CATADORES: “AGENTES DA MODERNIDADE OU ESCÓRIA DA HUMANIDADE?” ANDREANI Eloir Wilson1 GAWLINSKI João Carlos2 O mundo começou sem o homem e acabará sem ele... Opor-se em vão a uma degradação universal, ele próprio aparece como uma máquina, talvez mais aperfeiçoada que as outras, trabalhando no sentido da desagregação de uma ordem original e precipitando uma matéria poderosamente organizada, na direção de uma inércia sempre maior e será um dia definitiva. Desde que começou a respirar a alimentar-se, até a invenção dos engenhos atômicos e termonucleares, passando pela descoberta do fogo – e exceto quando se reproduz – o homem não fez mais que dissociar alegremente bilhões de estruturas para reduzi-las a um estado em que elas já não são susceptíveis de integração. Este quadro complexo e de difícil entendimento leva inexoravelmente ao risco ecológico, iminente e de proporções não mensuráveis, do futuro da raça humana no planeta terra (Octavio Ianni, 2000, p.21).
RESUMO Este Artigo tem o objetivo de abordar uma questão de extrema importância: “O Catador de Materiais Recicláveis”. Um cidadão que vive esquecido e marginalizado pela sociedade, que realiza este trabalho não por opção, mas por ser a única alternativa que lhes restou para garantir o seu sustento e de sua família. Este trabalhador tem um papel fundamental para o meio ambiente, pois retira dele resíduos que podem ser reutilizados, caso contrário, estariam sem dúvida jogados em lixões a céu aberto poluindo o solo e cursos d´água, por falta de Políticas Públicas que dêem incentivo e que estejam verdadeiramente comprometidas com o resgate da cidadania desta população. Transformar este trabalhador informal em um integrante participativo e ativo em cooperativas de Materiais Recicláveis é o grande desafio. Acredita-se que as cooperativas ou associações podem significar, além de gerar rendas, uma possibilidade de construção ou reconstrução da cidadania e autonomia da população excluída. Por este motivo, acredita-se que o Poder Público Municipal é um dos veículos primordial para a realização deste propósito. PALAVRAS CHAVE: Catadores – Cooperativa – Materiais recicláveis – Meio Ambiente
1 - INTRODUÇÃO Quando o homem passa a viver em grupos maiores, ele muda de forma radical 1 2
Acadêmico do 5º Período de Serviço Social da Faculdade de Ampére – FAMPER. Acadêmico do 5º Período de Serviço Social da Faculdade de Ampére – FAMPER.
seu relacionamento com a natureza e o meio ambiente em que vive. Surge, então, o trabalho, que representa uma forma de dominação, cuja expressão maior se da na agricultura. Neste momento, o homem se dá ao luxo de extrair, produzir e consumir sem se preocupar com os recursos naturais que parecem intermináveis. Com o advento da terra, o homem sentiu a necessidade de criar ferramentas que facilitassem o cultivo dela. A utilização do arado possibilitou um aumento significativo na produtividade agrícola, que possibilitava tirar dela tudo o que necessitava para o sustento e a ambição acumulativa. Favorecendo assim, o crescimento populacional, fruto da melhoria da qualidade de vida. Até então, a natureza respondia bem às pequenas agressões que os homens representavam a ela. Mostrando-se frágil ao advento da Revolução Industrial do século XVIII, onde o homem, através de sua inteligência, passou a extrair da terra elementos, que, com combinações científicas possibilitou a descoberta da energia elétrica, motores, válvulas, transistor, energia nuclear, aviões, etc. Com a revolução ocorrida nos últimos 200 (duzentos) anos, o meio ambiente vem sofrendo muito com todos os resíduos descartáveis depositados em lixões a céu aberto. Sem um reaproveitamento desses materiais com uma gestão sustentável e responsável, isso continuará ocorrendo, e as conseqüências já podem ser sentidas com o aquecimento global, degelo das camadas polares, chuvas ácidas, destruição da camada de ozônio, inundações, desmoronamentos, etc. Em nenhuma outra época da história, foi consumido tanto como na contemporaneidade. Incentivados pela mídia que o modelo de produção capitalista utiliza, colocando à prova os desejos do ser humano, a sociedade passou a consumir desnecessariamente os inúmeros produtos oferecidos pelo comércio. Sem se dar conta, acaba respondendo a esta necessidade de produção e consumo intensificado pelo processo produtivo, gerando assim mais lixo que será jogado no meio ambiente. Eis o grande desafio: criar um desenvolvimento sustentável onde proporciona uma qualidade de vida mais igualitária, diminuindo, assim, a grande desigualdade social existente, ao mesmo tempo, mantém o equilíbrio dos ecossistemas, gerando menos resíduos, sem deixar de gerar emprego e renda. É aqui que entra as Associações ou Cooperativas de
