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Ruth Guimarães

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Sumário Dois d edos de prosa sobre os contos  7

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A mãe de ouro  19 O gigante  23 Pacuera-cuera!  31 A mãe-d’água  39

cosmogonia afro-brasileira  49 O Senhor do mundo  51 A sombra do outro  57 O lagarto intrometido  61

TR ÊS CONTOS DE EXEMPLO  65 O enforcado  67 Q uem te matou?  71 O diabo advogado   75

OS ANIMAIS NA MITOLOGIA AFRO-BRASILEIRA  85 O Pinto Sura  87 A casa do coelho  95 O coelho e a onça  101 Ma caco Serafim  111 O macaco e o confeito  119 Bibliografia  125

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Dois d edos de prosa sobre os contos

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isseram-me que eu devia explicar, rapidamente, num bate-papo ameno, o critério de seleção destes contos.

Em primeiro lugar, não houve preocupação sentimental, nem pedagógica. Aliás, o primeiro contato, completamente irracional, com a matéria, foi juntar o material, recolhendo-o despreocupadamente na fonte, isto é, entre o povo, assim como quem recolhia ouro, no tempo em que o havia. Parece-me necessário observar que algumas das his-

tórias deste volume são variantes dos contos recolhidos também na tradição oral e belamente recontados por Grimm, por Andersen, por Perrault, que, há um século, já sabiam o que convinha à criança. Isto é, o que inspira bons pensa­ mentos ao imaturo, ao homem simples, ao rústico, inspirará bons pen­samentos à criança. A maioria, pois, dos contos tradicionais do Bra­sil é de procedência europeia, veio através

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dos racontos orais do português descobridor e colonizador. Temos, ainda, porém, as lendas ameríndias e as africanas. As lendas indígenas, primeiramente as colheram os viajantes estrangeiros, Baldus, Hart, e outros, e, depois, bem mais tarde, os nacionais, Sílvio Romero, Barbosa Rodrigues, Afonso Arinos, Luís da Câmara Cascudo, Basílio Magalhães, J. Silva Campos. As africanas são mais raras, algumas simples variantes, que o negro introduziu, de histórias europeias. Muitos contos dos bantos, nagôs e jejes são histórias europeias, recontadas pelos negros, que lhes imprimiam sua rude singeleza. Não se trata de saber se as histórias que compõem este volume são de criação africana. É certo que nos chegaram primeiramente por intermédio de mães pretas e de mucamas, e são correntias entre o forte contingente, outrora es­cravo, da região valeparaibana. É ali o meu garimpo. Região onde vi­veu e vive um povo que, depois da Bahia, tem a maior influência negra no Brasil: Sul de Minas, Sudoeste de São Paulo e Baixada Fluminense (Vale do Paraíba mineiro/ paulista/papa-goiaba). Compõem um triângulo de incidências de costumes e de folclore negro, condicionado primeiro pela antiga proximidade do empório do Rio de Janeiro, onde se merca­dejava a carne humana para o trabalho: lavoura do algodão, do café e a grande aventura da garimpagem. O Vale é todo tisnado das características da raça: rostos grandes; pele trigueira, curtida, grossa e lisa; lábios carnudos e sorrisos largos, de orelha a orelha; olhos grandes, parados,

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lustro­sos, parecendo líquidos; narizes volumosos; cabelos escuros, ásperos, que vão se desenovelando na mestiçagem com o branco. Forma-se um tipo padronizado, marrom-claro, de traços mais finos, conservando as bem-feitas formas do corpo, a alta e macia redondeza dos grandes seios nas mulheres e uma feminina agilidade nos homens. Mulatos*. Quadrarões. Oitavões**. Psicologicamente, o negro é gente alegre, porque a sua visão do mundo é desprevenida e natural. Por muitos anos, séculos, a África foi considerada um conti­nente fechado, desconhecido mesmo dos colonizadores, desbravadores de selva e caçadores de bichos. E dos predadores de homens. Isolada do mundo todo, pela dificuldade de chegar até lá: pela selva inóspita, pelos rios imensos, pelo viço da vegetação agressiva, pelos animais estranhíssimos, pela gente como nenhum europeu tinha visto outra igual, pelas diversas línguas, não sabidas e jamais ouvidas antes.

