Batismo do Senhor Homilia comentada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb
Mc 1,7-11 1. Introdução. Cenário. O tema do Batismo do Senhor poderia ser definido como “construir uma igreja para a alegria do Evangelho” dando-nos conta de que o verdadeiro problema dos tempos atuais é a ausência de Deus. Esta é a finalidade das leituras de hoje com diversas nuances sobre a vida dos batizados. Jesus sai do tempo do silêncio e da obscuridade e inaugura o seu ministério público. A sua vida será vivida entre dois batismos: o de hoje feito por João Batista nas águas plácidas do rio Jordão e o do Calvário, no qual sangue e água brotarão do seu lado. A figura de João Batista já foi por nós descrita no III Domingo do Advento. Agora resta-nos olhar para essa planura imensa do Jordão a mergulhar no Mar Morto, a 400m abaixo do nível do mar, aí onde se celebra a intimidade com Deus e com os seus mistérios. Aqui acorrem as multidões ávidas de purificação, arrependimento e conversão das suas vidas. Dizia Frère Roger de Taizé: ”Jesus Tu desces ao mais profundo da nossa condição humana”. Na segunda parte do texto evangélico encontramos o diálogo do encontro com Jesus, as palavras do Pai e a pomba que vem do céu prefigurando desde já a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja dos batizados e redimidos.
2. Jesus foi batizado no rio Jordão. Eis uma ajuda para mergulharmos mais profundamente no mistério de Cristo. É um mistério de kenosi, de abaixamento, que nos toca de perto. Soa-nos a interpelação aos discípulos: «Quereis ir embora também vós?» (Jo 6,67) Como se pode pensar que Cristo tenha escolhido um caminho tão pouco honrado: colocar-se na fileira com os pecadores. É este o paradoxo da justiça de Deus: Ele, o Santo, o inocente, faz-Se pecador por nós. Em Cristo a Humanidade inteira desceu às águas para realizar o verdadeiro êxodo da morte para a vida. 3. Identidade de Jesus. A cena do batismo revela o traço fundamental da identidade de Jesus: sua condição de Filho amado de Deus. “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência”. Aos poucos Jesus vai entrando nas águas. Essas águas que lembravam as águas do Mar Vermelho, as águas que jorraram do rochedo no deserto, as águas que saiam o templo. Enquanto vai entrando e penetrando lembra-se de todas as águas. Um dia, de seu peito aberto, haveriam de brotar sangue e água. Outro elemento importante desta identidade é oferecido pelo quadro trinitário no qual a revelação é feita. Do céu, o Pai dirige-se ao Filho, e o Espírito Santo desce sobre ele, em forma de pomba. A origem divina de Jesus fica, assim, perfeitamente evidenciada. Ele provém do seio da Trindade, em cujo nome exercerá sua missão. 4. Oração. Diz a coleta: “Deus Omnipotente concedei-nos que, reconhecendo Jesus exteriormente semelhante a nós, sejamos
por Ele interiormente renovados”. Tocamos na dimensão mais profunda e mais bela do nosso Batismo. O fascínio do ser cristão nasce do fazer a experiência do amor eterno de Deus, numa vida nova que abre à beleza e à riqueza daquele amor que sustenta e salva o mundo. Act 10,34-38 5. “Deus ungiu-O com o Espírito Santo”. Pedro, visitando o centurião Cornélio, ao qual Deus se tinha dado a conhecer em sonho, expõe uma breve síntese do Evangelho. O discurso do Apóstolo culmina no anúncio do acontecimento histórico de Jesus de Nazaré. A missão de Jesus realizou-se historicamente em Israel, mas é destinada a alargar-se até aos extremos confins da terra. Pedro afirma que o próprio Senhor lhe fez experimentar que Ele dá o seu Espírito a quem quer que O procure de coração sincero. A história da Salvação, a que Pedro se refere, tem início no Batismo pregado por João, o qual viu diante dele, entre os pecadores, também Jesus de Nazaré. Jesus passou por entre os homens testemunhando o amor do Pai com a cura dos doentes, o perdão e a libertação de todos da escravidão do pecado e da morte. Is 42,1-4.6-7 6. Vocação e missão do servo. No episódio do batismo de Jesus, a descida do Espírito Santo e a voz do céu lembram este poema do livro de Isaías. É o primeiro de quatro poemas que se encontram na segunda parte do livro do “Segundo Isaías”, que viveu algures no tempo do exílio da Babilónia. Canta um servo
do Senhor que, com sua maneira de agir, une o povo de Deus e se torna luz para todas as nações. O texto anuncia a vocação, a missão e a maneira de agir do Servo. Ele é o escolhido, o querido, a alegria do coração de Deus. É humilhado, massacrado, mas vence pela resistência. No fim do quarto poema, os seus opressores reconhecem que ele estava certo e eles errados. Ninguém como Jesus cumpre este itinerário. Jesus irá aplicar a si mesmo, na sinagoga de Nazaré, as palavras do profeta (Lc 4). 7. Catequese batismal. “Há um só Senhor, uma só fé e um só Batismo” (Ef 4,5). O mistério do Batismo é a participação na morte e na ressurreição de Cristo. «Hoje, Cristo é iluminado: entremos também nós no esplendor da sua luz. Hoje, Cristo é batizado: desçamos com Ele à água, para podermos subir com Ele à glória» (Gregório de Nazianzo). 8. Pastoral batismal. É importante compreender a dimensão do Batismo. Trata-se de um compromisso que nos leva a participar da vida de Cristo. As atitudes de João Batista devem ser as atitudes dos batizados: “não sou digno de desatar as sandálias”. Os cristãos pelo batismo são chamados à missão de profetas “no mundo e no tempo atual “para que a alegria humana e o amor divino regressem ao coração das pessoas, ao aconchego das famílias, à vida das instituições e a paz habite a nossa Terra”. Há sempre uma janela de oportunidades para nos lançarmos no apostolado. A nova evangelização da igreja de hoje é fazer chegar a mensagem evangélica às pessoas não só com novo ardor e novos métodos, mas também procurando novos campos de ação. A pedagogia salesiana é fértil na apresentação desses campos, sobretudo nas camadas jovens.