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Crônicas do Coração
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Pedro Pimenta
Crônicas do Coração
São Paulo - 1ª Edição – 2013
Ficha Catalográfica Catalogação padrão AACR - Anglo-American Cataloguing
Pimenta, Pedro. Crônicas do Coração / Pedro Pimenta. - São Paulo: Farol do Forte, 2013.
ISBN 978-85-61679-088
1. Crônicas Cristãs. 2. Crônica Brasileira—Vida Urbana. 3. Gêneros Textuais. I. Título. CDD: 869.8
Ficha catalográfica elaborada por Iluska de Lima Martins
Os versículos bíblicos utilizados em “Crônicas do Coração” foram da NVI e seu uso autorizado pela Bíblica Brasil - Rua Albuquerque Souza Muniz, 283 Vila Alexandria – São Paulo/SP / www.biblicabrasil.org.br
Imagens da capa: Michael Lorenzo, Patrick Hajzler (Stock Xchng) Projeto Gráfico / Capa: Rodolfo Nakamura
Dedicat贸ria
Dedico esta obra ao Senhor da minha vida que me libertou do cativeiro, dandome uma nova vida. A Ele toda honra e toda gl贸ria... sempre!
Agradecimentos
Agradeço a Deus pelo Dom da vida, a minha família , em especial meus amados filhos Camila e Lucas, a Miriam Cristiano - minha querida esposa – pela atualização desta obra . Ao Luís Antônio pela revisão e prefácio, ao Rodolfo Nakamura pelas sugestões e edição deste livro, aos meus amigos, e a todos que de alguma forma me ensinam a ser melhor.
Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.. Mateus 11:27
Sobre o Autor Pedro Pimenta é jornalista com especialização em Comunicação Empresarial e Institucional, editor de conteúdo para sites, revistas, jornais e rede sociais, palestrante motivacional e professor universitário. Seu primeiro livro “ELE, vocês e eu” abriu a trilogia que segue agora com Crônicas do Coração e terminará com Cenários da Alma que tem edição prevista para 2014.
Prefácio Crônicas do Coração Aqueles que vivem nos grandes centros urbanos sabem, perfeitamente, que o dia-a-dia não é fácil: trânsito, transporte coletivo ruim, violência, corre-corre, e um reduzido tempo de lazer. Ainda que corra o risco de cair no lugar comum, não posso dizer que o cotidiano das grandes cidades nos consome, no entanto, como acontece na natureza, nenhum dia é igual ao outro. Quem vive a agitação da Grande São Paulo tem sempre o que contar, pois, desde que saímos de casa pela manhã, até o final do dia, os fatos se avolumam. Dificilmente, ao chegar a casa, não terá alguma novidade a contar. Ao ler as crônicas do jornalista Pedro Pimenta, sentimos como se estivéssemos à roda da mesa de refeição, depois de um intenso dia de atividades. O Autor nos conta fatos que, à primeira vista, presenciamos e, quem sabe, deles até participamos. São acontecimentos rotineiros de um grande centro, permeados de reflexões, ora intelectuais, ora espirituais, ora emocionais. É por isso que não posso deixar de chamá-las de Crônicas do Coração, pois, é daí que elas fluem, leves e macias, e saem para a dureza do asfalto e da fumaça de nossas ruas. Pedro Pimenta nos brinda com mais uma obra sobre o nosso cotidiano. Ainda que sejam textos pessoais, referem-se à vida do leitor. Pimenta capta, no seu ir e vir, as impressões da vida moderna, desde o voar despreocupado de um pássaro até o drama existencial de um morador de rua. O que presenciamos em nosso andar diário não é diferente. Talvez, aquele mendigo não seja o mesmo; quem sabe, a idosa sábia não seja aquela que você tenha encontrado ontem; provavelmente, o rapaz que o tenha surpreendido com aquela conversa tão madura, que o
levou a refletir sobre sua vida e, talvez, até tomar algumas sérias decisões, não seja o mesmo da crônica. Sem dúvida, as pessoas, os pensamentos, as reflexões, as análises simples do cotidiano, tudo isso está presente na vida das pessoas calejadas que saem de madrugada para o trabalho e voltam tarde da noite, mal tendo tempo de desfrutarem o aconchego e o refrigério do lar. Mesmo vivendo essa agitada vida, motivo você a ler este livro, pois são crônicas que brotam do fundo do coração e que expressam a visão do autor a respeito daquilo que acontece à nossa volta e que, muitas vezes, passa despercebido. Em suas crônicas, o autor não segue tendências, teorias, filosofias; não faz proselitismo de nenhuma religião, contudo, recomenda conhecer aquele que é o único capaz de dar o alento aos que sofrem, aos que estão desesperados, aos que estão quase desistindo. Trata-se de Jesus Cristo, aquele que disse: EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA, NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM. Se, neste momento, está triste, este livro é para você; se, agora, encontra-se em dificuldades por causa dos tormentos que a vida traz, este livro é para você; se, nos últimos tempos, tudo o que acontece lhe traz abatimento, este livro é para você; se, no momento, procede a uma reflexão e a uma avaliação de sua vida, não tenho dúvida alguma, este livro foi escrito para você. Se, neste momento, procura uma leitura que motive, mas não a motivação gratuita e, por vezes, vazia dos livros de auto-ajuda, este livro é recomendável para você. Que as crônicas, aqui relatadas, alcance seu coração, esteja ele como estiver. Boa leitura! Luiz Antônio da Silva
Índice Prefácio....................................................................................................11 Índice .......................................................................................................13 1. Fim? Não, apenas o começo!...............................................................15 2. Dias melhores ......................................................................................17 3. Chega a hora que a hora chega ............................................................19 4. Sua vida pode recomeçar de uma queda..............................................22 5. Dê uma nova vida à sua vida velha .....................................................25 6. A hora é agora .....................................................................................27 7. Não deixe as coisas como estão...........................................................30 8. Então, estas linhas são para você.........................................................32 9. Hoje ainda dá tempo de ser feliz .........................................................34 10. Jogue as sementes..............................................................................36 11. Ouse! .................................................................................................38 12. As quatro estações .............................................................................40 13. Dê o seu passado de presente para o futuro.......................................43 14. A jovem, o motoboy e a dona de casa ...............................................45 15. Sonhos e lutas....................................................................................48 16. Nenhuma batalha é perdida ...............................................................51 17. Nada como um dia depois do outro...................................................54 18. Não desista, insista!...........................................................................56 19. Uma nova aurora ...............................................................................59 20. A mulher da mensagem .....................................................................62 21. Você pode mudar! .............................................................................65 22. O tempo de crescer. ...........................................................................68 23. Não somos donos de nada .................................................................71 24. O orgulho e a humildade. ..................................................................74 25. A independência da dependência ......................................................77 26. Não seja refém de seu medo..............................................................79 27. Erra uma vez......................................................................................82 28. O reencontro ......................................................................................85 29. Pai... vem me buscar..........................................................................88
30. As três irmãs ..................................................................................... 91 31. (re) Construir uma nova vida – 2ª parte............................................ 94 32. A árvore e o edifício ......................................................................... 97 33. No hospital de Deus........................................................................ 100 34. O trem para a eternidade................................................................. 103 35. E a coragem chorou ........................................................................ 106 36. Os dois senhores ............................................................................. 109 37. Saudade das saudades ..................................................................... 112 38. Hoje acordei pensando nas voltas que o mundo dá ........................ 114 39. A moça do brigadeiro ..................................................................... 117 40. Não pare! ........................................................................................ 120 41. Meu nome é Vanderson, e o seu? ................................................... 123 42. A casa amarela................................................................................ 126 43. Undulatus asperatus ........................................................................ 129 46. Vamos para casa – parte 1 de 3....................................................... 137 47. A pequena notável .......................................................................... 140 48. O segundo tempo ............................................................................ 143 49. Sua dor passará ............................................................................... 146 50. (re) Construir uma nova vida .......................................................... 149 51. É no futuro que você passará o resto de sua vida ........................... 152 52. Dar linha na pipa............................................................................. 155 53. Profundo é o poço que ficou para trás ............................................ 158 54. A história que Deus escreveu para mim ......................................... 161 55. Maria de Jesus................................................................................. 164 56. O retrovisor..................................................................................... 167 57. Os cegos da Santa Cecília............................................................... 170 58. Os Caminhos................................................................................... 173 59. Bolhas de sabão .............................................................................. 176 60. Os pássaros, o homem e a liberdade ............................................... 179 61. O poste e a árvore ........................................................................... 182 62. O semáforo...................................................................................... 185 63. Além dos limites ............................................................................. 187
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1. Fim? Não, apenas o começo! “Você estará confiante, graças à esperança que haverá; olhará ao redor, e repousará em segurança.” Jó 11:18
O filme chegava a seu momento apocalíptico. Uma gigantesca onda vinha numa velocidade aterradora em direção à terra. Na praia, a filha havia se juntado ao pai depois de anos de afastamento e mágoas. Abraçou-o quando viu a morte chegando. “Pai, é o nosso fim”, disse abaixando a cabeça. O homem velho tocou, então, os cabelos da filha com uma das mãos, enquanto a outra levantava, delicadamente, o queixo dela na direção de seus olhos. Com lágrimas descendo pelo rosto, arrependido pela distância e erros disse: Fim? Não, apenas o começo! Esse é o pensamento que me chega às últimas linhas que escrevo neste ano àqueles que me deram a alegria de dezenas de emails-respostas que me enviaram. Ao longo de 2010, foram 65 mensagens que falaram, primeiro, ao meu coração e, depois ao de vocês. Fico lisonjeado e feliz por tantos testemunhos e incentivo que recebi por compartilhar um pouco do que penso. Pediram para eu fazer um livro e fiz, pediram para eu fazer um blog e, bem, ainda não fiz, mas dentre as tantas coisas que fiz e não fiz neste ano, sei que uma não deixei de fazer: orar por vocês.
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Muitos me disseram que estavam no fim e graças a Deus foi possível reverter o pensamento por graça e misericórdia do Senhor em nossa vida. Parabéns a todos que superaram as dificuldades e já se preparam para encarar os desafios de 2011 e aqueles que ainda não conseguiram, saibam, estamos juntos! Eu também tenho os meus problemas e por isso vou ficando por aqui dizendo que volto em fevereiro se Deus assim me permitir, já que saio de férias e descansarei um pouco das 1001 atividades. Mas, antes, quero dizer que concordo com o pensamento daquele pai do começo do texto, em que o fim não é de fato fim, mas, sempre o recomeço para uma nova vida. Veja o que não foi possível realizar até aqui e prepare-se para fazer no ano que vem. Mude, crie, renove, faça, aja e deixe que Deus sempre lhe dê um novo recomeço nas quedas. Saiba que Jesus estará sempre de braços abertos para abraçar seu coração, sua vida e seus sonhos. Acredite que o Espírito Santo lhe capacitará em cada ação, atitude ou desejo positivo porque isso foi ordenado pelo Senhor. Para mim, mesmo com o final do ano próximo e as férias, ainda tenho um desafio pessoal para superar: escalar a maior montanha de São Paulo e a quarta do Brasil. Serão três dias a quase três mil metros de altura e bem mais próximo, pelo menos fisicamente, do Senhor Jesus. Lá, no cume daquela montanha, a sensação será que quase poderei tocar Seus pés. Sei que, nesta jornada desde a minha conversão, Ele tem sido aquele Paizão que não me abandona ou me faz chorar, pelo contrário, me abraça e me faz sentir seguro. Isso também pode acontecer com você, caso queira.
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2. Dias melhores “Não diga: "Por que os dias do passado foram melhores que os de hoje?" Pois não é sábio fazer esse tipo de pergunta.” Eclesiaste 7:10
Apesar do sorriso, meu amigo está doente. Não fisicamente, muito menos aparentemente. Sua dor está na alma. Seu espírito agoniza, chora. Agora, ele vive mais um capítulo da vida, o capítulo do choro. Às vezes, em nossos encontros não falo nada, apenas escuto. Meu ombro serve, apenas, de amparo para o vazio de sua mente e o que sente, torna-se meu também. Dividimos um momento único. Ele sabe o que tem de fazer. Porém, o difícil é sair de onde está para fazer o que sabe ter de fazer. É uma grande luta. Há tempos, é minha também. Seria muito bom se ele, eu e você que lê estas linhas, vivêssemos de forma mais simples e soubéssemos que os esforços são inerentes ao processo da conquista. Que as dificuldades do hoje não passarão de lembranças amanhã. E que também não deveríamos ser os juízes do tempo e, sim, facilitadores do tempo em nossa vida. Tenho aprendido, a ferro e fogo, que é preciso olhar, ouvir, sonhar mais. Procurar os sonhos que nascem em mim e que morrerão em mim se não me colocar em luta e a realizá-los. Que
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preciso substituir palavras por ação. Que meu choro não cai em vão, que, em vão, são apenas minhas dúvidas. Concluo que meu coração deve estar cheio de esperança. E que os problemas aparecem e desaparecem como nuvens, sentimentos, pessoas... Vejo que é preciso ter grandeza de espírito e a humildade diante das dificuldades. Não se curvar diante delas, mas diante daquele que é único, princípio e príncipe da paz, aquele que me chama pelo nome: Jesus Cristo. Ele me ensina a criar raízes profundas, viver em paz e depender apenas dEle. Mostra-me que é preciso perder tudo aquilo, que achava ser tudo, para que eu tenha tudo, onde não há nada. Que me orienta em não pedir a Deus que me afaste dos problemas, dos sofrimentos, mas aprender com eles. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que não serve para nada, que rouba nosso tempo e tira nossa paz, não seremos felizes. Precisamos ser como o bambu, por exemplo, que só cresce para o alto. Ele busca as coisas do Alto e resiste as tempestades muito mais que árvores grandes. Devemos olhar para o alto, para Cristo. Por isso digo: não escute mais sua dor, meu amigo. Mas a voz suave do Criador. E se quiser saber onde Ele está, é onde está Jesus, é lá que Ele está. Vá ao encontro dele. Saiba que o sol voltará amanhã e nunca deixe que lhe digam que não vale a pena, que seus planos nunca darão certo ou ainda, que nunca será alguém. Em Jesus, vale a pena; seus planos dão certo e você sempre será alguém. Em Cristo, será vencedor, parte da resposta e não das perguntas, verá o possível no impossível. Saiba que não é a força ou o seu medo, a preguiça, o erro ou a covardia, mas a constância dos bons sentimentos e a fé em dias melhores com Cristo que lhe conduzirá a felicidade. Seja feliz!
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3. Chega a hora que a hora chega “O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” 1 João 2:17
Existem pessoas que passam por nossa vida e deixam marcas, aprendizados, sorrisos inesquecíveis, abraços calorosos, saudades. Muitas. Às vezes, quase insuportáveis. Mesmo que saibamos que vivemos para morrer, a morte, assim como a perda, nunca são bem vindas. É um ir e vir de receios de quando será nossa vez de ir ou ficar. Essas são perguntas que nunca se calam. Sufocam. Perturbam. Ficam à espreita esperando o momento para nos devorar. Assim, nesse quadro, tenho visitado pessoas que perderam entes queridos, inesquecíveis, e a dor de todos é sempre igual, mas, em alguns casos, como o da morte, sabem que a separação é breve. Quase uma ausência temporária daqueles sorrisos e abraços. O outro caso, como separações, é outra história. Fiquemos, hoje, com a primeira situação. Com algumas pessoas que passam pela nossa vida, ainda vivas ou não, aprendemos também a amar, desejar, esperar e, quando partem, vivas ou não, não nos ensinam a esquecer (como se isso fosse possível) fazendo com que sejamos réus de nossos
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próprios desejos. Se morrer é difícil, imagine viver com ausentes presentes. Porém, chega a hora em que a hora chega e cabe a você decidir onde quer passar sua eternidade, pois não há volta. Aquelas pessoas que sabem que seus entes queridos fizeram, em vida, a opção por Jesus Cristo, choram pela perda, mas não da morte em si, porque sabem que, em breve, se reencontrarão. Saiba que Deus tudo vê e, absolutamente, nada escapa de Seus olhos. Tudo tem o seu tempo e o próprio tempo se encarrega de colocar tudo em seu devido lugar. Se hoje você sente vontade de chorar e se isolar pela perda, acredite, existe um Deus que luta por você, que sabe de sua dor, mesmo quando outros ao seu redor sequer imaginam. Seja dor de perda, de separação ou qualquer outra, Ele é justo e sabe tudo sobre você, e neste momento quer que pense onde estará amanhã, caso a morte te visitar. E os que você ama? Caso já esteja em Cristo, você tem falado do amor do filho de Deus por eles e do plano de salvação para eles? Agora, caso você não esteja na situação descrita acima, saiba que nossa suposta eternidade terrestre vive apenas no momento em que sentimos saudade dela, e saudade é bem parecida com a fome. Só passa quando se come a presença do presente, mas às vezes, é tão profunda que o presente sufoca o passado e se esquece do futuro. Meu desejo é que, antes de sua hora, mesmo quando nada mais restar, quando seu sol perder a luz, sua solidão esteja acompanhada de amargura ou quando o amor tiver ido embora, você clame por Jesus. Nessa hora, Ele estará a postos esperando para aliviar seu fardo, sua dor. Ele estará pronto para dissipar as trevas de seu coração e dizer que o melhor ainda virá, em todos os sentidos, tanto nesta vida quanto na eternidade. Saiba, você, que o maior dos sofrimentos é nunca ter, de fato,
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sofrido. Que andar com fé é saber e acreditar que, cada dia, é um recomeço, uma vida nova numa nova vida. Viver na fé é usar a força e a coragem que Cristo dá quando tudo parece acabado. Não deixe o medo ser sua prisão. Acredite: a esperança liberta. Não olhe para a situação de perda como perda, a esperança de dias melhores está à sua disposição, basta abrir seu coração para Jesus e tudo mais Ele o fará. Se você quer ser feliz, viva essa certeza agora, mesmo com perda ou ausências. Acredite que a esperança é o sentimento que trará sucesso ainda hoje naquilo que você fracassou.
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4. Sua vida pode recomeçar de uma queda “Pois o Senhor será a sua segurança e o impedirá de cair em armadilha.” Provérbios 3:26
Deus não trabalha na ansiedade das pessoas. Para Ele, tudo acontece na hora certa. Porém, as dificuldades aparecem quando menos esperamos e, muitas vezes, quando estamos despreparados para superá-las. Quando as ignoramos ou fugimos, elas se tornam maiores e com consequências ainda mais drásticas. Se o tempo não pára, os problemas usam esta certeza sempre a favor deles. Pobres de nós! Certa vez, um homem saiu em uma viagem de avião e, quando sobrevoava o mar, um dos motores falhou e o piloto teve que fazer um pouso forçado no oceano. Todos morreram menos o homem que ficou boiando até que chegou a uma ilha não habitada. Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por este livramento. Lá, se alimentou de peixes e cocos e aprendeu fazer fogo com pedras. Conseguiu também derrubar algumas árvores e construir um pequeno casebre para não dormir ao relento. Para o náufrago, aquilo significava proteção. Num
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certo dia, porém, quando voltava de uma pesca abundante, encontrou seu lar em cinzas. Um incêndio acabara com tudo que fizera e juntara naqueles anos na ilha. "Deus, como é que o Senhor pôde deixar isto acontecer comigo quando sabe que preciso de abrigo?" Disse chorando até que adormeceu. Acordou no outro dia com o toque da sirene de um imenso navio que havia avistado a fumaça. O homem foi, então, resgatado e o feito virou história. Como aconteceu com ele, sempre existe um momento de recomeço em nossa vida. Para escolher o que queremos fazer amar ou odiar, viver ou morrer. Saiba que sua vida pode recomeçar de uma queda! Igual à daquele homem que, numa ilha, se encontrou. Assim como aconteceu com ele, ninguém pode libertar você de você, mas alguém pode mostrar o que fazer. Nesse momento, pessoas querem tirar você de uma ilha deserta, mas seu medo tem sido obstáculo. Acredite, não é só a vida que nos separa da morte. Tristeza e desilusão, medo e depressão nos fazem mortos vivos. Mesmo que seu coração esteja agonizando agora, nada pode impedir você de recomeçar, de sonhar, somente você pode atrasar isso. Nem o desespero, nem a descrença, ou trevas e tempestades podem. Nada pode fazer você descrer em Deus. Apenas com Ele você aprenderá grandes lições. Verá que o crescimento é um processo de ensaio e erros. Que aprender lições é uma tarefa sem fim nesta vida, até que venha a outra dada por Cristo, caso aceite-O como Salvador de sua vida. Para isso você só precisa olhar, ouvir e confiar que Jesus pode fazer com que enxerguem sua pequena fumaça e mandem um navio socorrer sua vida.
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Saiba também que o maior risco da vida é não fazer absolutamente nada enquanto ela passa diante de seus olhos. Pele, cabelo, rosto podem até mudar, mas sua convicção não. Ela não tem idade. Veja uma linha de partida antes da linha de chegada, veja o desafio antes da conquista. Se não tem forças para correr, caminhe, mas não pare. Outros te ajudarão.
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5. Dê uma nova vida à sua vida velha “Mas, sejam fortes e não desanimem, pois o trabalho de vocês será recompensado". 2 Crônicas 15:7
Um grande mal que sempre afligiu a humanidade chama-se depressão. Ela está nas pessoas, não importando idade ou classe social e pode, inclusive, atingir cristãos. Quando converso com pessoas acometidas por esse mal, percebo, de cara, sintomas como medo, desejo de fuga, baixa estima e, principalmente, desinteresse pela vida. Minha maior referência quando falo isolamento em depressão é Jesus, pois Ele a venceu como ninguém e, se precisamos olhar para alguém para nos inspirarmos, Ele é a pessoa. Penso que você pode estar, agora, no meio de um grande furacão e diga para mim que é fácil falar se não passei por isso, mas saiba: já estive, muitas vezes, assim. Porém sobrevivi porque Cristo sempre segurou minha mão e é essa certeza que você deve ter também. Independente da ventania a seu redor, é possível continuar avançando. Comece fazendo o que é necessário: levante-se! O próximo passo é andar, para frente, para o alvo, Jesus. Ele é que fará o impossível em sua vida já que a alegria de uma nova
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vida está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não necessariamente na vitória propriamente dita. Creio que, sabendo sofrer, sofre-se menos. Se a sua vida parou no passado, traga-a para o presente em Cristo e sua felicidade estará segura no fim da jornada. Todos os dias, Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo, um momento em que um sim ou um não pode alterar toda a nossa existência. É nesse momento que aprender é sempre continuar. Saber começar a cada instante e jamais cair na rotina. Nesse sentido, a preocupação pode até levar à ação, mas não à depressão. Pessoas ilhadas dentro de si, que cortam a comunicação com os outros e se tornam inacessíveis, vivem infelizes. É preciso ter a certeza de que, no meio de toda dificuldade, sempre existe uma oportunidade e que tudo passa, seja dor ou alegria, mas Deus fica. Eternamente. Certa vez, o profeta Elias venceu os falsos profetas no Monte Carmelo e mesmo diante de tremenda vitória, quando soube que a rainha Jezabel, esposa do Rei Acabe queria matá-lo, fugiu desesperado até parar no deserto. O Senhor veio a Elias e perguntou “Que fazes aqui, Elias?” Deus não ficou aborrecido com a atitude dele, mas desafiou-o diretamente, ajudando-o a superar seu desânimo, e reassumir sua vida. Saiba você, então, que Deus cuida dos fracos e decaídos, e que trabalha para encorajá-los e restaurá-los. Talvez você esteja se sentindo assim e ninguém saiba, portanto, abra seu coração a alguém que pode contar. Saiba que Deus não despreza você e Jesus importa-se tanto com sua vida que está pronto para lhe dar uma vida nova, e vida com abundância. Não perca tempo e dê uma nova vida à sua vida velha. E viva, muito...
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6. A hora é agora "... Deus mesmo disse: "Nunca o deixarei, nunca o abandonarei." Hebreus 13:5
Conheci uma pessoa que todos chamavam de “depois eu faço”. Tudo que se relacionava a ele era sempre para amanhã. Amigos sempre diziam a ele para mudar de atitude e ser mais ativo. A resposta era sempre a mesma, depois eu faço, pois terei mais tempo. E realmente ele teve tempo de ver os pais morrerem, assim como outros parentes. Viu a idade chegar para ele e as antigas pretendentes se casarem. Brincou muito com filhos de outros que poderiam ter sido dele. Perdeu boas oportunidades de trabalho e na vida por negligenciar o tempo que foi dado a ele. Enfim, adormeceu e muito mais perdeu. Igual a ele, muitos estão com o mesmo discurso do depois eu faço. E Deus hoje lhe diz: amanhã pode ser muito tarde. Tarde para dizer que ama, que perdoa, para pedir desculpas e recomeçar. Amanhã, seu amor pode ser inútil, seu perdão desnecessário e sua volta não ser esperada, assim como seu abraço que pode já não encontrar aquele abraço. Seja como for, Deus também lhe diz hoje que a hora é agora e que você acaba de ganhar mais um dia de presente para viver.
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Refazer! A partir de agora, você tem a chance de viver uma nova vida, só basta entender que Ele te amou tanto que entregou Seu filho Jesus para morrer por você, por mim, por todos nós. Enquanto ainda está no seu silêncio, sua vida se revela em seus pensamentos e vêm a eles, suas culpas, medos, traumas. É o Espírito Santo de Deus falando com você. Pare então por alguns instantes e reflita. Você não pode viver várias vidas e nem muitas ao mesmo tempo. Você só tem essa que está à sua disposição. Agarre-a, então, e não se lamente pelo passado. Aprenda com ele. Enquanto lamentamos que a vida é curta, na verdade agimos como se tivéssemos um estoque inesgotável de tempo. Esperamos demais para dizer palavras de perdão que nos livrariam de uma vida sem sentido. E Deus também está esperando... esperando pararmos de esperar e começarmos a fazer agora tudo aquilo para o qual este dia e esta vida nos foram dados. Não importa o que é o mundo e nem o que faz com você. Não importa o que você é, mas o que você quer ser e para onde quer ir. O passado? Guarde na sua lembrança. Vença em Cristo porque apenas ele é a resposta. E sendo vencedor nEle, entenderá que, sem Deus, não poderá encontrar o melhor para a sua Vida. Tenha a convicção de que Deus está no controle de tudo e que o impossível para você, para Ele, é possível. Com o tempo, verá que feridas cicatrizam e dores desaparecem. O agora está nos minutos que está vivendo justamente agora sem saber se terá outro. Esses são os minutos mais importantes de sua vida onde quer que esteja. Preste atenção: se o ontem já lhe fugiu e o amanhã ainda não chegou, o momento presente é tudo que
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tem. E mesmo afirmando, categoricamente, que não tem mais respostas para seus problemas, mais uma vez Deus lhe diz: - Eu tenho, confie em mim!