Materiais Recicláveis. Porém, este assunto será abordado no final deste artigo. 2 - TIPOS DE LIXO Com o Advento Agrícola, o lixo inicialmente gerado era composto por excrementos. Porém, com a Revolução Industrial, surgiram os restos de produção e os próprios objetos, após sua utilização. Com o crescimento da produção e consequentemente da população, são fabricados elementos cada vez mais estranhos ao meio ambiente, que podem ser assim classificados: Lixo Doméstico: Aquele gerado nos domicílios, produzido diariamente pelos seus moradores. Basicamente são restos de alimentos, cascas de frutas, verduras, embalagens plásticas, metal, vidro, papelões, etc. Lixo Comercial: Aquele gerado nos diversos estabelecimentos comerciais, como bancos, escritórios, supermercados, restaurantes, etc. E são basicamente compostos por materiais inorgânicos, como: papel, embalagens, restos de madeiras, plásticos, etc. Lixo Industrial: Produzidos pelos mais variados tipos de indústrias, e são compostos basicamente por restos de fabricação e rejeitos dos diversos ramos da indústria. Lixo Hospitalar: Originados de hospitais, laboratórios, Ambulatórios, etc. E são compostos por seringas, agulhas, gases, luvas descartáveis, filmes fotográficos de raios X, remédios, etc. Lixo Público: Originado dos serviços de limpeza urbana, como varrição das ruas, limpeza de praias, feiras-livres, etc. Lixo Agrícola: Composto por resíduos sólidos oriundos da atividade agrícola. Podendo incluir também embalagens de fertilizantes e defensivos agrícolas, que além de altamente tóxicos, representam grande risco ao meio ambiente se não tiverem um destino próprio. Lixo Nuclear: Composto por produtos radioativos que sobram das usinas nucleares, que até então, não se sabe que destino dar. Lixo Entulho: Composto normalmente por resíduos originados na construção civil, tais como: madeira, tijolos, cimento, pisos, azulejos, metais, ferros, etc.
4 Lixo Eletrônico: Lixo eletrônico ou Resíduo eletrônico (termo que não deve ser confundido com spam) é o nome dado aos resíduos resultantes da rápida obsolescência de equipamentos eletrônicos (o que inclui televisores, telemóveis, computadores, geladeiras e outros dispositivos). Tais resíduos, descartados em lixões, constituem-se num sério risco para o meio ambiente, pois possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, tais como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo Em contato com o solo, estes produtos contaminam o lençol freático; se queimados, poluem o ar. Além disso, causam doenças graves em catadores que sobrevivem da venda de materiais coletados nos lixões. 3 - OS CATADORES O Catador de materiais recicláveis é por direito um legítimo trabalhador que busca seu devido reconhecimento. Seu trabalho há décadas faz o reaproveitamento de resíduos, algo de grande importância para a problemática do lixo das grandes e pequenas metrópoles. O trabalho de catador pode ser classificado em duas categorias: os catadores de rua e os catadores em lixões. Os catadores de rua não atuam numa área restrita como a dos lixões. Eles não possuem horário de trabalho e a rua dá-lhes a sensação de liberdade e a atividade solitária que desenvolvem, os faz mais individualistas e na grande maioria essa atividade é desenvolvida pelos homens por exigir maior força física. Os catadores de lixões, pelo contrário, possuem forte senso comunitário, e a presença física feminina e crianças é facilmente encontrada entre os restos de materiais. O problema é que em ambos os casos, são desconsiderados pelo Poder Público e injustamente desprezados pela população. Esses trabalhadores submetem-se a uma exaustiva rotina de trabalho, principalmente nas cidades onde o terreno é mais acidentado e a atração humana dos carrinhos é mais exigida. Sua jornada é extensa e desgastante, passam a maior parte do dia recolhendo materiais recicláveis na rua, no comércio ou em lixões, e ainda no final do dia separa estes materiais, sozinho ou com a ajuda da família e ainda na hora da venda, muitas vezes são explorados pelos donos
