Índice Breves Destaque
pág. 3
pág. 4
Migração de Aves em Sagres
Programa Rural
pág. 6
Projecto LIFE Sisão
Programa Rural
pág. 7
Projecto Montados e Florestas de Sobro
LIFE Priolo
pág. 8
Monitorização uma ferramenta essencial
Programa Marinho
pág.10
A Marinha colabora com a SPEA
IBAs
pág.12
Estuário do Mondego
Roteiro Ornitológico
pág.14
Uma visita ao Douro Internacional
Aves à volta do mundo
pág.16
Cuba No coração das Caraíbas
História
pág.18
As Aves nos Descobrimentos portugueses
Conservação
pág.20
Sagres, a Migração e os Parque Eólicos. Crónica de um impacto anunciado?
Ornitologia
pág.22
A ciência das Aves pág.24
Onde observar
pág.26
A Toutinegra-tomilheira Sylvia conspicillata
Ciber-Ornitofilia Telescópios Parte 1: A pesquisa
pág.27
Editorial Helder Costa é um nome que dispensa apresentações. Foi o principal rosto da SPEA nos últimos 8 anos e uma presença constante no acompanhamento dos projectos, das actividades, das pessoas, da sede. A SPEA faz parte da sua família e o Helder certamente é um familiar próximo das aves e da sua conservação. Não passou um dia em que o Helder, levando a peito as suas funções presidenciais, deixasse de visitar a sede ou conferenciar com o staff ou Direcção sobre as questões quotidianas da SPEA. Talvez tenha exagerado na frase anterior: lembro-me agora de uma semana, nos últimos 4 anos, em que o Helder não deu notícias: estava na Costa Rica. Talvez tenha sido o contacto com tamanha variedade de temas e pessoas, no âmbito da SPEA, que tenha levado o Helder a perder uma das suas principais características: a timidez. Um Presidente da SPEA é um Homem e não uma carriça e, por isso, passado pouco tempo, lá estava o Helder com um sorriso nos lábios a enfrentar a comunicação social, os sócios e os mais diversos interlocutores. Com a mesma calma, mas já sem acanhamento, víamos o Helder falar com o mesmo à vontade e conhecimento de causa do Préstige, das IBAs, de espécies ameaçadas ou da estratégia da SPEA para os anos vindouros. A passagem do Helder pela SPEA marca uma fase de enorme sucesso e crescimento para a associação. Se a expressão “homem do leme” é usada noutros contextos, aqui ela também pode ser aplicada com propriedade. Foi beneficiando do seu trabalho e dedicação que a SPEA foi congregando boas equipas directivas e um corpo técnico e executivo de grande qualidade. Passou a haver estratégia, a integração de objectivos de conservação concretos, o desenvolvimento de projectos de importância a nível nacional, um crescimento assinalável do número de actividades para os sócios. Para quem já é sócio há muito tempo, parece que sempre foi assim. Mas não foi. E a liderança do Helder não é indissociável desta evolução. Como sempre, haverá ainda coisas a melhorar na SPEA. É sempre assim, e mal seria se o grau de exigência não crescesse ao mesmo ritmo que a associação. E, sendo um lugar comum, é sempre mais fácil criticar do que fazer. Difícil mesmo seria encontrar quem nos últimos anos tivesse feito mais pela SPEA que o Helder e ainda tivesse arranjado tempo para respirar. É bom reconhecer o mérito a quem o tem e é importante que tal seja feito no tempo certo. A proximidade da saída do Helder não nos ofusca a capacidade para reconhecer, desde já, a sua importância. Agora, tal como quando a SPEA tiver uma idade respeitável, o Helder é já uma referência na associação. Esperamos continuar no bom caminho que ele iniciou (e, bem ao seu estilo, teve o cuidado de indicar num mapa, juntamente com os melhores pontos para observar aves no percurso). E a SPEA contará sempre com a sua colaboração e disponibilidade, mesmo que depois de umas feriazitas merecidas. E não é só a associação que agradece: é todo um coro de cantos e pios que se ouve de madrugada.
Ricardo Tomé
Foto Capa Abutre do Egipto, Ray Tipper
FICHA TÉCNICA Director Carlos Pereira Comissão Editorial Ana Leal, Maria Dias, Susana Rosa, Vanessa Oliveira Fotografias Ana Berliner, Augusto Faustino, Carlos Pereira, Faísca, Instituto Hidrográfico, José Viana, Pedro Cunha, Pedro Geraldes, Ray Tipper, Ricardo Lopes, Ruben Heleno, Teresa Catry, Teresa Marques, Vanessa Oliveira Colaboradores Ana Berliner, Augusto Faustino, Carlos Pereira, Carlos Godinho, Domingos Leitão, Helder Costa, Instituto Hidrográfico, Joaquim Teodósio, João Ministro, Luís Gordinho, Paulo Catry, Paulo Marques, Pedro Geraldes, Ricardo Tomé, Ricardo Lopes, Silvia Nunes, Sofia Coelho, Vanessa Oliveira Ilustrações João Tiago Tavares, Paulo Alves Pedro Alvito Paginação e grafismo BBnanet.com Impressão Textype-Artes Gráficas, Lda Tiragem 1500 exemplares ISSN 0873-1124 Depósito legal: 284857544 Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
SPEA DIRECÇÃO NACIONAL Ricardo Tomé Jaime Ramos Teresa Catry Miguel Capelo Carlos Pereira Maria Dias Pedro Cardia
PRESIDENTE: VICE-PRESIDENTE: SECRETÁRIO-GERAL: TESOUREIRO: VOGAIS:
Rua da Vitória, nº 53, 3º esq 1100-618 Lisboa TEL: 213 220 430 FAX. 213 220 439 e-mail: spea@spea.pt
www.spea.pt A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.
Breves
Novos projectos
LIFE
Pedro Geraldes
Com a última atribuição dos fundos LIFE pela Comissão Europeia, a SPEA participa em dois novos grandes projectos de conservação de aves. Um dos projectos é da responsabilidade do Parque Natural da Madeira, sobre a Freira do Bugio (Pterodroma feae), sendo a SPEA o único parceiro deste projecto. Em Malta, os nossos colegas da BirdLife Malta ganharam um projecto sobre a conservação do Fura-bucho do Mediterrâneo (Puffinus yelkouan) e determinação de áreas importantes para protecção desta espécie e de colónias de aves marinhas. A SPEA será consultora neste projecto, contribuindo com a experiência adquirida no projecto LIFE IBAs Marinhas. São duas excelentes oportunidades para contribuirmos para a protecção de aves marinhas e um bom impulso para o recém-criado Programa Marinho da SPEA. Os nossos parabéns aos proponentes dos dois projectos!
Novos colaboradores da SPEA Desde o início de Abril, contamos com duas novas colaboradoras no Programa Rural da SPEA. A bióloga Joana Andrade, inserida no projecto de Turismo Ornitológico, terá a responsabilidade de planear e realizar trabalhos de inventariação e levantamento de zonas relevantes para o turismo ornitológico e de desenvolver programas, itinerários e informações básicas sobre turismo ornitológico em Portugal. A Clara Ferreira, licenciada em Comunicação e Marketing, irá trabalhar na campanha “Semear o Futuro _ uma agricultura para as pessoas e para as aves”, que visa promover práticas favoráveis à conservação das aves junto dos agricultores do Alentejo. Contamos também com a ajuda da Clara para ajudar a consolidar e projectar a imagem da SPEA. No final de Abril, entrou em funções a nova assistente administrativa, a Susana Alves, que substitui a Joana Cardoso no cargo. A Susana está encarregue do expediente geral de escritório e atendimento ao público (Loja SPEA, actualização de quotas e admissões de sócios) e pode ser contactada pelo endereço de e-mail: susana.alves@spea.pt. Não podemos deixar de expressar o nosso agradecimento à Joana pelo trabalho desenvolvido na SPEA nos últimos anos, e em particular pelo entusiasmo, dedicação e boa disposição a que nos habituou. Em Maio, o Carlos Silva iniciou funções como novo assistente de projecto do LIFE Priolo. O Carlos estará responsável por grande parte do trabalho de monitorização do projecto, bem como pelo acompanhamento das restantes acções de campo. Por fim, em Junho, começou a colaborar connosco o biólogo João Pedro Neves, no âmbito do protocolo “Linhas Eléctricas Aéreas e Avifauna em Portugal” celebrado pelas entidades EDP Distribuição, Instituto da Conservação da Natureza (ICN), QUERCUS _ Associação Nacional para a Conservação da Natureza e Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Desejamos a todos um bom trabalho!
Programa Rural
da SPEA
com novos projectos 1.
SPEA colabora
com a ARCA
A SPEA organizou, em conjunto com a ARCA _ Associação de Repórteres de Ciência e Ambiente, um workshop sobre o tema: “Gripe das Aves: o perigo que espreita no Outono”, dirigido a sócios da ARCA. O workshop, que decorreu em Alcochete a 3 de Julho, teve como objectivo preparar melhor os jornalistas para escreverem sobre o tema. Contou com a presença de representantes do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, da Direcção Geral de Saúde, do Instituto de Conservação da Natureza e da SPEA. Para além das quatro palestras que abordaram questões tão diversas como as inerentes à própria doença (patologia, epidemiologia, virologia) e às possíveis implicações na conservação da natureza e na saúde pública, foi também realizada uma visita às Salinas do Samouco.
O Programa Rural da SPEA, recém-criado, desenvolve em 2006 quatro novos projectos: ! A campanha “Semear o Futuro”, que visa sensibilizar os agricultores para a diversidade das aves nos meios agrícolas e para o que podem fazer para proteger as aves das suas propriedades; ! A campanha “Real cork for real birds”, em parceria com a APCOR e a RSPB, que visa informar o público britânico e a parceria BirdLife International sobre a diversidade de aves dos montados de Sobro; ! A campanha “Farming for Life”, com a BirdLife International, que visa influenciar a administração para que o novo Plano de Desenvolvimento Rural contemple medidas agro-ambientais específicas para a conservação das estepes cerealíferas;
! O projecto “Turismo Ornitológico”, em parceria com a Confederação de Agricultores Portugueses (CAP), que visa criar condições para que proprietários agro-florestais possam prestar serviços na área da observação de aves.
Vanessa Oliveira, Luís Costa & Domingos Leitão 1
Freira do Bugio
3
Migração de Aves em Sagres
Introdução Situada no extremo SW de Portugal, a península de Sagres situa-se no concelho de Vila do Bispo, da qual dista uns escassos 10 km, e encontra-se geograficamente enquadrada a sul pela Vila de Sagres e a norte pelo Cabo de S. Vicente. Insere-se no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e na Rede Natura 2000, estando designada como Zona de Protecção Especial para Aves e Zona Especial de Conservação. Está ainda classificada como IBA (Important Bird Area), de acordo com os critérios da BirdLife International. São muitos os aspectos que levaram esta região a ser protegida. Além da sua diversificada flora (rica em endemismos), a Costa Sudoeste e Vicentina alberga valores faunísticos únicos no país: lontras de hábitos marinhos, cegonhas a nidificar em escarpas costeiras, numerosos casais de Falcão-peregrino, abundantes colónias de gralhas, com destaque para a de bico-vermelho, entre outras.
João Ministro e Carlos Pereira
A Península de Sagres é actualmente um dos destinos ornitológicos do país mais procurados pelos amantes da observação de aves nos períodos de migração outonal. O motivo que leva todos os anos centenas de ornitólogos a visitarem esta região prende-se com a rica presença de espécies aí existente e, principalmente, a oportunidade de observar de perto a passagem de grandes bandos de aves planadoras, em particular de rapinas. Águias-calçadas, águias-cobreiras, milhafres, gaviões, falcões, abutres, cegonhas, entre muitas outras, cruzam-se todos os anos em Sagres, atraindo as atenções de quem lá vive e de quem lá vai propositadamente. Se a migração de aves é por si só um atractivo aliciante para os entusiastas da Ornitologia, em Sagres esse fenómeno atinge um significado único, seja pelas espécies envolvidas, seja pela beleza do local. Tabela1
Espécies Ciconia ciconia Ciconia nigra Pernis apivorus Elanus caeruleus Milvus migrans Milvus milvus Neophron percnopterus Gyps fulvus Aquila chrysaetos Aquila adalberti Circaetus gallicus Circus aeruginosus Circus cyaneus Circus pygargus Accipiter gentilis Accipiter nisus Buteo buteo Buteo rufinus Hieraaetus pennatus Hieraaetus fasciatus Pandion haliaetus Falco naumanni Falco tinnunculus Falco columbarius Falco vespertinus Falco subbuteo Falco eleonorae Falco peregrinus Falco cherrug Falco biarmicus
Os primeiros dados conhecidos acerca da migração em Sagres remontam aos anos 50 do século passado. Trabalhos desenvolvidos nessa altura por vários investigadores _ na sua maioria estrangeiros _, chamam a atenção para o particular interesse desta zona durante as migrações. Em 1986, Luís Palma reforça o conhecimento em torno desta região e alerta para a grande importância da mesma como corredor migratório de aves de rapina. Porém, somente em 1990, aquando da primeira campanha de monitorização de aves planadoras na península de Sagres, organizada pelo Instituto da Conservação da Natureza, se obtiveram dados muito concretos a comprovar inequivocamente a importância do local. O sucesso surpreendente desta iniciativa conduziu à realização de outras similares (1990, 1992, 1994, 1995, 1996, 2000 e 2001), sendo as cinco últimas coordenadas pela SPEA, com o apoio do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Hoje, graças a este esforço, levado a cabo nem sempre de forma consequente, o conhecimento em torno
4
Faísca
Antecedentes
1.
