais beneficiados e outras pontos cabíveis. Enfim, independentemente desses atravessamentos serão feitas mais algumas tentativas estreitar essa relação com os moradores e discutir as possibilidades decorrentes dessas trocas entre arquitetos e população.

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ASSESSORIA TÉCNICA INDIVIDUAL - CASA DA BEATRIZ

Beco da Casa Mina Beatriz

Beatriz e Ailton moram no bairro São Pedro, em uma casa alugada, próxima a Avenida Nossa Senhora do Carmo, mas sempre trabalharam nos arredores da vila. Essa dinâmica do dia a dia fez com que Isadora, filha do casal, fosse matriculada na creche da Vila Acaba Mundo, propiciando a eles uma aproximação com as pessoas dali. Inclusive, o lote adquirido pela família foi vendido por uma professora de Isadora. A negociação aconteceu em menos de uma semana e teve como prova um documento assinado pela dona do lote e autenticado no cartório. Beatriz visitou o lote duas vezes para decidir, sendo que uma delas foi acompanhada por Ailton."Aí no outro dia o Ailton veio. Aí sem noção nenhuma de construção" fala de Beatriz sobre o marido. A compra do terreno aconteceu em novembro de 2016 e, aproximadamente, três meses depois, eles já haviam feito uma parte da obra sem qualquer assessoria, apenas com o

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auxílio de um irmão da moradora. Eles realizaram a movimentação de terra, as fundações e cintamento da casa e as esperas das ferragens já demarcavam os locais dos pilares. O período seguinte da obra coincidiu com o início das assessorias técnicas do projeto Diálogos. Esse acaso possibilitou que Beatriz, já interessada, fosse uma das primeiras pessoas a participarem da assessoria individual. Para isso, foram organizados alguns encontros no intuito de promover uma discussão entre moradores e pesquisadores. O primeiro encontro foi no local da construção, facilitando um pouco entendimento do que já havia sido feito, como foi feito, as dimensões do terreno e outras questões que contribuíram para o começo do processo coletivo. ENCONTRO 14-03-2017 Visita feita ao local

Fonte: PRAXIS

Esse primeiro contato foi preparado com uma dinâmica mais livre, a fim de aproximar arquitetos e autoconstrutores. Beatriz sentiu-se à vontade e, ao longo do bate-papo, relatou o que ela e seu companheiro haviam planejado para a moradia. Nessa data, a cinta

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da casa já estava pronta. Eles tinham como ideia inicial uma moradia com três quartos, dois banheiros, sala, cozinha e área de serviço. Nesse mesmo dia, realizou-se um levantamento da parte já construída, uma área de aproximadamente 64m2. O objetivo era fazer uma leitura geral do local considerando alguns aspectos, como a iluminação, a ventilação, a drenagem, a contenção de terra e a divisão dos espaços internos. Essa etapa tinha como objetivo entender melhor o contexto familiar e um pouco do processo em andamento para que na sequência fossem iniciadas as discussões e dinâmicas entre os agentes.Observou-se, inicialmente, alguns pontos a serem desenvolvidos com a moradora, como os cortes do terreno e a estrutura existente. Parte da construção feita anterioremente à assessoria

Fonte: PRAXIS

Nos dias seguintes à esse encontro, Beatriz enviou um desenho, feito a caneta, de como ela gostaria que fosse a divisão interna da casa. Esse material foi solicitado pelos pesquisadores como forma de incluí-la no processo e também comprender melhor o que ela

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imaginava como casa ideal. ENCONTRO 22-03-2017 A partir das informações coletadas na primeira reunião, o grupo desenvolveu uma base de projeto com linguagem menos técnica e com mecanismos que introduzissem alguns aspectos construtivos importantes ao repertório dos moradores. O material era composto pela planta do lote, um desenho bem simplificado com contornos e dimensões básicas das estruturas já existentes; algumas tiras de emborrachado com cores variadas, para simular as alvenarias, as janelas e as portas; desenhos que representavam o mobiliário da casa, camas, armários, mesas, itens que permitissem a compreensão espacial por parte dos assessorados; e um kit Lego, como suporte para visualizar, principalmente, as questões referentes à estrutura da residência. Dinâmica com o kit mobiliário