5 dos depósitos de lixo (sucateiros). Sem opção eles se vêem obrigados a entregar o fruto do seu trabalho sem receber o devido valor. Gonçalves, sobre isso afirma que: [...] ainda que esses catadores exerçam uma atividade em princípio formalmente não integrada ao sistema de acumulação capitalista, essa mesma atividade é realizada à base de pura força de trabalho, remunerada a níveis baixíssimos e que transfere permanentemente para atividade da rede capitalista organizada todo o seu valor financeiro. Em outros termos, o próprio processo do capital cria e recria relações de exploração do trabalho que não relações tipicamente capitalistas, ocorrendo à apropriação da miséria com o objetivo de torná-la rentável. (GONÇALVES, 2004, p. 15-16).3 O trabalho de catador não é uma opção, é, na verdade, a única alternativa que restou para garantir a sua sobrevivência e de sua família, ou seja, o lixo tornou-se o ambiente que deu a ele uma oportunidade de inserirem-se no mercado de trabalho e na dinâmica do capital. No entanto, esse trabalho não potencializa suas faculdades humanas, mas o torna um objeto útil a dar destinação ao lixo que ele não produziu. O catador deve ser visto como um sujeito de extrema importância para o meio ambiente e para a sociedade, mas também é de extrema importância mostrar para a sociedade a forma como esse processo de trabalho se materializa e como o próprio catador se reconhece, ele que é o agente principal de um cenário cheio de exploração e exclusão. Os catadores, ou então, podem ser chamados também de “agentes ecológicos”, recuperam boa parte dos materiais aproveitáveis que se encontram disponíveis nos lixões ou nas ruas. Caminhando sempre atento na rua ou nos lixões, esse indivíduo vai atrás do seu objeto de desejo: “o lixo”, que muitas vezes tem duplo valor: valor de troca (venda aos sucateiros) e valor de uso, quando o lixo torna-se a única opção de garantir a alimentação básica do dia. 3
GONÇALVES, Raquel de Souza. Mestre em Saúde Pública, formada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da FIOCRUZ, 2004.
Na tristeza do crepúsculo uma criança mistura-se ao lixeiro onde o supermercado jogou o que apodrecera. E a sombra pequenina agarra faminta algo para seu estômago vazio. Morde sem apreciar o gosto já que está acostumada com o cheiro... Miserável criança-velha! Para ela é espada de dois gumes: ou como ou morre ou morre porque comeu. Não. Não morre. Continua semiviva semimorta. Os vermes não a matam, pois têm nela seu cheiro vivo...! (Sem Fronteiras, nº 228, 04/1995 in Legaspe, p. 3).4 Muitas vezes, estes trabalham em cooperativas, com outros coletores, passando em condomínios, empresas ou residências em determinados horários do dia e da semana, para recolher este material, que posteriormente será separado por itens e vendido a empresas de reciclagem, assim podemos dizer que os catadores de material reciclável contribuem para a sustentabilidade. Antes de tratar da questão cooperativista, aqui serão destacadas algumas curiosidades importantes sobre o material reciclável. A questão do destino do lixo no mundo tem preocupado cada vez mais os governos de muitos países, principalmente os desenvolvidos, que já têm uma consciência ambiental mais elevada. Para ter uma idéia da dimensão deste problema, cada brasileiro que viva até setenta (70) anos de idade vai produzir vinte e cinco (25) toneladas de detritos, em média. O Brasil produz cerca de duzentos e trinta (230) mil toneladas de lixo por dia sendo 90% (noventa por cento) depositado a céu aberto, sendo que apenas 5% (cinco por cento) do lixo urbano é reciclado. Só na cidade de São Paulo, das quinze (15) mil toneladas de lixo recolhidas por dia, cerca de 35% (trinta e cinco por cento) são materiais recicláveis, porém menos de 1% (um por cento) é reciclado. É nesta hora que entra o trabalho do coletor de materiais recicláveis. A reciclagem beneficia o meio ambiente, ao passo que para a fabricação de uma tonelada de papel são consumidas dezessete (17) árvores, com quarenta quilos (40 kg) de papel velho se evita o corte de uma árvore. Se um (1) milhão de pessoas usarem o verso do papel para escrever e desenhar, a cada mês será preservada uma área de floresta equivalente a 4
Revista Sem Fronteiras, publicada mensalmente pela Editora Globo, Edição, nº 228 de abril de 1995.