*  N. do E.: Mantivemos, neste texto, a redação original da autora, visto que a obra foi produzida na década de 1980. A palavra mulato tem sido, hoje, considerada racista, porque deriva do latim mulus, que quer dizer mulo. A palavra era usada pelos portugueses colonizadores, desde o século XVI, para comparar o negro mestiço a um animal de grande força e resistência para trabalhos forçados. A palavra mulato está em desuso, atualmente, preferindo-se usar pardo, para pessoas filhas de brancos com negros. **  N. do E.: São chamados quadrarões os filhos de um progenitor branco e outro pardo (com um quarto de carga genética de origem negra). Oitavões são aqueles com um oitavo de sangue negro, também chamados octorunos. Também existem os quintarões.

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A mãe de ouro

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avia em Rosário, na montante do Rio Cuiabá, um rico senhor de escravos, de modos rudes e coração cruel.

Ocupava-se da mineração de ouro, e seus escravos, diariamente, tinham de lhe trazer alguma quan­tidade do precioso metal, sem o que eram levados para o tronco e ver­gastados. Tinha ele um escravo, já velho, a quem chamavam Pai Antô­ nio. Andava o negro num banzo que dava dó, cabisbaixo, resmungando, pois não lhe saía na bateia uma só pepita de ouro, e, mais dia menos dia, lá iria ele para o castigo. Certo dia, em vez de trabalhar, deu-lhe tamanho desespero, que saiu andando à toa pelo mato. Sentou-se no chão, cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar. Chorava e cho­rava, sem saber o que fazer. Quando descobriu o rosto, viu diante dele, com uma linda cabeleira cor de fogo, uma formosa mulher. — Por que está assim triste, Pai Antônio?

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Sem se admirar, o negro contou-lhe sua desventura. E ela: — Não chore mais. Vá comprar uma fita azul, uma fita vermelha, uma fita amarela e um espelho. — Sim, sinhazinha. Saiu o preto do mato às carreiras, foi à loja, comprou o es­pelho e as fitas mais bonitas que achou, e voltou a encontrar a mu­lher dos cabelos de fogo. Então, ela foi diante dele, parou num lugar do rio, e, ali, foi esmaecendo, até que sumiu. A última coisa que ele viu foram os cabelos de fogo, onde ela amarrara as fitas. Uma voz disse, lá da água: — Não conte a ninguém o que aconteceu. Pai Antônio correu, tomou a bateia e começou a trabalhar. Cada vez que peneirava o cascalho, encontrava muito ouro. Contente da vida, foi levar o achado ao patrão. Em vez de se satisfazer, o malvado queria que o negro contasse onde tinha achado o ouro. — Lá dentro do rio mesmo, sinhozinho. — Mas em que altura? — Não me lembro mais. Foi amarrado ao tronco e maltratado. Assim que o soltaram, correu ao mato, sentou-se no chão, no mesmo lugar onde estivera, e chamou a mãe de Ouro. — Se a gente não leva ouro, apanha. Levei o ouro e quase me mataram de pancada. Agora, o patrão quer que eu conte o lugar onde está o ouro. — Pode contar — disse a mulher.

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Pai Antônio indicou ao patrão o lugar. Com mais vinte e dois escravos, ele foi para lá. Cavaram e cavaram. Já tinham feito um buracão quando deram com um grande pedaço de ouro. Por mais que cavas­sem, não lhe viam o fim. Ele se enfiava para baixo da terra, como um tronco de árvore. No segundo dia, foi a mesma coisa. Cavaram durante horas, todos os homens, e aquele ouro sem fim se afundando para baixo, sempre, sem que nunca se pudesse encontrar-lhe a base. No ter­ceiro dia, o negro Antônio foi à floresta, pois viu, por entre as abertas do mato, o vulto da mãe de Ouro, com seu cabelo reluzente, e pareceu-lhe que ela o chamava. Mal chegou junto dela, ouviu o que ela dizia: — Saia de lá amanhã, antes do meio-dia. No terceiro dia, o patrão estava possesso. O escravo que pa­rava um instante, para cuspir nas mãos, levava chicotadas pelas cos­tas. — Vamos — gritava ele. — Vamos depressa com isto. Vamos de­pressa. Parecia tão maligno, tão espantoso, que os escravos, curvados, sentiam um medo atroz. Quando o sol ia alto, Pai Antônio pediu para sair um pouco. — Estou doente, patrão. — Vá, mas venha já. Pai Antônio se afastou depressa. O sol subiu no céu. Na hora em que a sombra ficou bem em volta dos pés, no chão, um barulho es­trondou na floresta, desabaram as paredes do buraco, o patrão e os escravos foram soterrados, e morreram.