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7. Não deixe as coisas como estão “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2
Vou anular meu voto nessas eleições. Ele não muda mesmo, por que, então, ficar dando murros em ponta de faca? Nasci assim e vou morrer assim. Estou cansado de chorar e não quero fazer mais nada. Ah, mudar para quê? Está bom assim. Essas são frases que tenho ouvido e vejo decepção com a vida que muitas pessoas têm vivido. E isso é triste! Muitas delas, mesmo cristãs, apegam-se a histórias, dores, medos, fugas, insatisfação com outras e deixam de mudar. Se levarmos em conta que o valor das coisas é relativo e não está no tempo em que duram, mas sim na intensidade com que acontecem, é preciso mudar o pensamento. Ser diferente e acreditar que o melhor posicionamento é aquele no qual o amor e o perdão caminham juntos é fundamental nesse processo. Podemos até escolher o que semear, mas, sem dúvida, colheremos aquilo que plantarmos. Assim, penso que nossas dúvidas nos traem e fazem perder o que nem em sonho ganharíamos. Tiram algo que
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amamos, deixando o vazio, a alma faminta, os pensamentos vagos, e olhos procurando o fim do mundo no horizonte do inconformismo. Quando Paulo escreveu aos Romanos, essas situações, entre outras, pedia que fossem mudadas para que as pessoas pudessem crescer. Elas não deveriam sentir-se menores do que seus problemas, justamente porque quem acreditasse nas palavras de Jesus Cristo deveria ser diferente e enfrentar tudo serenamente. E é isso que reforço aqui. Não existe ninguém igual a você no mundo, e por mais que queira, não está só. Para Cristo, você é indispensável. Saiba que, enfrentando as dificuldades, torna-se forte. Na superação de seus limites, cresce e, resolvendo seus problemas, amadurece. Fica no ponto para ser usado por Deus e abençoar vidas. Acredite que, ao ser fechada uma porta, outra é aberta. Creia que a paz que procura está no silêncio que não faz, por isso, aquiete-se! Você verá que a diferença entre o possível e o impossível está em Cristo e que, para sair do conformismo, precisa estender a mão para Jesus. Ele construirá sua felicidade passo a passo. Sabe, às vezes, construímos castelos de sonhos baseados em pessoas e, quando o tempo passa, descobrimos que grandes eram os sonhos de Deus para nós e que as pessoas eram limitadas demais para torná-los reais! Olha só, não tenha medo do sofrimento, abrace-o. Enfrente os problemas, mesmo não tendo forças e caminhe rumo ao desconhecido, ao futuro. Tome atitudes e saiba que, mesmo que você ache que seja menos do que nada e que nunca tenha tudo, uma coisa eu te digo: Jesus tem todos os sonhos do mundo, para você escolher pelo menos um. Não deixe as coisas como estão. Viva!
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8. Então, estas linhas são para você “Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio”. 2 Timóteo 1:7
Se neste momento você está triste, então, estas linhas são para você. Se passa por grandes dificuldades e tudo parece não ter fim, então estas linhas são para você. Há dentro de seu coração algo que te atrapalha, prende, sufoca... então estas linhas são para você. Eu não tenho filosofias, muito menos verdades. Não tenho fórmulas mágicas, nem segredos, mas algumas linhas eu tenho, e elas, elas são para você. Saiba que a renovação de sua alma está perto, porque Deus, em Sua infinita sabedoria, capacitou a natureza de mudar a cada estação, e a nós, a capacidade de recomeçar em cada uma delas. Nesta semana, chega mais uma primavera e com ela sua renovação, seu tempo de aprender e ensinar, vivenciar, sorrir... agradecer! Você pode (ou não) olhar a vida como presente de Deus. Ser grato, forte, ser rima e verso. Pode, inclusive, ver Deus no seu universo, agindo, fazendo, suprindo, acontecendo. Não chore pelo que acabou, mas sorria pelo que aconteceu. Às vezes, queremos tanto a perfeição porque sabemos que não a podemos ter. O perfeito não é humano porque nós somos imperfeitos.
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Perfeito é só Jesus. O próprio viver é morrer, porque não temos um dia sequer a mais que, não tenhamos nisso, um dia a menos para viver. Certa ocasião, Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Quando chegou à porta da cidade, viu que levavam um defunto, filho único de mãe já viúva. Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão e pediu a ela que não chorasse. Aproximou-se do caixão e disse: Jovem, eu te ordeno, levanta-te! E o que estava morto sentou-se e começou a falar. Jesus sabe que, hoje, você também chora e que está de braços com a tristeza porque pensa estar só como a viúva. Digo-lhe, Jesus não quer que viva na amargura. Ele quer ajudá-lo a não se entregar às lágrimas. Lembre-se de que a coragem é a primeira das qualidades humanas porque ela é que garante todas as outras e por isso Ele diz para que você se levante de seu caixão espiritual e ande. Diz para seguir adiante porque estará com você todos os dias até o fim do começo de sua nova vida no céu. Basta acreditar. Fique firme!
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9. Hoje ainda dá tempo de ser feliz “Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração.” Salmos 37:4
Conheço muitas pessoas que estão presas em seus passados e não vivem um presente como deveriam viver. Futuro é, para elas, apenas nuvem escura. Também já estive assim, mas aprendi que lembrar o meu passado sem ter a perspectiva de aprender com as experiências boas ou ruins é loucura, é olhar para o vazio e atirar-se em desfiladeiros intermináveis de solidão e tristeza. É, literalmente, destruir a força de vontade e o pior: desperdiçar o tempo presente na ausência do tempo perdido. Incapazes que somos de lidar com nossas histórias, sempre nos ocupamos do passado, chorando pelas nossas ruínas de castelos construídos em areia. Se já foi possível ter a felicidade em mãos um dia, então, creio que ser feliz, agora, também é. E se a felicidade é presente no (e do) futuro, por que não trazê-la para sua vida agora? Se você ainda não tem certeza de qual caminho seguir, apresento-lhe um: Jesus Cristo. Com Ele, seus problemas e obstáculos podem ser ultrapassados. Mas se você já está em Cristo, alegre-se, Ele ouviu seu choro. Ele não deixa que nada afete sua felicidade, mas pede para que se envolva com pessoas, com o tempo, com a natureza, com o
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cantar dos pássaros, com o amanhecer de um novo dia, com a beleza dos sorrisos. Pede para que comece a sorrir mais cedo, lá naquela hora que se deita para dormir. Não deixe as emoções tomarem sua mente de assalto, mas tire das pequenas coisas grande coisas. De (re) pensar valores, sobre sua vida... essa e a próxima. É, essa mesmo onde passará a eternidade. Mude para melhor e pense no melhor. Espere pelo melhor também. Transforme seus momentos difíceis em oportunidades e veja sempre o lado positivo das coisas para que assim você torne seu otimismo, frente a obstáculos, realidade, pois a vida é decisão a todo momento. É plantar, é colher, é amar, abraçar, fugir do abraço. É estar em tudo, e às vezes, em nada, só! É atitude de constante mudança, escolhas, cultivo. Ser feliz é ter a alegria de recolher da vida o que somos e não somos porque nela sempre é tempo de lançar sementes... Não desanime de você e não perca você para você. Vamos lá, você é mais do que isso. Brilhe, pois a vida não terminou e hoje ainda dá tempo de ser feliz.
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10. Jogue as sementes “Plante de manhã a sua semente, e mesmo ao entardecer não deixe as suas mãos ficarem à toa, pois você não sabe o que acontecerá, se esta ou aquela produzirá, ou se as duas serão igualmente boas.” Eclesiastes 11:6
Eu estava um tanto abatido quando, certa vez, me contaram a história de uma senhora que, envelhecida pela ação do tempo, tinha semblante carregado pelas marcas da idade, mas um sorriso de criança. O corpo, já debilitado, também era notado pelas pessoas que a conheciam e, em particular, pelos passageiros de um ônibus no qual entrava todos os dias. Muito mais que os sinais físicos aparentes, o que mais chamava a atenção era o fato dela jogar sementes de flores pelo vidro do coletivo na estrada de areia seca e pedras. Certo dia, um rapaz em plena juventude, questionou o porquê daquilo. “Senhora, venho observando seu costume de comprar sementes e espalhar por todo o trajeto e não consigo entender o que a leva a jogar seu dinheiro fora já que muitas vezes, não o tem nem para fazer um lanche?” “Meu rapaz,” respondeu a senhora, “nem tudo na vida tem explicação ou resultado imediato. Tudo é feio quando queremos que continue feio, mas podemos tornar mais
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alegre e bonito aquilo em que acreditamos e por onde passamos.” Essa foi a última vez que se viram. Alguns meses depois e sentindo a falta da senhora, o rapaz perguntou ao motorista sobre a simpática velhinha e soube que ela havia falecido. Sentado na poltrona, começou a pensar na vida, no que fez e deixou de fazer, na família, nos sonhos, no amor de sua vida, no trabalho, nas pessoas e sua mente viajava tanto quanto aquele ônibus. De repente, notou uma estrada florida, como nunca havia percebido antes. Rosas, margaridas, hortênsias, jasmins e uma infinidade de flores adornavam o acostamento. Uma lágrima quente desceu de seu rosto e o coração, até então frio, aqueceu-se. Olhou para um céu azul e infinito. Sentiu Jesus. Sentiu paz. Então, enfim, entendeu o que a velha senhora havia tentado explicar para ele no dia que conversaram. Percebi também que nem tudo tem resultado imediato, mas nem por isso devemos nos abater, perder a fé ou não lutar pelo que acreditamos. Muitas vezes, o que fizermos não será visto por nós mesmos, mas o Senhor verá. Não podemos desistir de semear, pois, um dia, a semente germinará e alguém colherá o que de bom foi plantado. Vi que às vezes não consigo fazer tudo que quero, mas, no pouco que faço, vidas são mudadas. Há alguns anos, uma jovem semeou meu coração com uma semente chamada Jesus e minha vida mudou e, assim como aquele rapaz, repensei minha vida, atitudes e (in) verdades. Agora, diga para você mesmo: o que tem feito de sua vida? Jogue as sementes!
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11. Ouse! “Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor.” Salmo 27:14
Você tem medo de viver uma vida diferente da que vive hoje? Parece absurdo, não? Mas eu entendo porque assim estava até pouco tempo! São tantos os medos ou, às vezes, apenas um que nos confunde e nos tira uma oportunidade de uma vida melhor. Eles (ou ele) nos rasgam por dentro fazendo cortes profundos que dilaceram nossa alma. Passa o tempo, passam as pessoas, passa a vida. Tudo se vai porque estamos presos ao medo de ser diferente. E como nos enganamos fugindo, com receio de enfrentar, vamos indo, indo, indo... Penso que deveríamos temer menos, agir mais! Viver sonhos mesmo que os riscos estivessem bem à frente. Enfrentar mais os problemas, mesmo não tendo forças. Não temer lugares desconhecidos, tomar atitudes que ninguém tomaria. Precisávamos acovardar menos e encorajarmos mais. Deveríamos ter consciência de que a glória da vitória seria infinitamente melhor do que o fracasso do medo em nossa vida. Deveríamos construir mais, temer menos. Dias atrás, lembrei de projetos que ficaram para trás. Sonhos que não foram realizados. Vi o tempo deles no tempo que vivo hoje e
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fiquei triste. Porém, as lembranças não foram em vão, e nunca são quando tiramos o melhor delas. Deduzi que ser um empreendedor da vida não é esperar a felicidade vir, mas buscála, pois, na ousadia de reconhecer meus fracassos, percebi que sonhadores fazem apenas isto: sonhar. Quem tem medo de viver uma vida diferente não vive, sobrevive! Em Jesus, passei a acreditar em meu coração, em bondade, em pessoas. Passei a acreditar também que sofrimento pode ser uma boa lição para a vida e que viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como os encaramos é que faz a grande diferença. Certifiquei-me que ficar com o nada é como se estivesse com tudo. E concluí que nem tudo que se enfrenta pode ser mudado, porém, nada pode ser até que seja enfrentado, pois quem tem coragem para enfrentar perigos, medos e pessoas vence-os antes mesmo que eles o ameacem. Olha só, vida é para viver, subir. Descer só quando houver permissão de Deus e o desejo dEle em mudar algo em você, caso contrário, tal sentimento é negativo, destrutivo e não vem do Senhor. Por isso, ouse! Ouse em não viver modelos ou padrões ditados pelo mundo. Ouse acreditar em você e em uma história escrita por Cristo, não por suas mãos. Eu te desafio a não desistir e a ousar, viver, sentir, crescer, mudar, valorizar, ser, amar, fazer, acontecer, brilhar, chorar, se alegrar. Ouse conquistar a si mesmo. Quando você assim fizer, estará pronto para uma nova vida em Cristo.
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12. As quatro estações “Pois é mediante o Espírito que nós aguardamos pela fé a justiça, que é a nossa esperança.” Gálatas 5:5
Sou apaixonado pela natureza desde minha infância e tudo que se relaciona a ela me fascina. Um verdadeiro poder supremo, impensável até, a criou montando um mecanismo perfeito para que, em épocas distintas, cada detalhe gire essa perfeição. Nesse contexto, estão inseridas as quatro estações. Elas resultam da rotação da Terra que se inclina em relação ao plano orbital e assim, em determinado momento, uma parte do planeta está mais diretamente exposta, ou não, aos raios do Sol do que outra. Temos, então, verão, outono, inverno e primavera coexistindo pacificamente. Cada um no seu tempo e com sua peculiaridade. Quando trago esse exemplo para minha vida, meu relacionamento com Deus é assim: numa época estou mais perto, outras não. Queria que fosse diferente, mas não é. Sou falho, sou humano, sou um amontoado de certezas e incertezas que lutam, a todo instante, dentro de mim. Graças a Deus que Deus não é assim e por isso posso ter esperança que, independente do que
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faço, Ele me ama incondicionalmente. Tanto que enviou Jesus para me salvar. Isso me faz ter várias outras certezas e esperança naquilo que não vejo, mas sei que está lá, como uma vida eterna inteirinha para mim que me foi dada quando aceitei Jesus como meu salvador. Passei a ter esperança e deixei de lado tudo que me impedia de ser feliz. Saí de um extremo e fui a outro. Distancieime de vícios, manias, exigências e outras imperfeições e aproveito hoje minha energia, tempo e desejos com coisas que resultam em bens duráveis do qual ninguém pode me tirar. A esperança de dias melhores para mim está em sintonia com o que acontece em cada estação do ano e, mesmo às vezes estando triste, prossigo para o alvo que é Jesus. Creio que, se agir assim, também você andará com escoltas de anjos, do horizonte que avista e parece nunca ter fim, suas forças se renovarão, na paz da noite estrelada descansará sua mente num sono profundo e seguro. Quando a situação for de crise, seus esforços não terão sido em vão. Talvez, você esteja com as forças exauridas pela luta, mas não considere que perdeu. Levante-se e enfrente a vida outra vez. Tire proveito dos seus erros e faça de suas dores vitórias. Lembre-se: chegam-se à esperança somente os que fazem da verdade o pagamento de dívidas. Para encontrar a esperança, você deve ir além do desespero. Confiança é saber lidar com o pior e esperança é acreditar que o pior e o melhor são o que te fazem ser o que é e não o que tem, que faz com que seja o que é. É extremamente necessário que você deixe suas esperanças e não seus ferimentos ditarem seu caminho, seu futuro. Saiba que, enquanto lutar, sempre haverá esperança de vencer. Você duvida do que falo? Então, quando estiver diante de uma noite negra,
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tenebrosa e interminável, olhe como as estrelas brilham. Nas trevas, elas se fazem luzes. Grandes realizações não são feitas de uma hora para outra, mas por uma soma de pequenas realizações e um começo. O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos e na esperança que esses sonhos se tornem tão real quanto Jesus. A vitória pertence aos que perseveram e acreditam que, assim como nas quatro estações, Deus é perfeito, fiel e presente, sempre!
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13. Dê o seu passado de presente para o futuro “Não se gabe do dia de amanhã, pois você não sabe o que este ou aquele dia poderá trazer.” Provérbios 27:1
Você já viu aquelas tempestades que, muitas vezes, aparecem do nada e somem tão de repente como apareceram? Nossa vida é assim, passa tão rápida que, muitas vezes, nem percebemos e, quando o fazemos, bem, parece tarde demais... Quando a vida não vivida, fica esquecida, perdida no tempo. É como folha morta que apodrece em terra úmida ou palavras sem sentido levadas pelo vento. Vida vazia é solidão no peito, é dia interminável. E com certeza, isso é resultado de passado não resolvido. Em algum momento, foi falta de verdade, amor perdido, discussão e brigas sem sentido, transformando a presença da ausência constante, palpável, sensível e sujeita, eternamente, enquanto durar sua vida terrena à subjetividade dos fragmentos de sua própria vida. Mais eis o presente, que nos cobra, incomoda. Não dá chance, nem trégua e persiste, insiste em nos fazer tristes por erros passados. Não conseguimos escutar. Não é possível sentir o afeto alheio, o esforço dos amigos. Não queremos nada, além de
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ficar sozinhos, vazios, destituídos de desejos, moribundos. No presente, queremos a solidão, a saudade das doces lembranças. Mas o relógio não pára, marca e cobra o tempo presente dos que vivem no (e do) passado. Então, chega o futuro, que precisa ser gravado no fogo ardente e, em meio às dúvidas, fica na espera, no aguardo e no silêncio e na continuidade das mentiras que vem com muitos nomes. Não sei você, mas, às vezes, queria ser como as crianças que têm pouco passado, vivem o presente e aguardam o futuro numa inquietude constante. Mas como não sou mais criança, nem inconstante, não pergunto o que o futuro me reserva, mas recebo com alegria incondicional o presente de um novo dia. Conscientemente, vou escrevendo novas linhas de minha história. Vou delineando cada capítulo desse filme que chamo “minha vida”. Porém, os anos continuam correndo diante de meus olhos, deslizam como areia entre meus dedos, mas agora é diferente porque meu passado não manda mais em mim, apenas se faz presente num futuro que já ganhei em Cristo. Nesse tempo será possível vê-lo com olhos espirituais e lembrar-me das coisas boas que fiz. Acho que não fiz muito, mas uma decisão mudou meu passado e não mais me condena, pois em Cristo, fui liberto. Com Ele, tudo se transformou. O amor, a vida, as pessoas... eu. Outras coisas se foram, outras ficaram, outras virão. Mas a diferença é que estou vivo e sabe o melhor? Para sempre! Ontem, tive um passado; hoje, tenho um presente e, amanhã, em Jesus Cristo, terei um futuro, uma vida sem dor e uma esperança sem disfarces. Acredito que isso tudo possa acontecer com você também, basta querer. Tome a decisão e dê o seu passado de presente para o futuro.
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14. A jovem, o motoboy e a dona de casa Simão respondeu: "Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes". Lucas 5:5
A viagem estava no fim... quase, pelo menos em minha mente. Em poucos minutos estaria em casa, mas não eram esses os planos do Senhor para mim naquele final de domingo. A minha frente, o trânsito ia parando, parando. De repente, uma forte batida, uma freada, outra batida, outra freada e quatro carros embocados um atrás do outro. Saí de dentro do meu, às escuras e atordoado, pois muito mais do que o perigo e a dor, sabia que pessoas precisavam de mim. Porém, não tive forças, o corpo não obedeceu e encostei-me no guard-rail. Ouvi choro de criança. As pessoas falavam, falavam e eu não conseguia pensar. De repente, mãos fortes me colocaram numa maca. Ambulância, sirene, corredores e tetos brancos. Mais choros, lamentos, vai e vem, cheiro de hospital. Deitado na cama improvisada em um dos corredores, não falava, apenas tentava entender o porquê de tudo aquilo. Às vezes me
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lembrava, da cena do acidente, do causador dele totalmente embriagado, dos carros retorcidos. Pensava em pessoas queridas, umas perto, outras nem tanto, no meu trabalho, nas almas perdidas. Na vida. Dor e revolta alternavam-se com paz e, às vezes, tranquilidade. Eis que surge na maca ao lado, a jovem. Ela também havia sido vítima da insanidade de homens ao ser atropelada, com parte da família, em cima da calçada. Ela não chorava, enfrentava tudo com resignação. Envergonhei-me. Levaram-na para outro local e, onde ela estava, deitaram um motoboy, vítima do descaso. Reclamava muito e, irritado pela demora do atendimento, vestiu-se e foi embora. Veio, enfim, a dona de casa. Chorava, compulsivamente, devido à dor na coluna, porém, num dado momento, aquietou-se, chamou a atenção de uma irmã que estava no corredor desesperada e, com uma voz suave, a tranquilizou. Quase podia sentir a dor dela, mas a minha deixava-me deitado, mas não calado. As três pessoas que dividiram por um longo tempo comigo um corredor bem iluminado, atenção de médicos e enfermeiras, além de medicamentos, ouviram falar de Jesus. E na dor conjunta, saíram semeadas com as boas novas no coração. Ao falar de Jesus para elas, explicavelmente minha dor diminuía, assim como a tensão, revolta e frustração. A jovem, o motoboy e a dona de casa me ensinaram muito mais do que merecia e, com eles, foi possível ver o quanto Deus tem me dado livramento e cuidado de mim. Com a jovem, aprendi que, nos momentos de tempestade, manter a serenidade é essencial para a travessia. Com o motoboy, foi possível perceber que é preciso levantar-se quando ninguém mais pode fazer por você. Determinação pode tirar qualquer um de qualquer lugar. E
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com a dona de casa, mesmo em nossas horas de desespero, é possível ver a dor dos outros, respirar fundo, pedir sabedoria para Deus e abençoar outras vidas. Deus é realmente demais! Obrigado, Senhor, por mais esse livramento!
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15. Sonhos e lutas “Tu nos respondes com temíveis feitos de justiça, ó Deus, nosso Salvador, esperança de todos os confins da terra e dos mais distantes mares.” Salmos 65:5
Depois de algum tempo vivendo e aprendendo com tudo e com todos, finalmente foi possível entender o que eu não queria ouvir. Percebi que, para saber ouvir, não é preciso muito esforço ou palavras, porque as pessoas sempre têm todas as certezas do mundo. Incluo-me também nisso e, por mais que não queiramos aceitar, somos marionetes de nossas próprias certezas. Um dia, em minha inocência, acreditei que o futuro pertencia àqueles que acreditam na beleza e na abundância dos sonhos, mas o cansaço e o desânimo logo me afastavam de uma vitória. Até que, um dia, uma voz me disse “preste muita atenção no que está fazendo, pois sua vida está se desfazendo”. E se desfez. Como areia que passa pelos dedos da mão, ela se foi, passou e meus sonhos não aconteceram e, em tempos de guerra, parei de lutar. A minha fé era mero conto de fadas. Inexistente! Eu também era navio sem rumo, nuvem sem ponto de chegada. Os dias sucediam, a noite ia e vinha e tudo pairava quieto no ar. Parei de lutar, parei de sonhar. Era tempo de chorar, e chorei...
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muito! Mas veio, enfim, novamente, o tempo de voltar a sonhar e lutar, lutar e sonhar. Não desisti dos sonhos, acho que só havia dado um tempo a eles. Não desisti da luta, apenas, descansei dela. Deus apareceu, então (novamente), e disse-me que tinha o melhor para mim e lembrou-me de que, além de estar sempre por perto, fez promessas! E graças a Deus que esse Deus não é homem, e não sendo homem, não mente. Na minha dor, Ele disse que sofria comigo e pediu para não desistir dos meus sonhos, pois a dor, com o tempo, passaria. Ele pediu, também, para entregar toda minha angústia para que cuidasse dela. Em meu coração, o Senhor afirmou que, ao amarmos, nos expomos a riscos e quem ama se entrega e, na entrega, pode se machucar. Mas disse também: esse é o desafio de quem quer amar, viver, sentir e ser Meu de verdade. Por isso pergunto a você: e sua dor, é grande? Outra vez, decepcionou-se com algo ou alguém? E alguns desiludidos com a vida te disseram que você é inocente demais? Olha só, eles estão certos, pois desiludidos são os donos da razão, porém, não é razão que deve comandar sua vida, mas fazer parte dela. Emoção e razão devem andar lado a lado. Sonhos e lutas, nesse contexto, são parceiros, dependem um do outro como tudo, absolutamente tudo, depende de algo. Agrade-se no Senhor, e Ele satisfará os desejos do seu coração. Espere, no Senhor, e no tempo do Senhor, a resposta para sua oração virá. Portanto, não desista dos seus sonhos, pois Deus tem o melhor para você. Deixe que Ele os execute. Acredite que suas dores passarão e, em breve, olhará pra trás e verá o quanto Deus é fiel. Se hoje tem feridas, amanhã elas serão cicatrizes, apenas marcas do passado. Isso tornará você mais forte. Nunca desista
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de seus sonhos, porque, se eles se forem, você até continuará vivendo, mas terá deixado de existir. Você, apenas, sobreviverá em poças de lágrimas espirituais, mesmo que não admita. Vamos lá, encoraje-se e erga-se! Veja que um futuro eterno em Jesus bate à sua porta e para isso, basta, apenas abri-la.