Fonte: PRAXIS

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No dia, Beatriz chegou acompanhada de sua filha e a atividade desenvolveu-se conforme os seguintes passos: 1 - A planta foi aberta para que Beatriz conhecesse o material entendesse como funcionaria o desenvolvimento das proposições. 2 - Na sequência, Beatriz separou mobiliário que pretendia utilizar em sua nova casa, praticamente todos os itens já eram possuídos por ela na casa alugada, 3 - As janelas foram inseridas, pensando na forma mais adequada de ventilação e iluminação, foi necessário que o grupo sugerisse a inclusão de mais algumas aberturas apresentando os devidas explicações à moradora; 4 - Nesse momento, a moradora percebeu que seria inviável construir dois banheiros como ela desejava. O grupo interviu e mostrou a possibilidade de uma pia externa, como forma de otimizar o ambiente, já que seria o único. Beatriz se interessou pela proposição 5 - Posteriormente foi mostrado à moradora que, devido ao comprimento da escada, a entrada da casa precisaria ser pela cozinha e não pela sala como ela pretendia. O grupo discutiu a possibilidade de "unir" os ambientes, criar uma cozinha conjugada com a sala, assim seria possível criar um acesso menos compartimentado. O layout foi alterado e Beatriz se posicionar a favor da alteração 6 - Foi feita a proposta de acomodar o barranco no formato de um talude com inclinação de 45º, intervenção necessária para estabilizar o trecho do terreno com maior corte. A solução facilitou o uso do varal para secar as roupas e aumentou a área de ventilação e iluminação. 7 - A moradora informou sobre a alteração do posicionamento do muro de divisa lateral. Com a espacialização desse dado, a equipe constatou que a modificação seria prejudicial às condições de iluminação e ventilação da casa, principalmente nos quartos da filha e do casal. Foi apresentado o "jardim de inverno" como uma possibilidade de abertura, um respiro entre os quartos. Beatriz disse ter gostado do resultado final e o fotografa. 8 - Ao final da reunião, a equipe conversou com Beatriz sobre as medidas de segurança relativas à drenagem dos muros de contenção, pois havia infiltração em alguns locais. O kit Lego foi utilizado para expor as questões estruturais.

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Essa dinâmica possibilitou que a moradora pudesse expor e discutir suas ideias para a casa. É importante ressaltar aqui, que os tópicos discutidos auxiliaram em algumas decisões, pois o material conseguiu apresentar, visualmente, possibilidades distintas das que haviam sido pensadas. Certamente, a estrutura da residência feita anteriormente pelos moradores interferiu no resultado final, visto que alguns pontos já estavam preestabelecidos, mas ainda assim houveram contribuições interessantes. Observou-se que em alguns momentos da atividade, Beatriz ficou um pouco intimidada, talvez por ter que absorver o conteúdo e ao mesmo tempo participar. Pensa-se que o kit mobiliário pode ser entregue ao morador um dia antes para que ele se familiarize com o material, e no momento de desenvolvimento do projeto junto ao arquiteto, tenha mais segurança na manipulação dos "dados". ENCONTRO 22-04-2017 Obra em andamento após assessoria

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Nesse terceiro encontro, realizado no canteiro de obras, o grupo constatou que boa parte da obra havia sido executada diferentemente das discussões anteriores. Alguns problemas construtivos, avaliados na obra e destacados na reunião do dia 22 de abril, como o comprimento destinado a escada, permaneciam. Não era possível locar a porta onde os moradores desejavam, visto que a extensão da caixa de escada era maior do que eles haviam pensado. No entanto, acessar a casa pela cozinha, incomodava a moradora devido a dinâmica do dia a dia, "a cozinha da gente que trabalha, nem sempre tá arrumada", disse Beatriz. Após uma curta conversa, foi possível esclarecer essa questão e definir, no local, o posicionamento adequado da porta e escada. O quarto do casal continuava sem indícios de abertura para ventilação. Segundo Beatriz, as decisões tomadas para esse ambiente se relacionavam com a posição do guarda-roupa. A equipe fez uma pequena intervenção e demonstrou que haviam outras possibilidades, mesmo com as janelas. Segundo Juarez, pedreiro da obra e irmão da moradora, Beatriz não havia lhe mostrado a fotografia do projeto e, por isso, ele executou o serviço conforme instruções iniciais dos proprietários. A possibilidade de um jardim de inverno para ventilação e iluminação dos quartos não foi considerada. Além disso, a área de serviço havia sido feita diferentemente do que foi acordado, tendo em vista que criaram um corredor para construir outra escada que levaria ao segundo pavimento, para construir apenas a lavanderia. O contraventamento no muro da fachada não tinha sido feito, mesmo com as observações dos próprios moradores de pequenas fissuras na alvenaria. A parede de tijolos da lateral da escada, aparentemente, estava sendo pressionada pela peso da terra. Segundo o pedreiro, os tijolos foram colocados antes do pilar, não foram amarrados e, por isso, não sustentavam a terra. Ele disse, também, que o aterro é de pedras grandes, ocasionando espaços ocos entre elas, devido a falta de encaixe. Com o intuito de amenizar a situação, Ailton jogaria água no terreno para que a terra se acomodasse e ocupasse essas partes vazias. Observou-se a ausência do sistema de drenagem e a desinformação de Juarez sobre esse aspecto.