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O gigante

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ra uma vez um homem tão forte e tão grande, da terra longín­qua dos gigantes, que poderia sem esforço pôr o

mundo nas costas e sair trotando. Esse homem, um dia, resolveu andar pelo mundo em busca de fortuna. Pôs-se a caminho, e seus passos ressoavam espantosos pe­las estradas. À sua aproximação, fugiam os pássaros e o povo. Por muito tempo, ele percorreu os caminhos, em várias direções, até que chegou a uma fazenda, cuja dona era a mulher mais avarenta do mundo. Mal viu aquele homem tão forte, ela calculou que trabalharia mais que qualquer outro e regozijou-se por vê-lo sujo e maltrapilho, pois ima­ginou que ele, no esta-

do em que estava, não poderia exigir muito. Tinha razão de pensar assim. O peludo gigante estava reduzido à mais extrema miséria. Tinha uma barba tão grande, que poderia dar com ela sete voltas em torno do pescoço, mas sua fome era

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ainda maior do que a barba. Havia já esquecido o sonho de riquezas e disse humildemente que trabalharia em troca somente de casa e comida. — Mas você, com tanta força, não arranjou um emprego bom? — perguntou a mulher um pouco desconfiada. — Não, senhora. Todos tinham medo de mim e fugiam mal eu che­gava perto deles. Tive que roubar para comer, coisa de que não gosto. Sou um gigante sério. — Está bem, está bem. Pois eu o aceito, para trabalhar na roça. Você come muito? — Não, senhora — respondeu ele mais humilde ainda, abaixando a cabeça, que era grande como uma pedra de moinho. — Até que, para o meu tamanho, não como tanto assim. Quando muito, uns dois ou três bois no almoço. Vendo o espanto da mulher, ele acrescentou apressadamente: — Se a senhora não tiver bois, como uns sete ou oito bezerros, ou dez cabritos. E se não houver nem bezerros nem cabritos, umas duas dúzias de cachorros mesmo servem. Eu me contento com pouco. Ela foi generosa: — Então você pode comer todos os cachorros que encontrar na redondeza. Se alguém reclamar, diga que come por minha conta. Logo no primeiro dia, as coisas não correram muito bem, porque o gigante era tão estúpido quanto grande — pobre homem! —, e tomava muito ao pé da letra tudo o que

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lhe diziam. Pela manhã, a fazendeira lhe deu uma enxada enorme, de acordo com o seu tamanho, e disse: — Vá capinar o milho. — Sim, senhora — concordou ele. E lá se foi com a enxada nas costas, dando passadas de sete metros. Estava tão contente por achar emprego que começou a trabalhar cantando, numa voz de abalar até as pedras. Ao ouvir aqueles urros, não ficou ali perto nem um bicho de pelo, nem aves, nem gente, e até as árvores e o vento se imobilizaram de espanto. Dali a pouco, vinha ele de volta, todo feliz. — Como é, já fez tudo? — Já, sim, senhora. — Você merece três bois, hoje — disse a mulher, satisfeita. O gigante engoliu todos os três numa bocada, lambeu os bigodes e foi dormir. A mulher foi ver o serviço e, mal olhou a roça, teve um ataque. Não havia um só pé de milho. Estava tudo cortado, caído no chão. Parecia que um furacão tinha passado por ali. — Mas, o que foi isso, santo Deus? — gemeu ela assombrada, voltando a si. Então, saiu um anão de baixo de uma pedra e disse numa voz fi­ninha e fanhosa: — Estou escondido de medo. Apareceu um gigante aqui hoje, com uma enxada de metros, uma barba de sete voltas e uma cabeça que fu­rava as nuvens. Chegou e começou a

