Fapeal em Revista 5ª Edição

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INOVAÇÃO E PROPRIEDADE INTELECTUAL EM DEBATE.

ÍNDIO, SERTANEJO E ALAGOANO: A IDENTIDADE DOS KALANKÓ.

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Nº 5 ANO 3 DISTRIBUICÃO GRATUITA ISSN 2446-9920

o menino de ouros Leonardo Marinho deixou o Instituto Federal de Alagoas com mais de 30 medalhas conquistadas e almeja futuro como pesquisador na área da Matemática.

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R$55 R$13 MILHÕES INVESTIDOS EM CT&I

MILHÕES PARA APOIAR MAIS DE 650 PROJETOS DE PESQUISA

R$2 MILHÕES PARA INOVAÇÃO

52 150 140 R$42 EDITAIS PÚBLICOS

EVENTOS CIENTÍFICOS E ACADÊMICOS

17 em cooperação internacional, via Conselho Nacional das Faps (Confap)

MILHÕES

na concessão de bolsas de estudo e extensão tecnológica

CIENTISTAS APOIADOS EM VIAGENS CIENTÍFICAS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS


ao leitor OLÁ! Chegamos à quinta edição de Fapeal em Revista com matérias especiais produzidas por nossa equipe e por dois jornalistas colaboradores! Para começar, o Quem Quer Ser Cientista apresenta três depoimentos de alunos de Ciências Biológicas do Campus Arapiraca da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) soDERIKY PEREIRA bre como é trabalhar com iniciação científica. Na sequência, uma reportagem especial sobre o maior evento de propriedade intelectual transferência de tecnologia para a inovação da América Latina, que foi realizado em Alagoas em agosto. Vale a pena conferir alguns dos debates relacionados à área com quem mais entende do assunto! A matéria de capa apresenta o Leonardo Marinho, ex-aluno do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e dono de mais de 30 medalhas conquistadas em Olimpíadas de Matemática, tanto a alagoana quanto a nacional. Em 2017, ele foi o mais jovem pesquisador contemplado por um edital da nossa Fapeal e viajou ao Rio de Janeiro para participar da 14ª Jornada de Foguetes. Conhecemos ainda o Laboratório de Biomagnetismo (BiomaG) da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), coordenado pela professora Luciana Corá, que falou sobre seus estudos em Gastroenterologia e recordou sua jornada na ciência. Também apresentamos o Calendário Fapeal 2018 com fotos de laboratórios de diversas instituições de ensino superior de Alagoas. Como novidade, você terá cards destacáveis que se transformam num Jogo da Memória para guardar de lembrança, além de aprender e se divertir brincando! Bacana, né? E você sabia que numa das regiões mais áridas do sertão alagoano, e de complexa sobrevivência, está a realidade dos indígenas Kalankó? Eles foram escolhidos pelo pesquisador Moisés Oliveira para encabeçar o tema de sua dissertação em Antropologia e também temos uma matéria nesta edição. Para encerrar, um Ponto de Vista do economista e professor Cícero Péricles sobre a importância do Programa de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento de Políticas Públicas (PDPP) e do investimento em CT&I. É isso! Para acompanhar outras informações sobre a Fapeal, acesse fapeal.br e siga as nossas redes sociais: no Instagram, @fapeal.br; no Facebook, facebook.com/fapeal. A nossa revista também está nas redes sociais: no Instagram e no Facebook: @fapealemrevista. Continue conosco e até a próxima edição, especial sobre a 70ª Reunião Anual da SBPC!

Deriky Pereira - Jornalista

Renan Calheiros Filho Governador

Fábio Guedes Gomes Diretor-presidente www.fapeal.br CONSELHO SUPERIOR DA FAPEAL Fábio Guedes Gomes Presidente Carlos Guedes de Lacerda Vice-presidente Cícero Péricles Carvalho Ciências da Educação, Saúde e Meio Ambiente Hélvio Vilas Boas Atividades Empresariais Eurico Pinto de Lemos Stoécio Ferreira Maia Ciências Exatas, Naturais, Tecnológicas e Agrárias Magna Moreira Nídia Noemi Fabré Ciências Biológicas e da Saúde Ana Milani Renato Miranda Ciências Sociais e Humanas Rogério Moura Pinheiro Secretário de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação

Diretoria Executiva de Ciência e Tecnologia (DECT) João Vicente Lima Unidade Gestora de Controle e Desenvolvimento Institucional (UGCDI) Georginei Souza Neri Superintendente Administrativa Morgana Medeiros Tenório

Fapeal em Revista é uma publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e busca uma forma mais popular para divulgar os resultados da pesquisa alagoana e de apresentar à sociedade o que é, na prática, uma fundação de amparo e os resultados de suas iniciativas.

E DITO R -C HE FE DERIKY PEREIRA (MTE 1810/AL) BANCO DE IMAGENS ASCOM FAPEAL

DIRETOR DE A RTE E D ESI G N ER JEROAN HERCULANO ILU ST RAÇÃO SÁVIO ARAÚJO

Superintendente de POFC Alda Lúcia Melo Ramalho Calado Chefe de Gabinete Rômulo Batista Sales Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas – Fapeal Rua Melo Moraes, 354, Centro, Maceió – AL, CEP: 57020-330 Telefone: (82) 3315-2200 Tiragem desta edição: 1.000 mil exemplares.


sumário

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Estudantes do Campus Arapiraca da Universidade Estadual de Alagoas compartilham suas experiências como pesquisadores de iniciação científica.

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Durante uma semana, Alagoas sediou a 8ª edição do ProspectCT&I com extensa programação de cursos, palestras e oficinas.

Inovação e propriedade intelectual em debate

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capa o menino de ouros

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Índio, sertanejo e alagoano: A identidade dos Kalankó

Grupo indígena foi tema de pesquisa que buscou compreender suas vivências da seca.

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Leonardo Marinho deixou o Instituto Federal de Alagoas com mais de 30 medalhas conquistadas e almeja futuro como pesquisador na área da Matemática.

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Patrimônio Laboratorial Alagoano

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Jogo da Memória com tema do calendário Fapeal.

Gastrologia avança em Alagoas

A importância do apoio à pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas em AL.

Pesquisadora Luciana Corá, da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, trabalha no desenvolvimento da técnica BAC para futura aplicação em estudos clínicos.

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fapealemrevista@fapeal.br


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POR TÁRCILA CABRAL

Estudantes do Campus Arapiraca da Universidade Estadual de Alagoas compartilham suas experiências como pesquisadores de iniciação científica.

Ana Riquelle Eu sonhava em ser cientista e acreditava que ingressar neste curso de licenciatura iria abranger ainda mais meus conhecimentos. Considero que o primeiro passo é se dedicar a iniciação científica, afinal este é o contato inicial que temos com trabalhos que irão nos auxiliar num mestrado. É também por meio da Universidade, instituição esta que disponibiliza a pesquisa como mediadora da educação, que é fornecido a nós, alunos e jovens pesquisadores, a oportunidade de ter um contato prático e científico acerca dos conceitos da sala de aula.”

