A cama. O Ready-Made da Rua e da Casa

A cama. O ready-made da Rua e da Casa

MarĂ­a Pina

A cama condensa as mudanças na vida da pessoa: o cansaço, as preocupações, os cheiros do dia, e da noite, as companhias e as ausências, as saídas do mundo material, as entradas para os sonhos num plano irreal.

Almofada e colchão às vezes criam uma simbiose, outras iniciam uma guerra sem fim que se torna numa solidão a dois. Costumam andar desencontrados. O peso da noite não é mais do que enfiar os passos humanos do dia num

só

espaço

físico.

Os

saltos

são

independência e repressão. Soam, rompem, dançam, choram; autosuficientes no seu ego vestido de dia. A cama condensa a mudança da pessoa.

O

Ready-Made

foi

uma

das

grandes

descobertas-criadas do Marcel Duchamp no início do século XX; com ele um objecto deixou de ter só a utilidade prática para a qual foi criado. O artista mudava a posição do objecto

no espaço e assim re-fazia o seu

conceito. Criava Arte.

O ready-made foi uma criação que não implicava -ou podia implicar- algum trabalho manual sobre o objecto, sendo uma abrupta crítica ao estado estático e conservador da arte e os artistas.

“A cama”, uma reinterpretação do readymade antigo, é uma produção artística muito pessoal que surge da participação no Curso Semiótica da Cozinha que teve lugar no Museu Berardo de Belém, Lisboa no mês de Maio, curso ao cargo dos formadores Ana Rito e Hugo Barata.

A cama é uma tentativa de representar com o movimento dos objectos num só espaço, o meu quarto alugado, as mudanças que a minha vida tem tido e como a rua e a casa se abraçam, o acontecido na vida da pessoa entra para a cama em forma de pesadelos, a sujidade da rutina vai para o espaço mais pessoal e faz bater na almofada até fazer-lha cair, o salto apanha força suficiente e independente

para

pisar

num

lugar

inesperado mais que é central: a cabeça da cama, o repouso da pessoa.