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16. Nenhuma batalha é perdida “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.” Salmo 23:4
- Você está me dizendo que desistiu? - Não, apenas me cansei - De quê? - De tudo, das pessoas, da vida... - Sei como se sente, também já quis desistir um dia, mas continuei e, por não ter parado, creio que é por isso que estou aqui nesta noite! - As pessoas não querem ouvir as outras, Pedro, só querem falar, falar, como se apenas elas tivessem problemas. - Bom, hoje, você mudará sua opinião sobre isso. Cara, pelo horário sei que você está cansado e, se eu falar 10% do que quero, ficaríamos aqui, no mínimo, uma semana. Passei, então, as mãos nos cabelos, dobrei a manga da camisa, suspirei fundo, sentei-me com bolsa e blusa sobre o colo e disse suavemente:
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- Conte-me o que está aborrecendo. - Tudo? - Sim, desde o começo. Essa foi parte de uma conversa difícil com um suicida que tive há algum tempo numa instituição em que fui voluntário, bem no momento que estava de saída ao término do plantão. Naquele dia, estava extremamente cansado, com o corpo doendo, mas o rolar do tambor da arma engatilhada no outro lado da linha me fazia dizer: "Deus, me ajude!" Não havia muito o que falar, senti que o escutar seria mais necessário e assim, o tempo foi passando, passando até que ele agradeceu, guardou a arma e foi dormir. Soube, dias depois, que insistiu para conhecer quem o ajudara. Pedi para que dissessem que havia sido Deus. Para o Senhor, nenhuma batalha é perdida. Seja qual for e como for, sempre tem uma explicação, um motivo para passarmos por isso. É necessário nas provas ter fé na vida e tentar sempre, sempre e outra vez. Penso que, se não existisse a pequena, a mais remota possibilidade de fracasso, qual a vitória que nos daria prazer já que o viver não está simplesmente no viver, mas em saber viver. Não vive mais nem melhor o que mais vive, mas o que melhor vive, quem emprega seu tempo em um tempo de bons tempos. Quando não vamos às batalhas antes mesmo de iniciarem, que realizações serão iguais à profundidade de nossas convicções? Palavras e ação imediata juntas fazem bem e o bem se faz em nós. Porém, alheias a si ou perdidas em discursos vazios, apenas repousam no silêncio de nossos medos. São inertes e não produzem fruto. Às vezes, é possível evitar uma batalha, mas uma vez dentro, não é possível sair sem alegria ou tristeza, júbilo ou fracasso. É o que fazemos dentro que conta.
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Aprendi, em vários campos de guerra, que, na batalha, quem corre mais perigo é quem tem mais medo e se deixa levar pelo medo colocado pelo dono do medo. Mas quando chamamos Jesus para nos ajudar, a empolgação se faz diferente. Pelo menos as minhas batalhas nunca foram ganhas sem entusiasmo vindo dEle. E nesse momento, em que estamos juntos nestas palavras, digo que o Senhor ajudará você a resistir durante a noite e abraçar a manhã com braços fortes. Ajudará também a viver melhor e não ter medo da batalha. Sua alma maravilhada se alimentará da esperança exultante na aliança com Deus. É exatamente isso que torna tão significativo o repouso no Senhor. É isso que te faz especial para mim e para Jesus.
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17. Nada como um dia depois do outro “Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão.” Êxodo 13:14b
Quando as coisas estão erradas e o momento é de crise, nada parece dar certo. A pessoa amada se vai, o emprego é tirado de nossas mãos e alguns relacionamentos acabam. Parentes não compreendem nossas dores e cutucam feridas, cobram e, às vezes, até desdenham. Amigos também aparecem com o “eu te disse, eu te disse” e ninguém parece nos entender. Mas deixe-me dizer uma coisa: talvez tudo isso seja para melhor. E, nesse momento de crise e que lê agora estas linhas, sorria… nada é em vão! Seu aparente fracasso é para Deus uma forma de fazer com que você volte seus olhos, ouvidos, coração e mente para Ele. Talvez neste momento, sua fraqueza seja maior do que você, mas não considere tudo perdido ou acabado porque isso não quer dizer derrota, mas sim um recomeço. Quando tudo parecer não ter saída ou solução, ainda haverá uma. Quando não houver mais ideais e restar apenas ilusões e sonhos desfeitos, ainda haverá esperança. Quando não houver caminho, nem um amor ou direção, haverá alguém que te aguarda com braços abertos. Ele não deixa ninguém a sós e ninguém em
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trevas. Quando você disser: "isto é impossível", Ele dirá, "sim tudo é possível". Em seu desânimo, você dirá que se cansou, mas Ele te dará o repouso de que necessita. Nas lutas, com certeza em algum momento você abrirá sua boca para dizer que ninguém te ama de verdade. Eis que ao teu lado Ele dirá que você se enganou, pois Ele te ama como ninguém. Está bom, está bom, você ainda argumentará murmurando que não tem mais condições, mas suavemente, num doce sussurro Ele dirá em seu coração... "Eu, apenas Eu, guiarei teus passos". Nesse momento, ainda restará uma pequena dúvida e você também dirá que não merece perdão. Jesus olhará, profundamente, em seus olhos, colocará as mãos em seu ombro e dirá: "Eu te perdoo". Nesse momento você terá a certeza de que Deus está no controle de tudo e que você não terá mais medo das novas situações. Você perceberá que será possível tirar proveito das dificuldades, porque serão nelas que você crescerá e se fortalecerá em cada uma delas. Sua nova visão é que determinará seu sucesso e que, de uma vez por todas aprenderá que não há nada como um dia depois do outro para o Senhor. Meu desejo é que você, hoje, seja um dos que acreditam nessas verdades, pois o Senhor honra os que avançam sem medo. Tire proveito dos seus erros, colha flores nas experiências de suas dores. E então, um dia, você dirá: "graças a Deus, ousei, experimentei a vida outra vez e reencontrei a paz". O amor e a felicidade virão na sequência. Vamos, levante-se! Siga em frente outra vez.
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18. Não desista, insista! “Ele respondeu: "Porque a fé que vocês têm é pequena. Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: 'Vá daqui para lá', e ele irá. Nada lhes será impossível.” Mateus 17:20
Em nossa vida, existem verdades que realmente devemos guardar em nosso coração como essa citada acima. Geralmente, muitas delas vêm de difíceis caminhadas, porém, mais difícil que guardar, é, sem sombra de dúvida, continuar na estrada já que andar em direção ao futuro de nossa vida, exige esforço e força de vontade. Penso que viver bem significa esforçar-se bem, até porque, em qualquer parte do caminho, encontramos pedras, às vezes preciosas, às vezes não. Como lidar com elas é que faz a grande diferença em nossa vida. Por isso considero a fé o bem mais precioso deste mundo, a força mais potente do universo já que ela não está (e nem deve estar) nas coisas do mundo, mas dentro do coração, que encoraja o espírito e refrigera a alma. Essa fé, a meu ver, complementa a razão de que existe Deus. Entendi nesse “descobrir” que, dificilmente, teria outra coisa ou mesmo a fé, a não ser nEle. Percebi que o maior ato de fé seria
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reconhecer que não posso ser Deus. Digo isso porque, quando temos poder, dinheiro, status etc, nos sentimos “deuses” de algo ou de alguém. Charles Spurgeon 1 disse uma vez que uma pequena fé levaria sua alma ao céu e uma grande fé traria esse mesmo céu para sua alma. Milhares de anos antes, Jesus havia dito para muitas pessoas que a fé que possuíam era suficiente para mudar diagnósticos, realizar curas e milagres etc. Uma palavra tão pequena é dona de resultados enormes. E, já que falo de fé pergunto hoje a você: qual é sua dor? E seu problema? Há coisas maiores que você e está difícil prosseguir? Bom, se você for persistente e acreditar que Cristo pode mudar algo em você ou em sua vida, sua fé será o suficiente. Acredite, você é mais do que capaz para conseguir isso, basta acreditar. Sejam quais forem as circunstâncias, mantenha a calma. Confie e vá à luta porque Deus não se esquecerá de você, nunca. É preciso aprender a crer e olhar com os olhos do Pai celestial quando tudo parece desmoronar. É preciso romper limites, quebrar a resistência da própria razão que luta para não ser substituída pela graça de Jesus. É preciso ter fé para mover as montanhas que existem dentro de você e saber que uma porta se fecha a todo instante, mas muitas outras se abrem. Paciência, persistência, constância... e fé! Sim, e preciso dela sempre presente em nossa vida. Quando chegar o momento em que algo 1
Charles Haddon Spurgeon, comumente referido como C. H. Spurgeon (19/6/1834 -31/01/ 1892), nascido em Kelvedon, Essex na Inglaterra. Pastor,evangelista, mestre e mundialmente conhecido como o “príncipe dos pregadores”. É aclamado como uma das mentes mais célebres da história cristã.
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importante de (e em) sua vida acabar, é a fé, que o Senhor lhe dá de graça que te sustentará e te erguerá. Pense na possibilidade de que maior é o que está em você e não no mundo. De grandes fracassos surgem grandes vitórias e, embora se aflija pelo que perdeu, acredite: um bem maior virá. Enfrentar o mundo para aqueles que têm o coração em Deus, diante disso, torna-se apenas um pequeno tempo de um contratempo para o tempo do sempre no próprio Deus e assim, Jesus Cristo, o passaporte para a vida eterna, será a sua coragem para sonhar, de correr riscos e de viver estes grandes sonhos. Não desista, insista!
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19. Uma nova aurora “Mas eu cantarei louvores à tua força; de manhã louvarei a tua fidelidade, pois tu és o meu alto refúgio, abrigo seguro nos tempos difíceis.” Salmo 59:16
O dia estava amanhecendo bem devagar. As folhas das árvores estavam cobertas com o orvalho da manhã. O céu ainda escuro era banhado por uma luz tênue vindo da lua que, minguante, apenas via o chegar de outro dia. Nesses dias de quase inverno, a noite parece ser mais preguiçosa e teimosa. Não quer ir embora, mas o tempo não pára, nem por ela nem por ninguém. Aos poucos, um manto alaranjado crescia no horizonte e, enfim, bem longe, o dia engoliu a noite. Uma nova aurora estava presente no despertar de muita gente. O sol se firmava à medida que eu saía de uma cidade para adentrar outra e, a cada quilometro rodado, mais luz. Uma aurora bem à minha frente se firmava e, atrás, a escuridão se findava. Luz sempre foi e será superior as trevas, e nessa passagem de uma para outra, me lembrei de uma fazenda que recupera pessoas dos vícios das drogas e álcool que leva esse nome: Nova Aurora. Todas as vezes que a visito, converso com os internos e escuto histórias tristes, tanto de perdas quanto de
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decepções, separações, mágoas, abusos e toda uma gama de problemas que muitas pessoas sequer imaginam que outras passam e enfrentam. Mundo pequeno, pequena visão. Todas as vezes que para lá me dirijo, de alguma forma, vou com a esperança de ajudar, compartilhar, ouvir e mais do que tudo; aprender. Entre dores e alegrias existentes ali, soube de muita gente que hoje abençoa vidas. Outras, no entanto, voltaram de onde saíram. Concluo que isso é o que se pode chamar de humanidade. Todos temos o privilégio de apreciar o nascimento de um novo dia, mas poucos o observam e agradecem ao Senhor pela oportunidade de viverem diferente. Todos têm a oportunidade de escolher como querem viver e, ao escolher, tornam-se algozes de seu destino e a ninguém cabe a culpa de suas decisões ou fracassos, mesmo que queiramos culpar alguém. Assim como os que estão na fazenda, muitos estão passando por novas auroras e não conseguem ver a beleza que elas trazem. A esperança de um novo dia, de novos tempos e curas tudo de graça e pela graça. Peço para que olhe para sua vida agora e pergunte a você como tem vivido suas auroras, seus invernos, verões, outonos e primaveras? Quais as escolhas que tem feito e como elas têm afetado sua vida e a vida de quem ama sua vida? Saiba que uma nova aurora pode vir (e vem) através de Jesus Cristo que dissipa, com Seu poder, medos, dores, mágoas e tudo que atrapalha sua jornada. Jesus é a nova aurora na vida daqueles que acreditam nas verdades do evangelho da redenção. Jesus pode ser tudo em sua vida, em seus negócios, em sua família. Cristo é o único que pode fazer com que você veja o nascer de um novo dia, de uma forma diferente, como fez comigo e com muitos outros em todo
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mundo. Só depende de você quantos dias cinzentos ainda quer encontrar. Saiba que a noite pode ser longa, escura e tenebrosa, mas, em Jesus, o raiar de um novo dia sempre chegará.
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20. A mulher da mensagem “Faze-me ouvir do teu amor leal pela manhã, pois em ti confio. Mostra-me o caminho que devo seguir, pois a ti elevo a minha alma.” Salmo 143:8
Falo com Deus todas as horas e em vários lugares. Dificilmente, levo em conta se estou sozinho ou em lugares com pessoas ao meu lado. Às vezes, me perguntam se está tudo bem, sorrio e digo que sim. Quando falo com Deus, tudo fica sempre bem. Na mensagem que trocamos, nosso interlocutor é Jesus, amigo muito próximo desde um abril de 2006. De lá para cá, muita coisa mudou, sorrio mais, relevo também mais. Preocupo-me menos, pois sei que bastam as preocupações do próprio dia. O passado é passado. Quanto ao futuro, bem, ele pertence ao Senhor. Porém, tenho feito algo com intensidade que nunca havia feito antes de minha conversão: falar de Jesus. Não sou o meio, mas a forma como o próprio Senhor me usa (e capacita) para ser parte da transmissão das Boas Novas, o Evangelho da Redenção. Fico de olho, então, nas necessidades alheias e, na primeira oportunidade, lá estou eu, Deus, Jesus e o Espírito Santo. Com Eles, não há derrota, medo ou indecisão, só ação!
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Foi neste contexto de proclamação da salvação em Cristo que conheci muitas pessoas, como a pequena Ana. Um sorriso afável expresso num rosto redondo passou-me confiança quando todo o dia passava por ela, que distribuía material evangelístico para quem cruzasse seu caminho, sob sol ou chuva. “Bom dia" e "Deus abençoe” eram as ferramentas que usava para se aproximar de quem vagava, espiritualmente, pelas ruas de São Paulo. Muitas vezes, a vi conversando com todo tipo de gente, e o que mais se tem em São Paulo é todo tipo de gente. Quando a conheci, pessoalmente, soube que era uma próspera empresária, mas era ali, na rua, com aquele trabalho, que se encontrava. Certo dia, parei e conversei rapidamente, já que não queria ser empecilho na obra de Deus. - Ana, quantos panfletos você distribui por dia? - Ah, cerca de trezentos!” respondeu-me de imediato - “Mas você acha que isso dá resultado?” Indaguei. Ela parou por um instante de cumprimentar as pessoas, virou-se para mim e, com uma doce alegria nos olhos, disse: - Sim, porque, se uma pessoa, ao menos, aceitar Jesus, todo o trabalho foi ganho. Nada está perdido e Jesus sabe muito bem o que faz quando capacita alguém. A resposta dela me deixou pensativo por alguns instantes. Vagueei o olhar, subi até as nuvens, voltei para a copa das árvores da Praça da República bem à minha frente, dei um longo suspiro e disse: "obrigado". A mulher da mensagem mostrou-me que, ao querermos falar de Jesus, basta nos dirigirmos com o coração alegre aos que vivem
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sem luz e mostrar Sua graça infinita por todos que vivem sob o sol criado por Seu Pai. Que podemos estar em aldeias distantes, procurando alguém para ouvir ou em países que nos rejeitam. Não importa quando ou onde, mas como é preciso mostrar a todos que Jesus Cristo é o único do qual se pode afirmar que nEle tudo é amável e belo. Qualquer outra verdade, que não a dEle, é fugaz, é corrompida por pequenez. Qualquer outra sabedoria é melindre de tolos e qualquer outra bondade sempre vem maculada por imperfeição humana. Vejo assim que a fé em Cristo nos faz crer no incrível do impossível, amar o invisível do incrível e realizar o impossível do possível em Deus. Conseguimos aceitar tudo aquilo que não pode ser mudado, mas, mesmo assim, termos forças para mudar tudo o que pode ser mudado. Nesse embate do fazer ou não fazer, descobrimos a sabedoria para distinguir uma coisa da outra e ver que, com Jesus, tudo é como é. Tudo é perfeito, mesmo sendo nós imperfeitos. Percebo também que, quanto menos palavras minhas usar na proclamação dessas “boas novas” e mais as que vem do Espírito Santo, mais rapidamente as que andam perdidas chegarão a Deus. Fé, amor, paz e perseverança são desígnios da bondade de Deus em nossa vida e não algo que conquistamos com cultura, dinheiro ou poder. Quando estamos em Jesus, nada nos falta, muito menos a coragem de falar que somente Ele é que pode te salvar de você mesmo.
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21. Você pode mudar! “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.” Salmo 37:5
Você tem a habilidade de enfrentar o medo? Enfrentar desafios com confiança e não se preocupar com o pior? Bom, se você é assim, parabéns, mas se não, bem vindo ao clube de que faço parte. Não que sejamos covardes por sermos assim, mas vejo a valentia muito mais como ausência de medo do que coragem em si. E isso é mais perigoso do que parecer ser. Achando-me, digamos assim, menos corajoso, sou capaz de pensar mais antes de agir e, assim, ter menos chance de errar ou ferir alguém com atos impensados. O medo pode até ser constante, mas a diferença é minha confiança em Cristo que me leva adiante, sempre! Creio que a coragem é a confiança que Ele tem sempre o melhor para mim, mesmo que, no momento de medo, eu não esteja vendo isso, já que coragem, razão e dor andam sempre de mãos dadas e parecem querer me devorar. Porém, resisto. Vejo, então, que a coragem é o uso da razão, é ser coerente com meus princípios, independente desse medo ou da dor gerada por ele.
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Assim, a coragem resume-se numa única palavra: ação. E, olha só, a ação traz mudanças. Sou capaz de aguçar a visão e entender que há momentos em que é preciso mudar. Não é possível ignorar que o tempo é o senhor da razão e que a razão pertence ao Senhor, como o tempo, o mundo e sua vida, se assim desejar. Ah, se soubéssemos olhar o tempo como um importante aliado e não como “um tempo” para não tomarmos decisões, por termos medo de decidir o que pode ser decidido a nosso favor e não do tempo... Decisões nunca são fáceis. É preciso ter coragem e ousadia para mudar. Não a coragem do mundo, mas a do Senhor. Mudar gera medo e, certamente, é uma tarefa difícil. Saber que caminho seguir sempre é um enorme desafio, não é? Porém, o importante é não cometer o erro de ignorar a hora de mudar, de ter a coragem para isso. Pergunto aqui: não estaria na hora de você reavaliar sua vida? Você já pensou, caso ainda não tenha feito, entregar sua vida para Jesus? E, com Ele, ter a coragem para virar o jogo? Consertar relacionamentos, perdoar quem magoou seus sentimentos, restaurar relacionamentos, entre outras coisas, é o que pode acontecer com você. A ação do Espírito Santo mediante a proclamação da Palavra Viva em sua vida pode quebrar (e quebra) essas barreiras. Uma decisão de coragem como essa pode lhe dar a coragem de que tanto precisa. Um caminho melhor pode estar diante de você e, nele, é o que você reaprende depois de já ter aprendido tudo é o que realmente conta. Aceitar Jesus é uma nova oportunidade que surge à sua frente, a fim de desenvolver em você formas eficientes de se posicionar diante de seu medo e ter, enfim, a coragem de que tanto precisa para mudar. Esteja firme em Cristo! Isso fará com
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que você continue seguindo em frente, não importando as surpresas que surgirem. Não importam quais sejam os obstáculos, as dificuldades ou barreiras, se Cristo estiver em você, nada o impedirá de avançar com coragem. Tenha a determinação dos humildes e despidos de orgulho! Tenha coragem! Vá em frente. Lembre-se: tudo que aparecer em sua frente para impedir seu avanço pode até parecer intransponível, mas, em Cristo, você obterá vitória. Sendo já da família do Senhor ou não, não desista. Fique firme e a vitória virá, pois eu creio que você pode mudar!
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22. O tempo de crescer. “Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins.” Mateus 7:17
Sabemos que crescer espiritualmente é um grande desafio que nos acompanha por toda a vida. Nesse desafio, somos quase aprendizes de situações que criamos, vivemos e até, de vez em quando, inventamos. Ser gente grande não significa necessariamente que nos responsabilizamos por nossos atos, desejos e medos, até porque somos muito mais vítimas deles do que donos. Percebemos que somos instrumentos complexos da linearidade da vida em si e não objetos de nossos sentimentos e pensamentos, quase sempre alheios ao mundo que está a nossa volta. Nesse ponto e contraponto, limitamos a experiência do amor em nossa vida e desviamos o foco do crescimento, do aprofundamento. Caímos em nosso próprio vazio e pensamos que estamos em crescimento, só não sabemos do que e para quê. Construímos e desconstruímos na mesma velocidade. Assim sendo, o mundo parece estar cheio de “dormidores profissionais” que nem sequer sabem o que fazem ou para onde vão. E sabe o que é pior? Eles pensam que estão acordados.
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Querer viver não pode ser só querer viver porque é muito mais do que isso, tanto que, em uma vida, não é possível. Por isso, crescemos nesta vida e nos preparamos para ser o que não podemos ser aqui, mas na outra vida; a eterna ao lado de Jesus. E cabe a você a escolha de onde quer passar a eternidade, já que nos é dada apenas uma oportunidade de viver, mas, pelo menos duas, de morrer (leia João 3: 1 a 21), depois disso, é céu ou inferno e, acreditem, é triste e irreversível descobrir isso depois da morte. Despertar para Cristo nesta existência (que mais uma vez digo, é única), é preciso! Até mesmo para amar melhor, sentir-se vivo e não apenas vivente ou participante de vidas alheias. Saiba que nossa vida é preciosa e precisamos crescer, criar, expandir e nisso sempre há riscos, choro ou tristeza, mas também há alegria, prazer, descobertas e uma verdade: Jesus Cristo. O tempo de crescer em nossas vidas nos remete ao objetivo de valorizar conquistas, desde a infância à fase adulta, construindo conceitos sobre nós e o mundo. Se o tempo pudesse dizer algo a nós nessa fase de crescimento ele diria que seu desejo era proporcionar um desenvolvimento saudável e harmonioso, mas sabemos que não é isso que acontece. Esse tempo de crescimento deixa de ser metáfora quando agimos, e a efemeridade das circunstâncias reais, na medida em que nos dispomos a seguir adiante. Apostamos em sonhos, criamos projetos que se transformam em realizações mais do que pessoais, já que elas são um pequeno pedaço de nossas percepções que dividimos com outros. Precisamos perceber quais são os sentimentos ou fatores que impedem nosso progresso, nosso crescimento. Falta de perdão,
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desejo de vingança, relacionamentos duvidosos, um coração duplo, pensamentos errados, perfeccionismo entre outros podem ser alguns deles. É justamente aqui que devemos nos render e dizer para Jesus que não queremos mais nos acomodar, mas aprender e voar alto porque ser grande e voar alto é ser o que Jesus quer que sejamos. Precisamos pedir um coração humilde porque só assim veremos que podemos ser grandes, mas pequeno entre os grandes. Crescer não é ser grande em tamanho, mas em espírito. Crescer não é ser dono de muitas coisas, mas do coração e da própria língua e, hoje, você pode crescer um pouco mais que ontem, não pode?
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23. Não somos donos de nada “Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.” Ezequiel 36:26
Há muito tempo, aprendi que tudo está interligado entre si e que nada, absolutamente nada, foge do controle de Deus, porém, quando tiramos o papel dEle de nossa vida, tudo, absolutamente tudo, não está no nosso controle como pensamos e, assim, os dramas da vida nos fazem, hora ou outra, meros marionetes nas mãos de quem veio para roubar e destruir. Lembro-me, quando criança, de que deitava sob o céu e contava nuvens, pássaros, tempo... Outras vezes, achava-me debaixo do mesmo céu, mas em noite escura contando estrelas. Meu olhar buscava o infinito, contemplando a grandiosidade inquieta do gigantismo do universo. Nesses momentos, eu via Deus, sentia Deus, estava com Deus e entendia porque não somos donos de nada. Hoje, mais do que nunca, sei que não somos donos de nossos dons, talentos, ou dinheiro. Não somos donos de nossa vida, parentes, amigos ou bens. Não somos donos disso ou daquilo e, quando pensamos que somos donos de algo, na realidade,
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estamos apenas presumindo que somos donos, mas não somos. Não somos donos também do tempo, de lembranças, de amores, de pensamentos ou sentimentos, porque, quando não queremos tê-los, é justamente nesse momento, que eles nos têm e assim somos escravos e não donos. Passamos a ser escravos do ontem num círculo vicioso que parece não ter fim e nos sentimos culpados pelo que fazemos ou pior: pelo que deixamos de fazer. Presente e futuro passam a ser uma realidade distante. Mas onde se deve procurar a liberdade? A essência viva da alma se todos os sentimentos parecem conduzir a isso?i Quando trago, então, a lembrança daquilo que me dá esperança e reconheço nisso que sou filho de Deus por meio de Jesus, não me preocupo com coisas pequenas porque elas são exatamente isso, coisas pequenas. Não me preocupo também com grandes coisas ou coisas grandes, porque maior é o Deus que está em mim do que aquele que está no mundo. Creio, então, que meus problemas não devem ser maiores que esse Deus, que é dono de tudo, inclusive de mim. Quando reconhecemos isso, sabemos que a vida que queremos depende do que fazemos e não daquilo que pensamos ter. Nossos erros e acertos vão se transformando, misturando-se, nos tornando perfume agradável. No Salmo 46, versículo 10, o próprio Deus diz para nos aquietar e saber que Ele é Deus, que Ele é nosso socorro presente nas dificuldades. Ele não quer que sejamos donos, mas objeto de Seu amor infinito e alvos da graça de Seu filho Jesus. Quando achamos que somos donos de nossos atos e sentimentos, estamos admitindo que somos superiores. Precisamos (e devemos), procurar a liberdade dessa mentira, em Cristo, que é a essência viva da alma. Pensamentos sempre contradizem nossos sentimentos e quando isso for mais abstrato e não transformado
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em atitude de aceitação que nada nos pertence, mais a verdade que liberta estará ausente. Muitas vezes, somos apenas sentimentos que fingimos não ter ou aceitar. Se você não consegue entender o desejo de Deus em sua vida, palavras de nada adiantarão, pois serão apenas palavras. Mas, acredito que, nas minhas palavras, existe o meu desejo por uma vida melhor para todos nós. Portanto, devemos abdicar do controle de tudo e entregar o controle a Ele, para que Ele reine e vejamos sua glória sendo manifestada. Descanse no Senhor e pare de agir do seu jeito e tentar ser dono de algo. Aquiete-se e, então, conheça o poder e a soberania de Deus na sua vida e nas circunstâncias que aparecem nela.