Alverlan Araújo A pesquisa tem um papel de suma importância na carreira acadêmica do graduando, pois ele pode se encontrar nesta área, especializar-se e, consequentemente, ter os resultados destes estudos atuando diretamente em sua comunidade. Em minha localidade, há criatórios de tilápia e agricultores que trabalham com a produção de inhame. O uso deste tubérculo para elaboração da ração pode ser uma forma viável e econômica de reaproveitá-lo, uma vez que este não pode ser utilizado para alimentação humana. A minha intenção é poder levar os conhecimentos e resultados das pesquisas futuras para a agricultura familiar e produtores da zona rural de minha localidade.”

Tamara Tais Estamos finalizando um dos experimentos que tem como tema o desempenho de juvenis de Tilápia do Nilo e realizar esta pesquisa torna-se importante, pois somente o conhecimento teórico não é suficiente. A implementação de práticas e pesquisas em campo são fundamentais para o desenvolvimento de novos conhecimentos. O estudo científico já ganhou o seu espaço dentro da formação acadêmica, transformando-se hoje numa das ferramentas primordiais na formação e no desenvolvimento do discente na Universidade.”

FOI OU AINDA É PESQUISADOR DA FAPEAL? Então apareça aqui! Envie um breve depoimento, acompanhado de uma foto, para fapealemrevista@fapeal.br

Fotos gentilmente cedidas pelos estudantes.

TRÊS ESTUDANTES do curso de Ciências Biológicas do Campus Arapiraca da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) conversaram com nossa equipe sobre como é trabalhar com iniciação científica. Eles integram o projeto Desempenho de Juvenis de Tilápia do Nilo alimentados com farinha de inhame e Juvenis de Tambaqui alimentados com farinha de folha de mandioca como ingrediente de ração, orientado pela professora Kátia Santos Bezerra. Confira abaixo:


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Inovação e propriedade intelectual em debate Durante uma semana, Alagoas sediou a 8ª edição do ProspectCT&I com extensa programação de cursos, palestras e oficinas. POR NAÍSIA XAVIER e TÁRCILA CABRAL

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O MAIOR EVENTO de propriedade intelectual e transferência de tecnologia para a inovação da América Latina foi realizado em Alagoas. Entre os dias 13 e 18 de agosto, o 8º Congresso Internacional do Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (8º ProspectCT&I) teve variada e extensa programação. Cursos, palestras, oficinas e apresentações de trabalhos movimentaram o Estado que, mais uma vez, foi destaque na área de ciência, tecnologia

e inovação. Um dos temas que gerou grande discussão foi a polêmica em torno de direitos autorais, com debates sobre conhecimento científico e tecnológico para a realidade dos negócios inovadores. Na ocasião, os especialistas apontaram que, por mais que a internet esteja totalmente integrada à vida da maioria das pessoas, os meios digitais frequentemente apresentam dilemas quando o assunto é produção de conhecimento.

MANUEL HENRIQUE

Os quatro palestrantes abordaram questões como o histórico dos direitos autorais e da propriedade industrial, os modelos de acesso (pagos e livres) aos dados de pesquisas produzidos em instituições públicas, direitos autorais, patentes, o aspecto jurídico de todas essas questões e um case local, representado pelo Repositório Institucional da Universidade Federal de Alagoas (RIUfal). O debate seguiu o modelo “oficina mão na massa”, ou seja, as discussões


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foram pautadas para questões práticas relativas à pesquisa e desenvolvimento para inovação, no Brasil e no mundo. Uma das espectadoras mais engajadas foi Jamilla Almeida. Advogada e produtora cultural, ela estuda no Profnit a área de direitos do autor e licenciamentos criativos. Para conseguir uma amostra real das situações práticas de onde emergem suas questões, foi necessário envolver no seu projeto três galerias de arte em Maceió, que apresentam realidades jurídico-administrativas distintas e diferentes relações com o dinheiro: A Pinacoteca da Ufal, que é pública, a Galeria Gama, privada, e uma galeria paraestatal, a do Sesc Centro. Ela avaliou como “extremamente importante” uma ocasião em que se discute criticamente a propriedade intelectual, “e não só para nós que estamos na Universidade, mas também pela possibilidade de diálogo com a sociedade, com as empresas e com os artistas. Não estamos encastelados, muito pelo contrário, estamos no âmbito de realmente fazer compartilhamentos de ideias e de construções colaborativas”, afirmou. A vice-coordenadora do Profnit no Estado, professora Silvia Uchôa, tem uma trajetória intensamente engajada com a inovação tecnológica na Ufal. Para ela, esse tipo de debate serve para esclarecer o quê e como deve ser protegido nas universidades: “O conhecimento deve ser exposto à sociedade, porque é produzido com dinheiro público, mas isso não impede que as universidades protejam as suas realizações através de patentes. Então, são duas coisas que podem ser feitas sem prejuízo do direito autoral da pessoa que produz o conhecimento, mas também trazendo vantagem financeira para a universidade”, opinou. Na ocasião, os palestrantes observaram ainda que, além de situações relativamente novas ligadas à internet e outras redes digitais, os pesquisadores, os empreendedores e as instituições também precisam lidar com uma legislação que já era complicada em seus moldes tradicionais, e ainda está muito longe de dar conta das complexidades dessas novas realidades digitais e globalizadas.

Desafios para a inovação Representantes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) discutiram os desafios para a inovação durante o 8º ProspectCT&I. O diretor de cooperação institucional do CNPq, José Ricardo de Santana, apresentou indicadores na área de CT&I, destacando o índice de complexidade econômica do Brasil, que ainda demonstra uma exportação voltada a produtos primários, como minerais e alimentos, e importação de produtos industrializados: “Temos o desafio de trabalhar a agregação de valor na pauta da economia brasileira”, apontou. Ele disse ainda que o CNPq está priorizando projetos que “façam a diferença, avançando as fronteiras do conhecimento”, porém, ressaltou a necessidade de políticas públicas para induzir “um desdobramento interno das ações, em termos de desenvolvimento e de reduzir disparidades”. Contextualizando a questão, o diretor-presidente da Fapeal, professor Fábio Guedes, economista e docente do Profnit, retomou a questão do modelo colonialista brasileiro, que manteve a indústria nacional sob termos proibitivos durante séculos, uma cultura com a qual o país ainda conseguiu romper completamente. “As maiores empresas internacionais que estão no Brasil não abrigam seus núcleos de inovação aqui, mas em termos institucionais estamos avançando muito, inclusive com o novo marco legal da CT&I”, ponderou Guedes, referindo-se à legislação regulamentada em fevereiro de 2018 que aperfeiçoa os mecanismos para inovação no Brasil. Ele disse ainda que, em termos de cultura, a CT&I tem se posicionado como parte da solução e não do problema. “Neste sentido, a transparência é uma aliada porque permite que a sociedade conheça e defenda mais a política de ciência, tecnologia e inovação”, refletiu.