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Na sequência, foi apresentado o modelo 3D do resultado final da construção baseado na dinâmica. A partir do modelo, Ailton conseguir visualizar a possibilidade da área de serviço no primeiro pavimento e percebeu a necessidade de redimensionar a escada de entrada. Ele aproveitou para tirar algumas dúvidas sobre a canalização e aterro. Elogiou bastante o trabalho de todos e pediu algo com medidas mais gerais para posterior execução tal como um desenho. Apresentação do modelo 3d

É significativo analisar nesse outro encontro, a fala do irmão de Beatriz sobre não ter visto a foto do projeto que ele havia desenvolvido na dinâmica do kit mobiliário. Pode-se dizer que existem algumas hipóteses para responder essa questão. A moradora, embora apresentasse um certo poder de decisão, poderia estar submissa às escolhas do irmão, pois ele era quem construía e, além do mais, ela aparentava ser influenciada por ele em alguns momentos. Uma outra possibilidade é pensar que as discussões não teriam feito sentido para Beatriz e por isso ela não fez questão de apresentar o desenho que havia feito. Mas o ponto mais relevante desse dia, foi a transformação dos interesses e credibilidade no trabalho dos pesquisadores quando foi apresentado um modelo 3D da

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Modelo apresentado aos moradores

ATERRO FEITO E MURO CONSTRUÍDO ANTERIORMENTE À ASSESSORIA TÉCNICA

CORTE FEITO ANTERIORMENTE À ASSESSORIA TÉCNICA

Fonte: PRAXIS

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casa, sem reboco ou pintura. Devido à sedução causada pela imagem, o grupo priorizou uma representação que minimizasse ao máximo esse impressão de algo muito bonito, uma vez que o objetivo era que as possibilidades, discutidas com o kit mobiliário, fossem compreendidas através de outras ferramentas. Observou-se que a condução do processo, após os instrumentos digitais, foi facilitada e houve um maior engajamento dos moradores surgindo-se, assim, mais demandas. Houveram outros retornos à obra para acompanhamento e entrega de alguns materias, como o desenho que foi demandado por Ailton. Inclusive, nesse dia, ele contou sobre ter aprendido a montar ferragens para participar da obra e acelerar o serviço do pedreiro. Além disso, a pedido de Beatriz, foi feito um esquema de como deveria ser a construção da escada. No dia da entrega, foi utilizada uma outra linguagem. Os desenhos impressos e os desenho em escala real nas paredes permitiram uma compreensão bem fácil sobre localização de portas e patamares da escada. A construção e o acompanhamento ainda acontecem. O reconhecimento de outras linguagens é sempre uma possibilidade de articular melhor o processo. Nesse caso, um simples desenho feito com giz, promoveu um excelente entendimento. Faz-se necessária uma busca constante por todos esses instrumentos que ampliem as formas de transmitir as informações, pois o arquiteto, na posição de mediador do espaço, deve contribuir para que o morador possa decidir de forma mais consciente.