dezoito (18) campos de futebol. Além disso, para se ter uma idéia, a reciclagem de uma única latinha de alumínio economiza energia suficiente para manter um aparelho de TV ligado durante três (3) horas. Por isso, o trabalho do coletor torna-se muito importante e necessário para a sustentabilidade do planeta, ao passo que proporciona o reaproveitamento de materiais, separando-os e os disponibilizando para a indústria de reciclagem, sem precisar extrair da natureza, e por outro lado, gerando emprego e renda para muitas famílias, além de permitir que os trabalhadores tenham uma ocupação mais digna. 4 – COOPERATIVISMO – BREVE HISTÓRICO O cooperativismo se constitui uma prática antiga na sociedade, nasceu com os povos mais antigos e teve origem da necessidade do ser humano ser solidário uns com os outros para atingir um bem comum, buscando a promoção social de seus cooperativados. Ela constituiu diversas formas de desenvolvimento, entre elas o cooperativismo. O espírito de cooperação existe e é praticado desde o principio da civilização, manifestando-se através da ajuda mútua, sendo uma necessidade importante e indispensável à evolução humana. A palavra cooperativa vem de cooperar, que significa preço justo sem concorrência ou lucros. Ambos considerados os males que provocam as desigualdades e injustiças sociais. Esse interesse em busca de objetivos em comum foi intensificado no modo de produção capitalista. Como bem relatou Miranda (1973, p.3): ...a explicação para o ensaio, surgimento e realizações das organizações cooperativas, bem como para o aparecimento do pensamento “precursor” do cooperativismo e o posterior desenvolvimento da doutrina cooperativista, deve ser buscada a partir da evolução do modo capitalista de produção. Aliás, o desenvolvimento do capitalismo põe em evidências variáveis que possibilitam o desenvolvimento de manifestações sociais, econômicas e políticas específicas e a colocação de problemas, que suscitarão análises por parte das Ciências Humanas.5 5
MIRANDA, vera, M. H. Doutora em Sistemas Cooperativos, Filosofia e Ciências Humanas, formada pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara, São Paulo, 1973.