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Uma nova formação para uma nova economia Uma inovação é composta basicamente a partir de uma ideia desenvolvida ao ponto de se tornar um processo ou produto rentável para os negócios. Por isso, é necessário proteger legalmente o conhecimento (propriedade intelectual) e formatar os caminhos para transformar essa ideia em algo pronto para o mercado (transferência de tecnologia). Como resposta, o Profnit volta as suas disciplinas a temas como inovação, empreendedorismo, projetos em ciência tecnologia e inovação, legislação e políticas públicas na área de CT&I, patentes, marcas, biotecnologia e setores tecnológicos. O professor Josealdo Tonholo, docente da Ufal e pró-reitor do Profnit, explica que uma das missões do programa é estabelecer uma linguagem única em relação à propriedade intelectual e transferência de tecnologia para todo o país, através dos 28 pontos focais que o compõem hoje. “Queremos que os alunos que vamos formar sejam catalisadores nas suas regiões. Alguém do Rio Grande do Sul tem que conversar com alguém de Roraima na mesma língua, para que possam fazer negócios e trabalhar na legislação, de forma que eles tenham um conteúdo unificado, e propagem isso para induzir desenvolvimento”, disse.

Jamilla Almeida estuda área de direitos do autor e licenciamentos criativos no Profnit e participou ativamente do evento. FOTO MANUEL HENRIQUE

Outra característica do mestrado é a dedicação a temas transversais, um assunto para ser tratado em todas as disciplinas e explorado pelos alunos em suas facetas diversas, como patentes, políticas, legislação e estratégias nacionais e internacionais. “Normalmente, escolhemos um tema de interesse brasileiro muito específico e também algum tema transnacional, que possa impactar nas importações e exportações”, explicou Cristina Quintella, coordenadora acadêmica nacional do Profnit. Entre os últimos temas transversais escolhidos foram tratadas tendências como impressão 3D, internet das coisas e indústria 4.0, termo que ilustra novas formas de produção orientadas a partir das tecnologias de automação e dados digitais.

Representante do CNPq apresentou indicadores na área de CT&I e destacou a complexidade econômica do país. FOTO MANUEL HENRIQUE



R O V . B . G L A C O . I F I T N E I S I L A N R O J O I M R E P

Para tanto, presta homenagem a um dos ícones do Jornalismo e Comunicação no Brasil: José Marques de Melo. Veja mais sobre ele no QR code abaixo.

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Por isso, o Prêmio José Marques de Melo de Jornalismo em Ciência, Tecnologia e Inovação de Alagoas tem como objetivo sensibilizar e fomentar a produção jornalística de trabalhos que retratem a importância da ciência, tecnologia e inovação na sociedade e valorizar iniciativas nesta área.

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O fornecimento de instrumentos aos cidadãos para tomada de decisões em assuntos de interesse público é imprescindível, uma vez que o impacto da produção científica e tecnológica afeta diretamente as pessoas.


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Cooperação entre universidade e segmento empreendedor Se existiam dúvidas acerca da possibilidade de empresariado e Universidade trabalharem em conjunto, elas foram sanadas durante o evento. A discussão envolveu acadêmicos e empreendedores que participam ativamente dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT), durante a programação disponibilizada na sede do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Caminhando entre as duas esferas, Júlio Holanda Neto abriu os debates e compartilhou sua experiência tanto como gestor na indústria, quanto como pesquisador. O doutor em engenharia química é atualmente gerente na Unidade de Vinílicos da Braskem S.A, e reconhece que a experiência na universidade o fez construir um pensamento analítico, porém revelou o quão burocrático e lento é o processo da pesquisa em detrimento ao mercado.

Já a Prisco Ambiental explorou o contexto dos novos negócios e expôs o seu portfolio como uma empresa que saiu da Incubadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A startup alagoana trata de forma inovadora esgotos sanitários e seus efluentes, seguindo esta nova tendência de negócio com uma vertente também no âmbito social. “Este trabalho tem uma repercussão social, pois após o convênio firmado nós doamos o serviço de tratamento de esgoto utilizando a mão-de-obra carcerária para o trabalho, e devolvendo os resíduos transformados em água limpa a um riacho de região. Assim solucionamos um problema crônico da unidade prisional”, frisou Ícaro Silva, um dos sócios da Prisco. A referência por empreender e inovar também foi um sentimento compartilhado desde a graduação em administração de Ibsen Bittencourt, hoje professor da Ufal. Desde 2010 na docência, ele teve a oportunidade de desenvolver a sua própria startup, geran-

O diretor-presidente da Fapeal, professor Fábio Guedes, participou de mesa sobre os desafios para a inovação. F OTO MANUEL HENRIQUE

do um aplicativo de sucesso em tutoria estudantil, mas também realizando outros projetos que foram encerrados. Esta experiência o motivou a questionar o ramo empresarial e entender quais eram as suas demandas, e desta pergunta surgiu o Gidle. O problema foi relatado por uma grande empresa de sapatos de Maceió, que chegava a perder cerca de R$ 194 mil, com a procura por produtos que não se encontravam disponíveis nas lojas, mas estavam acessíveis em outras unidades. Atento a isso, ele desenvolveu software que gerencia estoques de rede e aciona a loja correta com o produto desejado para enviá-lo diretamente a residência do consumidor em até uma hora. Segundo Ibsen, a chave para encontrar o êxito do negócio foi compreender o mercado e canalizar a pesquisa em algo útil.


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o menino de ouros Leonardo Marinho deixou o Instituto Federal de Alagoas com mais de 30 medalhas conquistadas e almeja futuro como pesquisador na área da Matemática PO R DERIKY PEREIRA e JHONATHAN PINO JORNALISTA COLABORADOR I LUST R AÇÕ E S SÁVIO ARAUJO


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ELE TEM UMA LISTA enorme de premiações em eventos nacionais. Somente em 2017, foi reconhecido onze vezes por eventos como olimpíadas de Matemática e mostras de foguetes. Das últimas conquistas, os ouros na Olimpíada Canguru de Matemática, organizada pela instituição francesa Kangourou sans Frontières, na 8ª Mostra Brasileira de Foguetes e na 20ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) – esses dois últimos organizados pela Sociedade Brasileira de Astronomia – além de outros três ouros na 13ª Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e na Olimpíada Alagoana de Matemática (OAM), nos níveis Ensino Médio e Universitário.