1990
1992
1994
1995
1996
2000
2001
5 15 115 1 126 6 109 6 1 2 129 18 76 2 16 507 45 3 814 8 0 7 nc 0 0 6 11 nc 0 4
5 27 70 0 212 3 39 193 2 2 259 6 39 13 11 209 158 0 505 9 8 5 nc 0 2 15 17 nc 0 0
0 25-35 60-70 4-10 200-270 6-15 35-50 7-12 0 0 140-200 15-25 55-90 20-60 7-13 150-200 45-60 0 415-535 5-10 5-10 3-6 nc 2-4 0 15-25 4-17 nc 0 0
1 10-19 40-50 0 60-78 3 20-58 4-5 0 0 140-188 3 54-68 7-9 4-5 120-151 85-106 0 340-469 4-5 3-6 3-6 nc 2 0 19-29 6 nc 0 0
3 21 20 0 19 1 17 455 1 1 91 2 3 7 5 143 37 0 179 4 1 0 nc 3 0 7 5 nc 1 1
9 9-21 17-50 2-3 9-17 1 27-44 225-226 0 0 55-135 4-6 7-25 2-4 7-15 117-316 26-58 0 414-561 5-6 2 0 60-98 0 0 9-20 3 5-6 0 0
0 27 47-57 0 38-47 2 8 0 0 1 88-117 1 10 3 1 96-114 26 0 374-443 1 2 0 nc 0 0 10 3 nc 0 0
Destaque tam-se os resultados das contagens realizadas em Sagres entre 1990 e 2002. Praticamente todas as aves de rapina que ocorrem em Portugal continental, incluindo espécies raras e acidentais, como por exemplo a Águia-pomarina Aquila pomarina ou o Falcão-sacre Falco cherrug, já foram observadas em Sagres nas migrações. Algumas ocorrem em largas quantidades e outras em números vestigiais. Contudo, entre estas, encontram-se espécies como a Águia-imperial-ibérica Aquila adalberti ou o Abutre-preto Aegypius monachus, cujo estatuto de conservação é actualmente bastante elevado em Portugal e na União Europeia.
A migração outonal pode ser caracterizada, de uma forma muito simples, pela movimentação das aves dos locais de nidificação para os de invernada. Essa viagem decorre especialmente nos meses de Setembro e Outubro, sendo variável de espécie para espécie. Muitas aves planadoras, incluindo rapinas e cegonhas, descrevem esses movimentos deslocando-se para África onde passam o Inverno. Na Europa e Euroásia, há duas regiões onde essa passagem é muito intensa: o estreito do Bósforo (Turquia) e o estreito de Gibraltar (Espanha). Anualmente, largas centenas de milhares de aves, representantes de dezenas de espécies diferentes, atravessam estes locais, tirando proveito da sua localização estratégica, sobretudo a grande proximidade com o continente africano.
Faísca
A Migração Outonal
Então e Sagres? O que leva as aves a reunir-se aí durante períodos específicos do ano?
A Migração em Sagres Os resultados das várias campanhas realizadas na zona, demonstram que a maioria das rapinas e planadoras que cruzam os céus de Sagres, no Outono, são na sua maioria juvenis. A chegada a este local e a concentração que aí se verifica, durante este período, pode ser explicada pela inexperiência dos indivíduos _ que efectuam esta viagem pela primeira vez _ e um sentido de orientação baseado no seguimento da linha de costa. As aves, sem terem ainda aprendido as rotas directas para os locais de passagem para África, nomeadamente Gibraltar, seguem a linha de costa até atingirem Sagres. Aí, após uma paragem mais ou menos duradoura, reorientam a sua rota e deslocam-se para Este, de modo a alcançar o ponto mais próximo de África. Este fenómeno leva a que, anualmente, alguns milhares de aves de rapina e outras planadoras, passem por Sagres e aí sejam facilmente observadas e contabilizadas. Na Tabela 1, apresen-
desperta, devido ao elevado número de indivíduos que anualmente utilizam as manchas florestais locais. Apesar de incerto, acredita-se que são largas as dezenas de aves desta espécie que migram por Sagres todos os anos. Nesta comunidade de aves nocturnas migratórias, salientam-se ainda o Mocho-d'orelhas Otus scops, a Coruja-do-nabal Asio flammeus, o Noitibó-de-nuca-vermelha Caprimulgus ruficollis e o Noitibó-europeu Caprimulgus europaeus.
Os Passeriformes A migração outonal em Sagres revela-se também importante para passeriformes. Os campos agrícolas, sobretudo cerealíferos, as planícies incultas ou ricas em pastagens, os densos matagais mediterrânicos, os pinhais e as depressões fluviais, formam um diversificado ecossistema muito procurado por estas aves no decurso das suas viagens. Nesta zona não são raros os dias em que cada arbusto ou cada árvore se encontra repleto de pequenas aves migratórias, incluindo papa-moscas, felosas, petinhas, cartaxos, rabirruivos, etc. Merecem destaque, a Toutinegra-tomilheira Sylvia conspicillata, nidificante regular nalguns recantos desta península e a Petinha de Richard Anthus richardi, migrador e invernante habitual nesta zona.
Ameaças e Conservação
2.
Entre as aves mais abundantes encontram-se a Águia-calçada Hieraaetus pennatus, a Águia-cobreira Circaetus gallicus, o Milhafre-preto Milvus migrans, e o Grifo Gyps fulvus. Esta última forma mesmo as concentrações mais elevadas que se registam em Portugal, por vezes na ordem dos 2.000 indivíduos. Outras, como o Bútio-vespeiro Pernis apivorus ou a Águia-d'asa-redonda Buteo buteo, são também abundantes, embora com passagem em períodos muito específicos. A região de Sagres é ainda um local com particular interesse para a passagem migratória de aves nocturnas. Todas as espécies de mochos e corujas que ocorrem em Portugal foram aqui observadas no Outono, incluindo o sedentário Bufo-real Bubo bubo. É o Bufo-pequeno Asio otus no entanto, que maior atenção
1
Grifo
2
Chasco-cinzento
Muito embora se possa dizer que a protecção desta região está garantida com o seu estatuto de Parque Natural e Zona de Protecção Especial para Aves, a verdade é que a realidade não confirma a regra (literalmente). Infelizmente, várias situações tendem a pôr em causa a preservação deste local e seus valores naturais. A forte pressão urbanística e imobiliária, o turismo desregrado, a expansão dos parques eólicos, o abandono das práticas agrícolas extensivas e tradicionais e a perturbação humana, são apenas alguns exemplos de ameaças que poderão vir a afectar nocivamente este local, provocando transformações irreversíveis na sua paisagem e potencialmente na rica avifauna que aí ocorre.
5
Programa Rural
Projecto LIFE Sisão CONCLUSÕES
José Viana
DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE CONSERVAÇÃO DE ABETARDA, SISÃO E HUBARA
1.
O Projecto LIFE Co-op _ “Evaluation of bustard conservation best practice in Western Europe” é uma parceria internacional da SPEA para trocar experiências entre vários projectos LIFE Natureza dedicados à conservação da Abetarda, do Sisão e da Hubara. No âmbito deste projecto foi realizado em Lisboa, de 23-25 de Novembro de 2005, um seminário internacional, com a presença de 56 cientistas, técnicos e agricultores, pertencentes à administração, às universidades, às ONGAs e às associações de agricultores de 12 países europeus, que chegaram às seguintes conclusões:
1
Prioridades para a conservação das abetardas
Deter e reverter o declínio de todas as populações de Abetarda, Sisão e Hubara, através da restauração do habitat, da supressão das falhas de informação relativas às populações da Europa de Leste, da troca de conhecimentos para generalizar as práticas de gestão mais efectivas, da designação de novas ZPEs, da implementação de planos de gestão nas ZPEs, do reforço financeiro do Pilar II da PAC, da implementação de planos de acção nacionais para as espécies estepárias e da sensibilização das populações locais e entidades relevantes.
4
Alternativas para melhorar a economia local com base na conservação das abetardas
As economias locais não podem ser baseadas exclusivamente na conservação da Abetarda, Sisão e Hubara. No entanto, podem ser apoiadas pela gestão multifuncional dos sítios Natura 2000, através de uma descriminação positiva na atribuição de apoios comunitários e na utilização da Rede Natura 2000 como rótulo de qualidade, para valorizar produtos e serviços dos sítios.
3 2
Prática de conservação actual: os bons resultados e aquilo que ainda não foi conseguido
Muitos projectos LIFE tiveram impactos positivos nas populações destas espécies. Normalmente, estes projectos requerem tempo para obter resultados efectivos ou estabelecer bases para trabalho futuro. A investigação e a monitorização são fundamentais para tomar decisões de gestão e medir os impactes. O envolvimento dos agricultores é um elemento chave para o sucesso dos projectos de conservação de abetardas. Os projectos LIFE devem ser seguidos de medidas mais horizontais e prolongadas, a ser implementadas pela administração através dos Planos de Desenvolvimento Rural. A aquisição de terra provou ser efectiva no combate a ameaças prementes sobre sítios importantes, como as arenas reprodutoras de Abetarda. É necessária mais cooperação transfronteiriça.
5
Será útil a criação de um Grupo Europeu de Especialistas em Abetardas?
A criação de um grupo deste tipo será útil para trocar, concentrar e disponibilizar informação sobre a conservação destas espécies na Europa, como fórum consultivo para avaliação de políticas, estabelecimento de boas práticas, fazer recomendações, definir estatutos e apoiar projectos e campanhas. A BirdLife International ofereceu-se para acolher este grupo.
Gestão da terra: que tipo de políticas e medidas são necessárias?
As medidas agro-ambientais dirigidas para o habitat estepário são uma ferramenta essencial para a conservação da Abetarda, do Sisão e da Hubara. Estas medidas devem ser desenhadas em conjunto por entidades do sector agrícola e da conservação da natureza, prioritárias nas ZPEs e nas IBAs, e financeiramente atraentes para o agricultor. A sensibilização das populações rurais para a conservação da natureza deve ser promovida sob o Eixo 3 do Regulamento de Desenvolvimento Rural. Os planos de gestão devem ser aplicados em todas as ZPEs, dando atenção às áreas de reprodução de Abetarda, Sisão e Hubara. Estes planos de gestão devem vincular a administração central e local e ser acompanhados do financiamento adequado à Rede Natura 2000. A florestação e o regadio não podem ser promovidos dentro das áreas estepárias porque são incompatíveis com a sua conservação.
Editores Domingos Leitão Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves Christophe Jolivet Ligue pour la Protection des Oiseaux Mariano Rodríguez Junta de Castilla y Léon Juan Carlos Atienza Sociedad Española de Ornitologia José Pedro Tavares Royal Society for the Protection of Birds
Pode obter o documento completo (em Inglês) em
http://www.spea.pt/ms_sisao 1
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BirdLife INTERNATIONAL
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Abetarda
Programa Rural
Projecto Montados e Florestas de Sobro AS FLORESTAS DE SOBREIRO SÃO FONTES DE BIODIVERSIDADE Domingos Leitão
Carlos Pereira
O Sobreiro, ou Sobro (Quercus suber), é uma espécie de carvalho com folha persistente que só existe no Mediterrâneo Ocidental. Na Península Ibérica existem cerca de 50% dos povoamentos desta espécie (700.000 ha em Portugal). São habitats que sofrem um grau variável de intervenção humana e são um exemplo paradigmático de uma exploração florestal múltipla, sustentável, de grande importância socio-económica, cultural e ecológica.