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24. O orgulho e a humildade. “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos.” Filipenses 2:3
Várias vezes, no decorrer de minha jornada, deparei-me (e me deparo) com essas duas palavras tão diferentes, mas que andam muito, muito juntas. A palavra humildade vem do latim “humus” que significa filhos da terra e refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas. Não se identifica com a falta de caráter, mas consiste em ter consciência das próprias limitações, enquanto o orgulho é definido como um conceito exagerado que fazemos de nós mesmos. É puro sentimento de altivez. É formiga tentando convencer os outros de que é elefante. Vejo que, nesse sentido, a falsa humildade também é manifestação de puro orgulho, que almoça vaidade e janta soberba. Nessa refeição de sentimentos, quem é orgulhoso a si próprio devora. Vejo também que o orgulho é o complemento da ignorância espiritual e separa as pessoas das próprias pessoas, muitas vezes, interessadas apenas em ajudar e não humilhar.
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O orgulho também separa pessoas de Deus, de Cristo e do Espírito Santo. O orgulho consome, fere e é ferido. Destrói, mata. Se não tivéssemos orgulho, com certeza não nos queixaríamos dos outros e, principalmente, de Deus. O orgulho, muitas vezes, nasce de uma impotência para resolver uma situação ou reconhecer uma situação que não consegue resolver. E mesmo que uma ou outra aconteça é justamente o contrário; o reconhecimento de fracasso, que faz nascer o amor, que faz nascer a humildade, que se preocupa com o que está certo. É possível perceber, então, (e aceitar) que a humildade não está na pobreza ou na necessidade, mas naqueles que, mesmo sendo injustiçados, abençoam; naqueles que, mesmo com a razão, demonstram gratidão e vivem em perfeita harmonia e paz com os outros e aprendem que a vida é uma longa lição de humildade. Uma forma de demonstrá-la é ajustar as mentes para todas as mudanças da vida. Nessas incontáveis lições, vemos, na humildade, significados diferentes no ato de humilhar-se. Tenho aprendido que Deus protege e liberta os humildes. A humildade é o espaço que a vida encontra em nós o desejo do amor fraternal e, por isso, é preciso para alcançá-lo permitir-se ser ajudado. Humildade é saber, exatamente, o que somos e o que valemos. Na carta que escreveu aos filipenses, o apóstolo Paulo disse que uma das bases da alegria cristã era a humildade e que a verdadeira alegria não era uma emoção superficial que dependia de circunstâncias favoráveis do momento e, sim, era independente de condições externas. Era fazer o que Cristo declarou várias vezes em seu ministério: amar o próximo por meio da humildade. O orgulho e a humildade podem, então,
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até andar juntas, mas quem decide qual dessas palavras estará em sua vida é apenas você.
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25. A independência da dependência “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.” Mateus 5:4
Ela saiu de uma pequena cidade no Ceará e veio para São Bernardo do Campo na década de 80. Casou e teve três filhas. Lutou junto com a comunidade do Jardim Detroit e conseguiu um apartamento popular. Continuou lutando e sendo exemplo para muita gente na comunidade em que vivia. Num dia desses que imaginamos tudo menos um acidente, foi vítima de um. Ao descer de um ônibus, o motorista saiu sem olhar, jogando-a embaixo do coletivo, resultando numa paraplegia. Ela tinha, na época, trinta e poucos anos. A então guerreira teve que se adaptar à nova situação e passou a ser dependente de tudo, desde a simples alimentação, passando por higiene pessoal, até a locomoção aos hospitais para consultas e tratamentos. Ao conhecê-la por meio de uma certa professora, compartilhei muitos momentos ruins, outros tristes, outros alegres. Rimos e choramos juntos e, sempre que chegava, mesmo vendo todo sofrimento dela, levava ânimo e conforto, além de algumas piadas. Ela me dizia ao chegar, “... vamos, me faça rir para que
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eu esqueça a dor e o desprezo das pessoas.” Com essa ordem a fazia rir até que a professora mandasse ficar quieto. Algumas vezes, obedecia, outras não e, quando ficava em silêncio, tentava entender a situação dela, mas não entendia. Porém, quando estava em meus dilemas, meus desânimos e longe dali, sempre pensava nela que, mesmo presa numa cama, sua única reclamação era o desprezo, a solidão. Mesmo definhando, ela era ainda guerreira e, um dia depois que o Brasil comemorou mais um ano de libertação do jugo português, o Senhor a chamou e aquela grande mulher conseguiu, enfim, a independência da dependência. Agora, ela descansa até que Jesus volte para chamar aqueles que, em vida, O reconheceram como Salvador, que é o caso dela. Agora, ela não precisará mais que troquem a fralda ou a sonda uretral que saía do lugar constantemente. Não precisará de medicamentos, olhares de desprezo, quartos ou corredores de hospitais. Ouvi, quando seu corpo descia à terra, que ela finalmente descansaria em paz; olhei, então, para o alto e vi nuvens passando por nós, vi copas de árvores balançando de um lado para outro com o vento que chegava. Devo ter sido o primeiro a perceber a fina garoa que começava a cair e pensei; ela não descansará agora em paz. Ela já estava na paz de Cristo, apesar de tudo. Naquele dia, ela apenas dormiu o sono do corpo mortal, mas a alma dela viverá para sempre porque entregou sua vida a Jesus. No caminho de volta, lembrei-me de nossas conversas e de duas grandes lições que me ensinou: é possível estar em paz com (e em) Cristo, mesmo passando grandes tribulações, e é possível também agradecer, mesmo que nossa vida não seja como gostaríamos que fosse.
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26. Não seja refém de seu medo “Não me assustam os milhares que me cercam.” Salmo 3:6
Lembro-me de uma confusão em que me meti com um antigo aluno do Colégio Estadual Antonio Caputo, no meu querido Riacho Grande, em São Bernardo do Campo. Lá estudava no final da década de 70. Junho de 79 para ser mais exato. Desentendemos-nos no “recreio”, subimos discutindo para a sala de aula e dissemos um ao outro que acertaríamos as contas na saída. Coisas de meninos pré adolescentes. Ele era de uma família de origem alemã e tinha o dobro do meu tamanho, era forte e parecia um pequeno touro branco. Todos tinham medo dele, eu também. Quando deu o sinal de saída, ele correu para o portão e eu, para não apanhar, dei a volta por trás do colégio e pulei um muro que ainda hoje, com meus um metro e oitenta, é muito alto. Na queda, rolei o barranco e sujei o avental branco que usávamos naquela época. Ao chegar em casa, não tive tempo de explicar para minha mãe o porquê dele estar sujo e nem de estar todo arranhado, mas tive tempo de sobra para pensar no que tinha feito durante o castigo no resto da tarde e as dores da surra que levei, não do alemão, mas de minha mãe. Passei aquela semana com raiva e vergonha
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de mim pela minha covardia, até porque sempre havia enfrentado muitas outras coisas piores que aquilo e nunca havia recuado, mas, quando o pequeno gigante quis me socar, deixei o medo ser maior do que eu. Ensaiei a minha volta à escola, já que andava faltando. Perdi provas e a comemoração do aniversário de um grande amigo. No dia em que voltei muitos colegas me abraçaram e, num dado, momento avistei o sujeito que me viu e veio na minha direção. Voltei a sentir medo, mas estava decidido: não fugiria! Ele continuou a vir e, quando chegou perto, me cumprimentou e foi embora. Veja só, ele nem se lembrava mais do ocorrido e eu todo acovardado! Isso é o que acontece quando somos dominados pelo medo. As pessoas tocam a vida e nós não vivemos, corremos das situações, dos conflitos, das pessoas. Pulamos altos muros, nos ralamos todo e ainda apanhamos por essa covardia sem sentido de nossa parte. Ficamos com vergonha e somos jogados de um lado para outro pelo fato de não encararmos nossos problemas. Perdemos oportunidades de momentos preciosos com os amigos e da própria vida. Na realidade, devíamos ter mais medo de nossa mediocridade do que do próprio medo em si e assim não ficarmos com medo de amar, de morrer, de sentir, de perdoar, de tentar, de recomeçar, de ouvir, de planejar, de enfrentar... O medo tem, em nossa vida, alguma utilidade, mas a covardia não. A vida é admirável se não se tem medo dela e creio que uma pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo de sentir medo, pois ele faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo enquanto outras aprendem a conviver com ele e o encaram não como algo
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negativo, mas sentimento de auto preservação, de crescimento e aprendizado. A cada superação, você ganha forças, coragem e confiança. Onde o medo está presente, Deus não consegue agir já que Ele dá, a quem acredita, ousadia e coragem. Creio, firmemente, que o medo, sem dúvida nenhuma, é o que mais derrota as pessoas do que qualquer outra coisa no mundo e, assim, pergunto a você: qual é o medo que tem feito pular muros e se esconder? Apanhar da vida e perder o que ela te dá de melhor: sua liberdade? Deixe-me dizer algo agora para você: não seja refém de seu medo. Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la. Se você olha para o céu e vê o prenúncio de tempestades, há um Deus maior do que elas. Não há caminhos sem acidentes, mas um Deus que te ergue se cair. Os fortes usam a força, mas os humildes, Deus. Não tenha medo de furacões, pois Deus é quem os criou. Viva os riscos para alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota. Isso será melhor do que estar com os medíocres que sofrem muito, porque vivem em penumbras não conhecendo nem vitórias nem derrotas. Liberdade significa responsabilidade e por isso temos medo dela. Faça o que tiver medo de fazer e, mesmo com medo, diga sim ao Senhor. Saiba que Ele ama trabalhar com aqueles que reconhecem serem nada, pois só assim Ele, e apenas Ele, será seu tudo. Quem sabe, hoje, não seja o dia de você dizer sim a Ele!
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27. Erra uma vez Jesus respondeu: "Vocês estão enganados!, pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus! ” Marcos 12:24
Todos nós, em algum momento, já tivemos medo de errar, de tomar decisões e, mais tarde, chegar à conclusão de que elas não foram acertadas, porém, existem pessoas que têm verdadeiro pavor de errar até nas pequenas coisas. São preocupadas, nervosas e policiam-se o tempo todo. Para elas, é imprescindível que tudo dê certo nos mínimos detalhes. Assim sendo, colocam um peso enorme nos ombros. Claro, desejamos que tudo sempre dê certo, mas nem sempre as coisas acontecem conforme planejamos. Para aquele que tem medo de errar isso é o caos. Penso no tempo perdido, no sofrimento que colocam em si mesmas e deixam de viver momentos preciosos por estarem ocupadas demais com seus pensamentos ou planos que não podem dar errados. Ninguém é perfeito e errar é mais do que humano. É preciso aceitar os erros e aprender com eles em vez de ficar se culpando.
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Todos sabem que ninguém nasce sabendo absolutamente nada e a vida é um grande aprendizado, do primeiro ao último dia. Durante o decorrer da existência, com as experiências, vamos aparando arestas, amadurecendo, transformando e sendo transformados. Eu aprendi muito com os meus erros e assumi as consequências, pois elas estarão em minha vida até o dia da glória final. É um fato com o qual tenho que conviver e me acostumar. Pensando bem, aquele que não erra vive uma vida sem crescimento. Não assimila as más escolhas, as decisões equivocadas, não evolui ficando à mercê do tempo e o pior: refém dele. Por mais que sejamos competentes e queiramos acertar sempre, o erro é uma característica de quem está no jogo. Muita gente tem a ilusão de querer sempre acertar. Mas isso é impossível. Errar faz parte de quem pensa, fala, toca, compõe, sonha, opera, constrói, advoga, escreve, ministra, ensina, enfim, de quem está cumprindo sua missão. Entenda, você é uma pessoa e erra uma vez, duas, três e quantas vezes forem necessárias para que aprenda a lição que o Senhor quer ensinar. Quando, então, nos sujeitamos à humildade de perceber que somos aprendizes, lutando para fazer o melhor, Deus nos faz fortes na fraqueza. Quem realmente se valoriza consegue perceber que nem tudo na vida é responsabilidade nossa, mas não foge das suas e não desiste frente a algum tropeço. Encara desafios sabendo que serão importantes aprendizados. Sabe que pode errar, mas a perseverança se transforma em liberdade. Compreende que sua sabedoria não está em não errar, chorar, se angustiar ou se fragilizar, mas em usar seu sofrimento como alicerce de sua maturidade. Aprende que o maior erro que pode
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cometer é justamente o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum. Digo agora a você, quando chegar aquele momento de limite das próprias forças e não conseguir avançar, quando não for possível conter as lágrimas por tudo parecer um grande vazio e um desânimo enorme querer tomar conta de você porque precisa tomar uma decisão, nesse momento, ao contrário do que parece, será justamente o ponto de partida para uma nova vida, uma vida em Jesus. Ele é O acerto e não o erro. Ele é a verdade e não a mentira fugaz. O futuro de tempos sem choro pertence a Ele e você pode fazer parte disso. Recomeçar é a palavra, cada vez ou todas às vezes, mesmo que alguém tenha ferido você. Não culpe os outros pelas próprias desilusões. Deixe que Jesus seja o único dono de suas vitórias, de sua vida, de sua alma. Descanse e deixe que Ele mostre a decisão que deve tomar.
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28. O reencontro “...porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado.” Lucas 15:32b
Era o final dos anos 50 do século passado, quando Manoel saiu da distante Paraíba para tentar a sorte em São Paulo. Trouxe pouca bagagem, uma esposa e muitos sonhos. Lá, deixou mãe, pai, irmãs, uma boa situação financeira e uma história. Aqui, ele queria outra. Sem estudos, enveredou-se na construção civil até tornar-se operador de máquinas e, assim, transformar-se em “trecheiro” como dizia, pois sua vida era correr o trecho. No decorrer do tempo, perdeu o contato com a família que havia ficado do outro lado do País, a dignidade e muitas outras coisas. Abandonou a si mesmo a ponto de um de seus filhos, com a ajuda dos irmãos, chegar a tirar férias no trabalho para encontrar parte da história que o seu Manoel havia abandonado décadas atrás. Na viagem de ida, o filho do operador de máquina pensava em estratégias e formas para encontrar o elo familiar perdido diante de apenas uma pista: a fazenda numa pequena cidade do sertão brasileiro. Depois de três dias de viagem, constatou que a fazenda sequer existia. Foi uma decepção! Não desistindo, procurou por 1, 2, 3, 4, 5, 6 dias. Cruzou dados e endereços até
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que achou um cidadão, amigo de infância do pai do seu Manoel, que informou que a família havia se mudado para o Rio Grande do Norte há mais de 30 anos, porém, sabia onde estava um primo dele. Ao encontrar o primo dias depois, outra decepção: ele havia perdido as cartas que davam o endereço da família no outro Estado. Porém, na despedida, lembrou o sobrenome da pessoa que emprestava o nome para a rua em que moravam os parentes de seu Manoel. Mais uma vez animado, o filho rumou para o Rio Grande do Norte no mesmo dia e, depois de dois dias de procura, encontrou a mãe, duas irmãs e dezenas de sobrinhas do ancião que, em São Paulo, aguardava notícias. O aposentado operador de máquinas iria, enfim, reescrever sua história. Dias depois, ele chegou à casa da mãe que, na época, havia completado 100 anos e tinha um sonho antes de morrer: ver o filho novamente. O reencontro foi na pequena casa que ela mora com outra filha desde 1970 e, entre choro e alegria, o abraço que esperou mais de 50 anos foi demorado. O que estava perdido foi encontrado. Certa vez, Jesus contou uma parábola sobre um jovem que se perdera na vida. Abandonou a casa dos pais e gastou tudo que tinha com mulheres, jogos, falsos amigos. Passou até fome. Um dia, reconheceu seu erro, voltou para casa e redimiu-se com seu pai que também lhe perdoou, apesar de tudo. Nisso, penso em quantos filhos estão perdidos por esse mundo, passando fome e necessidade por algo de que nem se lembram mais. Quantos estão cobertos pelo orgulho, pela soberba e apenas tem espaços vazios em sua vida? Às vezes, é preciso alguém buscar os que estão perdidos, mas também os que estão perdidos podem achar
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o caminho de volta, e tanto para um como para outro, o único caminho de reconciliação será sempre (e somente) Jesus Cristo.
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29. Pai... vem me buscar “ Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação...” 2 Corintíos 1:3
A semana havia sido difícil e, entre afazeres profissionais e problemas particulares, naquele dia que cheguei em casa tarde da noite, estava cansado. Triste. E sozinho. Sentei-me na cama para não sei o quê. Em uma das mãos, segurava um lanche que comia preguiçosamente olhando para o nada na TV. Tirei os sapatos e me preparava psicologicamente para tomar um banho frio, pois a resistência do chuveiro havia queimado e não tinha outra para trocar naquele momento. O celular tocou e, sem olhar no visor devido ao cansaço, ouvi: “pai... vem me buscar”. Reconheci, de imediato, a voz triste do meu pequeno pedaço de sol que, muitas vezes, adormeceu no meu colo. Também de imediato respondi “estou indo filha!” Penso que, para pais, não deve existir cansaço em relação aos filhos e, então, (re) calcei os sapatos, devorei o lanche e passei pelo chuveiro com leve sorriso no canto da boca. Ele teria que esperar mais um pouco para me castigar com sua água gelada naquela hora da noite.
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No caminho para chegar à faculdade onde ela estuda, uma noite estrelada me acompanhava assim como pensamentos em relação ao Pai dos pais. De como Ele não descansa e tudo vê, tudo sabe. Como é soberano e está sempre disposto a estender a mão quando precisamos mesmo estando ausentes, distantes, magoados ou deprimidos. Deus, que também é Senhor, que também é Espírito (e) Santo e que também é Pai, cuida tão bem de nós que disse, por meio de Jesus, para que não andássemos ansiosos quanto à nossa vida, pelo que iríamos comer ou pelo que beberíamos; também pediu que não nos preocupássemos nem quanto ao nosso corpo ou pelo que vestiríamos. Ele afirmou que a vida é mais do que o mantimento e o corpo mais do que o vestuário. Pediu para que olhássemos para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros, mesmo assim, Ele, o Pai celestial, as alimentava. Disse ainda que tínhamos muito mais valor do que elas porque sabia (e sabe) que necessitávamos de todas estas coisas, mas, o que Ele almeja é que de fato buscássemos primeiro o reino de Deus e a sua justiça e depois, todas estas coisas seriam acrescentadas. Também pediu para que não ficássemos ansiosos pelo dia amanhã, porque o amanhã cuidaria de si mesmo, pois bastava a cada dia o seu mal. Tempos depois ao encontro, com essas palavras de verdade e paz, esperança e ânimo, consegui tirar um belo sorriso de minha filha no fim de uma noite, quando enfim, a deixei em sua casa. Não havia mais cansaço de minha parte, nem lamentação, nem sentimento de abandono ou tristeza, mas uma satisfação, uma alegria única e um grande pedido de perdão para o Pai pela minha miserabilidade e fraqueza humana.
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O mesmo céu estrelado que me acompanhou na ida veio comigo na volta, porém, um sorriso no rosto e paz no coração estavam presentes. Em casa, nunca tinha tomado um banho frio tão quente. Deus havia aquecido meu coração quando estava esfriando diante das circunstâncias. Deus é realmente o Pai que não desampara, não falha, não sente cansaço e, mesmo quando estamos dormindo, está agindo a nosso favor. Deus é realmente sensacional.
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30. As três irmãs “Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.” Salmo 126:6
O ar seco e a falta de brisas características dessa época não combinavam com o céu extremamente azul daquele sábado. Olhava para um lado, pessoas, casas, carros... movimento! Olhava para outro e estava num universo próprio dentro de uma vila chamada São Pedro. Ali era possível ver de tudo e sentir diferentes sentimentos ao levar conforto e a Palavra de Deus a cinco famílias que haviam solicitado nossa presença. As casas eram distantes umas das outras, simples até, mas nos dirigíamos a elas com alegria. Uma era de chão batido e telhas irregulares e, segundo a moradora, em dias de chuva e trovões fortes, abraçava o pequeno Mateus, de cinco meses, para se sentir mais segura. Apresentei, nessa oportunidade, a pequena família para o Senhor. Seus problemas também! Continuamos e, em cada visita aprendíamos grandes lições de resistência e persistência diante de nossas limitações e com as dificuldades daquelas pessoas. Assim conhecemos a Geane e seus filhos, a família da dona Neusa, a Sueli, mãe do Mateus, o Lindonaldo e seus amigos, o seu Dorgival, a Quitéria, o Daniel e
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tantos outros. Cada um, de uma forma, recebeu uma semente que Jesus irá regar no tempo dEle, sem dúvida. Porém, nesse contexto de visitas, não foi o que fiz ou falei que fez a diferença para mim, mas sim, o que aprendi com as três irmãs, não de sangue, mas em Cristo. Duas me acompanhavam nessa incursão morro adentro e a terceira conheci naquele dia. A primeira estava na casa dos 60 anos e comigo subia morros, escadas íngremes e andava por ruas esburacadas como uma garota de 15 anos diante da alegria que sentia de estar ali. A segunda, recentemente, teve um problema no tornozelo que ainda hoje persiste, mas também andou por toda vila conosco como uma menina. A terceira, de nome Noemia, também irmã em Cristo passou por mim numa esquina e notei tristeza. Parei e a cumprimentei. Ela devolveu o cumprimento e nos pusemos a conversar. Ela me disse que foi abandonada pela família e sua casa interditada pela Defesa Civil, pois poderia cair a qualquer momento. Perguntei o que podia fazer e esperei pedido de dinheiro, bens ou coisas do tipo. “Peço por minha vida”, respondeu a senhora vestida de preto e cabelos, rigorosamente, presos no alto da cabeça. E eu por perdão, emendei. Ela não entendeu, mas Deus sim. Falei, na sequência, que o Senhor havia escutado o pedido dela e que fosse em paz. Senti na hora que Deus reverteria a situação dela enquanto me ensinava uma grande lição que, dificilmente aprenderia em bancos de igreja ou faculdade. De cada forma, as três irmãs me disseram (e mostraram) que não há idade para ajudar quem precisa, que nossas dores não podem nos atrapalhar no caminhar e, quando tudo parece estar perdido, Deus age soberanamente. Há momentos em nossas vidas que percebemos que saber para onde vamos é tão importante quanto saber o que precisamos fazer enquanto não vamos. Que as
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respostas que tanto procuramos já as conhecemos, apenas nos recusamos a entendê-las. Nossa vida não deve caber apenas em nossa vida, mas deve caber na vida dos outros. Elas não devem ser como folhas caídas de galhos dispersas no solo. Ser exatamente o que somos não é motivo de alegria para o Senhor, mas sermos o que Ele quer que sejamos.Amar o próximo é fazer da vida uma grande festa com direito a uma maior ainda lá no céu, na eternidade do sempre.
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31. (re) Construir uma nova vida – 2ª parte “Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendome das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus ” Filipenses 3:13,14
Não consegui comparecer à inauguração daquele novo prédio comercial que substituíra a velha casa, mas todos os dias que em passava por ali, dizia: faço questão de te conhecer! Esperei o tempo de Deus para isso. E ele veio, enfim. Num certo sábado, eu e uma amiga nos dirigimos até lá. Estávamos com certa expectativa, já que ela também havia lido a reflexão que escrevi a respeito do antigo casarão e como Deus derruba velhos sonhos em nossa vida e coloca novos. Chegamos debaixo de uma chuva muito forte e uma pequena sombrinha nos protegeu das águas até a porta do estabelecimento. Um funcionário sorriu e abriu a porta. Entramos num mundo bem diferente do que abrigava o casarão antigo.
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Fotos nas paredes, espaços bem iluminados, prateleiras em madeira maciça, gente de todas as idades, funcionários em uniformes impecáveis e o burburinho peculiar de um comércio como aquele se faziam presentes. Pedi para sentar na quina da varanda, cercada por vidros, que subiam até o teto. Era possível observar a chuva que continuava e ver, devido à claridade, materiais de construção de antigas casas como piso, lustres, parte do balcão, mesas e cadeiras, ornamentando a decoração. Tudo lindo! No cardápio oferecido pelo atendente, constava a história daquela casa de pães. Enquanto aguardávamos nosso pedido, falávamos sobre como aquele lugar, que estava morto, havia sido transformado num local tão atraente e aconchegante e como Deus muda histórias. Observávamos também senhoras bem vestidas conversando, senhores mais sisudos à frente, provavelmente, falando de negócios e crianças que corriam em volta das mesas. Realmente ali, um novo tempo dava o ar da graça. Senti uma felicidade muito grande porque sentimos, naquele lugar, possibilidades de mudança, mas era necessário derrubar casas velhas para construir novas. Na medida em que conversávamos, a chuva diminuía e, logo, o sol deu as caras. Um dia muito bonito surgiu das cinzas de chuvas quase que intermináveis. Cheguei à conclusão de que tudo que é ruim pode se transformar em bom, só depende de nós. Depende do que queremos e do que fazemos para mudar situações. Podemos continuar resistindo a mudanças, mas o tempo passa, caem então o telhado e as paredes. O mato cresce a ponto de abrigar parasitas. O muro
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torna-se cinza e, um dia somos apenas resquícios do que éramos. Porém, quando deixamos Deus chegar com os tratores e pôr tudo abaixo, Ele prepara e limpa o terreno para, assim, construir uma sólida casa numa base mais sólida ainda: Jesus Cristo. Num certo abril, num certo apartamento e num certo momento disse: "Deus... entra em minha vida por meio de Jesus e mude esta história”. Ele entrou, derrubou, transformou e, hoje, prossigo para o alvo, como o apóstolo Paulo e tantos outros fizeram um dia. Se fomos capaz disso, você também é, acredite! Deixe Jesus derrubar sua velha casa para (re) construir uma nova vida em você. Saiba que tudo é possível se acreditar nessa verdade.