Ufa! É muita coisa, hein? Mas ainda não acabou, pelo contrário, estamos apenas no início. Na nossa matéria de capa, vamos conhecer um pouco mais sobre Leonardo Marinho e caminhar pela jornada desse jovem pesquisador rumo à realização de um de seus sonhos: o de se tornar matemático. Nesse percurso, é possível que na casa dele já não exista mais espaços na parede para pendurar os mais de 30 troféus e medalhas conquistadas nos últimos quatro anos, período em que esteve no Instituto Federal de Alagoas (Ifal) como aluno do Campus Maceió. E foi no curso de Edificações que ele disse ter encontrado o seu caminho para, de lá, visualizar o seu futuro: a Matemática. “O Leo, já no primeiro bloco de aula, já se mostrava um aluno especial”, comentou Valdir Soares, professor de Matemática do Campus Maceió, ao lembrar que tudo isso começou numa sala preparatória para o seu primeiro desafio, lá atrás, em 2013. Naquele ano, Leonardo conquistaria a Menção Honrosa da 9ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). De lá para cá foram inúmeras as aulas de preparação, ocorrendo semanalmen-


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fapeal Leonardo [centro] com o professor Carlos Argolo e o diretor-presidente da Fapeal, Fabio Guedes, durante visita à Fundação.

te às quintas-feiras, mas podendo se estender para as sextas, com os professores Valdir, Gilmar e Anderson. Ainda de acordo com Valdir, esses mesmos professores já haviam participado das olimpíadas quando estavam no Ensino Médio e essa seria uma razão pelo qual muitos dos docentes buscariam participar delas; a outra razão seria a possibilidade de fazer pesquisas com o auxílio dos alunos. “O que a Olimpíada promove é uma pesquisa numa escala menor. Isso já é um enorme benefício, passa a ter um conceito de autodidata. O aluno está sozinho e lê a matéria sozinho. O docente é o fio condutor, mas o esforço é realmente do aluno. Então, em um primeiro aspecto, o benefício é promover uma pesquisa numa escala menor, você consegue identificar boas ideias, tratar problemas de ordem da Matemática para fazer pesquisas. Aquele professor que é pesquisador, acaba tendo um celeiro de bons alunos, que acabam, num tempo muito rápido, virando pesquisadores nas Universidade”, enfatizou Valdir.

Como tudo começou... Toda essa história meio que começou com outro docente do Ifal, o hoje aposentado e professor voluntário do Instituto, Carlos Argolo. Foi ele quem trouxe para Alagoas a gana pelo desafio das olimpíadas e preparou as primeiras

gerações. Foi ele também quem primeiro começou a realizar as primeiras mostras de foguetes e desenvolver nos alunos o gosto pela Astronomia. E foi uma competição destas que levou Leonardo à Bulgária, para participar do International Tournament of Young Mathematicians (ITYM), em 2015, juntamente com uma equipe do Ifal.

eram experientes nestas competições, o que acabou me motivando e eles serviram de espelhos para que eu pudesse crescer também. Alguns ex-alunos do Ifal, Davi Lima e Alan Anderson, que fizeram parte deste mesmo grupo do professor Argolo, em outra geração, me ajudaram bastante, por meio de orientação ao longo destes anos”, recordou.

“É uma competição que reúne equipes de vários países. Cada ano é proposta uma lista de problemas, alguns para gerar discussões, e as equipes têm até o dia do evento para tentar resolver o máximo possível. Então lá a competição se dá a partir de debates e confrontos entre as equipes. Participar desta competição foi muito importante para mim, pois me motivou a continuar estudando, principalmente para as olimpíadas científicas”, explicou Leonardo.

Também foi esse elo entre as gerações, proporcionado por Argolo que fez Leonardo, ainda no Ensino Médio, manter o contato direto com docentes do Instituto de Matemática (IM) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Para ele, tudo isso só se tornou possível porque ele buscou equilibrar os estudos com seu tempo livre. “A parte do lazer e descanso é tão essencial quanto o esforço, pois se a parte emocional está abalada você não consegue produzir bem. Com relação a isso, levei bem tranquilamente e a questão de se dedicar a estas outras atividades não atrapalhou na vida social, consegui conciliar bem, basta administrar bem o tempo”, pontuou.

Foi também com o professor Argolo que Leonardo começou a fazer parte de um projeto de extensão, o Programa Independente Matemática Integrada (PIMI), desenvolvido nas redes estaduais e municipais de educação - ele, inclusive, atua dando aulas na escola em que estudava. E seja como monitor de Matemática do Ifal, ou participando das competições, Leo, como é também chamado, sempre buscou manter contato com pessoas das quais tenha as mesmas afinidades e que sempre o ajudam a resolver os problemas. “No início eu conheci alunos que já

Dentre mestres e doutores, lá estava Leonardo A jornada de Leonardo ainda lhe reservava outras surpresas. Em julho de 2017, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal) publicou edital de Apoio à Participação em Reuniões em Científicas. O anúncio visava estimular


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o intercâmbio de pesquisadores das instituições de ensino superior e de pesquisa alagoanas com instituições de fora do Estado e do país, além de divulgar a produção e as atividades técnico-científicas e de inovação desenvolvidas nas instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) alagoanas. O diferencial daquela edição, no entanto, foi o de apoiar a participação de estudantes dos ensinos Médio ou Técnico das redes estadual ou privada de ensino. Nesse contexto, Leonardo foi um 33 dos contemplados – o mais jovem deles – e conseguiu participar da 14ª Jornada de Foguetes no Rio de Janeiro. A competição foi em equipe e ele se juntou aos colegas do Ifal, Vinícius Tenório e Diogo Rafael, todos sob a orientação do professor Argolo. “Foi uma viagem muito boa, a primeira para participar de um evento em outro Estado. Lá eu conheci o [astronauta brasileiro] Marcos Pontes e acompanhei palestras com pessoas que trabalham com foguetes no Brasil, foi muito interessante esse conhecimento, além de ter o contato com outras pessoas que fazem esse trabalho, para ver a ideia delas e aprimorar o nosso trabalho”, explicou o estudante. O professor Carlos Argolo comemorou a iniciativa da Fapeal e destacou a importância de o edital contemplar, além de mestres e doutores, estudantes do ensino médio. Argolo apontou ainda a importância dos investimentos em CT&I que, aliados com a educação, podem auxiliar no crescimento do país. “Ano após ano, vêm caindo os investimentos quando, na verdade, eles têm que ser acelerados e implementados para que o Brasil volte a crescer e volte, algum dia, a pensar em ser uma grande nação. Então, é importante que se dê uma boa educação e que se façam investimentos em educação como, por exemplo, 40% do PIB quando a nossa constituição dá somente 6%. É preciso dar acesso à educação, pois todo ser educado é um ser que tem capacidade de sobreviver, de gerar seu próprio conhecimento e seu próprio trabalho”, disse.