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capinar. Cada enxadada que dava, caíam cem pés de milho. Ah! Nem cochilei. Saí correndo, antes que ele me confundisse com uma formiga e me botasse o dedão em cima. A fazendeira boi embora, arrancando os cabelos. — Gigante dos meus pecados — disse ela, fazendo um berreiro. — Quem mandou você cortar os pés de milho? — A senhora mesma — disse ele com simplicidade, curvando-se para ouvir melhor o que ela dizia. — Eu não, seu animal de rabo! — A senhora me mandou capinar o milho, não foi? Pois eu capi­nei. — Mandei capinar o mato em torno dos pés de milho, pedaço de zebra. A gente diz “capinar o milho”, para ficar mais fácil. Toda a gente sabe o que é — gritou ela, trêmula de ira. — Vá-se embora daqui e nunca mais me apareça. — Vou, sim, senhora. Mas primeiro a senhora me paga. A mulher, que era a mais avarenta do mundo, já se sabe, pensou um pouco e chegou à conclusão de que o trabalho dele compensaria o prejuízo em dois ou três dias. Ao passo que, se ele se fosse, ela ficaria com um grande prejuízo, além de ter que lhe pagar um dia de serviço. — Está bom. Pode ficar — falou ela. — Mas não me faça outra.

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No outro dia, ela mandou o gigante buscar lenha. — Traga um feixe bem grande — recomendou, querendo que o ser­viço dele rendesse tanto que valesse pelo trabalho de muitos camara­das. Foi, então, o gigante. Passou mais de uma hora puxando cipó. Tirou tudo quanto foi cipó-guaçu do mato, daqueles grossos como canos d’água, fez uma rodilha colossal, passou tudo aquilo em torno das ár­vores da mata, de todas, sem exceção de uma só, e, depois, com um puxão, arrancou a floresta inteira e arrastou-a até a fazenda. Com a floresta vieram os seus animais, onças bravias, dando miados pavoro­sos, porcos-do-mato, batendo as queixadas, com um barulho de matar de susto qualquer cristão, vieram as antas, os gambás, as cobras; tudo aquilo piando, correndo, rugindo, gritando, com medo e com raiva. A fazendeira quase morreu de espanto. No outro dia, ela mandou o gigante trazer um pouco d’água. Como já estava escarmentada, recomendou: — Um pouquinho só, um poucochinho, gigantinho do meu coração. Não vá me trazer a lagoa inteira. — A lagoa inteira... quiá-quiá-quiá-quiá-! — gargalhou ele. E era uma risada tão horrorosa, que o mundo inteiro tremeu. Pois, no outro dia, o senhor gigante cavou um fundo buraco na terra, um grande buraco circular, em torno da água. Tirou a lagoa in­teirinha do chão, atirou-a nas costas, como quem atira um cesto de laranjas, e deixou-a na porta

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da fazenda, com jacarés e tudo. Ah! foi um tempo dos diabos. Gritava a fazendeira, gritavam os empregados, urrava o gigante, rindo aquele seu grande riso temeroso: — Uma lagoa inteira! quiá-quiá-quiá-quiá-quiá-quiá!... Aí, a fazendeira não pensou mais em lucro. Pensou somente em se ver livre daquele horrível empregado, que só fazia coisas absur­das. — Gigantinho do meu coração — gemeu ela. — Se você quiser ir-se embora, pode ir. Vá hoje mesmo, gigantinho! Não adiantou se derreter como manteiga. O gigante nem se aba­lou. — Se a senhora me pagar, eu vou embora. — Você aceita um tostão, gigantinho? — Não, senhora. — Você aceita um saco cheio de tostões, gigantinho? — Não, senhora. — Você aceita... — Não, senhora, nãããão, senhora, nããããããão, senhora! O gigante começou a gritar e a pular: — Quero um burro carregado de ouro! Quero um burro carregado de ouro! Então, a fazendeira, muito espantada, deu-lhe o que ele pedia, e ele lá se foi, acertando o passo pelo trote do burro, muito feliz da vida, cantando a plenos pulmões, com o que o mundo inteiro se es­tatelou de espanto.