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32. A árvore e o edifício “As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem.” Lucas 8: 14
A Avenida do Estado em São Paulo é quase uma rodovia. Larga em alguns trechos, estreita em outros. O trânsito é constante, pesado, barulhento. Em toda sua extensão, automóveis diversos e diversas pessoas disputam espaços e economias de tempo no asfalto cinza, às vezes vermelho sangue. Ela é estática e refém dela mesma, porque não pode mudar sua rota, nem seu caminho. Muito menos seu destino. Ela está lá, apenas lá. E ali, num trecho dela, a árvore e o edifício moram. Já há algum tempo os observo. O edifício está em ruínas e, em pouco tempo, será demolido. Suas janelas foram vítimas de vândalos, suas paredes de pichadores e sua história, um dia, se perderá definitivamente em gavetas. Alheia ao destino do prédio, a árvore cresce, bem na extremidade de uma quina, em tamanho, em folhas e raízes. Estas descem pelas paredes e se espalham. Algumas são muito grossas e tiveram que se fortalecer onde não existe terra, apenas cimento.
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Folhas verdes oliva dão à árvore um aspecto jovem, exuberante. Porém, o que a arvore não sabe é que, mesmo com a degradação do edifício que a mantém, ela também tem os dias contados. Apesar de sua força aparente, sua semente foi plantada em local inseguro e, quando o prédio cair, ela também cairá. Triste isso! Gostaria de ver vida no edifício e aquela árvore no chão servindo como abrigo para pássaros e gente. Certa vez, Jesus falou às pessoas sobre sementes que o semeador saiu para plantar e, quando o fazia, uma caiu junto do caminho, foi pisada e as aves do céu a comeram; outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, porque não tinha umidade; uma terceira caiu entre espinhos, crescendo, os próprios espinhos a sufocaram; porém, uma caiu em boa terra e, nascida, produziu fruto. Dizendo Ele estas coisas, pediu para que quem tivesse ouvidos ouvisse. Seus discípulos, então, perguntaram o que Ele queria dizer com aquilo. Jesus, pacientemente, falou: A semente é a palavra de Deus, os que estão junto do caminho são os que ouvem, depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que não se salvem, crendo. Os que estão sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas creem por algum tempo e, na tentação, se desviam. A que caiu entre os espinhos são os que ouviram e, indo adiante, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição; mas aquela que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra a conservam num coração honesto e bom e dão fruto com perseverança. Assim como aquela árvore, a semente que não é plantada em terra boa semeada por Jesus não cresce e, se o fizer, logo cai. As sementes que estão em Cristo permanecerão por todo o sempre
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em local arejado, com água fresca e brisas suaves. Deixo aqui apenas uma pergunta: onde sua semente foi plantada?
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33. No hospital de Deus “ Quando Jesus saiu do barco e viu tão grande multidão, teve compaixão deles e curou os seus doentes.” Mateus 14:14
No centro de triagem médica de um hospital de São Bernardo, eu aguardava a melhora de uma irmã em Cristo, em que havia sido medicada e repousava sob efeito dos medicamentos. Ao lado do box que estávamos, um rapaz chegou aos prantos e com muita dor, resultante de uma queda de moto. Tinha quebrado a perna, fêmur e iria operar. Pelo corredor do ambulatório, outras pessoas também ansiavam por melhoras, para sair dali, lamentando a falta de sorte. A cena lembrou-me de uma noite de um feriado, há dois anos, que passei ao lado de um amigo que estava hospitalizado devido a uma doença incurável. Ele foi operado. O mal físico não foi extirpado de vez, visto que terá que tomar remédios pelo resto da vida, mas foi num local com especialistas da área de saúde que encontrou respostas para o que atormentava, assim como minha amiga, o rapaz da moto e os tantos outros nesse mundo afora. Nesses locais, os médicos, quando recebem os enfermos, avaliam se a situação é de emergência ou de urgência. No primeiro caso, é possível decidir-se pela cirurgia ou apenas
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intervenção médica enquanto que, na urgência, não há tempo, o socorro imediato não pode ser adiado e o problema deve ser resolvido rapidamente, pois se houver demora, corre-se o risco de morte. Pensei novamente naquela noite em que não conseguia dormir e, sentado na cadeira, observava o ir e vir de todo tipo de gente enquanto meu amigo dormia. Associei aquele hospital de doentes físicos com os doentes espirituais que chegam (ou estão) no hospital de Deus. Ali, também não há distinção de homem ou mulher, idade, sexo, cor ou posição social. Todos aparecem um dia para tratamento de emergência ou urgência, trazendo as decepções de separações, brigas e contendas, o fato de não conseguir perdoar traições que sofreram e até mesmo quando a dor é causada por eles mesmos. Como os médicos são designados para dar a primeira assistência nos hospitais dos homens, as enfermeiras entram num segundo momento para trocar os curativos e, assim, Deus designa Jesus Cristo para os primeiros cuidados na área espiritual e, depois, convoca pessoas que (talvez) já passaram por essa internação, para o cuidado posterior. Eu já passei por isso e sei muito bem o que é sentir dor que sufoca, que parece não ter mais fim, que intimida e apavora, que tira o chão debaixo dos pés. Certa vez, dei entrada na emergência e Cristo me segurou em seus braços, estancou a hemorragia e limpou as feridas. Depois, designou bons “cuidadores de gente” para me acompanhar e, hoje, aqui estou. Por isso digo a você que não sei o que te atormenta, mas sei que maior é Jesus. Não sei o que te chateia, o que te apavora ou o que faz pensar que seus problemas não têm soluções, mas sei que Jesus pode te dar a paz que você não conseguiu de outras
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formas. Talvez, já tenha entregue sua vida para Cristo e, agora, passa por lutas e provações maiores que essa entrega, mas Jesus lhe trará sossego e tranquilidade. Acredite! Não hesite em pedir! Não tenha medo de encarar a verdade e dizer: Deus, quero uma vaga em seu hospital! Busque tratamento, porque somente Ele é que pode curar sua vida. O tempo urge, não importa o que você faça para tentar pará-lo ou ainda para atrasar seus sonhos. Deus tem para você o remédio certo e ele se chama Jesus Cristo.
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34. O trem para a eternidade “os aperfeiçoe em todo o bem para fazerem a vontade dele, e opere em nós o que lhe é agradável, mediante Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.” Hebreus 13:21
Já estava muito escuro quando resolvi levantar da poltrona e ir até o espaço entre um vagão e outro. Nele, observei a locomotiva lá na frente que expelia uma grossa fumaça que subia para um céu estrelado e interiorano. Parece que, ao entrarmos País adentro, estamos chegando num mundo novo, diferente. O trem em movimento sacudia para todos os lados e, mesmo assim, era possível acompanhar paisagens estáticas e silenciosas. A cada curva, uma nova visão de um mundo que dormia entrava em meus olhos. Num dado momento, uma jovem se aproximou, pediu licença e sorriu com minha permissão. Os cabelos longos e negros combinavam com a noite e o sorriso dela brilhava como as estrelas. Muito bonita, também era falante e conversamos sobre a vida, sobre os mistérios da vida e as coisas da vida. Passou o tempo, o espaço e o espaço de tempo da viagem encurtou-se quando a
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locomotiva chegou à penúltima parada destinada apenas para troca de trilhos mais adiante. O maquinista deu o sinal tradicional de saída e as rodas começaram a patinar, o vapor subir e os acenos das pessoas na estação ficarem mais longes. A plataforma estava tornando-se menor quando um homem com uma mala correu para sobressairse ao atraso. Correu, correu e estava parando quando vi que não nos alcançaria. Acenei e disse: “Vamos; você consegue!” Estiquei a mão para ele e, numa breve eternidade de tempo, nossas mãos quase se tocaram, mas o maquinista aumentou a velocidade. O homem ficou para trás e minha mão no vazio até que perdemos contato. Fiquei triste porque não consegui ajudá-lo e lembro-me até hoje daquela cena. O homem não conseguiu porque, numa fração de segundos, hesitou. Quando falo de Jesus para as pessoas, vejo mais hesitação delas do que tempo perdido e, nisso, o trem parte não porque tem pressa, mas porque tem tempo a cumprir. Aceitar Jesus como Salvador é fazer parte de um grupo de passageiros que tem para onde ir. Os dois ladrões crucificados ao lado de Jesus estavam atrasados para a vida terrena, mas um deles reconheceu o erro, aceitando-O como Salvador e, naquele mesmo, dia estava no Paraíso com o Senhor. Penso que é preciso sentir a mão poderosa de Deus em nossos ombros, para que possamos ser extensões do poder dEle na vida dos outros, trazendo do passado a experiência para o presente, não desistindo do futuro. Pensar assim é agir enquanto pessimistas atrasam-se para pegar o trem, enquanto otimistas de plantão esperam que ele os espere e não o contrário. Se você quer uma vida diferente, pegue o trem para a direção onde Jesus quer que você vá. Saiba que liberdade em Cristo não é acaso,
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nem insensatez, mas sim direção. Acredito que nossa verdadeira nacionalidade não está em nossa humanidade, mas onde repousará o espírito. Saiba sempre o que deseja voltando seus olhos para Deus e aprendendo a amar o próximo. Quando absolvemos nossas culpas num difícil começo, um fim diferente fica cada vez mais próximo. Fazendo o que nos é possível, Deus se encarrega do impossível. Às vezes, abrir mão de uma realidade não é fácil, mas abrir mão de um sonho para uma vida real é o que nos faz melhores e nos aproxima do Senhor. Não pense em realizar grandes coisas, inimagináveis até, mas contente-se em fazer pequenas coisas com grandeza de espírito. Como pegar o trem para a eternidade.
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35. E a coragem chorou “O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação.” Salmo 118:14
A sala estava fria apesar do sol que fazia do lado de fora naquela manhã. As paredes brancas mostravam um lugar ausente de vida. Não havia móveis, decoração ou flores, apenas camas. Numa delas, a senhora coragem aguardava sua vez de entrar na sala de cirurgia. Eu a distraía e a confortava segurando uma de suas mãos e, ternamente, sorria. As horas passavam e pareciam não ter fim. A impressão é que eram dobradas, eternas. Uma voz no interfone anunciou, então, que seria encaminhada para o que precisava fazer para continuar a vida normalmente. Apertamos juntos as mãos um do outro e, então, a coragem chorou. Lágrimas correram pelo rosto delicado que tantas vezes me disse o que fazer só com um olhar. Não era o momento de discursos nem de clichês apenas um “fique em paz, Deus ainda tem muito que fazer por e em você”. A enfermeira disse algumas palavras de ânimo e a levou fechando, em seguida, a porta diante de mim. Dali em diante, era ela e Deus. Conheço a senhora coragem desde o dia em que nasci, quando a parteira colocoume ao lado dela enrolado em uma pequena coberta, numa tarde quente de fevereiro. Com ela, aprendi quase tudo. Ser forte,
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determinado e corajoso foram alguns dos sentimentos que desenvolvi na minha vida diante do que ela demonstrava nos momentos de dificuldades que nossa família passava. Até aquele momento no pré-operatório, nunca a tinha visto chorar e aquilo me fez pensar muito na palavra coragem. Graças a Deus a cirurgia foi bem sucedida e o pós-operatório também. Tenho aprendido que chorar é um ato de coragem, não de medo e que verdadeiros homens e mulheres o fazem porque cedo ou tarde reconhecem sua incapacidade de serem aquilo que realmente pensam que são. Descobrem que cada fracasso ensina algo que precisam aprender e que a melhor maneira de ser feliz é contribuir para o reconhecimento dessa limitação. Os que choram sabem que querem chegar a algum lugar e que para isso é preciso percorrer metade do caminho por meios próprios e a outra metade, por meio da coragem que o Senhor dá aos que se entregam. Nessa caminhada aprendem que as experiências não são o que aconteceu ou deixou de acontecer, mas sim o que se faz com o que lhe acontecem. Creio que o fruto da entrega desse reconhecimento é a paz, que resulta em tranqüilidade e dá confiança para acreditar que há esperança e assim reconhecemos que a primeira qualidade do caminho espiritual é a própria coragem. O mundo parece (e é) ameaçador. Perigoso para quem leva tempo demais para reconhecer isso. Estes procuram falsa segurança em vidas sem desafios e armam-se para defender aquilo que julgam possuir. Pessoas assim acabam construindo as grades da própria prisão e não dão chance para Jesus agir. Não há muito tempo, reconheci isso e deixei Jesus agir em minha vida e o resultado foi um novo caminho e coragem para enfrentar a vida com alegria, verdade, bondade e beleza. No real sentido
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da palavra, aprendi a viver resistindo ao que me leva para o mundo. Reaprendi que saber o que fazer é ser capaz de fazer juntando fraquezas de situações que me pediam valentia, não coragem. Dignidade e coerência é o que precisava. E olha que nem sempre sou capaz de fazer o que devia ter feito e então, choro, não de medo ou por considerar-me perdedor, mas sim corajoso porque coragem significa um forte desejo de morrer para viver, que não há coragem sem amor, já que as exigências desse amor me levam aos ensinamentos de Cristo. Coragem é resistência ao medo e não ausência do medo. Tempestades e outras coisas, vez ou outra, te atrapalharão. Quando isso acontecer, lembre-se de que Jesus venceu o mundo por você, para dizer para você apenas isto: anime-se, tenha coragem, você também consegue!
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36. Os dois senhores “O Senhor me livrará de toda obra maligna e me levará a salvo para o seu Reino celestial. A ele seja a glória para todo o sempre. Amém..” 2 Timóteo 4:18
Havia acordado um pouco mais tarde do que o normal, pois entraria no trabalho à tarde. Um café da manhã, afazeres domésticos, uma rápida leitura e saí para um sol quente para aquele horário. Chegou o ônibus, subi e sentei alguns bancos depois do cobrador, no lado do motorista. Mais à frente, uma ponta de sol fez com que me levantasse e fosse para o outro lado, porém, quando o ônibus finalmente entrou na avenida, o lado de que havia saído ficou na sombra e o lado em que eu estava, debaixo do sol. Via que o teto projetava uma sombra que saía do banco ao meu lado, atravessando o corredor, indo até o outro lado e pensei: “justo agora? Vou ficar aqui mesmo”. O sol ferveu, eu teimei em permanecer no mesmo lugar e veio em minha mente a passagem bíblica do rico e Lázaro (Lucas 16: 19 a 31). Mais a frente, a parada do coletivo indicava que passageiros queriam subir. Dois entraram e um senhor sentou bem à minha frente. Continuei observando o tempo... e suando, principalmente de teimosia. Nova parada, outro senhor subiu e sentou ao lado do
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primeiro, mas, antes, fez brincadeiras com a própria velhice. Os que estavam perto e ouviram riram, inclusive eu. Sentado, o segundo ancião de cabelos grisalhos, elegantemente penteados para trás, puxou conversa com o que já estava ali e, atrás dos dois, não tinha como deixar de ouvir. - Quantos anos o senhor tem? - Perguntou um ao outro. - Eu tenho 83 e o senhor? - Fiz 70 recentemente, respondeu. - De onde o senhor é? - Bahia. E o senhor? - Também e vim num pau de arara ainda criança. - Eu também! - retrucou o que estava à minha direita - mas já há vinte anos e estou aqui desde então, completou. Riram como crianças. Nós também. A partir disso, conheci uma São Paulo que desconhecia, me apresentaram pessoas que nunca havia visto e tempos que não voltarão nunca mais para eles e para mim. Porém, o que mais me emocionou foi o fato de ambos serem cristãos e ali, ao falarem da entrega da vida a Jesus, de eternidade e de como se portaram desde então, Deus mais uma vez falou comigo. Senti uma imensa paz enquanto um fino e intermitente rio de lágrima descia pelo canto do rosto. Olhei para o céu e agradeci. Olhei para eles, mais uma vez, que se levantavam diante de meus olhos para descer do ônibus e agradeci novamente. Ainda vi os dois trocando um aperto de mãos à medida que todos nós seguíamos viagem. Vejam só, saíram da mesma terra, encontraram Jesus em tempos diferentes e viveram vidas opostas, mas desembarcaram numa
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mesma estação um dia, rumo à eternidade. Apesar da idade, os dois senhores não se sentem cansados, mas vivos. Dizem não à teimosia e, mesmo no fim aparente da vida, dizem sim à humanidade deles. Não contam os dias que faltam; agradecem pelo sol que os aquece, vivem uma alegria única como a que senti diante deles: a alegria de ser eterno em Jesus. Nos momentos de tristeza, recorrem a uma fonte inesgotável de alegria chamada Jesus Cristo e conhecem muito bem o destino para onde vão depois da vida terrena. Troquei de lugar, refrescando-me à sombra de Deus e refletindo nas ricas passagens de Lucas 16 sobre vida e morte, eternidade e a opção de escolha que temos nessa vida de decidir onde queremos estar quando os dias não tiverem mais dias e as horas não tiverem mais horas. Quando não existir mais dor, escuridão ou decepções, apenas os filhos de Deus.
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37. Saudade das saudades “Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês...” Filipenses 1:8a
A palavra saudade vem do latim solitate que, na tradução literal, quer dizer solidão, porém, na língua portuguesa, adquiriu um significado bem mais romântico, digamos assim, e ficou como uma lembrança suave de pessoas que amamos e estão longe, ausentes, com quem não conversamos mais, de situações, de lugares e de tempos que não voltam mais. Esse sentimento tão presente no ser humano gerou a expressão bem conhecida matar a saudade que é usada, geralmente, para designar o desaparecimento, mesmo que temporário, desse sentimento. Penso ser possível viver esse momento relembrando, vendo fotos ou vídeos antigos, conversando sobre o assunto, reencontrando a pessoa que estava longe etc. e, geralmente, ao fazermos isso, sentimos alegria. Penso também que a saudade não traz rancor, mas o perfume doce de uma flor. Penso que pode ser calculada e assim multiplicada sentindo a vontade de ver quem me vê de longe, pensando em meu bem-querer. Gosto de relembrar, de sorrir com olhar e, às vezes, pensar que tudo vai voltar... Parto, então, para sonhos dourados, vivência lado a lado, fraternos sentimentos, doces momentos! Porque pouca coisa se compara
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aos beijos no coração, carregados de emoção, de saudade... de verdade. A saudade faz distâncias diminuírem e conserva recordações mesmo que não viva para que a sua presença seja notada por mim, mas para que a sua falta seja sentida. Na saudade, o tempo não pára, porém faz as coisas pararem no tempo. E tira o desejo de estar junto, porque não é preciso estar perto e sim dentro. Algumas pessoas falam e nem as escutamos, mas há pessoas que passam e ficam, ficam... Simplesmente, aparecem em nossa vida e marcam para sempre. A distância faz à saudade aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande. A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. Às vezes, penso que saudade é amar um passado que ainda não passou num presente que fere e nos afasta do futuro que nos convida, chama, arde. Também, às vezes, tenho saudade do que não existiu como se me faltasse algo, e por isso, tenho saudades de tudo que ainda não vi. A saudade das saudades é um dos sentimentos mais urgentes que existem e que nos fazem saber (e sentir) como somos humanos. Saudades verdadeiras de tempos verdadeiros produzem futuro verdadeiro porque, sabendo o que deixou no passado, se foi verdadeiro, então você valorizará o que o futuro te der.
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38. Hoje acordei pensando nas voltas que o mundo dá “Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna.” Romanos 6: 22
Hoje acordei pensando nas voltas que o mundo dá e nas situações que me alegram ou entristecem. Em minha mente, vieram imagens, pessoas, sorrisos que vejo, hoje, apenas em fotos. E o pensamento, assim como o mundo, continuaram girando, girando, girando... Tudo, ou quase tudo que já aconteceu comigo parece um filme em minha memória que luta para esquecer partes dele, avivando tantas outras. Poucos são os que conseguem dar a volta por cima e recomeçar, que conseguem como a lendária Fênix ressurgir das próprias cinzas. Onde estou nesse contexto se, hora ou outra, as cinzas parecem querer me sufocar? E você? Vamos refletir juntos, então, nas próximas linhas? A vida é um eterno recomeço de um recomeço eterno em vida até que, por fim, a eternidade celestial das eternidades terrenas é apresentada em uma viagem que se inicia, diariamente, em cada
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dia que vivemos, chorando ou não, rindo ou não. A mescla de alegria e dor nos acompanha por si só até o fim. O fim da vida na terra. É nessa luta contínua, sufocante às vezes, que começamos o dia e muitas vezes terminamos, é necessário partir, mais uma vez, para a limpeza imediatamente. Não me importando a hora, varro do coração a tristeza, a angústia, a aflição. A inveja, a maledicência, a preguiça, o tédio vão juntos com a poeira. E também maus pensamentos. De meus caminhos saem os pressentimentos ruins; o medo se esvai sorrateiro, porque Deus me fornece a alegria de Sua própria alma, trabalhando em meus sentimentos e, assim, descanso à sombra do amor de Jesus. Reconheço que meu (nosso) lugar é estar junto a Ele, porque o Senhor é amor e não nos olha por nossas falhas, mas pela capacidade que temos de amá-lo e voltar. E sei que isso exige sacrifícios e coragem, e determinação e muitos outros “es”, mas sabemos que uma força maior do que tudo nos conduz. Eu acordei pensando nas voltas que o mundo dá e nas situações que nos alegram ou entristecem. Aos poucos, com muita luta e fé, minha vida começa a renascer, remoldar-se e não receio nem tenho pena de deixar para trás o que ficou, pois o que ficou, ficou e, o que está por vir, está chegando. Quando deixamos nossa vida à mercê de Jesus Cristo, nossa capacidade de refazer o que se desfez e reconstruir o que se perdeu toma moldes e formas inimagináveis. Alguns duvidam. Alguns criticam, mas outros alguns aplaudem, e muito, dizendo ainda: isso mesmo, cabeça erguida; olhos bem abertos; passos largos e firmes em direção ao futuro. Pequenas coisas ditas por grandes pessoas nos fazem gigantes. Crescemos em amizades e vemos os dons de Deus agindo em
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nossa vida. Isso custa caro? Não, Deus diz que tudo é de graça, é graça. Basta apenas acreditar. Quando encontramos o caminho que Deus deseja que nosso coração percorra, mente e espírito unem-se, tornam-se tudo uma só verdade e o próprio Deus abençoa a presença dessa verdade. A coragem sacode o corpo agora duro como ferro, multiplicando a ousadia que nos invade e impulsiona. Penso, então, que talvez nunca saiba que resultados virão de minhas ações, mas também sei que, se não fizer nada, nem resultados existirão.
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39. A moça do brigadeiro “Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.” Romanos 5:3,4
O dia já estava em sua segunda metade do tempo e havia me despedido dos colegas de trabalho desejando boas festas. Pensava, não só como seria minhas festas de fim de ano, como de algumas pessoas que tenho atualmente apenas no pensamento. Saudades de pessoas. Calor de pessoas. Trânsito de pessoas. Tudo típico para esse dia pré véspera de natal. Fome... não de pessoas, mas de comida. Entrei, então, no restaurante que costumo almoçar, servi-me, sentei-me e continuei longe, muito longe, extremamente longe. Voltado para a rua, em meu almoço, observava pessoas quando vi pela primeira vez naquele dia a moça do brigadeiro. Muito bonita e jovem, usava uma camiseta branca, calça verde e chinelos tipo rasteirinha. Cabelos impecavelmente presos, no ombro uma bolsa bem moderna e nas mãos um pote de plástico com vários brigadeiros que ofereceu aos clientes mais próximos da porta. Um aceno negativo do garçom a fez voltar saindo por onde havia entrado,
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mas não antes de retribuir com um sorriso para ele que acabou chegando a mim também. Terminei o almoço, paguei a conta e saí dirigindo-me ao banco para pagar contas. Ao abrir a porta para entrar, mais uma vez, a moça do brigadeiro passaria sorrindo diante de meus olhos. Segui para a fila e permaneci por quase uma hora no banco. Sai, caminhei pela avenida, passei pela praça, subi à rua e desci novamente a avenida. Parei debaixo de uma árvore. Sombra fresca, fresca sombra. Iniciei, novamente, a caminhada e passei pelo Largo do Arouche, atravessei outra rua e cheguei à calçada que me levaria ao ponto final do ônibus que pego para voltar à São Bernardo, quando, um pouco mais à minha frente, novamente avistei a moça do brigadeiro oferecendo o doce a quem passasse ao lado dela. Oferecia aos vendedores das lojas, aos taxistas, às pessoas paradas e, mesmo não obtendo sucesso na venda, continuava. Continuei minha caminhada pensando o que levaria aquela moça tão atraente vender brigadeiros na rua. Pensei que, apesar da aparência, ela era uma mulher de fibra, ação, atitude e não usava de seus atributos físicos para a venda; sua beleza era apenas um detalhe. Diferente de outras pessoas que desistem dos objetivos, travam diante do medo ou estão mortas espiritualmente, ela persistia, aprendia a ter paciência com as pessoas. Isso gerava experiência que se transformava, inevitavelmente, em esperança. Ao usar essas experiências de vida, ela experimentava na própria vida o que sem ações não acharia em cursos, escolas, faculdades etc. Na busca pela sobrevivência, ela ia além dos limites. Ao fazer isso, não era mais mulher, apenas. Era, mas sua essência se elevava acima de sua condição como mulher bonita.
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Creio que atitudes como as dela salvam as pessoas delas próprias e, salvando-se a si mesmas no reconhecimento de que podem ser melhores, enxergam um novo caminho e podem ver com clareza Deus, que designa Jesus Cristo para reescrever uma nova história em sua vida. Cristo salva a todos que queiram, revelando a verdade redentora. O caminho certo para a superação dos obstáculos. Concluí que a insistência daquela moça em voltar vitoriosa para casa dela servirá de inspiração para mim por um bom tempo. Que neste ano, atitudes assim me ensinem a ser mais perseverante, humilde e acreditar na esperança de uma vida melhor. Oro por isso também em sua vida.