O cooperativismo vem ganhar força no contexto da revolução Industrial vivenciada no século XIX. Com a difícil situação econômica os trabalhadores urbanos associaram-se em cooperativas com o propósito de melhorar as condições de vida mediante a colaboração de todos. As primeiras cooperativas surgiram pela forma que o capitalismo expunha seus trabalhadores a exaustiva jornada de trabalho, que muitas vezes ultrapassava 16 (dezesseis) horas diárias e em condições subumanas de trabalho, inclusive mulheres e crianças. O cooperativismo veio para trazer melhores condições de vida aos associados e desde 1990, milhares de cooperativas vem se organizando através de um forte trabalho de base, visando superar a exclusão, especialmente dos mais humildes. No cenário brasileiro, as cooperativas estão presentes nos vinte e sete estados da federação, representando uma importante força econômica para o país. Atualmente, existem muitos tipos delas, entre as quais, pode-se destacar o ramo agropecuário, de crédito, de consumo, habitacional, infra-estrutura, produção, saúde, entre outras. 4.1 - AS COOPERATIVAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS As cooperativas de materiais recicláveis são recentes no cenário econômico nacional. Surgiram graças à mobilização dos aproximadamente 300 (trezentos) mil catadores de Materiais Recicláveis presentes em mais de 69% (sessenta e nove por cento) dos municípios brasileiros. O catador, neste cenário cooperativo, é o agente principal e está no topo da cadeia, pois é ele o agente que retira do meio ambiente e traz de volta para o processo produtivo, materiais que foram irracionalmente descartados pelo ser humano, criando novos produtos derivados de ricas reservas naturais sem possuir alguma. Eis aí a fantástica mágica do processo da reciclagem: gerar riquezas de coisas que já tinha seu destino traçado pela irracionalidade humana. O catador de material reciclável na maioria das vezes trabalha por conta própria para suprir suas necessidades financeiras. Portanto, é importante que ele se associe às
cooperativas de reciclagem para que tenha uma maior garantia de renda fixa ao final do mês. É uma área de atuação que está em alta na atualidade, e precisa ser explorada. Com uma maior conscientização sobre os riscos que o desmatamento causa ao meio ambiente e a constante ameaça do aquecimento global, os países têm passado a investir em programas de reciclagem. Cooperativas e empresas do setor são criadas rapidamente, empregando cada vez mais coletores de material reciclável. Assim, os coletores podem se associar a estas entidades para maiores garantias em seu trabalho e para manter-se no mercado formal de trabalho. Experiências apontam que os catadores ao se associarem em cooperativas, capacitados e organizados por elas e apoiados pela municipalidade, têm se viabilizado profissionalmente. Pois, além de geradores de bens e serviços, ajudam a diminuir a quantidade de lixo nos aterros ou nos lixões e impulsionam o setor econômico da reciclagem. Desta forma, os catadores criaram uma forma de tratar as sobras produzidas pela sociedade, transformando o que era considerado lixo em instrumento de defesa de suas próprias vidas. A criação de cooperativas neste setor é um grande desafio, pois são trabalhadores que na maioria das vezes exercem suas atividades sozinhos, isso os torna individualistas. Além disso, os catadores de modo geral, são trabalhadores carregados de desesperança e baixa auto estima. Neste sentido, acredita-se que para a superação deste problema, eles precisam adquirir a confiança em si próprio e na sociedade que os marginaliza, para isso precisa ter a participação de agentes externos motivadores. Como lembra Morim (1995): As únicas resistências estão nas forças de cooperação, comunicação, compreensão, amizade, comunidade e amor, com a condição que sejam acompanhadas de perspicácia e inteligência, cuja ausência pode favorecer as forças de crueldade. (p. 272).6 6
MORIN, Edgar. Pesquisador Francês do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado em Direito, História e Geografia, autor de mais de 30 livros, considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade.
Para o enfrentamento desta questão, ressalta-se a importância da educação como ponto de partida para viabilizar processos participativos que dependem de informação, motivação e organização e que levem à consciência crítica da realidade em que eles vivem, e, para haver uma cidadania ativa, primeiro é preciso resolver os problemas de auto estima e acredita-se que através da educação isso é possível.
5 - A ARTICULAÇÃO LOCAL Cada município é responsável pelo destino do lixo por ele produzido. Porém, só a coleta em si não soluciona o problema. Considerado altamente poluidor ao meio ambiente, o lixo precisa ter um destino final adequado, e a reciclagem é uma forma inteligente e sustentável de superação dessa problemática. Portanto, o município é o principal articulador responsável pela elaboração de projetos que garantem um processo de gestão participativa e auto-sustentável. Dessa forma, os municípios deveriam ser os principais interessados para a formação de cooperativas. No entanto, a gestão do lixo não deve ficar restrita ao poder público municipal, pois com a troca de governo pode ocorrer o retrocesso ou o desinteresse pela continuidade desses programas e fatalmente as cooperativas estariam predestinadas ao fracasso. Portanto, elas precisam, depois de um tempo, desvincular-se do município e auto sustentar-se, transformando-se desta maneira, em instrumentos de promoção pessoal e inclusão social de seus associados. A problemática do lixo está em quase todos os municípios do Brasil, inclusive em Nova Esperança do Sudoeste, Paraná. Município situado no Sudoeste do Estado, com aproximadamente 6 (seis) mil habitantes, região de terreno com ligeiras elevações, cuja economia predominante é a lavoura e a pecuária leiteira. O município conta com poucas indústrias, dentre elas pode-se destacar uma fábrica de extintor de incêndio e 5 (cinco) Fabricas de Confecções. A prefeitura municipal distribuiu sacos plásticos para a população, e esta foi orientada a realizar a separação dos materiais recicláveis e uma vez por semana, em dia pré determinado a coleta é feita.