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Os gigantes são de etiologia indefinida, meio que aparentados com os ogros europeus, e talvez provindos da rica mitologia grega, com seus Titãs, Polifemos, Briareu e outros. Quando se toma contato com os contos, na sua totalidade geo­gráfica, percebemos o seguinte: os gigantes estão em todos os folclo­res, e parecem de geração espontânea, quem sabe reminiscências de uma possível raça de homens gigantescos, como os que ainda há na Patagô­nia e como repontam em todos os povos alguns espécimes, aqui e ali. Repete-se o que se deu com o Dilúvio Universal, que foi o mesmo e não foi, nos diversos povos, de maneira que temos uma histó­ria de dilúvio sempre igual, em todo o globo, com personagens dife­rentes. Numa coisa concordam África e Europa. O Gigante é sempre bur­ro, seja aqui, seja acolá. O que lhe sobra em tamanho, falta em inte­ligência. No conto deste livro, coletado entre pretos velhos, numa população muito mesclada com o elemento negro, o Gigante cumpre, ao pé da letra, as tarefas. Os mesmos motivos encontramos no Pedro Mala­sarte, de origem nitidamente europeia. Porém, o que o Malasarte faz por astúcia e finura, o gigante repete por falta de entendimento.

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ram dois irmãos tropeiros. Um dia, chegaram a um rancho no sertão de Minas. Num canto do rancho, embru-

lhada numa folha de bana­neira, bem arrumada, como se fosse para levar em viagem, o mais velho achou uma pacuera, parecia que tirada de um animal recém-abatido. Cor-de-rosa, cheirando a carne fresca. O moço disse: — Viva! É um petisco e tanto. Vou assar e comer este bofe. — Não faça isso! — falou o outro. — Comer essas por-

carias achadas no chão, sem saber de que bicho vieram... — Está fresca — interrompeu o outro. — É só lavar. Água lava tudo. Só não lava é língua de gente como você, que tudo malda. — ... e nem quem jogou — completou o outro, sem tomar conheci­mento da argumentação do mais novo.

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— Quem jogou não importa. É sinal de que estava sobrando... — Ou está velha. Ou envenenada. Por boa-fé não foi que jogaram fora. — Jogaram, não. Esqueceram. Estava bem protegida, no meio de folhas verdes. Vou comer. Não vai me dar dor de barriga. — Piorou. O dono volta pra buscar e o que você vai dizer? — Que buscar, o quê? Neste fim de mundo, quem passou por aqui, se bem andou, longe vai. Não vai voltar, por causa de um pedaço de bofe. Acendeu uma fogueirinha de gravetos, juntou uns pedaços de lenha grossa pra fazer brasa e, dali a pouco, ao alegre crepitar do fogo indizivelmente vermelho, assou o bofe. Cheirava bem. Comeu-o. Não deixou de rir do irmão que, de cara amarrada, a um lado da fo­gueira, jantou só carne seca com farinha. — Boa a janta? — indagou. — Pelo menos eu sei o que estou comendo. — Eu também. Não quer mesmo um pedacinho do meu assado? — Deus me livre! — Se veneno tinha, a água lavou. Quer? — Não me amole! — Sua alma, sua palma. E, rindo muito, o rapaz acabou sozinho com a pacuera.

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Em seguida, acamaçou calmamente um tanto de folhas secas, es­tendeu por cima uns pelegos e foi dormir. O irmão fez o mesmo. Estava um sossego. As árvores não buliam, não havia rumor de grilos, nem pios de corujas, nem coaxar de sapos, não fazia frio nem calor; noite boa para um bom sono, depois da refrega do dia, ambos em paz com sua consciência. A noite caminhou com pés de lã e silêncio, até bem tarde. Vi­zinhava a meia-noite, e, então, um urro pavoroso se ouviu do fundo do mato. Os dois irmãos acordaram aterrorizados. — Credo! Que foi isso? Entrou pelo rancho adentro um bicho extravagante, grandalhão, feio como os pecados, peludo. Foi direto ao canto onde tinha sido encontrada a pacuera, es­carvou a terra com as unhas, fungou, e, enquanto isso acontecia, os irmãos saíram devagarinho, correram para o mato e subiram em uma grande árvore ramalhuda. O bicho peludo fuçou todos os cantos do rancho e, nada achando, virou para cima o feio focinho e urrou: — Pacuera-cuera! Os dois moços, no alto da árvore, ficaram encolhidinhos, tre­mendo de medo, e rezando para que aqueeeeeeeeeela cooooooooooisa fosse emboooooooooooora. — A gente aqui ele não vê e nem acha. Aquilo é bicho do chão — disse o comedor da pacuera. O outro nem respondeu, de tanto medo.