2.
Faísca
A importância ecológica reside no facto dos montados e florestas de Sobro funcionarem como barreiras contra a desertificação do solo e contra os incêndios florestais. As árvores são resistentes ao fogo, voltando a rebentar após a sua passagem. A extracção da cortiça potencia a taxa de fixação de carbono atmosférico, contribuindo para o abrandamento do efeito de estufa. As florestas de Sobro são também um dos ecossistemas florestais mais ricos em biodiversidade da Europa.
A biodiversidade destas florestas está relacionada com o facto do Sobreiro ser uma espécie autóctone, de existirem povoamentos contínuos e com grande variabilidade estrutural. Nestas florestas foram catalogadas mais de 700 espécies de plantas, incluindo endemismos ibéricos, como a Rosa-albardeira (Paeonia broteroi) e o Rosmaninho (Lanvadula luisieri). Ocorrem 24 espécies de répteis e anfíbios e 160 espécies de aves, das quais mais de 100 nidificam. Ocorrem também 37 espécies de mamíferos, de onde podemos destacar o Ratinho de Cabrera (Microtus cabrerae) e o Lince-ibérico (Lynx pardina), ambos endemismos ibéricos. Esta última espécie é mesmo o felídeo mais ameaçado do mundo.
As aves são indicadores do estado dos habitats e ecossistemas, porque estão posicionadas no topo das cadeias alimentares, são muito conspícuas e ocorrem em vastas áreas. Não existem aves exclusivas das florestas de Sobro, mas sim espécies que ocorrem também noutros povoamentos florestais, e têm no Sobro o habitat onde ocorrem em maior abundância. Nestes habitats ocorrem espécies ameaçadas de extinção, como a Cegonha-preta (Ciconia nigra), a Águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) e a Águia-perdigueira (Hieraaetus fasciatus). Podemos encontrar também espécies raras, como a Águia-cobreira (Circaetus gallicus), o Bútio-vespeiro (Pernis apivo-
3.
BirdLife INTERNATIONAL
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rus), o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) ou a Toutinegra-real (Sylvia hortensis). Mas acima de tudo podemos observar um fervilhar de dezenas de espécies comuns (aves de rapina diurnas e nocturnas, perdizes, poupas e abelharucos, pica-paus, cotovias, picanços, estorninhos, gaios e pegas, piscos, rouxinois e tordos, felosas e toutinegras, chapins, trepadeiras, pardais, tentilhões e escrevedeiras), que são um indicador da saúde ambiental das formações de Sobreiro.
A conservação deste vasto património passa pela sua promoção e valorização. Das 53 Zonas Importantes para as Aves identificadas pela SPEA em Portugal Continental, 11 possuem manchas significativas (mais de 1000 ha) de florestas de Sobro. A conservação das aves no nosso país passa indiscutivelmente pela preservação dos povoamentos de Sobreiro. A SPEA, em conjunto com a Royal Society for the Protection of Birds e a Associação Portuguesa de Cortiça, vai desenvolver uma campanha no Reino Unido para informar os consumidores e distribuidores de vinho da importância ecológica das florestas de Sobreiro. Os operadores económicos, os políticos e os cidadãos têm de saber que apoiar e promover a exploração múltipla do Sobreiro produz um conjunto de benefícios económicos, sociais e ambientais sem paralelo em Portugal e na Europa. 2
Montado de Sobro
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Trepadeira-comum
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LIFE Priolo
PRIOLO
Monitorização
uma ferramenta essencial
LIFE Priolo
Joaquim Teodósio
1.
1
8
Plantação de endémicas (Miradouro da Tronqueira)
2.
O Projecto LIFE Priolo, cuja meta final é garantir condições de sobrevivência a uma das aves mais ameaçadas do Planeta, tem como um dos seus principais objectivos a recuperação do habitat do Priolo, a floresta nativa de São Miguel, vulgarmente conhecida por Floresta de Laurissilva. Esta floresta foi sendo, com o passar dos séculos, reduzida a pequenas bolsas de vegetação localizadas nas vertentes mais íngremes das serras da Tronqueira e Pico da Vara. Actualmente estas áreas de vegetação endémica, compostas por Ginjas, Azevinhos, Louros e Cedros, que permitiram a sobrevivência do Priolo, estão rapidamente a desaparecer sobre o efeito de outra ameaça dos tempos modernos: a invasão de flora exótica. Espécies como a Conteira originária dos Himalaias, ou o Incenso da Austrália, encontraram excelentes condições na ilha de São Miguel, e rapidamente proliferaram por vales e encostas atingindo elevadas densidades, competindo e substituindo a vegetação endémica cujas características não permitiam responder a tão feroz concorrência. O desaparecimento da floresta nativa teria como consequência certa a extinção do Priolo, tal a sua dependência deste habitat, pelo que qualquer projecto de conservação destinado a esta espécie teria de passar pela recuperação da floresta nativa. Para este efeito é necessário o controlo das espécies exóticas, bem como o reforço das populações de espécies nativas através da plantação de exemplares produzidos em viveiros. Tendo como objectivo a recuperação de uma área de 300 hectares de floresta no coração da Serra da Tronqueira (área central da Zona de Protecção Especial do Pico da Vara/Ribeira do Guilherme e principal área a nível mundial da distribuição do Priolo) estas acções implicam um significativo impacto na área. Quer pelo aumento da perturbação causada pelos trabalhos, que em certas alturas do ano envolvem perto de 30 elementos, quer pelo tipo de trabalho realizado que
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Priolo
LIFE Priolo
LIFE Priolo
Ruben Heleno
implica o corte de vegetação e a aplicação de herbicida. Num projecto desta envergadura, em que a informação referente a este tipo de acções é escassa ou relativa a outros habitats, é necessário assegurar um controlo permanente da evolução do habitat e das espécies prioritárias. Foi assim necessário desenvolver e implementar processos de monitorização que permitam acompanhar com rigor os efeitos das acções desenvolvidas. A monitorização das acções de intervenção no terreno constitui por si uma acção do projecto, quer pela sua contribuição para a boa prossecução das actividades, quer pelo elevado consumo de recursos humanos e logísticos. A monitorização contínua de todas as acções é fundamental para assegurar que os objectivos sejam alcançados
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de acordo com a calendarização e os objectivos propostos. São várias as acções no sentido de promover a monitorização das acções de gestão de habitat. Assim sendo foram estabelecidos 67 quadrados de 2x2 metros, no sentido de se monitorizar a regeneração da floresta nativa e 20 quadrados de 10x10 metros com o propósito de monitorizar as acções de remoção de exóticas. Implementaram-se ainda 12 quadrados de 5x5 metros nas áreas plantadas em 2004 e 2005 para acompanhar o estabelecimento das plantas provenientes dos viveiros do Nordeste. Em relação aos exemplares plantados foram marcadas e medidas plantas estabele-
cidas nos dois anos, no sentido de se determinar taxas de sobrevivência e de crescimento. Em 2005 foram marcadas e quantificadas, em termos de altura e diâmetro basal, 100 exemplares de Ilex perado azorica, 100 de Prunus lusitanica, 100 de Vaccinium cylindraceum, 48 de Juniperus brevifolia e 50 de Erica azorica e localizados e medidos 41 Prunus lusitanica e 91 Ilex perado azorica de 2004. No sentido de promover a monitorização de algumas das espécies endémicas mais prioritárias para a sobrevivência do Priolo, foram ainda delineados os seguintes planos: Marcação e monitorização da regeneração de Ginja, Prunus lusitanica azorica; Monitorização da frutificação de Ilex perado azorica.
tante a realização de análises de controlo nos cursos de água e ao próprio solo da zona intervencionada. As análises de água já realizadas não apresentam valores significativos para nenhum dos compostos testados: tryclopir e metsulfurão de metil (substâncias tóxicas) e hidrocarbonetos (substâncias indesejáveis). Os esquemas de monitorização das acções de recuperação do habitat são essenciais para o sucesso do projecto e consequentemente uma ferramenta importante para a conservação do Priolo. A forma como as espécies e o próprio ecossistema reage aos fortes impactos causados pelos trabalhos realizados é por vezes uma incógnita que pode condicionar fortemente o rumo traçado. Principalmente quando a informação existente sobre este tipo de trabalhos é escassa e
Relativamente às plantações realizadas entre Maio e Novembro de 2004, e após aplicação dos planos de monitorização acima mencionados, foram determinadas as seguintes taxas de sobrevivência: Ilex perado azorica 70%; Prunus lusitanica 95%. Um dos esquemas de monitorização que não foi previsto no projecto inicial é a monitorização dos cursos de água e do solo. Este tipo de monitorização tem como objectivo o controlo da carga de químicos libertados no meio. Os compostos utilizados na erradicação das espécies exóticas, apesar de serem relativamente inócuos, poderão ser prejudiciais para os organismos aquáticos pelo que é impor-
normalmente refere-se a ecossistemas completamente diferentes da floresta nativa de São Miguel. Os resultados obtidos ao longo do processo de monitorização permitem não só aferir a eficácia dos métodos utilizados, permitindo manter ou implicando traçar novas estratégias, como obter importante informação sobre as espécies vegetais prioritárias como o Azevinho ou a Ginja e que ainda se encontram pouco estudadas. A informação obtida durante este projecto será sem dúvida importante para aferir o sucesso do LIFE Priolo, mas também para delinear metodologias eficazes para a própria região no que respeita ao controlo de vegetação exótica.
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Serra da Tronqueira Inventariação da vegetação
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Pedro Geraldes
A Marinha
colabora com a SPEA Pedro Geraldes com a colaboração do Instituto Hidrográfico
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Uma das principais dificuldades com que o projecto IBAs Marinhas se deparou foi a ausência de embarcações adequadas à observação de aves em alto mar. Muitos navios cingem-se às rotas comerciais ou aos principais bancos de pesca, pelo que sobravam vastas áreas das nossas águas sem observações de aves marinhas. As embarcações de pesca nem sempre possuem espaço para um observador a bordo, pois o trabalho exigente da faina requer a lotação completa da embarcação, além de que, devido à especificidade da actividade, as suas movimentações podem ser muito erráticas, criando problemas para a aplicação da metodologia adoptada. Nos navios comerciais é sobretudo a elevada velocidade de cruzeiro e a própria dimensão dos mesmos que dificultam a possibilidade de utilização pelos observadores da SPEA. Assim foi muito importante para o projecto IBAs Marinhas poder contar com o apoio do Intituto Hidrográfico (IH) da Marinha, e participar em algumas das suas missões, pois permitiu obter dados essenciais para este projecto. Um dos projectos em que o IH se encontra empenhado é especialmente adequado para os objectivos da SPEA. É o projecto PLATCONT que tem como área alvo toda a Zona Económica Exclusiva Portuguesa (ZEE) e parte da região circundante (ver caixa) . Em 2005 a SPEA participou em três missões PLATCONT que prospectaram áreas em redor do banco Gorringe, do banco Josephine e próximas da ilha da Madeira. Nestas missões participaram cinco observadores da SPEA, individualmente ou em equipas de dois, tendo sido prospectadas 3000 milhas, nas quais se detecta-
Pedro Geraldes
No âmbito do projecto LIFE IBAs Marinhas a SPEA estabeleceu uma parceria com o Instituto Hidrográfico
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ram 2301 aves pertencentes a 39 espécies diferentes. Foram ainda registados 489 cetáceos de 5 espécies diferentes e 58 tartarugas marinhas. O navio a bordo do qual se realizaram estas missões é o NRP D. Carlos I, cujas condições logísticas são excepcionalmente boas e a tripulação de uma simpatia inultrapassável no acolhimento que tem prestado às várias equipas das IBAs Marinhas. (http://www.hidrografico.pt/ hidrografico/navios/Navios_individualmnt/dcarlos.htm). No final das missões, muitos dos cerca de 35 tripulantes já distinguiam alguns painhos e Cagarras Calonectris diomedea e ajudavam activamente na prospecção do mar, que por vezes em áreas mais remotas se mostrava deserto durante largas horas. As missões em que a SPEA participou tiveram durações varia-
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Comandante na ponte durante a manobra de atracação
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Coruja-do-nabal Asio flammeus pousada a bordo do D. Carlos I, 300 milhas NE da Madeira
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das, desde duas semanas a mais de um mês. Naturalmente, durante estes períodos prolongados em estreita convivência, estabelecem-se relações de amizade que se estendem para além da permanência no navio e nos períodos em que o navio atracava foram várias as actividades em que a SPEA participou conjuntamente com a tripulação, desde jogos de squash a descidas de rio em canyoning. Durante os dias normais de navegação, os observadores do projecto passam as horas de luz na ponte do navio, registando as aves observadas e outra fauna marinha que ocorra. São de salientar várias observações dignas de registo nestas áreas offshore, algumas das quais totalmente inesperadas, como foi o caso de um Bufo-pequeno Asio otus e de uma Coruja-do-Nabal Asio flammeus que, em
Observador da SPEA e tripulação do D. Carlos I aproveitaram um dia de paragem na Madeira para realizar um Canyoning e variar para uma actividade com água doce
Programa Marinho
Instituto Hidrográfico
PLATCONT
CNUDM, Art. 76.º “A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância.”