O interesse pela ciência “Muito se diz que o aluno não tem inte-

Em 2015, aos 15 anos, Leonardo recebeu seu primeiro ouro na Olimpíada Alagoana de Matemática. FOTO ASCOM UFAL

resse, mas começa que o professor desse aluno é desmotivado também. O primeiro de tudo é o professor ser motivado pra motivar esses jovens. Eu, no fundamental, não tive nenhum incentivo além da sala de aula, sempre fui de escola pública. E quando cheguei ao Ifal, comecei a fazer parte do Laboratório de Física, fazer atividades fora da sala de aula, que é algo simples e acho que todo mundo deveria participar. Mas, para isso, é preciso um professor incentivador. Dificilmente só o aluno vai, ele mesmo, não por causa de interesse, mas por causa de conhecimento”, apontou Leonardo.

O professor Carlos Argolo também comentou sobre o interesse do aluno pela ciência. Para ele, o estudante precisa ser provocado desde cedo. “A ciência é o caminho mais gratificante e capaz de tirar a pobreza do nosso país. A educação, desde a pequena idade, é capaz de mudar a identidade. E a gente tem que fazer o jovem estudar. Eu acho que a Fapeal tem um fundo de participação nisso. Fundações como a Fapeal e o trabalho de divulgação que fazem são muito importantes”, completou.


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“É a primeira vez, até onde eu sei que uma Fundação de pesquisa nacional está financiando aluno de ensino médio. Éramos 33 cientistas, todos eles doutores e o Leonardo era o único não doutor. Não tinha bacharel, nem mestrado. Isso foi extremamente marcante para a Fapeal. Com esse edital, a Fapeal deu um pontapé numa coisa que não existe, por exemplo, na Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] que é uma gigante, mas não teve esse passo pra mandar um aluno a uma competição. Apesar de sermos campeões de tanta coisa negativa, a Fapeal deu um passo à frente e tem sido uma instituição que tem dado um fim à pesquisa. É um incentivo aos jovens, motiva bastante”, vibrou Argolo.

No 1º ano, no Ifal, eu não fui muito bem, mas não desisti. No ano seguinte, surgiram as primeiras medalhas e no Matemática sem Fronteiras, nossa equipe foi campeã nacional e fomos convidados para a Internacional, na Bulgária. Foi a primeira vez em que vi, de fato, um aluno ir ao exterior por causa de Matemática, o que me motivou bastante para continuar e decidir que o que eu queria mesmo era seguir na área científica, ser pesquisador. Afinal, um aluno de escola pública, conseguir isso a partir do estudo, se apaixonando e se motivando para continuar... É o que eu tento passar para as pessoas. Elas vêm com uma história de ‘ah, você é gênio’ (risos) quando, na verdade, é muito tempo de estudo. Se você tem a paixão e se esforça, vai conseguir. Hoje, estou matriculado na Ufal, um sonho realizado. Vou continuar estudando para atingir as metas e me tornar um pesquisador”, comemorou o estudante.

Leo também foi premiado com ouro na categoria Nível 4 - para estudantes de nível superior. FOTO JHONATHAN PINO

O sonho realizado Aos 13 anos, Leonardo Marinho ingressou no Ifal e, no curso Edificações, tinha a intenção de se tornar Engenheiro Civil. Mas os planos mudaram quando ele conheceu a Matemática mais a fundo. Toda a jornada do jovem cientista não foi fácil, mas depois da resolução de alguns problemas e outros cálculos, com a ajuda de fórmulas e gráficos, ele colhe os frutos de seu esforço. Hoje, aos 17 anos, Leo teve aprovação em Matemática na Ufal e se diz grato por todas as oportunidades conquistadas.

Leonardo conheceu Alan Ande FO TO AS rson, uma COM UFA de suas insp L irações

, em 2015.


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Grupo indígena foi tema de pesquisa que buscou compreender suas vivências da seca.

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O MÊS DE ABRIL sempre costuma trazer algumas discussões relacionadas aos índios e, dentre outros motivos, especialmente pe- la comemoração do seu dia. No entanto, reflexões sobre o assunto não cabem apenas naquele mês, devem ser feitas em quaisquer ocasiões para fincar o tema na rotina de diálogos num contexto significativo, pois quanto mais valor se agrega a esta cultura, mais se consegue preservá-la e impedir que se fragilize.

Fazendo uma conexão com elementos característicos de nossa região, Os Kalankó: práticas tradicionais e a memória da seca no alto sertão alagoano, foi uma análise desenvolvida na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), pelo acadêmico Moisés Oliveira. No apoio desta iniciativa, o Governo, por meio da Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), forneceu auxílio financeiro para que a tese de mestrado ganhasse vida, investigando quais singularidades deste povo seriam relevantes à composição da cultura alagoana. Numa das regiões mais áridas do sertão alagoano, e de complexa sobrevivência, está a realidade dos indígenas Kalankó, escolhidos por Moisés para encabeçar o tema de sua dissertação em Antropologia Social. O grupo vive atualmente na localidade de Água Branca, próximo às divisas com Pernambuco. O acadêmico enxergou que era importante conhecer as particularidades e adaptações para se viver num ambiente tão controverso como o sertão. O questionamento encontrou uma trajetória cercada por constantes migrações, que de-

rivam da descendência de um antigo aldeamento situado em Brejo dos Padres, os Pankararu, e da miscigenação com outros povos alagoanos. “A sua genealogia é explicada com a base de uma árvore onde o grupo mais antigo é visto como um tronco e, os mais jovens, o resultado de diáspora é visto como a rama”, citou Moisés.

Pesquisa in loco A pesquisa buscou compreender como se davam as relações de memória com a seca já que eles habitam uma região semiárida e vivenciaram conflitos. Os momentos de desgaste do povo indígena e da atenção do governo são uns dos pontos mostrados, que geraram experiência de impacto negativo nos contatos iniciais nos anos de 1980 e 1990.