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Mas a ilusão do guloso durou pouco. De dentro dele, uma voz esquisita bradou: — Por onde eu saio? E o bichão, lá no rancho, urrando: — Pacuera-cuera! O moço levou tamanho susto, que quase caiu da árvore. Ainda teve presença de espírito de responder: — Sai pela boca. — Pela boca não saio, porque tem cuspo. Por onde eu saio? — Sai pelo nariz. — Pelo nariz não saio, porque tem sujeira. Por onde eu saio? — Sai pelos ouvidos. — Pelos ouvidos não saio, porque têm cera. Por onde eu saio? — Sai pelos olhos. — Pelos olhos não saio, porque têm remela. Por onde eu saio? — Sai pelos buracos lá de baixo. — Por lá não saio, porque têm porcaria. Por onde eu saio? — Sai pelo umbigo? — Pelo umbigo não saio, porque está tapado. Por onde eu saio? E o bichão temeroso, lá embaaaaaaaaaaaixo: — Pacuera-cuera!

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Aquilo já estava ficando sem graça. — Por onde eu saio? — berrou a pacuera, dentro da pança do rapaz. E ele: — Saia por onde quiser e não me encha! E aí: — Tum! A barriga do moço deu um estouro, a pacuera pulou lá de den­tro, o bichão apanhou no ar o que era dele, e na mesma hora sumiu.

Embora pacuera seja uma fala tupi, existem contos de procedên­cia africana em que se conta o mesmo enredo. Em Héli Chatelain, em sua obra já citada aqui, há o conto “Muhatu Uasema Mbiji”, a mulher que desejava peixe. A versão congolesa é “Ngana Kimalanezu Kia”, acontecida com o negro chamado Tumb’a Ndala: Tumb’a Ndala era casado havia muitos anos e vivia na maior harmonia com sua mulher. Quando esta engravidou, aborreceu a carne, querendo apenas peixe. Uma vez o marido foi pescar e apanhou uma in­f inidade de peixes, mas com tão pouca sorte, que eles conseguiram fu­gir para outro rio. Certo dia, ele avisou a esposa: “Prepara-me o almoço que eu vou pescar”. Feito isso, o homem se dirigiu ao rio para onde os pei­xes haviam fugido, acampando próximo, para comer. Em seguida resol­veu-se a pescar e lançou a rede. O primeiro lance nada trouxe, o se­gundo também não. Na terceira tentativa, sentiu a rede

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muito pesada e disse ao rio: “Fazei o favor de esperar, pois o vosso amigo já é pai”. Ele, pouco depois, escutou uma voz: “Puxa agora!”. Quando puxou, saltou um peixe muito grande. Colocou-o no cesto e pôs-se a caminho. Aconteceu, porém, que todos os outros peixes seguiram o peixe grande, e só se escutou na relva um malalá, malalá! De volta à casa, a esposa e os vizinhos vieram ao seu encontro e ele entregou o peixe para ser escamado. A mulher devolveu-o dizendo: “Escama-o tu!”. O marido recusou, e ela não teve outro remédio senão fazer esse serviço. Ao começar, escutou uma voz: “Quando me escamares, escama-me bem”, e assim todo o tempo, enquanto durou o trabalho. Quando acabou, deitou-no na panela, mas o peixe continuou, como se estivesse a cantar. Pronto para ser servido, ela preparou cinco pratos e convidou o marido e os vizinhos. Todos se recusaram e só ela comeu a refeição. Quando acabou, pegou um cachimbo e uma esteira, que estendeu e onde se sentou. Pouco depois, escutou dentro das suas próprias entra­nhas: “Por onde sairei?”. “Pelas solas dos pés.” “Achas bem que saia pelos teus pés, que pisam o chão sujo?” “Então saia pela minha boca.” “Como poderei sair pela boca que me engoliu?” “Procura então o lugar que quiseres.” “Neste caso sairei por aqui.” E o peixe saiu, deixando a mulher cortada ao meio.

Há inúmeras variantes no Vale do Paraíba, sempre ligadas à gula. Num velho conto do Vale, apareceu uma ave no terreiro e a dona da casa a apanhou e matou. Depois de morta, a ave começou a dar or­dens: — Você me matou, agora me depene. — Você me depenou, agora tire a tripa.

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— Tirou a tripa, agora me corte em pedaços. Ficou nessa lenga-lenga, ditando todos os passos, até que man­dou que a levassem para a mesa. A família, horrorizada, não quis sa­ber de comer a ave falante, e a mulher comeu-a toda sozinha. Nem bem acabou de engolir o último pedaço, começou o canto, dentro da sua barriga: Por onde que eu saio...?