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Casa Beatriz Fonte: PRAXIS

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ASSESSORIA TÉCNICA INDIVIDUAL - CASA DA D.EFIGÊNIA

Becoda da Casa Mina Beatriz D.Efigênia

D. Efigênia é do interior e se mudou para Belo Horizonte em 1969 para acompanhar o marido no trabalho de mineração. Em 1980, eles adquiriram um barracão de adobe na Vila. Ao longo dos anos, como de praxe na autoconstrução, fizeram várias transformações/adaptações no recinto em decorrência das necessidades de ampliação para abrigar toda a família, composta por onze filhos, sendo que só um deles mora no local atualmente. A residente contou, que durante sua vida de casada, as obras eram sempre conduzidas e definidas pelo marido e, portanto, ela não tinha autonomia para decidir o que iria ou não ser feito. Mas, hoje em dia, ela é a única responsável por tais decisões e modifica o espaço constantemente. A moradora conheceu o trabalho do projeto Diálogos do grupo PRAXIS EA-UFMG na dinâmica de assessoria coletiva realizada no Beco das Minas, na Vila Acaba Mundo, e,

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nesse mesmo dia, ela soube da nossa proposta de assessoria individual e já se mostrou interessada. Na semana seguinte, a moradora entrou em contato com a equipe do projeto, marcando um dia e horário para iniciar o processo. Evolução da casa de D. Efigênia ao longo do tempo

CASA DE ADOBE quarto + banheiro + sala|cozinha | 1980

+ lavanderia em alvenaria

+ cobertura metálica + guarda-corpo de alvenaria

+ três quartos em alvenaria

+ reconstrução em alvenaria + alteração cômodos

+ quarto de costura

Fonte: PRAXIS

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+ três quartos em alvenaria

+ laje pré-fabricada com lajota cerâmica

+ laje pré-fabricada com lajota cerâmica + guarda-corpo em alvenaria


Casa de D.Efigênia atualmente

Fonte: PRAXIS

ENCONTRO 22-03-2017 O primeiro encontro foi livre de dinâmicas previamente discutidas. Optou-se por um diálogo para que a moradora contasse quais eram suas demandas, os fatores que desencadearam o interesse pela assessoria técnica, os desejos de modificação e outras questões que ela julgasse importante. Inicialmente, apareceram as questões de ordem estrutural. Subimos até o terraço coberto para observar as trincas do beiral mencionadas por D. Efigênia. Elas localizavam-se em lados opostos simetricamente e se posicionavam num mesmo eixo. Um dos lados apresentava fissuras na parede também. A moradora relatou que, quando chovia muito ou quando lavava o terraço, a água entrava na casa. Possivelmente, isso acontecia também devido às frestas no rejunte do piso assentado. Ela havia colocado uma fita crepe entre as ardósias para controlar a abertura das trincas, estava colado há mais tempo e não havia rasgado. A orientação foi dada por um pedreiro

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para que ela pudesse observar atententamente a evolução da fissura. No primeiro pavimento, a moradora mostrou uma infiltração do muro de divisa e, além disso, falou sobre seu interesse em trocar a posição de uma porta da área de serviço. Nas áreas internas, sua principal queixa foi a umidade presente em algumas paredes e pequenos problemas no revestimento do banheiro. No final da reunião, D. Efigênia disse que pretendia fazer uma reforma em toda a casa, mas ainda não tinha condições financeiras. Disse, ainda, que a mão de obra na vila é cara e escassa. Nesse mesmo dia, a moradora contou sucintamente a forma de construção da casa, apontando para o que era mais antigo e o que era mais recente. ENCONTRO 26-04-2017 “Vocês demoraram hein?!” Ao chegar na casa de Dona Efigênia, um de seus primeiros comentários foi sobre o nosso tempo de retorno, mas logo explicamos sobre outras atividades desenvolvidas paralelamente, feriados do mês e eventuais imprevistos. Ela encarregou-se de retomar a conversa e nos contou que, após nossa primeira visita, os filhos estavam menos preocupados com as trincas. “Pararam de perguntar se ia cair”, disse ela, mas aguardavam por um retorno. Explicamos, de acordo com nossos conhecimentos e discussões em grupo, que aquelas trincas, aparentemente, eram devido à uma acomodação do terreno. Inclusive, nesse momento, ela ressaltou que um pedreiro já havia comentado sobre essa origem do problema. Pontuamos também a questão de infiltração na laje, que poderia ser minimizada e até resolvida com o assentamento de um novo rejunte, já que o atual estava danificado e possibilitava a entrada de água. Sugerimos que ela colocasse um rodapé na parede no terraço para evitar que a água acumulada nos cantos infiltrasse nas paredes e laje do primeiro pavimento.