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40. Não pare! “O Senhor é a minha força e a minha canção; ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus e eu o louvarei, é o Deus de meu pai, e eu o exaltarei!” Êxodo 15:2
Comecei o ano livrando-me de muita coisa acumulada durante não só em 2009 como em anos anteriores. Fiz um verdadeiro bota fora em livros, cadernos, roupas e tantas coisas que, “bugigangas”, seria o nome mais exato para elas. Continuei com a faxina e fui além do físico, entrando na mente e no espiritual. Vi que muitos conceitos, desejos, lembranças e situações do passado estavam atrapalhando mais do que ajudando. Juntas, elas minavam minhas forças. Lembrei-me, então, das conversas com algumas pessoas nos últimos dias que, mesmo com um ano todo à frente, estão desanimadas. Associei parte disso a uma parte em mim que também reluta por mudanças e deseja ficar onde está, imóvel. Isso é algo inerente ao ser humano: pensar em desistir, mesmo antes de começar! Pensando nessas pessoas e em mim, vi que somos parte de um todo em pequenos fragmentos e que o importante é continuar. Costumo dizer que um pequeno avanço na direção certa já é um
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grande progresso e, assim, todos podemos obter, a passos lentos, enormes vitórias. Mas, como isso é possível? É possível da seguinte forma; não pare! Não queira fazer nada grandioso, já que alguma coisa que fizer, por menor que possa parecer, será grandioso por si só. Lembrese: pequenos riachos transformam-se em grandes rios e rios em grandes mares. Continue andando, fazendo, sonhando, pois o que parecia fora do seu alcance, hoje, estará mais próximo amanhã e, ao cair da noite, se continuar movendo-se para frente, para direção de seu propósito, com certeza receberá a bênção. Quanto mais dedicação a seu intento, um pouco mais ele se aproxima de você. Saiba que, se parar por completo, será muito mais difícil começar tudo de novo. Confie que o Senhor lhe ajudará. Acreditar nisso é uma opção de vida porque Deus ainda fala com as pessoas, mesmo quando elas não querem falar com Ele. O Senhor dos senhores não abandona ninguém, mesmo quando o abandonamos. Saiba que Deus é fiel, e muito! O Senhor diz que, mesmo nas adversidades, é preciso ter força, mas também coragem para ser melhor. É preciso ter atitude para se defender e defender os mais fracos dos ataques do inimigo. É preciso humildade para baixar a guarda, sentir-se pequeno e frágil diante das situações e acreditar que Deus é maior que tudo isso. É preciso ter força e estratégia para ganhar uma guerra, mas determinação para se entregar ao Senhor. Se você sente que lhe faltam forças e a coragem, Deus, neste momento, quer te abraçar. Mostrar a você o quanto pode mudar sua vida, encher-te de sonhos, objetivos, bênçãos...
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Que o Espírito Santo de Deus diga a você que há um amigo desejando que esteja bem e que, acima de tudo, seja muito, muito feliz. Esse amigo chama-se Jesus Cristo!
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41. Meu nome é Vanderson, e o seu? “para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos pés no caminho da paz". Lucas 1:79
Um pequeno pátio entre duas paredes enormes é o ponto de concentração, espera e filas. Ali, homens, mulheres e crianças chegam dos mais diversos pontos de São Paulo para uma refeição saborosa, uma palavra de ânimo e um banho quente. Uma pequena árvore oferece, na entrada da Casa Amarela, uma sombra refrescante. Aos poucos, o espaço que serve como ante sala para as atividades dos andarilhos da cidade, torna-se pequeno. É triste ver tantas pessoas esquálidas, sujas, parecendo farrapos humanos. Algumas não andam, arrastam-se. Não falam, gemem. Perderam a esperança, a dignidade e até a vontade de viver. Antes de serem atendidos pelos missionários da casa, sentam-se em grupos não muito grandes e conversam num dialeto próprio das pessoas que vivem nas ruas. Somente pela (e com a) graça de Jesus é possível aproximar-se e não espantá-los, pois são arredias e fogem de estranhos ao menor sinal de perigo... perigo de conversa. Eles também não a querem, pois quando querem, ou as pessoas fogem, ou levantam os
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vidros dos carros, ou viram as costas ou, ou... são tantos “ous”. Eles já estavam acostumados com a minha presença e, num determinado dia, havia estado com alguns grupos quando me detive num em especial. Cumprimentei uma a um com um leve, mas firme, aperto de mão, e sentei-me no chão com eles. - Boa tarde, pastor - falou um deles para mim. - Boa tarde - respondi emendando um “não, não sou pastor”. - Ah, mas você fala tão bem sobre o reino do Senhor - insistiu ele. - Sim, e por acaso preciso ser pastor para fazer isso, senhor; senhor... como é seu nome? - disse mais uma vez com tom de brincadeira. - Meu nome é Vanderson, e o seu? - perguntou-me. - Pedro. Nem pastor, nem apóstolo e nem precisa pedir que não tenho as chaves do céu - respondi. Rimos todos juntos. Começamos uma conversa e cada vez que citava um versículo, o pequeno Vanderson, da Chapada Diamantina, um dos lugares mais lindos do Brasil e que fica na Bahia, citava pelo menos outros dois. Logo notei que ele tinha um considerável conhecimento bíblico e investi nisso. Soube que havia entregue a vida para Jesus há muitos anos e congregara numa igreja durante décadas, mas, por desilusão, afastou-se da luz, conheceu as drogas e chegou àquele ponto em que se encontrava. Falou-me que queria rever sua família, sua terra natal e recuperar seu antigo trabalho enquanto o grupo, ao nosso redor, apenas observava. Como ele, todos ali tinham uma história parecida. Notei lágrimas em alguns enquanto ele falava. Pedi sabedoria e, ali, no forte calor de uma tarde de verão, o Vanderson ouviu muito mais que palavras. Quando não tinha
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mais o que falar, calei-me. O silêncio se fez entre nós, mesmo com dezenas de pessoas ao nosso redor. Ele fitou o horizonte por um instante, deu um longo suspiro e disse: “obrigado”. Coloquei a mão em sua cabeça e orei com fervor. A porta, então, se abriu no fim do corredor que levava para dentro do prédio, pedi licença e levantei-me para falar com a assistente social. Não levei muito tempo, e quando voltei, não o encontrei mais. Perguntei para o grupo onde estava o rapaz que falara há pouco e me disseram que havia ido embora. Falei: “Mas ele nem almoçou e nem tomou o banho?” Um dos que estavam conosco disse que ele simplesmente levantou-se e saiu, deixando para trás os poucos pertences que trazia. Não sei para onde ele foi, mas como acredito num Deus que tira pessoas das trevas, realiza o impossível em nossa vida mesmo quando não temos mais esperanças e nos levanta da beira do caminho, imagino o que aconteceu. “Deus o abençoe Vanderson e refaça sua vida em nome de Jesus, amém.”
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42. A casa amarela “Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar.” João 14:2
Uma data numa placa abaixo do telhado ostenta o ano de 1896. Meses antes, tijolos começaram a ser colocados um a um num terreno que abrigaria um enorme casarão. O estilo colonial da época determinou janelas e porta enormes. Salas maiores ainda completaram a construção que adotou telhas estilo romanas. Portões de ferro maciço foram incorporados à obra que, depois de pronta serviu o governo estadual, municipal e, por fim, a iniciativa privada. Milhares de dezenas de pessoas nos mais de cem anos do imóvel passaram por ali. Ora acertando exigências burocráticas de órgãos públicos, ora buscando auxílio. E foi nesse último contexto que conheci a Casa Amarela que, atualmente, acode andarilhos, indigentes e dependentes de droga. Gente à margem da sociedade e que, muitas vezes, tem ali o único banho e alimentação decente pelo menos uma vez na semana. Abandonadas pela sociedade, e por si próprias, vivem algo impossível de explicar com palavras e, somente ali, na mão de missionários dedicados, encontram. Além do alimento sólido, alimento espiritual por meio de um sorriso amigo.
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Minha intenção ao estar ali era de ajudar um amigo e irmão em Cristo que procurava libertar-se das drogas. Tentávamos uma internação para ele, o que parecia ser impossível conseguir diante da procura e de uma fila de espera imensa para o tratamento. Era necessário ir continuamente para assegurar a vaga numa desistência ou milagre de Deus. Oramos seguidamente por isso e íamos juntos todas as terças-feiras, pois não queria que ele desistisse. E numa terça em especial, ao entrarmos na sala em que seríamos atendidos, a própria assistente social disse que havia pensado nele a semana toda e que havia uma vaga caso quisesse ir naquele dia. Pensei... “milagre de Deus!”. Ele embarcou na mesma hora que sua esposa, cansada de tudo, tomava o ônibus do outro lado da cidade, rumo à Alagoas. Cansada da vida que levava com ele e da situação, foi embora com os filhos para casa da mãe. Dias antes havia conversado com ambos e dito que Deus estava no controle. Seguramos a onda juntos e, no trem que o levaria para uma clínica em Juquitiba, disse que ele estava entrando no tempo de Deus e que acreditasse que tudo já havia sido planejado pelo Senhor. Um abraço forte e olhos lacrimejantes se fizeram presentes na despedida. Já faz um tempo que não falo com ele, pois é necessário um bom tempo para que a pessoa que se interna reflita sobre sua vida e sobre o que quer. Em breve, irei visitá-lo. Mas não fiquei em paz e voltei à Casa Amarela outras vezes. Lá conheci, o Cícero Pedro, o Vanderson, o Wellington, o Rodrigo, o Fabiano, a Maria e tantos outros que são chamados de covardes. Mas, quando se conhece melhor a história de cada um deles, vejo que eu é que sou o covarde e que não há diferenças
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entre mim e eles. Somos idênticos em nossas dores, medos, tristezas etc e, talvez,o que nos diferencia é como agimos. Porém, quando me sentava no chão com eles e conversava sobre Jesus e me ouviam, nos tornávamos um só. Quando via um lampejo de esperança em seus olhos ao ouvir o Evangelho e escutava que queriam sair daquela vida, pensava como Deus era generoso comigo em permitir que vivenciasse (e conhecesse de fato) a graça de Jesus. Na minha última visita que fiz a casa, lembrei-me do filme “O quarto sábio” e, mais uma vez pedi desculpas ao Senhor por não fazer mais. “Deus, Deus, Deus... abra meus olhos, por favor!”
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43. Undulatus asperatus “O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos.” Apocalipse 3:5
O tempo havia mudado. O sol forte da manhã desaparecera em questão de minutos e nuvens escuras tomavam formas assustadoras. Raios ecoavam em vários lugares e, vez ou outra, relâmpagos cortavam o céu clareando-o por segundos. Em instantes, uma forte chuva caiu, acompanhada de ventos fortes que dobravam eucaliptos a poucos metros da janela de minha casa. Ao olhar para o céu, via uma nuvem tomar uma forma única, cada vez mais densa. Minha impressão é que ela queria alcançar o chão e despedaçá-lo, destruir tudo que fosse possível. A ciência chama esse tipo de nuvem de Undulatus asperatus, que significa ondulação turbulenta, e é considerada uma anomalia atmosférica. Ela pode durar minutos ou horas, é rara e vem sendo estudada pelos meteorologistas que a consideram um espetáculo da natureza, porém, enfrentá-la a céu aberto é aterrador.
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Ao vê-la crescendo em proporções assustadoras, pensei que as tribulações que nos aparecem na vida é como a undulatus asperatus. Elas chegam em dia iluminado, quente e em que estamos tranquilos. Ambas não pedem licença e transformam nossa vida em escuridão. Sentimos medo já que, na maioria das vezes, estamos apenas observando a vida passar de dentro de nossa casa. Mas se a undulatus traz as trevas, com ela também vêm os relâmpagos para iluminar o escuro. Se comparo nuvens com tribulações, Jesus Cristo também aparece para iluminar o caminho nas dificuldades da vida. Ele vem mostrar a saída e as formas de vencer o medo e, nessa hora, nós é que decidimos se queremos por instantes ou para sempre. Acredito que, nas dificuldades, teremos de enfrentar rejeição, perseguição, tristeza profunda, e, às vezes, nos sentir sozinhos, fracos, abatidos, vazios espiritualmente até, parecendo que tudo se acabou. E, assim, como mortos vivos num deserto, não resta mais nada a não ser solidão. Mas é nessas aflições que Deus nos exorta, nos corrige e nos diz para não sentirmos medo. Antes, diante de tempestades existenciais, sentia medo. Hoje, não mais. Antes me escondia, corria ao menor sinal dela. Hoje, não mais. E digo a você que não tenha medo nesses momentos e entregue, de fato, sua hesitação a Jesus, porque Ele a transformará em vitória. Lembre-se: quanto mais densa, escura e tenebrosa for a tempestade, sempre haverá a luz de Jesus antes, durante e depois dela. E se isso acontecer durante o dia, você ainda poderá se alegrar com um belo arco íris, sinal da aliança que Deus quer fazer com você.
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44. Coragem, você consegue – parte 3 de 3 “O SENHOR é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação.” Salmo 118:14
Nunca desista, nunca volte atrás, nunca perca a fé. Nos seus seis anos como técnico de futebol americano de uma escola secundarista, Grant Taylor (Alex Kendrick) nunca conseguiu levar seu time, o Shiloh Eagles, a uma temporada vitoriosa. Ao ter que enfrentar crises profissionais e pessoais, aparentemente insuperáveis, a ideia de desistir nunca lhe pareceu tão atraente. É apenas depois que um visitante inesperado o desafia a acreditar no poder da fé que ele descobre a força da perseverança para vencer. Essa é a sinopse do filme “Desafiando Gigantes” que levou milhões de pessoas ao cinema em todo mundo e, hoje, segue carreira como um dos mais procurados nas locadoras de filmes espalhadas por todo planeta. Impossível não ver nas dificuldades do treinador Taylor um pouco de nós mesmos. Afinal de contas, dificuldades acontecem com todos há qualquer momento. Do começo ao meio do filme, uma
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série de sequências desanimadoras minam a resistência daquele homem que se pergunta: “por que eu?” Porém, por estar envolvido em dificuldades, ele não percebe que o problema é ele mesmo e sua falta de fé. Por incrível que pareça, o clímax do filme não se dá no final e sim no meio dele, quando ouve uma conversa: seria substituído, em breve, no comando do time por seu auxiliar. Triste, vai para casa, mas antes, vai a uma clareira perto de sua casa, abre a Bíblia e lê um salmo. Deus fala, então, no coração dele, que sente paz e decide mudar o rumo de sua história. Na cena seguinte, ele conclama os jogadores a mudarem também a atitude de derrotados para uma de vencedores. E, de fato, a mudança tem início. Numa cena clássica, que entrou para a história de muitas vidas, um dos jogadores leva outro nas costas de um lado a outro do campo. Antes, nem sozinho ele conseguia. Ali, a superação dá o tom e dita o rumo de uma nova vida para todos. A cena é de arrepiar! Nisso, coloco-me a pensar em várias questões. Alguma vez você já se sentiu tão impotente diante de um problema achando que seria esmagado por ele? Eu já! Já chegou a pensar que Deus não estava ao seu lado ao lutar contra um grande mal em sua vida? Eu já! Em algum momento, se viu sem coragem para enfrentar obstáculos aparentemente intransponíveis? Eu já! E sabe por quê? No meu caso, porque sou falho, pequeno, às vezes inconsistente e, acima de tudo, humano. Graças a Deus que esse Deus em que acredito, hoje, sabe de tudo isso em relação a mim, mas Sua misericórdia e amor reservados para mim são infinitamente maiores que minha humanidade. Assim como o treinador, num determinado dia, resolvi que Jesus seria meu condutor a uma nova vida. Acreditei
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que só Ele poderia recomeçar algo em mim. Dar uma nova chance a um perdido. E assim foi. Atualmente, sei que maior é o que está mim, não o que está no mundo. Hoje, acredito que ondas gigantescas são erguidas para derrubar meu barco, porém, Jesus é maior que elas. Sei que o inimigo levanta hordas para me atacar, mas numa proporção maior (e vitoriosa), Deus ordena para que exércitos de anjos estejam ao meu redor protegendo-me espiritualmente. Acredito nisso apenas pela fé. Não por teorias ou doutrinas, mas pela fé. Você também pode ter essa certeza. Se nesse momento as agruras da vida tentam te derrubar, se você vê que nada mais pode ser feito, que tudo indica fracasso, que a desilusão e o desânimo estão fortes que nem é mais capaz de pensar em uma virada, escute o que lhe digo: Jesus pode dar a você a virada. Coragem, você consegue! Deixe apenas que Jesus entre em seu coração e lhe dê uma nova vida. Acredite que Ele pode fazer isso, comigo funcionou. Por que não funcionaria com você?
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45. Eu preciso conhecer Jesus – Parte 2 de 3 “Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram.” Mateus 25:35-36
As luzes se apagaram. Era o sinal que o filme “O Quarto Sábio” começaria. Nunca havia ouvido falar nele, tampouco o que dizia. Também não imaginava como ele impactaria minha vida. O silêncio se fez e os letreiros com os créditos iniciais vieram à tela. O burburinho da plateia diminuiu, diminuiu e calou-se. Fui remetido aos tempos de Jesus, pouco antes de seu nascimento, quando um homem sábio, chamado Artaban (Martin Sheen), príncipe na antiga Pérsia, procurava nas sagradas escrituras o significado real da vida e, descobre nas profecias sobre a vinda do Salvador, Jesus, o Rei dos reis. Decidido a encontrar o Messias, Artaban vende toda sua fortuna, transformando-a em três pedras preciosas para oferecer de
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presente ao verdadeiro Rei. Eu preciso conhecer Jesus, dizia. Iniciou, então, uma jornada com um escravo de seu pai através do deserto, para encontrar-se com os três reis magos e, com eles, ir ao encontro do rei Jesus que nascera. Entretanto não chega a tempo de encontrá-los no ponto marcado e começa uma procura por Jesus que duraria 33 anos. Sempre que ele e o escravo descrente estavam prestes a encontrá-Lo, acontecia um imprevisto e eles O perdiam. Porém, no decorrer da procura, Artaban usou os presentes para ajudar pessoas em grandes necessidades, ficando sem nada para presentear Jesus quando o encontrasse. Durante esse tempo, além de ajudar as pessoas com seus bens, o sábio deu seu próprio tempo e conhecimento na medicina para os aflitos e necessitados e ficou muitos anos numa colônia de proscritos, ladrões e prostitutas. Ali, para acabar com a miséria, ensinou-os a plantar, ler e ter uma vida digna. A história atinge o seu clímax quando Artaban, morrendo, encontra o rei Jesus e compreende, finalmente, o verdadeiro sentido da vida. Nesse momento, ele pede desculpas por não estar com os presentes que tinha no começo da jornada. Jesus olha para ele com ternura e diz: “Quando você ajudou cada um dos aflitos e necessitados, você me presenteou de verdade”. Assim como o personagem da história, passamos muito tempo de nossa vida buscando respostas que estão bem diante de nós. Trabalhamos, trabalhamos e trabalhamos. Nossa ideia é de que precisamos de bens para satisfazer, primeiro nosso ego, e depois achar que, com eles, podemos honrar Jesus dizendo “isso foi bênção”. Não que não seja, mas, no caminho, quantas pessoas passaram por nós necessitando de nosso tempo, de nossas palavras? Quantas não clamaram por socorro e, na busca pelas
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nossas vitórias, sequer as ouvimos? Nosso conhecimento poderia ter ajudado, feito a diferença na vida delas. Recentemente, levei um amigo a uma clínica de recuperação e, na espera pelo atendimento, sentei-me no chão do lado de fora da casa com alguns moradores de rua. Conversei com eles e falei de Jesus, do amor do Filho de Deus para com todos, inclusive eles. Fui chamado pelo amigo para falarmos com a assistente social, mas, antes de deixá-los, ouvi de um deles que só o fato de ter dado atenção (o que foi muito pouco de minha parte) fez uma grande diferença na vida deles. Senti-me alegre e, imediatamente, lembrei-me do fim do filme. Perguntei a mim se o que tenho feito é suficiente. Eu não sei a resposta, mas, quando enfim estiver cara a cara com Jesus, como esteve Artaban, também quero pedir desculpas por não ter feito mais.
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46. Vamos para casa – parte 1 de 3 “Na realidade construí para ti um templo magnífico, um lugar para nele habitares para sempre!" 1 Reis 8:13
Ethan Edwards (John Wayne) é um homem que parte em busca de vingança contra os índios comanches que exterminaram sua família ao mesmo tempo em que tenta resgatar com vida, sua sobrinha raptada por eles. O filme Rastros de Ódio é baseado em uma obra de Alan Le May e um dos melhores westerns feitos para o cinema. Ethan, assim como muito de nós, em algumas vezes perseguimos o objetivo certo, porém de forma errada e, no decorrer da busca, sua motivação (assim como a nossa) começa a se tornar questionável. A história é verídica e ocorreu na época da colonização do oeste americano. No decorrer do filme, aparecem as mais diversas situações e dificuldades, as mais belas paisagens de Monument Valey e pessoas que o ajudam além de outras que o atrapalham. Enquanto muitos desistem da busca, pois no começo o grupo era grande, ele continua junto com o irmão da raptada. A tensão começa a crescer à medida que o tempo passa e as notícias que chegam da sobrinha ter se
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tornado, mesmo que a contragosto dela, parte do grupo comanche que promove um rastro de destruição por onde passa. Nesse filme, o diretor habilmente associou passagens bíblicas (são várias durante o filme) com alguns dos sentimentos humanos como ódio, vingança, racismo, solidariedade, amizade e amor pelo próximo. E, nesse contexto, nos identificamos com cada um dos personagens que estão no filme. O clímax do filme se dá nos instantes finais, quando, finalmente, encontram a aldeia. Nesse momento, até a cavalaria americana se une à dupla para tirarem com vida a jovem da aldeia. Mas todos sabem que o tio, na verdade, queria matá-la por não suportar a ideia de a pequena Debbie ter se tornado uma das esposas do chefe da tribo. Na invasão da aldeia e na confusão instalada, Ethan se vê frente a frente com a sobrinha e ela percebe o ódio nos olhos dele e corre em disparada. A cena é figurativa (e para reflexão) e mostra a sobrinha correndo morro abaixo na direção de uma caverna escura. Antes de chegar, porém, tropeça e cai. O tempo foi suficiente para o tio alcançá-la. Ele desce do cavalo, a ergue por cima da cabeça e ambos trocam olhares diferentes. A compaixão vem, então, aos olhos de Ethan e ele a traz para o peito segurando-a delicadamente. Então, pronuncia uma das frases mais célebres do cinema: “Vamos para casa, Debbie”. E, literalmente vão. Ao chegar à casa, parentes estão esperando e a comoção é geral, inclusive a minha. Ela ainda está no colo dele que a entrega para cuidados da família. Todos entram em casa com exceção daquele que a salvou que parte para, talvez, salvar mais “Debbies”. A mensagem dessa cena é o resgate e é possível ver que houve alegria em trazer de volta o que estava perdido, não só a garota como a humanidade do personagem principal.
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Creio que, em nossa caminhada, muitas vezes buscamos o objetivo correto, porém da forma errada. Queremos realizar nossos desejos e nos perdemos em coisas vazias que, ao conquistá-las, continuamos ocos, sem alegria. Nessa busca incessante por respostas e bens materiais, sentimos ódio, rancor, inveja, frustração, desânimo etc. Às vezes, também perdemos a direção do caminho e ficamos rodando a esmo sem chegar a lugar nenhum, procuramos algo sem determinar o que queremos. Jesus disse que o único caminho ao Pai é Ele e que na casa de Deus há muitas moradas, a eterna, e o que fazemos aqui é o que, vai fazer a diferença de como vamos e para onde vamos após esta vida. Vivemos tempos de heróis da fé, tempos em que é preciso sermos pequenos para sermos grandes. Nosso pior inimigo sempre será nós mesmos e é conosco que devemos lutar para manter a fé e a unidade, o ânimo e desejo de uma vida melhor, tanto aqui quanto lá, naquela morada. Uma batalha pode estar sendo travada dentro de você. O momento é decisivo e só cabe a você decidir como e para onde quer ir. A minha alegria (e certeza, porque entreguei minha vida para Jesus) é saber que, mesmo ao querer desistir e correr para longe como aquela garota, antes de entrar em uma caverna escura, Jesus me levantará do chão, me colocará em Seu colo, olhará para mim com compaixão e dirá: “vamos para casa, meu filho”. E você, tem essa certeza?
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47. A pequena notável “Busquei o Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores.” Salmo 34:4
A pequena cidade de Araçuai está situada no Vale do Jequitinhonha, ao norte de Minas Gerais, e tem pouco mais de 150 mil habitantes. O povo de lá leva uma vida pacata e longe dos problemas diários das grandes cidades e, atualmente passa por grandes problemas. Também é considerada uma das mais pobres do Brasil, porém, poucas pessoas sabem que, no passado, ela era uma das regiões mais ricas do País e grande produtora de pedras preciosas. Araçuari fazia parte da trilha do ouro. Guardadas as proporções de tempo e espaço, essa cidade, apesar de ter sido completamente explorada, continuou produzindo pedras preciosas. E foi de lá que saiu uma que tive o privilégio de conhecer. Lembro-me em conversas passadas quando ela contava parte de seu sofrimento na humilde casa dos pais nos tempos de infância, as dificuldades de se morar em local tão longe, afastado de tudo e de todos. O pai era um homem duro enquanto a mãe, esforçada. Ela contava também as brincadeiras com os irmãos ao redor da
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casa, falou-me uma vez de uma boneca de pano e dos sonhos de vencer na vida. Falava também da vontade de sair de lá e ser alguém. E foi isso que fez. Contra todos e tudo, saiu... Passou um tempo na casa de uma tia. Trocava trabalhos domésticos por estudos. Essa era a forma que encontrara para poder ser alguém. Um dia, sentiu o desejo de vir para São Paulo, e veio. Ficou com outro irmão até se firmar. Continuou os estudos, começou a trabalhar e a cidade, que a vira nascer, agora era apenas lembrança. Esforçou-se e se encontrou financeiramente num setor que os homens eram os melhores e davam pouco espaço para mulheres, principalmente uma que havia vindo há pouco das terras das jóias raras: Minas Gerais. Mas a pequena notável não se intimidou e jogou-se na luta, encarando, frente a frente, adversários de peso. O esforço foi recompensado. Vieram viagens, carros, um apartamento, e por fim, Jesus Cristo. Em um dia importante para ela, abriu o coração e deixou que Cristo a salvasse. Posteriomente a isso, ainda foi abençoada com uma faculdade, uma pós graduação e outra está a caminho. Quando me lembro de nossas conversas, me vem um desejo muito forte de continuar lutando. Penso naquela mulher como um gigante de Deus, que não se abalava e lutava, se esforçava para ser cada vez melhor diante de Deus. Conheci poucas pessoas com um coração tão misericordioso como o dela. Que realmente se importava (e se importa) com os outros. Ocasionalmente, nas oportunidades que tenho de conversar com pessoas que me procuram com os mais diversos problemas, desânimos e tristezas, conto um pouco daquela mulher que deixou uma parte da vida para trás e venceu, mesmo com tudo
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sendo contra. Assim como ela, muitas outras pessoas tem histórias semelhantes, mas, no caso dela, pude ser testemunha ocular de muita coisa. Ainda hoje sou influenciado pelas doces palavras dela pronunciadas diante das dificuldades que passava naqueles tempos. Ainda hoje sou capaz de ver o sorriso meigo e as palavras de coragem para os amigos. A pequena notável é daquelas pessoas que passam e deixam marcas. Que é possível ver e sentir o amor de Cristo na vida das pessoas. E nesse dia, que marca a vinda dela ao mundo, seja um repensar não só para ela, mas para nós com seu exemplo, que viver em Jesus é o melhor que podemos fazer. Acreditar nEle faz toda a diferença.Feliz aniversário pequena notável.