Silva Campos recolheu uma variante, contada pelos negros do Recôncavo Baiano; em parte, o motivo constituído pela prisão de um animal, por meio de pez, cera, ou outro material, vindo, depois, em convergência, a parte em que o animal — ave, peixe —, quando apa­nhado, canta as sequências de sua morte, do cozimento e de quando é devorado. O conto “O Macaco e a Negrinha de Cera”, de Luís da Câmara Cas­cudo, já mencionado na introdução deste volume, segue o mesmo esquema e o repetido refrão é: Me mate devagar, que me dói, dói, dói...

E depois: Me corte devagar, que me dói, dói, dói...

E ainda: Me coma devagar, que me dói, dói, dói... Até o amargo fim.

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Artur Ramos recolheu uma variante em Alagoas. O padre Constan­tino Tastevin, um entre os negros congoleses. Lindolfo Gomes conta num dos seus contos populares a mesma história. Todos esses contos de ressurreição de animal comido, geral­ mente ave (por exceção está registrado aqui o conto de um peixe), fo­ram já classificados no sistema ATU — no sistema Aarne-Thompson é o Motivo E32. É próprio da maneira de contar dos negros o refrão que percor­re os contos.

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A mãe-d’água

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ra uma vez um homem muito pobre, que tinha uma boa plantação de melancias na beira do rio. Porém, quando

estavam as pesadas frutas maduras e, ao calor, via-se o coração vermelhando, ele não conseguia co­lher uma só que fosse. Desapareciam de noite. Ele procurava os rastros do ladrão e nada encontrava na terra fofa. “Deve ser algum canoeiro, que vem pela água.” Acreditando nisso, escondeu-se por trás de umas moi­tas e passou parte da noite espiando. Nada viu na primeira noite, nem na segunda. Na terceira, ouvindo um leve rumor para os lados do rio, foi devagarinho até lá, e viu uma moça linda, de compridos cabelos verdes e olhos d’água profunda, colhendo as melancias todas. Foi atrás dela, bem devagarinho, pé ante pé, e agarrou-a. — Ah! Danada! — gritou. — É você quem carrega as minhas melan­cias. Pois, agora, você vai para a minha casa, para se casar comigo.

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— Eu não — gritava a moça. — Eu não. Mas o homem era forte, e ela foi. — Bem feito pra mim, que roubava as frutas — disse ela. — Você, então, se casa comigo? — perguntou o homem, embevecido com a sua beleza. — Caso. Mas tem uma coisa. — O quê? — Nunca arrenegue de gente de baixo d’água. — Pois sim. Nunca arrenegarei. Foram para a cidade, num domingo, para se casar. Juntou gente para ver a moça, tão linda, com seus cabelos verdes e olhos de água verde — tão linda! Entrou na casa do pobre, e, com ela, o milagre. E, com ela, a fartura. O melancial deu de arrebentar em melancias de arroba. O arrozal pendia de espigas enormes. Nas laranjeiras, era preciso pôr escoras, pois vinham abaixo com as laranjas. E as vacas tinham bezerros formosos. As ovelhas, tanta lã que as maçarocas tira­das cada verão deram um fabuloso lucro. E era tudo assim. O homem fazia um negócio, ganhava um mundo de dinheiro. Comprou terras, aumentou as plantações. Adquiriu mobílias, louças, joias, roupas. O gado inumerável, dinheiro que não se acabava, escra­varia, tudo o que tinha foi multiplicado. Tudo o que não tinha lhe veio ter às mãos. Corria tudo muito bem, quando a moça começou a se desleixar. Andava pela casa com os vestidos esfrangalhados, emaranhada a bela cabeleira. Como não tomava conta de nada mais, os empregados também nada

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faziam. E era uma sujeira de dar nojo, pela casa toda. Os filhos, de carinha suja, choramingavam de fome. O marido pe­dia: — Mulher, tome conta da casa. O que foi isso? Você era tão prestimosa... A moça nem respondia. E a casa dela e os filhos continuavam na mesma. Um dia, o homem, arreliado, falou: — Arre, também, que já estou perdendo a paciência. Arrenego de gente debaixo d’água. A moça, que estava sentada, levantou-se mais que depressa e foi andando em direção ao rio, ao mesmo tempo que cantava: Zão, zão, zão, zão, calunga, olha o mungueledô, calunga, minha gente toda, calunga, vamos embora, calunga.