A coleta do lixo é realizada por uma empresa local, terceirizada pelo poder público municipal, o lixo orgânico é depositado em um Aterro Sanitário localizado a 10 (dez) quilômetros da cidade, os materiais recicláveis são levados até um barracão da empresa que realiza a coleta. Chegando lá, estes materiais são lavados e separados por tipo de materiais. O sucateiro passa buscar estes materiais uma vez por semana. Este é o ponto crucial, a empresa além de ganhar do município para realizar a coleta destes materiais, ainda obtém lucro com a venda dos mesmos. Através deste Artigo, pretendo sugerir ao poder público municipal outra alternativa para tratar desta problemática, ou seja, o próprio município pode realizar a coleta destes materiais recicláveis, transportar até um barracão cedido pela municipalidade, com estruturas adequadas, onde algumas pessoas , capacitadas para a realização deste trabalho de forma adequada, poderia trabalhar no processo de separação por tipo de material. Posteriormente vendido aos sucateiros, que sendo em maior quantidade, provavelmente se consegue um preço melhor, cujo valor arrecadado poderia ser usado para pagar os próprios trabalhadores e as sobras (se houver), servir de custeio para os gastos do município. Com esta atividade já estaria sendo garantido um dos objetivos deste trabalho: a inclusão de trabalhadores excluídos pela sociedade no mercado de trabalho. As pessoas para trabalharem podem ser os desempregados, analfabetos, sem moradia, sem documentação, etc. os quais executaria a separação dos materiais de 10 (dez) a 15 (quinze) horas semanais, pelo qual receberiam uma sexta básica mais R$ 100,00 (cem reais) mensais, sob a supervisão do município. Este é apenas o primeiro passo, cujo objetivo maior será a formação da cooperativa dos catadores. Que a passos firmes irá sendo formada. Como já foi colocado anteriormente, sem uma base educacional, é difícil desenvolver o senso cooperativo nas pessoas. A cooperativa não é o instrumento adequado para seus associados desenvolver papeis relacionados à geração de rendas, sem antes desenvolver o gérmen da cooperação e da solidariedade entre eles, condições responsáveis para a realização com sucesso de trabalhos cooperativos. Na perseguição deste ideal a cooperativa poderiam desenvolver, entre seus
associados, atividades sociais, educacionais, esportivas e culturais, acredita-se, sendo este um trabalho de resgate da cidadania dos associados e seus dependentes. Esta proposta, como sugestão poderia estar sendo denominada de “Reciclando Vidas”, por possuir nos seus fundamentos a melhoria da qualidade de vida das famílias dos catadores, como mecanismo indispensável para a busca da auto-sustentabilidade, pois, considera-se que a reestruturação da família está na base da redução do impacto dos problemas oriundos da desigualdade social e do processo de exclusão. Por isso, a preocupação de ir ao encontro destas famílias com alternativas sólidas e eficazes para fazer frente a toda esta “carga negativa” que cada um traz consigo e fazê-las despertar, desenvolvendo suas potencialidades e acreditar numa vida mais digna, saudável e feliz.