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No muro de divisa, ela definiu, junto a um pedreiro, que colocaria uma manta impermeabilizante para resolver o problema. A moradora falou bastante sobre obras e disse que considerava muito importante a presença do arquiteto, para que tudo fosse planejado e feito de uma forma adequada, em uma única tentativa, diferentemente, dos casos mais recorrentes na Vila, em que as obras são refeitas por não haver um planejamento. Vale ressaltar que D. Efigênia associou à ausência da técnica ao local onde vive. Ela disse que nas obras que fará, futuramente, solicitará à assessoria do grupo, pois quer reformar sem retrabalho. Logo em seguida, perguntou sobre o valor que seria cobrado pela assessoria e se deixou esclarecido que esse trabalho faz parte de uma pesquisa e que a troca entre autoconstrutor/pesquisador é muito importante, que a remuneração não se dá de forma financeira. Ela ficou muito agradecida e falou sobre uma filha que pudesse se interessar pelo nossos serviços de arquitetura. A moradora ainda participou do processo de assessoria feito pelos alunos da disciplina Práticas de Assessoria Técnica, que atenderam a outras demandas da moradora. A aproximação entre os arquiteto e morador deu-se de forma bem simples nesse caso, pois D. Efigênia era muito comunicativa, inclusive era preciso fazer algumas intervenções quando o tempo acabava, uma vez que ela falava do início ao fim da visita. Considera-se um aspecto positivo, pois permite ao profissional compreender questões atreladas ao modo de vida do indivíduo bem como na forma de produzir um espaço privado, mas que reflete em contribuições para o coletivo. A frase, por ela dita, para se referir ao tempo de retorno, pode ser entendida como um sinal de um descompasso entre os tempos do arquiteto e do autoconstrutor. É importante que essa questão seja trabalhada, pois ela pode tornar-se um obstáculo no processo como um todo. No caso da D. Efigênia, é possível observar o desenvolvimento contínuo da moradia ao longo dos anos. Ora aumenta, ora arruma mais um pouco e transforma. As necessidades do espaço em determinado momento e disponibilidade financeira, principalmente, pautam esses eventos. Não há muito tempo para um planejamento, confirmado, inclu-

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Trincas na laje

Trincas no rejunte do piso

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sive pela moradora, quando diz que só vai fazer a reforma no próximo ano, mas no mês seguinte, ainda faltando seis meses para o período mencionado, ela começou uma obra. Essa percepção responde a vários dos incômodos relatados pela moradora, pois esse modo de produzir, mais objetivo e urgente, vem acompanhado de patologias como as infiltrações. Entende-se que o arquiteto deve atuar nessa questão junto ao morador tentando promover alguma reflexão. Embora esses problemas tenham sido explicitados na casa de D. Efigênia e ela diga que não construirá mais sem assessoria, observa-se o contrário. Ela prossegue com suas ações, como pôde ser percebido na ampliação do terraço que contribuiu para infiltrações na casa, pois não havia um piso com inclinação adequada para drenagem. A intenção é que ela continue desenvolvendo sua construção da forma que preferir, ou seja, autonomamente, porém, saiba sobre outras possibilidades.

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ASSESSORIA TÉCNICA EM OUTROS CASOS A idéia desse tópico é apresentar e discutir algumas questões percebidas no processo de assessoria. Para isso, acompanhou-se a dinâmica do kit mobiliário em dois casos, o da Creche Terra Nova e o da casa da Juliana/Geraldo, visando compreender melhor a apropriação do instrumento nessas estruturas distintas.

Casa da Juliana

Creche Terra Nova

A assessoria na casa da Juliana aconteceu durante a disciplina Práticas de Assessoria Técnica, portanto havia um grupo responsável por desenvolver o processo. Notou-se, durante o desenvolvimento, principalmente na dinâmica com o kit mobiliário, a enorme aproximação entre o arquiteto e o autoconstrutor. A moradora ficou muito à vontade com a presença dos estudantes em sua casa, expondo, até mesmo, sua intimidade em meio às questões que surgiram durante esse encontro, num dado momento ela pergunta se a possibilidade da parede em drywall permite que os filhos ouçam, fora do quarto, algum