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48. O segundo tempo “Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!” Salmo 90:10
Numa certa partida de futebol a que assisti, os dois times, que estavam em campo, precisavam desesperadamente da vitória. O primeiro time nem chances tinha, se perdesse estaria, no ano seguinte, em divisão inferior e o segundo, dependeria de uma série de combinações para não cair. Ao entrar em campo, ambos estavam resolutos e confiantes de que não cairiam e certos da vitória. Boas jogadas, lances espetaculares, passes geniais, mas o gol, que era o mais importante, não acontecia. Veio o intervalo e diferentes opiniões de como vencer dadas por comentaristas ditos “entendedores” do assunto. Os times voltaram e o juiz, então, deu o sinal de início da partida, e o segundo tempo começou. A genialidade deu lugar ao desespero, confusões e brigas. Várias vezes, foi preciso parar o jogo, pois uma verdadeira guerra estava sendo travada no campo.
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Perdeu-se o respeito pelo adversário e, cenas deprimentes começaram a mostrar o outro lado do ser humano: o mesquinho. A partida terminou em empate e homens, antes confiantes, choravam como crianças, pois os dois times jogarão na segunda divisão no ano seguinte. Quando faço uma análise de minha vida comparando-a com esse jogo de futebol, percebo que estou no segundo tempo dela, pois a Bíblia diz que “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos...” (Salmo 90: 10), ou seja, estou aos 7 minutos desse segundo tempo e com pouco tempo, se comparado ao que perdi correndo atrás de um jogo que estava perdido, assim como para os dois times. Perdido porque eles tiveram um campeonato inteiro para não estarem naquela condição e poderiam ter levado mais a sério o que estavam fazendo e não deixar para, no último instante, o querer reverter erros passados. Isso é impossível, certo? Errado! Para Deus é possível reverter até no último segundo, afinal de contas, não foi isso que Ele fez com o ladrão que se arrependeu antes de morrer, quando tudo já se conduzia para o fim e disse sim para Jesus? É esse “sim” que muda uma vida, partidas de futebol etc. Tive minha chance aos 3 minutos do segundo tempo e, ao aceitar Jesus como meu Salvador, uma nova partida de futebol se abriu à minha frente. Nela, sei a hora que preciso atacar ou defender. Passar a bola ou correr para cobrar a falta. Abandonei as boas jogadas, os lances espetaculares, os passes geniais e a resolução de que não cairia nunca. Como era tolo. Hoje não ligo para as opiniões dos “entendidos” que querem apenas me afastar do verdadeiro Juiz.
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Na época, uma certa segunda-feira atípica, quando Ele apitou para o começo do meu segundo tempo, eu disse um “sim” verdadeiro. Creio que ainda tenho mais um bom tempo para jogar essa partida e, se Deus permitir, um pouco mais, porque ainda tem muita gente jogando a partida errada. Quero dizer com isso que não sou o dono da verdade, mas descobri a verdade, e ela me libertou. Digo também que é hora de você ver em que tempo está nessa partida de jogo de vida e reavaliar o que fez, faz e pode fazer. Se fizer certo, pode levar paz onde há desavença. A verdade é e sempre será, o mais convincente argumento. O bem não faz barulho, não cria confusão, mas traz solução. Sua alma, assim como a de muitos, pode ser alimentada por essa verdade chamada Jesus Cristo. Com Ele, tanto o primeiro quanto segundo tempo podem ser jogados tranquilamente. Para isso, deixe apenas que Ele seja o Juiz de sua partida de futebol chamada vida. E viva, de (e na) verdade.
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49. Sua dor passará “De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados.” 2 Coríntios 4:8
O dia esteve chuvoso o tempo todo. Alheia às minhas tarefas à frente do computador, uma das ferramentas de meu trabalho como jornalista, a chuva caiu incansável. A água vinda dos céus escorria pela janela, lavava as calçadas, irritava algumas pessoas, mas, simplesmente, caía dos céus. Dias assim nos fazem, mesmo que absortos no trabalho, pensar um pouco mais além do normal. Talvez, a monotonia da chuva, talvez a monotonia das coisas, da vida em alguns momentos, talvez... são tantos talvez em nossa vida que, talvez, eles sejam tão importantes quanto necessários. Entre linhas escritas, telefones atendidos e as pessoas de sempre, algumas me vieram à mente. Os problemas delas também. As dores idem. Uma em especial me fez pensar na dor que tem sentido, na dificuldade de superar o erro do passado e seguir adiante e, aqui, penso que, além dela, eu e você também temos as nossas dores,
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nossos medos quase que insuperáveis, nossas vidas nas mãos de quem nem pensa, muitas vezes, mais em nós. E a chuva continua impávida, colossal. Caindo! Porém, ela cessará e, em breve, o dia brilhará e trará, junto com ele, o renovar das esperanças, da alegria, de algo, ou de alguém. O que você fizer hoje para sufocar isso é insignificante, mas é importante que assim se faça. Porque o dia seguinte será sem dúvida melhor. Nossa infelicidade é momentânea mesmo quando parece eterna. Sabe por quê? Por que a alegria não está no tempo, nas dores, nas coisas, nos bens, mas em nós. Erros existem, mas acertos também. Às vezes, o coração está pequeno, apertado, mas maior é sua alma. Sabe por quê? Por que ela pode voar. Ir a onde seu corpo não pode. Creio que ao chorarmos, nos recuperamos mais depressa e voltamos a sorrir com mais freqüência. Nesse processo de transição entre tristeza e alegria, você pode querer fugir das pessoas. Você pode querer passar o dia longe do sol, da claridade. Pode querer fugir dos abraços, dos sorrisos, de pessoas que te amam. Mas sua dor passará. Sua vida é um ato de paz, não de guerra. Suas lágrimas são recolhidas, uma a uma, por um Deus de misericórdia e por isso afirmo: sua dor passará. Você pode sentir uma dor insuportável no coração. A alma presa, mas sua dor... ah, ela passará. Você só viverá quando em sua vida existir amor e for amor. Somos mortais e sentirmos medo de um recomeço é natural. A felicidade entra em corações abertos a ela, mesmo quando sua
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dor parece não cessar e esse coração não pára de sangrar. Mas creia, sua dor passará. Hoje ou amanhã, não sei, mas passará. O perdão é o que alimenta o convívio e o torna possível. O perdão nos faz ser aquilo que não acreditamos que podemos ser. A felicidade que citei acima não é possível chegar sem lutas, desprendimentos, atitudes. Ela está associada às suas verdades. Ame-a, então, e perdoe os erros... dos outros e os teus. Jesus deixou claro, muitas vezes, que o que consumia o ser humano era sua própria vaidade e não seus erros. E o que é não perdoar se não vaidade?
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50. (re) Construir uma nova vida “...tempo de derrubar e tempo de construir.” Eclesiastes 3:3b
Há alguns meses, quando comecei a passar por uma determinada rua do bairro Ipiranga para meu trabalho, observava um terreno que abrigava uma casa muito velha, talvez do século passado. As janelas haviam caído há muito tempo, assim como parte do teto e algumas paredes. O muro era coberto por um musgo cinza que dava um ar mais assustador à casa secular. Imaginei que ali, em tempos passados, uma família grande viveu dias prósperos e felizes naquele terreno espaçoso. Na imaginação, também vi crianças correndo pelo quintal e pais felizes recebendo visitas de amigos e familiares. Em algum momento de sua vida, e por algum motivo, partiram. A casa, antes cheia de vida, foi se desfazendo até chegar à situação que a vi pela primeira vez. Tempos depois, reparei numa cerca daquelas que indicam obras à vista ao redor do imóvel e, numa certa segunda-feira, um tanto desanimado com algumas situações particulares, de longe ouvi o som do que parecia um trator e, imediatamente, pensei: estão demolindo a casa. Acertei! Um trator jogava ao chão um sonho de alguém que, um dia, morou dentro dele e foi feliz.
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Mais alguns dias e percebi um terreno completamente limpo com uma obra a todo vapor. Vários trabalhadores dividiam diversas tarefas e, a cada dia, observava um avanço considerável por parte da equipe de trabalho que levantava, agora, um novo sonho de alguém. Vejam só, um sonho se foi, outro chegava. Tomava forma. Quando penso em minha vida, o que aconteceu com ela não foi diferente do que aconteceu com aquele terreno. Construí um sonho que pensei ser o melhor para mim e, um dia,ele ruiu, caiu, quebrou... Havia abandonado a casa como aquela casa havia sido abandonada por alguém e o tempo cuidou do resto. Caíram minhas janelas, meu telhado, minhas paredes e eu estava tão cinza quanto aquele muro. Estava morto e não sabia. E quem apareceu para me tirar dessa “morte espiritual”? Ele mesmo: Jesus Cristo! Como o trator, derrubou o que estava velho, sem vida. Limpou o terreno de um lado a outro, cercou o muro e começou a (re) construir uma nova vida em mim. Assim como aquele terreno que ganhava uma nova vida, eu também ganhava um recomeço. Hoje, vejo que os alicerces já foram lançados e as paredes erguidas, assim como aquela obra no Ipiranga, aos poucos vai tomando forma. Em breve, as duas obras estarão prontas, a do terreno aqui, e a minha, na eternidade com Jesus, porque permiti que Ele me desse uma nova vida, esperança e novos sonhos. Para mim, tem sido um privilégio acompanhar aquela obra e ver o quanto sonhos podem ser refeitos, assim como vidas. Como eu decidi, um dia, por isso, minha oração é que você deixe Jesus fazer o mesmo com você. Mesmo que não ache isso mais possível, Jesus é o Senhor do impossível e pode, sim, mudar você de endereço e
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tenha certeza de que esse é bem melhor do que aquele que prende você a uma vida de ruínas. Ter uma nova vida com Jesus só é possível se você assim o permitir, pois Ele bate à sua porta e, se convidá-Lo, Ele entrará e comerá com você até o dia em que estaremos em uma casa em que não mais haverá janelas, paredes e tetos passíveis de queda. Esse lugar chama-se céu. E lá encontraremos descanso e alegria.... uma eternidade de paz.
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51. É no futuro que você passará o resto de sua vida “No futuro, quando os seus filhos lhes perguntarem: 'Que significa isto?', digam-lhes: Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão.” Êxodo 13:14
Houve uma época em que o povo escolhido por Deus para representá-lo perante os homens vivia no cativeiro egípcio. Eram dominados por pessoas que cultuavam diversos deuses e também, de certa forma, viviam escravos das vontades desses deuses. Um dia, Deus disse “basta” e elegeu um homem para retirá-los do Egito opressor: Moisés. Várias foram as tentativas do faraó para deter os israelitas, porém, a mão do Senhor estava com o povo que havia sido escolhido para perpetuar entre a humanidade, Sua vontade divina. Muitos fatos ocorreram e, sem dúvida, no tempo determinado, Deus libertou os israelitas e os levou à terra prometida fazendo-os atravessar um mar, depois um deserto e, por fim, um rio. Em nossa vida, muitas vezes, não percebemos que estamos presos a algo. Somos verdadeiros escravos espirituais e não
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vemos um Deus libertador, cheio de misericórdia por seu povo. Nessa prisão, certos egípcios nos fazem perder a esperança e nem sequer ter vontade de atravessar as dificuldades que aparecem à nossa frente porque acreditamos que somos incapazes de atravessá-las. Se Deus mandou, naquele tempo, Moisés para salvar esse povo escolhido, hoje Ele envia Jesus para te libertar. Para dizer a você: “ei... queres liberdade? Venha até Mim e descanse porque Meu jugo é mais leve”. Jesus diz que é o único passaporte para a vida eterna e, agora lhe pergunto: onde você quer passar a eternidade? A você, hoje, é dada a oportunidade para esta escolha, afinal de contas, é no futuro que você passará o resto de sua vida. O presente é temporário e apenas a continuidade de seu passado. Seu futuro é agora, até porque não sabe até quando estará entre os que respiram, mas, se fizer sua opção em seguir Jesus, o libertador de cativos, escravos e dependentes de vários deuses, seu futuro é eternamente num lugar em que não haverá choro ou ranger de dentes. Por fé, seus obstáculos podem ser vencidos e, se está diante de um mar, deserto ou rio que parecem ser intransponíveis, deixe Jesus cuidar disso para você, pois a Ele foi dado todo poder e autoridade. Você pode escolher entre céu e inferno. Se escolher Jesus, estaremos juntos glorificando, louvando e adorando um Deus de verdade, não de mentiras. Há alguns anos, pedi libertação e fui libertado, cheguei a um mar e Jesus permitiu que atravessasse. Cheguei ao deserto e, sem reclamar, pedi forças para atravessálo e consegui chegar ao rio. Ainda não atravessei o rio porque, deste lado da margem em que estou, tem muita gente que ainda precisa de ajuda e sei que posso, em Cristo, ajudá-las a atravessar o rio. Algumas tem ido à minha frente e por aqui
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aguardo o sinal verde de Jesus para ir também e, quando isso acontecer, meu desejo é que você venha comigo. Se este for o seu desejo, levante suas mãos para o céu, chame por Jesus e entregue sua vida para Ele que disse: na casa de meu Pai tem muitas moradas e sigo primeiro para prepará-las. No futuro de Deus, eu já tenho um espaço, e você?
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52. Dar linha na pipa “É Deus quem me reveste de força e torna perfeito o meu caminho” 2 Samuel 22:33
À tarde estava se despedindo quando me encostei ao muro de uma instituição que cuida de pessoas da terceira idade para esperar uma amada irmã. Juntos iríamos a um compromisso evangelístico com outras pessoas. Fotos de homens e mulheres com as expressões do tempo no rosto, que estavam perfiladas por todo muro, me chamaram à atenção. Observei cada uma das fotos e pensei nas lutas que aquelas pessoas travaram durante sua vida e como foram importantes na vida de outras pessoas antes de serem colocadas ali. Suspirei profundamente, tive compaixão delas. Voltei-me para o outro lado e vi uma porção de pipas no ar, a certa distância. Eram azuis, verdes, amarelas, outras coloridas, umas com rabiolas grandes, outras pequenas. Contei uma, duas, três, quatro... e cheguei a vinte. Lembrei-me do meu velho e querido Riacho Grande em tempos passados em que subia o morro com meus amigos para empinar pipas, também multicoloridas. Olhei novamente para as fotos, para as imagens de pessoas esquecidas pelo tempo, pela vida, por pessoas. Numa volta, coloquei novamente meus olhos nas pipas que
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disputavam espaços aéreos e atenção de outros garotos. Vi que algumas subiam, subiam e pareciam alcançar o topo do céu, enquanto outras se arranhavam, embaraçavam-se e caíam vertiginosamente no chão. Lembrei-me, de uma gíria muito comum entre os jovens quando querem novas emoções ou se cansam de algo: dar linha na pipa. Associei, então, velhinhos, pipas e eu. As pipas que subiam bem alto voavam tranquilas, como se estivessem sendo controladas por Deus, vi que aqueles senhores e senhoras, um dia, em terra firme, fizeram parte da vida de alguém e eu... bom eu, mesmo que um dia faça apenas parte de uma porção de histórias, num certo final da tarde de um distante abril, igual aquelas pipas enchi-me de coragem e dei linha na minha pipa que subiu, subiu, subiu até pousar suavemente nos pés de Jesus Cristo. Com Ele, chorei e me arrependi de erros, de uma vida obscura, apagada e triste. Carinhosamente, o Rei dos reis pegou-me em Suas mãos e, como os meninos consertam pipas quebradas, consertou-me. Reforçou meu estirante para me dar coragem na frente das provações, refez as varetas de minha estrutura para me dar resistência diante das tribulações, trocou o papel que recobria minha pele por seda para me dar amor pelas pessoas e aumentou a rabiola para me dar direção correta, mesmo que ande por vales de sombra da morte. Ao terminar, olhou em meus olhos e disse: agora voe! E voei. Desde então, tenho voado tranquilamente, mesmo quando ventos contrários tentam me derrubar e sei que, um dia voltarei a Ele. Entretanto, antes tenho algumas missões e projetos a realizar que foram colocados em meu coração por Ele mesmo, como este, de continuar escrevendo e dar a você uma chance, através de simples linhas, de não ser esquecido, de não ser uma foto
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pendurada numa parede, nem se embaraçar e cair. Nesse momento, se você já conhece Jesus, mas está longe, volte, e se você ainda não entregou sua vida a Ele, esta pode ser a hora para isso; basta apenas dar linha na pipa. Tenha certeza que Cristo espera por você!
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53. Profundo é o poço que ficou para trás Disse a mulher: O Senhor não tem com que tirar água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa água viva? João 4:11
Volta e meia, nos pegamos pensando sobre atitudes passadas. Erros, acertos, vitórias, derrotas, pessoas que fizeram parte de nossa vida e outras que ainda continuam fazendo parte dela, mesmo quando não queremos mais ou elas não nos querem. Pensamos, pensamos e não chegamos a lugar nenhum. Ficamos dando voltas a esmo e vivendo uma vida sem sentido. O que fazer com sonhos antigos que não aconteceram? O que fazer com lembranças que, vez ou outra, nos atormentam e voltam do passado para nos assombrar? Não como fantasmas, mas como ciclos de vida que não querem (ou não queremos?) terminar? Perguntas dentro de perguntas e perguntas sem respostas nos afastam do presente, mas, de certa forma, nos movimentam e nos fazem, ao menos, refletir. Se você, agora, pensar em atos passados, verá que se livrou de muita coisa. Quantas vezes você se salvou de situações que poderiam levar à morte tanto física quanto espiritual? Não saberia
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contar ou mensurar não é? Eu também! Todavia, uma coisa eu tenho certeza: profundo é o poço que ficou para trás em minha vida. Sei o que fiz e o que passei. Onde perdi e onde ganhei. Quem alegrei e quem entristeci. E lá, naquele poço, ficaram todas as lembranças e atos que desagradaram exatamente Aquele que sempre me livrou de tudo, inclusive de mim: Jesus. Ele me deu livramentos (assim como para você) porque tem planos para todos nós. Uma vez, num certo dia de abril de 2006, resolvi dar um basta na angústia e abri meu coração entregando minha vida ao Cristo redentor de que tanto ouvira falar, mas estava tão distante de mim, por minha cegueira e orgulho, quanto a lua está da terra. Ambas nunca estarão juntas, mas eu não tenho dúvidas de que Jesus está bem ao meu lado, como agora, em que estou num sobrado antigo com janelas altas, do século passado. O piso de madeira realça a beleza de uma porta bem mais velha do que eu, porém, aqui, sinto o Senhor falando comigo, mesmo quando lembranças e dedos em riste tentam demover de mim a idéia de que Jesus perdoou todos meus pecados. Ouço o vai e vem dos funcionários nas salas do lado, o tempo passa, as horas avançam e nada pára. Nem meu desejo de dizer a você, que lê estas linhas, que Jesus pode mudar sua vida. Ele pode te tirar do mais profundo poço e fazer com que veja um sol maravilhoso, como o que agora atravessa, em pequenos raios de luz, a janela do meu lado em que vejo, também, um céu anil inconfundível. Ele pode dar luz onde hoje só há trevas. Pode enxugar suas lágrimas e transformar seu lamento em festa. Jesus pode lhe dar esperança onde não existe mais. Se tem sede, somente Ele é que pode fazer com que você não seja parte integrante desse poço profundo em que está, mas, de um reino eterno onde não haverá
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choro, tristeza, mágoas, desespero ou trevas. Lá, só haverá alegria e paz. Assim como eu, muitos já fizeram essa opção e estaremos lá um dia, e você? Pense nisso e caso se decida, entregue sua vida a Jesus com essa simples oração: Senhor Jesus, reconheço que estou longe de ti, por causa do meu pecado. Peço a tua misericórdia e perdão. Entrego meu coração a ti e declaro que és Senhor da minha vida.
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54. A história que Deus escreveu para mim Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir. Salmo 139:16
O começo da manhã havia sido preguiçoso. Dormi um pouco mais do habitual porque também me deitei pouco mais tarde do normal. Troca de roupa, café da manhã e rua. No tempo de ir e vir antes do compromisso da manhã, alguns encontros e desencontros tentaram me desestabilizar. Resisti e prossegui rumo ao sítio onde seria realizado o primeiro batismo do ano da Igreja Batista Borda do Campo e, em oração, pedi que tudo ocorresse conforme os planos de Deus. E ocorreu! Um dia maravilhoso foi tomando forma, aos poucos. Céu sem nuvens, uma suave brisa, gente alegre, sorrisos e comunhão eram alguns dos ingredientes que cooperavam entre si para tudo ser perfeito, contrastando com um Deus perfeito. Já no local, num dado momento, parei, e diante daquela cena que já havia feito parte da minha vida num certo 17 de abril de 2006, lembrei de momentos de minha vida. Eles sempre se
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alternaram entre bons e ruins, com vitórias, alguns empates e derrotas. Não parei o pensamento e, enquanto o evento prosseguia, aprofundei o pensamento. Fui buscar as razões para tanta coisa acontecer e fazer de mim o que sou hoje e percebi, então, que até o dia da minha redenção, era eu que escrevia, em linhas, uma vida tão torta quanto elas. Vi que a única vitória, até aquele momento, era chegar exatamente nele, o dia da redenção, porque o resto havia sido fatos que não contribuíram para que eu, sequer, tivesse paz ou felicidade duradoura, apenas desilusões. Prossegui nas reflexões e quanto mais me lembrava dos acontecimentos, mas vinha a certeza que hoje sou diferente. Por quê? Porque, ao aceitar Jesus como meu Salvador, dei permissão para que Deus escrevesse novos capítulos no livro da minha vida e, assim, a história que Deus escreveu para mim, tem sido contada em cada lágrima de arrependimento, em cada palavra em que anuncio o Evangelho, em cada abraço que dou em um desconhecido, em cada aprendizado e conselho que recebo de um irmão mais experiente e, em dias como o deste sábado, em que vi muitas pessoas permitirem que o Senhor reescrevesse sua vida, como um dia assim O deixei. Retomei, então, a realidade daquele momento e consegui ouvir os louvores entoados por um grande público como se fosse uma única voz, vi lágrimas incandescentes descerem de olhos, entregando a vida a Jesus e senti uma paz tão grande, mas tão grande que nada poderia abalar, mesmo a lembrança dos dias difíceis que ainda virão, porém, nesses novos capítulos (e dias) da minha história, os fatos que criarão novas histórias serão escritos por quem criou o universo, eu, você e tudo mais. Isso
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é motivo de sobra para descansar, esperar, confiar e entregar. Se você ainda vive uma história que não te dá alegria, converse com Jesus e deixe que Ele seja, também, o autor de sua vida.
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55. Maria de Jesus “Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta, lembrem-se disso: Quem converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e fará que muitíssimos pecados sejam perdoados. Tiago 5:19-20
Tínhamos atendido um convite de uma irmã de outra igreja que trabalharia num evento evangelístico na cidade de São Bernardo e chegamos no meio da manhã. Depois de um rápido café, estávamos na rua entregando convites para as pessoas que passavam por nós para visitar a igreja e usufruir de alguns serviços que estavam sendo oferecidos como corte de cabelo, assistência jurídica, aconselhamento pastoral e psicológico entre outros. A manhã estava agradável assim como nossos sentimentos e desejávamos mostrar aos que passavam por ali um Jesus Salvador. Assim como outros envolvidos naquele local, eu não perdia oportunidades e lançava o desafio a quem passasse para mudar de vida. Já estávamos há algumas horas quando avistei de longe uma mulher que caminhava em minha direção.
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Surpreendi-me com o tamanho dela, pois me parecia ser muito grande. Encarei-a e, na medida em que se aproximava de mim, diminuía de tamanho. Cerrei os olhos. Pensei: meu Deus, o que é isso? Tem algo estranho nela. Estávamos a poucos metros um do outro, quando vi, de fato, seu real tamanho físico. Não tinha mais que 1,50. Senti que tinha de abordá-la. Falar com ela, pois tinha algo que não consegui visualizar de imediato. - Bom dia, posso entregar um convite para a senhora? - perguntei. - Sim! - Respondeu com um sorriso de um lado a outro da face. - Qual é seu nome? - Maria de Jesus. Aproveitei a deixa do nome e iniciei uma conversa, sempre olhando nos olhos dela. A pequena Maria era, de fato, de Jesus, pois o havia aceitado há alguns anos, mas decepcionou-se com uma igreja que frequentava há quase dez anos, porque se sentia humilhada por não dar o dízimo. Desempregada, viu, na coleta de papelão, uma fonte de renda pequena, mas sempre com quantias que permitiam sua sobrevivência. Perguntei onde estava sua família e me contou, com lágrimas, que estavam na distante Bahia e, aqui, só possuía um companheiro que conhecera nas ruas catando papelão. A cada pergunta, sentia uma paz tanto em mim quanto nela, e aos poucos, suas lágrimas foram trocadas por um sorriso maior ainda do que aquele que ela mostrou no começo da conversa. Disse que não deveria se importar com os homens que usam de forma errada, o poder que Deus lhe dá, mas que devia voltar à igreja e fazer sua parte, inclusive levar seu companheiro. Chamei um irmão que estava próximo e, ali, juntos oramos. Não disse
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mais nada, porém fiquei feliz quando ela afirmou que, ainda naquele, dia voltaria à igreja. Pensei no que aconteceu e concluí que aquela mulher era realmente uma grande mulher, porque me revelara que tinha ministério na igreja, mas que, pelo próprio homem, deixou de acreditar nela mesmo. Quando a vi partir, observei uma mulher restaurada e, com certeza, de volta à luta. Creio que existem muitas “Marias” perdidas, só precisando de uma atenção para voltar para os caminhos do Senhor e se você está nessa situação, este é o momento. Abra seu coração para Jesus, peça perdão e forças e volte. Tem muita gente precisando de você restaurado.