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FOTO JOSÉ FEITOSA


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vação (CT&I) alagoanas. O diferencial daquela edição, no entanto, foi o de apoiar a participação Segundo o acadêmico, os Kalande estudantes dos ensinos Médio kó em tempos passados eramou um Técnicogrupo das redes estadual ou da privada indistinto dentro populade ensino. contexto, Leonardo çãoNesse do sertão, só que em 1998,foi eles um 33 dos contemplados – o mais jovem ressurgem e se reafirmam pudeles –blicamente e conseguiuenquanto participaruma da 14ª etnia Jornadapresente de Foguetes Rio deNeste Janeiro. na no região. segA competição foi em equipeum e ele se mento, eles se tornam público juntou distinto, aos colegas do Ifal, Vinícius compondo frentes de serTenórioviço, e Diogo todos sob a porémRafael, com algumas contraorientação do professor Argolo. riedades relativas aos equívocos do combate oficial à seca. “Foi uma viagem muito boa, a primeira para participar um evento em se O estudo de afirmou que para outro Estado. Lá eu conheci o [astronaucompreender a estiagem como um ta brasileiro] Marcos Pontes acompafator climático cíclico ee recorrente, nhei palestras quebuscando trabanão se com pode pessoas trabalhar lham com foguetes no conviver Brasil, foicom muito combater e sim a seinte- ressante esse conhecimento, além ca de forma técnica e inteligente. de ter o contato com outras pessoas que Por meio destas experiências, os fa- zem esse trabalho, para ver a ideia Kalankó passam a se relacionar delas e aprimorar o nosso trabalho”, com outros grupos já políticos e explicou o estudante. organizados dentro da extensão no semiárido alagoano. O professor Carlos Argolo comemorou a iniciativa da Fapeal e destacou a Já com relação às novas tecnoloimportância de o edital contemplar, gias e as formas de organização, o além de mestres e doutores, estudantes aldeamento está conseguindo visdo ensino médio. Argolo apontou ainda lumbrar dos a possibilidade de permaa importância investimentos em nência no campo, onde a seca já CT&I que, aliados com a educação, é um mas do umpaís. fenôpodem não auxiliar noinimigo, crescimento meno compreendido e passível “Ano após ano, vêm caindo os investi-de diálogo mentosconvivência: quando, na “Este verdade, eles não têm se que ser acelerados e implementados para que o Brasil volte a crescer e volte, algum dia, a pensar em ser uma grande nação. Então, é importante que se dê uma boa educação e que se façam investimentos em educação como, por exemplo, 40% do PIB quando a nossa constituição dá somente 6%. É preciso dar acesso à educação, pois todo ser educado é um ser que tem capacidade de sobreviver, de gerar seu próprio conhecimento e seu próprio trabalho”, disse.

“Muito se diz que o aluno não tem interesse, mas começa que o professor desse aluno é desmotivado também. O primeiro de tudo é o professor ser motivado pra motivar esses jovens. Eu, no fundamental, não tive nenhum incentivo além da sala de aula, sempre fui de escola pública. E quando cheguei ao Ifal, comecei a fazer parte do Labora

trata apenas do conhecimento técnico enquanto saída ao determinismo geográfico e biológico, é também uma nova forma de se reorganizar não mais apenas enquanto sertanejo, mas enquanto como Kalankó e sertanejo também”, frisou o estudioso.

Experiência e Trocas Culturais A finalidade dos Kalankó é permanecer na terra, fortalecer rituais, solidificar a identidade e preservar a memória, porque é pela conservação histórica e cultural que se avança. Os moradores que vivem no entorno da região observam e entendem seus aspectos culturais, mesmo não fazendo parte da aldeia. Abordando as fragilidades do sertão, ainda hoje se observa a migração como um tema recorrente e complexo, devido às condições hostis de sobrevivência. Isto é comprovado através da saída mais intensa dos jovens, quando eles atingem a idade adulta e partem. Há também um forte deslocamenFOTO INGRID REBOUÇAS

to para o corte da cana no litoral alagoano, e outro com rumo ao Mato Grosso, em épocas de colheita da laranja. A sociedade, não ocasionalmente, olha para o índio como uma alegoria folclórica, ensinada às crianças com rostos pintados e penas de cartolina na cabeça para o Dia do Índio. Deve-se trazer para o contexto político do Brasil grupos de sujeitos reais, que têm as suas demandas específicas, e representam grupos que lidam com vivências difíceis, como a seca, em nossa localidade. Moisés aproveitou a oportunidade para destacar a importância do apoio do Estado, por meio da Fapeal, que lhe auxiliou no desenvolvimento da pesquisa. “Eu considero interessante o financiamento da Fapeal, pela instituição possibilitar este tipo de pesquisa que diz respeito à justiça social entre outras coisas, e é fundamental saber que toda a minha turma de mestrado, a primeira de Antropologia Social da Ufal, pôde contar com bolsas da Fapeal.”


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JOGO DA MEMÓRIA

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O Calendário Fapeal 2018 e sua temática compõem um esforço de apresentar à sociedade parte da estrutura científica de Alagoas, por meio da exposição de alguns importantes laboratórios de pesquisa instalados em nossas instituições. E no intuito de popularizar ainda mais o conhecimento científico, trazemos este jogo da memória para você aprender e se divertir!

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PATRIMÔNIO LABORATORIAL ALAGOANO aque os


A equipe do Laboratório de Genética Forense da Perícia Oficial do Estado está no Calendário Fapeal 2018.

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Este não é um calendário que conta os dias, ele conta uma história. Até pouco tempo, a Perícia não tinha seus laboratórios, mas foram implantados e, com isso, fomos inseridos no contexto laboratorial do Estado e no Calendário. A nossa intenção é estreitar os laços com a Fapeal e buscar recursos para pesquisar e gerar conhecimento, além de produtos para o Estado, pois pericia é ciência e pesquisa constante.” diz Rosana Coutinho da Perícia Oficial.

JOGO DA MEMÓRIA


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gas tro ente rolo gia

Pesquisadora Luciana Corá, da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, trabalha no desenvolvimento da técnica BAC para futura aplicação em estudos clínicos POR KEREN LIMA JORNALISTA COLABORADORA


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MOTILIDADE GASTRINTESTINAL, você já ouviu falar? É a forma como a musculatura do estômago e intestinos trabalham para transportar, ao longo do tubo digestivo, os alimentos que são ingeridos. Falando assim até parece complicado, mas é algo que todas as pessoas fazem diariamente, de forma inconsciente. E, apesar de ser um processo natural, às vezes esse transporte não ocorre da maneira correta, o que pode gerar problemas: se for muito rápido o corpo não absorve nutrientes suficientes dos alimentos; se for muito lento pode gerar o que é popularmente conhecido como intestino preguiçoso. Para desvendar esses e outros distúrbios do funcionamento do trato gastrintestinal é imprescindível que se conheça mais do universo por meio do desenvolvimento de pesquisas e técnicas. Em Alagoas, o Laboratório de Biomagnetismo e Gastroenterologia (BiomaG) da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), coordenado pela professora Luciana Corá, é o responsável por desvendar esses mistérios. A professora nos explica que o Bio-

maG possui duas linhas de pesquisa: uma sobre a biotecnologia em saúde, relativa ao desenvolvimento da técnica da Biosusceptometria de Corrente Alternada (BAC) para estudos da motilidade gastrintestinal; e outra voltada para a investigação clínica, onde essa técnica será utilizada para se avaliar diferentes parâmetros da motilidade gastrintestinal em pacientes diabéticos e obesos, crianças com Síndrome de Down, além de uma verificação dos efeitos da idade na motilidade. Na linha de pesquisa relacionada à biotecnologia, os trabalhos são desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Biomagnetismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu) para o aperfeiçoamento da técnica em futuras aplicações clínicas. “O laboratório em Botucatu é responsável por fornecer os sensores e, com o uso frequente deles, podemos identificar quais são as dificuldades, as necessidades e eles são responsáveis pelo aprimoramento”, disse a professora. As pesquisas na área clínica pretendem investigar possíveis alterações na