Na sequência da ratificação por Portugal da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e por Resolução do Conselho de Ministros nº 9/2005, de 17 de Janeiro foi criada a “Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental” (EMEPC). Esta Estrutura tem por missão preparar uma proposta de extensão da plataforma continental para além das 200 milhas náuticas, para apresentação à Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas, bem como o acompanhamento do processo de avaliação de propostas por esta Comissão. Em 2005 o NRP D. Carlos I iniciou a execução dos levantamentos hidrográficos para a EMEPC, no âmbito dos levantamentos hidrográficos preparatórios para a apresentação da proposta acima aludida, na área marítima de Portugal Continental e dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Esta missão do navio tem a designação de PLATCONT.
CNUDM, Art. 77.º “O Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais. (…) Os recursos naturais (…) são os recursos minerais e outros recursos não vivos do leito do mar e subsolo, bem como os organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é, aquelas que no período de captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo ou só podem mover-se em constante contacto físico com esse leito ou subsolo.”
A missão fundamental do Instituto Hidrográfico é assegurar actividades relacionadas com as ciências e técnicas do mar, tendo em vista a sua aplicação na área militar, e contribuir para o desenvolvimento do país nas áreas científica e de defesa do ambiente marinho. O IH decidiu colaborar com o projecto LIFE IBAs Marinhas no âmbito do apoio que prestam às actividades de cariz científico a decorrer na ZEE Portuguesa. Estando actualmente a decorrer várias missões de levantamento de dados oceanográficos na nossa ZEE este apoio reveste-se de extrema importância, pois permite ao projecto a obtenção de dados de zonas remotas de uma forma sistemática e com excelentes condições logísticas.
Projecto LIFE IBAs Marinhas
http://www.hidrografico.pt
http://www.spea.pt/MIBA
IH
Instituto Hidrográfico
http://www.emepc.gov.pt/index.htm IH
Pedro Geraldes
Links de interesse
Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental
3. fig.1 - Fundo do mar numa área da ZEE de Portugal Continental obtida com o sondador multifeixe
fig.2 - Ilustração da aplicação do artº 76 da CNUDM
fig.3 - Aves observadas nos embarques do navio D. Carlos I em 2005
Pedro Proença Cunha
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Estuário do Mondego Descrição do Sítio
Ricardo Lopes
Como a maioria dos estuários, o estuário do Mondego é uma zona de transição entre a água doce proveniente da bacia hidrográfica e a água salgada proveniente do mar. De acordo com esta definição abrange uma secção muito extensa do rio Mondego (26 quilómetros de comprimento). No entanto, é somente na fase terminal do estuário (7,5 quilómetros) que são mais evidentes os gradientes físicos que tornam este local tão importante em termos biológicos. Por exemplo, a presença de um regime de marés acentuado e a variabilidade de vários parâmetros abióticos, dos quais o mais importante será a salinidade.
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O rio Mondego, o maior rio integralmente nacional, foi utilizado durante séculos como via de comunicação e de transporte. A existência de vestígios de uma feitoria comercial fenícia (datada dos séculos VIII e VII a. C) perto de Montemor-o-velho comprova-o. Nessa altura, a parte terminal do rio Mondego formava um vasto mar interior. Mas o assoreamento devido ás cheias regulares conjugado com um declive muito suave do rio neste troço final foi formando o seu traçado actual. Deste modo podemos dizer que o estuário do Mondego, como se apresenta actualmente, tem uma origem muito recente. Na secção terminal do estuário o rio desdobra-se em dois braços (Braço Norte e o Braço Sul) que só voltam a unir-se perto da foz, definindo assim a ilha da Morraceira, uma ilha de aluvião com pouco mais de 5 km de comprimento. As cheias regulares permitiram a formação desta extensa ilha, que constitui o núcleo central da IBA. No braço sul desagua um afluente, o rio Pranto. O Braço Norte é profundo, com poucas zonas intertidais (zonas expostas durante a maré baixa), porque é constantemente dragado e regularizado. Em contraste, no Braço Sul ocorrem a maior parte das zonas intertidais e sapais.
Importância Ornitológica As condições únicas que ocorrem nos estuários condicionam o número de espécies presentes (somente as mais adaptadas a estas condições sobrevivem). No entanto, as poucas espécies que se adaptaram ocorrem em densidades muito elevadas (por exemplo, os macroinvertebrados presentes nas zonas que ficam a descoberto durante a maré baixa). Assim, as zonas intertidais são um dos habitats aquáticos com maior produtividade no mundo. São por isso a principal zona de alimentação de aves limícolas e de outras espécies, como a Gaivota-d'asa-escura Larus fuscus ou a Garça-real Ardea cinerea. Toda esta heterogeneidade física também permite que o estuário do Mondego contenha vários tipos de habitats e albergue várias comunidades biológicas que são o suporte para a avifauna pre-
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Vista aérea do Estuário do Mondego
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Anilhagem de aves limícolas
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Salina artesanal
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Acção Biologia no Verão
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Acção Biologia no Verão
IBAs
sente. Podemos realçar a existência de vastas zonas intertidais e de sapal, bem como a presença de salinas. As salinas, em particular, são um tipo de habitat muito peculiar devido à sua origem antropogénica e devido à sua importância para a nidificação de várias espécies (Pernilongo Himantopus himantopus, Borrelho-de-coleira-interrompida Charadrius alexandrinus, Perna-vermelha Tringa totanus, Chilreta Sterna albifrons). Também é de realçar a nidificação durante os últimos anos de alguns casais de Guincho Larus ridibundus em salinas abandonadas. Os sapais e caniçais são utilizados como habitat de nidificação para a Águia-sapeira Circus aeruginosus. As salinas são também zonas muito utilizadas durante o Inverno e os períodos de migração pela maioria das aves limícolas, que as utilizam como zona de
Conservação
Ricardo Lopes
Ricardo Lopes
Ricardo Lopes
Como geralmente se verifica nos estuários, a zona envolvente do estuário do rio Mondego apresenta condições propícias para o estabelecimento de actividades humanas. A sua importância como interface comercial entre o mar, o rio e o continente tem promovido a fixação de núcleos populacionais importantes e o desenvolvimento de actividades industriais e comerciais, com a consequente pressão negativa sobre o estuário. A existência da ilha da Morraceira torna este estuário menos susceptível à perturbação humana, uma vez que se encontra rodeada pelos dois braços do rio Mondego. As zonas que se encontram a sul ou a norte dos dois braços do rio estão mais sujeitas à reclamação de terrenos para outras actividades e ao
de processos ecológicos relevantes. Por esta razão o estuário é alvo de programas de monitorização a longo termo, alguns deles com periodicidade elevada (mensal ou quinzenal). É o caso da abundância de macroalgas, macroinvertebrados intermareais e aves limícolas, entre outros. Infelizmente o estuário não se encontra ainda protegido por nenhuma legislação portuguesa. No entanto, em 2006 a sua importância internacional como zona húmida foi reconhecida quando foi classificado como zona Ramsar. Para este efeito muito contribuiu a informação científica que tem sido compilada durante as últimas décadas. Os estuários têm condições ideais para a implementação de programas de educação ambiental e de turismo ecológico. Estão perto de grandes núcleos populacionais, proporcionam uma gran-
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repouso e alimentação, especialmente durante os períodos em que as zonas intertidais não estão expostas. Devemos também realçar a importância do estuário durante estes períodos para o Pilrito-de-peito-preto Calidris alpina, o Alfaiate Recurvirostra avosetta, a Tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola e o Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula. A Águia-pesqueira Pandion haliaetus também utiliza o estuário nessa altura. No total, 137 espécies foram observadas nesta zona, das quais 30 espécies pertencem ao grupo das aves limícolas. Algumas espécies tem sido observadas mais regularmente nos últimos anos (e.g. Garça-branca-grande Egretta alba). Na última década o número de Flamingos Phoenicopterus roseus que invernam no estuário aumentou exponencialmente, devido ao aumento das principais colónias existentes na Europa.
contínuo crescimento dos núcleos populacionais. Várias são as ameaças que poderão ter impactos negativos no estuário. Destacamos o abandono ou reconversão das salinas para outras actividades (e.g. aquacultura), a caça ilegal e a eutrofização, resultante do aumento de nutrientes. Neste momento estão em curso acções para a revitalização das salinas para produção de sal de qualidade, o que tem aumentado o número de salinas activas. Por outro lado, a construção de novas aquaculturas tem abrandado. Várias acções recentes de mitigação da eutrofização aumentaram a hidrodinâmica e diminuíram a concentração de nutrientes no estuário. A dimensão relativamente pequena deste estuário em conjunto com a sua riqueza biológica permite utilizá-lo como "laboratório" natural para a investigação
de variedade de habitats e espécies e em termos etnográficos são também interessantes (salinas, moinhos de maré, etc.). No estuário do Mondego, foi recentemente implementado o Museu do Sal, propriedade da Câmara da Figueira da Foz, composto por uma salina recuperada e edifícios adjacentes. Compreende também um trilho de observação que permite atravessar os principais habitats. Outra acção regular, no âmbito do programa Biologia no Verão, divulga anualmente a importância das zonas intertidais e da sua fauna. No entanto, sabemos que ainda podemos fazer melhor, para aproximar cada vez mais as pessoas e o estuário, importante para as aves, mas também para todos nós.
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Uma visita ao
Douro Internacional Ana Berliner
Ana Berliner
O Parque Natural do Douro Internacional, extensa faixa de terreno com 85000 hectares entre Miranda do Douro a norte e Figueira de Castelo Rodrigo a sul, caracteriza-se fundamentalmente pela enorme fenda geológica, por onde, desde há milhões de anos, as águas concentradas na meseta norte escoaram (e escoam) em direcção ao Oceano Atlântico. Essa intima ligação aos aspectos geomorfológicos, faz com que alguns o designem como o parque das fragas ou parque das escarpas. Por sua vez isso também se reflecte em termos ornitológicos, e a importância da Área Protegida, que também é ZPE e IBA, está directamente ligada ao grupo de espécies muito dependentes dos tais biótopos rupícolas. Dentre estes destaca-se o que designarei neste artigo como “Top 10” (Cegonha-preta, Britango, Grifo, Águia-real, Águia de Bonelli, Falcão-peregrino, Bufo-real, Andorinhão-real, Chasco-preto, Gralha-de-bico-vermelho), que é a razão pela qual a maioria dos birdwatchers ruma com alguma frequência a estas paragens. Por outro lado, o microclima das encostas do Douro e afluentes, e a forma
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como os humanos modularam a paisagem (através de sistemas próximos aos dos povos mediterrânicos), criam outras diversas nuances ecológicas muito próprias deste enclave. Daí a existência de uma riqueza em aves muito superior à dos típicos espaços de montanha (pelo menos os do centro e Norte do nosso país), e de um leque de espécies raras a nível nacional. A presente visita guiada procura reunir uma ideias acerca de um percurso simples e acessível, onde quase de certeza o visitante poderá assinalar o “Top 10”, e ainda juntar-lhe umas outras dezenas de espécies pouco comuns, que justifiquem assim as centenas de quilómetros necessários para lá chegar.
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Uma das portas de entrada óbvias, talvez a mais óbvia, deste Parque Natural é a sua ponta meridional, através dos planaltos de Riba-Côa, ou seja por Figueira de Castelo Rodrigo. Do antigo burgo medieval de Castelo Rodrigo, a 820 m de altitude mirando para Norte, podemos ter a noção do que nos espera.