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56. O retrovisor Prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3:14
Há tempos não entrava em meu carro. Ao fechar a porta agradeci. Olhei os detalhes dos bancos, teto, piso. Todos cinza escuro. A chave na ignição virou-se e lá estava o bom e audível som do motor. Uma marcha ré, o fechar do portão da garagem e a rua bem à minha frente me convidou para um passeio. Primeira marcha, segunda e terceira. Semáforo! O verde apareceu. Movimento novamente. As pessoas passavam e eu ganhava distâncias. Trafegava... observava! Um mundo vinha em minha direção pelo vidro da frente, enquanto outro se distanciava pelo retrovisor. Nele, pessoas ficavam para trás e, com elas, pensamentos que diziam: “Pedro, as imagens do retrovisor de seu carro é como o passado, vai ficando, se distanciando e, depois, é simples lembrança”. Lembrei meu passado, pessoas, família, amigos, futebol, pipas no ar, quando as empinava nos morros de meu velho e querido Riacho Grande, sonhos e principalmente tempos que não voltam mais. O passado é algo, realmente, impressionante e um amontoado de vitórias, fracassos, tristezas e alegrias. Vivemos
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com ele o tempo todo, pois o que nos move ao futuro é exatamente o que fazemos de nossa história passada. Lembreime, então, de alguns amigos. Uns vivem alegres porque, tanto com as vitórias ou a falta delas, hoje vivem felizes pois aprenderam lições e as transportaram para o presente e acreditam num futuro diferente. Lembrei-me, no entanto, de outros amigos que se encontram perdidos, sobrevivendo e não vivendo uma graça redentora que Jesus nos deu ao pagar por nossos erros entregando-se em uma cruz. Para quem está nessa situação, digo por experiência própria que o passado deve ficar exatamente onde está: no passado. Não deixe que más lembranças acabem com você. Viva um novo tempo para que, em breve, tenha boas lembranças, pois o que foi feito não é possível mudar, mas o que pode fazer hoje se estiver em Cristo, com certeza produzirá boas lembranças em tempos futuros. Não as impeça em sua vida. Não olhe para trás, mas sim, para frente. Toda jornada tem um primeiro passo e, hoje, você pode dá-lo se confiar nAquele que promete mudanças verdadeiras: Jesus Cristo. Assim, você pode dar equilíbrio à luta entre o bem e o mal, porque se o medo trava suas pernas, a coragem que Deus te dá nos momentos de dificuldades impulsiona você para frente. O medo é perigoso e cega nossa visão. Se ele for maior que você, consequentemente, muitas bênçãos que estão bem à sua frente passarão despercebidas e se distanciarão como as imagens no meu retrovisor. O jeito de superar perdas é manter os olhos no alvo, nunca olhando para baixo nem para trás, não olhando para o chão, onde estão nossas falhas e nem no que ficou para trás, ou seja, aquilo que não se realizou por não ser vontade divina. Concentre-se no futuro, porém, não sacrifique o presente. O
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sucesso, nesta vida, depende de estarmos debaixo da proteção de Deus e aceitar Jesus como único Salvador. O começo de sua jornada pode estar aqui, não nas minhas palavras, mas na certeza de que Jesus pode apagar seu passado transformando seu presente dando-lhe um futuro eterno. A vitória dEle está te esperando.
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57. Os cegos da Santa Cecília “ Conduzirei os cegos por caminhos que eles não conheceram, por veredas desconhecidas eu os guiarei; transformarei trevas em luz diante deles e tornarei retos os lugares acidentados. Essas são as coisas que farei; não os abandonarei.” Isaías 42:16
Saí do prédio em que presto serviço como jornalista e dirigi-me a uma lanchonete onde, ocasionalmente, faço as refeições. Desci à rua e, dois quarteirões adiante, avistei a igreja Santa Cecília. Ela fica bem no centro de uma praça rodeada de vendedores ambulantes e ao lado de uma banca de flores, muito bonita por sinal e que me faz, sempre que passo na frente dela, parar por alguns momentos para admirar as flores. Este pequeno pedaço de São Paulo fica exatamente na região que leva o nome Santa Cecília e, assim, como muitos outros do velho centro, encontram-se em avançada decadência, abandonados pela administração e com vários prédios em ruínas. Porém, a igreja, alheia a isso, é muito bonita. Possui um domo com a abóbada pintada de verde e a torre do sino, majestosa, tem em sua cúpula um verde jade. A beleza acaba aí. Pessoas
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entram e saem dela o tempo todo, buscando ajuda de quem não pode ajudar, enquanto que, ao redor dela, muitos andarilhos jazem combalidos pela descrença, desânimo e martírios pessoais. Continuei caminhando. Do lado da entrada lateral da igreja, um homem maltrapilho, enrolado num cobertor sujo tremia. Outro, a alguns passos à frente, falava palavras desconexas que eu não compreendia. Do lado direito da parede externa, uma mulher, com roupas rasgadas e olhos incrivelmente azuis, dava comida a pombos. Provavelmente, sobras do dia. Outros mais, deitados ao redor da igreja ou próximos à praça completavam um quadro muito triste. Parei antes de chegar à lanchonete. Precisava orar por eles. Subitamente, do meu lado esquerdo, dois cegos desciam tateando o chão com suas bengalas, abraçados, conversando e sorrindo, muito. Atrás deles, duas senhoras bem vestidas também conversavam alheias à situação ao redor delas. Quando esbocei uma ajuda para acompanhar os cegos até o metrô, próximo dali, um homem simples e de cabelos brancos, ofereceu o ombro. Juntos, partiram. Encostado na parede, fiz uma volta completa com o olhar e observei, mais uma vez, a cena que se apresentava diante de mim. Pensei: “meu Deus, quantos cegos estão completamente perdidos neste mundo?” Uma parte de mim ficou triste porque conheço muitas pessoas que entram em lugares bonitos por fora e vazios por dentro, para pedir a imagens ocas um milagre; por saber que muitos andarilhos espirituais estão à procura de algo num mundo entregue ao maligno, porque pessoas estão sentadas em bancos feitos na mente dormente ou deitadas em chão duro de coração endurecido. E a tristeza aumenta quando vejo pessoas bem
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vestidas e bem de vida recusarem-se a ajudar o próximo que está com dificuldades, mesmo quando ele está bem à frente delas. Mas a outra parte, que se alegra com pessoas que mesmo com limitações físicas, descem à rua sem medo, confiantes e que ainda são ajudadas por outras disponíveis e prontas para dar o ombro amigo. Esse grupo, graças a Deus, é bem maior e me dá esperança de que é possível ser e fazer algo. Naquela tarde, vi que os cegos da Santa Cecília estão em toda parte e o que pode ser a grande diferença para esses cegos não é só o que fazemos onde somos conhecidos e quando estamos entre conhecidos, mas sim em todo lugar, a todo tempo e com todos. Naquele breve tempo de minha vida, Deus me mostrou como falar para aqueles cegos e, acredite, não é fácil. Entendi também que o menor descuido pode me fazer agir como um daqueles que têm a visão prejudicada e andam a esmo. Depender de Jesus é, sem dúvida, o melhor remédio para a cegueira. Saiba que você também pode escolher o seu lado.
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58. Os Caminhos Respondeu Jesus: “ Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.” João 14:6
I parte – MUITOS CAMINHOS, UMA VERDADE Comecei a trabalhar, recentemente, em São Paulo como jornalista de um grande sindicato e, ao dirigir-me para o prédio sede, tenho à disposição vários caminhos e opções de transporte. Mesmo assim, o tempo entre ida e volta é bem maior do que o que gastava ao ir para meu escritório. Nesse novo itinerário, e momento, observo as pessoas, o tempo, tudo. Poucas coisas escapam do meu olhar. Sou um observador por natureza e intuição, talvez. Nesses momentos, medito, penso, repenso minha vida, o que fui, sou e posso ser. Tomo várias direções nesse ínterim e vejo-me em vários caminhos e, há poucos dias, lembrei-me exatamente de vários caminhos que percorria antes do dia 17 de abril de 2006. Eram caminhos longos, escuros e tenebrosos. Vivia dias de angústia e sufoco de todas as formas possíveis e até impossíveis para o pensamento humano. Era infeliz e causava infelicidade em muitas pessoas próximas a mim. Mas sabia que, no decorrer daqueles velhos tempos, era protegido por Deus que esperava,
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pacientemente, por um momento de arrependimento da minha parte. Orgulhoso, sentia-me resignado a não pedir ajuda a ninguém. Eu era um tolo, porém, uma frase, apenas uma, martelava na minha mente constantemente: “quero mudar de vida”. Um dia, você já fez essa pergunta para você mesmo? II parte – SENDO PREPARADO O dia já havia entrado na noite e trazia a escuridão que me cobria o corpo; a escuridão da alma. Tinha passado boa parte do dia em meu escritório, sozinho e triste. Amargurado. Já conhecia Deus, mas não em amor, conhecia em livros, Bíblia e de ouvir outros falarem, principalmente uma irmã que orava insistentemente por mim, pela minha conversão. Naquele dia, ela não saiu de minha cabeça, assim como o Jesus de que tanto falava. O quebrantamento veio várias vezes em meu coração e lágrimas desciam pelo rosto. Deus estava me preparando e colhendo cada uma que descia pela minha face. Se de um lado a tristeza parecia me consumir, por outro, via uma luz muito forte no fim do túnel e uma grande mão aberta chamandome, esperando-me. Aquela mão era da única pessoa que, de fato, apertaria a minha com firmeza e mansidão, oferecendo-me a oportunidade de uma nova vida, um novo caminho. III Parte – A REDENÇÃO Eram exatamente 19h00 de uma segunda-feira chuvosa, lembrome de ter chegado um pouco molhado, nos cumprimentamos e com um sorriso. Jesus falou comigo por meio dela. Mansamente e sem demora, ela me contou, mais uma vez, sobre como poderia me livrar daquela angústia e dor, sofrimento sem fim. As lágrimas,
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agora, não eram mais de tristeza, mas já de alegria porque aquela mão estava diante de mim. Dobrei os joelhos e, naquela sala pequena, mas totalmente iluminada com uma luz sobrenatural, encontrei-me com Jesus e O aceitei como meu salvador e único caminho para Deus. Minha vida nunca mais seria a mesma. Hoje, faz exatamente três anos de uma conversão demorada, pois muitos falavam de Jesus, mas o coração endurecido fazia-me manter distante. Agora não mais, pois Ele está comigo e toda uma vida de sofrimento e tristeza foi embora naquele mesmo instante. Continuo com alguns problemas que vieram devido à minha insensatez do passado, mas todos estão sendo resolvidos. Já alcancei muitas bênçãos e vivo uma paz sem limites, mesmo diante de tudo o que acontece. Creio que sou outro e agora quero propor a você o mesmo. Se já aceitou Jesus como seu Salvador, entregando sua vida a Ele, ore pelos que estão recebendo essa mensagem agora; mas, se você ainda não fez essa opção, a hora é agora. Pare e pense em sua vida, na eternidade e onde quer passá-la. Não existe outro caminho para Deus a não ser Jesus Cristo e ao aceitá-lo, você recebe de graça o perdão por todos seus pecados e um passaporte de ida para o céu depois desta vida na terra. Meu desejo é que você não apenas leia com a mente essa oração abaixo, mas, em um ato de fé, levante sua voz ao Senhor e entregue sua vida a Jesus: “Senhor Jesus, reconheço que estou longe de ti, por causa do meu pecado. Peço a tua misericórdia e perdão. Entrego meu coração a ti e declaro que és Senhor da minha vida”.
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59. Bolhas de sabão Orem continuamente. Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus. I Tessalonicenses 5:17,18
A manhã tinha se despedido há pouco e eu havia terminado meus afazeres domésticos. Um banho, roupa limpa e alma descansada. Minhas responsabilidades na casa em que moro atualmente foram acompanhadas de oração e irmãos abençoados por Deus com ministérios de louvor. Ouvi vários CDs. Ao fechar o portão da garagem, voltei-me para a rua e comecei a descê-la. A casa fica no topo e é preciso um pequeno esforço tanto na subida quanto na descida e, como está situada em um bairro residencial, afastada um tanto do centro da cidade, o hábito das pessoas é diferente. Começou a observação. Na calçada do lado esquerdo, um homem lavava, cuidadosamente, um fusca azul; mais adiante, três senhoras conversavam animadamente. Do outro lado, duas garotas brincavam com bonecas e eu me lembrei de uma, especificamente.
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Nesse momento, percebi bolhas de sabão multicoloridas virem em minha direção. Busquei os autores. Lá embaixo, no começo da rua, garotos com copos de plástico e canos de mamona criavam bolhas pequenas, médias e grandes. Algumas estouravam ainda no cano, outras ganhavam o ar e subiam embaladas por uma suave brisa que refrescava toda aquela região naquele momento. As bolhas de sabão, ao passarem por mim, faziam-me lembrar de meus tempos de garoto em que também brincava com meus amigos de infância e perguntei: onde vocês estão? Ainda descia a rua quando uma quantidade expressiva de bolhas veio ao meu encontro. Parei! Algumas estouraram em mim, outras passaram e continuaram a jornada enquanto poucas subiam ao céu até eu perdê-las de vista. Notei que o céu estava demasiadamente azul, anil até de tão azul. Concluí que nossas orações são como bolhas de sabão; umas mal saem de nossos corações e estouram, como aquelas bolhas na ponta do canudo de mamona, porque não tem força nem consistência. Outras crescem em fervor e ganham o exterior, mas apenas percorrem caminhos diferentes. Algumas, quando pedimos para os irmãos, param e, juntas com as petições alheias, ganham forças e são ouvidas por Deus. Mas creio que as mais eficazes são aquelas que fazemos em concordância com o próprio Deus e assim elas sobem majestosas ao céu e lá, apenas lá, estouram e caem aos pés de Jesus, que intercede a favor daqueles que O ama e O coloca no devido lugar: o único que pode levar nossas bolhas de sabão, em forma de oração, para Deus. Parei por alguns instantes e, ali, agradeci a Deus tudo o que Ele tem feito, dei graças até pela tristeza e frustrações que, hora ou outra, têm-me incomodado. Alegrei-me também com o que tem
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me dado e as bênçãos que tenho colhido. Não ficaram de fora pedidos pelas vidas de muitos que vieram ao meu pensamento. Por fim, alcancei os garotos que dispersaram. Quando a brincadeira tornou-se entediante, dirigiram-se a um pequeno campo de futebol num beco e lá iniciaram uma disputada partida de futebol. Com um sorriso, agradeci a Deus pelo momento. Havia acabado as orações e começado uma tarde abençoada, dirigindo-me a uma casa também abençoada, mas essa é outra história que fica para, quem sabe, outra oportunidade.
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60. Os pássaros, o homem e a liberdade “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.” II Cor 3:17
Estava com fome e teria que esperar uma irmã até às 13h.Ela me entregaria um material de evangelização. Era pouco mais de meio dia. Desci à rua e dirigi-me ao local que me daria o privilégio de aprender mais uma lição de vida. Sentei-me diante de uma grande janela. Ao lado da mesa, um corredor florido, que ia de uma ponta a outra, encantava meus olhos e trazia ao meu nariz um doce perfume de flores. Assim como a mesa e a cadeira, o ambiente era confortável. Do lado de fora, uma rua, com seu vai e vem constante de carros e pessoas, distraía-me enquanto aguardava meu pedido, feito instantes atrás. Várias casas enfileiradas do outro lado diziam-me que estava num bairro residencial. Roxas, verdes, algumas com janelas amplas e outras menores com telhados novos formavam um ambiente bucólico, tranquilo. Numa delas, um homem encerava um carro e, pelo visto, estava ali há algum tempo, pois o chão molhado mostrava que o carro tinha sido lavado e,
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consequentemente, enxugado. Acima dele, num canto, uma gaiola com um pássaro preto adornava a parede. Percebi, então, que outro pássaro ia e vinha insistentemente na gaiola, mesmo com o movimento do homem que, abaixo, apenas dava brilho ao carro. O pássaro solto parecia querer dizer ao preso alguma coisa... e dizia. Imaginei a conversa. - Ei, você sabe que, mesmo preso pode ser livre? - Livre? Como? - Independente de sua atual situação, Jesus pode tirar você dessa gaiola e te dar liberdade. - Ah, mas dentro deste pequeno espaço não posso fazer nada. - Se, de fato pensar assim, realmente não. - O que faço, então? - Depende de você e não do que te aprisiona, pois seu espírito é livre e Jesus pode te libertar. Peça e Ele te dará uma liberdade que jamais ousou sonhar. Pouco depois, o pássaro alçou vôo e subiu, subiu até não conseguir vê-lo mais. Minha refeição chegou e o homem ainda insistia num bem material que brilhava cada vez mais. Indaguei então; quantas pessoas hoje vivem aprisionadas dentro de si? Quantas outras, libertaram-se e vivem uma vida de alegria e paz, mesmo diante de grandes tribulações? E quantas estão preocupadas apenas em dar brilho a seus bens materiais? Devemos ser livres porque Deus nos dá essa liberdade por meio de Jesus, mas temos, sempre, a tendência de complicar, de reclamar ou esperar que outros façam o que nós devemos fazer. Os pássaros, o homem e a liberdade coexistem num mesmo
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mundo criado por um Deus poderoso, do impossível e dos milagres. Nós somos esses milagres. Olhe para você agora, neste instante, e diga a você mesmo quem é, nesta reflexão. Você pode ser o pássaro preso e ter alguém, neste momento, que deseja ver você livre e, assim, lhe motiva e incentiva para não parar. Pode ser também o pássaro que já está livre e, assim, voa insistentemente sobre outros que estão em gaiolas para libertá-los. Mas também pode ser aquele homem preocupado em seus bens materiais que sequer percebe que, bem acima dele, tem alguém preso. Hoje, minha oração é que pense em qual dessas situações você se encontra e anseie por liberdade, aquela que só Jesus pode te dar.
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61. O poste e a árvore “Os caminhos da sabedoria são caminhos agradáveis, e todas as suas veredas paz.” Prov 3:17
A tarde estava demasiadamente quente. O sol ditava as regras, emanando um forte calor. Em minhas mãos, um sorvete de chocolate era sorvido aos poucos. Muito, muito lentamente! Caminhando pela minha avenida preferida, entrei num dos shoppings mais queridos da cidade, que tem como símbolo um coração e, após uma passada por vitrines, pessoas, sons e corredores, detive-me numa pequena praça e sentei-me num banco. Ali, sempre que posso, paro e vivo momentos de orações silenciosas porque é um ponto estratégico. Tenho, à minha frente outra avenida super movimentada por gente, carros, motos e ônibus; do meu lado esquerdo um estacionamento em que as pessoas deixam seus carros para cumprir com obrigações ou apenas passear; do direito, um corredor passagem, por isso, o vai e vem ali é frequente. Por fim, atrás de mim, um pequeno jardim. Ah, esses jardins! Nesse em especial, já sentado em um banco, uma pequena árvore, próxima a um poste decorativo, me chamou a atenção. Vários galhos cresciam em diversas direções, livres e soltos. Porém, um
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encontrou um poste bem em frente, mas também uma forma simples de vencer o obstáculo: dois ramos do mesmo galho nasceram rente ao poste, desviaram-se em caminhos diferentes dando uma volta completa e encontraram-se em outro ponto, enlaçando-se novamente e continuando o crescimento juntos. Observei também que as folhas que estavam nesse galho e, consequentemente nos ramos menores, eram mais verdes do que as restantes que cresciam, aleatoriamente, e com liberdade, sem obstáculo nenhum. Entendi, com aquela cena, duas situações permitidas em minha vida pelo Senhor. A primeira é que os obstáculos sempre virão em nossa caminhada e precisamos buscar, em Deus, formas de contornar a situação, e aqui não digo no sentido de fuga, mas sabedoria para lidar com a tribulação. Ouvi, certa vez, de um famoso alpinista reconhecido no mundo inteiro por ser, o primeiro brasileiro a alcançar o topo do Everest (a maior montanha do mundo), que, para chegar ao cume das montanhas, é preciso rodeá-las. No caso da árvore, o desvio para encontrar adiante o caminho foi imprescindível. A segunda lição foi que, ao estarmos com alguém, seja em namoro, noivado ou casamento, precisamos estar (e decidir) juntos em toda e qualquer decisão ou direção. O galho, saído do mesmo tronco que os outros, superou com dois ramos que encontraram, posteriormente, o obstáculo. Nos relacionamentos, o casal precisa pedir direcionamento divino para enfrentarem, juntos, as dificuldades, transporem o intransponível, superarem o insuperável. É preciso esquecer o passado e os caminhos errados para, juntos, estarem no caminho certo. Aquele galho, com seus ramos, eram mais verdes e viçosos porque, juntos, vinham do mesmo tronco.
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Naquela tarde, o poste e a árvore ensinaram-me uma grande lição: que podemos, se quisermos, com aqueles com quem começamos uma nova caminhada, estar ligados num mesmo tronco chamado Jesus.
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62. O semáforo “Ele livra e salva; faz sinais e maravilhas nos céus e na terra. Ele livrou Daniel do poder dos leões.” Daniel 6:27
O sol tinha alcançado o meio do céu. Era meio dia, hora do almoço. Eu descia à rua e observava o movimento. Sentia o calor, as pessoas. O tempo avançava porque não pára. A fome veio ao estômago e depois ao cérebro. Decidi não almoçar devido aos compromissos que tinha e o pouco tempo para todos eles e, então, parei numa barraca de cachorro quente em frente a um cruzamento de ruas movimentadas. Fiz o pedido do lanche e as pessoas continuavam passando por mim. Umas apressadas, outras nem tanto. Umas com expressões de alegria no rosto, outras nem tanto. O calor aumentava e o tempo, ah, o tempo passava. O semáforo, logo à minha frente, então, chamou minha atenção. Luzes vermelhas, amarelas e verdes, me atraiam. A troca, intermitente, de cores, disciplinando o uso das vias por carros e pedestres me fez refletir entre uma mordida e outra do sanduíche mais urbano que conheço e que já estava em minhas mãos. No vermelho para os carros, as pessoas atravessavam, no amarelo; automóveis e gente, fora e dentro dele, prestavam atenção ao
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caos urbano das grande cidades para resolverem o que fazer. Por fim, o verde acendido dava a pedestres o direito de passar de um lado a outro com segurança. Às vezes, pessoas apressadas, tanto de carro como a pé, desrespeitavam os sinais e corriam riscos desnecessários. Em nossa vida, a presença do semáforo de Deus também disciplina nosso avanço espiritual e, sempre, em todas as áreas, Ele alterna as cores para que possamos parar, prestar atenção ou seguir em frente. É preciso, então, que estejamos atentos aos sinais. Como está sua vida agora? Atribulada? Você se vê diante de dificuldades intransponíveis e pensa em desistir, correr? Pense e reflita. O sinal é o vermelho e Deus quer que você pare para observar, ver o movimento ao seu redor, as pessoas que podem te ajudar e querem ajudar. Se você está num momento de ter que tomar decisões ou vivendo uma vida de erros, o amarelo está piscando e Deus pede que preste atenção, pare e volte-se a Ele. Agora, se você está de fato, em paz, tranquilo e decidido em alguma área de sua vida, atravesse a rua, siga em frente e não olhe para trás, pois o Senhor não te dá espírito de covardia e sim de ousadia e coragem. Viva e sinta o poder de Deus através de cada um de seus poros. É preciso observar o trocar de luzes do semáforo da vida e tomar atitudes, porque o tempo não pára. Coragem não é ausência do medo, mas sim dominar esse medo para viver uma vida de coragem.
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63. Além dos limites
“Do seu santuário nas alturas o Senhor olhou; dos céus observou a terra, para ouvir os gemidos dos prisioneiros e libertar os condenados à morte". Salmos 102:19,20
Terminei o curso de direção defensiva e primeiros socorros para renovação da minha carta de habilitação há pouco tempo e aprendi grandes lições, principalmente nas questões compromisso e responsabilidade. Porém, um vídeo sobre vítimas de acidentes me chamou a atenção e me deu um novo olhar sobre minha própria vida. Nele, pessoas que tiveram até o dia do acidente uma vida normal, contavam sobre sua dor e de como viviam hoje. Dois depoimentos, em especial, me tocaram profundamente. O primeiro era de uma jornalista e apresentadora que se tornou tetraplégica e o segundo de uma modelo muito famosa que, após o grave acidente, ficou paraplégica. E aqui começa à lição. Ambas tinham uma vida agitada e, segundo elas próprias, não estavam atentas a pequenos gestos, detalhes e a simplicidade da vida. Deus estava longe, muito longe. Com o acidente, a vida
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mudou e tudo o que não viam antes passou a ser observado com muita atenção. Mesmo com os movimentos limitados, minha colega de profissão aprendeu a pintar com a boca e, hoje, seus quadros estão espalhados por muitos países. A modelo, com a força de vontade e ajuda da fisioterapia, recuperou parte da fala. Ambas se superaram, foram além dos limites e encontraram, em Deus, forças para viver, mesmo que uma não consiga nunca mais dar, sequer, um abraço nas pessoas que ama e a outra, desfilar numa passarela como antes. Quando penso nisso, vejo como somos ingratos e reclamões. Vejo que, de fato, não somos merecedores do amor de Deus, mas, graças a Deus, Ele não pensa assim e nos cobre com um amor que não compreendemos. Quantos de nós, a começar por mim, nos acovardamos diante de situações que precisamos reagir e não correr? Quantas vezes queremos mais e mais e não agradecemos pelo que já temos? E o pior, quantas vezes entristecemos o Espírito Santo de Deus, que intercede por nós, quando não acreditamos que Deus nos dará a vitória em tudo aquilo que fazemos? Penso também em como, muitas vezes, estamos paralisados espiritualmente diante de algo quando Deus diz: “Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem fiquem apavorados por causa deles, pois o Senhor, o seu Deus, vai com vocês; nunca os deixará, nunca os abandonará". Deuteronômio 31:6 Na primeira oportunidade que tiver, abrace alguém com muita força e diga o quanto a ama e, também, desfile pela passarela da vida, irradiando a luz de Jesus.