6 - SUSTENTABILIDADE Desde o inicio da humanidade, a natureza começou a ser modificada pela interferência do homem. É natural, que algumas espécies sobressaiam sobre as outras num mesmo meio, no caso do ser humano, o diferencial está no desenvolvimento da capacidade cerebral, no domínio do fogo, na capacidade de armazenar informações e conhecimentos, ter sentimentos, etc. Com isso, fica mais fácil de entender que não há como a espécie humana viver neste planeta sem que isso ocasione acentuadas modificações no ecossistema, ainda mais sendo a única espécie de ser vivo capaz de sobreviver em qualquer ecossistema, desde as regiões mais gélidas até os desertos. Até que a população humana era pequena, ela usava e abusava dos recursos naturais não renováveis, pois isso, não gerava grande impacto no meio ambiente, eram insignificantes na ordem global. Porém, com o aumento da população, fator ocasionado pela melhora da qualidade de vida da população, principalmente no século XIX e XX, os recursos naturais não renováveis foram usados em grande escala, ocasionando impactos ecológicos muito negativos. Nunca a humanidade teve real interesse ou preocupação com esses efeitos, pois, sempre o que prevalece é os interesses dos países ricos com sua lógica econômica. Até o presente, o que se vê, foram boas intenções, mas de concreto não se
viu nada, tem-se o exemplo do RIO 92, onde foi acordado que o desenvolvimento econômico, precisa ser conciliado com a sustentabilidade ambiental e social, mas, até hoje não foi assinado pelos países ricos que dominam a engenharia genética. Na atualidade, é muito difícil falar em desenvolvimento sustentável, quando se tem cidades como a grande São Paulo ou Rio de Janeiro, que cresceram sem nenhum planejamento, totalmente dependentes de energia elétrica, alimentação, espaço físico, saneamento, transporte, etc. É certo que no campo, a sustentabilidade se torna muito mais fácil do que nos grandes centros urbanos, pois os problemas estruturais e econômicos não são tão monstruosos. O desenvolvimento sustentável só acontece quando se pratica um conjunto de ações que venham favorecer a sustentabilidade econômica, social e ambiental. De um modo geral, pode-se dizer que a sustentabilidade econômica se obtém quando a sociedade é capaz de gerar rendas, suficiente para garantir o acesso aos bens de consumo, garantindo assim, melhor qualidade de vida à população. No entanto, isso não pode ser confundido com consumismo, pois isso é o pilar de sustentação do capitalismo. A sustentabilidade social diz respeito ao desenvolvimento que gere empregos e oportunidades, tanto no campo cultural, educacional, jurídico, lazer, saúde, etc, com justiça e igualdade social. A sustentabilidade ambiental é obtida quando se consegue produzir utilizando o mínimo da reprodução ou manutenção dos recursos naturais existentes, ou ainda, pode-se dizer que sustentabilidade ambiental é toda ação que não agrida o meio ambiente e que preserve a natureza. Na atualidade como pensar em sustentabilidade com a concentração da terra nas mãos de grandes latifúndios? Com a falta de emprego, renda, habitação e saneamento básico? É quase impossível encontrar alguma solução plausível sem pensar numa reforma agrária, numa forma de desenvolvimento econômico que não seja subordinado aos interesses do capitalismo. A concentração da maioria das riquezas nas mãos de poucos é sem duvida um grande entrave para que a sociedade avance rumo ao desenvolvimento sustentável. Na questão do lixo, sustentabilidade significa encontrar soluções ou alternativas urgentes para um desenvolvimento que minimizem os impactos ambientais provocados
pela destinação inadequada do lixo. No processo de reciclagem, essas questões ficam muito evidentes, pois o processo de reciclagem, evita a extração de matéria prima da natureza, também levando em conta o alto índice poluidor do lixo e a forma de degradação social em que vivem as famílias que sobrevivem da coleta desses materiais. Por outro lado, também deve ser considerado o alto potencial econômico que ainda não foi explorado pelo setor de reciclagem. Para que se atinja um nível de sustentabilidade satisfatório, a população precisa passar por uma reeducação ambiental, cultural e de mobilização social, para participarem de fato, contribuindo para a efetivação de projetos de manejo diferenciados de resíduos, mudando comportamentos de forma permanente, separando os materiais e mudando hábitos de consumo e descarte, ou seja, mudanças significativas de paradigmas, compreendendo a responsabilidade de cada cidadão com o futuro da humanidade. É aqui que entram as cooperativas de materiais de descarte, apesar da reciclagem ainda ser pequena frente ao volume de lixo produzido diariamente, elas representam um desenvolvimento sustentável com responsabilidade social. Estas cooperativas de trabalho, com uma gestão mais profissional e comprometida com o desenvolvimento sustentável, são embriões futuristas e modelos de relacionamentos e conhecimento sobre como relacionar-se com os resíduos gerados por uma sociedade consumista e inconseqüente.