O homem gritou: — Não vai lá, não, mulher. E ela, sem olhar para trás, ia andando. Atrás dela, foram saindo os filhos, os empregados, o pessoal jornadeiro das roças.

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Zão, zão, zão, zão, calunga, olha o mungueledô, calunga, meus bichos todos, calunga, vamos embora, calunga.

Com vagaroso passo, foram os rebanhos se dirigindo para o rio. Foram as vacas de leite, os bois de carro, as ovelhinhas brancas de neve, cabras e cavalos e burros, bestas de carga; até o cachorrinho, até o gato, até a tartaruguinha com que as crianças brincavam, e o papagaio. Alcançaram a mãe-d’água, passaram adiante dela, foram an­dando para o rio e entrando n’água, como se pisassem no terreno limpo, e desaparecendo aos poucos, sem alarido. Zão, zão, zão, zão, calunga, olha o mungueledô, calunga, meus “terens” todos, calunga, vamos embora, calunga.

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— Não vá embora, não, minha mulher — o homem gritava. Os móveis, as joias, a louça, os baús, começaram a pular em direção ao rio. Até a casa se sacudiu e pulou. Cercados, telheiros, galinheiros, cercas de divisa, plantações, foi tudo engolido pelas águas. Dentro em pouco, a moça, cantando, mergulhou também. Quando o homem viu, estava sozinho, na margem tranquila, com as suas roupas de pobre, e na terra somente havia uma plantaçãozinha reles de melancia. Ele foi viver de novo pobremente, de vender as frutas, mas também nunca mais a mãe-d’água buliu na sua roça.

O principal dos mitos hidroláticos brasileiros é Iemanjá, pri­ mitivamente deusa marinha da África Sudanesa. É uma entre as muitas mães das águas. Entre os bantos angolanos há duas mães-d’água: Quianda (ou Kianda) em Luanda, e Kiximbi em Mbaka, conforme teste­munha Héli Chatelain, em “Folk-Tales of Angola”. Como duende feminino das águas, surgiu, literariamente, um mito de origem europeia, de longos cabelos loiros, meio mulher, meio peixe: a sereia. Na Antiguidade, não se tem notícia dessa forma. Em Homero, a sereia era ave, e não peixe. Cantava para confundir os navegantes e os fazer naufragar. Até o século XVII, não havia no Brasil notícia popular da sereia, como também não se conhecia a Mãe-d’água, na sua forma atual. Houve um curioso sincretismo, de

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três caminhos conver­gentes. De um lado, os mitos aquáticos indígenas: Boiuna, Cobra-Grande, Iara, e, precedendo a todos, o terrível Ipupiara, comedor de gente. Por outro lado, o branco invasor tinha uma longa tradição de deusas marinhas, as sereias, que frequentavam todos os rios e mares da Europa, desde as deusas eslavas até, por exemplo, Lorelei, duende feminino do Reno. E, por último, entraram as deusas das águas africa­nas, Iemanjá, Janaína, que formaram sincretismo com os santos católi­cos, principalmente Nossa Senhora. Iemanjá, protetora dos pescadores e dos viajantes, é apresen­ tada como a imagem de uma senhora, toda de branco e azul, com um véu que semelha água caindo. Aos pés da deusa, que tem as mãos estendidas e abertas, como que oferecendo proteção, sempre há um pequeno lago, com água de mina ou do mar, trocada de sete em sete dias.

Mãe-d’água é um mito hidrolático dos iorubanos. Frequenta as águas profundas do mar. Entretanto, é encontrável também nas margens amáveis dos rios. Responde por vários nomes: Janaína, Princesa de Aiocá, Princesa de Arocá, Oloxum, Sereia Mucunã, Inaê, Marbô; é Dan­dalunda entre os bantos, mãe Dandá dos candomblés baianos, e, como Anamburucu, é maligna, à maneira das deusas primitivas. Como já dissemos, é chamada ainda Quianda, em Angola, em Luanda. Foi estudada por Nina Rodrigues, no livro As Religiões no Rio. J. Silva Campos (O Folklore no Brasil — edição comentada por Basílio Magalhães) relata um desses contos de marido da Mãe-d’água.

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