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barulho, caso ela queira "namorar". A atitude pode ser vista como um indicativo da relação de confiança que foi criado, contribuindo para que as trocas do processo aconteçam. Quando Geraldo, marido de Juliana, chegou, a dinâmica estava em andamento, mas em poucos minutos ele se apropriou do das peças ali dispostas, reposicionando-as conforme suas ideias e ao mesmo tempo discutindo outras possibilidades com os pesquisadores, o que confirma o potencial desse processo compartilhado. Segundo a moradora, essa dinâmica foi ótima, pois não seria necessário construir e desmanchar, ela pôde testar tudo antes de iniciar a obras. Geraldo comentou que precisa ser do jeito dela, caso contrário ele é obrigado a refazer. Um ponto muito importante a ser discutido, pois na autoconstrução isso acontece frequentemente e a assessoria pode contribuir diretamente ao discutir outras possibilidades e ampliar o olhar do morador sobre determinadas situações. Dinâmica do kit mobiliário na casa de Juliana

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Já na Creche Terra Nova, houve um posicionamento muito diferente, talvez devido ao caráter institucional. A coordenação teve certa dificuldade em compreender, inicialmente, a assessoria assumir o lugar de assessorado. É fato que, como instituição, há o interesse em melhorias, mas para isso alguém precisaria tomar frente e representar a creche. Essa atitude também demandava um responsabilidade em responder pelas decisões tomadas junto ao arquiteto e possivelmente não era o que as coordenadoras esperavam. Foi demonstrado o interesse em um projeto com soluções fechadas, nos moldes tradicionais, porém o grupo se empenhou em transformar essa situação e obteve um resultado a partir de um processos compartilhado, mesmo com uma articulação mais frágil que em outros casos.

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CONCLUSÃO 91


A prática tradicional da arquitetura conduz à mecanismos de ação que, em sua maioria, são pautados pela submissão do outro às decisões do arquiteto, estabelecendo uma hierarquia entre arquiteto e cliente. Submerso nessa lógica, durante a graduação e também no mercado profissional, torna-se quase automático entendê-la como universal e pertinente à todas as situações. No entanto, faz-se necessário questionar esse modelo que praticamente não tem contribuído para o acesso democrático à cidade, desconsiderando processos não formais de produzir o espaço. Partindo desse ponto, o desenvolvimento deste trabalho, da teoria à prática, foi permeado por descobertas valiosas acerca das outras possibilidades na arquitetura. A condução do processo, intermediado pelas discussões do grupo Diálogos, mostrou-se essencial ao abordar as tantas questões presentes nas assessorias técnicas e promover uma reflexão sobre as possíveis angústias relacionadas ao retorno dos experimentos práticos. Entende-se, a partir da análise dos dados apresentados ao longo do trabalho, que existem outras possibilidades de atuação para além do que normalmente é imaginado. É possível que o arquiteto amplie seu território de atuação, mas para isso, deve haver, sobretudo, uma mudança de posicionamento, uma vez que as novas práticas de trabalho contribuem, mas não são as únicas responsáveis pelo diálogo estabelecido entre profissional e morador. É importante ressaltar que os experimentos subversivos apontam caminhos interessantes nas práticas compartilhadas de projetos. A troca de saberes envolvida permite o crescimento e autonomia do morador e contribui também para a aquisição de saberes locais por parte do arquiteto. Entretanto, esse processo é recente, fazendo-se necessária a apresentação e explicação da metodologia ao morador, que, em alguns casos, demonstram falta de interesse por não ver sentido nessa forma de projetar. Esse ponto foi um dos mais complexos considerando-se a assessoria coletiva, pois os moradores não se engajaram muito no processo. Tal pressuposto é fundamental para que as assessorias, de um modo geral, desenvol-

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vam-se. Observou-se, na prática, que a transmissão das informações não precisa de um papel para acontecer, pois em determinadas circunstâncias, o morador quer apenas conversar com alguém que possua conhecimentos técnicos para dar continuidade, de forma autônoma, as suas construções. A partir desses instrumentos metodológicos de trabalho, um novo horizonte da arquitetura pode ser consolidado, passando a existir de uma forma mais fluida, que talvez possa, um dia, ser inserido nas políticas habitacionais, pois elas possuem em sua estrutura formas inadequadas e até violentas de ação. Assim, este trabalho buscou, também, refletir sobre a validade desses processos para os moradores. Salienta-se que para alguns arquitetos esse interesse é real a partir do momento em que eles entendem a autoconstrução como um processo imbricado de outras maneiras do fazer, que não apenas aquelas instituídas pela academia. Uma produção com fissuras, as quais os profissionais podem permear e contribuir politicamente na construção das cidades.

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