Um plateux agricultado remendado de terrenos de cereal, bosquetes, lameiros, olivais, que acaba abruptamente nas arribas do Águeda a Nascente, e no Douro a Norte. Observa-se então na outra margem duriense uma parede de montanhas escuras que são uns verdadeiros contrafortes de Trás os Montes. Antes da incursão para essas terras recomenda-se a visita ao vale do Águeda. Dos vários locais de acesso, ou inacesso, às suas ladeiras selvagens, a Capela de Sto André em Almofala (o caminho está arranjado e parcialmente sinalizado) é a melhor opção. Daí basta esperar uns minutos até ver grifos e mais grifos, em qualquer época do ano. É também um local interessante para ver britangos e águias de Bonelli. Outras aves facilmente detectáveis nesta zona sul do parque são a Toutinegra-real, a Toutinegra-carrasqueira, a Andorinha-dáurica, a Escrevedeira-de-garganta-preta, o Bico-grossudo, o Papa-figos, a Laverca. A diversidade de rapinas florestais é elevada, sendo a sua composição muito semelhante à das zonas boas do Alentejo, com acréscimo ainda do Milhafre-real. A 2 km de Almofala
Roteiro Ornitológico
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Seguindo para Norte (é obrigatória a passagem em Barca d' Alva -130 m de altitude, a cota mais baixa do PNDI), desloquemo-nos para Poiares e daí para o miradouro do Penedo Durão (imensa rocha quartzítica sobranceira às terras castelhanas e que assinala o começo das arribas do douro - the real thing. Este local é recomendável a quem queira ver, em pormenor (passam mesmo perto) britangos, grifos, falcões-peregrinos e andorinhões-reais. Estes últimos concentram aqui uma colónia numerosa. Vale a pena ouvir os bandos em voltas circulares sobre as cabeças, repetidamente, num final de tarde em Julho ou Agosto. É precisamente nestas rochas ou noutras próximas ao longo da crista quartizítica de Poiares, que ainda se pode observar o Chasco-preto, praticamente ausente do restante território do parque. Se o visitante o vir aí arrisca-se a completar o seu “Top 10” (ou pelo menos 9, pois o Bufo-real é mesmo muito difícil de ver) na restante visita. Outras aves bem visíveis na viagem por estas terras são a Águia-cobreira, o Abelharuco, o Peto-verde, o Corvo, a Pega-azul, o Melro-d'água (nas águas cristalinas da Ribeira do Mosteiro).
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Mais para Norte depois de atravessar a vila de Freixo-de-Espada-Cinta e de ter passado na pequena estrada marginal ao Douro na direcção de Mazouco (tem que perguntar por ela, pois não está nos mapas), encontrará a aldeia de Fornos, daí siga até ao miradouro do Carrascalinho. Para além da paisagem extasiante, que é mesmo de cortar a respiração, verifica-se uma elevada diversidade de aves rupícolas facilmente visíveis a partir desse ponto (há quem já tenha feito um “Top 8” (Cegonha-preta, Britango, Grifo, ambas as águias grandes, Andorinhão-real e Gralha-de-bico-vermelho) numa só tarde. Juntando ainda Peneireiro-de-dorso-malhado e Melro-azul. Vale a pena investir tempo nesse local maravilhoso. Por essas paragens ondulantes entre Freixo e Lagoaça, vêem-se também o Tartaranhão-caçador, o Falcão-abelheiro, o Açor, bandos de
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Bruçó - Douro internacional (PNDI)
pombos-torcazes e a Cotovia-montesina. À noite é possível ouvir os dois noitibós, o Mocho-pequeno-d'orelhas, a Coruja- do-mato e o Mocho-galego.
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Ainda mais para Norte, ao longo de estradas municipais (preferencialmente escolhendo as que são mais próximas ao Rio Douro), assiste-se a um crescendo do coberto arbóreo, seja de Carvalho-negral, Pinheiro-bravo ou Castanheiro, principalmente nos cerros mais montanhosos. São as denominadas Serras de Mogadouro, que precedem o Planalto Mirandês. Essa transição nota-se perfeitamente no troço entre Vilarinho dos Galegos e Ventoselo. Daí siga-se para Peredo de Bemposta, pequena aldeia incrustada num batólito de granito banhado pelo Douro. Há vários acessos, mas a melhor maneira de contactar com estas arribas é a pé (perguntando informações na aldeia), por exemplo até ao local de Pala dos Mouros. Daí podem ver-se britangos, grifos, a Á-
Faísca
fica a albufeira de Stª. Maria de Aguiar que foi durante vários anos o local com maior efectivo de Mergulhão-de-crista. De Inverno esta albufeira é interessante para anatideos e corvo-marinhos.
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guia-real, o Andorinhão-real, e com um bocado de sorte, também o Bufo-real. Nos caminhos de acesso a esses locais detectam-se muitas toutinegras, papa-figos, cucos, poupas, rolas e pombos-torcazes. peneireiros-de-dorso-malhado, andorinhas-das-rochas e andorinhas-dáuricas são uma constante.
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Continuando a viagem interessa seguir até Picote, mais concretamente até ao Miradouro do Puio (rocha mística, percebe-se bem porquê dada a paisagem grandiosa com o Douro a fazer um ângulo inferior a 90 graus). Esse percurso decorre por boa estradas municipais e a nacional 221, ao longo de terrenos planos (Bemposta, antiga estação ferroviária de Urrós, Sendim). Esse Miradouro é o local indicado para ver britangos, grifos, Cegonha-preta e Gralha-de-bico-vermelho. E se o visitante gosta ou quer investir no Bufo-real, este é o sitio indicado. Enquanto es-
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pera pelo UHHHU, deite-se de costas sob a rocha quente, ouvindo os ralos, os mochos-pequenos-de-orelhas, e vendo as estrelas, é magnifico... A zona envolvente de Picote (aldeia), com muito lameiros, barrocais graníticos, bosques de azinheira, sobreiro e zimbro é extraordinária para pequenos pássaros como a Toutinegra-carrasqueira, a Toutinegra-real, a Toutinegra-de-barrete-preto, o Rouxinol-bravo, a Felosa de Bonelli, a Felosa-poliglota, a Felosa-comum, a Tordeia, o Pardal-montês, o Pardal-espanhol, a Calhandrinha-comum, o Papa-figos, os picanços (barreteiro e real), o Bico-grossudo, etc.
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Chegado este itinerário às terras mágicas de Miranda, torna-se difícil escolher um entre tantos e tantos locais de encanto. Respeitando a lógica de chegar rápido e seguro, escolhi o miradouro do São das Arribas (perto de Aldeia Nova, meia dúzia de quilómetros a norte de Miranda cidade). Desse ponto temos a noção do que são os mais encaixados alcantilados durienses. A paz e a tranquilidade que emana deste santuário ajuda a despertar os sentido e contemplar o vôo da Águia-real, do Britango e da Cegonha-preta. Os guinchos estridentes das gralhas-de-bico-vermelho (“Tchoias” como aqui lhes chamam) e o trinado dos bandos de andorinhões completam este espectáculo nas Arribas. À noite é possível ouvir Bufo-real (na época certa). Para além dos terrenos “ladeirosos” interessa destacar que esta zona do Planalto Mirandês é, sem duvida, a mais interessante para Passeriformes de todo o parque, e também muito importante para rapinas e aves estepárias (nestes casos comparável à zona de Riba-Côa). Destaco aqui aqueles que talvez ajudem a trazer mais alguns birdwatchers a esta área, como a Toutinegra-real, o Melro-azul, a Petinha-das-árvores, o Cartaxo-nortenho (Inverno), os chascos (cinzento e ruivo) e o Rabirruivo-de-testa-branca. Há ainda outras aves como o Pica-pau-malhado-pequeno e o Torcicolo. Dentro das rapinas: o Milhafre-real, o Falcão-abelheiro, o Esmerilhão (de Inverno), o Tartaranhão-azulado (Inverno e alguns nidificantes), o Bufo-pequeno (nas nocturnas). Mais palavras para quê... nesta zona há várias quadrículas 100 km2 com mais de 95 espécies nidificantes.
Grifos
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Cuba No coração das
Augusto Faustino
Augusto Faustino
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Para quem goste de observar aves rodeado por uma paisagem fantástica, gentes acolhedoras, um mar de postal ilustrado e uma vida nocturna sem igual então Cuba é o destino perfeito. Situada no coração das Caraíbas, esta ilha tem uma avifauna muito diversificada e especial, com estreitas relações com as aves da América-do-Norte e em menor grau da América-Central e do Sul, apresenta 21 espécies endémicas, mais uma já extinta, a Arara-cubana (Ara
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tricolor) e a mais pequena ave do mundo. Em termos logísticos uma visita a Cuba deverá incluir a península de Zapata, o Cayo Coco, o parque de La Guira e a Serra de Najasa. Obviamente são também recomendadas visitas a Havana, Trinidad e Santa Clara, mas estas por motivos não ornitológicos. Se o tempo escasseia a melhor estratégia consiste em alugar um automóvel, o que também permite um contacto mais estreito com os locais (toda a gente pede
boleia) e facilita o processo de encontrar lugar para dormir e comer em casas particulares (regra geral sempre as melhores opções). O melhor período para visitar Cuba é no Inverno, pois acrescenta-se às aves residentes um grande número de migrantes do Norte. No entanto o Verão, apesar dos ciclones, também tem as suas vantagens, com as aves residentes em plena reprodução e, se bem que em menor número, alguns migrantes do Sul.
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Pinar del Rio
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Jacana Jacana spinosa
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Pica-pau-verde-cubano Xiphidiopicus percussus
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Garça-vermelha Egretta rufescens
Aves à volta do mundo Parque La Guira - com cerca de 100 espécies e 50% das endémicas presentes é um bom local para ver e ouvir o canto etéreo do Solitário-cubano Myadestes elisabeth, as cores fantásticas do Todi-cubano Todis multicolor, o Pica-pau-verde-cubano Xiphidiopicus percussus, a Mariquita-de-cabeça-amarela Teretistris fernandinae, etc., num parque a cento e tal quilómetros a oeste de Havana com incríveis formações rochosas.
Cayo Coco - esta ilha, situada na costa norte, é uma estância turística reservada a estrangeiros onde só os cubanos que lá trabalham podem entrar. Apesar desta falta de liberdade (não a única!) este é um local onde se podem observar mais de 200 espécies com os endémicos Balança-rabo-cubano Poliptila caerula e a Mariquita-do-oriente Teretrstris fornsi, particularmente em evidência e um dos poucos locais de Cuba onde se pode
Augusto Faustino
Augusto Faustino
Augusto Faustino
Sterna maxima e uma colónia de rabifurcados Fregata magnificens nos mangais. Se tal não bastasse, junto ao início do parque existe uma estância de mergulho (Maria La Gorda) que é considerada uns dos melhores locais do planeta para olhar para o fundo do mar… nada melhor para se refrescar depois de umas horas atrás dos nossos amigos alados. É claro que Cuba oferece também uma noite recheada com rum e rumba e
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Península de Zapata - na costa Sul, a sudeste de Havana, este é local mais importante para o observador de aves, com mais de 200 espécies e 83% das endémicas presentes. É aqui o único local onde se pode ver a Carriça-de-zapata Ferminia cerverai e, com muita sorte, o Frango-de-zapata Cyanolimnas cerverai. Mas a zona oferece muitas mais aves fantásticas como o Pardal-de-zapata Torreornis inexpectata, a Graúna-d'ombro-vermelho Agelaius assimilis, o Gavião de Gundlach Accipiter gundlachi, o Colhereiro-rosa Ajaia ajaia, uma mão-cheia de garças entre elas a vermelha Egretta rufescens, as fugidias rolas terrestres com a endémica Rola-codorniz-de-cabeça-azul Starnoenas cyanocephala em destaque e o Pica-pau-de-fernandina Colaptes fernandinae só para citar algumas. É um local para se estar alguns dias e talvez contratar um guia no fim da estadia para ajudar a descobrir o que ainda falta para ver. Serra de Najasa - com cerca de 100 espécies descritas é um bom local para observar aves do Este da ilha como o Pombo-liso Columba inornata e o Corvo-das-palmeiras Corvus palmarum e outras espécies mais difusas como o Surucuá-cubano Priotelus temnuru) a ave nacional de Cuba, o Periquito-cubano Aratinga euops ou o Esmeraldo-cubano Chlorostibon ricordii.
encontrar o Sabiá das Bahamas Mimus gundlachi e a Juruviara-de-bico-grosso Vireo crassirostris. Existem muitos outros locais em Cuba onde é possível observar aves num habitat espectacular. Pode mesmo tentar redescobrir o famoso Pica-pau-bico-de-marfim Campephilus principalis que, até à recente descoberta nos EUA, se pensava poder só subsistir nas florestas entre as províncias de Holguín e Guantánamo no extremo Este da ilha. Eu recomendo uma viagem até ao extremo Oeste e ao parque da península de Guanaha-cabibes. Esta península, com cerca de 50 km até ao cabo de Santo António, é um paraíso com florestas, mangais, praias intermináveis e sem ninguém. Só no farol, na ponta da península, existe uma pequena guarnição militar onde se pode comer qualquer coisa com a tropa. É necessário um guia para nos acompanhar, que é fácil arranjar em Las Bajadas no início do parque. O meu, o Alfredo, foi fantástico e vimos, entre outras, aves tão espectaculares como o Colibri-abelha Mellisuga helenae a ave mais pequena do mundo, o Noitibógrande das Antilhas Caprimulgus cubanensis, o Corvo-cubano Corvus nasicus, um bom número de mariquitas em migração Dendroica spp., o Papagaio-cubano Amazona leucocephala, o Garajau-real
mesmo nas povoações mais pequenas existe sempre uma casa da cultura que fecha só quando o último cliente quiser. Importante também é a alegria das pessoas que não obstante as dificuldades (que são muitas) estão sempre bem dispostas e prontas a ajudar e a sua cultura que permite mesmo ao mais pobre (de bolso, claro está) manter uma conversa sobre os temas mais díspares.