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo não tem a arrogância de apontar soluções infalíveis para esta problemática, mas sugerir que os catadores de Materiais Recicláveis, sejam incentivados pela municipalidade e orientados a se organizarem em forma de associados na concepção de cooperativas de reciclagens, a exemplo de diversas experiências exitosas em diversos municípios do Brasil e do mundo. Não temos dúvidas, de que é este o caminho em busca de soluções para a problemática do lixo gerado pelas cidades. E por outro lado, transformar o catador em um cidadão respeitado, primeiro e principalmente por ser humano e que se encontra perante a sociedade em condições de inferioridade,
porém, certamente não é por sua própria vontade, mas sim, por força das circunstâncias que o modelo econômico lhe impôs. Causa-nos indignação em ver municípios investindo milhões com a coleta de lixo, sendo que poderia incentivar a criação de alternativas que venham possibilitar a geração de empregos e renda para pessoas do próprio município e até mesmo ter retorno financeiros com esta alternativa ou pelo menos, não gastar recursos públicos “indevidamente” com empresas externas, e de eficiência e responsabilidade com o meio ambiente de caráter duvidoso. Os catadores que já fazem este trabalho, coletam esses materiais, preservando assim o meio ambiente, sem retorno financeiro dos governos municipais. Já as grandes empresas, que financiam políticos, ganham milhões em contratos a longo prazo e ainda poluem o meio ambiente irracionalmente, e o pior, em lixões a céu aberto ou até mesmo em aterros sanitários sem controle de qualidade. A situação atual do lixo em quase todo o mundo é insana: Dinheiro público é gasto para poluir o meio ambiente, depois gastam novamente milhões para tentar minimizar o dano ambiental causado. Diante desta situação, acreditamos ser urgente a elaboração e execução de projetos que incentivem e financiem os catadores através da criação de cooperativas de reciclagem, para que de forma gradual, possam ir substituindo a aplicação financeira em empresas externas com a coleta desses materiais. Pode-se também promover incentivos e abrindo linhas de financiamento para que as grandes empresas de coleta possam investir em algo mais adequado, respeitando o meio ambiente, com a destinação correta dos diversos tipos de lixos, cumprindo inclusive legislações federais vigentes, como por exemplo, usinas de reciclagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MAGERA, Márcio. Os Empresários do Lixo: um paradoxo da modernidade: análise interdisciplinar das Cooperativas de reciclagem de lixo. Campinas, São Paulo: 2ª Ed. Átomo, 2005. ABREU, Maria de Fátima. Do Lixo À Cidadania: estratégias para a ação. Edição UNICEF do Brasil, 2001.
RODRIGUES, Francisco Luiz, CAVINATTO, Maria Vilma. Lixo, De Onde Vem? Para Onde Vai?, 16ª Edição, Ed. Moderna. Manual de Reciclagem: coisas simples que você pode fazer/ The Earth Works Group; tradução de Outras Palavras; ilustrações de Javnarama. – 4ª Ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2005. DUARTE, Hamilton de Almeida. A Gestão da associação dos Catadores de Materiais Recicláveis e o Modelo Cooperativo. Mestre em Gestão de Negócios, Santos, Disponível em: http://www.unisantos.br/upload/menu. Acessado em: 01/10/10. FONTANA, Airton. Construindo a Sustentabilidade: Uma Perspectiva para o Desenvolvimento regional. São Miguel do Oeste, Mclee, 2001. PDF to Word