motilidade e no trânsito gastrintestinal que estejam relacionadas à obesidade e a diabetes. Segundo a pesquisadora, o indivíduo com obesidade mórbida, por exemplo, tem dificuldade na absorção de certos nutrientes, o que pode estar relacionado com alterações nessa função e, também, na própria flora do trato gastrintestinal. “Nosso objetivo é avaliar o indivíduo depois que ele é submetido à bariátrica, se a cirurgia em si também é um fator que contribui para alterar a motilidade, se é possível que isso ocorra e se este fator diretamente envolvido na recuperação desse paciente. Este paciente, submetido à cirurgia, perde peso porque o estômago está reduzido e ele ingere menos alimentos. Além disso, ocorrem mudanças no metabolismo e a relação entre essas mudanças e a forma como o alimento é transportado após a intervenção é o que pretendemos estudar. E com relação ao diabetes, é sabido que esta doença interfere diretamente no esvaziamento gástrico, tornando-o mais lento. Quando isso ocorre, há uma série de implicações”, explicou Luciana Corá.


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SENSORES MAGNÉTICOS F E R R I TA + I O G U R T E ESTÔMAGO / INTESTINOS

Ampliação do campo de estudos Além dessas pesquisas citadas anteriormente, existe ainda um estudo com idosos saudáveis com a intenção de identificar os efeitos que a idade desempenha na motilidade e outro que pretende avaliar diferentes aspectos da motilidade gastrintestinal em crianças, sobretudo naquelas que tenham Síndrome de Down. “A motilidade nesta faixa etária carece de estudos para definir os valores normais, uma vez que as técnicas vigentes são invasivas, usam radiação ionizante ou possuem alto custo. Criança é uma população muito restrita e afetada por uma série de distúrbios na motilidade, especialmente aquelas com Síndrome de Down. Nossa proposta é mostrar que essa técnica também tem uma aplicabilidade importante e nesse grupo bastante seleto que são as crianças”, declarou a professora.

B A C

Como alternativa a essas técnicas é que surge o uso da BAC. “Ela consiste no uso de sensores magnéticos, não invasivos, que geram um campo magnético para excitar e detectar a resposta de um material que responde ao campo aplicado externamente (abdome). Esse material, chamado de ferrita, é ingerido pelo paciente na forma de comprimidos ou misturado a um alimento-teste (iogurte). Os sensores são posicionados na região que será avaliada (estômago ou intestinos) e a resposta consiste em sinais detectados continuamente e, após o processamento, são obtidas imagens para caracterizar a passagem do marcador (ferrita) ao longo dos segmentos do trato gastrintestinal. Esses sinais também fornecem informações sobre a motilidade, uma vez que a frequência e a amplitude das contrações também podem ser quantificadas”, explicou Luciana Corá.

BAC em pacientes é abordagem inédita As pesquisas desenvolvidas no BiomaG são inéditas por possibilitarem a aplicação dessa técnica em estudos clínicos com pacientes. Tais estudos foram iniciados em Alagoas com o objetivo de


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avaliar o efeito de medicamentos em pacientes transplantados. “Com a técnica BAC, essa é uma abordagem inédita. Nós temos estudos em modelos com animais, em indivíduos saudáveis, mas em pacientes, os estudos devem ser ampliados para futuras aplicações clínicas da técnica”, destacou a pesquisadora. Além disso, os métodos biomagnéticos, mais precisamente o uso da BAC, se destacam como uma alternativa para o estudo das propriedades do trato gastrintestinal por três motivos, como destacou Luciana Corá: “Primeiramente, o custo, que é reduzido, comparando-se com qualquer outro método vigente na clínica; segundo, ela não é invasiva, assim como a cintilografia não é invasiva, pois não usa radiação, como a cintilografia, por exemplo. E em terceiro, o fato de ela ser facilmente manipulada, ou seja, é uma técnica que necessita de um treinamento muito simples para sua utilização.”

O despertar para a ciência Sempre fascinada pelo universo da ciência, Luciana Corá almejava um dia se tornar cientista. Tinha interesse em descobrir como funcionava o corpo humano e, além disso, como curá-lo quando atingido por alguma doença. Quando chegou o momento para escolher uma área de formação, não teve dúvidas: optou pela da saúde.

Laboratório foi contemplado com edital da Fapeal e ampliou suas atividades.

Sua saga pelo universo científico começou em 1998, quando iniciou sua graduação em Ciências Biomédicas em Botucatu e, quatro anos depois, ingressou no Mestrado em Ciências Biológicas. Lá, o trabalho desenvolvido seguia a linha de pesquisa que fora iniciada na Iniciação Científica Biomagnetismo e Tecnologia Farmacêutica. No ano seguinte aprimorou os conhecimentos na área de tecnologia farmacêutica, através de estágios na indústria, com o objetivo de propor a técnica de Biosusceptometria (BAC) como uma ferramenta alternativa para o estudo de processos farmacêuticos. Unir os conhecimentos e técnicas aprendidos nos estágios ao trabalho no laboratório deu bons resultados: “Foi o ano mais produtivo da minha carreira:

Imagens do processo: Na linha superior, encontram-se imagens do material magnético (marcador) no estômago - o marcador está em vermelho. Na linha inferior, o marcador localiza-se no intestino.


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abordagens inéditas que renderam papers nas revistas mais importantes da área e o primeiro convite para escrever um artigo de revisão. Artigo este que foi publicado na Advanced Drug Delivery Reviews, a mais proeminente revista da área farmacêutica”, recordou a pesquisadora. Desde a Iniciação Científica, Luciana Corá entrou num processo de aprendizado constante e de muita dedicação á sua área de atuação. Em 2006, começou o doutorado na área de Farmacologia e conseguiu em apenas 24 meses defender sua tese, sendo a primeira aluna do programa a concluir a formação. Obstinada, no ano seguinte ela deu início ao seu pós-doutoramento em Clínica Médica, pela faculdade de Medicina da USP/ Ribeirão Preto.

“Esse foi o apoio mais expressivo. O Pronem possibilitou a aquisição de equi- pamentos com tecnologia de ponta, fundamentais para os estudos desenvolvidos pelo grupo. Por meio dos recursos da Fapeal, foi posSível adquirir o sistema GastromotiliT – BAC com multisensores e, com essa tecnologia, ampliaram-se as parcerias, os projetos, o número de alunos e a produção científica do grupo”, comemorou Luciana Corá.