Para saber mais: Where to watch birds in Central America and the Caribbean. Wheatley N. and Brewer D. Christopher Helm, 2002 (volume da colecção que cobre todo o mundo e que é particularmente útil na fase inicial de decisão e preparação da viagem pois concentra muita informação ornitológica de todos os países da zona em questão).
Birds of Cuba. Garrido OH, e Kirkconnell A., Helm Field Guides, 2000. A guide to the Birds of the West Indies. Raffaele H., Wiley J., Garrido O., Keith A., Raffaele J. Princeton University Press, 2003. (cobre todas as ilhas do Mar das Caraíbas).
Existem muitos sites com descrições de viagens ornitológicas a Cuba (Trip Reports) que são úteis para planear o itinerário, obter informações sobre guias, novidades recentes, etc.
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Aves
As nos
Descobrimentos portugueses Paulo Catry & Helder Costa
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uito já se escreveu sobre a época dos descobrimentos e acerca dos novos mundos que os navegadores portugueses deram ao Mundo. Menos falado talvez é o facto de terem sido olhos portugueses, sem dúvida, os primeiros europeus a observarem incontáveis espécies e uma parte significativa da imensa biodiversidade sul-americana, africana e asiática. Infelizmente, os nossos compatriotas foram geralmente pouco dados à escrita, talvez por hábito ou formação, talvez também por se conformarem a políticas de algum secretismo cultivadas pelo estado português de então. Em tempos em que a nomenclatura binomial científica moderna estava por inventar e em que os centros de conhecimento científico mais avançados estavam apartados de Portugal, as descobertas zoológicas dos nacionais ficaram simplesmente por relatar ou ficaram redigidas em documentos de circulação outrora limitada. Ainda assim, é fascinante procurar, nas crónicas mais antigas actualmente à nossa disposição, provas e testemunhos de
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observações ornitológicas verdadeiramente pioneiras. O interesse pelas aves tinha sobretudo origem na sua utilização como referenciais na toponímia ou na geografia, na utilização gastronómica, ou na simples curiosidade gerada pelo exotismo e pela grande beleza que algumas apresentavam. Muitas aves marinhas anunciavam a presença de terra e eram vistas como um bom prenúncio para os mareantes perdidos no mar desconhecido. A chegada a terras brasileiras da armada de Pedro Álvares Cabral é assim descrita na carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei D. Manuel I: “e assim seguimos nosso caminho por este mar de longo até Terça-feira de oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de Abril, que topámos alguns sinais de terra ... e à Quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves a que chamam fura-buchos; e nesse dia... houvemos vista de terra...”. Os nossos marinheiros foram certamente os primeiros europeus a contactar com muitas das aves marinhas dos oceanos tropicais e austrais, incluindo albatrozes, pardelões, rabijuncos, rabiforca-
dos e pinguins. Dalgumas delas deixaram relatos muito sugestivos. A primeira descrição de pinguins, por exemplo, foi feita por Álvaro Velho, cronista da viagem de Vasco da Gama, em 1497. No seguimento da exploração de alguns ilhéus nas proximidades do Cabo da Boa Esperança, escreveu este cronista: “ e neste ilhéu há umas aves que são tamanhas como patos, e não voam porque não têm penas nas asas, e chamam-lhes “fortilicaius” e matámos delas quantas quisemos; as quais aves zurram como asnos”. Quem tenha ouvido um pinguim do Cabo a “zurrar” reconhece-o imediatamente nesta descrição. De outras aves tão peculiares como os pinguins não ficou qualquer registo pelos marinheiros portugueses que as encontraram. Saliente-se o caso dos Dodós (do Português, doudos ou doidos, assim denominados por não temerem quem os caçava) da ilha Maurícia, por exemplo, que de tanto servirem de repasto a quem naquelas paragens se abrigou, se extinguiram em finais do século XVII. Muitas vezes as aves eram usadas como mote para nomear os novos luga-
História res descobertos. Duarte Pacheco, no seu roteiro náutico Esmeraldo de Situ Orbi, escrito no início do século XVI descreve assim um dos rios recém descobertos na costa africana “Cinco léguas além do rio dos Escravos está outro rio que se chama rio dos Forcados; e este nome lhe puseram porque no tempo que o descobriram, acharam ali umas aves grandes que tem os rabos forcados, feitos à maneira dos rabos de andorinha; e daqui tomou este nome”.
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mesmo autor, conhece-se esta interessante descrição do vasto grupo dos colibris, onde se misturam factos e crenças infundadas “[...] é o mais fino pássaro que se pode imaginar [...], tem o bico muito comprido e a língua de dois comprimentos do bico; são muito ligeiros no voar, e quando voam fazem um estrondo como abelhas, e mais parecem abelhas na ligeireza que pássaros [...] como abelhas andam chupando o mel das flores [...], têm dois princípios de sua
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As coloridas aves do Novo Mundo deixaram também impressão profunda nos primeiros exploradores das terras brasileiras. Algumas décadas após o achamento, ao longo dos séculos XVI e XVII, foram sendo divulgados trabalhos onde se compilava informação e imagens inéditas sobre a fauna brasileira e, nomeadamente, sobre as suas aves. São de referir particularmente os relatos de José de Anchieta, Fernão Cardim, Gaspar Afonso, Gabriel Soares de Sousa, Pêro de Magalhães de Gândavo e Frei Cristovão de Lisboa. Atente-se nesta magnífica descrição poética, da autoria de Fernão Cardim, em finais do século XVI, da mega-biodiversidade ornitológica do Brasil: “Parece que este clima influi peçonha, assim pelas infinitas cobras que há, como pelos muitos alacrás, aranhas e outros animais imundos [...]. Assim como este clima influi peçonha, assim parece influir formosuras nos pássaros, e assim como toda a terra é cheia de bosques, e arvoredos, assim o é de formosíssimos pássaros de todo o género de cores.” Do 1
Diogo Homem (1558) - Portulano do Atlântico
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rara, no século XV, é elucidativa. Ao descrever a costa da África Ocidental, refere-se assim o autor às aves que nela se encontravam: “E a esta terra passam geralmente todalas andorinhas e assim todalas aves que por certos tempos aparecem em este nosso reino: cegonhas, codornizes, rolas, torcicolos, rouxinoes e folosas e assim outras aves desvairadas; e muitas há que por razão da friura do Inverno se partem desta terra e se vão buscar aquela, por causa da sua quen-
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geração: uns se geram de ovos como outros pássaros, outros de borboletas [...]”. No Oriente, as insólitas relações entre homens e aves não passaram despercebidas aos portugueses. Em meados do século XVI, o padre André Fernandes descreve assim a utilização dos corvos-marinhos na pesca pelos chineses: “Leva o pescador o corvo em uma cesta ao rio, onde há frutas, e põe-lhe um laço ao pescoço bem em baixo, de maneira que não o afogue, e deixa uma ponta do laço na mão, e lançam. E como mergulha e acha os peixes, enche o papo e sai para os comer fora, e o pescador o toma e lhe aperta o papo até que lhos faz lançar fora todos...” O conhecimento demonstrado pelos nossos navegadores assume contornos verdadeiramente notáveis para a época, sendo evidente por algumas das descrições deixadas que conheciam fenómenos complexos como a migração das aves, que só alguns séculos depois viriam a ser descritos pelos cientistas europeus. A seguinte passagem da crónica da Guiné, escrita por Gomes Eanes de Zu-
Frei Cristóvão de Lisboa - História dos Animais e Árvores do Maranhão
tura; e outras se partem dela no Inverno, assim como falcões e garças, e pombos trocazes, e tordos e assim outras aves que fazem naquela terra sua criação, e depois veem guarecer a esta e isto pelas viandas que aqui se acham conformes à sua natureza.” Como é compreensível, muita outra informação interessante existe dispersa pelos velhos documentos, não cabendo no âmbito deste breve artigo mais do que alguns exemplos particularmente eloquentes. Como acima referido, as descobertas ornitológicas dos descobrimentos portugueses não integraram, infelizmente, o conhecimento científico da época ou das gerações subsequentes. Só já no século XIX é que naturalistas e investigadores nacionais, como Barbosa du Bocage, Francisco Newton ou José de Anchieta (outro que não o Padre, radicado no Brasil, acima mencionado) realizaram descobertas que, essas sim, representaram avanços significativos no conhecimento ornitológico mundial. Mas essa é outra história...
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Teresa Marques
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Sagres, a Migração e os Parque
Eólicos
Crónica de um impacto anunciado? Ricardo Tomé
Parques Eólicos e Avifauna O efeito dos parques eólicos sobre a avifauna tem sido motivo de acesa polémica e alvo de estudos cada vez mais frequentes. Os efeitos negativos de alguns parques sobre as aves têm incluído situações de mortalidade, devido à colisão das aves com as pás ou as torres dos aerogeradores, ou de afastamento das aves das áreas ocupadas pelos aerogeradores, quer para evitar possíveis colisões, quer como resultado da destruição ou perturbação de habitats decorrente da construção dos parques. A magnitude destes efeitos depende contudo, de múltiplos factores, incluindo o tipo e disposição dos aerogeradores, a topografia e condições climatéricas, assim como as espécies de aves existentes e o seu comportamento em cada local. De forma que, se em alguns parques eólicos é frequente a ocorrência de colisões, noutros casos não se registam impactos relevantes sobre quaisquer espécies de aves.
Sagres: sítio de migrações e de vento A região de Sagres e Vila do Bispo é seguramente a mais importante do país para a migração outonal de aves planadoras (aves de rapina diurnas e cegonhas), constituindo igualmente um dos mais importantes pontos de passagem para passeriformes e outras espécies migradoras. Todos os anos, entre Agosto e Outubro, alguns milhares de aves de rapina e muitos milhares de passeriformes utilizam esta rota migratória sobre o extremo sudoeste de Portugal, rumo a África. Para além da migração, registam-se ainda naquela zona movimentos de dispersão de grande relevância, como aqueles que envolvem milhares de grifos Gyps fulvus e que se estendem até ao mês de Novembro.