A chegada em Alagoas, a criação do Laboratório e os desafios de se fazer pesquisa Em 2010, Luciana Corá aterrissou em solo alagoano, contratada pela Uncisal como professora visitante. Cinco anos depois, veio a ser efetivada após prestar concurso público. Em meio aos questionamentos, a lembrança do real motivo pela escolha da instituição alagoana: “Pelo desafio. Deixei minha zona de conforto, minha família, o parque tecnológico, estrutura científica e linha de pesquisa consolidada em Tecnologia Farmacêutica para criar. O desafio era implantar um laboratório na Uncisal, criar linhas de pesquisa e produzir. Era necessário superar a escassez de recursos e contribuir com o desenvolvimento da pesquisa na Universidade”, recordou. O BiomaG foi fundado na Uncisal em outubro de 2010, com o apoio do professor José Ricardo de Arruda Miranda, chefe do Laboratório de Biomagnetismo da Unesp em Botucatu, que cedeu os primeiros equipamentos. Em seguida, foi formado o Grupo de Pesquisa em Biomagnetismo aplicado à Gastrenterologia, que recebeu recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, com isso, outros equipamentos foram adquiridos, o que tornou possível o aumento da capacidade de atuação.

Ainda segundo a professora, todo o aprendizado até aqui foi bastante intenso. “Foram vários alunos nos programas de Iniciação Científica, como o primeiro aluno alagoano e cotista laureado com o 1º lugar Nacional na premiação Destaque Iniciação Científica 2013, por exemplo. Tem sido uma honra contribuir com a formação acadêmica de cada aluno que fez parte do grupo de pesquisas em Biomagnetismo da Uncisal”, salientou Luciana. Em 2011, alunos da Medicina e dos cursos técnicos de Sistemas Biomédicos e Análise e Desenvolvimento de Sistemas foram integrados ao laboratório como bolsistas de iniciação científica, recebendo bolsas do CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). No ano seguinte, o Laboratório ampliou suas atividades após receber recursos financeiros provenientes do edital da Fapeal para o Programa de Apoio a Núcleos Emergentes (Pronem). Vale reforçar que, como toda trajetória bem-sucedida, a da professora Luciana Corá também teve muitos desafios. “Em muitos momentos, não raros, havia dúvidas sobre a formação, sobre a

carreira, se estava certa em continuar ou se teria futuro. Além destes, tinham os experimentos que não fluíam, as inúmeras etapas que eram constantemente refeitas, falta de investimentos e recursos para a pesquisa, a constante pressão das agências de fomento e do programa, a recusa dos papers, a crítica dos referees – experts –, enfim, são incontáveis as dificuldades. Mas, o que faz valer a pena? A satisfação de fazer aquilo que muitos consideram improvável: acreditar no seu potencial, acima de tudo, mesmo quando muitos questionam suas habilidades”, conclui a pesquisadora. Em 2013, com financiamento do CNPq por meio de edital universal, o Laboratório ampliou sua atuação, a ssim como o número de bolsistas de iniciação científica. Em 2016, devido a uma reforma no prédio sede da Uncisal, suas atividades foram paralisadas, mas em meados de 2017, os trabalhos foram retomados. “No momento, o BiomaG passa por reestruturação para, assim, receber novos bolsistas e alunos da pós-graduação”, diz Luciana Corá.


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CÍCERO PÉRICLES

ponto de vista Graduado Mestrado Doutorado

Economia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Sociologia Política Economia

1985

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA - ESPANHA

1998

1992

Comentarista Autor de três livros sobre economia regional MEMBRO Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal)

MEMBRO Conselho Editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos/Companhia de Edição e Publicação de Alagoas (Cepal)

A importância do apoio à pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas em AL CÍCERO PÉRICLES ECONOMISTA E PROFES S OR

A ADMINISTRAÇÃO pública brasileira acumula, em quase dois séculos de independência nacional, uma vasta experiência no sentido da construção de um estado moderno. Essa experiência deu um salto, no sentido de sua profissionalização e qualificação da gestão federal, durante o primeiro governo Vargas (1930-1945), quando da criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Esse Departamento, além de instituir, de forma inovadora, os concursos para preenchimento dos cargos na administração federal, criou uma política permanente de aperfeiçoamento de seus servidores. Foi uma resposta pioneira e moderna a inúmeras necessidades de um país que estava fazendo uma revolução na sua economia, saindo do mundo agrário exportador para uma economia urbana e industrializada. Inspirado no DASP, os Estados brasileiros foram criando seus modelos próprios de gestão, com suas secretarias de administração, implantando programas de formação e qualificação de seus servidores. Meio século depois da fundação do DASP e do crescimento das administrações estaduais, a Constituição de 1988 ampliou o papel dos estados e municípios na gestão das políticas públicas, transferindo para os entes regionais e locais atividades e funções que hoje estão presentes no cotidiano de, praticamente, todos os cidadãos brasileiros. Esse novo papel do estado regional e municípios exige uma administração capaz de respostas tão complexas e sofisticadas como a Era que estamos vivendo. No século 21, Alagoas, com todas as suas conhecidas dificuldades, mantém uma máquina pública que vai se modernizando, mas ainda é pequena e enfrenta os resquícios das antigas práticas clientelistas e da administração patrimonialista. Diante das múltiplas tarefas sociais, definidas constitucionalmente, põe-se para o Estado a necessidade de respostas eficientes, por meio de seus órgãos, com a permanente elaboração de novas agendas e roteiros, baseados em análises acuradas e estudos comparativos, permitindo avanços setoriais, que, somados, sintonizam o Estado com as deman-

das de uma sociedade mais urbanizada e moderna. Uma tarefa consideravelmente grande para cada uma das equipes de analistas e elaboradores de políticas públicas nas mais diferentes instituições do Estado. Neste cenário, diferentemente da maior parte dos programas das instituições federais de apoio à formação de pesquisadores, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e das fundações estaduais de amparo à pesquisa (as FAPs), o Programa de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento de Políticas Públicas (PDPP), implementado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal) e é mais que uma iniciativa para a preparação acadêmica de pesquisadores e docentes para o mundo das universidades. É uma resposta moderna e sintonizada com as demandas atuais da sociedade e do estado de Alagoas, na medida em que treina seus bolsistas para formar quadros para a gestão pública; um programa que aproxima o saber acadêmico, a capacidade técnica e o pensamento analítico dos jovens profissionais, na sua quase totalidade com pós-graduação, com o exercício prático dos experientes servidores estaduais. O PDPP é importante quando substitui a contratação das consultorias especializadas que custam caro e não deixam a memória de seus trabalhos nem qualificam a mão de obra local; é, em síntese, um programa de formação de profissionais da área pública num Estado carente de técnicos e especialistas, num mercado onde predominam as escolas formadoras exclusivas de mão de obra para empresas privadas. É por isso que esse modelo experimentado em Alagoas, com menos de três anos de existência e bem avaliado nas auditorias externas, tem despertado interesse em outras unidades federativas, até mesmo as mais ricas e modernas, como um dos caminhos originais para colocar o Estado, a máquina pública regional, em sintonia com o ambiente e as exigências da sociedade do século 21.



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