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Mas a região sudoeste do país, incluindo Sagres, a costa Alentejana e as serras de Monchique e Espinhaço de Cão, é também uma área de ventos fortes e constantes, e portanto de grande potencial para o aproveitamento eólico. Por este motivo, existem já naquela zona seis parques eólicos implantados, para além de vários outros em fase de construção ou em avaliação. Uma vez que o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e a Zona de Protecção Especial (ZPE) da Costa Sudoeste abrangem apenas a faixa litoral das costas oeste e sul, as limitações à construção de parques eólicos na maior parte da área restante não são muitas. Nem o facto de uma boa parte da região se integrar em dois sítios propostos para a Rede Natura 2000 (Costa Sudoeste e Monchique) tem impedido a proliferação de projectos. Para as áreas sem qualquer estatuto de protecção, estão igualmente propostos diversos parques eólicos de pequena dimensão, alguns deles isentos da realização de qualquer estudo de impacte ambiental. O grau de protecção conferido pela existência do PNSACV e da ZPE no litoral de Sagres não se estende à zona mais interior. Por exemplo, a estrada nacional N268, entre Aljezur e Vila do Bispo, constitui a fronteira do PNSACV: do lado oeste a preservação dos valores naturais dita regras, enquanto do lado leste, a poucas centenas de metros, se encontram já instalados três parques eólicos. Naturalmente as rotas migratórias não reconhecem fronteiras regulamentares, mesmo que feitas de asfalto, e muitas das aves que se concentram em migração nas áreas protegidas de Sagres ou do Cabo de S. Vicente, sobrevoam também toda a região entre Vila do Bispo e Monchique.
Conservação
Teresa Marques
Se o afastamento das aves para rotas alternativas próximas não parece, por agora, acarretar grandes consequências para as aves, já as consequências da instalação de um número significativamente superior de aerogeradores, distribuídos por uma vasta região, poderá comportar impactos mais negativos. É para já especulativo prever o que poderá acontecer no caso dos parques eólicos continuarem a proliferar entre Monchique e Vila do Bispo, contribuindo para os chamados efeitos-cumulativos. No entanto, não se poderão afastar os cenários
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Os parques eólicos já existentes na região não se encontram sujeitos a quaisquer medidas de minimização ou monitorização de eventuais impactos sobre a avifauna. Apesar de o Instituto do Ambiente ter recentemente autorizado a instalação de novos parques eólicos em plena Rede Natura 2000, a política tem sido um pouco mais cuidadosa e os novos projectos serão obrigados a seguir procedimentos que visam diminuir o risco de colisões. Estas medidas incluem a paragem dos aerogeradores em dias de migração mais intensa de aves planadoras, um dos grupos mais propensos à colisão com aquele tipo de estruturas. Por outro lado, a imposição de planos de monitorização da migração e mortalidade registada nesses parques, poderá constituir igualmente uma medida importante, desde que rigorosamente aplicada. Apenas num dos parques eólicos existentes na região de Vila do Bispo foram conduzidos estudos para detectar a mortalidade de aves. Neste caso, aquele em que os aerogeradores atingem menor altura, a mortalidade da maior parte das espécies foi pouco relevante, não incidindo sobre espécies migradoras de aves de rapina ou passeriformes. Enquanto a mortalidade poderá ser reduzida, o mesmo poderá não se passar em relação a outro tipo de impactos. De facto, estudos recentes na área indicam que as aves de rapina migradoras utilizam preferencialmente rotas entre os parques eólicos existentes, afastando-se dos aerogeradores. Para evitar o risco de colisão, as aves tenderão a contornar os parques eólicos, assistindo-se assim ao denominado “efeito-barreira”, para já apenas em pequena escala.
Como em muitas outras questões de ordenamento do território, o que está em causa é a ausência de uma estratégia em relação à implantação dos parques eólicos a nível nacional. Este planeamento deveria garantir o cumprimento das metas de aproveitamento de energias renováveis, sem prejuízo da preservação de zonas ambientalmente sensíveis, como o extremo sudoeste, a região mais importante para a migração de aves a nível nacional. A definição de zonas interditas à
Ray Tipper
Impactos: agora e depois
Futuro desejado
GYPS FULVUS 3.
da existência de um “efeito-barreira” de grande escala, com alterações consideráveis nas rotas seguidas na migração, ou do registo de colisões frequentes com os aerogeradores. Estes efeitos poderão ser ainda mais graves, se tivermos em conta que, à construção de cada parque eólico, se encontra associada a implantação de uma nova linha eléctrica de distribuição, estruturas confirmadamente responsáveis pela morte de um número muito elevado de aves, grande parte delas com estatuto de conservação elevado.
Sagres
implantação de parques eólicos em locais em que o risco de impactos negativos sobre a avifauna é elevado nomeadamente corredores migratórios seria o corolário lógico desta nova orientação. Entretanto, e em relação aos parques eólicos já em implantação na região sudoeste, será essencial que sejam acompanhados por estudos de monitorização rigorosos, que avaliem a verdadeira extensão dos impactos sobre a avifauna migradora. Estes estudos não deverão apenas incidir sobre as espécies planadoras, mas também sobre passeriformes e outras espécies que desenvolvem a sua migração preferencialmente durante a noite, quando as condições atmosféricas e de visibilidade podem aumentar o risco de mortalidade por colisão com os aerogeradores.
Cabo de S.Vicente 1 2
Parque Eólico de Vila do Bispo 3
Grifos Ponta de Sagres
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Teresa Catry
aves A ciência das
É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR
Compilado por Paulo Marques Museu Bocage, MNHN
Biodiversidade A Biodiversidade é cada vez
As aves em Portugal
mais uma palavra do dia a dia, que assume uma grande importância a ní-
Paulo E. Jorge e Luís Vicente 2006. Informação dependente de luz: Influência dos pombais no sistema de navegação dos pombos-correio juvenis. Journal of Ornithology 147: 38-46.
vel internacional, patente em iniciativas da ONU (Convenção para a Diversidade Biológica - CBD) ou da Uni-
Ainda recentemente, no encontro periódico da CBD, o comissário europeu do ambiente afirmou que a biodiver-
Vanessa Oliveira
ão Europeia (Estratégia para a Biodiversidade ou iniciativa “contagem decrescente _ countdown” 2010).
navegação dos pombos. Observou-se também que em aves muito jovens (<2 meses) este tipo de informação apenas lhes incrementa o sentido de orientação no interior da área familiar. Júlio. M. Neto, J. Newton, A. G. Gosler e C. M. Perrins 2006. Uso de isótopos estáveis para determinar a extensão de muda de Inverno em aves migradoras: a muda complexa das cigarrinhas-ruivas Locustella luscinioides. Journal of Avian Biology 37: 117-124.
sidade é uma prioridade na UE e em Abril de 2006 será entregue a todos os Estados-Membros o plano de acção para a implementação da Estratégia para a Biodiversidade. Mas o que é a biodiversidade? Sendo a conjunção de “diversidade biológica”, engloba a variabilidade entre organismos vivos existentes em todos os ecossistemas e os complexos ecológicos dos quais fazem parte1. Esta definição é muito abrangente e engloba diversos níveis de complexidade que vão desde a diversidade ao nível dos genes, passando pelas populações, espécies e ecossistemas. Em cada um destes níveis de complexidade a biodiversidade é caracterizada pela variedade (número de tipos diferentes), quantidade, e distribuição geográfica2. De uma forma mais simples biodiversidade é a riqueza biológica do planeta Terra.
Período de publicação:
Janeiro a Março de 2006
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Este estudo pretendeu avaliar o efeito dos pombais no estabelecimento do sistema de navegação dos pombos-correio juvenis. Utilizaram-se dois pombais com características distintas: pombal de torre, com ampla exposição aos factores ambientais; pombal de jardim, com fraca exposição aos mesmos factores devido à vegetação envolvente. Como tratamento experimental utilizou-se o transporte em total escuridão das aves até ao local de solta. Este procedimento permitiu-nos observar que apesar das aves de ambos os pombais utilizarem este tipo de informação para a obtenção da direcção de casa, a importância desta é maior para os indivíduos do pombal de jardim, sugerindo uma interferência do tipo de pombais no estabelecimento do sistema de
A análise dos padrões de desgaste das penas têm sido tradicionalmente usada para descrever a extensão de muda de Inverno em aves migratórias. No entanto, a interpretação desses padrões pode ser extremamente difícil devido a períodos de muda longos, à data e à existência de mudas complexas. Neste estudo, foi usada a variação geográfica de alguns isótopos estáveis para determinar a origem das penas da asa de cigarrinhas-ruivas capturadas na Primavera na Ria de Aveiro. Para isso, foram comparados os isótopos de Hidrogénio, Carbono e Azoto de penas de passeriformes paludícolas que cresceram em África e em Portugal. Verificou-se que este método permite a identificação da origem da grande maioria das penas de cigarrinhas e que a interpretação dos padrões de desgaste é geralmente, mas não sempre, correcta. É ainda descrita a complexa variação da muda de Inverno desta espécie.
Ornitologia Júlio. M. Neto e A. G. Gosler 2006. Muda pós-juvenil e pós-nupcial das cigarrinhas-ruivas Locustella luscinioides em Portugal. Ibis 148: 39-49.
estas foram comparadas com estimativas baseadas em contagens feitas durante todo o ciclo de maré. As estimativas de baixa-mar foram significativamente menores para todas as espécies, à excepção de Limosa lapponica. O erro foi maior para espécies que seguem a maré (como Calidris alpina, Limosa limosa e Recurvirostra avosetta) e nas áreas intertidais cujo tempo de exposição é superior. Uma vez que contagens durante todo o ciclo exigem um esforço de campo muito superior, sugere-se a realização de contagens alternadas entre a baixa-mar e outras fases do ciclo (enchente ou vazante).
José Viana
Vítor H. Paiva, Jaime A. Ramos, Teresa Catry, Patrícia Pedro, Renata Medeiros e Jorge Palma 2006. Influência dos factores ambientais e do valor energético do alimento no crescimento das crias de chilreta Sterna albifrons e nas entregas de alimento. Bird Study 53: 1-11.
Susana Rosa, Ana L. Encarnação, José P. Granadeiro e Jorge Palmeirim 2006. Selecção de refúgios de preia-mar por aves limícolas: maximizar oportunidades de alimentação ou evitar a predação? Ibis 148: 88-97.
Maria Dias, José P. Granadeiro, Ricardo Martins e Jorge Palmeirim 2006. Estimativas da utilização das áreas entremarés pelas limícolas: incorrecções devido à resposta das aves ao ciclo de maré. Bird Study 53: 32-38. Neste estudo avaliámos se contagens de baixa-mar resultam em boas estimativas de densidade de limícolas nas zonas intertidais do estuário do Tejo. Para tal
Durante a preia-mar, as aves limícolas deslocam-se para locais que se designam vulgarmente por “refúgios”. Este estudo, que teve lugar no estuário do Tejo, identificou um clara preferência das aves por permanecer em zonas de refúgio entre-marés em detrimento das salinas. Testaram-se duas hipóteses para explicar esta selecção: a possibilidade de continuar em alimentação ou um menor risco de predação. A perturbação causada por predadores aéreos foi muito superior nas salinas em relação aos refúgios entre-marés, concluindo-se que a predação é o principal factor que motiva a selecção observada. Faísca
O objectivo deste estudo foi a descrição da dieta e crescimento das crias de chilreta Sterna albifrons em salinas e praias da Ria Formosa. Analisamos também a influência da maré e do vento na entrega de alimento às crias. As principais presas entregues diferiram entre as salinas (Atherina spp, Fundulus spp e camarão) e as praias (Sardina pilchardus, Atherina spp e Belone belone). Os adultos entregaram presas cada vez maiores à medida que os pintos cresceram, sendo que o crescimento foi mais rápido nas praias do que nas salinas. Esta diferença poderá estar relacionada com as diferenças na dieta entre os dois habitats e com o facto de aves mais experientes nidificarem preferencialmente nas praias. A presença de Fundulus spp (presa de elevado valor energético) nas salinas, juntamente com as condições mais abrigadas dos tanques, poderão ser motivos importantes para nidificar neste habitat.
Os investigadores portugueses Jaime A. Ramos, Anna M. Maul, John Bowler, Louisa Wood, Rob Threadgold, Sharon Johnson, Darryl Birch e Susan Walker 2006. Variação anual nas datas de postura e sucesso reprodutor de Tinhosa na ilha de Aride, Seychelles. Emu 106: 81-86.
Este estudo utiliza uma série temporal de 8 anos de dados para abordar variações anuais nas datas de postura, sucesso reprodutor, taxas de crescimento dos pintos e condição corporal de adultos de Tinhosa (Anous stolidus) na ilha de Aride, Seychelles, Oceano Índico. Os resultados indicam que os anos com baixo sucesso reprodutor correspondem a anos de El Niño e La Niña. Este e outros estudos semelhantes, sugerem que a influência do El Niño se estende a populações de aves marinhas em muitos locais do globo.
Mundo das aves Voltando ao assunto da biodiversidade, o investigador português Henrique Pereira conjuntamente com David Cooper do secretariado da Convenção para a Diversidade Biológica (CBD) publicaram um artigo na prestigiada revista Trends in Ecology and Evolution de Março de 2006 onde abordam a necessidade de uma rede mundial para a monitorização da Biodiversidade3. Neste importante artigo os investigadores salientam a necessidade de implementar uma rede de monitorização a nível global que permita avaliar a evolução e efeito das medidas para reduzir a perda de biodiversidade até ao ano 2010, meta estabelecida pela CBD. O programa de monitorização global proposto seria realizado em duas escalas _ regional e global _ e em dois níveis _ espécies e ecossistemas. Pereira e Cooper sugerem como grupos indicadores as aves e as plantas vasculares para a monitorização ao nível especifico. A monitorização ao nível dos ecossistemas seria realizado com base em informação remota proveniente de cobertura por satélite. Igualmente importante, embora receba menos atenção, é a inventariação da biodiversidade. Como é do conhecimento comum muita da diversidade biológica está por descrever e até em grupos bem estudados, como as aves, onde regularmente surgem novas espécies para a ciência, como temos vindo a divulgar nesta secção em números anteriores. Neste sentido, a inventariação da biodiversidade a nível global não deve ser descurada em detrimento de processos igualmente importantes como a monitorização.
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www.biodiv.org - Sítio de internet da Convenção para da Diversidade Biológica. EASAC 2005. A user's guide to biodiversity indicators. EASAC policy report 04. www.easac.org. 3 2006 TREE 21 (3): 123-129. 2
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Paulo Alves
Pedro Alvito
J U V E N I S
Vamos falar de
Reprodução de Aves
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Já alguma vez te perguntaste porque é que em grande parte das espécies, os machos são mais coloridos, ou com penas de formas que chamam a atenção... e as fêmeas são muitas vezes castanhas, confundindo-se com o habitat ou até com fêmeas de outras espécies (o que não ajuda os ornitólogos!) ? É que os machos competem entre eles por uma fêmea. Nas competições, ganha (consoante a espécie) o mais forte, o mais colorido, aquele que tem a melhor vocalização... C U R I O S I D A D E Sabias que os grous fazem uma dança espectacular em que saltam, abanam as penas, batem as asas...? E os machos de abetarda ''viram a plumagem de dentro para fora'' e exibem-na. Os combatentes lutam com a gola levantada...Cada espécie tem o seu ritual. Algumas aves acasalam para a vida e mantêm sempre o mesmo parceiro. Outras não. Algumas constroem o ninho todos os anos e outras só o arranjam e aperfeiçoam. Depois de as aves acasalarem na Primavera, a fêmea põe os ovos, cujo número, o aspecto e o tamanho varia consoante as espécies. Os ovos são em seguida chocados (mais frequentemente pela fêmea). O tempo de incubação também varia e o ninho pode ser feito de vários materiais (penas, paus, lama) e em vários sítios (buracos escavados, cavidades naturais...). Quando os bebés nascem, são indefesos e os pais protegem-nos e alimentam-nos incessantemente. Depois, ensinam os filhos a voar e a procurar comida... C U R I O S I D A D E Como sabes, a fêmea do cuco põe os ovos no ninho de outras aves e o bebé mata os verdadeiros filhos dos seus pais adoptivos: é um parasita. Claro que ele não faz por mal: na natureza cada um luta como pode pela sua sobrevivência e pela da própria espécie.
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Sofia Coelho
Paulo Alves
Sabias que a reprodução das aves varia de espécie para espécie? E que estas precisam de determinadas condições atmosféricas e de habitat para se puderem reproduzir? Pois é, todas as espécies de aves têm determinadas características únicas na sua reprodução, fazendo com que esta varie na época do ano, no habitat, etc. Neste pequeno texto vamos falar de modo generalizado, esquecendo as excepções. As aves costumam iniciar a sua época de reprodução na Primavera, pois nessa altura há mais alimento e as condições ambientais são optimas, logo há mais hipóteses de sobrevivência para as suas crias. Nesta época as aves, especialmente os machos, tentam evidenciar-se em rituais de acasalamento, uns através da sua melhor plumagem colorida, outras através do seu melhor canto. E para quê? Para cativarem a sua fêmea e para defenderem o seu território. Nessa altura as aves estão muito atarefadas a (re)construir os seus ninhos. Todas as aves se reproduzem por ovos (ovíparas) depositando-os nos ninhos que lhes dão o calor e a segurança que necessitam longe de predadores. Há dois tipos de reprodução: a natural, onde não há intervenção do homem e a artificial. Na artificial o homem constroi os ninhos distribuindo-os de modo a garantir à ave o alimento e protecção que ela necessita. É com este tipo de reprodução que se consegue procriar espécies em vias de extinção sem estas estarem sujeitas a predadores, à falta de comida, às más condições atmosféricas, etc., contribuindo para o seu salvamento.
Como de certeza sabes muito bem, as aves põem ovos. Mas quantos é que põem? E quando? E onde? Vamos dividir as respostas a estas perguntas por etapas, em ordem:
Silvia Nunes
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Onde observar
A Toutinegra-tomilheira Sylvia conspicillata Carlos Godinho
Como nunca tinha observado a espécie, antes de partir numa expedição à sua procura, fiz uma saída de campo à biblioteca... Migradora nidificante, estatuto de conservação Quase Ameaçada, surge no nosso país a partir no início de Março, podendo ser observada até Setembro, altura em que migra para latitudes mais quentes. Passeriforme de pequenas dimensões, com asas relativamente pequenas e arredondadas com ligeira projecção das primárias, sendo a cauda, comparativamente, longa. Dentro do género Sylvia, é considerada tipicamente mediterrânea, relacionando-se com meios, em termos de complexidade de coberto, mais simples, adaptando-se sobretudo às etapas de substituição dos meios florestais - matos principalmente. A sua preferência incide em zonas de vegetação arbustiva baixa de matos mediterrâneos, cujos arbustos apresentem cobertura suficiente para o ninho, alternadas com zonas abertas de vegetação herbácea, onde surgem espécies dos géneros Salicornia, Ulex, Cytisus e Cistus, evitando geralmente zonas de bosque. Historicamente, em Portugal, a Toutinegra-tomilheira é uma espécie com distribuição fragmentada, nidificando de forma dispersa e escassa em localidades do interior, parece manter a mesma tendência actualmente. Contudo têm havido diversos registos nos últimos anos para locais fora da área conhecida de distribuição para a espécie. Eis chegada a altura de procurar zonas de matos, até achar uma área que preenchesse os requisitos necessários. Antiga ribeira de Alcarrache (hoje Albufeira de Alqueva), zona de matos esparsos de Ulex, aparentemente as condições estavam reunidas! Uma pequena ave em voo ondulante entre arbustos pousando no topo de um tojo, canto curto, melodioso e musical, anel ocular branco bem
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visível, cabeça azulada, garganta branca, peito cinzento e asas cor de tijolo. Não há dúvida, a paciência foi recompensada, eis a observação de um belo macho! Após algum tempo de observação outros indivíduos foram detectados, muitas das vezes facilmente identificáveis pelo seu característico alarme que faz lembrar o abanar do rabo de uma cascavel (cada um tem a sua mnemónica!). Das espécies que ocorrem em Portugal, pode haver alguma confusão na identificação desta espécie com Papa-amoras-comum Sylvia communis. Esta ligeiramente maior e de coloração menos contrastante, inclusive nas fêmeas. Apesar da distribuição fragmentada que a espécie apresenta, pode ser observada com relativa facilidade (dependendo da paciência e dos quilómetros que estejamos dispostos a fazer) principalmente nas zonas interiores do país. A sua distribuição esparsa é compensada pela conspicuidade da espécie nos locais onde ocorre. Alguns dos locais com maior probabilidade de observar a Toutinegra-tomilheira situam-se na Costa Vicentina (na zona dos parques eólicos da Fonte dos Monteiros nos arredores de Vila do Bispo), em Sagres (entre o marco geodésico da Cabranosa e o Vale Santo), em Castro Marim, Mértola, no Tejo Internacional (Monte da Barata, Posto dos Alares e Cabeço Alto) e no Douro Internacional. A espécie pode também ser observada no Arquipélago da Madeira, subespécie S. c. orbitalis, nas ilhas da Madeira e Porto Santo, associada a formações arbustivas de tojo. Boas observações!
Ciber-Ornitofilia
Telescópios
Parte 1:
A pesquisa
Luís Gordinho (www.naturlink.pt)
Esta é a primeira metade de um artigo sobre a escolha do meu próximo telescópio. Poderá parecer egoísta mas, se o tema fosse a escolha do telescópio dos leitores, eu possivelmente teria de escrever centenas de crónicas. É que não existe um telescópio universal ideal, logo a escolha é altamente subjectiva. O que existe é um aparelho que se adequa particularmente bem ao uso que lhe será dado, às características físicas do observador e ao orçamento disponível. Este artigo pretende ser um exemplo de como é que esse telescópio poderá ser encontrado. No meu caso, estamos a falar de um observador com 1,90 m de altura e 70 kg de peso que observa sempre com óculos e percorre frequentemente longas distâncias a pé, algumas vezes em terreno acidentado, não estando disposto a deixar o telescópio para trás. Também estamos perante alguém que teria relutância em dar 2.000 euros ou mais por um telescópio e uma ocular. O meu grande objectivo é substituir com vantagem o equipamento anterior. Esse era composto por um telescópio Optolyth TBS80GA com uma ocular 30xW num estojo Skua MKII e por um tripé Manfrotto 144B com cabeça 200 e alça. O peso total do conjunto ascendia a 4,7 kg. Os aspectos que mais anseio ver melhorados são o diâmetro da lente ocular, o peso e tamanho do conjunto e a qualidade das lentes. Além disso, também me rendi recentemente aos encantos das modernas oculares zoom. Quando, em 1991, escolhi e comprei o meu primeiro telescópio, a principal referência nessa matéria era o Binoculars and telescopes survey da revista British Birds, do qual foram publicados seis números entre 1978 e 1995. A partir desse ano, a revista deixou de publicar o inventário, alegadamente porque não servia bem o fim a que se destinava. Para a minha escolha, também foi decisivo um artigo publicado
em 1988 na revista Birding World (1:19-20) por Peter Grant, recentemente falecido à data da compra. O Peter, para além de ser um excelente observador, também era
www.alula.fi
http://pt-ducks. naturlink.pt/cr-telescopes.htm
www.betterviewdesired.com
bastante alto e usava óculos. Numa altura em que, no nosso país, existiam poucos telescópios terrestres que se pudessem experimentar, tinha que se escolher muito com base na opinião dos outros. Ainda assim, eu já tinha usado bastante os Optolyth extensíveis do então SNPRCN (ICN desde 1993) e tinha a melhor impres-
Boa Navegação!
são da sua óptica. Nessa época a Kowa e a Nikon dominavam o mercado, mas Grant considerou a prestação do mais económico Optolyth superior. Já na altura, revistas sobre observação-de-aves de carácter mais recreativo e menos técnico como a Birdwatching (fundada em 1986) começavam a dominar nos comparativos de material óptico. Hoje, no Reino Unido, é a sua concorrente directa, a mais jovem Birdwatch (desde 1992), que melhor cobre esta área, publicando anualmente, no mês de Novembro, um estudo detalhado do mercado de telescópios. A revista técnica europeia de ornitologia que continua a publicar mais e melhores testes comparativos de material óptico é a finlandesa Alula. Felizmente, grande parte dessas análises estão disponíveis on-line em www.alula.fi/ gb/optics.htm. Em termos de testes disponíveis apenas na Internet, são de destacar os do site www.betterviewdesired.com, em particular “The Reference Set”, que, no entanto, deverão ser complementados com artigos mais recentes tais como www.birdwatching.com/optics/scopes 2003.html e www.surfbirds.com/mb/ reviews/leicaapotelevid62.html . Para certos fins mais específicos, por exemplo leitura de anilhas de cor, existem testes dirigidos, entre os quais salientamos o lusitano e altamente meritório http://pt-ducks. naturlink.pt/cr-telescopes.htm. Os arquivos de certos foruns (e.g. www.birdforum. net/archive/index.php/t-11525) também podem constituir uma referência útil. Apesar da Internet ser agora uma fonte importante de informação, mais importante ainda é o facto de, mesmo em Portugal, muitos observadores terem actualmente telescópio, o que permite experimentar as diferentes marcas e modelos disponíveis e tomar a decisão de forma mais pessoal. É dessa decisão que vamos falar na segunda parte do artigo, até lá...
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